Mediação Didática CONCEITOS Referência: Livro: Didática. Autor: José Carlos Libâneo Unidade I. PRÁTICA EDUCATIVA, PEDAGOGIA E DIDÁTICA A Pedagogia (Grécia antiga: paidós: criança e agogé: condução) é a ciência que investiga a teoria e a prática da educação, nos seus vínculos com a prática social global. A Didática (expressão grega: techné didaktikéé arte ou técnica de ensinar) uma disciplina que estuda os objetivos, os conteúdos, os meios e as condições do processo de ensino tendo em vista finalidades educacionais, que são sempre sociais, ela se fundamenta na Pedagogia, sendo assim, é uma disciplina pedagógica. A Pedagogia estuda a Educação nos seus aspectos sociais, políticos, econômicos, psicológicos. Recorre à contribuição de outras ciências como a Filosofia, a História, a Sociologia, a Psicologia e até a Economia para descrever e explicar o fenômeno educativo. Os estudos da Pedagogia acabam por convergir na Didática, uma vez que esta reúne em seu campo de conhecimentos objetivos e modos de ação pedagógica na escola. A educação é uma prática social, que acontece numa grande variedade de instituições e atividades humanas, como na família, na escola, no trabalho, nas igrejas, nas organizações políticas e sindicais, nos meios de comunicação de massa, etc. e, com isso, surgem modalidades de pedagogia, como a pedagogia familiar, a pedagogia política, a pedagogia escolar... e, neste último caso, configuram-se as disciplinas pedagógicas (Teoria da Educação, Teoria da Escola, Organização Escolar, Didática – como Teoria do Ensino). O ensino, a atividade principal do professor, consiste em dirigir, organizar, orientar e estimular a aprendizagem escolar dos alunos. Os conhecimentos pedagógicos gerais e específicos são direcionados para a condução do processo de ensinar e de suas finalidades, modos e condições. Temas desta unidade: I.1 Prática educativa e sociedade; I.2 Educação, instrução e ensino; I.3 Educação Escolar, Pedagogia e Didática; I.4 A Didática e a formação profissional dos professores. I.1 Prática educativa e sociedade Educação ou prática educativa: fenômeno social e universal. Atividade humana necessária à existência e ao funcionamento de todas as sociedades. A educação prepara o indivíduo para a participação na vida social. Não há sociedade sem prática educativa. Trabalho docente é parte integrante do processo educativo mais global. Os indivíduos são preparados pelas sociedades, para sua participação ativa e transformadora nos diversos campos da vida social. A prática educativa é uma exigência da sociedade. É o processo que dá conhecimentos e experiências culturais ao indivíduo, em função das necessidades econômicas, sociais e políticas da coletividade. Indivíduo – ação educativa + influência do meio social – indivíduo - relação ativa e transformadora – influencia o meio social. (por meio de conhecimentos, experiências, valores, crenças, modos de agir, técnicas e costumes acumulados por gerações, transmitido assimilados e recriados). EDUCAÇÃO (SENTIDO AMPLO) 1 processos formativos que ocorrem no meio social: familiar, profissional, espiritual (religioso); prática educativa numa grande variedade de instituições e atividades sociais decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade (família, na escola, no trabalho, nas igrejas, nas organizações políticas e sindicais, nos meios de comunicação de massa, etc.) EDUCAÇÃO (SENTIDO ESTRITO) em instituições específicas, escolares ou não, com finalidades de instrução e ensino, mediante uma ação consciente, deliberada e planificada, sem separar-se dos processos formativos gerais (sentido amplo). INFLUÊNCIAS EDUCATIVAS Educação não-intencional ou informal: 1. influências do contexto social e do meio ambiente sobre os indivíduos; 2. processos de aquisição de conhecimentos, experiências, idéias, valores, práticas, que não estão ligados especificamente a uma instituição e nem são intencionais e conscientes. 3. situações e experiências casuais, espontâneas, não organizadas; 4. ex: formas econômicas e políticas de organização da sociedade, das relações humanas na família, no trabalho, na comunidade, dos grupos de convivência humana, do clima sócio-cultural da sociedade, etc.; Educação intencional, formal ou não-formal: 1. influências em que há intenções e objetivos definidos conscientemente; 2. educação escolar ou extra-escolar; 3. intencionalidade, consciência por parte do educador, quanto aos objetivos e tarefas que deve cumprir (pai, professor, adultos em geral); 4. conforme o objetivo, variam-se os meios: o educação não-formal: atividade educativa estruturada fora do sistema escolar convencional. o educação formal: ações de ensino com objetivos pedagógicos explícitos, sistematização, procedimentos didáticos. 5. educação escolar é suporte e requisito das demais; 6. educação escolar básica – possibilita ao indivíduo aproveitar e interpretar, consciente e criticamente, outras influências educativas. Impossível, na sociedade atual (evolução dos conhecimentos científicos e técnicos, diversidade de influências educativas), a participação efetiva dos indivíduos e grupos nas decisões da sociedade: A educação é socialmente determinada; desde o início da história da humanidade tempos o homem vive em grupos, trava relações diante da necessidade para garantia da sobrevivência; Relações se transformam, surgem novas necessidades, divisão do trabalho conforme sexo, idade, ocupações; desigualdade econômica e de classes – relações sociais no capitalismo são fortemente marcadas pela divisão da sociedade em classes (capitalistasXtrabalhadores); Privação das necessidades culturais e espirituais dos trabalhadores; Trabalhadores recebem educação voltada exclusivamente para o trabalho físico (passivo, conformista); Minoria dominante dispõe de meios para difundir sua própria concepção de mundo (ideologia); 2 1.2 Educação, instrução e ensino Educação é um conceito amplo que se refere ao processo de desenvolvimento onilateral da personalidade, envolvendo a formação de qualidades humanas – físicas, morais, intelectuais, estéticas – tendo em vista a orientação da atividade humana na sua relação com o meio social, num determinado contexto de relações sociais. Gama de influências e inter-relações que convergem para a formação de traços da personalidade social e do caráter. Nesse sentido, educação é instituição social; é um produto, significando os resultados obtidos pela ação educativa; é processo por consistir de transformações sucessivas tanto no sentido histórico quanto no desenvolvimento da personalidade. A instrução se refere à formação intelectual, formação e desenvolvimento das capacidades cognoscitivas mediante o domínio de certo nível de conhecimentos sistematizados. O ensino corresponde a ações, meios e condições para realização da instrução; contém, pois, a instrução. A instrução está subordinada à educação. Pode-se instruir sem educar, e educar sem instruir. O ensino é o principal meio e fator da educação – ainda que não o único – e, por isso, destaca-se como campo principal da instrução e educação. Neste sentido, quando mencionamos o termo educação escolar, referimo-nos a ensino. 1.3 Educação escolar, Pedagogia e Didática A educação escolar constitui-se num sistema de instrução e ensino com propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto grau de organização, ligado intimamente às demais práticas sociais. Educação escolar: democratização do conhecimento. A Pedagogia é um campo de conhecimentos que investiga a natureza das finalidades da educação numa determinada sociedade, bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo em vista prepará-los para as tarefas da vida social. Vincula-se a opções sociais e políticas referentes ao papel da educação num determinado sistema de relações sociais. Por ser uma ciência da e para a educação, a Pedagogia estuda a educação, a instrução e o ensino. Educação escolar: manifestação peculiar do processo educativo global; Pedagogia: determinação do rumo desse processo em suas finalidades e meios de ação; Ensino: campo específico da instrução e educação escolar. São ramos da Pedagogia: Teoria da Educação; Didática; Organização Escolar; História da Educação e da Pedagogia. A Pedagogia busca em outras ciências (Filosofia, Psicologia, Biologia, Economia e Sociologia da Educação, etc.) os conhecimentos teóricos e práticos que concorrem para o esclarecimento do seu objeto, o fenômeno educativo. O conjunto desses estudos permite aos futuros professores uma compreensão global do fenômeno educativo, especialmente de suas manifestações no âmbito escolar. Essa compreensão diz respeito aos seguintes aspectos: aspectos sócio-políticos da escola; dimensões filosóficas da educação (natureza, significado e finalidades, em conexão com a totalidade da vida humana); relações entre a prática escolar e a sociedade; 3 processo do desenvolvimento humano e da cognição; bases científicas para seleção e organização dos conteúdos, dos métodos e formas de organização do ensino; articulação entre a mediação escolar de objetivos/conteúdos/métodos e os processos inerentes ao ensino e à aprendizagem. A Didática é o principal ramo da Pedagogia. Investiga os fundamentos, condições e modos de realização da instrução e do ensino. Trata da teoria geral do ensino. A ela cabe: converter objetivos sócio-políticos e pedagógicos em objetivos de ensino; selecionar conteúdos e métodos; estabelecer vínculos entre ensino e aprendizagem. 1.4 A Didática e a formação profissional do professor A formação profissional é um processo pedagógico, intencional e organizado. Abrange duas dimensões: 1. A formação teórico-científica: formação acadêmica específica, disciplinar, especialista. Formação pedagógica (conhecimentos de Filosofia, Sociologia, História da Educação e da própria Pedagogia). 2. A formação técnico-prática: preparação profissional específica para a docência (Didática, Psicologia da Educação, pesquisa educacional, etc.) A formação profissional do professor implica uma contínua complementaridade entre teoria e prática: os conteúdos não podem ser considerados isoladamente, devem ser articulados. Disciplinas teórico-científicas da prática escolar devem ser relacionadas aos conteúdos de formação pedagógica. Conteúdos das disciplinas específicas devem ser ligados às suas exigências metodológicas. Disciplinas práticas e técnicas implicam aspectos teóricos e, ao mesmo tempo, fornecem teoria aos problemas e desafios da prática. Diante disso, a Didática funciona como mediadora, como o exercício da mediação entre as bases teórico-científicas da educação escolar e a prática docente. Didática: ponte entre “o quê” e o “como” do processo pedagógico escolar. São ações da Didática: Descrever e explicar os nexos, relações e ligações entre o ensino e a aprendizagem; Investiga os fatores co-determinantes dos processos acima citados; Indica princípios, condições e meios de direção do ensino – tendo em vista a aprendizagem – que são comuns ao ensino das diferentes disciplinas de conteúdos específicos. A Didática e as metodologias específicas das disciplinas, apoiando-se em conhecimentos pedagógicos e científico-técnicos, são disciplinas que orientam a ação docente partindo das situações concretas em que se realiza o ensino. 4 Unidade II. DIDÁTICA E DEMOCRATIZAÇÃO DO ENSINO Ao possibilitar aos alunos o domínio dos conhecimentos culturais e científicos, a educação escolar socializa o saber sistematizado e desenvolve capacidades cognitivas e operativas para a atuação no trabalho e nas lutas sociais pela conquista dos direitos de cidadania. Dessa forma, efetiva a sua contribuição para a democratização social e política da sociedade. 2.1 A escolarização e as lutas democráticas A escola pública brasileira tem sido capaz de atender o direito social de todas as crianças e jovens receberem escolarização básica? A escolarização é um dos requisitos fundamentais para o processo de democratização da sociedade, entendendo por democratização a conquista, pelo conjunto da população, das condições materiais, sociais, políticas e culturais que lhe possibilitem participar na condução das decisões políticas e governamentais. A escolarização tem uma finalidade muito prática. Ao adquirirem um entendimento crítico da realidade através do estudo das matérias escolares e do domínio de métodos pelos quais desenvolvem suas capacidades cognoscitivas (como o raciocínio lógico, a análise e interpretação dos fenômenos sociais e científicos, do pensamento independente e criativo, a observação, a expressão oral e escrita, etc.) e formam habilidades para elaborar independentemente os conhecimentos, os alunos podem expressar de forma elaborada os conhecimentos que correspondem aos interesses majoritários da sociedade e inserir-se ativamente nas lutas sociais. Porém, a proposta de um ensino de qualidade, voltado para a formação cultural e científica, que possibilite a ampliação da participação efetiva do povo nas decisões da sociedade, defronta-se com problemas fora e dentro da escola. 2.1.1 Fora da escola Os governos têm cumprido sua obrigação social de assegurar as condições necessárias para prover um ensino de qualidade ao povo? A escola pública está longe de atender essas finalidades. Falta uma política de administração e gestão do ensino, o poder público não cumpre com suas responsabilidades, os recursos financeiros são insuficientes e mal empregados, falta material didático e livros para os alunos, os professores são mal remunerados. Além disso, o sistema escolar é usado para fins eleitoreiros e políticopartidários. Fica evidente o descaso e a omissão do Estado em relação à escola pública. 2.1.2 Dentro da escola O próprio funcionamento da escola, os programas, as práticas de ensino, o preparo profissional do professor, não teriam também uma parcela de responsabilidade pelo fracasso escolar? Existe preconceito na escola. O modo de conduzir o processo de ensino é diferenciado conforme a origem social dos alunos, ocorrendo discriminação dos mais pobres. A visão conservadora da escola é alimentada pelos próprios profissionais que nela trabalham, que entendem que esta é um meio de adaptação à sociedade vigente e que a escola é boa, justa e dá oportunidades iguais a todos. Muitos professores, por exemplo, entendem que o papel da escola é apenas o de adaptar as crianças ao meio social (ajustá-las às regras familiares, sociais e ao exercício de uma profissão) – a educação fica restrita ao desenvolvimento de aptidões para a integração do aluno no meio social. O motivo do aluno abandonar os estudos (por não conseguir aprender) é considerado problema individual dele, e não por outros motivos como os problemas de ordem sócio-econômicos ou de responsabilidade da própria escola; 5 A escola não pode desconsiderar as desigualdades sociais como obstáculos ao desenvolvimento humano. O governo e o poder legislativo, ao mesmo tempo que se mostram omissos e negligentes em relação à escola pública, difundem uma concepção de escola como ajustamento à ordem social estabelecida. Por outro lado, há uma tarefa a ser feita dentro da escola, de assegurar uma organização pedagógica, didática e administrativa para um ensino de qualidade associado às lutas concretas das camadas populares. É necessário atuar em duas frentes, para a efetivação dos vínculos entre a escolarização e a democratização: a frente política e a pedagógica. Os educadores precisam ter consciência política para atuar pedagogicamente dentro da escola, contribuindo na luta por uma escola unitária, democrática e gratuita. Escola unitária: ensino básico é direito fundamental de todos os brasileiros e dever do estado para com a sociedade. Garantia de uma base comum (unitária) de conhecimentos e de um padrão de qualidade do ensino, em nível nacional. Necessário um plano nacional de educação escolar, com respeito às diferenças regionais e até locais. Um plano que permita a assimilação de conceitos universais, sistematizados, a partir das realidades locais, da experiência de vida dos alunos e suas características sócio-culturais. Escola democrática: garantia, para todos, do acesso e permanência, no mínimo, nos oito anos de escolarização. Devem vigorar mecanismos democráticos de gestão, envolvendo a participação conjunta da direção, professores e pais. Escola gratuita: porque é um direito essencial dos indivíduos para se constituírem como cidadãos. Implica em maior compromisso do estado com relação ao funcionamento e manutenção da escola pública (recursos financeiros, materiais, responsabilidades de cada instância: municipal, estadual, federal, etc.). A transformação da escola depende da transformação da sociedade, pois a forma de organização do sistema sócio-econômico interfere no trabalho escolar e no rendimento dos alunos. Democratização do ensino significa, basicamente, possibilitar aos alunos o maior domínio possível das matérias, dos métodos de estudo e, através disso, o desenvolvimento de suas capacidades e habilidades intelectuais, com especial destaque à aprendizagem da leitura e da escrita. O grau de conhecimento é que vai possibilitar o engajamento (ou não) do cidadão, nas lutas sociais e nas instâncias de decisão econômica e política. É verdade que acreditar no processo democrático supõe confiar no saber do povo e na sua capacidade de tomar decisões. Mas é também verdade que os conhecimentos científicos e técnicos progridem num ritmo acelerado, pondo exigência à escola no sentido de reduzir a distância entre o conhecimento comum, popular e a cultura científica. Daí a importância de elevar o ensino ao mais alto nível, contribuindo para colocar de maneira científica os problemas humanos. Por outro lado, a democratização do ensino supõe o princípio da igualdade, mas junto com o seu complemento indispensável, o princípio da diversidade. Na prática, trata-se do professor estabelecer objetivos e expectativas de desempenho a partir do limite superior de possibilidades reais de desenvolvimento e aproveitamento escolar dos alunos; a partir de um diagnóstico do nível de preparo médio dos alunos para acompanhar a matéria conforme idade e desenvolvimento mental, estabelecem-se padrões de desempenho para a maioria da classe, podendo-se daí para a frente exigir tudo o que se pode esperar deles. 2.1 O fracasso escolar precisa ser derrotado Uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas (SP), em 1981, apontou como causas da repetência escolar, as condições de vida e psicológicas dos alunos e, principalmente, o fato de a estrutura da escola, na sua organização curricular e metodológica, não estar preparada para utilizar procedimentos didáticos adequados para trabalhar com as crianças pobres. Ex: já no início do ano letivo, o professor costuma “prever” quais os alunos que serão reprovados. Geralmente, esta 6 previsão acaba se concretizando. Alunos com diferente aproveitamento recebem tratamento desigual, pois o professor prefere os “bons alunos”. Os objetivos são planejados tendo-se vista a uma criança idealizada e não uma criança concreta. Ignoram-se os conhecimentos e experiências, suas capacidades e seu nível de preparo. A assimilação de conhecimentos e o desenvolvimento das capacidades mentais dos alunos estão diretamente relacionados com as condições (econômicas, sócio-culturais, intelectuais, escolares, etc.) de ingresso na escola, que é o verdadeiro ponto de partida do processo de ensino e aprendizagem. Há fatores hereditários que determinam diferentes tipos de inteligência, mas a maioria das crianças são intelectualmente capazes. Além disso, a influência do meio, especialmente do ensino, podem facilitar ou dificultar o desenvolvimento da inteligência. Se o meio social em que vive a criança não pode prover boas condições para o desenvolvimento intelectual, o ensino pode proporcionar um ambiente necessário de estimulação e é para isso que o professor se prepara profissionalmente. As deficiências na organização do ensino afetam diretamente o ideal de escolarização para todos. Por não conseguirem avaliar com clareza os efeitos da estrutura social sobre o trabalho pedagógico, as escolas e professores podem tornar-se, mesmo sem o saber, cúmplices da discriminação e segregação das crianças social e economicamente desfavorecidas. É preciso rever a qualidade de ensino e considerar que esta é inseparável das características econômicas, sócio-culturais e psicológicas da clientela atendida. “O fator isolado mais importante que influencia a aprendizagem é aquilo que o aluno já conhece; descubra-se o que ele sabe e baseie nisso seus ensinamentos.” David Ausubel. Unidade III. DIDÁTICA: TEORIA DA INSTRUÇÃO E DO ENSINO (será abordada no trabalho em grupo) 7 Unidades IV e V. O PROCESSO DE ENSINO NA ESCOLA E O ESTUDO ATIVO ENSINO TRADICIONAL Características: Transmissão da matéria ao aluno; Realização de exercícios repetitivos; Memorização de definições e fórmulas; Professor “passa” a matéria, os alunos escutam e respondem o “interrogatório” do professor, para reproduzir o que está no livro didático; Excessiva importância à matéria do livro Prática através de exercícios de classe ou tarefas de casa; Decoram para a prova. Limitações Pedagógicas: Elemento ativo é o professor, que fala e interpreta o conteúdo; Aluno tem atividade muito limitada e um mínimo de participação na elaboração dos conhecimentos; Subestima-se a atividade mental dos alunos; Priva-os de desenvolverem suas capacidades e habilidades e, consequentemente, não ocorre independência de pensamento; Não há preocupação em tornar a matéria significativa ou atrativa para os alunos; Aprendizagem torna-se o mesmo que terminar o conteúdo todo do livro; Não detecta dificuldades individuais; Trabalho docente fica restrito às paredes da sala de aula, sem considerar a importância do conhecimento para a prática social. ENSINO É UM PROCESSO O ensino é o conjunto de atividades organizadas do professor e dos alunos, que objetiva alcançar determinados resultados (domínio de conhecimentos e desenvolvimento das capacidades cognitivas), considerando, como ponto de partida, o conhecimento prévio, as experiências e o desenvolvimento mental dos alunos. Características: Processo: desenvolvimento e transformação progressiva das capacidades intelectuais dos alunos; Conhecimentos e habilidades direcionados para sua aplicação; Objetivos conscientemente definidos; Passos gradativos, de acordo com critérios de idade e preparo dos alunos; Caráter intencional e sistemático – implica em planejamento das atividades do ensino, aprendizagem e avaliação; Considera que, para a formação das capacidades e habilidades, é necessário o conhecimento (conteúdos); Caráter bilateral que combina a atividade do professor (ensinar) com a do aluno (aprender), interagindo a transmissão e assimilação. O ensino tem, portanto, como função principal assegurar o processo de transmissão e assimilação dos conteúdos do saber escolar e, através desse processo, o desenvolvimento das capacidades cognitivas dos alunos. 8 O processo de ensino, ao mesmo tempo que realiza as tarefas da instrução de crianças e jovens, é um processo de educação. O professor deve ter em mente a formação da personalidade dos alunos. O caráter educativo do ensino está relacionado com os objetivos do ensino crítico, de uma Didática crítico-social, pois não há como especificar objetivos imediatos do processo de ensino fora de uma concepção de mundo, de métodos de investigação da realidade e de uma concepção determinada de práxis pedagógica. Falamos de ensino crítico quando as tarefas de ensino e aprendizagem, na sua especificidade, são encaminhadas no sentido de formar convicções, princípios orientadores da atividade prática humana frente a problemas e desafios da realidade social. Ou, por outras palavras, quando a aquisição de conhecimentos e habilidades e o desenvolvimento das capacidades intelectuais propiciam a formação da consciência crítica dos alunos, na condição de agentes ativos na transformação das relações sociais. Conteúdos do saber escolar são: Os conhecimentos sistematizados, selecionados das bases das ciências e dos modos de ação acumulados pela experiência social da humanidade e organizados para serem ensinados na escola; Habilidades e hábitos, vinculados aos conhecimentos, incluindo métodos e procedimentos de aprendizagem e de estudo; Atitudes e convicções, envolvendo modos de agir, de sentir e de enfrentar o mundo. Capacidades cognoscitivas são: As energias mentais disponíveis nos indivíduos, ativadas e desenvolvidas no processo de ensino, em estreita relação com os conhecimentos; O desenvolvimento das capacidades se verifica no decorrer do processo de transmissão-assimilação de conhecimentos e é, ao mesmo tempo, condição para a aquisição e aplicação dos conhecimentos; Exercitação dos sentidos, observação, percepção, compreensão, raciocínio, memória, linguagem, vontade, etc. Aprendizagem é: Casual: espontânea, surge naturalmente da interação entre as pessoas e com o ambiente em que vivem, pela convivência social, pela observação de objetos e acontecimentos, pelo contato com os meios de comunicação, leituras, etc., as pessoas vão acumulando experiências, adquirindo conhecimentos, formando atitudes e convicções; Organizada: tem por finalidade específica aprender determinados conhecimentos, habilidades, normas de convivência social. Principalmente escolar; Processo de assimilação de conhecimentos escolares por meio da atividade própria do aluno; É suscitada pelos interesses e necessidades do aluno; O estudo é: A atividade cognoscitiva do aluno por meio de tarefas concretas e práticas, cuja finalidade é a assimilação consciente de conhecimentos, habilidades e hábitos, sob direção do professor; Sobre o estudo ativo: As atividades de estudo somente têm relevância se, gradativamente, forem transformando-se em atividade interna, como instrumentos do pensamento (estudo ativo); 9 O estudo ativo consiste, pois, de atividades dos alunos nas tarefas de observação e compreensão de fatos da vida diária ligados à matéria, no comportamento de atenção à explicação do professor, na conversação entre professor e alunos da classe, nos exercícios, no trabalho de discussão em grupo, no estudo dirigido individual, nas tarefas de casa, etc. Envolve uma série de procedimentos que visam despertar nos alunos habilidades e hábitos de caráter permanente, tais como: fazer anotações no caderno; usar o livro didático, enciclopédias, etc.; observação de objetos, fenômenos, etc.; interpretações de texto; consulta a mapas, dentre outras; 10 Unidades VI. OS OBJETIVOS E CONTEÚDOS DE ENSINO Os objetivos educacionais têm, pelo menos, três referências para sua formulação: 1. os valores e ideais proclamados na legislação educacional e que expressam os propósitos das forças políticas dominantes no sistema social; 2. os conteúdos básicos das ciências, produzidos e elaborados no decurso da prática social da humanidade; 3. as necessidades e expectativas de formação cultural exigidas pela população majoritária da sociedade, decorrentes das condições concretas de vida e de trabalho e das lutas pela democratização. Os objetivos gerais expressam propósitos mais amplos acerca do papel da escola e do ensino diante das exigências postas pela realidade social e diante do desenvolvimento da personalidade dos alunos. Os objetivos específicos são de cada matéria de ensino, conforme os graus escolares e níveis de idade do alunos. Determinam exigências e resultados esperados da atividade dos alunos, referentes a conhecimentos, habilidades, atitudes e convicções cuja aquisição e desenvolvimento ocorrem no processo de transmissão e assimilação ativa das matérias de estudo. Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e aplicação pelos alunos na sua prática de vida. Conhecimentos sistematizados são a base da instrução e do ensino, os objetos de assimilação e meio indispensável para o desenvolvimento global da personalidade. A aquisição e o domínio dos conhecimentos são condições prévias para os demais elementos dos conteúdos de ensino serem assimilados. São conceitos, termos, fatos e fenômeno da ciência, do cotidiano, leis fundamentais, métodos de estudo da ciência e história da sua elaboração, etc. todos conexos com a matéria em si. Habilidades são qualidades intelectuais necessárias para a atividade mental no processo de assimilação de conhecimentos. Hábitos são modos de agir relativamente automatizados que tornam mais eficaz o estudo ativo e independente. Atitudes e convicções se referem a modos de agir, de sentir e de se posicionar frente às tarefas da vida social. Orientam, portanto, a tomada de decisões pessoais frente a situações concretas. Critérios de seleção de conteúdos 1. Correspondência entre objetivos gerais e conteúdos 2. Caráter científico 3. Caráter sistemático 4. Relevância social 5. Acessibilidade e solidez 11