ID: 58490434
23-03-2015
Tiragem: 8000
Pág: 29
País: Portugal
Cores: Cor
Period.: Diária
Área: 20,41 x 28,62 cm²
Âmbito: Regional
Corte: 1 de 1
Opinião
UMA MARCA BRACARENSE
CHAMADA FESTAS PASCAIS
OPINIÃO | FELISBELA LOPES*
A
duas semanas da Páscoa, Braga
abre-se por estes dias para acolher
quem vem de fora. Este turismo religioso não se amplia de um dia para o outro. Requer uma estratégia de longo prazo.
Já se fez bastante, mas é necessário mais.
Braga precisa de criar uma espécie de embaixadores que deem notoriedade a uma estratégia de expansão.
Comecemos pelas procissões. A do próximo domingo de Ramos não será a mais carismática, mas tem a vantagem de percorrer
as ruas da cidade num dia em que a maior
parte das pessoas não trabalha. Por isso,
atrai facilmente quem mora em Braga e nos
concelhos circundantes. Mas, por se situar
num domingo, poderá também integrar-se
num pacote de fim-de-semana que terá forçosamente de apresentar outras atrações, se
a estratégia for chamar pessoas de pontos
mais longínquos. A procissão da Burrinha,
que calcorreia o centro bracarense na noite
de quarta-feira antes da Páscoa, tem maior
dificuldade em chamar a si quem mora longe. Mas se olharmos para isso como uma
das maiores manifestações religiosas de um
povo que sai à rua e que se constitui ele
mesmo como um corpo de pessoas que caminha com uma fé que transborda, eis aqui
um vector que pode constituir-se como um
forte chamamento. Nas noites seguintes, as
procissões do “Ecce Homo” e do Enterro
do Senhor” são, por si, poderosos polos de
atração, reunindo imagens fortíssimas que,
por isso, estruturam facilmente uma eficaz
campanha de marketing.
É claro que assim apresentado este raciocínio verga-se apenas a propósitos turísticos ao serviço da entrada de novos visitantes na cidade, mas este quadro religioso
representa, para aqueles que têm fé, um
tempo de forte introspeção e meditação,
que um ambiente como Braga propicia nesta altura. E isso tem ser sempre levado em
conta quando se fala das cerimónias religiosas em tempos pascais.
Qual a cidade portuguesa que, durante a
quaresma, tem o lausperene a passar em to-
das as paróquias de Braga com tamanha solenidade? Qual a cidade portuguesa que se
veste assim de roxo antes da Páscoa? Qual
a cidade portuguesa que tem o compasso
pascal a percorrer todas as ruas em domingo de Páscoa, chamando para isso centenas
de pessoas que se disponibilizam para levar
a mensagem de um Jesus ressuscitado até
às nossas Casas?
Braga é singular e precisa de ser bem divulgada. No entanto, os métodos tradicionais de publicitação não são suficientes. É
claro que as agências de viagens são lugares de obrigatória passagem. É óbvio que a
vizinha Espanha precisa de saber o que
existe em Braga por estes dias. É evidente
que a nossa cidade tem de conseguir ser o
contraponto ao Algarve como um destino
alternativo de férias de Páscoa. Mas as nossas cerimónias religiosas precisam de tornar a marca mais robusta. Mais notável. Por
isso, necessita de embaixadores que projetem o que se passa cá pelo menos à escala
nacional. Isso não existe ainda.
De uns anos a esta parte, as solenidades da
Páscoa têm tido mais visitantes e tem havido um esforço visível de fazer sair o que
aqui acontece fora de portas. Mas precisamos de fazer mais. Precisamos, por exemplo, de trazer um plateau de um noticiário
televisivo até Braga, precisamos de mais
reportagem nos alinhamentos de informação da rádio e da TV, precisamos de nos ver
mais reflectidos nas páginas dos jornais.
Precisamos de ter aqui uma estratégia de
fundo direcionada para conteúdos de referência que são os que conferem uma marca
de notoriedade àquilo que se faz. E precisamos de rostos que sejam lugares de difusão
daquilo que aqui acontece.
Braga é única. E isso tem de ser conhecido.
* Docente do departamento de Ciências
da Comunicação da Universidade do Minho
(Texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico)
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uma marca bracarense chamada festas pascais