COREIA DO NORTE
CONFISSÕES RELIGIOSAS1
Budistas (1,5%)
Cristãos (2%)
Outras Religiões
(12,9%)
2
Refugiados
(internos)*:
* Refugiados estrangeiros a viver neste país.
População :
24.451.000
Superfície:
120.538 km2
Religiões
Tradicionais
(12,3%)
Sem Religião
(71,3%)
Refugiados
Deslocados:
(externos)**:
1.121
** Cidadãos deste país a viver no estrangeiro.
A República Democrática da Coreia do Norte é amplamente considerada como o país mais
fechado do mundo, governado pelo regime mais repressivo do mundo, com um dos piores
registos mundiais de direitos humanos. Embora a Constituição da Coreia do Norte preveja a
«liberdade de crença religiosa», na realidade esta não existe e continua a haver ‘graves’
abusos da liberdade religiosa, de acordo com a Comissão Norte-Americana para a Liberdade
Religiosa Internacional.3
Em Dezembro de 2011, Kim Jong-il (conhecido como o ‘Querido Líder’) morreu e o seu
filho, Kim Jong-un, assumiu o poder. A Coreia do Norte tem sido governada por uma família
desde a sua criação, e talvez seja a única ditadura no mundo que é uma dinastia que se
apresenta como uma divindade. O avô de Kim Jong-un, Kim Il-sung, conhecido como o
‘Grande Líder’, é efectivamente adorado e o culto da personalidade continuou através das
duas gerações de liderança seguintes. De facto, é exigida lealdade absoluta à família Kim e ao
regime, não sendo tolerada qualquer outra crença. Cada casa, escritório e edifício público é
obrigado a exibir imagens do ‘Grande Líder’ e do ‘Querido Líder’.
Kim Jong-un mantém o poder através da repressão brutal do seu povo. Em Dezembro de
2013, num exemplo ao mais alto nível, mandou que o seu tio, Jang Song-thaek, que tinha sido
seu mentor e era o segundo líder mais poderoso, fosse detido e executado. No mês anterior,
pelo menos oitenta pessoas foram alegadamente executadas num único dia por posse de
Bíblias ou por verem programas televisivos sul-coreanos. Anteriormente, em 2013, uma
antiga namorada de Kim Jong-un foi alegadamente executada a tiro de metralhadora e um
antigo ministro-adjunto da Defesa foi morto por fogo de morteiro.
1
2
3
www.globalreligiousfutures.org/countries/north-korea
http://data.un.org/CountryProfile.aspx?crName=Democratic People's Republic of Korea
Relatório da Comissão Norte-Americana para a Liberdade Religiosa Internacional, 2013
Em 1988, o Governo criou federações religiosas para protestantes, católicos, budistas e
chondoístas (seguidores de um sistema sincrético de crença baseado no Confucionismo), num
reconhecimento superficial dos grupos religiosos. Foram construídas uma igreja católica, duas
igrejas protestantes e uma igreja ortodoxa russa em Pyongyang, mas pensa-se em geral que
estas sejam igrejas de fachada ao estilo Potemkin para beneficiar os visitantes estrangeiros. A
Igreja Católica não tem sacerdote e por isso não é celebrada Missa. Sacerdotes em visita
ocasional são autorizados a celebrar Missa, mas sobretudo na privacidade das embaixadas
estrangeiras. O Vaticano declarou as três dioceses norte-coreanas – Pyongyang, Hamhung e
Chunchon – como sedes vacantes, sob administração de bispos diocesanos da Coreia do Sul.
O Bispo Francisco Hong Yong-ho de Pyongyang não é visto desde 10 de Março de 1962.
É impossível recolher estatísticas precisas sobre o número de cristãos ou outros crentes devido
à natureza fechada do país e ao secretismo com que muitos crentes prestam culto. Os números
oficiais afirmam que há 3.000 católicos no país, mas o número pode ser maior se forem tidos
em conta os crentes secretos. Os registos revelam que havia aproximadamente 50 mil
católicos no norte da Coreia antes da divisão da península. Desde o estabelecimento do
regime em 1953, calcula-se que cerca de 300 mil cristãos de várias denominações
desapareceram.
Os refugiados norte-coreanos que fugiram do país relatam consistentemente que não há
liberdade religiosa dentro do país. A maioria diz que nunca conheceu um cristão no país, nem
viu uma Bíblia. Um novo relatório sobre ‘Liberdade Religiosa na Coreia do Norte’, publicado
em 2013 pelo Centro de Dados sobre Direitos Humanos na Coreia do Norte, relata que 99,6%
dos desertores norte-coreanos entrevistados disseram que não existe liberdade religiosa na
Coreia do Norte, enquanto 75,7% afirmaram que as actividades religiosas são punidas com
detenção e prisão.4
A maior parte dos novos convertidos tornam-se cristãos após fugirem através da fronteira com
a China, onde entram em contacto com missionários cristãos que ajudam refugiados. No
entanto, a China tem uma política de repatriamento forçado. No regresso à Coreia do Norte,
uma das primeiras perguntas que são colocadas aos pretensos desertores é se se encontraram
com um missionário, se possuem uma Bíblia ou se tiveram contacto com sul-coreanos. As
mulheres grávidas enfrentam o aborto forçado ou o infanticídio para os recém-nascidos.
Uma nova publicação de 2013 da organização Justiça para a Coreia do Norte, The Persecuted
Catacomb Christians of North Korea, relata: «Os norte-coreanos são enviados para campos de
prisioneiros políticos perpétuos, sem julgamento, por posse ou leitura da Bíblia. Os nortecoreanos são forçados a realizar trabalhos forçados extremamente duros, como escravos em
campos de treino pelo trabalho ou prisões normais, pelo simples facto de rezarem. Muitos
cristãos morrem à fome nestes campos e prisões ou devido ao tratamento degradante.»5
No coração do sistema de repressão na Coreia do Norte estão os brutais campos de
prisioneiros, conhecidos como kwan-li-so e por vezes referidos como ‘gulags’, onde se
calcula que sejam mantidos mais de 200 mil prisioneiros em condições muito duras, sujeitos a
torturas sistemáticas e graves, privados dos alimentos adequados e sujeitos a um sistema
muito duro de trabalhos forçados que viola a lei internacional, incluindo a exploração mineira,
o abate de árvores e o trabalho fabril intensivo com rações alimentares mínimas, o que causa
fadiga extrema e doença, e acaba em muitos casos por levar à morte. Foi sugerido que pelo
4
5
Centro de Dados sobre Direitos Humanos na Coreia do Norte, «Religious Freedom in North Korea», 2013
Justiça para a Coreia do Norte, «The Persecuted Catacomb Christians of North Korea», por Kim Hi-tae e Peter Jung, 2013
menos 25% dos cristãos norte-coreanos são mantidos em campos de prisioneiros. A culpa por
associação é aplicada às famílias dos presos, pelo que até três gerações podem ser punidas.
O acesso aos campos por parte de monitores internacionais tem sido impossível e por isso a
informação só é facultada por sobreviventes dos campos, e por imagens de satélite e outro
tipo de informação secreta. Uma análise detalhada dos campos foi escrita por David Hawk em
The Hidden Gulag: The Lives and Voices of ‘Those Who are Sent to the Mountains’,
publicado pela primeira vez pelo Comité de Direitos Humanos na Coreia do Norte em 2003,
com uma segunda edição actualizada em 2012.6 Em 2011, a Amnistia Internacional publicou
imagens de satélite que revelam a escala dos campos de prisioneiros,7 e em 2013 publicou
novas informações que sugerem uma tentativa por parte das autoridades de esconderem a
existência dos campos fundindo-os com aldeias existentes.8
Um aspecto fundamental do controlo da sociedade norte-coreana por parte do regime é o
sistema songbun de classificação social, que divide a população em cinquenta e uma
categorias de classes políticas, agrupadas em três grandes castas: classes ‘nucleares’,
‘vacilantes’ e ‘hostis’. A classe de uma pessoa é determinada pelo nascimento, tendo em
consideração o registo político e os antecendentes da família, e afecta todos os aspectos da
vida, incluindo o acesso à educação, saúde, rações alimentares e oportunidades de emprego. O
sistema foi analisado em pormenor num grande relatório do Comité de Direitos Humanos na
Coreia do Norte intitulado Marked for Life: Songbun – North Korea’s Social Classification
System, publicado em 2012.9 Os Cristãos e outros crentes são automaticamente considerados
como fazendo parte das classes ‘hostis’ e como consequência sujeitos a graves punições e
perseguições.
Em Agosto de 2010 foi relatado que vinte e três cristãos tinham sido detidos e três tinham
sido executados.
A 16 de Junho de 2009, Ryi Hyuk Ok,10 de 33 anos e originária de Ryongcheon-si
Pyunganbuk-do, foi executada, alegadamente por distribuir Bíblias. Foi também acusada de
organizar oponentes ao regime, de praticar espionagem e de ser uma católica com ligações aos
Estados Unidos e à Coreia do Sul. O seu marido, os três filhos e os pais foram enviados para a
Divisão Provincial de Segurança de Pyungbuk, a 17 de Junho de 2009, e enviados para o 22.º
asilo da Divisão Nacional de Segurança, uma prisão para criminosos políticos localizada em
Hweryung, Hambuk.
A 10 de Março de 2009, Seo Keum Ok, de 30 anos, oriunda de Sineuiju-si Pyunganbuk-do,
foi detida por distribuir Bíblias e CD, e acusada de espionagem e de ser uma católica com
ligações aos Estados Unidos e à Coreia do Sul. Além disso, foi acusada de espionagem em
relação às instalações nucleares em Keumchang-ri e Pyunganbuk-do. De acordo com o relato,
sofreu «torturas indescritíveis» e desconhece-se se ainda está viva. O seu marido, Kim Pyung
Cheol, foi também detido e preso, e os seus dois filhos estão desaparecidos.
6
Comité de Direitos Humanos na Coreia do Norte, The Hidden Gulag: The Lives and Voices of ‘Those Who are Sent to the Mountains’,
2012http://hrnk.org/uploads/pdfs/HRNK_HiddenGulag2_Web_5-18.pdf
7
Amnistia Internacional, «Images reveal scale of North Korean political prison camps», 3 de Maio de 2011, www.amnesty.org/en/news-andupdates/images-reveal-scale-north-korean-political-prison-camps-2011-05-03
8
Amnistia Internacional, «North Korea: New images show blurring of prison camps and villages», 7 de Março de 2013,
www.amnesty.org/en/news/north-korea-new-images-show-blurring-prison-camps-and-villages-2013-03-07
9
Comité de Direitos Humanos na Coreia do Norte, Marked for Life: Songbun – North Korea’s Social Classification System, 2012
http://hrnk.org/uploads/pdfs/HRNK_Songbun_Web.pdf
10
CSW, «North Korea – CSW condemns reported execution of Christian woman», 30 de Julho de 2009,
http://dynamic.csw.org.uk/article.asp?t=press&id=889
A 4 de Outubro de 2008, Kim Kwang Myung, um católico de Wonsan-si Gangwon-do, de 45
anos, foi detido e acusado de distribuir rádios de onda curta. De acordo com o relato,
«desconhece-se se ainda está vivo».
Em Novembro de 2012, Kenneth Bae, um coreano-americano cristão, foi detido na cidade de
Rason enquanto liderava um grupo de turistas com cinco europeus. Em Maio de 2013, foi
condenado a quinze anos de trabalhos forçados por «crimes destinados a derrubar a República
Democrática Popular da Coreia com hostilidade para com o país».
Relatos de Dezembro de 2012 sugerem um crescimento no número de espiões na China que
procuram activistas dos direitos humanos e cristãos que ajudam refugiados norte-coreanos.
Em Janeiro de 2013, dois cristãos norte-coreanos foram mortos: um foi alvejado na fronteira
enquanto viajava para um encontro de formação sobre a Bíblia na China e outro morreu num
campo de prisioneiros. A segunda vítima tinha-se tornado cristã na China e depois regressado
à Coreia do Norte, mas as autoridades descobriram a sua fé e enviaram-na para a prisão, onde
foi cruelmente torturada e obrigada a trabalhos forçados. Em Março de 2013, o Conselho de
Direitos Humanos das Nações Unidas votou por unanimidade o estabelecimento de uma
Comissão de Inquérito para investigar as violações de direitos humanos na Coreia do Norte. O
inquérito, presidido pelo juiz australiano Michael Kirby, realizou uma série de audições
públicas em Seul, Tóquio, Londres e Washington, e visitou Banguecoque e outros locais para
recolher provas, tudo com o objectivo de entregar um relatório ao Conselho de Direitos
Humanos.
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