O ALCIDES CARNEIRO E O INTERESSE PÚBLICO
Gastão Reis
Nas eleições de 2008 para prefeito e vereadores, eu me lembro bem do
entusiasmo de partidos e de políticos quando surgiu a notícia de que a Câmara
Municipal de Petrópolis poderia ter o número de vereadores ampliado de 15
para 19 ou mesmo 21. Na mesma época, uma pesquisa levada adiante por um
jornal local via internet apresentava um quadro diametralmente oposto: uma
amostra representativa dos eleitores petropolitanos deixava claro que cerca de
80% dos pesquisados eram contra essa ampliação das cadeiras de vereança e
uma percentagem significativa achava mesmo que deveria diminuir. Esse racha
entre a população e seus representantes era, é e será sempre preocupante
quando acontece. No plano federal, a lei da Ficha Limpa, nascida fora do
Congresso por iniciativa popular, é um outro exemplo dessa falta de sintonia
fina entre a Nação e aqueles que a representam. Em especial, quando temos
em mente que não havia clima no Congresso para que ela fosse adiante
naquela casa. Representantes devem ser fiéis, espera-se, aos anseios de seus
representados.
Este intróito nos alerta para o que está acontecendo com o Hospital
Alcides Carneiro - HAC. Eu já tive a oportunidade de assistir a três
apresentações sobre o trabalho que vem sendo realizado pelo SEHAC – Serviço
Social Autônomo Hospital Alcides Carneiro. O SEHAC, criado por lei aprovada
pela Câmara Municipal de Petrópolis e mantenedor do HAC, é uma entidade de
direito privado, sem fins lucrativos e com fins sociais, ligada ao setor público,
porém não-estatal. Seu Conselho Deliberativo é formado por pessoas de moral
ilibada, cujo histórico de vida se mantém fiel à defesa dos interesses maiores
da comunidade petropolitana.
Tive, portanto, a oportunidade de acompanhar de perto a revolução que
vem sendo feita no HAC em benefício de nossa população. O primeiro passo foi
estabelecer um processo de gestão profissional com o estabelecimento de metas
a serem atingidas, determinadas pelo poder público municipal através da
Secretaria de Saúde, com concomitante definição de indicadores de acompanhamento de desempenho do que se pretende atingir. Cuidados foram
tomados para evitar que o modelo de gestão fosse questionado. Um dos
membros do Conselho Deliberativo do SEHAC, jurista de reconhecido saber,
deu sua contribuição para montar uma blindagem institucional que
respeitasse criteriosamente a legislação existente e, ao mesmo tempo, abrisse
espaço para que o HAC pudesse ser gerido em novas bases. Aquelas capazes de
efetivamente atender às necessidades dos munícipes sem os problemas
recorrentes denunciados antes, com freqüência, pela imprensa local.
Implantado o SEHAC, teve início o processo de detecção de desperdícios
e de retreinamento e expansão das equipes de atendimento nos moldes de uma
nova cultura de eficiência e eficácia, ou seja, de fazer certo a coisa certa na
clarividente definição de Peter Drucker, o guru dos gurus em matéria de gestão
cinco estrelas.
[CONTINUA]
Dentre muitos itens de desperdícios cortados, merece registro um deles,
que proporcionou uma economia anual de R$ 480 mil em combustível utilizado
pela caldeira do hospital. Outros benefícios como a criação de 450 novos
empregos geradores de salários também são significativos. O fato de ter sido
credenciado como hospital de ensino permitiu que o aporte anual do Ministério
da Saúde saltasse de 6,4 para 21,4 milhões de reais. A própria prefeitura, que
antes arcava com um custo anual de manutenção de quase R$ 24 milhões,
hoje contribui com cerca de R$ 14 milhões. Importante ressaltar que os atuais
atrasos nesses repasses seriam muito maiores se o valor do aporte fosse o
anterior. As melhorias substanciais na clínica médica, na ginecologia, na
maternidade, na UTI e na UTI neonatal, tudo isso com prestação de contas
regulares, compõem um quadro em que a grande beneficiária é a população da
cidade. Mais ainda: a FASE – Faculdade de Medicina já dá sua contribuição ao
município pelo uso do hospital ao destinar recursos mensais ao pagamento de
médicos, enfermeiros e professores que trabalham no HAC, além de ter
investido na modernização da gestão e da infraestrutura do Hospital, só nos
últimos dois anos, mais de R$ 4.000.000,00 em obras e equipamentos.
Merecem registro à parte, pela relevância, quatro outros fatores. O
primeiro é o grau de satisfação de 85,7% dos usuários dos serviços de saúde do
HAC. Cerca de nove em cada dez! O segundo foi a decisão, por unanimidade,
do Conselho Municipal de Saúde, com ampla representação da população, de
apoiar e reconhecer as mudanças positivas implementadas pelo SEHAC. O
terceiro é que o poder executivo municipal atual e o anterior compartilham da
avaliação de que o SEHAC foi um avanço considerável na saúde municipal. O
quarto é a posição de apoio ao SEHAC dos próprios funcionários do HAC.
Diante de tais fatos, repito, fatos, é difícil entender o posicionamento do
Ministério Público e da CPIM – Comissão Parlamentar de Inquérito Municipal
de propor o retorno da administração do hospital para a prefeitura. Em
especial, quando todos sabemos que ela não tem condições financeiras para
assumir esse encargo. O risco de se retornar ao lamentável quadro anterior de
desperdícios e mau atendimento no HAC nos conduz à questão maior: onde
fica o interesse público na saúde de Petrópolis? Foi esquecido?
Minha identificação: Gastão Reis Rodrigues Pereira
Empresário e economista
Meu site: www.smart30.com.br
E-mail: [email protected]// Cel. 24 9272-8586
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