MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE NATAL - Defesa dos Direitos da Saúde Av. Mal. Floriano Peixoto, 550, Petrópolis, Natal-RN – CEP 59012-500 Fone/Fax: (84) 3232-7182 – e-mail: [email protected] _________________________________________________________ ATA DE REUNIÃO FÓRUM EM DEFESA DA SAÚDE PÚBLICA DO RN Ao primeiro(1º) dia do mês de agosto do ano dois mil e catorze(2014), pelas 09:00, na Sala de Audiências da Sede das Promotorias de Justiça da Comarca de Natal, situada na Rua Floriano Peixoto, 550, 4º andar, Petrópolis, onde estava presentes se achavam a Exma. Dra. Iara Maria Pinheiro de Albuquerque (CAOP Saúde), Dra. Kalina Correia Filgueira (48ª Promotoria de Justiça de Natal), Elaine Cardoso de M. Novais Teixeira (62ª Promotoria de Justiça de Natal) e Dr. Carlos Henrique Rodrigues da Silva (47ª Promotoria de Justiça de Natal), compareceram as pessoas que assinaram a lista de presença em anexo. Inicialmente, Dra. Iara informou que a presente audiência tem por objetivo discutir a pauta a ser entregue aos candidatos ao Governo do Estado, contendo as prioridades no âmbito da política pública de saúde. Com relação ao ponto 1 da pauta, Dr. Carlos Henrique informou que trata da adoção de critérios técnicos para a nomeação para os cargos de secretário de saúde, coordenadores da pasta de governo, gerentes das URSAP's e diretores de hospitais regionais, com exclusão de nomes "ficha suja" e/ou vinculação político-partidária, privilegiando servidores efetivos de carreira. Nesse sentido, a Dra. Elisângela (OAB/RN) sugeriu que fossem enumeradas algumas balizas para definir a expressão "critérios técnicos". Em seguida, a Dra.Liege foi contra a expressão "com vinculação partidária", citando o exemplo da sua pessoa, que, apesar de possuir filiação partidária, é servidora e detém a qualificação técnica exigida para o desempenho do cargo que ocupa. Dr. Braga (CRM) acompanhou o posicionamento exposto. Por sua vez, o Sr. Manuel Gaspar (FEMURN) sugeriu que pudesse ser firmado um convênio com a UFRN, voltada à capacitação permanente dos sercretários de saúde. Dra. Rosângela (ANOREH) pontuou que seria bastante complicado definir, neste momento, quais os critérios técnicos a serem observados, não sendo possível exaurir a contento, nesta discussão, o assunto. Em seguida, Dra. Elisângela registrou que não insistiria na definição desses requisitos, mas gostaria de pontuar a necessidade de se 1 discutir quais os critérios exigidos para o cargo de secretário, como forma de melhorar a qualidade dos profissionais que assumem tal cargo. A redação, com tais ressalvas, foi alterada e aprovada. Quanto ao ponto 2, relativo ao descontingenciamento, por parte da SEPLAM/RN, dos recursos destinados ao Fundo Estadual de Saúde, com a garantia de autonomia orçamentária-financeira do titular da Secretaria Estadual de Saúde, Dra. Iara expôs que anualmente já há a previsão de contingenciamento de recursos sanitários, de modo que o orçamento já é aberto com essa restrição. Acrescentou que essa realidade dificulta a gestão sanitária, de modo que seria um ganho considerável se a área da Saúde fosse excluída dessa medida. A Sra. Geolípia pontuou que o ideal seria que houvesse uma conta específica para os repasses dos recursos federais da saúde. Na oportunidade, Dra. Iara esclareceu que os recursos federais caem diretamente nas contas dos fundos de saúde, sendo complementada por Dr. Carlos Henrique, que informou que o grande problema não são os repasses federais, mas sim os dos recursos estaduais, previstos no Orçamento Geral do Estado-OGE. O Sr. Cristino (CES/RN) expôs que, em uma reunião em Mossoró foi dito que as necessidades da SESAP são da ordem de R$ 40.000.000,00/mês; porém, apenas cerca de R$ 8.500.000,00 foram efetivamente repassados, ressaltando o grande prejuízo sofrido pela população assistida com esse contingenciamento. O item foi aprovado à unanimidade, sem ressalvas. No tocante ao ponto 3, da necessidade de dar transparência e garantir o repasse de recursos próprios do Tesouro Estadual para o Fundo Estadual de Saúde, com datas certas mês a mês e possibilidade de amplo acesso destas informações por parte do controle social, Dra. Iara destacou que seria salutar acrescentar o texto "de acordo com o orçamento aprovado para aquele exercício". Registrou, ainda, que o ideal seria a disponibilização de uma senha do SIAF ao Conselho Estadual de Saúde, a fim de possibilitar um melhor controle da execução orçamentária. Nesse sentido, foi acompanhada pelos demais. Ainda com relação a este ponto, Dra. Liege pontuou sua preocupação com um eventual esvaziamento do poder fiscalizatório do CES/RN em decorrência da disponibilização de senha aos demais órgãos do controle social. Entretanto, o posicionamento foi rebatido por alguns presentes, sob o argumento de que a ampla informação e a transparência não retiram os poderes e as funções do Conselho; muito pelo contrário, podem fortalecer as atividades fiscalizatórias. Também o Dr. Adriano (Saúde Mental/SESAP) expôs que discorda da inclusão da expressão "conselhos profissionais" na redação do item, por entender que sectarizaria a realização do controle por outros segmentos. 2 Em votação, deliberaram pela inclusão da expressão as seguintes entidades: OAB/RN; CRM; ANOREH; FETMAP; SINFARN; CES/RN; e COREN/RN. Contra, posicionaram-se os representantes da Saúde Mental da SESAP/RN. A inclusão foi, portanto, aprovada. Dr. Denilson, da Comissão de Saúde da OAB/RN, fez um aparte para sugerir que os candidatos ao Governo do Estado pudesse vir ao Fórum para discutir o documento que está sendo construído nesse momento, e não somente feita a entrega formal do mesmo. No ponto 4, que traz a necessidade de aumento do percentual de recursos aplicados em ações sanitárias, com a devida previsão no Orçamento/Lei Orçamentária Anual-LOA, foi sugerido pelos presentes a especificação de um percentual de aumento. No entanto, com a chegada do Dr. Luiz Roberto (SESAP/RN), o mesmo registrou que, mais importante do que a indicação de um percentual de acréscimo orçamentário, seria garantir a participação dos técnicos da SESAP na elaboração da LOA e da LDO, possibilitando uma melhor adequação do orçamento às necessidades da pasta. Pontuou que tal proposição já foi, inclusive, apresentada ao deputado José Dias, a fim de que o corpo técnico da SESAP possa compor a equipe que elabora a legislação orçamentária estadual referida. Sintetizou que o maior problema vivenciado pela Saúde pública no RN é financeiro e não orçamentário. Por sua vez, Dr. Cipriano reforçou a importância de manter a sugestão de aumento do percentual de recursos aplicados nas ações sanitárias, haja vista que esta questão está inserida em uma luta nacional. Após deliberação, ficou aprovada a manutenção do aumento do percentual dos recursos para a saúde, acrescendo-se à redação a expressão "com a participação de técnicos da SESAP/RN na elaboração Lei Orçamentária Anual-LOA e da Lei de Diretrizes Orçamentárias-LDO". O ponto 5, onde se aponta a necessidade de implantação e desenvolvimento de uma política de qualificação e racionalização dos hospitais regionais situados no interior do estado, com base em uma estratégia clara de regionalização e já em sintonia com a nova Política Nacional de Atenção Hospitalar, de forma que hospitais de baixa resolutividade ou com menos de 50 leitos sejam convertidos em UPAs, Unidade Básica de Saúde, Sala de Estabilização ou outro formato adequado à sua capacidade resolutiva, Dra. Iara informou que sua redação foi retirada do relatório da auditoria operacional do TCE/RN. Dra. Kalina pontuou da importância desse ponto para a Rede Pública Estadual de Saúde como um todo, uma vez que, após a conclusão da auditoria operacional do TCE/RN, constatou-se que o custo de alguns dos hospitais estaduais localizados no interior do estado não se compatibilizava com sua resolutividade, de modo a não justificar sua manutenção nessa qualidade (hospital regional). 3 Ainda, Dr. Cipriano (SMS/Natal) sugeriu que pudesse ser melhor especificada a expressão "em sintonia com a nova Política Nacional de Atenção Hospitalar, de forma que hospitais de baixa resolutividade ou com menos de 50 leitos", uma vez que houve uma flexibilização dessa política na discussão da TRIPARTITE, inclusive com a possibilidade de redução do número de leitos (50), desde que atendidas as necessidades regionais. Para ele, há a necessidade de que a atenção hospitalar siga o fluxo das redes de atenção à saúde, não podendo ser visto de forma isolada, mas sim regionalizada, com participação dos gestores estadual e municipais. Dr. Adriano reforçou que, atendendo ao próprio dispositivo da Política Nacional de Atenção Hospitalar, a política hospitalar do RN deve realmente ser integrada às rede de atenção à saúde. Após deliberação, a redação foi alterada para constar "Implantar e desenvolver uma política de qualificação e racionalização dos hospitais regionais situados no interior do Estado, de forma que hospitais de baixa resolutividade ou com menos de 50 (cinquenta) leitos sejam convertidos em UPAs, Unidades Básicas ou outro dispositivo de saúde, dentro de um processo de municipalização, garantindo-se que os recursos materiais, humanos e insumos desses serviços sejam redimensionados para outros, cuja estrutura assegure a internação hospitalar, tudo em conformidade com a Política Nacional de Atenção Hospitalar". Prosseguindo, optou-se por suprimir os pontos 6 e 7 originais, inserindo-os no ponto 5. O ponto 8 teve sua redação simplificada, suprimindo-se o trecho seguinte a expressão "especialmente médico". Na oportunidade, o Dr. Cipriano explanou a necessidade de entrar em um assunto de preocupação dos secretários de Saúde, quanto à questão financeira das pastas, em que pese ressaltar a importância das discussões do documento ora deliberado. Em seguida, Dr. Luiz Roberto passou a expor sua preocupação a respeito da decisão proferida pelo juiz Dr. Airton Pinheiro a respeito das cooperativas médicas, a qual proibiu que entre os profissionais cooperados haja servidores públicos da SESAP. Segundo o secretário, caso essa decisão prevaleça, vários serviços que hoje dependem da complementação por profissionais cooperados com vínculo estatutário não conseguirão compor suas escalas de funcionamento. E, em assim sendo, o Estado se vê obrigado a recorrer da decisão judicial, o que deverá ser feito dentro em breve. Também mencionou como dificuldade da gestão sanitária a redução dos repasses de recursos de manutenção, em decorrência da frustração na arrecadação estadual. Segundo ele, essa frustração foi distribuída pela SEPLAM entre as várias pastas de governo, em que pese ter havido um esforço da Governadora do Estado em reduzir o impacto na SESAP/RN. 4 Fez um aparte para exemplificar que, no início da sua gestão, a SESAP/RN tinha uma dívida com fornecedores da ordem de R$ 70.000.000,00, dificultando a continuidade dos contratos de fornecimento e de serviços firmados. Tal dívida deveria ser amortizada após a assinatura do termo de ajustamento de gestão do Governo do Estado com o TCE/RN, através da destinação mensal de cotas orçamentárias e financeiras para os pagamentos. Entretanto, novamente os repasses mensais para a SESAP não ocorreram conforme previsto, de modo que, ao invés de R$ 40.000.000,00 mensais, os repasses tem mediado R$ 15.000.000,00, impossibilitando a amortização dos débitos. O Secretário mencionou, ainda, o comprometimento do orçamento da pasta com despesas de pessoal, inclusive de cooperativas médicas, cerca de 73%, restando ao investimento e ao custeio os outros 27%. Outro ponto de estrangulamento apontado foi a dependência da Rede Pública de Saúde do setor privado, em uma inversão da complementaridade tratada na Lei Orgânica da Saúde e um comprometimento orçamentário de grande vulto. Exemplificou-se com os procedimentos cardíacos intervencionistas e diálise, hoje realizadas totalmente por prestadores privados. Como principais dívidas, o Secretário destacou as existentes com a empresa Linde Gases e cooperativas médicas. A frustração dos repasses também impacta nos repasses de recursos aos municípios, que, segundo o secretário, não foram cumpridos nesse mês de julho. Para racionalizar os gastos da pasta, as seguintes medidas serão adotadas: a suspensão do pagamento de plantões eventuais a partir de setembro; a realização de estudo com a COF e COAD para o redimensionamento dos recursos existentes, com uma redução de cerca de 20% no pagamento da produtividade dos servidores para disponibilização dos recursos no abastecimento de medicamentos e alimentação nos hospitais. Dra. Iara questionou qual área não admitiria cortes na SESAP, tendo sido respondido pelo secretário que disponibilizaria um relatório com tais informações. Também foi pontuada pelos promotores a discussão em curso com o MP junto ao TCE/RN quanto à viabilidade de execução do termo de ajuste de gestão firmado, a fim de garantir o repasse de recursos para a saúde. No tocante ao Município, Dr. Cipriano registrou que também estão sendo realizadas medidas de racionalização de recursos, haja vista o alto custo dos contratos firmados com o setor privado e filantrópico e as dificuldades orçamentárias e financeiras existentes. Expôs, inclusive, que está sendo cogitada a possibilidade de suspensão dos recursos integrantes da fonte 180, do teto municipal, que é repassado ao Estado através de TCAP, haja vista que o próprio Estado não vem cumprindo os repasses aos municípios. 5 A Sra. Dalva (CMS), pontuou a necessidade de um movimento importante por parte do Fórum junto outras instâncias de controle social e debate, como a Assembleia Legislativa, para conseguir suplementação orçamentária e melhorias para a área de saúde pública. Outrossim, simultaneamente deve ser viabilizada a discussão da previsão orçamentária para 2015, que vem sendo subestimada ao longo dos anos. Prosseguindo, Dra. Elisângela sugeriu que Estado e Município possam conferir uma entrevista conjunta na mídia local, a fim de colocar a sociedade a par da realidade enfrentada pela saúde pública. Em contraproposta, a Sra. Geolípia sugeriu que essa discussão pudesse ser objeto de uma audiência pública provocada pelo Fórum ou pelo próprio CES/RN, o que Dra. Kalina acresceu que o local da audiência pudesse ser disponibilizado por uma das entidades integrantes do Fórum. Dra. Elaine ressaltou que um dos pontos a serem discutidos nessa reunião deve ser a realização de uma visita à maternidade Leide Morais, que, segundo informado pelo Secretário Municipal de Saúde, será inaugurada em 31/08/2014. Nesse sentido, Dra. Rosângela ressaltou que o assunto é realmente de extrema importância e deverá ser pautado nas próximas reuniões. Encaminhamentos: Após as discussões acima relatadas, foram retirados os seguintes encaminhamentos: 1) as entidades integrantes do Fórum darão continuidade às deliberações sobre o documento em análise por e-mail; 2) com a relação à gravíssima situação orçamentária e financeira das secretarias estadual e municipal de saúde, foi deliberada a promoção de uma audiência pública pelo Fórum, em 08/08/2014, às 09h, no auditório da OAB/RN, na qual será melhor debatido o assunto, a partir do envio ao Fórum, até o dia 02/08/2014, das informações referidas pelos secretários estadual e municipal de saúde, tais como as principais dívidas existentes e quais serviços estão suspensos ou com risco potencial de suspensão, tanto nos serviços públicos estaduais de saúde quanto municipais de Natal. Nada mais havendo a tratar, deu-se por encerrada a presente ata de reunião, que segue devidamente assinada por mim, Luciana Macêdo de Araújo (______ - mat. 199.706-8), que a digitei, e pelos Exmos. Srs. Promotores de Justiça. Iara Maria Pinheiro de Albuquerque CAOP Saúde Kalina Correia Filgueira 48ª Promotoria de Justiça de Natal Elaine Cardoso de M. Novais Teixeira 62ªPromotoria de Justiça de Natal Carlos Henrique Rodrigues da Silva 47ª Promotoria de Justiça de Natal 6