ANÁLISE DOS PONTOS DE VISTA IDEOLÓGICOS COMO REFERÊNCIA NA FORMAÇÃO DO PÚBLICO LEITOR. Autor: Wagner de Araújo Baldêz1 - UFOP. Orientador: William Augusto Menezes2 - UFOP. O objetivo desse artigo é relatar e analisar os pontos de vista ideológicos presentes no discurso de apresentação pública dos veículos de comunicação. O trabalho aqui apresentado irá discutir as possíveis implicações e formações ideológicas de seu público-alvo, tendo como suporte teórico as diversas correntes teóricas da análise do discurso, levando-se em consideração as múltiplas tecnologias recorrentes na atualidade e a manutenção da imagem social nos usos destas para fidelização dos seus leitores-clientes. Palavras-chave: Discurso, mídia, imagem social e identidade. Sobre o ato de comunicar: da informação à ação retórica. Para se ter uma idéia mais ampla sobre o processo de comunicação, em um primeiro momento, deve-se discutir como se dá o ato de comunicar. Parafraseando o que disse CHARAUDEAU, 2006 o ato de comunicação pressupõe passar uma informação, dentro de uma linguagem específica, a um determinado indivíduo que não a possui. Assim qualquer veículo de comunicação dissemina uma imagem que ao primeiro momento se configura como de um benfeitor, já que tal instituição contribui para a informação e formação do seu leitor. Dentre as várias vertentes que se possa percorrer para discutir tal assunto, busco nesse artigo observar e analisar as estratégias usadas pelos veículos midiáticos para construir uma imagem de si que seja no mínimo aceitável socialmente e que busque credibilidade e, ao mesmo tempo faça despertar no seu leitor o interesse em depositar sua confiança naquele veículo que toma a posição de informador e a partir de certo momento já não é apenas informador, mas agora um formador de opiniões. Já que tais meios de comunicação passam a veicular dentro de seus discursos, por mais “mascarados” que possa parecer, suas ideologias, pontos de vista e visões de mundo, com a finalidade de persuadir e convencer os leitores que se alimentam das informações tratadas pelos veículos de comunicação. Nas mídias a aparência da sua razão de informar se mostra como um depositário de informações 1 2 Graduando em Licenciatura em Língua Inglesa e Estudos lingüísticos pela Universidade Federal de Ouro Preto. Professor Doutor em Estudos Lingüísticos e professor do Departamento de Letras da Universidade Federal de Ouro Preto. objetivas, relevantes e de interesse do público de uma forma geral, em favor de uma responsabilidade social comprometidas com a verdade a fim de expor fatos considerados importantes e denunciar aquilo que venha a estar em desacordo com uma determinada ordem social. Nas discussões sobre comunicação em geral atualmente tem sido levado em consideração os efeitos que cada mensagem provoca nos seu interlocutor. O que se tem debatido ultimamente na análise do discurso é o modo como essas questões são realmente mobilizadoras de opinião pública e até que ponto elas podem influenciar um indivíduo ou uma camada social. No entanto pouco se tem produzido efetivamente no sentido de agrupar teorias e trabalhos empíricos consistentes a fim de mapear e descrever os efeitos que tal comunicação pode suscitar. Neste trabalho procurarei discutir teoricamente alguns pressupostos para uma análise mais fundamentada do discurso dessas instituições de mídia em questão. Sabe-se que nos dias de hoje a mídia tem um papel importantíssimo na vida da população de um modo geral. Segundo dados da Associação Brasileira de Telecomunicações, cerca de 93 %3 dos telespectadores assistem a televisão com sinal aberto, mantida por publicidade. Sendo assim, podemos inferir que a Televisão e até mesmo outras mídias de uma forma geral, ocupam um papel central (significativo) na formação do cidadão, tanto nas áreas de informação, educação, entretenimento e até mesmo de ações políticas que porventura venham a ser veiculadas pelo canal de televisão. Sabemos também que dentro dos veículos de informação/comunicação de massa devido ao seu alcance popular, principalmente com o advento da internet e da convergência de outros meios comunicativos, podem não somente relatar, mas também produzir informações, bem como tratá-las de maneira como lhe convier. Assim como disse Marilena Chauí (2004) uma informação pode passar de falsa ou verdadeira à plausível e digna de confiança. A autora ainda ressalta que a informação pode ser manipulada e por fim, criada uma realidade ilusória daquilo que se quer reportar. Tal fato pode ser materializado em seus interlocutores a ponto de os mesmos se tornarem parceiros ou companheiros adeptos das idéias que são veiculadas pelos proprietários dos veículos de informação, visto que estes têm poder e tecnologias suficientes para captar, tratar e moldar a informação a seu modo. O foco da notícia passa pelo trânsito da vida privada e torna pública, sendo constatada a influência do poder econômico e, portanto ideológico das instituições de informação. 3 Estatística disponível em http://www.discurso.ufrgs.br/sead2/doc/ideologia/souzaalves.pdf. Acessado em: 11/11/09. Sobre o ethos na retórica e a imagem pública institucional. Os veículos de informação e de difusão públicos atualmente se preocupam muito mais em passar uma boa imagem de si do que simplesmente fazer uma propaganda daquela idéia que defende. Esse pressuposto se aproxima dos ideais teóricos dos estudos da retórica que entendem que para se beneficiar do ethos o individuo ou instituição deve procurar causar uma boa imagem de si, através da forma como se constrói o discurso, a fim de convencer um público, e se achar digno de ganhar sua confiança. Dentro desse pensamento, é necessário que essa confiança seja construída pelos efeitos do discurso e sobre o que se diz do orador. Sendo que àquele que fala lhe seja conferido o status de digno de fé e não dê lugar à dúvida, mas, pelo contrário, que se mostre capaz de suscitar a confiança do público, exprimindo a certeza daquilo que profere. È necessário para tal efeito, que seja imputada uma legítima confiança ao orador e uma condição de honestidade ao seu caráter, pois é este um dos princípios da persuasão. A eficácia do ethos estaria então condicionada aos traços do caráter do locutor que são expostos para o seu público, a fim de causar uma boa impressão daquele que fala. Em alguns casos, alguns autores discutem que a noção de retórica está ligada a induzir alguém a adotar determinado comportamento. Esses casos são mais presentes nos discurso políticos e também publicitários. A retórica na comunicação apresenta uma visão da realidade que corresponde aos seus desejos e necessidades e também à sensibilidade e os interesses do seu público. Segundo HALLIDAY (1999) a retórica é basicamente definida como: “o uso da comunicação para definir as coisas da maneira como desejamos que os outros as vejam.” Ainda em sua obra O que é retórica, a autora afirma que o mesmo objeto de estudo está presente de uma maneira ou de outra, em certo grau, em todo o processo de comunicação, no qual se deseja influenciar alguém ou convencer, sem o uso da força, mas com mecanismos lingüísticos de persuasão, a aceitar uma idéia que se quer passar. Os estudos da retórica se ocupam em analisar e descrever os eventos que visem influenciar percepções, sentimentos, atitudes ou ações, por exemplo, por meios de discursos políticos, campanhas publicitárias, propagandas e manifestos em prol de uma causa ou contra uma idéia, fazendo uso de uma linguagem específica e bem empregada. Todo indivíduo que se convencer de que alguma idéia ou proposta, de quem quer que seja, poderá ajudá-lo a atingir os seus objetivos pessoais tenderá a adotar a mesma idéia propagada pelo orador, então essa troca de idéias poderá provocar uma mudança de ponto de vista ideológico influenciada pelos mecanismos da retórica. Ao informar o leitor sobre algum evento ou notícia, um veículo de comunicação pode despertar certas emoções no interlocutor fazendo com que este mudar a sua maneira de pensar ou encarar uma situação, influenciado por algo que viu, leu ou ouviu. Sabe-se que, dentro da área comercial, por exemplo, quem anuncia e vende um produto qualquer sobrevive de lucros. Uma estratégia usada por tais veículos para convencer o seu leitor a aderir a um produto ou idéia é a de que este será beneficiado ao adquirir um produto que ainda não tem ou ainda no papel da comunicação informar de alguma novidade ou evitar que aconteça algum mal que venha a nos afligir. Com o objetivo de fazer crer, um orador se ocupa em tentar passar uma imagem pública de credibilidade e tenta recriar no outro uma imagem coerente com aquela do qual o primeiro acredita e procura argumentar. A qualidade da argumentação e sua credibilidade perante o seu público será um dos fatores importantes para corroborar seu argumento e para efetivar a mudança de opinião do interlocutor. Desta forma o orador recorre a mecanismos lingüísticos necessários e suficientes para conseguir que alguém deixe de acreditar em alguma coisa para assim acreditar em outra que convier àquele que faz o uso da fala. Através de mecanismos como preservação de face, argumentação e lógica um orador ou instituição delimita os meios para que o outro venha a aderir à sua opinião. A informação passada e legitimada como verdade é aceita e assimilada como verdade plausível e passa a fazer parte do imaginário do cidadão/leitor de um jornal escrito ao qual faz uso das suas informações e as imputa como sendo o relato de uma realidade descrita sob os pontos de vista dos meios de comunicação. Esse efeito de mudança de opinião não acontece de um momento para outro. O tempo de necessário para que essa mudança de opinião ocorra varia em função do grau de informação leitor e da freqüência da leitura de um determinado periódico. Todo e qualquer indivíduo ou organização age retoricamente no sentido de se afirmar em suas crenças e opiniões e de reforçar que pertence a um determinado grupo social ou ideológico. Estes se afirmam sob o preceito dos benefícios e vantagens do qual pertencem como também suas crenças e opiniões. O fato de mostrar que uma informação é útil e vantajosa para o seu público faz com que ele reconheça a justificativa de se imputar confiança ao orador. Portanto, essa ação pretendida se identifica com o seu público e se torna compatível com as crenças e valores daquele que se quer convencer. Segundo Maingueneau, um dito sem ser explicitado favorece uma ação eficaz do ethos, conferindo a ele a possibilidade de catequizar e provocar a adesão que se pretende. O leitor se identifica com a fala do enunciador e é induzido a adotar o mesmo ponto de vista e a compartilhar de um mesmo mundo ético. Nesse aspecto, são apresentadas e publicadas nos veículos de comunicação as reportagens, informações e/ou imagens escolhidas para gerar uma boa imagem destes veículos podendo suscitar o valor do mesmo e também as razões para que o seu público continue a usufruir das informações neles disponíveis. As escolhas lexicais indicam o lugar social e o ponto de vista ideológico do sujeito que enuncia. Suas escolhas, portanto, não são individuais, mas condicionadas por essa posição. As informações projetadas e a imagem gerada pelo ethos do comunicador nos darão uma impressão mais concreta dos pontos de vista e das intenções dos meios de comunicação ao veicular cada notícia escolhida. Considerações finais Tendo discutido e analisado o papel dos veículos de comunicação na vida dos indivíduos, nos dias atuais, torna-se necessário enxergar tais veículos sob uma ótica diferente que nos faça compreender e agir mais criticamente em relação aos pontos de vista que veiculam na mídia e o efeito destes em seus interlocutores. Um veículo de comunicação como um jornal escrito, por exemplo, não é simplesmente um informador de notícias captadas em uma determinada comunidade. Antes disso, pode não apenas captar, tratar, mas até mesmo produzir uma notícia, tendo em vista que esta mesma notícia será tanto escolhida como veiculada de acordo com os seus interesses e, portanto têm outros objetivos além de simplesmente informar o cidadão. A escolha e a manipulação das informações como notícia produzem sentidos e não podem estar separados de suas condições de produção, por mais corriqueiras e efêmeras que possam parecer. Faz-se necessário considerar que os discursos das mídias atribuem sentido, configuram uma opinião privada tomada e aceita como pública e confere uma dada posição e formação ideológica do seu leitor, moldando e delimitando os pontos de vista e também os interesses de seu público. A partir dessa fidelização do sujeito como leitor e cliente das mesmas opiniões e ou práticas discursivas e sociais é que se pode pensar em uma representação da imagem pública dos veículos de informação e a mobilização das crenças, interesses e pontos de vista tanto de um determinado indivíduo como também de uma comunidade. Referência bibliográfica: AMOUSSY, R. Imagens de si no discurso-a construção do ethos. São Paulo. Editora Contexto, 2008. CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Editora Contexto, 2006. CHAUI, Marilena. Simulacro e poder: uma análise da mídia. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2006. HALLIDAY, Tereza Lúcia. O que é retórica. São Paulo. Editora Brasiliense, 1999. Coleção primeiros passos. MAINGUENEAU, D. A propósito do ethos. In: MOTTA, Ana Raquel & SALGADO, Luciana. Ethos discursivo. São Paulo. Editora Contexto, 2008.