RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR PRIVADO Marlene de Cássia TRIVELLATO FERREIRA* RESUMO: O presente texto apresenta um relato de experiência, que tem como objetivo discutir a atuação do psicólogo escolar na Instituição de Ensino Superior (IES) privada. Ações que visam à integração do aluno à vida acadêmica e universitária do estudante são relatadas e discutidas sob o referencial desenvolvimentista e de modelos de impacto. PALAVRAS-CHAVE: ensino superior; desenvolvimento psicossocial; evasão. psicologia escolar; Introdução O ensino superior, como toda entidade educacional, está comprometido em oferecer oportunidades de formação integral aos alunos. As Instituições de Ensino Superior (IES), os órgãos governamentais e os pesquisadores têm demonstrado suas preocupações em relação à adaptação do estudante à vida acadêmica e universitária. Os objetivos das IES não podem ser restritos à formação profissional, assegurando a aprendizagem de conceitos, mas exige um acompanhamento da trajetória deste estudante, nas diferentes áreas. Do ingresso até a formatura, muitos eventos ocorrem. Desde aqueles que apontam para o sucesso perante o esforço, como aqueles * Psicóloga, Doutora em Ciências pela FFCLRP/USP. Docente em Psicologia da Educação e Coordenadora do Programa de Integração Discente do Núcleo de Geografia e História do Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, SP. DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 163 que geram insatisfações, frustrações, como dúvidas quanto à opção pelo curso; dificuldades financeiras; familiares; dificuldades nos relacionamento interpessoais e integração ao curso; e rendimento acadêmico insatisfatório, eventos que podem conduzir à evasão. O Instituto Lobo para o Desenvolvimento da Educação, da Ciência e da Tecnologia comparou o número de concluintes das IES referidos pelo Censo 2005 com o de ingressantes quatro anos antes. E constatou que apenas 51% dos que iniciaram a graduação a concluíram, ou seja, 49% não se formaram no período. A princípio a questão financeira parece ser a grande razão da evasão, no entanto, uma análise mais aprofundada sugere que a desistência pode ter como primeiro motivo, o próprio despreparo dos alunos, advindo do ensino básico e médio deficiente. Frente às dificuldades naturais do ensino superior, o aluno acaba se desmotivando para continuar a estudar. Em segundo lugar, a escolha precoce que o aluno deve fazer por um curso, pode alimentar a evasão, e, por último, temos a dificuldade financeira. Nota-se que as maiores dificuldades encontradas pelos alunos estão presentes já nos anos iniciais da graduação (SILVA FILHO et. al., 2007) Diante deste cenário, o ensino superior se mostra como um campo de atuação do psicólogo escolar e áreas afins. Existe no ambiente universitário uma procura constante por orientação e acompanhamento psicológico, que frente à ausência de um programa de ação, podem acabar por intensificar as dificuldades encontradas pelos estudantes. Um baixo desempenho do aluno em uma disciplina ou dificuldades de relacionamento podem ser motivos da desistência pelo curso. O psicólogo deve estar atento a esta demanda e repensar, reestruturar a sua atuação no contexto escolar, com o objetivo de promover a adaptação do aluno a este novo momento (SERPA & SANTOS, 2001). Segundo Martins (2003), o psicólogo escolar deve atuar diferentemente de uma postura que privilegie modelo médico clínico, mas criar espaços onde as vivências escolares possam ser ditas e escutadas, acompanhando os fenômenos que emergem no cotidiano escolar. Para o autor, o psicólogo escolar deve contribui na organização do contexto escolar, na criação no coletivo de novas formas de DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 164 compreensão da realidade vivida, na sugestão de novas maneiras de ação e avaliação dos processos decorrentes do âmbito escolar, como aprendizagem, avaliação, etc. Tendo em vista que as preocupações das IES não podem se restringir aos aspectos cognitivos, mas se ampliam às questões de integração à vida acadêmica e universitária, a postura do psicólogo escolar deve estar comprometida em desenvolver programas preventivos que favoreçam o processo de desenvolvimento pessoal e profissional. Como referido por Bariani et. al.(2004) os estudos científicos na área da psicologia escolar estão aquém das possibilidades dos profissionais em atender a demanda social do serviço. No caso das produções cientificas no ensino superior, verifica-se que esta é mais incipiente, ainda. As autoras após uma análise da produção científica sobre a psicologia escolar e educacional, no ensino superior enfatizam a necessidade de um maior investimento na ampliação e aprofundamento dos conhecimentos sobre este nível de ensino, e a sistematização e organização de conhecimento produzido na área. Partindo de uma dimensão psicossocial, os estudos na área têm se baseado nas teorias desenvolvimentais e modelos de impacto para compreender os fenômenos do âmbito universitário (POLYDORO, 2000; FERREIRA et. al., 2001; VENDRAMINI et. al., 2004; SANTOS & ALMEIDA, 2001). A transição para o ensino superior implica em mudanças na vida do aluno, em que o impacto destas, depende das características desenvolvimentais do aluno, bem como, das exigências e apoios do novo contexto. As características pessoais do aluno são consideradas importantes no processo de adaptação acadêmica. A capacidade adaptativa, o grau de vulnerabilidade e a capacidade de enfrentamento estão associados à forma como o aluno vivencia o ambiente universitário (POLYDORO, 2000). Bell et.al. (apud SANTOS & ALMEIDA, 2001) referem que os jovens adultos ingressantes no ensino superior são confrontados por tarefas desenvolvimentais, como desenvolvimento da autonomia, da identidade, de relações interpessoais, de projetos para o futuro. Como afirmado acima, o desempenho dos alunos nas tarefas desenvolvimentais DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 165 tem se mostrado um processo co-construtivo, ou seja, de mútua influenciação, em relação ao ambiente universitário (FERREIRA et.al.,2001) A respeito do contexto universitário, este deve estar atento em criar condições para a promoção e o desenvolvimento do aluno. É necessário promover um clima de confiança, de empenho, de incentivo, com a manutenção de desequilíbrios impulsionadores do desenvolvimento e ao mesmo tempo de apoio para enfrentamento de situações adversas (NICO, apud VENDRAMINI et.al., 2004; POLYDORO, 2000). Desta forma, sob uma visão desenvolvimentista e de modelos de impacto, as propostas de ação nas IES devem compreender que a integração do aluno a vida acadêmica e universitária, se define pela interação entre as características deste e da instituição. A partir deste referencial teórico, o presente texto tem como objetivo relatar a experiência do psicólogo escolar no ensino superior privado, por meio das ações implementadas pelo Programa de Integração Discente (PID) em um centro universitário privado da cidade de Ribeirão Preto. O programa conta com a participação da coordenadora do curso, corpo docente, corpo discente e uma psicóloga escolar, que também compõe o corpo docente dos cursos de Geografia e História. Primeiramente, será apresentada uma caracterização do centro universitário e dos cursos envolvidos, posteriormente as ações desenvolvidas e finalmente algumas considerações sobre o trabalho. Caracterização do Centro Universitário e o Núcleo de Geografia e História(NGH) O centro universitário atua na cidade de Ribeirão Preto desde 1968. Oferece cursos de graduação, de formação especifica e de Pósgraduação, nas áreas biológicas, exatas, humanas e licenciaturas. Atende alunos no período diurno e noturno. É composto por quatro unidades, localizadas em bairros diferentes da cidade. DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 166 O Núcleo de Geografia e História (NGH) é composto pelos cursos noturnos de licenciatura em História e Licenciatura em Geografia. Cada curso tem duração de três anos. O curso de História conta com 14 professores e o de Geografia 15, alguns dos professores atendem aos dois cursos. Anualmente, o curso de História tem em média 55 alunos ingressantes e 25 egressos, já o curso de Geografia atende a aproximadamente 22 alunos no primeiro ano e 15, no último ano do curso. O grupo de alunos de ambos os cursos é heterogêneo. Temos alunos de ambos os sexos, com idade de 17 a 60 anos, recém formados no ensino médio, graduados em outros cursos, e também, alunos que estão há anos sem freqüentar instituições de ensino. Boa parte trabalha fora da área, ou na área da licenciatura para custear seus estudos, e uma parcela pequena, apenas estuda. O nível socioeconômico oscila de baixo a médio alto. Pid: Objetivos e Ações Após um processo de avaliação interna, que inclui pesquisas qualitativas e quantitativas com os discentes, concluiu-se que os alunos de ambos os cursos chegavam cada vez menos preparados para o ensino universitário e com dificuldades de adaptação aos programas disciplinares. Esses problemas incitaram ao colegiado dos cursos de História e de Geografia a promoverem uma ação integrada entre os dois cursos, numa tentativa de minimizar as conseqüências da defasagem de aprendizagem e os outros complicadores que dificultavam a permanência e a conclusão do curso, por parte dos alunos. Desta forma, o PID se pretende como um programa que ao mesmo tempo em que diagnostica esses problemas, também atua, em longo prazo, nos pontos cruciais para o desenvolvimento integral do discente. Assim, os objetivos específicos do PID são: a) Minimizar a defasagem de aprendizagem de conceitos, DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 167 redação e compreensão de textos, bem como a dificuldade de adaptação aos estudos, apresentadas pelos alunos matriculados nos respectivos cursos; Promover a adaptação dos alunos nos cursos em que b) estão matriculados, a fim de que possam desfrutar de uma melhor qualidade de vida e um desempenho acadêmico e profissional satisfatório. Para tanto, o programa promove ações nas áreas de Língua Portuguesa, Prática de Ensino, Cultura popular, Serviço de Psicologia, Semana dos Calouros, Palestras do Falando Nisso, Tutoria e o Teatro Educativo. Como o presente texto trata-se de um relato de experiência, que tem como objetivo discutir as ações do psicólogo escolar no âmbito universitário serão apresentadas apenas as ações coordenadas ou supervisionadas pelo psicólogo: Serviço de Psicologia, Semana dos Calouros, Palestra do Falando Nisso, Tutoria e Teatro Educativo. A seguir, as ações são descritas. Serviço de Psicologia – Estudos evidenciam que a transição para o ensino superior e mesmos as exigências no decorrer do período de formação dos estudantes podem gerar momentos de estresse e mesmo de dificuldades adaptativas, que não podem ser negligenciados pela universidade (SANTOS & ALMEIDA, 2001; POLYDORO, 2000). Diante desta perspectiva, foi montado o serviço de psicologia no NGH. O serviço de psicologia tem como objetivo permitir que os alunos falem sobre suas dificuldades e assim, traçar estratégias para minimizá-las (SERPA & SANTOS, 2001; MARTINS, 2003). Na construção destas estratégias, muitas vezes, conta-se com a participação de outros docentes. Assim, por iniciativa própria ou perante avaliações previas dos professores, os alunos que apresentam defasagens na aprendizagem, problemas disciplinares, dificuldades de relacionamento com colegas ou professores, ou ainda, por causas diversas pretendam abandonar os estudos procuram ou são encaminhados ao serviço, que providencia o apoio e orientação que o aluno necessita bem como, possíveis encaminhamentos a profissional da cidade. O serviço de Psicologia se restringe apenas em DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 168 fazer um breve diagnóstico, prestar apoio ao aluno e providenciar encaminhamentos necessários. Semana do Calouro – O primeiro ano, dos alunos universitários é considerado fundamental para a sua adaptação ao curso (SANTOS & ALMEIDA, 2001; FERREIRA et. al.,2001). Portanto, com o objetivo de promover uma melhor adaptação dos alunos iniciantes aos cursos de Geografia e História são realizadas no mês de fevereiro, do primeiro ano letivo, apresentações semanais das oficinas desenvolvidas pelos alunos do segundo e terceiro anos, orientadas pelos seus respectivos professores. Falando Nisso... – O envolvimento dos alunos nas atividades extracurriculares, oferecidas pelas instituições acadêmicas tem-se mostrado um poderoso fator minimizador de evasão (VENDRAMINI et.al., 2004; SANTOS & ALMEIDA, 2001). Assim, mensalmente, são oferecidas palestras, abordando temáticas transversais para o público interno e externo com o objetivo de discutir temas relacionados à ética, cidadania, política, identidade cultural, educação entre outros necessários à formação de profissionais conscientes do papel fundamental do docente na construção de uma sociedade mais justa. Além disso, objetiva a integração de discentes do curso de História e Geografia com alunos de outros cursos e outras instituições, promovendo o intercâmbio cultural entre os mesmos. Os palestrantes são docentes do centro universitário e profissionais da cidade. Tutoria – Um dos fatores mais expressivos da evasão no ensino superior é o despreparo dos alunos, gerando baixo desempenho acadêmico. Ao passo que a realização acadêmica (sucesso), além de possibilitar a aprovação, promove o desenvolvimento de uma auto-estima positiva, o que motiva o aluno aos estudos (SILVA FILHO et. al., 2007). A competência cognitiva, relacionada à expressão, compreensão, resolução de problemas e concentração está associada à integração do aluno ao ensino superior (PRIMI et. al, 2002). Baseado nestes achados montou-se o serviço de tutoria, que visa atender os alunos ingressantes em suas dificuldades de aprendizagem em disciplina específicas. Após o primeiro mês de aula, são elencadas as disciplinas que os alunos apresentam maiores dificuldades, os professores das referidas disciplinas DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 169 são solicitados a indicarem alunos do segundo ano para tutorarem os alunos do primeiro ano. Os tutores são supervisionados pelos professores de conteúdo do primeiro ano e uma professora da área da licenciatura. Semanalmente fora do horário de aula, tutores e tutorados, de uma disciplina específica reúnem-se durante uma hora, em uma sala de aula. Teatro Educativo – Além de ser uma atividade extracurricular, que motiva a permanência do aluno na universidade (Santos & Almeida, 2001), o teatro educativo, também, é considerado um poderoso meio de proporcionar discussões de problemas sociais contemporâneos e uma ferramenta para a aprendizagem em sala de aula (BAREICHA, 1998/1999; ROMANÃ, 1998/1999). O teatro como instrumento pedagógico é bem conhecido, comprometendo-se em favorecer aprendizagens de conceitos e na formação do social e moral do individuo. A direção do grupo é de um ator profissional da Secretaria de Cultura de Bebedouro, aluno do curso. O grupo reuniu-se semanalmente. As Ações Após Dois Anos do Programa Durante o ano de 2005, o PID foi elaborado e planejado, vindo somente a iniciar suas atividades em 2006, portanto o programa existe há dois anos. Os resultados apresentadas são baseados nos relatos espontâneos dos alunos e professores, em dados numéricos sobre a freqüência dos alunos às atividades extracurriculares, no relato dos professores sobre o desempenho do aluno submetido à ação do programa, e mesmo no índice parcial de evasão do curso de História, após a execução do programa. Nos atendimentos realizados pelo Serviço de Psicologia, notase que a maioria das dificuldades dos alunos está relacionada à adaptação dos alunos ao novo contexto – ensino superior. Nestes dois anos do programa, 17 alunos dos dois cursos foram atendidos pelo serviço de psicologia. As dificuldades mais freqüentes estavam relacionadas aos aspectos emocionais e às dificuldades de aprendizagem, que acompanham o aluno em toda sua História de vida. DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 170 Após o atendimento, oito alunos foram encaminhados para o NAI (Núcleo de Apoio Institucional do Centro Universitário) que providenciava o atendimento psicológico e/ou o atendimento do serviço social. Dois alunos foram encaminhados para atendimento psicopedagógico em clínica da cidade. Dois abandonaram o curso e os demais, apenas com o diagnóstico e o apoio recebido seguiram sem atendimento especializado. Na ação do serviço de psicologia do programa, não estão computados os atendimentos emergenciais. Quando indagados sobre a Semana do Calouro, os alunos dos primeiros anos relatam que por meio das apresentações de oficinas desenvolvidas pelos alunos veteranos puderam conhecer os trabalhos realizados nos cursos e as possíveis áreas de atuação. Ou seja, a semana promove uma apresentação do curso mais dinâmica, além de proporcionar um momento de integração entre os cursos e conseqüentemente, entre os alunos. O Falando Nisso... recebe apoio de vários docentes da IES, que abriga o programa. Os docentes se colocam a disposição para oferecer palestras com temas pertinentes aos cursos de licenciatura em Geografia e História, promovendo a interdisciplinaridade entre os cursos. No entanto, este apoio não se restringe apenas aos docentes da instituição, vários profissionais da cidade têm procurado o programa com interesse em palestrar para os alunos. E ainda, o corpo discente sugere nomes de palestrantes e temas. Durante os dois anos do programa foram realizadas 14 palestras, sendo com seis palestrantes - professores dos cursos de Geografia e História, quatro palestrantes – professores de outros cursos da instituição e quatro palestrantes de fora da instituição. Considerando que o horário das palestras é uma queixa entre os alunos (as palestras iniciam às 18h, horário que a maioria dos alunos está saindo do serviço), a freqüência do público às palestras é expressiva, o número de ouvintes por palestra varia de 20 a 60. Dentre estes, temos discentes dos cursos de Geografia, História, Pedagogia e de outras instituições privadas ou públicas, bem como, profissionais da área. Por se tratar de um curso noturno, ainda não se encontrou outra possibilidade de horário para a realização das palestras. DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 171 A Tutoria está sendo oferecida aos alunos do primeiro ano, que são tutorados pelos discentes do segundo, supervisionado pelo professor da disciplina, que no momento eles encontram maior dificuldade. A tutoria ocorreu de formas diferentes nos dois cursos. Durante um ano, semanalmente, os alunos de História receberam tutoria em uma disciplina apenas. No curso de Geografia, à medida que as dúvidas em uma disciplina eram minimizadas, segundo relato dos alunos e observação dos professores das disciplinas, era oferecido a tutoria em outra disciplina. Desta forma, na Geografia o aluno não freqüentou durante um ano a mesma tutoria. Nestes dois anos, a tutoria de História contou com a participação de 11 tutores e aproximadamente 37 tutorados. Já na tutoria de Geografia, seis tutores e 19 tutorados participaram da ação. Segundo o relato dos próprios alunos e dos docentes, todos os alunos que freqüentaram a tutoria melhoram o seu desempenho na disciplina, a melhora no desempenho varia de 40% a 60%. Assim, têm-se indícios de que a tutoria possibilita a minimização da defasagem na aprendizagem. É importante considerar os benefícios gerados aos tutores, estes acabam vivenciando o papel de docente, que em pouco tempo irão ocupar no mercado. Após dois anos de tutoria, os alunos dos segundo e do terceiro anos, dos cursos de História e Geografia têm procurado o programa propondo tutoria em disciplinas que a maioria da sala está encontrando dificuldades. Este dado reforça a percepção de que a ação tutorial está sendo vista pelos próprios alunos, como uma possibilidade de minimizar as dificuldades de aprendizagem e conseqüentemente, a melhoria do desempenho. Os dados referentes ao Teatro Educativo são ainda incipientes, pois esta ação foi efetivada somente a partir do segundo semestre do ano de 2007. No entanto, o envolvimento dos alunos foi satisfatório. O grupo foi composto por 12 alunos, sendo 11 do 1º e 2º ano de História e um do 2º ano de Geografia. A primeira apresentação grupo ocorreu durante o ‘Workshop de Geografia e História’, destinado a alunos do ensino médio de escolas estaduais. E a segunda, foi na “Universidade Aberta”, evento DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 172 promovido pelo centro universitário, que tem como público alvo alunos de ensino médio privado ou público. A peça encenada recebeu o titulo “Cenas da Adolescência”, retratando o cotidiano da fase da adolescência. Como primeira experiência percebe-se que os alunos estavam motivados para a atividade. O trabalho de colocação do corpo, de entonação da voz e de expressão facial para apresentação em público parece ser um diferencial a mais aos alunos que participaram do teatro. Os alunos atores relataram que a experiência do teatro e o contato com a comunidade foi muito enriquecedora, proporcionando mudanças positivas em suas vidas, como os desinibindo perante apresentação em público. Quanto aos dados sobre os índices de evasão, na Tabela 1 são apresentados as informações sobre a evasão no curso de História, referentes aos anos de 2005, 2006 e 2007. Os dados referentes ao curso de Geografia, não foram concluídos a tempo para esta publicação. Notase que os dados disponíveis apenas fornecem informações sobre número total de alunos matriculados no curso (primeiro, segundo e terceiro ano de curso) e o número de alunos que abandonaram o curso. Tabela 1 – Dados sobre número de alunos matriculados e evadidos do curso de História, nos anos de 2005, 2006 e 2007. Ano 2005 2006 2007 Matriculados 107 111 122 Evadidos 28 26 19 Observa-se que a proporção entre os alunos matriculados no curso de História e aqueles que o abandonaram, em 2005 era de 26%, já no ano de 2007, esta proporção cai para 15,6%. Estes dados fornecem indícios que o numero de evasão no curso diminuiu nos últimos três anos. DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 173 Considerações Finais Com a proposta de discutir a atuação do psicólogo escolar no ensino superior foram apresentadas ações que visam à integração do aluno à vida acadêmica e universitária do estudante. Tais ações são fundamentadas pelo referencial desenvolvimentista e de modelos de impacto, em que a integração é compreendida pela interação entre características do aluno e da instituição acadêmica. Estas ações fazem parte do PID, que até o presente momento, parece estar atendendo aos objetivos de minimizar a defasagem de aprendizagem de conceitos, bem como promover a adaptação acadêmica e universitária dos alunos. Os resultados do estudo encontram suporte na literatura sobre o tema. Acredita-se que os atendimentos do Serviço de Psicologia puderam fornecer subsídios para os alunos enfrentarem o momento de transição para o ensino superior e as dificuldades decorrentes deste período de vida, garantido a permanência do aluno no curso. Perante um diagnóstico preliminar tinha-se evidência de que o aluno estava na eminência de abandonar o curso, o que ocorreu apenas com dois alunos que foram atendidos pelo psicólogo. No momento de transição para o ensino superior, muitas das dificuldades pessoais tornam-se evidentes comprometendo a adaptação do aluno, o que pode conduzi-lo ao abandono dos estudos (SANTOS & ALMEIDA, 2001; POLYDORO, 2000). A Semana do Calouro e do Falando Nisso... parecem proporcionar uma visão mais dinâmica dos componentes curriculares, e ainda facilitam a interação entre os alunos, alunos e professores e aluno e instituição. Ambas as atividades mostraram-se atividades que favorecem a adaptação do aluno iniciante ao contexto universitário, em tempo menor. Propostas diferentes das oferecidas nas disciplinas da grade curricular, como Semana do Calouro, Falando Nisso... e o Teatro Educativo podem ser vista como garantia uma melhor adaptação, o que permite um melhor engajamento do aluno ao curso e sua permanência neste (SANTOS & ALMEIDA, 2001; VENDRAMINI et.al., 2004). A Tutoria, por sua vez, mostra-se importante tanto para minimizar DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 174 as defasagens de conteúdos, como para promoção das relações do aluno com o contexto acadêmico. Os tutores (alunos do ano anterior) passam a ser referência aos tutorados (alunos ingressantes), que encontram apoio neste para discutir, trocar idéias sobre outras disciplinas trabalhos e mesmo propor eventos. Para os alunos ingressantes, poder contar com uma pessoa próxima, do grupo dos alunos parece ser um fator importante para sua adaptação e conclusão do curso. De maneira geral, pode-se dizer que a tutoria não só atende aos objetivos de melhoraria do desempenho do aluno na disciplina tutorada, mas percebe-se uma melhoria no desempenho geral dos alunos tutorados. Quando se pensa em interdisciplinaridade, os conhecimentos adquiridos em uma disciplina favorecem a compreensão dos conteúdos de outra disciplina. O próprio resgate da auto-estima do aluno ao poder sanar dúvidas e poder discorrer sobre o assunto sem medo é fundamental para o aprendizado e para a formação de um profissional (PRIMI, et.al., 2002). Os achados discutidos até o momento tornam-se expressivos diante da análise, mesmo que rudimentar, da evasão de alunos do curso de História, nos últimos três anos. Sugere-se que a preocupação em compreender o aluno de maneira integral, na dimensão psicossocial, pode ser uma solução para minimizar a evasão no ensino superior. O olhar sobre o universitário de hoje deve estar atento as suas necessidades, dificuldades e disposto a promover ações de apoio e de envolvimento, para que este se engaje no contexto de ensino. Em meio, a esta conjuntura educacional conclui-se que a atuação do psicólogo escolar na instituição superior, deve estar atenta a promoção de ações que vise o coletivo universitário. Sua atuação deve estar próxima do corpo docente e discente refletindo sobre estratégias que promovam a melhoria da qualidade da vida acadêmica e profissional do aluno. Portanto, para que as ações apresentadas neste texto pudessem ser executadas foi necessária a parceria com a coordenação dos cursos de Geografia e História, corpo docente e discente. DIALOGUS, Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008. 175 TRIVELLATO FERREIRA, Marlene de Cássia. Report of an experiment in the private higher education. DIALOGUS. Ribeirão Preto, v.4, n.1, 2008, p. 163-177. ABSTRACT: This is a report of experience about school psychologist in higher education private. Considering the developmental and contextual approaches, in this study are discuss actions of the integration of student to academic and university life KEYWORDS: higher education, school psychology; psychossocial developmental, evasion. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L. S. et al. Acesso e sucesso no Ensino Superior em Portugal: questões de gênero, origem sócio-cultural e percurso acadêmico dos alunos. Psicologia Reflexão e Crítica (Porto Alegre). v. 19, n. 3, 2006 BAREICHA, P. Psicodrama, Teatro e Educação: em busca de conexões. Linhas Críticas (Brasília) v.4, n.7/8, 1998/99. BARIANI, I. C. et al. Psicologia escolar e educacional no ensino superior: análise da produção científica. Psicologia Escolar e Educacional. (São Paulo). v.8, n.1, p.17-27. 2004. FERREIRA, J. 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