LUTA BIOTÉCNICA PARA O COMBATE A PRAGAS CHAVE DOS POMARES DA REGIÃO DO OESTE Central Frutas do Painho SA EN 115, km 16 Dagorda 2550-417 PAINHO CDV [email protected] Josué Clemente e Elsa Borges da Silva Introdução No projecto “Luta biotécnica para o combate a pragas chave dos pomares da região do Oeste” (PO AGRO DE&D nº30; 2002-2004), pretende-se divulgar e demonstrar a aplicação de novas tecnologias no combate a pragas-chave, como bichado (Cydia pomonella L.) e traça do limoeiro (Prays citri Millière), respectivamente nos ecossistemas pomóideas e limoeiro (Citrus limon (L.) Burman). A utilização da luta biotécnica como alternativa à luta química no combate a pragas-chave, permite a diminuição de aplicação de insecticidas, sendo previsível que tenha influência no desenvolvimento das pragas secundárias, nomeadamente pelo incremento de inimigos naturais. Em Portugal, o bichado é praga-chave das pomóideas, podendo os seus ataques conduzir ao aparecimento de prejuízos superiores a 50% da produção. A presença de adultos de bichado, na região do Oeste, verifica-se durante a totalidade do período de crescimento dos frutos, através da ocorrência de duas gerações por ano. O início do vôo dos adultos da primeira geração, provenientes das lagartas hibernantes do ano anterior, ocorre no final de Março ou princípio de Abril, prolongando-se durante Maio e Junho, enquanto a segunda geração decorre entre Julho e Setembro (Clemente et al., 2000). Na generalidade das situações o combate ao bichado em Portugal é efectuado através de três a oito aplicações de insecticidas por ano. Todavia, esta estratégia pode conduzir ao aparecimento de resistência, desequilíbrios na biocenose dos pomares e aumento do nível de resíduos sobre os frutos. Nas condições da região do Oeste, o bichado destaca-se como a praga que justifica maior número de aplicação de insecticidas nas pomóideas. Assim, tendo em consideração a selectividade para os inimigos naturais, a aplicação consecutiva de insecticidas no pomar condiciona o desenvolvimento destas populações, originando o acréscimo de importância de algumas pragas secundárias. Em pomares de maceira (Malus domestica Bork.), está devidamente fundamentado o potencial de limitação natural dos ácaros predadores na redução dos prejuízos provocados por aranhiço vermelho (Panonychus ulmi (Koch)) (Comelles & Avilla, 1992, Comelles et al., 1990), sendo para tal fundamental reduzir ou eliminar a aplicação de pesticidas pouco selectivos sobre este grupo de inimigos naturais. Também em pomares de pereira (Pyrus communis L.), a limitação natural da psila (Cacopsylla pyri L.) conduz a resultados muito satisfatórios quando a actividade nos principais grupos de predadores, nomeadamente antocorídeos e crisopídeos, não é condicionada negativamente pelos meios de luta aplicados no pomar (Clemente & Amaro, 2000). A traça do limoeiro (Prays citri Millière) constitui praga-chave da cultura do limoeiro na região de Mafra, podendo apresentar 6 a 8 gerações anuais (Silva, 2000). Tradicionalmente, o combate à traça do limoeiro compreende a aplicação em média de oito a 12 tratamentos insecticidas, com substâncias activas não homologadas para a cultura (e.g., piretróides) ou homologadas para os citrinos mas para outras finalidades, isto porque apenas se encontra homologado uma única substância activa (fosfamidão). Acresce, ainda, o facto de que, desde à quatro anos, a cultura do limoeiro tem assistido ao aumento de importância de uma nova praga secundária, o ácaro branco (Polyphagotarsonemus latus (Banks)) (Silva & Ferreira, 2000), o qual tem originado crescentes prejuízos à produção (Silva & Bernardes, 2000), muito provavelmente devido aos desequilíbrios originados entre o ácaro fitófago e os ácaros predadores, resultante de um sistema de protecção de plantas irracional. Actividades desenvolvidas No âmbito deste projecto, de acordo com o previsto no plano de trabalho, foi aplicado o método da confusão sexual, tendo em consideração as características das parcelas e a dinâmica populacional local da JCa - 1 praga, com o objectivo de demonstrar a viabilidade do método. A área de pomóideas em confusão sexual representa cerca de 180 ha de pomar, distribuídos pelos três concelhos da região do Oeste, onde estão sediadas as organizações de produtores participantes neste projecto (Central Frutas do Painho, Frubaça, Frutoeste, Unirocha) (Quadro 1). Quadro 1 – Área de pomar com confusão sexual em 2002 para o bichado (Cydia pomonella L.) do projecto AGRO 30. Concelho Pereira (ha) Maceira (ha) Alcobaça 47 Cadaval 94 Mafra 38 1 Area (%) Neste ensaio utilizaram-se três tipos de difusores distintos, nomeadamente 100 ha com RAK 3 (BASF), 72 ha com Isomate C plus (Shin-Etsu) e 8 ha com Isomate CTT (Shin-Etsu). Os fabricantes dos difusores recomendam que estes sejam aplicados nas seguintes doses: 125/ha para o RAK 3, 1000/ha para o Isomate C plus e 500/ha para o Isomate CTT. Todavia, para definir o número de difusores aplicados nos diferentes pomares foram ainda tomados em consideração outros aspectos como a intensidade da praga no ano anterior, dimensão, forma, exposição e envolvente da parcela. Após a análise destes aspectos, foi decidida a redução ou acréscimo da dose recomendada pelos fabricantes (Fig 1). Nos pomares de pomóideas, procedeu-se à 40 35,2 avaliação da actividade de vôo da praga, através da 35 utilização de armadilhas sexuais, e da intensidade de 30 ataque, pela observação visual de 1000 frutos por 23,2 23,2 25 parcela. No que respeita às pragas secundárias das 18,2 20 pomóideas, procedeu-se à quantificação da 15 densidade populacional das psilas em pomares de pereira e do aranhiço vermelho em pomares de 10 maceira. 5 Relativamente à traça do limoeiro, durante o 0 primeiro ano do projecto foi efectuada a < 70 % 71 - 90 % 91 - 110 % 111 - 130 % caracterização da dinâmica populacional na região Dose difusores (%) Fig. 1 – Distribuição da dose de difusores aplicados (dose de Mafra, com o objectivo de, nos anos seguintes, recomendada 100%), em 2002, para a confusão sexual do avaliar a aplicabilidade das tácticas de confusão bichado (Cydia pomonella L.) no projecto AGRO 30. sexual ou captura em massa no combate à praga em alternativa à luta química. Para o efeito, procedeu-se à monitorização da actividade de voo dos machos e dos estragos originados pela traça do limoeiro nos botões florais em 13 parcelas distribuídos pela região de Mafra (Fig. 5). Resultados e discussão 35,6 35 70 33,3 60 30 25 Area (%) % Armadilhas sexuais 40 17,8 20 15 8,9 10 4,4 5 58,5 50 40 30 17,0 20 14,5 10 8,4 1,6 0 0 0 1-2 3-5 6 - 10 <0,1 > 10 0,1 - 0,2 0,3 - 0,5 0,6 - 1 >1 % Estragos Número de capturas Fig. 2 – Total de capturas de machos de bichado (Cydia Fig. 3 – Nível de estragos provocados pelo bichado (Cydia pomonella L.) nas armadilhas sexuais, em 2002, nos pomares pomonella L.), em 2002, nos pomares em confusão sexual no em confusão sexual no projecto AGRO 30. projecto AGRO 30. JCa - 2 Area (%) Em relação aos pomares de pomóideas 80 em confusão sexual para o bichado, 71,0 70 verificou-se na maioria das situações reduzidas capturas de adultos de bichado 60 nas armadilhas sexuais (Fig. 2), sendo o 50 nível de ataque da praga sobre o frutos 40 também bastante reduzido na maioria dos 27,4 30 pomares (Fig. 3). Estes factos permitem 20 afirmar que a confusão sexual para o 10 1,6 bichado apresentou uma eficácia 0,0 0 satisfatória, apesar de em cerca de 46% da 0 1 2 3 área o número de difusores aplicados ser Número de insecticidas para o bichado substancialmente baixo. Por outro lado, na maioria da área não foi efectuado qualquer Fig. 4 – Número de tratamentos insecticidas para o bichado (Cydia tratamento específico para o bichado (Fig. pomonella, L.) em 2002, nos pomares em para a confusão sexual no projecto AGRO 30. 4), o que contribuiu para a diminuição da utilização de insecticidas, reduzindo-se assim o nível de resíduos sobre os frutos. Os resultados obtidos relativos à dinâmica populacional da traça do limoeiro permitiram identificar três tipos de situações, tendo por base o padrão de evolução das capturas de machos, a % de botões florais ocupados, relativamente à média nas 13 parcelas experimentais, e o número de tratamentos insecticidas efectuados nessas parcelas. Estas situações foram as seguintes (Fig. 5): 1) Classe I - ≥50% das observações do número de machos de traça capturados diariamente foram superiores à média das capturas das 13 parcelas, ≥50% das observações da percentagem de botões florais ocupados foram superiores à média da % de botões florais ocupados nas 13 parcelas e o número de tratamentos insecticidas realizados para a traça do limoeiro foi superior a três; 2) Classe II - ≥50% das observações do número de machos de traça capturados diariamente foram superiores à média das capturas das 13 parcelas, <50% das observações da percentagem de botões florais ocupados foram superiores à média da % de botões florais ocupados nas 13 parcelas e o número de tratamentos insecticidas realizados para a traça do limoeiro foi inferior ou igual a três; 3) Classe III - <50% das observações do número de machos de traça capturados diariamente foram superiores à média das capturas das 13 parcelas, <50% das observações da percentagem de botões florais ocupados foram superiores à média da % de botões florais ocupados nas 13 parcelas e o número de tratamentos insecticidas realizados para a traça do limoeiro foi inferior ou igual a três 80 100 Fazenda Miguel 90 70 80 60 80 100 Vale da Abóbora 60 70 0 40 50 30 40 F M A M J J A S O N 20 F M A M J J A 10 0 70 S O N 100 Casal Mato de Cima 90 D 80 60 70 50 60 20 40 50 10 30 40 0 J 30 80 J 30 0 40 10 60 10 50 30 80 50 20 60 40 20 90 70 70 50 30 20 D 20 10 10 0 0 J F M A M J J A S O N D Fig. 5 – Exemplos do padrão de voo da traça do limoeiro (Prays citri Millière) e estragos originados nos botões florais em 13 pomares de limoeiro (Citrus limon (L.) Burman) na região de Mafra (z classe I, z classe II, z classe III; linha azul - nº machos capturados/dia, linha vermelha - média do voo de machos nos 13 locais, barra verde - % botões florais infestados, losango rosa - tratamento insecticida). JCa - 3 Referências bibliográficas Clemente, J. & Amaro, P. 2000. Psila. In: P. Amaro (Ed.). A produção integrada da pera Rocha. ISA Press, Lisboa: 55-59. Clemente, J., Amaro, P., Carvalho, J. Passos & Mexia, A. 2000. Bichado. In: P. Amaro (Ed.). A produção integrada da pera Rocha. ISA Press, Lisboa: 44-49. Comelles, J. Costa & Avilla, J. 1992. Estrategia de control biologico del acaro rojo de los frutales (Panonychus ulmi (Koch)) en un programa de control integrado de plagas del manzano. Phytoma Esp., 40: 40-52. Comelles, J. Costa, Santamaria, F., Mari, F.G., Laborda, R. & Souto, A. 1990. Aplicación del control integrado del ácaro rojo Panonychus ulmi (Koch) en parcelas cormeciales de manzano. Bol. San Veg. Plagas, 16: 317-331. Silva, E.M.B. 2000. Principais inimigos do limoeiro registados no campo de demonstração de protecção integrada na região de Mafra (Nº121/97). Congr. Nac. Citric., Faro, 6-18 Nov. 2000: 563-571. Silva, E.M.B. & Bernardes, P. 2000. Principais causas (bióticas e abióticas)I que afectam a qualidade de limão na região de Mafra. Congr. Nac. Citric., Faro, 6-18 Nov. 2000: 355-360. Silva, E.M.B. & Ferreira, M.A. 2000. Ocorrência do ácaro branco Polyphagotarsonemus latus (Banks) (Acari: Tarsonemidae) em pomares de limoeiro na região de Mafra. Congr. Nac. Citric., Faro, 6-18 Nov. 2000: 557-561. Equipa participante Central Frutas do Painho SA – Eng., MSc. Josué Clemente Frubaça – Eng. Nuno Franco Frutoeste – Engª. Rosário Antunes Instituto Superior de Agronomia – Prof. Dr. José Carlos Franco, Eng., MSc. Elsa Borges da Silva Unirocha ACE – Engª Cláudia Neto JCa - 4