Sistema Nervoso Autónomo: Mecanismo Não Mecânico Fonte Do Equilíbrio
Corporal
Almeida, L., Alves, A., Fernandes, H., Remondes-Costa, S.
Departamento de Educação e Psicologia, Licenciatura em Psicologia, Unidade
Curricular Fundamentos de Psicofísica, Universidade de Trás os Montes e Alto Douro
A correspondência relativa ao presente artigo deve ser enviada para Hugo D. Fernandes,
Estrada da Adega, nº 77, 9350-039, Ribeira Brava, Madeira
E-mail: [email protected]
Resumo
O Sistema Nervoso Autónomo permite controlar a ação do organismo no meio
ambiente interno, regulando a atividade dos órgãos viscerais (glândulas, músculos liso e
cardíacos) e dividindo-se em dois eixos de ativação (simpático e parassimpático). O
presente artigo procura expor conceitos básicos em torno da composição e
funcionamento do sistema nervoso autónomo. Para a elaboração do trabalho foram
revistas obras nas áreas da anatomia humana, psicologia, psicofisiologia e psicofísica,
bem como alguns artigos científicos sobre o tema. Tendo em conta o funcionamento
autónomo, as evidências referem que este é responsável pela interação corpo-mente,
garantindo o funcionamento das necessidades vitais básicas. Com apoio da literatura
consultada podemos concluir que por via da experiência psicológica, as funções
autónomas podem ser alteradas, quebrando a homeostase, que em casos prolongados
podem provocar problemas de saúde associados (eg. stresse), sendo uma área de estudo
crescente para disciplinas como a psicofisiologia e psicofísica, temáticas exploradas no
âmbito da unidade curricular.
Palavras-Chave: Sistema nervoso autónomo, homeostase, psicofísica, psicofisiologia.
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Abstract
The Autonomic Nervous System lets you control the action of the organism in
the indoor environment, regulating the activity of visceral organs (glands, smooth
muscle and cardiac) and dividing in two mains activation (sympathetic and
parasympathetic). This article seeks to explain basic concepts about the composition
and functioning of the autonomic nervous system. For the preparation of this work were
reviewed works in the areas of human anatomy, psychology, psychophysics and
psychophysiology, was also some scientific articles on the subject. Having regard to the
autonomous functioning, evidence state that it is responsible for the body-mind
interaction, ensuring the functioning of the basic necessities of life. With support from
the literature we can conclude that through experience psychological, autonomic
functions can be changed by breaking the homeostasis, which may result in prolonged
cases associated health problems (eg. stress), and a growing area of study for subjects
such as the psycho-physiology and psychophysics, issues explored in the context of the
course.
Keywords: Autonomic nervous system, homeostasis, psychophysics, psychophysiology.
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Nas suas reflexões sobre os fundamentos neuronais da razão, Damásio (2001)
questionou a conceção da visão mecanicista, do filósofo Descartes, de que a razão está
separada das emoções, existindo sistemas neurológicos diferenciados, um para a mente
e outro para a emoção. Apoiando-se nos casos de Phineas Gage e Elliot, Damásio
(2001) mostrou que os processos biológicos da mente e da emoção estão interligados,
sendo como tal improvável que, quer em temos ontogénicos quer filogenéticos, as
estratégias da razão humana tenham evoluído sem a influência dos mecanismos de
regulação biológica, dos quais, segundo o investigador, “a emoção e o sentimento são
expressões notáveis” (p. 14). Além disso, a maturação da própria racionalidade
dependerá, provavelmente, segundo o investigador, de um exercício continuado da
capacidade para sentir e gerir emoções.
Blakemore e Frith (2009) acrescentam que a programação genética não é
suficiente para o desenvolvimento normal do cérebro. É imprescindível a estimulação
ambiental. Segundo as autoras, é um facto científico que as áreas sensoriais do cérebro
só se conseguem desenvolver quando o meio ambiente proporciona variedade de
estímulos sensoriais. É aceitável que tal aconteça em todas as áreas do cérebro, não só
com as sensoriais, mas com todas as funções da mente. Para Blakemore e Frith (2009),
muito antes do nascimaento, o cérebro é moldado por influências ambientais. Assim,
perde aqui também sustentabilidade o dualismo de Platão, em que Descartes se baseou,
de que a mente está separada do corpo (Vasconcelos-Raposo, Gonçalves, & Teixeira,
2005).
Entendemos ser necessária uma abordagem holística do estudo da razão humana,
pois, como defendeu Damásio (2001, 2003), todos os aspetos, emoção, sentimentos e
regulação biológica, desempenham um papel de equilíbrio entre eles. As ideias de
Blakemore e Frith (2009) e Damásio (2001, 2003) reforçam a tese de que a
compreensão do comportamento humano e dos processos psicológicos que lhe são
inerentes é impensável sem o conhecimento de fenómenos biológicos intimamente
relacionados com os processos psicológicos, consequentemente que a biologia pode ter
um papel relevante na determinação do modo como pensamos, agimos e sentimos. E
aqui, a Psicofisiologia poderá ter um papel importante, já que permite estudar os
fundamentos biológicos do comportamento, analisando, segundo Aranguena e Dorado
(2000) as funções que ligam as variáveis independentes psicológicas às variáveis
dependentes fisiológicas.
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Ora, no organismo humano existem mecanismos que dependem da atividade
consciente e voluntária, sendo que outros funcionam de forma autónoma e involuntária.
Tomando como exemplo a sugestão de Seeley, Stephens e Tate (2001) se num lindo dia
de sol realizarmos um piquenique, teremos, de certeza, a oportunidade de apreciar a
paisagem e a comida, sentindo eventualmente que tudo está em equilíbrio e harmonia.
Em termos fisiológicos, o equilíbrio resulta da homeostase, ou seja, da manutenção do
meio ambiente em condições relativamente constantes dentro do corpo (Jacob,
Francone, & Lossow, 1990; Seeley et al., 2001). A estrutura que permite a regulação do
meio interno, como o controlo das glândulas e das atividades involuntárias ou reflexas,
por exemplo a respiração, a frequência cardíaca ou a pressão arterial, é o Sistema
Nervoso Autónomo (SNA), uma subdivisão do conjunto das estruturas neurológicas e
de órgãos que regula todas as atividades do organismo humano, o Sistema Nervoso
(SN). O SNA encontra-se dentro da subestrutura do Sistema Nervoso Periférico (SNP)
em consonância com o Sistema Nervoso Somático (SNS) ou sensório motor ( Feldman,
2001; Guyton & Hall, 2006).
O conhecimento do funcionamento do SNA é pertinente porque permite, entre
outras possibilidades, prever as respostas gerais a uma variedade de estímulos, explicar
as respostas a mudanças nas condições ambientais e compreender sintomas que
resultam de um funcionamento autonómico anormal (Seeley et al., 2001). Por isso
constitui objeto de interesse nas áreas e disciplinas como Psicologia Clínica e da Saúde
a Psicofísica ou a Psicofisiologia, por exemplo. Em modo mais aplicado pode servir de
via para estudos sobre a influência do consumo de estupefacientes, na forma como as
drogas afetam o reconhecimento das emoções básicas em toxicodependentes sob terapia
(Santos & Magalhães, 2010), ou então concluir acerca das consequências negativas para
o sistema imunológico do stresse, das emoções negativas, dos estilos de personalidade
repressivos e do isolamento social (Maia, 2002). Na Psicologia do Desporto poderá
ajudar na investigação dos efeitos das técnicas de relaxamento na redução ou controlo
dos níveis de cortisol em nadadores (Filho, Ribeiro, Miranda, & Teixeira, 2002).
Neste seguimento, os objetivos do presente trabalho, para além do
enquadramento do SNA dentro do SN, são o de apresentar as suas principais
características estruturais e funcionais, respondendo à seguinte questão: será o SNA um
mecanismo não mecânico? Para tal, começaremos por enquadrar temáticas em torno do
SN e SNA nas suas interações com o Sistema Endócrino (SE), o Sistema Límbico (SL)
e ainda a ação destes sistemas ao nível dos órgãos vitais e sistemas do corpo humano,
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vistos de uma perspetiva psicofisiológica, onde um fator como o stresse é um agente
integrativo do fenómeno que visamos, também, descrever.
O Sistema Nervoso
Todas as sensações são controladas pelo SN. Quando um indivíduo, com fome,
se prepara para beber uma sopa, inspira o seu aroma e antecipa o seu sabor. Sentindo o
calor da tijela nas mãos, leva-a à boca sorvendo um pequeno gole. Por estar quente e lhe
queimar os lábios, afasta-a de repente (Jacob, Francone & Lossow, 1990). A
homeostase é mantida pelas suas atividades reguladoras e coordenadoras, concretamente
pelas capacidades de detetar, interpretar e responder a mudanças (Seeley et al., 2001).
Segundo Jacob e colaboradores (1990) o SN é uma rede de células nervosas que, de
uma forma estruturada e hierarquizada, que regula as funções do nosso organismo e as
nossas reações ou respostas aos estímulos do mundo externo.
A unidade básica do SN é o neurónio, uma célula nervosa. Na ordem dos biliões
em cada humano, número inalterável ao longo da sua vida (Blakemore & Frith, 2009).
De um ponto de vista psicofísico e psicofisiológico, os neurónios são responsáveis pela
formação dos impulsos nervosos provocados por estímulos, formando-se a partir de
fenómenos de transdução que transformam a estimulação física em matéria
eletroquímica, sendo que posteriormente esta é integrada e coordenada nestas células
por via de processos sinápticos. Os neurónios organizam-se de modo a formarem redes
complexas que desempenham funções específicas no SN, possibilitando tais processos
(Seeley et al., 2001). De acordo com a função que cumprem, há três tipos de nervos: os
nervos sensoriais (ou aferentes), os nervos motores (ou eferentes) e os nervos de
conexão. Os nervos aferentes transportam mensagens do organismo para estrutura que
regula todas as interações entre o organismo e o meio externo, o Sistema nervoso
Central (SNC), constituído pelo encéfalo e espinal medula.
Os nervos eferentes conduzem a informação no sentido oposto, do SNC para os
músculos, órgãos e glândulas do corpo. Os nervos de conexão estabelecem a mediação
entre a recepção sensorial e a resposta motora, ou seja, transportam mensagens de um
nervo para outro realizando a maior parte do trabalho do SN, sobretudo no
processamento de informação mais complexa (Jacob et al., 1990; Seeley et al., 2001).
O SN ocupa, sem dúvida, um lugar importante no comportamento,
concretamente na relação entre o organismo e o meio. Como se processa então, em
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termos gerais, esta interação e qual o papel do SN? Na relação com o meio, o organismo
recebe informações ou estímulos, processa essa informação e responde aos estímulos.
Para isso está equipado com diversos mecanismos (Seeley et al., 2001). Os mecanismos
de receção são os órgãos recetores ou órgãos dos sentidos e nervos aferentes. Os
primeiros, em contacto direto com o exterior, são órgãos como o tato, a visão e a
audição que recebem e transmitem a informação por via dos nervos aferentes, que por
sua vez a encaminham para o SNC, onde será processada (coordenada, interpretada).
Nesta fase, de descodificação e respetiva tomada de decisão, intervêm os mecanismos
de processamento, o encéfalo e a espinal medula, que como referido anteriormente,
constituem o SNC. Os mecanismos de resposta são os nervos eferentes, os músculos
esqueléticos, que produzem ações sob a forma de movimentos, e as glândulas, que são
ativadas sob a forma de secreções, lançadas para o exterior do organismo no caso das
glândulas exócrinas (lacrimais, sudoríparas) e no interior do organismo, na corrente
sanguínea, no caso das glândulas endócrinas (Guyton & Hall, 2006). Este conjunto de
fenómenos prepara o organismo para a ação, dotando-o de uma complexidade imensa.
Como estrutura, o SN (ver quadro 1) divide-se em SNC e SNP. O SNC, centro
coordenador das conexões nervosas, através do encéfalo e espinal medula, processa a
regulação de todas as estruturas que medeiam a interação entre o organismo e o meio
ambiente (Jacob et al., 1990; Seeley et al., 2001). O encéfalo recebe e processa a
informação integrada (interna e externa) uma vez que dirige a atividade de outros
sistemas.
O cerebelo é responsável pela coordenação da ação motora e manutenção da
harmonia dos movimentos, posição e equilíbrio corporais; o bolbo raquidiano constitui
o centro de atividades reflexas que controla funções ou respostas orgânicas automáticas
como a circulação sanguínea, a respiração e a frequência cardíaca; o mesencéfalo é a
parte do encéfalo que coordena a informação visual e auditiva; o tálamo encaminha
quase todo o tipo de informação sensorial para as zonas específicas do córtex cerebral; o
hipotálamo, importante na experimentação das sensações de prazer, regula as funções
homeostáticas do comportamento sexual, das emoções, interagindo com o SNA e o SE;
o SL está ligado ao controlo e direção das reações emocionais, sob a ação da amígdala,
no processamento de odores e no armazenamento de conteúdos mnésicos, aqui através
do hipocampo. O cérebro é constituído pelo córtex cerebral, que é responsável pela
perceção consciente, pensamento e atividade motora consciente, comunicando com o
resto do organismo através do SN e do SE, um conjunto de glândulas que lançam na
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corrente sanguínea mensagens químicas por meio das hormonas que produz; A espinal
medula constitui o elo de ligação entre o encéfalo e o resto do organismo e controla
comportamentos reflexos (Jacob et al., 1990; Seeley et al., 2001).
Embora o SNC receba informação sensorial, avalie essa informação e inicie
ações sem o contributo do SNP, sozinho ele permaneceria isolado do resto do corpo e
do mundo em redor. O SNP, divisão constituída por todas as células nervosas exteriores
ao SNC, estabelece a ligação do encéfalo e da espinal medula com outras estruturas do
organismo, como os músculos, órgãos sensoriais, glândulas, entre outras (Jacob et al.,
1990; Seeley et al., 2001). Divide-se no SNS e SNA (ver quadro 1).
O SNS é constituído por nervos aferentes, que, como referido anteriormente,
suportados pela literatura (Feldman, 2001; Guyton & Hall, 2006; Seleey et al. 2001),
transportam para o SNC mensagens eletroquímicas dos órgãos sensoriais que analisadas
por este segundo sistema vão potenciar a ação do individuo, fruto da experiência
anterior que o individuo possui. O SNA, a analisar com maior profundidade no capítulo
que se segue, é responsável pelo controlo do funcionamento dos órgãos internos do
corpo tais como o coração, os intestinos e várias glândulas (pâncreas, glândulas
salivares, supra-renais, entre outras), tendo a função de garantir estados de homeostase
na resolução de necessidades, quer sejam elas básicas como o simples e mais vulgar ato
de respirar bem como fazer bater o coração mais rápido para que o organismo suporte a
necessidade de correr para fugir a um leão, por exemplo.
Quadro 1
Estruturação do Sistema Nervoso.
Sistema Nervoso
Sistema Nervoso Central
Encéfalo
Espinal Medula
Sistema Nervoso Periférico
Sistema Nervoso Somático
Sistema Nervoso Autónomo
Simpático
Sistema Nervoso Autónomo
Sistema Nervoso
Autónomo Parassimpático
Adaptado de Feldman (2001) e Nishida (2007)
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O Sistema Nervoso Autónomo
O SNA é responsável pelo controlo das glândulas e d as atividades involuntárias
no indivíduo como, por exemplo, o ritmo cardíaco, a respiração, a digestão e a atividade
dos músculos lisos. Isto permite ao indivíduo não ter de se preocupar com estas
atividades que assumem um papel determinante para a sobrevivência (Feldman, 2001).
Por exemplo, ninguém se preocupa em aumentar o batimento cardíaco, durante uma
corrida, pois automaticamente, o batimento cardíaco aumenta. Por este motivo, o SNA é
um sistema que funciona de modo autónomo e inconsciente (Damásio, 2001). Ao longo
da coluna vertebral há duas cadeias de gânglios nervosos, de onde partem os nervos, que
estabelecem a ligação com o SNC (Guyton & Hall, 2006).
Recorrendo outra vez ao exemplo do exercício físico, quando realizamos este
tipo de atividade, o SNA assegura o aumento do ritmo cardíaco, para que uma maior
quantidade de sangue aflua aos músculos, assegurando assim, um maior fornecimento
de oxigénio, o que faz com que se produza mais energia. Sendo organizados por vários
núcleos, com origem no sistema nervoso central, o SNA controla, através de uma série
de nervos que se alongam pelo encéfalo e espinhal medula, o funcionamento de vários
órgãos e tecidos do corpo.
Todas as funções do SNA objetivam a manutenção do organismo em
homeostasia. Como referenciou Damásio (2001) a homeostasia corresponde à constante
disposição natural em garantir um meio interno em circunstâncias de estabilidade, de
dinâmica, através do controlo de parâmetros biológicos. O SNA exerce um papel
importante nas situações de emergência, prepara o individuo para agir, ao nível da
divisão simpática e a da divisão parassimpática que são estimuladas. No contexto da
psicofisiologia, interessa perceber as alterações fisiológicas que derivam da experiência
psicológica, fruto da ativação de uma das divisões do SNA, a divisão simpática ou
parassimpática. Assim, a partir das experiências psicológicas pode-se notar um efeito ao
nível deste sistema na perspetiva de ajudar o organismo a se adaptar a determinado
estímulo (Damásio 2001).
Sistema Nervoso Autónomo Simpático
O SNA é constituído por duas divisões, que apresentam funções distintas
mediante a situação a que estamos expostos. Uma dessas divisões é o sistema nervoso
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autónomo simpático (SNAS), que age com o objetivo de preparar o corpo para situações
de emergência (Feldman, 2011). A segunda divisão, sistema nervoso autónomo
parassimpático (SNAP), pode ser considerada o inverso da divisão anterior (SNAS),
pois tem como função acalmar e restabelecer o corpo após uma situação de emergência
(Nishida, 2007).
Começando pelo SNAS, este desempenha um papel, muito importante, nas
situações de emergência. Imaginemos que um de nós está sozinho em casa, confortado
no seu sofá a ver televisão. De repente, alguma coisa cai na cozinha, provocando um
barulho forte. Perante este estímulo, assustamo-nos, pensando que está alguém a
assaltar-nos a casa. Perante isto, ocorrerá um conjunto de alterações fisiológicas no
indivíduo (eg. aumento da frequência cardíaca, sudação, tremores). Todas estas
alterações, que se registaram, devido à situação de emergência, são o resultado da
ativação do SNAS (Feldman, 2001; Guyton & Hall, 2007; Seleey, et al., 2001).
Mas afinal o que é o SNAS, e qual a sua função? Através do exemplo
apresentado a cima, e numa definição simplificada, o SNAS pode ser definido como
uma divisão que age para preparar o corpo para responder face a uma estimulação
eficaz, empregando todos os recursos do organismo para reagir a uma potencial afeção.
A resposta dada, muitas das vezes, é sobre a forma de «lutar ou fugir» (Feldman, 2001).
Desta forma, conseguimos perceber que o SNAS prepara o organismo para reagir face a
uma situação de ameaça (Feldman, 2001). O SNAS tem a função de controlar, de forma
automática, os vários órgãos internos, sendo a divisão mais ativa, nas situações em que
são necessárias mais energias, daí as suas ações serem maioritariamente adrenérgicas
(Guyton & Hall, 2006).
A divisão simpática é formada, anatomicamente, por uma rede de nervos. Nesta,
existem os neurónios pré-ganglionares e pós-ganglionares. O corpo celular de cada um
dos neurónios fica situado no corno intermediolateral da espinal medula. Após o nervo
espinal abandonar o canal dessa região, os feixes simpáticos pré-ganglionares deixam o
nervo e passam a partir de um ramo de comunicação branco, sendo que o seguimento
destas fibras podem ser, 1) a sinapse com neurónios simpáticos pós-ganglionares; 2)
dirigir-se para o eixo superior ou inferior e fazer sinapse com outro gânglio da cadeia
nervosa; 3) dirigir-se para fora da cadeia e fazer sinapse com um gânglio periférico.
Mais simples de descrever, o neurónio pós-ganglionar é aquele que recebe a informação
pré-ganglionar e se dirige para os respetivos órgãos (Guyton & Hall, 2006). A esta
divisão do SNA está associado o conceito de Arousal/ ativação, que como defendem
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Simón e Amenedo (2001) alia o sistema somático e autónomo, particularmente a zona
simpática. O conceito de Arousal traduz-se pela ativação do organismo, sendo também
designado como síndrome geral de adaptação, que ocorre quando o indivíduo tem de
responder a um determinado estimulo a que se expõe. Assim, numa alusão
psicofisiológica, o fenómeno de Arousal caracteriza-se por um estado fisiológico e
psicológico associado à híper-vigilância face a estimulações com limiares absolutos
significativos. Envolve a ativação da zona reticular do tronco cerebrao, SNA e SE,
levando ao consequente aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e uma
condição de alerta sensorial, mobilidade e prontidão para responder ao meio (Guyton &
Hall, 2006; Seeley et. al., 2001).
Sistema Nervoso Autónomo Parassimpático
Segundo Guyton e Hall (2001) o SNAP situa-se no tronco cerebral,
prolongando-se até à parte inferior da espinal medula, sendo responsável pelas ações de
equilíbrio fisiológico, após uma dada situação a que o indivíduo seja exposto. Por
exemplo, ao ver um carro vir na sua direção, o sujeito, pela ação da zona simpática do
sistema nervoso, vai sofrer uma aceleração nos batimentos cardíacos. Ao fugir e ficando
em segurança, entra em ação a divisão parassimpática. Esta, vai restituir os batimentos
cardíacos, a sudação, entre outros possíveis fenómenos corporais, desencadeados
inicialmente pela outra divisão autónoma, nesta situação.
A área parassimpática, no tronco cerebral, parte dos pares de nervos cranianos
III, VII, IX e X. O terceiro par, denomina-se: motor ocular comum, sendo responsável
pela coordenação do músculo ciliar, do esfíncter da pupila e de quase todos os músculos
extrínsecos do bulbo do olho, à exceção do músculo oblíquo superior do bulbo ocular e
do músculo reto lateral, que estão a cargo do par IV e VI, respetivamente. O sétimo, o
facial, controla os músculos faciais, permitindo também, a perceção gustativa no terço
anterior da língua. O nono par, responsável pela perceção gustativa no terço posterior da
língua, bem como, pelas perceções sensoriais da laringe, palato e faringe, chama-se:
glossofaríngeo. Por fim, o décimo par, o nervo vago, integra as sensações da orelha,
faringe, laringe, tórax (vísceras torácicas) e estômago, rins, uretra (vísceras
abdominais). É neste último nervo que se encontram cerca de 75% das fibras
parassimpáticas. Na parte inferior da espinal medula, as fibras derivam do segundo e
terceiro nervo sacral e em alguns pontos do primeiro e do quarto nervo. Nesta zona, o
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SNAP, encontra-se nos nervos pélvicos. Este conjunto, emite sinais nervosos à zona
genital externa, para originar a ereção, bem como, se encontra com o cólon, a bexiga, o
reto e a uretra (Guyton & Hall, 2007; Seleey et al., 2001).
Assim, podemos concluir que, o núcleo parassimpático é o responsável pela
economia e conservação de energia do organismo. No fundo, esta divisão do SNA,
trabalha em cooperação com o SNAS, no sentido de repor o equilíbrio do organismo,
perante a alteração provocada por um conjunto de estímulos. Assim sendo, e segundo
Guyton e Hall (2006), este sistema está associado a situações de concentração,
relaxamento e retenção de energia do sistema orgânico.
A Fisiologia Simpática e Parassimpática
Segundo Guyton e Hall (2001) a divisão simpática e parassimpática funcionam
num sentido cooperativo. Conforme demonstrado anteriormente, a divisão simpática, é
responsável por estimular os órgãos vitais do corpo, como o encher dos pulmões, o
aumento da sudação, a diminuição do processo digestivo ou a diminuição das enzimas
salivares, por exemplo. Nisto a ação parassimpática, funciona de uma forma antagónica,
por via a fazer com que os órgãos alterados voltem à sua posição inicial repondo assim
o equilíbrio do organismo (Feldman, 2001). De seguida, passamos a explicar como se
desenvolve este processo.
Na região medular, a glândula suprarrenal, constituinte do sistema endócrino,
vai possibilitar, a partir das informações dos neurónios pré-ganglionares, na região
cerebral do sistema nervoso autónomo, a libertação da adrenalina e noradrenalina. A
adrenalina ou epinefrina é uma hormona, que potência o aumento do funcionamento
cardíaco e consequentemente do circulatório, bem como posteriormente, de outros
sistemas. A função desta hormona é preparar o corpo para uma situação de alarme. A
noradrenalina ou norepinefrina, vai ter a função antagónica e restabelecer os níveis
alterados pela primeira hormona. Assim, por via do sistema endócrino em coordenação
com a informação derivada do SNA, a adrenalina e a noradrenalina ao fazerem as
sinapses entre os neurónios pré e pós-ganglionares, vão regular o funcionamento do
corpo. Por conseguinte, ao chegar a informação enviada pela região simpática, a
libertação de adrenalina vai prevalecer sobre a de noradrenalina, potenciando as funções
do SNAS. Se a informação for dada pela região parassimpática, a sinapse da dopamina
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que originará esta hormona colinérgica terá a função de inibir o funcionamento
estimulado anteriormente, pela adrenalina, por via do SNAS (Guyton & Hall (2006).
A adrenalina ou epinefrina é considerada a hormona das ações da zona
simpática, daí ser considerada adrenérgica. Enquanto a noradrenalina ou norepinefrina é
a responsável pela ação transmissora do núcleo parassimpático (Feldman, 2001). Logo,
pegando no exemplo do indivíduo que viu o carro vir na sua direção, as alterações
fisiológicas verificadas resultam da libertação de tais hormonas. Nesse momento, a
excitação destes órgãos deriva da libertação da adrenalina que após a sinapse entre as
redes de neurónios pré e pós-ganglionar vai alterar o funcionamento dos órgãos em
questão excitando-os, de acordo com a informação simpática do SN (Feldman, 2001;
Guyton & Hall, 2006; Seeley et al., 2001).
Após a questão ser resolvida, e o sujeito ter conseguido escapar ileso ao
acidente, por via da noradrenalina dar-se-á inicio ao processo de regressão ao estado
inicial de todas as alterações desencadeadas pelo SNAS. Assim, as descargas
eletroquímicas de noradrenalina farão com que os sistemas voltem a um estado de
equilíbrio no seu funcionamento habitual (homeostático). Prosseguindo o exemplo, irá
reduzir a frequência cardíaca elevada, restabelecer a expressão facial e baixar a
circulação sanguínea, no indivíduo (Feldman, 2001; Jacob et al., 1990; Seeley et al.,
2001).
Os Sistemas Cooperantes na Atividade Autonómica
O SNA, como se pôde perceber por Serra (2007), não funciona sozinho nas suas
ligações aos órgãos. Ele é uma fonte onde correm grandes quantidades de matéria
química, que ao fazerem as sinapses entre gânglios e redes nervosas vão desencadear
todo um processo de alterações fisiológicas. Como referem Guyton e Hall (2006) e
Feldman (2001), o SL e o SE desempenham um papel cooperativo importante, com esta
divisão do SN, para o funcionamento do organismo.
O primeiro vai proceder à descodificação de estímulos através de interações
neuronais envolvendo várias dimensões psíquicas (eg. memórias de longo prazo, curto
prazo, sistemas emocionais). O segundo recebe a informação proveniente desses
estímulos, e em função da experiência psicológica despoletada e identificada pelo SL,
procede à libertação de neurotransmissores (eg. dopamina, seretonina) depositando-os
em prevalência numa das zonas autónomas, para gerar no mesmo sistema, hormonas
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resultantes da ação de cada uma das zonas autónomas. Vamos assim, apoiados em
autores como Feldman (2001) e Guyton e Hall (2006), aprofundar estes conceitos e
processos.
Sistema Límbico: O Lado da Emoção.
O SL é todo o circuito neuronal que controla as motivações bem como o
comportamento emocional. Para além de interferir o comportamento a nível somático, o
sistema límbico é responsável por controlar as funções vegetativas. Aqui, os mesmos
autores, vincaram a importância das funções vegetativas, na limitação das funções
somáticas, bem como, das interpretações e consequente reação às situações externas
(Guyton & Hall, 2006; Seeley et al., 2001)
Embora represente cerca de 1% da massa constituinte do SL, o hipotálamo
assume sentidos bidirecionais na comunicação com este sistema. Este deriva para três
direções na comunicação. Até chegar ao SNA a ligação é estabelecida de uma forma
descendente até ao tronco cerebral, zona dos nervos periféricos do sistema vegetativo.
Segundo os autores, o hipotálamo é o controlador da maioria das funções vegetativas e
endócrinas do organismo (Jacob et al., 1990; Guyton & Hall, 2006).
A amígdala, outra constituinte do sistema límbico, tem por função fazer o
indivíduo lutar ou fugir perante uma situação, sendo esta a área responsável pelos
impulsos ou instintos e pela gestão das emoções, onde se associa ao hipocampo, que
está mais ligado à memória. Na interação com a amígdala, o hipotálamo vai ter a função
de interpretar estes estímulos e regular a Ação da hipófise, para estimular a produção da
dopamina.
A partir do SL (hipocampo, tálamo, amígdala, hipotálamo) a informação
exterior é descodificada, com vista à ativação das divisões do SNA. No eixo pituitárioadrenal (sistema endócrino) são gerados neurotransmissores. Estes a partir das sinapses
e trocas eletroquímicas libertam a adrenalina/ epinefrina por ação do SNAS, ou a
noradrenalina/ norepinefrina se a ação for produzida por ativação parassimpática. Com
isto, a ação fisiológica do SNA seria inviável se os mecanismos Límbicos não
permitissem ao indivíduo interpretar a informação do mundo exterior e o hipotálamo
não desse então, a informação à hipófise para a produção das hormonas que potenciam
os mecanismos de luta ou fuga na ação do indivíduo, por via de tais processos
psicofisiológicos (Damásio, 2001; Guyton & Hall, 2007; Seleey et al., 2001).
14
Sistema Endócrino: A Fonte da Matéria Química
Com já se pôde constatar anteriormente, o SE opera em cooperação com o SN.
Então qual o seu papel de cooperação com o sistema neurovegetativo? Para Feldman
(2001), o SE é uma rede orgânica, responsável pela produção e comunicação química,
por via do sistema circulatório. Não sendo uma estrutura exclusivamente cerebral, está
muito relacionada com o hipotálamo.
Guyton e Hall (2006) acrescentaram que, no hipotálamo estão células
neuroendócrinas que possuem axónios e que se ligam à hipófise (glândula pituitária). A
partir desta, e em resposta aos estímulos neuronais, é então processada a informação que
será induzida nas duas zonas simpáticas, para adequar o organismo aos estímulos.
Assim, partem da hipófise, segundo a solicitação do SN, a partir do hipotálamo, as
informações sensoriais, relativas ao SNA que por via da região simpática e
parassimpática vão criar o processo homeostático. Essas informações são traduzidas
pela hormona libertada pela hipófise, a dopamina (Feldman, 2001; Guyton & Hall,
2006; Seeley et al., 2001).
Esta ao fazer sinapse com a região adrenal da medula, com a glândula
suprarrenal, vai gerar a epinefrina ou norepinefrina. Assim, com a liberação das duas
hormonas endócrinas, no sistema circulatório, fazendo cada uma a sua função, o
organismo vai reagir correspondendo com a experiência psicológica do indivíduo, num
dado momento (Feldman, 2001; Jacob, et al., 1990; Seeley et al., 2001).
Então, vamos ver o exemplo que tem vindo a ser mencionado. Quando o
indivíduo vê o carro, o SNS para transmitir os estímulos (acelerar o batimento cardíaco,
entre outras reações), fá-lo-á com o auxílio do sistema endócrino. A adrenalina e a
noradrenalina são então liberadas a partir da glândula suprarrenal, que se instala por
cima do rim, através da corrente sanguínea.
Fortes descargas epinefrina, vão estimular o funcionamento dos órgãos
envolvidos, por ação da zona simpática. Se a situação for resolvida, aí haverá maior
prevalência de descargas eletroquímicas nas vias parassimpáticas e a consequente
produção das hormonas noradrenérgicas, possibilitando reequilibrar o sistema orgânico
e repor o nível dos batimentos cardíacos, da pulsação sanguínea, bem como, noutras
alterações produzidas (Guyton & Hall, 2006). Para Feldman (2001), este processo é
preponderante para a homeostase, ou seja, para o equilíbrio do funcionamento orgânico.
15
Os Sistemas Controlados Pela Ação Autónoma: Estudo Psicofisiológico
Como anteriormente mencionado nos exemplos dados ao longo do trabalho, o
SNA desempenha uma função de extrema importância nos processos psicofisiológicos.
O sistema vegetativo serve de interface entre os vários sistemas da interpretação
psicológica, para que estes se adaptem à situação a que o organismo fica sujeito, num
dado momento. Assim, o que é recebido pelos órgãos sensoriais do corpo humano, a
partir do exterior, é antes interpretado, numa complexa atuação de sinapses cerebrais.
Com isto, como defendeu Feldman (2001), as experiências psicológicas variam
entre a sensação e a perceção. Sendo que ninguém sente e perceciona, determinado
fenómeno, da mesma maneira, as alterações que o eixo hipotálamo-hipófise vai
desencadear, pela via simpática ou parassimpática vai, como já vimos, variar consoante
a experiência psicológica do indivíduo e influenciar, como mostrou Serra (2007), a ação
dos múltiplos sistemas internos.
Pegando no conceito de variação aproveitamos para expor a definição de
Simpatotonia e Vagotonia. Destes termos, surge a definição, como prova Guyton e Hall
(2006), de reatividade Simpática e Parassimpática. Estes dois tipos de reatividade,
enquadrados no conceito do balanço autonómico proporcionam uma maior estimulação
ou relaxamento sistemático do organismo interno. Deste fenómeno podem resultar
inúmeras doenças como a depressão, por exemplo. A alexitimia, uma perturbação que é
atribuída às pessoas que têm dificuldades em distinguir emoções vai interferir no
processo de reatividade, bem como, outro problema contemporâneo, o stresse (Guyton
& Hall, 2006; Selye, 1959; Serra, 2007).
Com estas noções vamos então, detalhadamente, explicar o efeito do sistema
vegetativo nos órgãos, fruto das interpretações dadas pelo encéfalo, bem como ficar a
perceber um pouco sobre os métodos que a avaliam a atividade do SNA. Como delineou
Simón e Amenedo (2001), esta dá-se a partir da transdução da matéria orgânica em
ondas elétricas, que permitem a avaliação das influências psicológicas nas alterações
fisiológicas. Assim, a partir de diferentes estímulos e diferentes maneiras de resposta, o
organismo vai-se adaptar de maneira adequada à situação.
16
Sistema Cardiovascular
Segundo Guyton e Hall (2006), inúmeras sinapses ocorridas entre os gânglios
nervosos, simpáticos e parassimpáticos, fazem o controlo do ritmo cardíaco que vai
consequentemente determinar a pressão arterial, bem como, o fluxo sanguíneo.
Atividade Cardíaca
Para Damásio, (2003), a ação da zona Simpática, perante a experiência
psicológica, vai proporcionar o aumento da atividade fisiológica, o funcionamento
cardíaco não é execução. Baseado nos escritos de Sellye (1959), elevadas experiências
que desencadeiam este processo podem ser prejudiciais e originarem, por exemplo, a
taquicardia.
Para Guyton e Hall (2006), a ação parassimpática vai, perante a situação,
diminuir a frequência do ritmo. Daqui advém, a possibilidade do surgimento da
bradicardia, quando o sujeito fica, durante muito tempo, exposto a uma situação, onde a
ação parassimpática esteja constantemente acionada e a noradrenalina seja
permanentemente administrada no organismo. A atividade do SNA, no ritmo cardíaco é
medida, como nos mostra Simón e Amenedo (2001), a partir do eletrocardiograma. Este
consiste na avaliação a partir da transdução dos batimentos cardíacos, por via de
sensores colocados na zona do tórax.
Pressão Arterial
A pressão arterial aumenta, fruto da ativação simpática. Consequentemente pela
ação parassimpática, ocorrerá a diminuição da pressão arterial. (Guyton & Hall, 2006).
Como comprovou Simón e Semedo (2001), este tipo de atividade é medida a partir do
estetoscópio. Consiste assim, na medição da força com que sangue circula nas artérias,
que permitirá avaliar então os índices de atividade do SNA, nos processos
psicofisiológicos.
17
Fluxo Sanguíneo
Aqui a prevalência da ação da zona simpática vai proporcionar a
vasoconstrição e a zona parassimpática a vasodilatação. A primeira constitui a
diminuição do fluxo e a segunda o seu aumento. Como concluíram Guyton e Hall
(2006), isto dá-se pela prevalência da ação da adrenalina no primeiro momento e da
noradrenalina na segunda situação. Como mostraram Simón e Amenedo (2001, para
avaliar a vasodilatação ou a vasoconstrição é utilizada a pletismografia, que permite
registo do volume do vaso sanguíneo. Outro método é a fotoplestimografia que mede,
por via mede da luz, o consequente fluxo sanguíneo.
Sistema Respiratório
Como evidenciaram Guyton e Hall (2006), este sistema é controlado pelo
sistema somático, que controla a atividade da musculatura estriada e, claro está, pelo
sistema autónomo, nos movimentos dos músculos lisos. Perante situações que causem
desconforto, o número inspirações e expirações aumenta. Aqui exerce maior domínio o
SNS. Em situações de menor ansiedade, medo, entre outras emoções, a respiração
normaliza por ação então do SNP. A dilatação dos brônquios dá-se a partir da ação
simpática. Neste sistema o termístor e a espirometria são os mecanismos onde, segundo
os autores Simón e Amenedo (2001), fazem a transdução da matéria biológica
(orgânica), em sinais de ondas elétricas, para a avaliação da atividade do SNA.
Sistema Gastrointestinal
A atividade gastrointestinal estabelece uma relação entre o funcionamento deste
sistema e as variáveis psicológicas, pois em situações de sobressalto ou desgosto
alteram a digestão e o funcionamento intestinal (obstipação ou diarreia). A perda do
apetite está também associada às funções autónomas. Esta relação, que tem sido pouco
estudada pela psicofisiologia, por ser difícil de avaliar, segundo Simón e Amenedo
(2007) utiliza-se como instrumento para a medição a electrogastrografia.
18
Sistema Cutâneo
Segundo Guyton e Hall (2006) a pele tem duas funções. Uma de proteção
física, impedindo a entrada de agentes nocivos do exterior. Também tem a função de
termorregulação,
possibilitando
a
estabilidade
da
temperatura
corporal,
independentemente da temperatura ambiental. A atividade da pele é o sinal autonómico
muito estudado em psicofisiologia. As alterações nos sinais elétricos produzidos pela
pele denominam-se respostas psicogalvânicas ou atividade electrodérmica. Aqui, pela
ação simpática dos processos psicológicos ocorrerá a sudação. Já a zona parassimpática
vai diminuir a sudação. As respostas electrodérmicas podem ser desencadeadas a nível
exossomático e endossomático. O primeiro desencadeia-se pela apresentação de
estímulos visuais, auditivos, gustativos, olfativos aos sujeitos. A avaliação
electrofisiológica da atividade da pele centra-se essencialmente nas alterações
eletrodérmicas associadas à sudação.
Sistema Sexual.
Guyton e Hall (2006), na sua obra, mostraram que as alterações fisiológicas do
foro sexual estão associadas aos fatores neuronais. A ação do SNA vai, como nos outros
sistemas, desencadear alterações por via da zona simpática e parassimpática.
Sistema sexual masculino
Para Guyton e Hall (2006) a ação simpática é a responsável pela produção das
hormonas da testosterona. O impulso nervoso pela ação simpática, origina por sua vez a
ereção, ou seja, a estimulação do pénis, a partir da vasodilatação. O sistema
parassimpático vai então restabelecer a alteração após, ou antes da ejaculação. Por
vezes, doenças como a ejaculação precoce e a disfunção eréctil são provocadas por
fatores psicológicos, associados à ansiedade, ao medo ou à depressão, por exemplo.
Este grau de incidência nos homens pode ser avaliado a partir da pletismografia, como
referenciaram Simón e Amenedo (2001). Esta consiste na medição do aumento e
irrigação do pénis.
19
Sistema sexual feminino
Já no que à resposta sexual feminina diz respeito, Guyton e Hall (2006),
explicam veemente, a produção das hormonas de estrogénio a partir da ativação
simpática. A estimulação é também consequente da ação desta zona autónoma. As
respostas fisiológicas ao estímulo sexual dão-se com o irrigamento dos lábios vaginais,
a dilatação do clitóris e a lubrificação vaginal. Consequentemente a divisão
parassimpática faz o restabelecimento da atividade. Simón e Amenedo (2001)
mostraram que a fotoplestimografia faz a medição da atividade autónoma ao nível do
sistema sexual da mulher. As patologias associadas à mulher são, por exemplo, como
referenciam os autores, o vaginismo ou a dispareunia. Estas e outras doenças podem
advir de fatores psicológicos como o medo que por exemplo pode levar a um fenómeno
que o Húngaro, Hans Selye estudou, enquanto endocrimonologista, e que afeta também
todos os outros sistemas, o Stress.
Stress: A Dinâmica ou a exaustão
Num estudo realizado, Loures, Sant'Anna, Baldotto, Sousa, e Nóbrega (2002),
consideraram o fator stresse, por via das libertações do cortisol, um agente que
influência a ativação autónoma. Os mesmos autores, exploraram a ideia da importância
do eixo hipotálamo, hipófise e suprarrenal na interação com o sistema nervoso
autónomo, provando com o estudo, que estes sistemas contribuem para a homeostase,
quer em estado de descanso, bem como, em situações de stresse.
Daí, o stresse constituiu para Selye (1959) e como fez notar Serra (2007) poder
vir a influenciar negativamente o funcionamento somático, a partir da alteração do
funcionamento vegetativo, interferindo diretamente com processos do batimento
cardíaco, da respiração, entre outras alterações fisiológicas. Prova disso foi a abordagem
feita nos estudos Loures, et al., (2002) à influência das grandes descargas de cortisol e a
consequente alteração dos sistemas controlados pela ação autónoma.
Na explicação do Síndrome Geral de Adaptação, Selye (1959), destaca três
fases do aparecimento e gestão do stresse. O mesmo autor denomina-as de: reação de
alarme, estado de resistência e fase de exaustão. Em termos práticos e associando ao
SNA, na primeira fase, este vai ter a função de proporcionar ao corpo a capacidade de se
adaptar e “lutar ou fugir” à situação. Assim, a reação de alarme é dada na presença de
20
um agente stressor. Este vai então desencadear todos os processos psíquicos já
anteriormente abordados. Assim pela via simpática e parassimpática, é libertada a
adrenalina e noradrenalina, que possibilitará adaptar então, o corpo à situação. Na
segunda fase, a presença de cortisol no sangue acentua-se. Isso vai fazer com que o
corpo se adapte e comece a lidar com a situação a que ficou exposto e superando-a
assim. Aqui como explica Selye (1959) passa a existir um aumento da resposta e do
tónus muscular. A última fase ocorre quando o ser humano não se consegue adaptar e
resolver as fatores predisponentes de stress. Nesta (fase de exaustão) no ser humano
haverá uma reativação do sistema autónomo simpático devido à manutenção de
elevadas libertações de cortisol. Aqui a ação, mais ao nível do sistema simpático, vai
resultar em implicações muito negativas para o organismo.
Selye (1959) enfatizou também a existência de três termos importantes: o
distress, eustress e o coping. O primeiro termo é o tipo de stress que nos é prejudicial,
relaciona-se com a fase de exaustão. Porém, o stresse é importante para a vida. É ele
que nos possibilita correr atrás desta e lutar perante a adversidade. Nisto, a ação do
stress potencia a atuação do sistema nervoso autónomo que tem o papel de adaptar o
corpo à situação para que este tenha condições para ultrapassar as adversidades.
Contudo, pode ser um agente prejudicial, caso os níveis e a predominância deste agente,
se prolonguem no tempo e não exista um restabelecimento da fisiologia normal do
corpo, se não se originar então o coping. Estratégia de combater o stresse (Selye, H.
1959).
Conclusão
O SN é um todo unitário que integra, de uma forma dinâmica, interdependente e
interativa, as atividades dos seus diversos componentes e se constitui como o principal
responsável pela regulação das funções do nosso organismo e suas respostas e reações
aos estímulos ou situações proporcionados ou desencadeados pelo meio exterior.
Nesta envolvência sistémica enquadra-se o SNA, uma estrutura complexa à qual
cabe o controlo o meio interno do organismo, concretamente as suas atividades
automáticas, involuntárias ou reflexas, todas elas sustentadoras da vida, como por
exemplo o funcionamento do coração, a respiração, a digestão, entre outras. É, como tal,
um mecanismo que permite que, enquanto um indivíduo lê um livro e a sua a pupila
abre e fecha, o seu coração trabalhe, os pulmões encham e vazem, e, consequentemente,
21
o oxigénio seja absorvido pelo sangue, tudo isto de forma inconscientemente e
simultânea. Por outro lado, graças à sua ligação e interação com outros sistemas do
organismo, como o SNC, o SL e o SE, o SNA desempenha uma função primordial na
manutenção da homeostasia, por exemplo, face a situações de stress e alarme ocupando,
como tal, através de padrões normais do balanço autonómico, um papel fundamental no
equilíbrio do meio interno do corpo.
Remetendo para uma explicação literária, com certeza que Luís de Camões
(1572), nas emoções que teve, ao escrever transcendentes feitos dos navegadores e do
povo português da época, em Lusíadas, sentiu uma atividade imensa no seu coração,
fruto da adrenalina que lhe corria nas veias, pelos tais feitos que lhe possibilitaram
escrever a obra. Por seu lado, Fernando Pessoa, ao escrever Mensagem em 1934 sentiu,
possivelmente, uma esperança na mudança de rumo do país descrente da época, a
correr-lhe nas veias e, ao mesmo tempo, uma melancolia refletida nas expressões faciais
ou em suspiros também eles melancólicos, fruto da ação simpática e parassimpática, no
decorrer da elaboração dos seus poemas.
Perante isto, no poema “Mostrengo”, Pessoa (1934), deu-nos um bom exemplo,
literário, de um momento em que a psicofisiologia é posta à prova, com a ação de um
estímulo, o mostrengo, podendo até associar este ao stresse, como sendo, agente
stressor. Aí então a resposta do navegador, que fruto do funcionamento dos mecanismos
autónomos, perante a experiência psicológica, fizeram-no ultrapassar o mítico episódio.
Ora se isto é constatado no poema, podemos interpretar, pelos conhecimentos
adquiridos, que ao longo do processo as respostas dadas pelo navegador, foram
estimuladas e geridas pela perceção psicológica e a consequente ação vegetativa que
aumentou a pulsação ou que lhe produziu a adrenalina suficiente ao ponto do navegador
dizer: “Manda a vontade, que me ata ao leme, De El-Rei D. João Segundo” (Ver
poema).
Em conclusão, pela sua natureza automática, consequentemente mecânica, e
pelas suas relações direta e indireta, de interinfluência e interdependência, com os
outros sistemas do SN, consequentemente com os mecanismos conscientes da mente
humana, o SNA contribui para o papel e função daquele, constituindo-se, como tal,
numa visão sistémica, como um “mecanismo não mecânico” fonte de equilíbrio
corporal, na sua relação com o meio externo, como demonstrou Damásio (2001).
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Mostrengo
«Quem vem poder o que só eu posso,
O mostrengo que está no fim do mar
que moro onde nunca ninguém me visse
Na noite de breu ergueu-se a voar;
e escorro os medos do mar sem fundo?»
À roda da nau voou trez vezes,
E o homem do leme tremeu, e disse,
Voou trez vezes a chiar,
«El-Rei D. João segundo!»
E disse, «Quem é que ousou entrar
Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E disse no fim de tremer trez vezes,
E o homem do leme disse, tremendo,
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
«El-Rei D. João Segundo!»
Sou um Povo que quere o mar que é teu;
«De quem são as velas onde me roço?
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
E roda nas trevas do fim do mundo,
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
Trez vezes rodou imundo e grosso,
De El-Rei D. João Segundo!»
(Pessoa, 1934)
23
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Sistema Nervoso Autónomo: Mecanismo Não Mecânico Fonte Do