"DESEJO A VOCÊS A GRAÇA E A PAZ ... " (1,4-8)
Terminado o prólogo (1,1-3), breve resumo de toda a obra, inicia a primeira
parte do livro (1,4-3,22). Ela começa com um diálogo entre o leitor e os ouvintes
de uma assembléia litúrgica (1,4-8), continua com a experiência de Jesus
ressuscitado (1,9-20) e termina com as 7 cartas às 7 comunidades (2,1-3,22).
O autor mostra quais são as comunidades que devem resistir e profetizar: são as
"sete igrejas que estão na região da Ásia" (1,4a). São comunidades concretas e
vivas, com seus problemas, conflitos e esperanças. Todavia, no Apocalipse o
número 7 significa totalidade. Com isso ficamos sabendo que a mensagem deste
livro se destina a todas as comunidades de todos os tempos e lugares.
Os versículos 4 – 8 são um diálogo entre o leitor e os ouvintes.
Leitor: Desejo a vocês a graça e a paz da parte daquele-que-é, que-era e quevem; da parte dos sete Espíritos que estão diante do trono de Deus; e da parte
de Jesus Cristo, a Testemunha fiel, o Primeiro a ressuscitar dos mortos, o Chefe
dos reis da terra.
Ouvintes: A Jesus, que nos ama e nos libertou de nossos pecados por
meio do seu sangue, e que tez de nós um reino, sacerdotes para Deus,
seu Pai -, a Jesus, a glória e o poder para sempre. Amém.
Leitor: Ele vem com as nuvens; e o mundo todo o verá, até mesmo aqueles que
o transpassaram. E todos os povos do mundo baterão no peito por causa dele.
Ouvintes: É isso mesmo! Assim seja!
Leitor: Eu sou o Alta e o Ômega, diz o Senhor Deus, Aquele-que-é, que-era e
que-vem, o Deus Todo-poderoso.
A Trindade ama as comunidades
O Apocalipse coloca as comunidades proféticas no coração da Trindade. No início está
Deus, que deseja graça e paz. A graça recorda o amor e o carinho com que Deus tratou
seu povo aliado. É o amor de Deus que envolve num mesmo projeto Criador e criaturas.
O autor do Apocalipse quer sublinhar com força esse detalhe, pois em vez de
simplesmente dizer "Deus", recorda o nome misterioso com que ele se revelou no
tempo do êxodo: Javé. "Aquele-que-é, que-era e que-vem" é uma forma de mostrar
quem é Javé, o Deus da Aliança. Esse é seu nome e sua identidade (cf. Êxodo 3,14).
Ele vive para sempre (que-é), é o mesmo Deus do passado (que-era) e o será no futuro
(que-vem). Ele garante e sustenta seu projeto. Para o povo da Bíblia, paz é plenitude
da vida. O Deus da Aliança vai garantir a plenitude da vida para seu povo e isso se
concretizará na Nova Jerusalém.
Graça e paz vê, em primeiro lugar do Deus da Aliança. Mas vêm também do
Espírito (7 Espíritos). O Espírito Santo está sempre à disposição de Deus (diante
do trono de Deus) para agir positivamente na História. Logo a seguir (1, 10), o
Espírito tomará conta de João, provocando nele a experiência do Ressuscitado.
Aliás, todas as grandes experiências do Apocalipse terão como motor o Espírito
de Deus. A expressão "sete Espíritos" foi tomada de Isaías 11,1-3. Mais adiante
o livro mostrará que Jesus possui a plenitude do Espírito de Deus (cf. 5,6).
Graça e paz vêm também de Jesus Cristo. O autor o deixou para o fim, pois deseja
desenvolver mais a pessoa de Jesus, sua vida e ação nas comunidades. Em primeiro
lugar, ele é chamado de "a Testemunha fiel", ou seja, cumpriu o projeto de Deus até o
fim, enfrentando a morte (martírio) por amor. Em seguida, é chamado de "o Primeiro a
ressuscitar dos mortos". A vitória de Jesus sobre a morte abriu o caminho da vida para
todos os seus irmãos. Jesus é como o irmão mais velho (primogênito). Todos nós, seus
seguidores, já vencemos com ele a morte e a injustiça. Plenamente fiel a Deus, e
plenamente solidário com a humanidade, Jesus é o caminho da vida e da vitória sobre
a morte. Em terceiro lugar, afirma-se que ele é "o Chefe dos reis da terra". Isso não
significa que Jesus seja o líder dos poderosos injustos. Pelo contrário, essa expressão
é uma profissão de fé. É a mesma coisa que afirmar: Jesus é o único Senhor.
As comunidades respondem positivamente, afirmando que Jesus as ama. Esse
tema é muito importante no Apocalipse, pois as comunidades são chamadas a
ser a Esposa do Cordeiro, a Nova Jerusalém, lugar em que a vida floresce. O
amor de Jesus pelas comunidades levou-o a dar a vida. A esse amor sem limites
responde o amor das comunidades: elas são um reino, sacerdotes para Deus.
Jesus fez isso conosco. No Apocalipse não há ministérios ordenados. Todos os
cristãos são sacerdotes, e ser ministério consiste em lutar para que o Reino de
Deus (Nova Jerusalém) se concretize em nossa história e caminhada. É por isso
que somente a Jesus se deve atribuir a glória e o poder para sempre. Os
poderosos daquele tempo (e os de hoje também) buscam glória e poder. O
Apocalipse nos ensina que isso é idolatria. A glória e o poder pertencem
exclusivamente a Deus.
O diálogo evolui, e mostra agora Jesus como juiz de toda a humanidade. A
expressão "ele vem com as nuvens" se inspira em Daniel 7,13. Jesus é essa
personagem misteriosa que provoca o julgamento na humanidade. Mais
adiante o Apocalipse mostrará em que consiste o julgamento. Por ora se diz
que ele acontecerá para todos, inclusive para os que o mataram. E isso
provocará uma grande tomada de consciência.
As comunidades dão seu consentimento: "É isso mesmo! Assim seja!" Os
cristãos-profetas desejam que Jesus se manifeste e julgue a humanidade.
O diálogo termina recordando novamente o Deus da Aliança. Alfa e Ômega são
a primeira e a última letras do alfabeto grego, mostrando que Deus abraça toda
a história e todos os tempos. A expressão "o Deus Todo-poderoso" recorda o
"Javé dos exércitos" do Antigo Testamento, aquele que cria e lidera o projeto
para a implantação da justiça na terra.
Continuando a pensar ...
1. Rezar juntos o diálogo litúrgico de Apocalipse 1,48. A
seguir, conversar: O que chamou nossa atenção? Por
quê?
2. Como sentimos a presença do Deus da Aliança em
nossa caminhada?
3. Qual a missão do Espírito em nossa vida?
4. O que significa sermos "um reino, sacerdotes para Deus"?
5. Jesus vai julgar a humanidade. Isso nos apavora ou nos
tranqüiliza? Por quê?
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