A Biblioteca Digital Alemã
Palestrante: Elisabeth Niggemann (Diretora da Biblioteca Nacional da Alemanha)
Tradução: Ana Teresa Vianna de Figueiredo Sannazzaro
Palestra realizada em 06 de abril de 2006 no auditório do Museu de Arte de São
Paulo
1 - Bibliotecas digitais
2 - A Biblioteca Digital Européia
2.1 - i2010 – a iniciativa da Comissão Européia para a Sociedade de Informação e Mídias
2.2 - A perspectiva alemã
3.- CENL e a Biblioteca Digital Alemã
3.1 - CENL – Associação de Bibliotecários de Bibliotecas Nacionais
3.2 - TEL – The European Library
3.3 - A Biblioteca Digital Européia
4 - Cronograma da Biblioteca Digital Européia
4.1 - Digitalização em massa versus digitalização seletiva
4.2 - Obtenção de direitos autorais
4.3 - Parceria com os detentores dos direitos autorais
4.4 - Longevidade da digitalização
4.5 - Multiplicidade de idiomas
4.6 - Organização e estrutura
5 - Resumo
Colóquio: Biblioteca e Informação digital: a herança cultural e científica em bits e bytes
1- Bibliotecas Digitais
Quando escutei pela primeira vez, que o Google pretendia, até 2010, digitalizar 7 milhões de livros
da biblioteca da Universidade de Michigan e 8 milhões da biblioteca da Universidade de Stanford,
entre outras, ficou-me claro, o quanto modificou nos últimos 10 ou 15 anos, o mundo dos
bibliotecários, dos autores, dos leitores, dos editores, bem como de todos que geram, disseminam
e disponibilizam a literatura e a informação. Em primeiro plano é uma revolução tecnológica, que
pode ser esquematizado com vocábulos como Internet, super-servidores, redes de alta velocidade.
Estas novas tecnologias tiveram conseqüências diretas e imediatas sobre as expectativas e as
exigências do usuário dos centros de informação. Quanto mais jovem o usuário, mais ele espera e
com toda razão, que o sistema de informações por ele utilizado, possibilite o acesso integral aos
documentos.
As bibliotecas ainda estão longe desta realidade. Na maior parte das vezes, apenas dados
bibliográficos estão disponibilizados na rede. Os documentos continuam permanecendo nas
estantes de nossas bibliotecas, como há milhares de anos. Precisamos modificar esta situação o
mais rápido possível. Não no sentido de desistir dos edifícios das bibliotecas, das estantes e dos
acervos impressos! As bibliotecas e os arquivos não se tornaram obsoletos com suas muitas
toneladas de papel impresso. A coexistência de fontes de informação convencionais e digitais deve
permanecer, já que ainda irá demorar um algum tempo até que uma quantidade considerável de
acervos impressos estejam disponíveis eletronicamente e mesmo quando estiverem, será muitas
vezes necessária a consulta aos originais para esclarecimento de dúvidas. Continuaremos
necessitando de muitas bibliotecas locais e não apenas poucas bibliotecas regionais, uma vez que o
local continuará tendo o seu sentido. Cada vez mais deveremos levar em conta que a imagem da
biblioteca é a de um ponto de encontro de amigos e colegas, um clube por assim dizer. Para poder
atrair as pessoas como um local físico, precisamos nos equiparar a cinemas, teatros, restaurantes,
academias de ginástica, entre outros, isto é, locais onde as pessoas se encontram, encontram
amigos e/ou especialistas, onde há serviços especiais que não há em casa, orientação,
programação especial, um café especialmente bom, outros móveis. Para isto, nossas bibliotecas
precisam ser reconstruídas, no sentido estrito e no figurado.
Para atrair pessoas como uma biblioteca virtual, digital, devemos nos equiparar aos grandes
fornecedores de informação, de documentos e aos prestadores de serviços, como os Amazons,
Googles e Ebays deste mundo. Devemos evoluir ainda muito além do que somos hoje: locais físicos
com objetos palpáveis como livros, revistas e jornais, locais que os leitores devem adentrar para
poder emprestar ou utilizar um livro. A biblioteca digital não existe fisicamente, ninguém precisa se
movimentar para ir até lá, tudo acontece sem movimentação física. Uma coisa permanece igual:
mesmo uma biblioteca digital só é eficiente se o leitor encontra a obra que procura ou que
necessita. Não basta que ele seja informado que a obra existe e talvez o local onde está disponível,
mas ele deve ser encaminhado diretamente ao documento eletrônico, em um único passo, sem
esforço e sem conhecimento especial. Ao final, todas as obras do mundo deverão estar disponíveis
eletronicamente, não em um confuso sistema de muitos servidores, confusamente através de
vários fornecedores, às vezes gratuitamente, muitas vezes mediante pagamento, às vezes com
preço mais conveniente para associados e caros para particulares, às vezes melhor, às vezes pior .
Exatamente este é um dos maiores desafios da biblioteca digital. Permaneceremos não possuindo
todas as obras nos acervos, mas teremos que providenciar para que o usuário, remotamente, a
partir da infra-estrutura de informação a que está acostumado, de sua casa, de seu trabalho ou
através da mediação de sua biblioteca, de modo simples e com acesso direto aos mais diversos
documentos eletrônicos existentes, sem necessidade de várias autenticações, sem barreiras
tecnológicas ou lingüísticas, no contexto de um serviço personalizado.
Significa que temos que vencer esta confusão, prestar serviços ao mesmo tempo simples e
abrangentes. Precisamos organizar portais centralizados de acesso, como a Sociedade Alemã para
a Pesquisa sugere em seu Posicionamento „Objetivos e estrutura do programa de incentivo à
tradição cultural“, „organizar portais centralizados de acesso que ultrapassem as instituições
individuais …”, que permitam o acesso imediato e integral às fontes gratuitas e às passíveis de
pagamento, de recursos manuscritos, impressos e eletrônicos.“ Precisamos fazer o que
bibliotecários fazem especialmente bem: cooperar e trabalhar eficazmente em parceria nas
estruturas em rede.
A
criação
de
um
portal
de
acesso,
de
preferência
de
forma
coordenada
tem
muitas
particularidades: O leitor pergunta: onde encontro o que necessito? Em que idioma devo navegar
em uma biblioteca digital em rede mundial? Como pagar pelas informações que custam? O editor e
o autor perguntam: como posso proteger minha propriedade intelectual do mau uso, quando a
disponibilizo em rede mundial? O bibliotecário pergunta: como transpor os conteúdos, as obras
eletrônicas na biblioteca digital? Como ordeno as fontes, de forma que a oferta excessiva de
informações não confunda ainda mais o usuário? Como fazê-la fácil de pagar, rápida e segura?
A pergunta relativa aos conteúdos deve vir em primeiríssimo lugar. Como o bibliotecário recupera o
documento correto na biblioteca digital? Ingenuamente poder-se-ia dizer: ele digitaliza o acervo
impresso da biblioteca e providencia licenças para as obras que já nasceram digitais. Isto ele pode
fazer, se quiser disponibilizar as obras apenas localmente, para sua clientela fixa, muitas vezes
apenas nas dependências da biblioteca. Neste caso, teríamos uma biblioteca digital mas local e
muito limitada. Isto é bom para o usuário, que pode se dirigir rapidamente ao local, mas apenas se
a biblioteca puder dispor de um excelente acervo impresso e de muitos recursos financeiros para a
digitalização e a obtenção de licenças para o referido usuário. Mas, a biblioteca digital do futuro
não pode ser desta forma! A biblioteca digital do futuro será interligada em rede, para a qual
cooperam o maior número possível de bibliotecas e fornecedores de informação.
Naturalmente, via de regra, não podemos disponibilizar os conteúdos de uma biblioteca digital em
rede, puramente através da digitalização em massa e através da obtenção de licenças para
publicações eletrônicas. Assim simplesmente, só possível em casos de obras em domínio público.
Para obras que não estão em domínio público também é simples: não é possível! Quando se fala
em criação de bibliotecas digitais, é aconselhável que se pense em primeiro lugar no ponto central:
a questão dos direitos autorais dos documentos que queremos inserir em nossa biblioteca digital.
Não existe uma legislação européia relativa a direito autoral, mas uma legislação geral que
harmoniza os direitos autorais dos diferentes países, de forma que a maioria é válida para toda a
Europa. Nossos sistemas jurídicos permanecem, no entanto, distintos. Nesta palestra, não quero
me aprofundar na questão do direito autoral mas, adiante, irei rapidamente esquematizar a
situação jurídica na Alemanha e na Europa.
Meu tema de hoje é a criação da Biblioteca Digital Européia pela Associação de Bibliotecários de
Bibliotecas Nacionais (Conference of European National Librarians, CENL), cuja presidente atual sou
eu. Vou descrever rapidamente a ótica alemã dentro do contexto europeu – mesmo porque o tema
da palestra do Dr. Goebel será justamente a situação alemã.
2 - A Biblioteca Digital Européia
Não sei quantos de vocês utilizam diariamente o Google. Sou uma usuária contumaz e sou sempre
surpreendida, pelo grande número de respostas corretas que podem ser encontradas como
resultado do ranking específico do Google na primeira Encontrei um instrumento maravilhoso para
a pesquisa diária das questões práticas do dia a dia, que permite consultar através de uma
ferramenta de busca fenomenal em diferentes fontes, de forma abrangente. Em comparação com o
que bibliotecas e outros prestadores de serviços de informação oferecem em conforto na busca, o
Google é um Mercedes e o catálogo normal de uma biblioteca é uma bicicleta. Não me surpreendi,
quando recentemente em uma pesquisa entre estudantes, 89% dos que responderam disseram
que iniciam suas pesquisas através de uma ferramenta de busca e apenas 2% disseram iniciar
através da homepage de uma biblioteca. Se o Google será tão eficiente quando se tratar de textos
de livros e de revistas, não posso afirmar – eu iria me surpreender se, neste caso, fosse diferente.
Estou muito curiosa!
Mesmo que o resultado de uma grande ofensiva de digitalização permaneça aquém dos resultados
da busca simples através do Google – esta iniciativa provocou um fato importante em toda a
Europa: por toda parte, surgiu uma intensa discussão sobre a questão da digitalização
retrospectiva dos acervos das bibliotecas e arquivos, em nível nacional e internacional.
Esta discussão não teria maiores conseqüências políticas, não tivesse Jean-Noël Jeanneney tomado
a iniciativa em dezembro de 2004. Apenas depois disto, este tema teve enorme repercussão na
mídia. Todos os bibliotecários da Europa lhe são gratos pelo engajamento, sem o qual não
estaríamos em entendimentos com a Comissão Européia para a Sociedade de Informação e Mídias
e não estaríamos planejando a Biblioteca Digital Européia.
Desde que o Google anunciou em dezembro de 2004, a intenção de digitalizar os acervos das
bibliotecas das Universidades de Michigan, Stanford, Harvard e Oxford e também da Biblioteca
Pública de Nova York, Jean-Noël Jeanneney repetidas vezes argumentou na imprensa e também
em livro por ele escrito, que é necessária uma ação européia, para impedir uma dominância política
e informacional ainda maior da língua inglesa. Eclodiu uma verdadeira tempestade na mídia, que
se iniciou na França e rapidamente atingiu os outros países europeus. Ao final de abril de 2005, o
presidente francês Chirac enviou carta ao então presidente do Parlamento Europeu e ao presidente
da Comissão Européia Barroso. Além de Chirac, este documento foi assinado também pelos chefes
de Estado da Polônia, Alemanha, Itália, Espanha e Hungria, Kwasniewski, Schröder, Berlusconi,
Zapatero e Gyurcsany, respectivamente.
„Na carta consta: „a riqueza e a multiplicidade das bibliotecas européias são uma herança cultural
única e expressão da universalidade de uma parte do planeta, cuja história foi marcada pelo
diálogo com o resto do mundo“. Sem digitalização e acesso eletrônico, esta herança não poderá
encontrar a totalidade de seu lugar na geografia do conhecimento. Por esta razão, nos esforçamos
para obter o apoio dos recém iniciados trabalhos de digitalização de algumas bibliotecas européias,
como o objetivo de integração em rede e com isto a criação da biblioteca Digital Européia – uma
ação concentrada, para disponibilizar na Internet nossa herança cultural e científica, bem
estruturada e em grande estilo.“
A Comissão „pegou esta bola“ e muito rapidamente a jogou de volta.
2.1 - i2010 - a iniciativa da Comissão Européia para a Sociedade de Informação e Mídias
A nível da Comissão Européia, o documento dos seis chefes de estado em 1º de junho de 2005,
conduziu à iniciativa „i2010 – uma sociedade da informação européia para o crescimento e o
emprego „1. Em setembro, a presidente da Sociedade da Informação e Mídias, Viviane Reding,
formulou em um comunicado, o objetivo estratégico de disponibilizar, na Internet, a herança
escrita e audiovisual da Europa em uma Biblioteca Digital Européia (‚European digital library’)2. Ela
sugere um esforço concentrado de todos os estados membros na digitalização desta herança, na
guarda e no acesso para todos. The European Library, TEL, o portal que congrega 45 bibliotecas
nacionais, é explicitamente citado no texto.
Para a criação da Biblioteca Digital Européia foi realizada uma consulta online sobre questões
relativas à digitalização e à armazenagem digital, cujo prazo expirou em 20 de janeiro de 2006. Os
resultados desta consulta são aguardados com ansiedade, devendo influenciar outros programas e
atividades de fomento na União Européia. Um grupo de especialistas altamente qualificados foi
convidado e se reuniu, pela primeira vez, em 27 de março de 2006. Ele se constitui de
representantes das bibliotecas, das editoras, da indústria, de juristas e cientistas.
A Comissão Européia investiu, nos últimos 4 anos, uma verba de mais de 100 milhões de Euros em
bibliotecas digitais. Esta soma deve ser bastante ampliada nos próximos anos. Primordialmente,
devem ser desenvolvidos os seguintes pontos:
Manuseio inteligente das mídias digitais, indexação automática de textos, sons e imagens.
Otimização de ferramentas de busca multilíngues.
Criação de serviços que possibilitem procedimentos similares a Wikipédia .
Otimização dos processos de digitalização.
Rápida definição de procedimentos e sistemas de arquivamento permanente.
Se o planejamento da presidente da Comissão for seguido, já em 2006, se estará no caminho para
a Biblioteca Digital Européia com o trabalho conjunto de todas as bibliotecas nacionais da União
Européia, até 2010 devem estar disponibilizados 6 milhões de livros, documentos e outras obras,
não apenas das bibliotecas nacionais, mas também de arquivos, museus e de outras bibliotecas.
Centros de digitalização devem ser implementados, até 2008 o acesso multilíngüe às coleções deve
1
http://www.europa.eu.int/information_society/eeurope/i2010/docs/communications/com_229_i2010_3
10505_fv_de.doc
2
http://www.europa.eu.int/information_society/activities/digital_libraries/doc/communication/de_comm_
digital_libraries.pdf
ser realidade e devem ser concentrados esforços no sentido de proteger a propriedade intelectual,
com aplicação racional em relação às bibliotecas digitais.
2.2 - A perspectiva alemã
Uma ação concentrada em nível europeu necessita de estratégias e acordos em nível nacional. Na
França foi fundado o „Comité de Pilotage“, que coordena as atividades das bibliotecas, arquivos e
museus franceses. Imediatamente após o ofício dos seis chefes de governo europeus a Juncker e
Barroso, a então ministra de estado Weiss, como representante do governo federal para a Cultura
e Mídias assumiu a coordenação, na Alemanha há necessidade de coordenação externa em
questões culturais, por razões de responsabilidades de cada estado. Como resultado da primeira
rodada de conversações entre representantes das áreas de bibliotecas, arquivos, museus,
instituições de fomento, proteção de bens culturais e de diversos ministérios, tem-se:
O balanço das atividades de digitalização na Alemanha nas áreas de arquivos, bibliotecas e museus
deve ser apresentado até dia 30 de junho de 2006 pelo Fraunhofer-Institut para Comunicação de
Mídias.
Foi iniciada uma discussão sobre a constituição de uma fundação para digitalização e avaliação de
bens culturais.
As atuais necessidades européias devem também serem incluídas na discussão nacional na
Alemanha.
Em outubro de 2005 iniciou-se o trabalho neste Instituto. Em princípio, nos próximos meses devem
ser esclarecidas as seguintes questões (a ordem das questões é aleatória, que não deve ser levada
em conta no trabalho):
Dimensionamento da demanda para a digitalização de bens culturais. Engloba, entre outros
aspectos, a utilização pela ciência, formação, economia, mídias e outras áreas, aspectos de
marketing, segurança de bens culturais, evitar redundâncias.
Registro de bens culturais digitais inclui as questões do fluxo de trabalho, controle de qualidade,
aspectos técnicos e financeiros, padronização, exemplos de excelência na Alemanha e no exterior.
Apresentação e utilização dos dados digitalizados - portal, estrutura dos bancos de dados,
cooperações, autenticidade, avaliação jurídica e estratégias de marketing.
Arquivamento e disponibilização permanente de dados digitais – definição de questões técnicas em
aberto nas atividades em curso, capacidade de armazenamento, migração da microfilmagem para
digitalização.
O Fraunhofer-Institut para Comunicação de Mídias irá tentar responder questões sobre três
abordagens. deve haver uma profunda análise dos projetos escolhidos, atividades e planejamentos
na área de digitalização de bens culturais. Para complementar, o instituto realizou 10 viagens de
estudos. Foram realizadas 10 reuniões com um círculo de instituições de diversas áreas:
bibliotecas, arquivos, museus, instituições de pesquisa, prestadores de serviços de informações,
instituições de fomento, editoras, jornais, Conselho Europeu para Herança Digital. Workshops
temáticos devem complementar os resultados de ambas atividades. Está previsto que os primeiros
resultados estejam disponíveis até o final de abril, segundo os responsáveis e o conselho
do projeto.
3 - CENL e a Biblioteca Digital Européia
3.1 - CENL
A Associação de Bibliotecários de Bibliotecas Nacionais (Conference of European National
Librarians, CENL) participou da orientação online do „Comunicado“ da presidente da Comissão.
Assim como a presidente, a associação vê o seu serviço, a European Library como ponto de partida
ideal para a criação de uma Biblioteca Digital Européia.
Todas as bibliotecas nacionais dos estados membros do parlamento europeu, podem ser membros
da Associação de Bibliotecários de Bibliotecas Nacionais (CENL, www.cenl.org). Hoje, somos um
grupo de 45 bibliotecas de 43 estados membros. A CENL começou em 1987 como um encontro
informal de bibliotecários de bibliotecas nacionais da Europa ocidental, que se reuniam uma vez
por ano. Rapidamente, ficou muito claro a todos, quão importante era esta troca de experiências e
o estabelecimento das relações pessoais na preparação de projetos de cooperação. O grupo
aumentou continuamente, sobretudo, quando após a queda da cortina de ferro, muitos países do
leste tornaram-se membros do Parlamento Europeu, tendo sido convidados os bibliotecários das
respectivas bibliotecas nacionais. Em 1999 a CENL transformou-se em uma fundação segundo a
legislação holandesa. Wim van Drimmelen, diretor da Biblioteca Real em Haia, era presidente da
Associação por ocasião da transformação em fundação. Desde então, a Fundação é pessoa jurídica,
o que traz muitas vantagens na formalização da cooperação entre as partes.
Os diretores ainda se reúnem uma vez por ano, mas há também um grande número de grupos de
trabalho, projetos e planos conjuntos. Tradicionalmente e com sucesso sempre se buscou o
fomento de projetos por parte da Comissão Européia, mas muitas atividades são financiadas por
grupos cooperantes e sobretudo pelos próprios associados à CENL através das taxas de associação.
Em setembro de 1996 nasceu o Gabriel, um serviço www-CENL, que foi oferecido a quatro
servidores-espelhos em toda Europa – as páginas principais estão em três línguas: inglês, alemão
e francês.
Como conseqüência lógica da capacidade do Gabriel foi desenvolvida a idéia de possibilitar a busca
integrada em todos os catálogos e em todas as coleções digitais das bibliotecas da CENL. Foi o
nascimento da Biblioteca Européia (The European Library) TEL.
3.2 - TEL – A Biblioteca Européia
Desde o princípio estava claro que não seria simples abrigar, sob o teto de um prestador de
serviços, os diferentes padrões técnicos de metadados das bibliotecas nacionais européias,
historicamente diferentes. Depois que um estudo de viabilidade mostrou que seria possível, foi
encaminhado um requerimento à Comissão Européia, que foi deferido. Em 2001 iniciou-se o
trabalho no projeto da The European Library (TEL) com o financiamento da Comissão Européia.
Parceiros neste projeto eram as bibliotecas nacionais da Finlândia, Alemanha, Itália, Holanda,
Portugal, Eslovênia, Suíça e Inglaterra, em conjunto com o ICCU, o Instituto Nacional Italiano de
Catalogação e a CENL. A TEL foi concluída como um projeto de sucesso em 2004. 3 Um ponto
importante para o desenvolvimento contínuo do projeto é o modelo gerencial, já que a TEL deve
subsistir também sem o financiamento da União Européia – apenas pelas contribuições de seus
associados!
Desde então, têm-se trabalhado continuamente na criação e no desenvolvimento da TEL. Desde
2005 o serviço pode ser utilizado como versão Beta. O número de associados aumentou para 15
desde então.
Funções
A Biblioteca Européia é composta de 3 partes: busca, bibliotecas e preciosidades.
A busca é integrada em todos os catálogos dos atuais 15 associados integrais e também em 152
coleções individuais destas bibliotecas. Estas 152 coleções representam 80% dos acervos digitais
disponíveis nestas bibliotecas, os 20% restantes estão, no momento, com problemas técnicos ou
jurídicos. Uma busca simples é a busca padrão, uma busca especializada também é possível. Os
resultados são mostrados em forma de lista por ordem de bibliotecas. Se o usuário se decide por
uma determinada referência, ao clicar sobre esta referência são exibidos os dados completos e a
informação de onde localizar a obra. Aqui termina o conforto, usuário e bibliotecário permanecem
aguardando a Biblioteca Digital Européia tornar-se realidade.
A parte „biblioteca“ da TEL corresponde ao antigo Gabriel. O usuário encontra informações sobre
todas as bibliotecas associadas à CENL, as pessoas de contato, etc, em inglês, alemão e francês.
A parte „preciosidades“ da TEL é uma pequena exposição permanente. Aqui pode-se acessar
imagens de preciosidades de todas as bibliotecas cooperantes da CENL. Elas são mostradas em
cada busca, escolhidas ao acaso – nenhuma preciosidade é mais importante do que a outra, cada
uma é mostrada uma única vez.
Um grave problema para a TEL é a multiplicidade de idiomas. Neste meio tempo, o problema das
diferentes pontuações foi sanado. A interface está disponível nas línguas oficiais de todos os
associados integrais. A problemática dos idiomas na busca e recuperação está ainda sendo tratada
nos projetos: MACS, CrissCross, MSAC, VIAF e LEAF.
Até mesmo o logo é multilíngue: a denominação „The European Library“ é apresentada no logo, em
todas as línguas da CENL.
Organização e financiamento
A Biblioteca Européia pertence à CENL. O fato da CENL ser uma pessoa jurídica que pode celebrar
contratos, é bastante vantajoso. Assim fica claro que a TEL não pertence aos sócios fundadores
nem aos atuais sócios integrais, mas a todos os sócios, de modo que nunca se perca de vista o
objetivo da associação abrangente. Todos os associados à CENL pagam uma contribuição para a
TEL, como antes pagavam ao Gabriel, os sócios integrais contribuem com um valor maior, já que
seus dados e coleções são disponibilizados através da prestação de serviços em comum.
Sócios integrais são, atualmente, os parceiros iniciais do projeto, as bibliotecas nacionais da
França, Áustria, Croácia, Sérvia e, recentemente, a Dinamarca, a Letônia e a Estônia.
O trabalho diário é realizado por uma equipe de cinco pessoas, no escritório da Biblioteca Européia
(The European Library Office) na Biblioteca Real em Haia. Esta equipe é remunerada através da
3
Homepage do Projeto TEL: www.europeanlibrary.org
contribuição dos associados. Não remunerado é o trabalho de fundo, preparatório, que em todas as
bibliotecas associadas deve ser realizado, seja técnico, de conteúdo ou referente a idiomas.
Todo sócio integral está representado no conselho administrativo através de seu diretor. Aqui são
tomadas todas as decisões estratégicas. Como o conselho administrativo se reúne apenas duas
vezes ao ano, há um grupo executivo de três integrantes, que se reúne constantemente por
teleconferência, podendo tomar decisões rápidas quando necessário. Além deste, há outros grupos
de trabalho.
Crescimento
A Biblioteca Européia deve se expandir nos próximos dois anos, através da entrada de novos sócios
integrais e também deve haver uma expansão no conteúdo e na funcionalidade. Ambos os tipos de
expansão estão em dois diferentes projetos, um em andamento (TEL-ME-MOR) e um foi requerido
(EDL).
TEL-ME-MOR
O financiamento do TEL-ME-MOR4 se dá através da expansão recente da União Européia: já há
recursos disponíveis para a integração de dez novos estados membros. O projeto se iniciou em 1º
de fevereiro de 2005 e é a primeira medida abrangente que foi tomada para a integração dos
serviços de informação dos novos estados membros da União Européia nos serviços bibliotecários
da Biblioteca Européia. Com isto, há uma melhora significativa do acesso às fontes de informação
européias mais significativas das bibliotecas nacionais da Europa para cientistas, pesquisadores,
estudantes e comunidade em geral em toda a Europa. Um outro foco do projeto é a multiplicidade
de idiomas.
Biblioteca Digital Européia
Um outro projeto, cujo financiamento a CENL requereu à Comissão Européia, é a “European Digital
Library” (EDL). Através deste projeto, devem ser integrados os catálogos e as coleções digitais das
bibliotecas dos estados membros da União Européia e da Associação Européia de Livre Comércio
(EFTA) que ainda não são sócios integrais da TEL. Estes países são Bélgica, Grécia, Islândia,
Irlanda, Liechtenstein, Luxemburg, Noruega, Espanha e Suécia. Com isto, o número de associados
integrais e outros associados deve aumentar. Outro foco deste projeto é a disponibilização de
documentos e
A oferta de informações adicionais e, novamente a mutiplicidade de idiomas.
4 - Cronograma de trabalho da Biblioteca Digital Européia
Quando a TEL se transformar na Biblioteca Digital Européia, como pretendem a Comissão Européia
e a CENL, deve ser desenvolvido e implementado um amplo cronograma de trabalho.
Das muitas questões que são formuladas, no contexto da Biblioteca Digital Européia, quero, hoje,
citar apenas algumas: digitalização em massa ou seletiva, obtenção de direitos autorais, parceria
com os detentores dos direitos autorais, arquivamento permanente, multiplicidade de idiomas e
4
Homepage do Projeto TEL-ME-MOR: www.telmemor.net
questões administrativas, que decorrem da ampliação do leque de instituições cooperantes como
arquivos, museus e outras bibliotecas.
4.1 Digitalização em massa versus digitalização seletiva
O Google trouxe, definitivamente, o tema digitalização em massa para ser discutido pela
sociedade. Antes, não era factível por questões financeiras, hoje paira, principalmente, a pergunta
se é razoável digitalizar em massa, principalmente as obras em domínio público, sem avaliação do
conteúdo e da relevância. A favor disto, está o baixo custo intelectual, que pode ser coberto por
baixo valor
unitário de remuneração por cada obra: onde caros e altamente qualificados
especialistas não precisam avaliar, também não recaem altos custos. Sem contar que os
especialistas também se enganam. Quão certos podemos estar que obras que foram escolhidas
hoje, serão também importantes amanhã ou depois? Há fortes argumentos para a escolha de um
acervo inicial abrangente, mesmo que a mesma obra seja múltiplas vezes digitalizada em
diferentes projetos de digitalização em massa, o que representa um almejado controle de
qualidade, enquanto os custos individuais permanecerem baixos. Contra a digitalização em massa
e a favor de uma escolha seletiva, são apresentados os custos como argumentos. Será que a
disputa pelo primeiro lugar das grandes ferramentas de busca e produtoras de software trará
dinheiro suficiente para os caixas da digitalização em massa? Será que nossos mantenedores de
bibliotecas, instituições de ensino, fundações, a União Européia, estão realmente dispostos a
financiar a digitalização em massa ou preferem um procedimento seletivo? O que nos deve ser
importante? Disponibilizar em formato digital, todas as obras, até aquelas mesmo aquelas que,
pela perspectiva de hoje, são efêmeras, cientificamente ultrapassadas e obsoletas? Certamente
não há avaliações nem julgamentos a respeito e isto é bom. No entanto, teremos sim que nos
ocupar com critérios de avaliação, por motivos financeiros. Quão objetivos deveremos ser?
Mesmo que não haja a questão da seleção para manuscritos, impressões dos séculos 16, 17 e
talvez até do século 18, o mais tardar nos séculos 19, 20 e 21 não conseguiremos escapar, pela
quantidade de obras. Faz sentido, disponibilizar eletronicamente obras, que há décadas ou mesmo
séculos, permanecem quietamente empoeirando em nossas estantes? Ou seria que, com o auxílio
da digitalização em massa recuperamos tesouros, preciosidades ocultas que são trazidas à luz da
comunidade científica? Não devemos nos rejubilar que, finalmente, tenhamos dinheiro para
incrementar disciplinas relacionadas à história? Uma coisa me é clara: os primeiros que irão
desfrutar deste empurrão tecnológico são as ciências sociais em sentido amplo e as disciplinas
relacionadas à história. Que ciências naturais, tecnológicas, e medicina sejam redescobertas,
parece-me improvável. O peso das ciências sociais e antropológicas das diferentes culturas, foi
muitas vezes pouco reconhecido no passado. Mudança de tendência? Não sei. Se assim fosse, seria
maravilhoso. Devemos aproveitar este tempo, enquanto assim parecer ou assim for.
Minha posição em relação a este ponto seria: se alguém se mostrar disposto a disponibilizar
recursos para digitalização em massa ou seletiva do patrimônio cultural, devemos recebê-los e nos
preocupar em celebrar contratos que englobem tanto o interesse da comunidade, como também o
do detentor dos direitos autorais. Devemos aceitar todos os recursos que forem oferecidos neste
contexto, seja do Google ou de outrem. Não devemos nos preocupar muito se o trabalho em massa
é melhor do que o seletivo, enquanto estiver garantida a qualidade dos dados digitalizados,
principalmente no que concerne à acessibilidade permanente.
4.2 - Obtenção de direitos autorais
Quais obras estão sob proteção dos direitos autorais? Em princípio todas cujos detentores dos
direitos autorais não concederam, expressamente, estes direitos. Não havendo concessão, eles
vigem por 70 anos após a morte do autor, sendo indiferente quando as obras foram editadas. Há
exceções a esta regra que não quero abordar aqui, por ex., jornais. Em princípio é proibido
disponibilizar em forma digital ilimitadamente, obras cujo autor não esteja morto há 70 anos.
Dados digitais só podem estar disponíveis online, se estiverem em domínio público ou se o
detentor do direito autoral, explicitamente, autorizar.
A grande quantidade fazem que estas obras protegidas por direito autoral, sejam a parte do leão
em nossas bibliotecas. Isto está relacionado com o desenvolvimento da quantidade de publicações
ao longo dos séculos desde a invenção da imprensa – a própria invenção da imprensa deu início a
uma avalanche de publicações. Posso dizer-lhes quantas obras ou títulos foram editados na
Alemanha em diferentes épocas. As épocas são definidas pelas responsabilidades das bibliotecas
da Associação da Coleção de Impressões Alemãs (Arbeitsgemeinschaft Sammlung Deutscher
Drucke): cada uma das seis bibliotecas responsabilizou-se por obter a integralidade da coleção nas
diferentes épocas. Os números para os anos de 1901 até 1912 não me são conhecidos – eu os
deduzi.
A tabela mostra que, mais de 80% dos títulos alemães foram editados após 1900. Suponho que os
dados
5
sejam
semelhantes
Época
Obras/Títulos
-1500
27.000
1501-1600
140.0005
1601-1700
265.0006
1701-1800
600.0007
1801-1870
511.9788
1871-1900
525.000
Parte total 1
2.068.978
1901-1912
210.000
1913-2005
9.000.000
Parte total 2
9.210.000
no
contexto
europeu.
Porcentagem
18,3 %
81,7 %
VD 16 (Vorwort): "140.000-150.000 Titel". Die Berechnungen der BSB München auf der Basis des VD 16 und
Verbundkataloges belaufen sich auf 121.000 Titel.
Vgl. Müller, Wolfgang: Die Drucke des 17. Jahrhunderts im deutschen Sprachraum, Wiesbaden 1990.
7
Vgl. Fabian, Sommer: Erste Planungen für ein Verzeichnis der im deutschen Sprachraum erschienenen Drucke des 18. Jahrhunderts (VD
18). In: Bibliotheksdienst 38 (2004) 12, S. 1567.
8
Zahlenschätzungen für das 19. Jh. nach Paschke/Rath: Lehrbuch des deutschen Buchhandels. – Bd 1. - 3. Aufl. - Leipzig
1912, S. 68.
6
Total
11.278.978
100 %
Deixem-me ilustrar com o exemplo de uma conta simples, o que isto significa para a digitalização e
a disponibilização de dados em rede: uma pessoa com idade de 30 anos, escreveu um livro em
1900, que foi editado no mesmo ano. 40 anos mais tarde, esta pessoa falece com a idade de 70
anos. Isto em 1940. Apenas 70 anos mais tarde, no ano de 2010 a obra entra em domínio público.
Se quisermos digitalizar hoje esta obra editada em 1900, podemos fazê-lo como biblioteca, se a
tivermos no acervo, a colocação na rede seria apenas dentro de 4 anos. Isto é apenas um
exemplo. Os autores são às vezes mais jovens ou mais velhos, falecem mais cedo ou mais tarde,
mas vocês devem me dar razão que o exemplo tem um fundo de verdade.
Se não quisermos abrir mão da literatura dos séculos 20 e 21 na nossa biblioteca digital ou
disponibilizar esta literatura online apenas nas dependências da biblioteca, devemos obter os
direitos autorais para muitas obras. Tudo o que foi publicado após 1940 está, com certeza, sob
proteção dos direitos autorais, se não soubermos com certeza que estão livres, por algum motivo.
No entanto, já desde 1850 não há épocas seguras, menos ainda entre os anos de 1900 até 1940. A
obtenção de direitos autorais não é apenas trabalhosa e onerosa, mas também é certo que não se
terá sucesso em todos os casos. Em sua pesquisa, Denise Troll Corvey tentou localizar os direitos
autorais de publicações escolhidas ao acaso, em 19% dos casos não obteve sucesso. Quando
percorro o acervo da Biblioteca Alemã, em cerca de 1,7 milhões de títulos, dentre os 9 milhões
disponíveis, não será possível descobrir quem detém os direitos autorais – obras órfãs („orphaned
works“). Dependendo da abordagem na definição dos direitos, Denise Troll Corvey calcula custos
de 200 Euros, 78 Euros e 0,69 centavos de Euro, por título.
Digno de menção nesta pesquisa é o fato de que apenas cerca de ¼ dos detentores de direitos
autorais negaram a autorização para a digitalização de suas obras pela biblioteca e para
disponibilização em rede. Compensa perguntar, mas deve-se planejar os custos de obtenção de
direitos, realisticamente, também nestes dois casos de insucesso (obras órfãs e as sem
autorização).
4.3 - Parceria com os detentores dos direitos autorais
Cada vez mais editores estão dispostos não apenas a publicar digitalmente, mas a disponibilizar
uma lista retrospectiva em formato digital – seja suas próprias ofertas ou ofertas através da
Amazon Search inside ou Google Print. Atualmente, há um interessante fato na Alemanha. Depois
que alguns editores alemães colocaram seus livros à disposição do Google, houve a iniciativa da
Câmara do Livro Alemã de oferecer um serviço inicialmente chamado de busca em texto integral.
Em última análise, este serviço deve funcionar como o Google ou a Amazon, apenas os dados estão
armazenados em servidores próprios ou em um servidor comum a todos, a situação jurídica está
assegurada – sob a ótica desta iniciativa, é assim mais seguro do que com Google & cia. Até a
metade de 2006, cerca de 100 editores pretendem disponibilizar seus títulos.
Estas ofertas e também ofertas de obras já primariamente editadas em formato digital (born
digital) não estão amplamente disponíveis para bibliotecas, em um primeiro momento. Na minha
opinião o que seria desejável é a possibilidade de se construir links entre dados bibliográficos e as
ofertas das editoras ou agências e prestadores de serviços. No caso das revistas, foi muito difícil a
negociação para o acesso aos artigos integrais. Por motivos econômicos compreensíveis, os
editores de revistas científicas não quiseram abrir mão de um modelo seguro de comercialização de
assinaturas, que mesmo no mundo digital, garante a entrada anual de recursos.
A situação das monografias é outra. Nelas, não existem estes modelos e a regra é a
comercialização individual. Aqui deveriam ser possíveis acordos entre bibliotecas e prestadores de
serviços, mesmo em ofertas retrospectivas como a anteriormente citada iniciativa da Câmara
Alemã. O acesso direto aos textos integrais digitais deveria ser igualmente atrativo aos editores,
bibliotecas e seus usuários, que se transformariam em clientes mais rapidamente.
Com muita freqüência, os textos integrais não estão à disposição. Frequentemente, os editores
disponibilizam informações em suas homepages, que se prestam à propaganda do que nós
bibliotecários poderíamos adquirir para o acervo. Meu tema é biblioteca digital e meu objetivo, dito
ao princípio, é a disponibilidade de textos integrais. O que faremos, se os direitos autorais não
forem concedidos, se os detentores destes direitos não disponibilizarem o texto integral ou se nos
faltam os recursos para a digitalização? A meu ver, melhor do que a referência bibliográfica pura e
simples, é a disponibilização de informações digitais adicionais, sejam índices, sumários, abstracts,
imagens, informações sobre o autor, resenhas, etc. Estas informações podem ser adquiridas, ou
podem ser geradas dentro da instituição.
Voltemos à questão do uso dos recursos para a digitalização: poucas obras integrais ou muitas
obras apenas com a página de rosto, índice, sumário, abstracts, etc? Tendo para a segunda opção,
mesmo sem tê-la aplicado em grande estilo.
4.4 - Longevidade da digitalização
Creio que seja um desperdício a criação de bibliotecas públicas digitais, bem como os projetos
públicos de digitalização que não assegurem, concomitantemente, o arquivamento permanente,
desta forma, é especialmente louvável que o projeto europeu i2010 foque especificamente a
longevidade.
Existem diversos projetos de arquivamento permanente na Europa, em nível nacional e europeu.
Dentre estes últimos está o novo projeto europeu Planets, sob a coordenação da British Library e o
European Task Force Permanent Access, sob a coordenação da Biblioteca Real da Biblioteca
Nacional da Holanda.
Na Alemanha, há o Nestor e o Kopal, ambos são projetos de cooperação, de importância
estratégica para preservação permanente da herança cultural. Ambos os projetos são executados
em parceria com diversas instituições, sob a coordenação da Biblioteca Alemã.
O objetivo do projeto Nestor é uma rede de excelência em disponibilidade permanente das fontes
informacionais digitais na Alemanha. Esta rede deve assegurar que as fontes digitais alemãs sejam
arquivadas, asseguradas e disponibilizadas de forma permanente. Através de parcerias nacionais e
internacionais deve ser desenvolvida uma contribuição para a continuidade da herança cultural
global. Entre outros, os seguintes pontos estão sendo trabalhados dentro do projeto:
Um forum de informação em língua alemã, em ambiente web com diversas sugestões de
arquivamento e disponibilização permanente de fontes digitais na Alemanha.
Critérios para arquivos digitais confiáveis
Sugestões para procedimentos de certificação de arquivos digitais
Sugestões para diretrizes das coleções e critérios de avaliação para o arquivamento de fontes
digitais
Princípios de arquivamento permanente de fontes digitais
Uma estrutura de trabalho para a disponibilização permanente de fontes digitais em museologia
Concepção de uma forma de organização duradoura da competência em rede e no fórum de
informação
Acordo sobre a divisão de tarefas e a assunção de tarefas permanentes, especialmente na
delimitação das áreas de biblioteconomia, arquivologia e museologia
Objetivo da KOPAL – Criação Cooperativa de um Arquivo Permanente de Informações Digitais – é a
experiência prática e a implementação de um sistema cooperativo de arquivamento permanente de
informações digitais. Como parceiros, a Biblioteca Alemã, a Biblioteca Estadual e Universitária da
Baixa-Saxônia em Göttingen e a IBM alemã, querem implementar uma solução cooperativa para a
disponibilização permanente de fontes digitais. A infraestrutura tecnológica é de responsabilidade da Sociedade para o Processamento de Dados
Científicos
mbH
Göttingen.
A participação da Biblioteca Alemã como biblioteca de conservação e da Biblioteca Estadual e
Universitária de Göttingen como um centro de informações universitário inovador, assegura que os
diferentes níveis de perspectivas conceituais complementares e diferentes interesses dos usuários
serão atendidos. A implantação tecnológica da funcionalidade a ser realizada na KOPAL baseia-se
em trabalhos preparatórios realizados pela Biblioteca Real da Holanda e pela IBM como projeto em
conjunto desde o ano de 2002. O desenvolvimento contínuo de um sistema em cooperação, com
interfaces padrão no contexto da KOPAL, é de responsabilidade da IBM. O software desenvolvido
pelos parceiros devem receber o status "Open Source". Mesmo durante o desenvolvimento do
projeto, uma grande quantidade de dados heterogêneos devem ser inseridos no sistema, para a
comprovação da eficiência e da operacionalidade desta concepção, colocando à prova as condições
de um empreendimento produtivo.
4.5 - Busca e resultado em um contexto multilingüe
A Europa é uma região de muitos idiomas. Tomando-se os estados membros do Parlamento
Europeu, a Europa se compõe de 46 países, com uma população de 800 milhões de pessoas e 74
línguas oficiais9, dentre elas, apenas na federação russa são faladas 24 línguas.
Considerando-se apenas os 25 países da União Européia, o alemão é língua materna de quase 20%
dos cidadãos da União Européia e com isto, a língua falada pelo maior número de pessoas nesta
região. Mais de 10% dos europeus falam alemão como língua estrangeira, significando que 30%
dos cidadãos da União Européia falam alemão. Comparando-se: o inglês é a língua mais falada na
União Européia com 47% (13% como língua materna e 34% como língua estrangeira), o francês
vem em terceiro lugar com 23% (12% língua materna e 11% como língua estrangeira).
De volta para a Europa do Conselho Europeu: quando falo sobre uma biblioteca digital européia,
penso em uma biblioteca que, em princípio, se destina a 800 milhões de pessoas com 74 línguas
9
Liste der Amtssprachen: http://de.wikipedia.org/wiki/Liste_der_Amtssprachen
diferentes. A Biblioteca Digital Européia é também, através da Internet, parte de uma biblioteca
digital global.
Se fosse pela significância numérica das línguas do mundo, teríamos que criar uma biblioteca
digital em chinês, já que o chinês é falado por mais de um bilhão de pessoas, sendo a língua
materna mais falada. Segue-se o inglês (508 milhões), hindu (487 milhões), espanhol (417
milhões), russo (277 milhões), bengali (211 milhões), português (191 milhões), alemão (128
milhões), francês (128 milhões) e japonês (126 milhões). Se forem considerados não apenas os
que falam como língua materna, mas também os que falam como língua estrangeira, o prognóstico
é de que um terço da população mundial falará inglês.
A Internet está cada vez menos monolíngue e os conteúdos em outras línguas que não o inglês se
multiplicam – do mesmo modo que o número de usuários da Internet, cuja língua materna não é o
inglês. A divisão por idiomas modificou muito nos últimos 10 anos: em 1996 a população online era
de 40 milhões de pessoas com inglês como língua materna e 10 milhões com outras línguas. Em
2005 a população online era de 280 milhões de pessoas com inglês como língua materna e de 680
milhões com outras línguas. 10
Por outro lado, o perfil do usuário da Internet se modificou. No princípio, eram primordialmente
cientistas e pesquisadores, hoje um largo espectro da população utiliza as ofertas do comércio
eletrônico, da indústria de lazer, para estudo e formação, etc. Ambas modificações – a mudança
nos idiomas e no perfil do usuário – aumentam a pressão sobre os prestadores de serviços no
sentido de oferecer serviços multilíngues, eliminando a barreira lingüística. Isto serve também para
nós bibliotecários, quando quisermos que nossos serviços se expandam para além das paredes da
biblioteca.
Organização e estrutura
A Comissão Européia pretende apoiar a criação de um acesso multilíngue às fontes digitais das
instituições culturais da Europa, dentro da infra-estrutura do projeto TEL. Em princípio, esta
intenção da CENL foi aceita, recebida com entusiasmo e com um pouco de orgulho. Ao lado de
diversas questões relativas a conteúdo que acabei de citar, a CENL também deve esclarecer
questões organizacionais e estruturais.
Atualmente, como expus, a TEL pertence à CENL. A CENL representa com seus 45 membros dos
estados do Parlamento Europeu mais bibliotecas nacionais do que apenas dos 25 estados da União
Européia. No momento, não vejo como tendência que a CENL venha a aceitar outros membros que
não sejam bibliotecas nacionais.
A TEL, ao contrário, é um sistema suscetível de ser desenvolvido, que permite o acesso a muitas
fontes de informação descentralizadas. Desde o princípio, o escalonamento e desenvolvimentos
tecnológicos estavam previstos na estrutura do sistema. Enquanto houver um relacionamento
excludente entre a TEL e a CENL, não será possível uma ampliação da TEL e de outros tipos de
instituições.
Uma solução seria dissolver a exclusividade da relação entre TEL e CENL e estabelecer, por
contrato, outras parcerias. Esta parceria seria entre a CENL e a Comissão Européia. A CENL poderia
englobar a TEL em sua forma atual ou desenvolvê-la separadamente, mas deveria disponibilizar a
TEL para a implantação da Biblioteca Digital Européia. Tecnicamente, nada mudaria no sistema de
10
http://global-reach.biz/globstats/index.php3
armazenagem de dados descentralizados
da máquina central de acesso. Administrativamente,
uma outra estrutura deveria ser implementada, que, num primeiro momento, englobasse todas as
estruturas da TEL, isto é, escritórios, conselho executivo, grupos de trabalho, etc. As estruturas
atuais da TEL continuariam existindo sob um novo teto, juridicamente, entretanto, seria uma nova
estrutura, que em caso de conflito pudesse ser descartada. Se o projeto da Comissão Européia
fracassar, a CENL poderia reativar as antigas estruturas da TEL e continuar o trabalho. No caso
bastante desejável de o projeto ser bem sucedido, o trabalho aconteceria nas novas estruturas.
Assuntos puramente referentes a CENL e desinteressantes para a Comissão, porém, deverão
continuar sendo trabalhados em estruturas suplementares, No entanto, para a maioria das
necessidades haveria grandes efeitos sinergéticos para a Comissão e para a CENL; a Comissão,
teria a vantagem adicional da inicialização rápida, garantida pela plataforma já existente.
A governança da TEL, isto é, os órgãos e estruturas onde são tomadas as decisões, deve ser
sucessivamente ampliada, de modo a permitir a representação de membros não associados à
CENL, os arquivos, os museus e as outras bibliotecas.
Last but not least deve ser decidido se a Biblioteca Digital Européia se chamará European Digital
Library ou The European Library.
Resumo
Se sob a denominação European Digital Library ou The European Library – a colocação em rede dos
recursos digitais descentralizados e de metadados das mídias tradicionais, não deve se resumir às
fronteiras européias. A ampla conexão em rede com repositórios digitais semelhantes, deve ser o
objetivo a longo prazo. Conferências como esta possibilitam a troca de informações e fortalecem o
contato pessoal.
Eu agradeço aos organizadores deste evento para excelente oportunidade de poder falar sobre a
Biblioteca Digital Européia e agradeço a todos pelo seu interesse!
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A Biblioteca Digital Alemã Palestrante: Elisabeth - Goethe