SEMANÁRIO GRANDE PORTO 17 | SETEMBRO | 2010 tempo: Nublado A chuva marca o início do fim-de-semana. Assim, para hoje estão previstos aguaceiros e as temperaturas irão variar entre os 17 e os 23 graus. Amanhã o céu apresentar-se-á com períodos de muito nublado e a temperatura máxima será de 24 graus. No domingo o sol regressa, o céu estará limpo e a máxima será de 24 graus. Impresso em papel que incorpora 30 por cento de fibra reciclada, com tinta ecológica de base vegetal | CRÓNICAS DO EXÍLIO | O centralismo futebolístico MANUEL QUEIROZ | Director do i | [email protected] Às vezes não sei o que é o centralismo, outras vezes é muito fácil. E aparece das formas mais inusitadas e inesperadas. O Benfica é um clube popular, com muitos adeptos em todo o País. É uma evidência. E é por isso que estranho ouvir aquele comunicado lido por Luís Nazaré, que é do PS, presidente da Assembleia Geral, no início desta semana, a propósito da arbitragem de Olegário Benquerença. As culpas são de Laurentino Dias, que é do PS e até é benfiquista e que agora é “persona non grata”, até a Joaquim Oliveira, dono da SportTv, mais os jornalis- tas da casa, e ainda de uma homenagem que a Associação de Futebol do Porto fez a um árbitro muito antes de saber que seria ele a dirigir aquele encontro. Sem esquecer o presidente dos árbitros, Vítor Pereira, e da Liga portuguesa de Futebol Profissional, ameaçada com a saída do clube da competição também conhecida, em certos círculos aqui da capital, como Taça Lucílio Batista. E vão pedir uma audiência ao ministro da Administração Interna por causa da violência a que foram sujeitos no Porto. É justo, mas não é preciso sequer telefonar ao ministro – ele normalmente aparece no camarote presidencial da Luz. Há quem diga que parece ridículo, eu digo que é mesmo. Pedir aos seus adeptos que não vão aos estádios é mesmo a negação do que é um clube – até porque eles têm ido pouco à Luz esta época, e isso é bastante mais grave para o Benfica. Porque se a equipa continuar a jogar como está, não é preciso pedir aos adeptos para não irem – eles não vão mesmo. O Benfica assumiu-se como centro do mundo. Mas o mundo tem muito mais com que se preocupar do que estas manifestações de egocentrismo. NORTEGLOBAL Novo espectáculo com Miguel Pinheiro revisita África “retalhada em bocados” Digressão ∑ Actor portuense está em Cabo Verde em tournée para apresentar o projecto. Londres é o destino seguinte. DR PEDRO JOSÉ BARROS [email protected] “Quem somos apesar da cor da nossa pele? Quem somos apesar da diversidade das nossas culturas? Quem somos apesar destas ridículas linhas rectas que dividem África há mais de um século?”. É sobre estas perguntas que o espectáculo “ultimatum:ultimato-te”, com a participação do actor e performer portuense Miguel Pinheiro, se debruça. A ideia surgiu quando Miguel Pinheiro olhou para o mapa africano “com renovada atenção” e reparou pela primeira vez nas linhas rectas de milhares de quilómetros que delimitam a fronteira entre os vários países. Observou um continente “dividido a régua e esquadro, tomado em bocados pelos países europeus, e que está na origem do nosso bem conhecido ‘mapa corde-rosa’”. Assim ganhou vida um espectáculo de teatro que “re- PERFIL MIGUEL PINHEIRO Nasceu no Porto e mora em Londres. É actor e performer multifacetado. Trabalhou em teatro, mas também em cinema, publicidade e televisão. Está neste momento em Cabo Verde, em tournée com o novo espectáculo. é uma posição generosa nem inteligente”. Na vida de Miguel Pinheiro, “todos os dias são diferentes” flecte sobre a Europa e sobre África, que viaja no tempo até aos finais do século XIX, altura em que a África foi retalhada em bocados”, conta ao GRANDE PORTO. O projecto da plataforma artística 10pt, uma associação criada este ano, será apresentado em Cabo Verde e em Londres. Miguel Pinheiro nasceu “entre as pedras da Cidade Invicta”. Vive em Londres e volta sempre que pode. Nota que há “matérias urgentes a serem resolvidas no Porto, nomeadamente a recuperação e reutilização dos edifícios no centro da cidade”. Defende que a Baixa “necessita de ser de novo habi- tada, para que a cidade cresça com uma nova dinâmica” e, aos poucos, esse trabalho “tem sido feito”. Todavia, “expor a segunda cidade do País a uma diminuída oferta cultural, é uma lacuna bem grave” e “esquecer a educação das pessoas pela arte, ou minimizar o papel da arte no crescimento humano não PROJECTOS Miguel tem alma de marinheiro e partiu. É um “menino do Teatro”, mas gosta de “brincar em todas as artes performativas”, tendo feito trabalhos em teatro, cinema, publicidade e televisão. Sai da zona de conforto muitas vezes e gosta da diversidade. Já foi proxeneta em “XXX Anonymous”, prisioneiro em “Essoutro”, homem do lixo e até um dançarino hippie. “Por isso mesmo é divertido, por isso mesmo todos os dias são diferentes. É esta possibilidade de ser plural, diverso, que me encanta”, confessa. Foi barman em “Jack Says”, filme em que entra o “simpáti- co” ex-futebolista Eric Cantona, com quem teve uma “boa conversa sobre vinhos”. Recorda com satisfação um espectáculo no Porto, pelo TUP, em que trabalhou alguns textos de Mia Couto com Tilike Coelho. Mais recentemente, através do projecto “mim’delo” em Cabo Verde, voltou a trabalhar em português num contexto lusófono. Redescobriu “a alegria de pensar e ser na diversidade da língua portuguesa, e crioula” e o projecto está a ser transformado num documentário. Miguel Pinheiro gosta de yoga, aikido, futebol e aprecia teatro físico, a improvisação e as línguas. Tudo porque um actor “deve querer ser tudo aquilo que pensa, o tal ‘poeta à solta’ de que Agostinho da Silva falou”.