WALTER BOM – 230 MIL DE EUROS
RECORD DE INDEMNIZAÇÃO POR ERRO MÉDICO
Walter Bom, que está totalmente cego desde que, a 17 de Julho
do ano passado, lhe aplicaram uma injecção nos dois olhos no
Hospital de Santa Maria, em Lisboa, ficou a saber o valor da
indemnização a atribuir para compensar esses danos, proposta
por uma comissão arbitral presidida pelo juiz desembargador
Eurico Reis: 230 mil euros. É a maior indemnização de sempre
em Portugal devido a um erro hospitalar. Ao longo do dia 26, os
seis doentes que cegaram a 17 de Julho devido à troca de um
medicamento injectado nos olhos, foram-se dirigindo para a
administração do Hospital de Santa Maria e sendo informados,
um a um, da indemnização proposta pela comissão arbitral,
promovida
pelo
próprio
hospital.
Deveriam
ter
recebido
injecções de Avastin, que em cinco dos doentes serviriam para
tratar
retinopatias
diabéticas
e
no
doente
restante
uma
vascularização anómala da retina. Em vez disso, foi-lhes
aplicado um fármaco usado em quimioterapia que destruiu as
células dos olhos.
Walter Bom e Maria das Dores Monteiro foram os únicos que
receberam injecções nos dois olhos e que, por isso, não vêem
nada. Ele, cozinheiro de profissão, tinha 47 anos quando cegou.
Ela tinha então 53 anos, e a compensação monetária que lhe
propuseram andará entre os 100 mil e 150 mil euros. Até agora,
a maior indemnização por erro médico em Portugal rondava os
225 mil euros, determinados pelo Supremo Tribunal de Justiça
num caso de responsabilidade médica em Março de 2008. Um
homem, de quase 60 anos, ficou impotente sexualmente e com
incontinência
urinária
devido
a
um
diagnóstico
errado
e
consequente operação a um cancro da próstata, de que não
sofria, numa clínica privada.
Para fixar os valores, os membros da comissão arbitral
começaram por fazer um relatório médico detalhado de cada
doente, para perceber qual era o seu estado clínico à data da
intervenção e as perspectivas de evolução futura. No caso de
Walter Bom, por exemplo, conclui-se que teria ainda pelo menos
mais dez anos de visão acima do limiar mínimo, o que lhe
permitiria continuar a viver do mesmo modo e a realizar as
mesmas actividades durante esse período. Em relação a outros
doentes, que já viam muito mal na altura do procedimento
médico, esse tempo era mais curto - daí as indemnizações
propostas serem mais baixas.
Américo Palhota, de 71 anos e que até ao tratamento que lhe
cegou o olho esquerdo tinha um quiosque de jornais em Lisboa,
recebeu a proposta de 32.500 euros. Ainda não a aceitou, pelo
que nos próximos 30 dias, prazo dado pela comissão para tomar
uma decisão, pretende informar-se sobre se esse valor é justo.
No início, pensou-se que o problema estaria no Avastin, o
fármaco que deveria ter sido administrado a seis doentes no
Hospital de Santa Maria. Mas a investigação do Ministério
Público concluiu que o medicamento injectado nos olhos dos
doentes
não
era
afinal
o
Avastin
(nome
comercial
do
bevacizumab), mas um fármaco usado em quimioterapia. Esse
medicamento tinha um rótulo com o nome escrito à mão e, na
farmácia do hospital, onde as injecções foram preparadas, foi
borrifado com álcool. Isso tornou ilegível o nome, pelo que o
farmacêutico
e
a
técnica
de
farmácia
pensaram
ser
a
substância certa.
REVISTA DE IMPRENSA DE MARÇO 2010
Fontes: Público, Sol, Expresso, Diário de Notícias, Correio da
Manhã, Diário Digital, Jornal i, Jornal de Notícias, agência LUSA
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