O PAPEL DO HUMOR GRÁFICO NA CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA CULTURAL. LELIS, Camila Luiza Mestranda em Letras pelo Programa de Pós-Graduação em Letras: Teoria Literária e Crítica da Cultura (PROMEL) na Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ) e bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). INTRODUÇÃO Esta proposta de comunicação busca trabalhar com a temática da memória coletiva e identidade cultural. Durante a apresentação, pretende-se analisar as obras de artistas brasileiros que foram expostas no Salão Internacional de Humor de Piracicaba durante a ditadura militar brasileira. O Salão Internacional de Humor de Piracicaba foi inaugurado em 1974 por iniciativa de artistas e jornalistas piracicabanos que se encontravam em meio ao “fogo cruzado” do Regime Militar. O objetivo era reunir em uma mesma exposição cartuns, caricaturas, charges e tiras proibidos de circular em via impressa por ordem da censura oficial. Após conseguir o apoio dos organizadores do já renomado jornal O Pasquim, entre eles Jaguar, Henfil, Ziraldo e Millôr Fernandes, o Salão teve um enorme sucesso e desde então vem reunindo e premiando, por 40 edições ininterruptas, vários artistas da cidade de Piracicaba, do Brasil e do mundo. Durante sua trajetória, o evento foi responsável por descobrir e premiar cartunistas como Laerte Coutinho, Luiz Fernando Veríssimo, Paulo Caruso, Glauco Villas Boas, Chico Caruso, Adão Iturrusgarai, entre outros, e hoje já soma quase 400 vencedores ao longo da sua história, sendo difundido em mais de 80 países através da internet. OBJETIVO Analisar, através de slides, algumas das primeiras obras enviadas ao Salão Internacional de Humor de Piracicaba que interagiram com a temática do regime militar e observar como o humor gráfico pode contribuir fortemente para o enriquecimento da memória de uma nação e na construção de sua identidade cultural; Contribuir para outros estudos acerca do humor gráfico nacional e internacional; Cooperar no desenvolvimento de pesquisas sobre o SalãoInternacional de Humor de Piracicaba, como também somar forças à propagação de suas atividades. METODOLOGIA Nas charges brasileiras, presentes em cada ano de exposição do Salão durante a ditadura, não faltaram artistas expressando suas ideias, posicionamentos políticos e o desejo de democracia que até hoje, 50 anos depois, ainda permanece fresco na memória. Jacques Le Goff disserta sobre a importância da memória na construção da história e faz o seguinte apontamento: A memória, onde cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir o presente e o futuro. Devemos trabalhar de forma a que a memória coletiva sirva para a libertação e não para a servidão dos homens. (LE GOFF, 1990, 476) A metodologia deste projeto se dá com a análise das charges de desenhistas brasileiros que enviaram seus trabalhos para o Salão no período de 1974 (ano de sua inauguração) até 1985, ano oficial do fim da ditadura militar no Brasil. RESULTADOS E DISCUSSÃO A pesquisa busca auxiliar o ouvinte a compreender como o humor gráfico tornou-se uma ferramenta no perpetuamento da história na memória de uma nação e incitar o debate de como este tipo de arte deve ser estudado como um novo instrumento de registro de ideias e fatos de um determinado momento na história de um país. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao definir a função da charge, Maria Inês Ghilardi (1995) enfatiza: “Fazer charge, portanto, é associar a síntese dos acontecimentos da sociedade, a agudez da crítica feita aos episódios noticiados e o humor brotado pela maneira como os fatos são tratados à precisão e segurança do traço.” (GHILARDI, 1995, p.20).Muitos foram os temas abordados no Salão Internacional de Humor de Piracicaba em charges, cartuns e tirinhas pelos artistas durante o período do regime militar, como liberdade de expressão, miséria, fome, corrupção e autoritarismo, e todos os seus desenhos enviados para o Salão, assim como as obras de todos os artistas que competiram nos últimos 40 anos, podem ser encontrados em acervo localizado no CEDHU – Centro Nacional de Documentação, Pesquisa e Divulgação do Humor Gráfico de Piracicaba, e espera-se que esta proposta de comunicação possa aguçar no ouvinte a curiosidade e o desejo de visitar a exposição e conhecer seus trabalhos. REFERÊNCIAS GHILARDI, Maria Inês. A charge jornalística e a leitura do não-verbal. Revista Perspectiva, Erechim: s.n, v.19, n.67, p. 19-25, set. 1995. LE GOFF, Jacques. Editora Unicamp. 2003 História e Memória. Tradução: Bernardo Leitão. Campinas. MACHADO, José. GAUDENCI JUNIOR, Heitor. Piracicaba 30 anos de Humor. Vários colaboradores. Editora Imprensa Oficial. São Paulo, 2003. QUEIROZ, Adolpho. CIASI, Letícia Hernandez. Balas Não Matam Ideias: 40 anos do Salão Internacional de Humor de Piracicaba. Vários colaboradores. Gráfica Nova RC Editora. Piracicaba, 2013.