A grande
virada
FOTOS RAFAELA MARTINS
Perfil
Dono de um bar no
Centro, Fábio Wollstein
é o novo nome da vida
boêmia blumenauense
Caroline Passos
O
mundo de Fábio Adolfo Wollstein passa despercebido
durante o dia, quando portas de ferro cerram duas salas da Galeria Scheidemantel. Mas depois que a noite
cai, a música que ronda o número 89 da Rua Floriano
Peixoto, no Centro de Blumenau, sai daquelas salas e
convida ouvidos aguçados a conhecerem um pouco
desse universo.
Fábio é o homem por trás do balcão e da cozinha
do Butiquin Wollstein, ponto de encontro de músicos, intelectuais, artistas e, como o próprio costumar
nomear, “pessoas formadoras de opinião”. Inquieto e
auto-afirmado espontâneo e simples, o personagem de
31 anos é um ser multicultural e funcional. Nascido em
Florianópolis e criado na terra da Oktoberfest, toca e
sabe fazer um didgeridoo – instrumento aborígene que
conheceu através de um australiano na Guarda do Embaú –, trabalhou em loja e lavação de carros, foi modelo, motorista e estudante de Biologia. Agora, é dono de
bar e esportista, por enquanto.
A história de criador e criatura liga-se pelo nome.
O batismo do bar é uma homenagem à família, que tem
na árvore genealógica um dos fundadores da Furb, Rivadávia Wollstein. Na entrada, a parede do balcão dá
indícios de outra parte da vida de Fábio. Jornais com
notícias de handebol vão do chão ao teto ocupando o
concreto quase por inteiro, na mesma proporção que o
esporte domina o coração
do dono do bar.
O handebol – que
rendeu os títulos de
campeão mundial masculino júnior de 1995 e
pentacampeão dos Jogos Abertos de Santa
Catarina – era a principal paixão até o dia
19 de outubro do ano
passado. Foram 22
anos de casamento
com as quadras até o
Butiquin Wollstein
e a rotina boêmia
obrigarem-lhe a fazer
uma escolha. Acordar
cedo, como o esporte
exige, e dormir tarde, como o bar pede,
tornou-se inviável.
Ele diz que deve
abandonar de vez o
Fábio tenta conciliar o esporte e a vida noturna, mas deve deixar as quadras de handebol
uniforme do Fae Blumenau/FMD para vestir o avental
e o chapéu do figurino do Butiquin – para infelicidade
da torcida e alegria dos malandros de estilo Chico Buarque.
O bar que ele criou é convidativo à exploração. Dois
pequenos ambientes acomodam cerca de 70 pessoas
com mesinhas, banquetas e cadeiras de madeira escura.
Às vezes, o som é ambiente, noutras, uma banda toca
jazz ou blues e compõe uma cena de roteiros de Cameron Crowe, numa visão com tom de rock’n’roll.
Bilhetes de amigos, conhecidos e visitantes adornam as vigas de madeira que sustentam o teto. O balcão – de madeira rústica, grosseiramente cortada e com
pregos à mostra, montada pelas mãos de Fábio – compõe o visual “retrô-feito-à-mão”. Assim como a cristaleira recuperada da casa da mãe Odete, uma das principais decoradoras do lugar, e a parede com moldes de
sapato resgatados do acervo do sapateiro João Mohr.
Da cozinha saem as iguarias preparadas por Fábio.
O pão com mortadela trazida do mercado público de
São Paulo e a lingüiça especial são as pratas da casa.
Sangue, suor e lágrimas
Intimista e com cara de casa, o Butiquin Wollstein
foi montado com as mãos, o suor e até o sangue do
dono. Com a idéia fixa de abrir um bar, Fábio encontrou em julho de 2007 as duas salas da Galeria Scheidemantel, fechadas há mais de seis anos. Quando alugou o lugar, que já havia sido habitado por boêmios,
restou apenas renovar a decoração com antigüidades e
acrescentar estilo. Fábio não desanimou nem quando,
na falta do pedreiro, teve que botar a mão na massa. A
inexperiência rendeu-lhe machucados, mas o percalço
deu ainda mais personalidade ao lugar:
– As paredes daqui literalmente têm o meu sangue.
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VIVER! 19 E 20 DE ABRIL DE 2008 I 13
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A Grande Virada - Butiquin Wollstein