Universidade de Brasília Ademilson Galdino da Silva A Competição Esportiva Escolar Precoce São Paulo 2007 1 ADEMILSON GALDINO DA SILVA A Competição Esportiva Escolar Precoce Trabalho apresentado ao Curso de Especialista em Esporte Escolar, do Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do Título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Professor Mestre Roberto Toledo Rodrigues Júnior São Paulo 2007 2 ADEMILSON GALDINO DA SILVA A Competição Esportiva Escolar Precoce Trabalho apresentado ao Curso de Especialista em Esporte Escolar, do Centro de Educação a Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela comissão formada pelos professores: Presidente: Professor Mestre Roberto Toledo Rodrigues Júnior Universidade Paulista / UNIP Membro: São Paulo 2007 3 4 Dedicatória Ao meu pai Sebastião (in Memorian) pelo companheirismo, carinho que demonstrou ao longo de nossas vidas. À minha mãe Venera, pela renúncia, luta e força na incondicional devoção aos filhos. À minha irmã Silvana (in Memorian) pela pureza e cooperação sempre demonstrada. À minha esposa Simone e aos meus filhos Lucas, Leonardo e Luidi. Agradecimentos A Deus, por estar sempre guiando meus passos. 5 Ao professor - Ms Roberto Toledo, meu estimado orientador, amigo, ser humano radiante de luz, pela confiança e dedicação na construção, desenvolvimento e conclusão deste estudo, por sua admirável competência abnegação em favor do próximo. Aos professores tutores do curso de especialização em esporte escolar pelas sugestões e contribuições relevantes ao desenvolvimento deste estudo. A Universidade de Brasília e ao Ministério de Esporte por viabilizar o curso. Aos alunos, professores de educação física, pela boa vontade e colaboração com este trabalho e convivência com cada um que muito contribuiu para o meu crescimento pessoal. A Gestão do Centro Educacional - CEU Alvarenga por viabilizar a realização do meu trabalho diário. SUMÁRIO Resumo ..................................................................................................... 08 I. Introdução........................................................................................... 1.1. Objetivo................................................................................... 09 10 6 II. Fundamentação Teórica ....................................................................... 11 2.1. Desenvolvimento ....................................................................... 25 2.2. A resistência aeróbica e o trabalho cardiovascular precoce.... 25 2.3. Aspectos motores..................................................................... 27 2.3.1. A velocidade............................................................... 27 2.3.2. A força ........................................................................ 28 2.3.3. A flexibilidade............................................................... 29 2.4. Aspectos socioculturais............................................................ 29 2.4.1. O jogo........................................................................... 35 2.4.2. A participação dos pais................................................. 36 2.5. Os aspectos psicológicos .......................................................... 37 2.5.1. A motivação.................................................................. 38 2.5.2. A frustração.................................................................. 39 3. Método...................................................................................................... 39 V. Conclusão ............................................................................................. 41 VI. Referências........................................................................................... 43 Resumo Apesar de muito discutido e abordado por vários autores e especialistas no assunto, o problema da competição esportiva escolar precoce, levantado neste estudo, aparece freqüentemente em nossa realidade social preocupando pais e todos os profissionais envolvidos no processo de iniciação esportiva das crianças e adolescentes. 7 Este trabalho apresenta os aspectos mais importantes que cercam o presente problema, como a participação dos pais, as etapas de crescimento e desenvolvimento da criança e as conseqüências para a prática esportiva, bem como compreender os aspectos físicos e psicológicos que envolvem a criança na competição precoce. Seguindo as diretrizes do Programa Segundo Tempo do Ministério do Esporte, a presente pesquisa foi realizada com base na experiência profissional do autor que atualmente é Coordenador do Núcleo de Ação de Esportes e Lazer do Centro Educacional Unificado – CEU Alvarenga relatou sua vivência com os alunos, em várias fases de sua vida profissional, observando o presente tema, verificando a incidência destas atividades esportivas competitivas na fase inicial do aprendizado da criança. Após observações das pesquisas de vários especialistas no assunto, foi possível elaborar uma seqüência lógica dos principais aspectos citados acima chegando a conclusões que podem contribuir para o dia-a-dia dos professores de educação física, técnicos, treinadores, pais, assim como todos os interessados no processo de crescimento e desenvolvimento da criança e a sua adequada integração social através do esporte e da atividade física. Palavras chaves: competição precoce, iniciação esportiva I. Introdução Atuando na área de esportes há vários anos e, atualmente, como Coordenador do Núcleo de Ação de Esportes e Lazer de do Centro Educacional Unificado - CEU Alvarenga, foi possível perceber que a busca por resultados está atropelando as fases dos movimentos fundamentais, implicando no desenvolvimento natural das crianças. 8 A observação diária do problema vivenciado pelas crianças nos confirma que a educação física não tem por hábito induzir o aluno a refletir sobre suas ações. Refletimos apenas o imediato, o prático, que é potencializar o aluno no esporte para obter performances favoráveis ao sistema e deste imediatismo, ou seja, da competição esportiva escolar precoce podem influenciar substancialmente no modo de ser da criança. Este estudo apresenta uma reflexão sobre a atuação dos protagonistas envolvidos na condução da aprendizagem das nossas crianças, ressaltando a importância de respeitar as fases dos movimentos fundamentais, não se deixando levar por interesses específicos e defendendo o direito da criança de ter uma infância saudável e prazerosa de forma lúdica e sem cobrança de resultados. No crescimento e desenvolvimento da criança e na sua integração social, percebemos a presença de vários elementos responsáveis pelo sucesso ou fracasso deste processo, que são os pais e familiares, treinadores esportivos, professores e até os médicos responsáveis pela saúde da mesma. A partir do momento que a criança procura o esporte como uma forma de desenvolver o lazer, os elementos citados acima devem compreender a importância deste relacionamento para que sejam positivos a sua integração social, o processo de crescimento e o equilíbrio de sua saúde. Atualmente, dentro do contexto esportivo, podemos notar em diversas situações uma orientação equivocada por parte de profissionais da educação física com pequenos atletas, sendo que estes, querem apenas brincar ou se divertir através do esporte, conflitando com os interesses de pais e treinadores esportivos ansiosos por performance e resultados positivos precoces destas crianças. A relação estabelecida entre o esporte e as sociedades carentes, que geralmente se encontram na periferia das grandes cidades, apresenta hoje um 9 distanciamento e falta de oportunidades, sendo que estas comunidades já enfrentam preconceitos sociais, culturais, carências afetivas, emocionais, além dos conflitos pessoais e interpessoais. Dentro deste contexto social caótico de relações humanas e distorções de valores socioculturais, o esporte tem o papel de assumir a responsabilidade como mecanismo transformador de comportamento, transmissor de cultura e facilitador da socialização e da inclusão social, interagindo com o indivíduo para criar relações e interações com a sociedade, possibilitando assim a mudança da condição/estado de individuo para uma postura de cidadão, exercendo plenamente seu direito. Posto o que se apresenta, podemos perceber que o papel do esporte na sociedade é muito mais amplo do que apenas a busca por rendimento, principalmente na fase em que a criança pode consolidar valores tão importantes em vez da busca por performances competitivas. 1.1. OBJETIVO O objetivo deste estudo é propor soluções para os problemas que cercam a iniciação esportiva e o treinamento intensivo precoce por meio dos aspectos psicossociais, fisiológicos do crescimento e do desenvolvimento da criança, tentando auxiliar os pesquisadores e profissionais da área da saúde envolvidos na busca de um maior esclarecimento do problema para a sociedade. Para alcançar os objetivos propostos, além da pesquisa bibliográfica, o autor relacionou aspectos observados em sua experiência profissional com o tema. II. Fundamentação Teórica A iniciação esportiva tem várias fases de desenvolvimento. Por meio delas podemos perceber os objetivos específicos inerentes a cada idade e tomamos ciência que cada uma delas tem o seu momento de introdução de atividades lúdicas, 10 modalidades coletivas, assim como o seu momento ideal para aprendizagem de determinados movimentos. Quando deixamos de observar tal situação, permitindo que uma criança seja tolhida do aprendizado em cada uma das etapas em prol da sua escravidão de movimentos atrelados à modalidade escolhida na infância encontramos o problema da competição esportiva escolar precoce. Muitas vezes este problema é identificado na formação de profissionais de educação física, que assim como alguns pais dos alunos acreditam apenas na possibilidade da criança se tornar um grande atleta, tendo sucesso profissional, sem se preocupar com os benefícios muito mais amplos que o esporte pode proporcionar em sua fase de formação. Nos dias atuais, para atingir resultados desportivos superiores, os atletas dedicam-se à atividade esportiva durante muitos anos de suas vidas. Por isso, segundo os estudos de Oliveira e Paes (2001), tornou-se necessária uma subdivisão metodológica rigorosa em longo prazo, relacionada à preparação dos atletas, na qual as etapas e fases não têm prazos definidos de início e finalização, pois dependem não só da idade, mas também do potencial genético do esportista, do ambiente no qual ele está inserido, das particularidades de seu crescimento, maturação, desenvolvimento, da qualidade dos técnicos, das características da modalidade escolhida, dentre outros aspectos. A etapa de iniciação nos jogos desportivos coletivos é um período que abrange desde o momento em que as crianças iniciam-se nos esportes até a decisão por praticarem uma modalidade. Desta maneira, os conteúdos devem ser ensinados respeitando-se cada fase do desenvolvimento das crianças e dos pré-adolescentes. 11 Oliveira e Paes (2001) dividem a etapa de iniciação esportiva em três fases de desenvolvimento: a) fase iniciação esportiva I; b) fase de iniciação esportiva II; e c) fase de iniciação esportiva III, sendo que cada uma possui objetivos específicos para o ensino formal e está de acordo com a idade biológica, escolar, cronológica e com as categorias disputadas nos campeonatos municipais e estaduais, diferenciando-se de modalidade para modalidade. No quadro 1, visualizamos essas características, com um exemplo para as disputas nos campeonatos de basquetebol no ensino não formal. Quadro 1. Periodização do processo de ensino para os jogos desportivos coletivos na etapa de iniciação esportiva, com um exemplo para o Basquetebol Fase de Iniciação Esportiva I A fase de iniciação esportiva I corresponde ao período da 1.ª a 4.ª séries do ensino fundamental, atendendo crianças da primeira e segunda infâncias, com idades 12 entre 7 e 10 anos. O envolvimento das crianças nas atividades desportivas deve ter caráter lúdico, participativo e alegre, a fim de viabilizar o ensino das técnicas desportivas, estimulando o pensamento tático. Todas as crianças devem ter a possibilidade de acesso aos princípios educativos dos jogos e brincadeiras, influenciando positivamente o processo ensino-aprendizagem. Neste contexto devemos evitar, nos jogos desportivos coletivos, as competições antes dos 12 anos, às quais exigem a perfeição dos movimentos ou gestos motores e também grandes soluções táticas. Participação em atividades variadas com caráter recreativo Paes (1989) pontua que, no processo evolutivo, essa fase - participação em atividades variadas com caráter recreativo - visa à educação do movimento, buscandose o aprimoramento dos padrões motores e do ritmo geral por meio das atividades lúdicas ou recreativas. Hahn (1989) propõe, com base nos estudos de Grosser (1981), o desenvolvimento das capacidades de coordenação, velocidade e flexibilidade, pois esse é o período propício para o início de desenvolvimento. As crianças encontram-se favorecidas, aproximadamente entre 7 a 11 anos, em função da plasticidade do sistema nervoso central, e as atividades devem ser desenvolvidas sob diversos ângulos: complexidade, variabilidade, diversidade e continuidade durante todo o seu processo de desenvolvimento. Weineck (1999) diz que as crianças dessa faixa etária 7 a 11 anos demonstram grande determinação para as brincadeiras com variação de movimentos e ocupam-se de um percentual significativo de jogos, que formam de maneira múltipla. Este fato nos faz acreditar que se deve proporcionar, então, um ambiente agradável para que o desenvolvimento ocorra sem maiores prejuízos, ou seja, as crianças devem aprimorar o padrão de movimento cuja execução objetive apenas a estimulação para que, assim, a criança construa o seu próprio repertório motor sem nenhuma sobrecarga. 13 Desta maneira, ao relacionar a participação da criança em atividades motoras na infância, constatou-se que as mesmas gostavam de brincar, o que pode ser comprovado nos estudos de Vieira (1999) e Oliveira (2001), os quais, ao entrevistar talentos da modalidade de atletismo e basquetebol, confirmaram que os atletas, quando crianças, gostavam de caçar, brincar de super-herói, cabo de guerra, amarelinha, demonstrando, assim, interesse pelas atividades lúdicas. Nesse contexto, Greco (1998) e Paes (2001) afirmam que a função primordial é assegurar a prática no processo ensino-aprendizagem, com valores e princípios voltados para uma atividade gratificante, motivadora e permanente, reforçada pelos conteúdos desenvolvidos pedagogicamente, respeitando-se as fases sensíveis do desenvolvimento, com carga horária suficiente para não prejudicar as demais atividades como o descanso, a escola, a diversão, dentre outras; caso contrário será muito difícil atingir os objetivos em cada fase do período de desenvolvimento infantil. Oliveira (1997) corrobora com essa tese ao afirmar que, nessa fase, as principais tarefas são os gestos motores, necessários à vida, e deve-se procurar assegurar o desenvolvimento harmonioso do organismo por meio de atividades como escalonamento, saltos, corridas, lançamentos, natação etc., não se devendo, nesse período, apressar a especialização desportiva. Os iniciantes praticam aproximadamente 150 a 300 horas anuais, sendo que o trabalho geral deve predominar em relação às cargas específicas. Isso significa que a especialização precoce, nesse momento, pode não ser adequada. Os conteúdos desenvolvidos nessa fase, em conformidade com Paes (2001), devem ser o domínio do corpo, a manipulação da bola, o drible, a recepção e os passes, podendo utilizar-se do jogo como principal método para a aprendizagem. Em consonância com o autor ainda é possível sugerir o lançamento, o chute, o saque, o arremesso, quicar e cortar, típicos dos jogos desportivos coletivos. Os espaços, todavia, 14 podem ser reduzidos, para adequar as capacidades físicas das crianças com alvos menores, a exemplo do gol do futsal, do futebol, do handebol e nos casos do basquetebol e do voleibol, a tabela, o aro e a rede podem ser com alturas menores. Essas modificações também podem ser feitas em outros jogos e brincadeiras. Acreditamos que, com isto, as crianças poderão motivar-se para a prática em função do aumento das possibilidades de êxito. Em relação aos jogos desportivos coletivos, as atividades lúdicas em forma de brincadeiras e pequenos jogos podem contribuir para desenvolver, nas crianças, as capacidades físicas, tais como a coordenação, a velocidade e a flexibilidade - propícias nesta fase - e também habilidades básicas para futuras especializações, como agilidade, mobilidade, equilíbrio e ritmo. Deve-se evitar a apreensão com a execução errônea do gesto técnico, pois cada forma diferente de movimento em relação ao modelo técnico pode ser aceita, deixando para a fase posterior as cobranças em relação à perfeição dos gestos motores. A educação física escolar tem função primordial nesta fase, aumentando a quantidade e a qualidade das atividades, visando a ampliação da capacidade motora das crianças, a qual poderá facilitar o processo de ensino-aprendizagem nas demais fases. De qualquer modo, seja na escola ou no clube, a efetividade da preparação e da formação geral, que constituirão a educação geral dos atletas no futuro, só poderão ser maximizadas na interação professor / técnico, escola, aluno / atleta e demais indivíduos que têm influência no desenvolvimento dos jovens. Sendo assim, o sucesso da educação das crianças e adolescentes depende muito da capacidade do professor/treinador e de cada cenário onde o trabalho é desenvolvido. A literatura especializada do treinamento infantil demonstra que, nesta fase, devem-se observar as condições favoráveis para o desenvolvimento de todas as capacidades e qualidades na aplicação dos conteúdos do ensino, por meio de uma ação pedagógica sistematizada. 15 Fase de Iniciação Esportiva II A fase de iniciação esportiva II é marcada por viabilizar os jovens à aprendizagem de várias modalidades esportivas, atendendo crianças e adolescentes da 5ª à 7ª séries do ensino fundamental, com idades aproximadas de 11 e 13 anos, correspondente à primeira idade puberal. Partindo do princípio de que a fase de iniciação esportiva I visa à estimulação e à ampliação do vocabulário motor por intermédio das atividades variadas específicas, mas não especializadas de nenhum esporte, a fase de iniciação esportiva II dá início à aprendizagem de diversas modalidades esportivas, dentro de suas particularidades. Aprendizagem diversificada de modalidades esportivas Neste ponto é necessário abordar a importância da diversificação, ou seja, a prática de várias modalidades esportivas que contribuem para futuras especializações. O autor também é favorável à diversificação dos conteúdos de ensino em uma modalidade, evitando, todavia, a repetição dos mesmos, que acarretaria na estabilização da aprendizagem, empobrecendo o repertório motor dos praticantes. Em relação à diversificação e à aprendizagem de várias modalidades esportivas, Bayer (1994) entende que, em nível de aprendizagem, o "transfer" é admitido, ou seja, a transferência encontra-se facilitada logo que um jogador a perceba na estrutura dos jogos desportivos coletivos. Assim, os praticantes transferem a aprendizagem de um gesto como o arremessar ao gol no handebol, a cortada do voleibol ou o arremesso da cesta no basquetebol. Trata-se, então, de isolar estruturas semelhantes que existem em todos os jogos coletivos desportivos para que o aprendiz 16 reproduza, compreenda e delas aproprie-se. Entretanto, o autor adverte: “... ter a experiência de uma estrutura não é recebê-la passivamente, é vivê-la, retomá-la e assumi-la, reencontrando seu sentido constantemente”.(Bayer, 1994, p. 629). De acordo com a literatura, os iniciantes devem participar de jogos e exercícios advindos dos esportes específicos e de outros, que auxiliem na melhoraria de sua base multilateral e no preparo com a base diversificada para o esporte escolhido. As competições devem ter caráter participativo e podem ser estruturadas para reforçar o desenvolvimento das capacidades coordenativas e das destrezas, melhorando a técnica do movimento competitivo, vivenciando formações táticas simples. No entanto, não se deve objetivar o produto final (resultado) nesse momento. Deve-se buscar, na iniciação esportiva, a aprendizagem diversificada e motivacional, visando o desenvolvimento geral. Essa fase caracteriza a passagem da fase da iniciação esportiva I para a fase de iniciação esportiva II, na qual se confere muita importância à auto-imagem, socialização e valorização, por intermédio dos princípios educativos na aprendizagem dos jogos coletivos (Kreb's, 1992; Greco, 1998; Oliveira 1988; e Paes, 2001). Neste período, consolida-se o sistema de preparação em longo prazo, pois é importante não se perder tempo para evitar a estabilidade da aprendizagem. Para Weineck (1991), além da ótima fase para aprender, na qual as diferenças em relação à fase anterior são graduais e as transições são contínuas, as capacidades coordenativas dão base para futuros desempenhos. Por outro lado, deve-se evitar a especialização precoce, como afirma Vieira (1999), haja vista que esta pode levar ao abandono do esporte, sem contar que o resultado precoce nas fases inferiores pode também influenciar na formação da personalidade das pessoas, levando-as a atividades inseguras, tornando-as até inconscientes de seu papel perante a sociedade. 17 Em se tratando de evitar a especialização precoce, Paes (1989) assinala esta fase como generalizada, na qual pretende-se a aquisição das condições básicas de jogo ao lado de um desenvolvimento psicomotor integral, possibilitando a execução de tarefas mais complexas. Essa fase, porém, não deverá ser utilizada para a firmação obrigatória da especialização desportiva dos atletas. Neste sentido, Gallahue (1995) pondera que esse momento é importante para os aprendizes passarem do estágio de transição para o de aplicação, ou seja, aprender com relativa instrução do professor a liberdade dos gestos técnicos. Vieira (1999) corrobora com essa idéia, afirmando que, nesta fase, a atenção está direcionada para a prática, bem como para as condições de promover o refinamento da destreza, planejando situações práticas progressivamente mais complexas, ressaltando que o sistema de ensino é parcialmente aberto, no qual as atividades são também parcialmente definidas pelo professor / técnico. De qualquer forma, todas as fases estão em estreita interdependência, pois as fases posteriores são estruturadas nas anteriores. Essa importância é discutida por Gomes (2002) quando aponta que o ex-campeão do mundo, M.Gross, praticou, paralelamente à natação, futebol, tênis, cross-country e as técnicas de natação eram realizadas por meio de jogos pré-selecionados, melhorando a capacidade coordenativa antes da especialização e do sucesso na natação. Segundo Paes (2001), os conteúdos de ensino a serem ministrados nesta fase são os conceitos técnicos e táticos dos desportos: basquetebol, futebol, futsal, voleibol e handebol, nos quais devem ser contemplados, além desses conteúdos, finalizações e fundamentos específicos. Existe também, a necessidade de trabalhar os exercícios sincronizados e o "jogo", que deve tomar a maior parte do tempo nos treinamentos. Com isto, o ensino-aprendizagem contempla as regras que devem ser simplificadas, nas quais a tática, "razão de fazer", contribui para a aprendizagem da técnica, "modo de fazer", e vice-versa. 18 Teodorescu (1984) afirma que os aspectos físicos do desenvolvimento morfofisiológico e funcional podem ser desenvolvidos com as influências positivas do jogo no processo de aprendizagem e prática. Deve-se, então, apropriar-se do aumento da intensidade nas aulas e nos treinamentos em relação aos espaços dos jogos, visando ao desenvolvimento da capacidade aeróbia, base para outras capacidades. A velocidade de reação, mudança de direção e parada brusca, já desde a fase anterior, deve ser aprimorada, melhorando o controle do corpo. A flexibilidade deve ser desenvolvida de forma agradável, sempre antes das sessões de treinamento, pois se alcançam, nessa fase, períodos ótimos de sensibilidade de desenvolvimento. O tempo dedicado ao treinamento, segundo Gomes (1997), gira em torno de 300 a 600 horas anuais, das quais apenas 25% do tempo é dedicado a conteúdos específicos e 75% aos conteúdos da preparação geral. Nos conteúdos de ensino, a ênfase deve ser dada ao desenvolvimento da destreza e habilidades motoras, sem muita preocupação para as performances de vitórias, haja vista que, a capacidade de suportar as experiências nos jogos na infância e início da adolescência é facilitada pela compreensão simplificada das regras e pelo valor relativo dos resultados das ações e não simplesmente pelos títulos a serem alcançados. No processo de formação esportiva, além dos dirigentes, pais e árbitros, o técnico é o responsável pela estruturação do treinamento. Ele deve conhecer os fatores que envolvem a iniciação esportiva e a especialização dos jovens praticantes, contribuindo decisivamente na existência de um ambiente formativo-educativo na prática esportiva (Mesquita, 1997). Desta forma, o esporte, como conteúdo pedagógico na educação formal e não formal, deve ter caráter educativo (Paes, 2001). O apoio familiar, o suprimento de parte 19 das necessidades básicas, incentivos, as competições, as possibilidades de novos amigos e as viagens são motivos pelos quais muitos adolescentes continuam na prática esportiva após a aprendizagem inicial. Deste modo, a fase de iniciação esportiva II requer uma instrução com base no modelo referente ao esporte culturalmente determinado. Neste sentido, torna-se imprescindível, para a prática dos jogos desportivos coletivos, uma sistematização dos conteúdos periodizados pedagogicamente, na qual o professor/técnico desempenha papel fundamental no processo de aprendizagem e na busca do rendimento. Nesta fase, a escola é o melhor local para a aprendizagem, pois além dos motivos já citados, no ambiente escolar, o professor terá controle da freqüência e da idade dos alunos, facilitando as intervenções pedagógicas. No âmbito informal, como no clube desportivo, isso pode não ocorrer, mas a função do professor/técnico do clube deve propiciar à criança o mesmo tratamento pedagógico que esta recebe na escola, para facilitar o desenvolvimento dos alunos/atletas. Fase de Iniciação Esportiva III As habilidades técnicas, como exposto anteriormente, os jogos e as brincadeiras, nas fases de iniciação esportiva I e II, objetivam a aprendizagem da manipulação de bola, passe-recepção, entre outras, e no domínio corporal, a agilidade, mobilidade, ritmo e equilíbrio; dando início à formação tática e ao aperfeiçoamento das capacidades físicas - coordenação, flexibilidade e velocidade - que constituem as bases para a fase de iniciação esportiva III, a qual possui, como conteúdos, a automatização e o refinamento da aprendizagem, preparando os alunos/atletas para a especialização. Neste momento do processo, a iniciação esportiva III é a fase que corresponde à faixa etária aproximada de 13 a 14 anos, que abrange as 7ª e 8ª séries do ensino 20 fundamental, passando os atletas pela pubescência. Enfatizamos o desenvolvimento nesta fase, da automatização e do refinamento dos conteúdos aprendidos anteriormente, nas fases de iniciação esportiva I e II, e a aprendizagem de novos conteúdos, fundamentais neste momento de desenvolvimento esportivo. Automatização e refinamento da aprendizagem anterior Nesta fase do processo, o jovem procura, por si só, a prática de uma ou mais modalidades esportivas por gosto, prazer, aplicação voluntária e pelo sucesso obtido nas fases anteriores. Neste sentido, os atributos pessoais parecem ser fundamentais para o aperfeiçoamento das capacidades individuais. A idade e o biótipo, além da motivação, são elementos determinantes para a opção por uma ou outra modalidade na busca da automatização e do refinamento da aprendizagem dos conteúdos das fases anteriores, buscando a fixação em uma só modalidade. Weineck (1991) reconhece que a seleção dos atletas adolescentes é feita com base nas dimensões corporais e na qualificação técnica, além dos parâmetros fisiológicos e morfológicos. As condições antropométricas, além dos fatores afetivos e sociais, exercem uma influência significativa na detecção de futuros talentos. Desta forma, a preparação das capacidades técnico-táticas recebe uma parte relevante do treinamento, contudo, consideramos o desenvolvimento dos atletas aliado a outros fatores, como o desenvolvimento das capacidades físicas. O objetivo é desenvolver, de forma harmônica, todas as capacidades, preparando os adolescentes para a vida e para posteriores práticas especializadas. Gallahue (1995) pontua que, nesta fase, acontece a passagem do estágio de aplicação para o de estabilização, na qual fica para o resto da vida. Neste contexto, Vieira (1999) afirma que ocorre, nessa fase da aprendizagem, um ensino por sistema 21 parcialmente fechado (prática). Assim, o plano motor que caracteriza o movimento a ser executado, bem como as demais condições da tarefa, já estão prioritariamente definidos, e almeja-se o aperfeiçoamento. Isso significa que, a partir da aprendizagem de múltiplas modalidades, a prática motora é uma atividade específica. Quer dizer, cada modalidade desportiva coletiva, requer dos indivíduos alguns requisitos relacionados a demandas específicas das tarefas solicitadas. O próprio jogo coletivo, por meio de seus conteúdos, tem a finalidade de aperfeiçoar a velocidade de reação, a coordenação, a flexibilidade e a capacidade aeróbica dos pré-adolescentes. O fenômeno, aqui, é a automatização do movimento, isto é, todas as aquisições que aconteceram de forma consciente e com muito gasto de energia podem, agora, ser executadas no subconsciente, com menor gasto energético, ou seja, de forma automatizada. Em relação aos conteúdos de ensino, Paes (2001), em sua abordagem escolar, propõe que, além das experiências anteriores, outras sejam apreendidas pelos atletas, tais como as situações de jogo, os sistemas ofensivos e também os exercícios sincronizados, cujo principal objetivo é proporcionar aos alunos a execução e a automatização de todos os fundamentos aprendidos, isolando algumas situações de jogo. Com base neste pensamento, deve-se iniciar a organizações tática, ofensiva e defensiva sem muitos detalhes. As "situações de jogo" devem ser trabalhadas em 2x1, 2x2, 3x3 e 4x3, possibilitando aos alunos/atletas a oportunidade de praticar os fundamentos aprendidos em situações reais de jogo, com vantagem e desvantagem numérica. Outro conteúdo específico nesta fase é a "transição", entendida como contraataque nos jogos desportivos coletivos. Paes (2001) define essa fase "como a passagem da ação defensiva para a ação ofensiva" (Paes, 2001, p. 113). Constatamos que a evolução técnica, tática e as mudanças nas regras do jogo transformaram a transição ou 22 contra-ataque em objeto de estudo de várias escolas esportivas em todo o mundo. Assim, deve-se dar atenção especial aos aspectos fundamentais que envolvem o treinamento da transição ao ensinar esportes para adolescentes, pois estes aspectos, desenvolvidos com vantagem e desvantagem numérica, podem aperfeiçoar em reais situações de jogo a técnica, a tática, o físico e o psicológico dos alunos/atletas na busca da maestria, ou seja, da autonomia e do conhecimento teórico e prático sobre o contexto dos jogos. Em relação às habilidades motoras, a fase de automatização e refinamento enfatiza a prática do que foi aprendido e acrescenta as situações de jogo, transição (contra-ataque) e sistemas táticos de defesa e ataque, os quais, aliados à técnica, visam ao aperfeiçoamento das condições gerais da formação do atleta, na qual os conteúdos de ensino equilibram-se entre exercícios e jogos com o objetivo de ensinar habilidades "técnicas específicas", que são o modo de fazer aliado à "tática específica", a razão de fazer. Na fase de automatização e refinamento dos fundamentos - exercícios sincronizados e sistemas aprendidos - o desenvolvimento das capacidades físicas voltase para o aperfeiçoamento do que já foi conseguido anteriormente, fortalecendo a estrutura física, destacando as capacidades físicas específicas de um determinado esporte, como exemplo, a resistência de velocidade, muito utilizada no basquetebol, futsal, futebol entre outros. Neste período do processo de desenvolvimento, os técnicos de cada modalidade utilizam suas experiências e competência profissional como instrumento de seleção esportiva. Outras possibilidades são necessárias para auxiliar os técnicos, como o apoio dos pais, das prefeituras, dos estados, das instituições, federações e confederações, a fim de promover os talentos (Oliveira, 1997). 23 Após a descrição das fases de iniciação esportiva segmentada por suas idades correlacionadas é necessário ficar atento para identificar procedimentos que contrariem essa metodologia em prol do rendimento esportivo precoce. Atuando como profissional de esportes e adepto da metodologia proposta por Oliveira e Paes (2001), ainda hoje encontramos em todas as fases algum exemplo que mostre que o professor de educação física tem, em sua formação, uma visão focada no rendimento. Atitudes que podem ilustrar este caso podem ser percebidas em equipes de base que são classificadas como o momento de iniciação esportiva dos jovens. Neste contexto, às vezes, verificamos a existência de profissionais que ministram suas aulas e até mesmo atuam de forma motivadora para acelerar a performance do aluno não observando as fases desenvolvimento e muitas vezes treinam velocidade de forma inadequada e também “tiros” de 10 metros em crianças de faixa etária de 10 anos, procedimento contrário à proposta de motivar a criança através de brincadeiras lúdicas. Desta forma percebemos que é necessária uma vigilância constante para que a criança não tenha nenhum prejuízo físico ou psicológico devido às expectativas que nela são depositadas em prol do rendimento precoce. Após a explanação das fases de iniciação esportiva torna-se necessário dissertar sobre as principais conseqüências que incidem sobre a criança. 2.1. DESENVOLVIMENTO Em se tratando do tema especialização em esporte escolar relacionado com competição, surgem imediatamente muitas dúvidas para aqueles que estão envolvidos com a iniciação e as competições envolvendo crianças e adolescentes. 24 Em primeiro lugar, é importante e necessário esclarecer que os aspectos abordados na presente pesquisa aplicam-se, somente, ao treinamento intensivo e à competição precoce e não à atividade física como um todo. Ao contrário, a atividade física, quando realizada adequadamente, isto é de forma compatível com as necessidades fisiológicas exigidas por cada estágio de crescimento e desenvolvimento físico da criança, é extremamente importante (NEGRÃO, 1980). A competição esportiva é muitas vezes entendida e manipulada de forma irracional, sendo que primeiramente devemos conscientizar que todas as crianças e adolescentes encontram-se na fase de formação e, portanto, não devem ser submetidas a um treinamento abusivo, visando apenas melhores resultados em competições. Competir está relacionado com a busca de formação e não devemos ser submetidos a um treinamento objetivo, com ênfase no desempenho, em que as pessoas tentam atingir suas metas. Atualmente estima-se que milhões de atletas estejam envolvidos em competições no mundo todo. Conforme Barbanti, apud De Rose Jr. (1994), o envolvimento nessas atividades não obedece a um critério lógico, e vem ocorrendo em idades cada vez mais precoces. 2.2. A RESISTÊNCIA AERÓBICA E O TRABALHO CÁRDIOVASCULAR NO TREINAMENTO PRECOCE A resistência aeróbica, para Tubino (1984), é a qualidade física que permite a um atleta sustentar por um período longo de tempo uma atividade física relativamente generalizada em condições aeróbicas, ou seja, em equilíbrio de consumo de oxigênio. Negrão (1980) e Personne (1991) são unânimes ao afirmarem a importância do treinamento aeróbico para crianças. Esses autores, quando analisaram a influência do treinamento no mecanismo da circulação sanguínea e no metabolismo demonstraram que a carga de treinamento no organismo jovem não depende da qualidade, mas sim, 25 da quantidade adequada de atividade física. Quanto mais cedo for aplicado na criança o trabalho de resistência aeróbica, melhor será o desempenho do seu sistema cardiovascular para o resto de sua vida. Em outras palavras, o treinamento aeróbico, quando aplicado em faixa etária precoce, provoca acentuado aumento da capacidade aeróbica máxima, o que não é conseguido em igual proporção em outras fases da vida humana. Esse treinamento prepara a criança também para futuras sobrecargas de treinamento esportivo, atuando, invariavelmente, como agente preventivo contra futuros distúrbios cardiovasculares. Personne (1991) confirma que para expansão do volume cardíaco e conseqüente melhora do sistema cardiovascular é reconhecido um trabalho com base na resistência aeróbica, que consiste em prolongar o maior tempo possível um esforço moderado com perfeita facilidade cardíaca e respiratória, sem ofegar. O trabalho da resistência aeróbica com as crianças deve acontecer de forma natural, lúdica e bem dosada. Podem-se utilizar as modalidades esportivas, como futebol, basquete, handebol, vôlei entre outras, envolvendo bola. Evidentemente não se pode fugir do objetivo do aluno que é de participar de uma atividade coletiva que possui regras definidas, desta forma o professor não deve ficar preso aos ensinamentos do gesto durante uma aula inteira, que para o nível de compreensão mental da criança não existe nenhuma relação com o jogo em si, passando a ser apenas uma atividade cansativa e sem sentido. Por outro lado, se a aprendizagem do fundamento pode facilitar o desempenho no jogo, pode ser aplicada de maneira cooperativa, relacionada com o esporte e com uma adequada solicitação de treinamento aeróbico geral, trabalhadas de forma recreativa sem a cobrança de desempenho ou de resultados, sem especializar a criança em determinada modalidade, desenvolvendo a sua resistência aeróbica deixando-a preparada para praticar todas as modalidades. 2.3. ASPECTOS MOTORES É necessário ressaltar a influência e a importância do trabalho de resistência 26 aeróbica para as crianças relacionando os aspectos motores como a força, a velocidade e a flexibilidade. 2.3.1. A VELOCIDADE A velocidade como uma qualidade física particular do músculo e das coordenações neuro-musculares permite a execução de uma só e mesma ação, de uma intensidade máxima e de duração breve ou muito breve, (FAUCONNIER apud TUBINO 1984). O trabalho de velocidade só deve ser estimulado por volta dos 12 anos. Na faixa etária de 8 à 11 anos a formação da velocidade deve ser procedida, sobretudo através da qualidade da educação corporal, que deve levar a um aumento da freqüência de movimentos (FIORESE 1989). Na maioria das vezes o esporte competitivo exige treinamento específico e técnicas próprias de cada modalidade, o que poucas vezes vem de encontro às necessidades fisiológicas da criança. A velocidade é mais bem estimulada através do trabalho anaeróbico alático, isto é, atividade em débito de oxigênio com esforços entre 80% e 100% da freqüência máxima levando, conseqüentemente, seu praticante a atingir níveis elevados de freqüência cardíaca e débitos de oxigênio nos músculos e na circulação sanguínea. Esforços com curta duração (até 10 segundos) entre 80% e 100% da condição física máxima, para os quais a criança não está devidamente preparada pode ocasionar uma lactose. A atividade anaeróbica lática provoca a vasoconstrição no sistema vascular, essa vasoconstrição requer um aumento na força de contração da musculatura cardíaca, contudo a criança não está suficientemente madura e esta situação, muito provavelmente, é um dos motivos que leva a criança a uma hipertrofia precoce da musculatura cardíaca limitando o seu potencial físico máximo, além de predispô-la a uma futura hipertensão arterial (NEGRÂO, 1980). 27 A velocidade deve ser estimulada ludicamente em jogos e brincadeiras onde a criança acuse o seu próprio limite sem preocupar-se com a performance na atividade envolvida, o que muitas vezes não é possível na competição intensiva e na busca de resultados. 2.3.2. A FORÇA Força é a qualidade que permite ao músculo vencer uma resistência do qual ele é o agente motor (ROCHA, apud FIORESE 1989). A força é uma das mais importantes qualidades de que dispõe o organismo humano, porém o seu inadequado desenvolvimento tornará impossível a formação dos hábitos motores (FIORESE, 1989). O simples fato de um idoso ou uma criança se levantar já faz com que esteja automaticamente trabalhando a força. O trabalho de força é importante para a constituição física e melhoria da capacidade dos órgãos e sistemas do organismo jovem. Tubino (1984) comenta que não importa saber apenas em que idade começar o treinamento com pesos, é muito mais importante conhecer a correspondência das cargas utilizadas com as possibilidades da idade. No caso da criança, deve-se trabalhar a força, utilizando-se do peso do seu corpo adequadamente, ou seja, jogos e brincadeiras onde ela use a força para agachar, levantar ou até saltar, respeitando os seus limites. Aproximadamente a partir do décimo ano de vida é que o menino passa por um crescimento rápido da força muscular. O máximo da força muscular é alcançado pelo homem, por volta dos vinte anos de idade durando aproximadamente uma década havendo um decréscimo gradual. 2.3.3. A FLEXIBILIDADE 28 A flexibilidade é uma qualidade física que pode ser evidenciada pela amplitude dos movimentos das diferentes partes do corpo em um determinado sentido. Essa amplitude é dependente da mobilidade articular e da elasticidade muscular. A mobilidade articular é expressa pelas propriedades anatômicas das articulações e a elasticidade muscular é projetada pelo grau de estiramento dos músculos envolvidos (TUBINO, 1984). É importantíssimo trabalhar a flexibilidade das crianças desde o início da sua formação, crescimento e desenvolvimento. É aconselhada a inclusão de exercícios de flexibilidade durante o período de crescimento das crianças. Esta indicação de treinamento de flexibilidade visa, fundamentalmente aumentar, o grau de amplitude do corpo que está relacionado com o crescimento ósseo e muscular dos indivíduos (TUBINO, 1984). As crianças são mais flexíveis que os adultos e para não perder esta importante característica é necessário trabalhar a flexibilidade na baixa idade da criança. Deve-se utilizar estratégias por meio de jogos e brincadeiras, pois será esta flexibilidade que ajudará a criança na futura prevenção de lesões esportivas e na formação e elasticidade dos ligamentos que compõe as articulações do aparelho músculoesquelético. 2.4. ASPECTOS SOCIOCULTURAIS Dentro dos aspectos socioculturais, a presença adequada dos pais, treinadores e diretores de escola, além de políticas públicas no processo da iniciação esportiva precoce e a importante idéia de que o jogo tem uma função vital no papel de socialização da criança e merece ser diferenciado da competição, conseqüentemente, evitando a cobrança de resultados. Diversas ações podem ser possíveis ou desejáveis desde que façam interagir a educação física escolar, as ações de esporte e recreação de clubes e entidades locais, os órgãos de saúde pública e as instâncias formadoras de profissionais da área, como as universidades. 29 O setor público caracteriza-se, via de regra, por uma absorção quase que completa da sociedade civil e suas organizações. Nos Centros Educacionais Unificados - CEU´s - da Prefeitura Municipal de São Paulo, o objetivo inicial era atender a comunidade do entorno para fomentar as práticas esportivas e culturais e inovar as propostas pedagógicas educacionais, contando com o Conselho Gestor, do qual fazem parte, além dos funcionários do equipamento, de escolas da região, representantes dos usuários, pais de alunos e a sociedade civil organizada. Existe também uma equipe interdisciplinar – Educação, Cultura e Esporte - para elaboração de projetos locais, respeitando o contexto e a bagagem sócio cultural que cada cidadão carrega. A proposta principal sofreu alterações, priorizando o atendimento ao Projeto Período Integral que visa o atendimento das crianças que estudam no CEU e no seu contra turno, onde participam de oficinas esportivas e culturais, permanecendo por um tempo maior na escola, porém existem várias atividades que contemplam os alunos de outras escolas e a comunidade adulta. É uma proposta parecida com a do Programa Segundo Tempo com condições e formato um pouco diferentes. Durante o período de 20/05/2004 a 10/01/2005 o Programa Segundo Tempo foi realizado no CEU Alvarenga, quando se pode observar uma participação mais efetiva dos alunos, pois os profissionais envolvidos já conheciam o contexto e as crianças que dele faziam parte, facilitando assim o trabalho de integração professor/aluno, criando um ambiente favorável para seu desenvolvimento e aplicação. Entender o tipo de relação existente entre o estado e a sociedade civil de maneira geral pode ser bastante elucidativo para entender a relação entre Estado e o setor esportivo. Os interesses e os motivos que levam o estado a interagir e intervir com a organização esportiva pode ser a “integração nacional”, “preservação da saúde”, “melhoria na qualidade de vida”, “oferecimento de oportunidade de lazer”, a lista pode ser grande, mas importante é esclarecer a relação com a função do Estado no processo societal como um todo. Para o entendimento da intervenção estatal no Brasil precisa-se levar em 30 consideração que a política social precisa ser compreendida não em termos nacionalistas, mas sim em termos econômicos e políticos como um instrumento usado pelo estado para manter as bases de funcionamento. (FREITAG, 1987) A função básica do Estado nas sociedades capitalistas, portanto é garantir a reprodução do capital por isso o esporte será objeto de atenção do Estado em função de sua maior ou menor reprodução da força de trabalho. (VASCONCELOS 1988). O esporte não pode por meio de uma construção de um mundo próprio ser revolucionário. Mesmo uma nova estratégia no jogo de futebol, que poderia suscitar tal interpretação, somente será aceita como uma nova forma de ação se ela oferecer melhores chances de vitória. Ou seja, ela não terá reconhecimento em função de sua composição especial e inovadora de movimentos e de ação no jogo e sim em relação ao objetivo da competição no sentido da melhoria do rendimento (FRANKE, 1978). Neste ponto verificamos o confronto do esporte como ferramenta para obter resultados com o esporte em seu papel de formação social. Estando a comunidade inserida neste contexto, constata-se a dificuldade e a necessidade, de se realizar uma leitura de escola e de sociedade contemplando um universo de idéias não alienadas e conscientes da dominação econômico-cultural. A partir desta visão crítica, retornar ao universo da sala de aula. Para BOURDIEU (1998) a escola não é uma ilha na sociedade. Não está totalmente determinada por ela, mas não está totalmente livre dela. Entender os limites existentes para a organização do trabalho pedagógico, nos ajuda a lutar contra eles; desconsiderá-los conduz à ingenuidade e ao romantismo. Formar um indivíduo com autonomia do seu pensamento é o desafio da escola. Essa autonomia deve ser entendida como até que ponto o sujeito tem consciência das determinações na sua existência como pessoa. “As principais teorias sociológicas da educação e do ensino repousam sobre o princípio da reprodução, da contribuição para a manutenção da dominação de classes ou do equilíbrio social” (PETITAT, 1994, p. 11). 31 Seguindo o pensamento de Petitat, o que Bourdieu e Althusser propõem, é que a escola só reproduz o sistema dominante. No entanto, Petitat reconhece esta reprodução, acreditando que existe algo além, ou seja, que a escola não só reproduz, mas existem brechas no espaço das produções sociais, onde podem ser feitas pequenas mudanças. Pierre BOURDIEU (1983, p. 140) diz que “a constituição de um campo das práticas esportivas se acompanha da elaboração de uma filosofia política do esporte”. Esta filosofia permeia o cotidiano das atividades esportivas no interior da escola, estabelecendo determinadas regras que se pressupõem imutáveis, acomodando e moldando o aluno para uma atitude sem senso crítico. Assim, o indivíduo atua como defensor de uma cultura burguesa, já que está despreparado para questionar e se posicionar, sem opções de decisão, pois não construiu base sólida de fundamentação para facilitar as intervenções e tomada de decisões que possam surgir no decorrer de sua vida. Segundo PETITAT, (1994, p. 34), “a violência simbólica” da escola parece duplamente importante: no reforço do poder estabelecido e na seleção das elites.”O poder simbólico é exercido por existência e ocultação. A escola exclui mais pela ocultação do que pela imposição: um exemplo é o quadro de honra, ou a medalha para o campeão. Os professores acreditam que com essa homenagem estão valorizando, mas, ao contrário, estão acentuando a exclusão. No momento em que a escola certifica o brilhante, ela trabalha o brilhante privilegiando o mais forte. Citado por OLIVEIRA (2001, p. 141), sugere a problematização do esporte como” fenômeno sociocultural, a partir do confronto dos valores e códigos que o fazem excludente e seletivo, não sendo possível à escola isolar-se da sociedade, já que a escola é, ela mesma, uma instituição da sociedade, uma de suas tarefas, então, é a de debater o esporte, de criticá-lo, de produzi-lo [...] e de praticá-lo.”O que está em jogo, é reconhecer o poder das atividades, dos jogos, realizando uma leitura e análise crítica, não ingênua e contínua do conteúdo que realmente está sendo ministrado”. 32 “A escola destaca a sua função de instruir, enquanto que a principal delas é selecionar; afirma difundir a cultura de todos, quando privilegia a da minoria dominante; [...] disfarça as desigualdades de resultados apresentando-as como diferenças biológicas [...] tudo contribui para inscrever no espírito dos alunos o sentimento de sua inferioridade social e os ideais da pequena burguesia” (PETITAT,1994, p. 24). Tudo permite supor que, no caso do esporte, a competência puramente passiva é um fator que não permite a emancipação do sujeito social, ou constitui este seu papel, como sujeito social passivo. Nossa porção inconsciente, sem ser aparente, move as instituições sociais. “Não é suficiente enunciar o fato de desigualdade diante da escola, é necessário descrever os mecanismos objetivos que determinam a eliminação contínua das crianças desfavorecidas” (BOURDIEU, 1998, p. 41). A escola deve questionar-se a respeito de sua ação na reprodução das desigualdades sociais. Em seu cotidiano transmite uma cultura de classe onde são privilegiados os dominantes e renegados os dominados. No momento em que a instituição educacional trata os desiguais de forma igual, ela determina e reproduz as desigualdades existentes no contexto social. As famílias inseridas nas classes média e superior incentivam a curiosidade, a felicidade e o autocontrole em seus filhos, já as famílias de níveis sociais inferiores podem levar seus filhos à síndrome de privação cultural, que é um termo usado por FEUERSTEIN (1994, p. 8), que designa a carência de experiências da aprendizagem através de fatores etiológicos. Assim, as dificuldades econômicas podem implicar em dificuldades educacionais e, do mesmo modo, as dificuldades educacionais podem produzir desigualdades econômicas. Vale ressaltar que a escola se constrói em realidades diferentes, não sendo a mesma em todo mundo capitalista, e que, embora determinada socialmente, ela pode transformar-se e gerar transformações. A escola, “embora não seja eficaz da forma que ela espera ser, é um local extremamente importante, e a causa próxima do renascimento de uma cultura oposicionista de classe” (WILLIS, 1991, p. 217). Um olhar crítico para os processos e as 33 atividades desenvolvidas no âmbito escolar pode favorecer a construção de novas redes sociais, contribuindo para transformações sócio-histórico-culturais. “A escola é um lugar que, fazendo o esporte de forma diferente, pode motivar diferenças em outros âmbitos, numa relação em mão dupla com a sociedade” (OLIVEIRA, 2001, p. 142). Nesse sentido o Programa Segundo Tempo contribui mostrando a necessidade de atenção para as políticas públicas, em quebrar paradigmas e romper os entraves educacionais, levando as atividades esportivas educacionais além dos muros das escolas, acreditando assim que a educação não pode estar fora do contexto da comunidade onde está inserida construindo assim uma nova forma de educar através do esporte. O esporte deve ser um instrumento efetivo na aproximação entre pessoas, não somente para um ganhar do outro uma partida de futebol, mas sim, na mobilização de uma sociedade cooperativa, onde os problemas sejam levantados por esta sociedade e, neste sentido, a comunidade teria realmente um adversário a ser superado. “Buscamos novas categorias, ou seja, um novo conhecimento que permita interações mais reais com os processos que se dão em seu interior. Estas são inquietações que nos levam a participar da própria construção social da realidade escolar.” (EZPELETA, 1989, p. 30) O caminho a perseguir é de uma modificação no contexto e nas instâncias do esporte, uma reorientação no seu sentido e significado, uma alteração no seu papel social. O que prejudica a construção de um indivíduo social e saudável é o que pode beneficiar esta formação. FROMM, citado por (ORLICK, 1989, p.18) classifica trinta culturas primitivas e as sub-classifica com base na agressividade e no pacifismo. “As oito sociedades mais orientadas para a vida centralizavam suas sociedades em torno da preservação e do crescimento da vida em todas as suas formas. Há pouca competição, cobiça, inveja, individualismo ou exploração e muita cooperação”. Prevalecem, nestas sociedades uma atmosfera geral de confiança, a autoestima e o bom humor. Entretanto, na escola contemporânea os jogos utilizados nas diferentes disciplinas são conhecidos pelos professores quando há ganhadores e perdedores. 34 O tempo histórico nos traz dados de inconformismo e reação a este relato, onde segmentos desta área começaram a se manifestar e apontar novos caminhos vislumbrando, portanto, um esporte menos competitivo, mas, no entanto, mais cooperativo, buscando dar-lhe um sentido mais coerente com valores de decência humana como a solidariedade, o respeito mútuo e a amizade. Seguindo esta filosofia, destacamos a intervenção do Estado como sendo fundamental para assegurar o direito constitucional de acesso às atividades esportivas e de lazer a toda população independente da condição socioeconômica. Além do mais, para que o esporte e o lazer sejam valorizados é preciso identificar e integrar os agentes nas esferas Federal, Estadual e Municipal, que seus papéis e suas responsabilidades sejam definidos, como também integrar, neste processo, as escolas, empresas, entidades de classe, ONG´s e em especial as entidades gestoras do esporte, proposta esta contemplada pelo Programa Segundo Tempo. 2.4.1. O JOGO Além de ter um papel estimulante, o jogo constitui-se um veículo educacional importantíssimo. É um fenômeno cultural e não somente biológico. O jogo possui um grande valor espiritual e social, oferecendo inúmeras possibilidades educacionais, ele favorece o desenvolvimento corporal, estimula a inteligência, enriquece a vida psíquica, contribui para a adaptação ao grupo e prepara a criança para viver em sociedade, pois aprendendo a respeitar as regras do jogo, ela irá respeitar a regras sociais. O jogo possibilita, a quem está ensinando, conhecer a personalidade do educando e orientá-lo no sentido de que as más qualidades sejam eliminadas e as boas cultivadas. Já a competição possui, uma pessoa ou um grupo, buscando um objetivo, um melhor resultado em relação a si e a outra pessoa ou grupo, gerando oposição. Esta poderá resultar em competição ou conflito para a criança (NEGRÃO, 1980). Sendo exercido predominantemente na esfera da subjetividade, ele (o jogo) 35 orienta o sujeito na direção de si mesmo, para reconhecer-se como autor da própria ação. O que equivale a dizer que o sujeito se puder dispor entre uma miríade de possíveis entre as quais escolher fará por fim a única escolha de fato, interessa a sua formação a escolha por ser ela mesma condição indispensável para que de posse da autonomia que tal condição confere possa estar com o outro (FREIRE, 2002). Considerando como parte da cultura popular o jogo tradicional guarda a produção espiritual de um povo em certo período histórico. Essa cultura não-oficial desenvolvida sobre tudo pela oralidade, não fica cristalizada e está sempre em transformação, incorporando criações anônimas das gerações que vão se sucedendo (KISHIMOTO, 1993). O jogo é uma categoria maior, uma metáfora da vida simulação lúdica da realidade que se manifesta se concretiza quando as pessoas praticam esporte quando lutam, quando fazem ginástica, ou quando as crianças brincam (FREIRE & SCAGLIA, 2003). 2.4.2. A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS Cabe destacar a importância dos pais no processo iniciação precoce, pois dentro desse tópico incluiremos algumas observações pessoais baseadas na própria experiência e num longo convívio no contexto da competição e da iniciação esportiva precoce. Muitos pais se esquecem de que seus filhos são pessoas com vontades próprias que merecem ser respeitadas, ou que ainda são crianças e não super atletas. Não é difícil observar imposições feitas por pais junto ao técnico, ou a própria criança, exigindo a participação de seu filho em competições esportivas (NEGRÃO, 1980). É evidente também que os pais cultivam em volta das crianças um clima de competição. A criança não sofre apenas o peso da sua própria ansiedade de ganhar, mas também a pressão dos pais que a cercam e que desejam, também participar da vitória através da performance dos filhos, transformando assim as crianças em personagens que agem pelos os outros (PERSONNE, 1991). Além do pai que busca formar um filho atleta, temos também o perfil do pai 36 omisso, que por não ter sido um bom atleta, ou por não gostar de esportes, desestimula o filho à prática de qualquer atividade esportiva, sendo que isto pode ocasionar a perda de interesse por parte da criança em desenvolver o seu talento para a prática esportiva. Os pais devem respeitar os limites dos seus filhos, apoiar e estimular a atividade física e esportiva orientada por profissionais especializados, sem a cobrança de performance ou resultados, mas por sim preocupados em fazer prosperar a saúde e a interação social da criança, respeitando o seu estágio de crescimento, suas vontades e os seus outros afazeres, como os estudos, por exemplo. 2.5. OS ASPECTOS PSICOLÓGICOS As crianças, ao tomarem contato com o esporte, começam a sentir motivação ao vencer, tendo impulso de jogar, sentir o prazer, o alívio e a alegria no seu desempenho, mas também sentem a frustração ao perder. Quando a criança possui as percepções necessárias, estabilidade emocional, motivação, inteligência e educação para o desempenho da atividade, pode-se concluir que ela está psicologicamente apta para realizá-lo, pois já tem a maturidade para fazê-lo. A maturidade é o maior competidor da aprendizagem, no que se refere às mudanças de comportamento. Uma seqüência de comportamento se desenvolve através de estágios regulares, independendo da intervenção da prática, diz-se, do comportamento, que ela se desenvolveu por maturação (FIORESE, 1989). Nas áreas motriz, intelectual e emocional a criança pode iniciar seus primeiros avanços, respeitando as regras, as restrições (aonde vai o seu limite e começa o limite alheio) e na socialização, sempre presente no contexto da iniciação esportiva, ou seja, ajudar a sua integração social através do esporte. HAHN (1988). 2.5.1. A MOTIVAÇÃO Um dos aspectos mais importantes para qualquer indivíduo prosperar em sua 37 área ou atividade é a motivação. Porém deve-se ter cuidados especiais para a motivação com as crianças dentro do esporte e fora dele. A motivação competitiva faz com que a criança supere o mecanismo de autoregulação, através da liberação intensa de adrenalina, o que pode ser exatamente prejudicial (DEACON apud FIORESE, 1989). Deve-se motivar a prática esportiva e a atividade física que melhor agradar a criança. É muito importante trocar informações, sempre que possível, sobre o seu desempenho com os profissionais envolvidos no seu aprendizado para auxiliar no processo. A interferência dos pais, que continuamente tentam orientá-la e motivá-la quando ela está atuando sob orientação do treinador/professor, pode ser prejudicial, pois naturalmente a criança desviará sua atenção para os mesmos, não assimilando as informações do seu treinador/professor, capacitado e responsável pelo processo de ensino e aprendizagem motora da criança. Muitas vezes, na tentativa de motivar, pais e treinadores acabam inibindo a criança no seu desempenho, pois ela não está acostumada a receber orientações e repreensões na frente de outras crianças ou pessoas estranhas, minimizando o seu desenvolvimento pretendido em determinada atividade, motivação merece bom senso por parte daqueles que participam do processo de iniciação esportiva da criança. 2.5.2. A FRUSTAÇÃO No processo competitivo, os erros e as derrotas são importantes na aprendizagem das crianças e são partes do desafio total da disputa. Quando não são muito freqüentes, eles podem melhorar a situação do aprendizado e tornar os sucessos posteriores ainda mais satisfatórios (LAWTER apud FIORESE, 1989). 38 Porém as derrotas e os resultados negativos constantes no processo competitivo precoce levam a criança a desanimar, não só daquilo que mais gostava de fazer, como também, afastar-se de tudo e de todos que a faça relacionar com a frustração que a tomava, mediante os constantes resultados negativos. Ela passa a não se identificar com qualquer atividade que envolva disputa ou resultados, o que, em partes, é prejudicial para o seu convívio e relacionamento social, pois parte de nossas vidas é composta por desempenhos e resultados, desde as notas na escola até a disputa por uma vaga no mercado de trabalho. A frustração de resultados pode, também, levar a criança a um exagero na prática de sua atividade na tentativa de superar os resultados negativos, o que pode causar uma saturação precoce ou ter problemas com a sua saúde devido a este excesso de treinamento. III. Método A análise do presente trabalho foi interpretativa, baseada nos aspectos fisiológicos, psicológicos e socioculturais que envolvem a criança na competição precoce. O autor foi professor do Clube da União Geral Armênia de Beneficência (1994/2002), regendo aulas de tênis. Na Universidade Paulista - UNIP, atuou no Departamento de Esporte como Diretor de Modalidade de 1998 a 2003 e desligou-se do cargo para exercer mandato de Presidente da Associação de Moradores de Bairro. Atualmente o autor trabalha na Prefeitura Municipal de São Paulo, no CEU Alvarenga, equipamento público de inclusão social, localizado na zona sul da cidade, subprefeitura de Cidade Ademar, local que serviu de base para a implementação do Programa Segundo Tempo e também para a observação das situações que envolviam a competição escolar precoce. 39 Atuando como Coordenador do Núcleo de Ação de Esportes e Lazer com uma equipe composta por 16 voluntários, 08 estagiários de educação física, 04 salva–vidas, 02 tratadores de piscinas, 10 técnicos de educação física e 02 coordenadores de projetos foi possível identificar inúmeras situações que contribuíram para a elaboração o presente trabalho. Com o acúmulo desta vasta experiência e com a continuidade de uma linha de trabalho voltada para o desenvolvimento do esporte e do aprendizado, fica clara a necessidade de pesquisar e comparar a teoria com a prática, já que estas devem caminhar juntas. V. Conclusão Após estudar os conceitos dos especialistas envolvidos na presente pesquisa foi possível chegar a diversas considerações sobre o problema abordado e os aspectos que os cercam. 40 O trabalho aeróbico é de suma importância para o desenvolvimento físico da criança desde que trabalhado adequadamente, com moderação e adaptado a cada faixa etária. Pode ser trabalhado através das modalidades esportivas em geral, deixando a criança acusar o seu próprio limite ou de forma lúdica através de jogos e brincadeiras. O trabalho aeróbico auxilia o sistema cardiorespiratório da criança beneficiando sua posterior fase adulta e uma melhor terceira idade. A flexibilidade deve fazer parte do programa de iniciação esportiva da criança desde o seu início a mais tardia idade, pois será possível condicionar articulações, ligamentos e músculos a um melhor funcionamento para o resto da vida. Pode ser trabalhada de forma lúdica colocando desafios nos exercícios, para a criança aumentar a sua flexibilidade gradativamente e de maneira recreativa. A participação dos pais deve ser limitada. Eles devem respeitar o trabalho dos profissionais envolvidos no processo de iniciação esportiva dos seus filhos e auxiliarem somente quando instruídos e solicitados. Os pais também devem acompanhar o comportamento dos filhos fora do horário das atividades esportivas e saber respeitar suas limitações, sem cobrar resultados ou performances, mas devem estar preocupados em fazer prosperar a saúde e a integração social da criança, notificando o profissional de esportes sempre que necessário. Os aspectos psicológicos são extremamente influenciadores no desempenho da criança em sua iniciação esportiva. A competição precoce oferece a frustração dos resultados negativos, que pode levar a criança a se desestimular não só dentro do esporte como fora dele. O excesso de motivação na competição, por sua vez, faz com que a criança supere o mecanismo de auto-regulação através da liberação intensa da adrenalina, o que pode ser extremamente prejudicial dentro dos aspectos de crescimento e do desenvolvimento. Um professor bem formado poderá levar às escolas novos conceitos de relações humanas, resgatar valores por meio de instrumentos que proporcionem a convivência pacífica, princípio importante na busca do equilíbrio pessoal, cognitivo e 41 afetivo, necessário para o aprendizado através da não violência. Com sua atuação profissional, o autor pode perceber as dificuldades de alguns professores no que se refere à qualidade das aulas e relacionamento com as crianças e jovens. Foi possível verificar que, quanto mais as escolas ficavam longe do centro da cidade, maior era essa dificuldade. Esse fato era decorrente das condições socioeconômicas não possibilitarem um trabalho de qualidade, fazendo com que nossa obrigação fosse despertar nos alunos, a disposição para criarem oportunidades, aprenderem a vencer os desafios e responsabilidades que a profissão e a vida lhes oferece e sensibilizá-los para que se encantem ao aprender os movimentos, para que sejam envolvidos a superar os obstáculos (físicos ou psicológicos) e que promovam o respeito às diferenças individuais de cada uma delas, visando a inclusão, num trabalho profissional sério e comprometido com a educação em valores humanos e a cultura da paz. Com a atuação no CEU Alvarenga o autor pode relatar sua experiência no que tange à colaboração do Programa Segundo Tempo, que facilitou a compreensão, pois mostrou que é possível ter uma gestão em conjunto com a comunidade, onde todos buscam um sentido único, uma melhor qualidade de vida e ter acesso aos programas existentes. Tudo isso contribui para o crescimento profissional do autor como professor e como gestor esportivo deste equipamento. VI. Referências BAYER, C. O ensino dos desportos coletivos. Paris: Vigot, 1994. BORDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 1974 42 BOTA, I.; COLIBABA -EVULET, D. Jogos desportivos coletivos: teoria e metodologia. Lisboa: Instituto Piaget, 2001. BRACHT,Valter , Sociologia critica do esporte : uma introdução,Vitória : UFES,1997. BROTTO,Fabio.O. Jogos Cooperativos : se o importante é competir, o fundamental é cooperar. Santos projeto Cooperação, 2000, 4° ed. renovada / 1999. ENGELS,Friedrich .A Ideologia Alemã : I – Feverbach . 9° ed.São Paulo: Hucitec,1993. FILIN, V.P. Desporto juvenil: Teoria e metodologia/ Adaptação científica Antonio Carlos Gomes - 1.ª edição, Londrina: Centro de informações esportivas, 1996. FREIRE, João Batista. A especialização precoce no esporte. De Corpo Inteiro. FREIRE, João Batista. Pedagogia do Futebol. 2. ed. 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