15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental ANÁLISE GEOMORFOLÓGICA E CARACTERIZAÇÃO DAS UNIDADES DE TERRENO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO ROQUE (SP) Flávio Henrique Rodrigues1; José Eduardo Zaine2; Tales de Diniz3, Juliano Oliveira Martins Coelho4; Lucilia do Carmo Giordano5; Fábio Augusto Gomes Vieira Reis 6 Resumo – A área do presente estudo corresponde à bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, afluente do Rio Mogi Guaçu, na região centro-leste de São Paulo, onde está localizado um trecho do Oleoduto São Paulo-Brasília (OSBRA), o qual corta diferentes terrenos, sujeitos à ocorrência de processos geológicos exógenos. Foram mapeadas dez unidades de terreno, podendo-se distinguir planícies e terraços fluviais, colinas e morros sobre rochas areníticas, diques e soleiras de diabásio sustentando morros alongados em relevo assimétrico com depósitos de talus associados, rochas pelíticas em relevo aplainado e plateaus sustentados por derrames basálticos. O método adotado baseou-se na análise integrada do meio físico, onde foram associadas informações sobre o relevo, litologia, tipos de solos e processos geológicos superficiais. Em seguida procedeu-se a análise geomorfológica relacionando os compartimentos mapeados às características morfológicas, litológicas e os processos morfogenéticos. Conclui-se que que a grande diversidade de formas de relevo da bacia do Ribeirão do Roque se deve a variedade de litotipos, os quais estão associados a superfícies em níveis altimétricos distintos, revelando o caráter espacial e cronológico dos processos de desnudação, em diferentes formas de relevo e de tipos de rochas e em uma variedade de estruturas geológicas. Abstract – The area of this study corresponds to the watershed of Roque Stream, a tributary of the Mogi Guaçu River, in the central-eastern region of the State of São Paulo, where is located a section of Pipeline São Paulo-Brasília (OSBRA), which cuts different terrains, subjects to the occurrence of exogenous geological processes. Have been mapped ten terrain units, identifying plains and river terraces, mound and hills on sandstone rocks, diabase dikes and sills sustaining elongated hills in asymmetrical relief with deposits of talus associated, pelitic rocks in flattened relief and plateaus supported by basaltic flows. The method adopted was based on the integrated analysis of the physical environment, where were associated information about the relief, lithology, soils and exogenous.geological processes. Then a geomorphology analysis was performed, relating compartments mapped to morphological characteristics, lithologic and morphogenetic processes. It was concluded that the great diversity of landforms of watershed of Roque Stream is due to the variety of rock types, which are associated with surfaces at different altimetric levels, revealing the chronological nature of denudation processes in different forms of relief and of rock types and in a variety of geological structures. Palavras-Chave – Análise Geomorfológica, Depressão Periférica Paulista, Zona do Mogi Guaçu, Ribeirão do Roque, Oleoduto São Paulo-Brasília 1: Eng. Amb., MSc., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 2, 6: Geol., Dr., Universidade Estadual Paulista, Departamento de Geologia Aplicada, 19-35269313, [email protected], [email protected] 3: Eng. Amb., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 4: Geogr., MSc., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 5: Eng. Amb., Dr., Universidade Estadual Paulista, Programa de Pós-Graduação em Geociências e Meio Ambiente, 19-35269446, [email protected] 1. INTRODUÇÃO Os resultados aqui apresentados fazem parte da etapa de compartimentação fisiográfica e caracterização geológico-geotécnica preliminar, do projeto intitulado “Metodologia para Avaliação de Áreas Sujeitas à Ocorrência de Ondas de Cheia e Corridas de Massa/Detritos: Estudo Piloto no Duto OSBRA no Estado de São Paulo” (REIS; CERRI, 2014). Trata-se da parceria entre a Petrobras e a Universidade Estadual Paulista, com a finalidade de avaliar as áreas potenciais a ocorrência dos processos de ondas de cheia e corridas de massa/detritos em dutovias, tendo como área de estudo o trecho paulista do Oleoduto São Paulo-Brasília (OSBRA). No presente artigo, a área de estudo restringiu-se à bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, um afluente da margem esquerda do Rio Mogi Guaçu, localizada entre os municípios Leme, Pirassununga e Analândia, na porção centro-leste de São Paulo (Figura 01). Essa subbacia foi escolhida como uma das áreas-alvo por apresentar grande diversidade geológica e geomorfológica, com setores de relevo de morros sustentados por diques de diabásio, escarpas arenito-basálticas, terraços aluviais e vales encaixados além de outras características favoráveis ao desenvolvimento de processos de movimentos de massa e ondas de cheia, sendo a mesma interceptada a jusante pelo OSBRA. Juntamente com as informações depreendidas do projeto supracitado, objetiva-se apresentar uma análise geomorfológica da bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, relacionando os compartimentos mapeados às características morfológicas regionais e locais, bem como aos diferentes processos geológicos superficiais que podem afetar o OSBRA. 2. MÉTODO E ETAPAS DE TRABALHO Em termos teórico-metodológicos, a presente pesquisa baseou-se no conceito de Sistemas de Terrenos (LOLLO, 1995), a fim de avaliar sistemicamente o meio físico, com vistas à análise morfogenética. Para o mapeamento das unidades de terreno da bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque, foram reunidas informações dos mapas de declividade e altimetria, fotografias aéreas e levantamentos de campo, integrando-as aos dados do mapa fisiográfico preliminar, quadro de análise fotogeológica, contendo inferências geológicas, geomorfológicas, perfis típicos de solo e comportamentos geotécnicos fotointerpretados, conforme metodologia proposta por Zaine (2011). Em seguida, as unidades de terrenos foram caracterizadas considerando os fatores morfogenético, associados ao contexto da província geomorfológica da Depressão Periférica Paulista e Cuestas Basálticas. Para tanto, foram levantados trabalhos clássicos em geomorfologia sobre o compartimento geomorfológico citado, destacando Almeida (1964), Ab’Saber (1969), Penteado (1976), Fúlfaro (1979); Ponçano (1981) e Vieira (1982), além de Silva (2009), a qual apresenta um revisão teórico-conceitual sobre as superfícies geomorfológicas do planalto sudeste brasileiro. 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 2 3. CONTEXTO GEOMORFOLÓGICO REGIONAL A bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque possui um relevo típico de setores da Província Geomorfológica da Depressão Periférica Paulista, com a Zona do Mogi Guaçu, e a Província das Cuestas Basálticas, com feições tanto da cuesta interna como externa. A Depressão Periférica Paulista consiste em um compartimento morfo-escultural em forma de um corredor arqueado, com aproximadamente 450 km de extensão, e uma largura média de 100 km, nitidamente embutido entre as escarpas e festões mais avançados da zona de cuestas que delimitam a borda oriental dos derrames basálticos, e o Planalto Atlântico, formado por rochas pré-Cambrianas em áreas serranas e acidentadas. Além do predomínio de relevo pouco acidentado, ocorrem também áreas superficiais descontínuas de corpos intrusivos magmáticos geralmente em soleiras e diques de diabásio que desempenham papel importante na topografia. Os principais sistemas de relevo da província são as colinas médias e amplas e os morrotes alongados e espigões (AB’SABER, 1969; PENTEADO, 1976, PONÇANO, 1981). Esta província geomorfológica resulta da grande escavação erosiva em rochas dos Períodos Carbonífero, Permiano e Triássico, induzida pelo contínuo processo de peneplanização e resposta isostática de alívio de pressão pela remoção dos sedimentos citados. O levantamento vertical Meso-Cenozóico ocorrido na zona costeira do sudeste e sul do Brasil, cuja dinâmica não se deu de maneira contínua, com um forte impulso no Oligoceno (39 Ma), propiciou no nas áreas continentais adjacentes um arcabouço estrutural da Depressão Periférica. A partir do Mioceno (23 Ma), com a região novamente soerguida, uma nova fase de entalhe erosivo foi reativada, atribuindo tal idade à atual esculturação do relevo da província, o qual reflete complexos fenômenos denudacionais intertropicais e pediplanação extensiva (AB’SABER, 1969; FÚLFARO, 1979; VIEIRA, 1982; SILVA, 2009). Almeida (1964) estabelece a divisão tríplice da Província da Depressão Periférica Paulista nos seguintes compartimentos: Zona do Paranapanema ao sul, Zona do Médio Tiete na porção central e Zona do Mogi Guaçu ao norte, cujos níveis topográficos variam de 530 a 720 m, delimitados por regiões adjacentes em que as altitudes excedem 900 m, o que a caracteriza como uma depressão topográfica típica. A Zona do Mogi Guaçu representa 16% da província e difere-se relação às demais, e difere-se das demais pelo fato da Fm. Corumbataí só se mostrar em áreas restritas de sua borda ocidental (como observado na área de estudo). As expressivas intrusões de diabásio são características marcantes desta zona, existentes às bordas meridional e ocidental, com dezenas de metros de espessura, formando degraus topográficos suavizados, que separa a área sedimentar, de relevo baixo e uniforme, das altas escarpas do elevo residual da cuesta basáltica externa (ALMEIDA, 1964). O Rio Mogi Guaçu, ao se aproximar das estruturas basálticas, intrusivas ou efusivas, são por elas claramente desviados, atravessando saltos e pequenas quedas em soleiras (leito 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 3 rochoso) e sobre falhas, manifestando o condicionante estrutural na organização da rede hídrica. Já seus afluentes, como o Ribeirão do Roque, que em seu conjunto mostra traçado dendrítico, possuem maior adaptação às estruturas, seja por se dirigirem no sentido aproximadamente NNE das camadas, ou por se adaptarem às direções NE e NW dos sistemas predominantes de fratura. (ALMEIDA, 1964; AB’SABER, 1969). Em termos de composição litológica, a Província das Cuestas Basálticas é formada por derrames superpostos de rochas eruptivas, com mais de 100 km de extensão e com espessuras de várias dezenas de metros. Geralmente, estes derrames recobrem arenitos das formações Pirambóia e Botucatu, com lentes arenosas entre-cortantes e, nas partes mais elevadas, sobre os basaltos, ocorrem arenitos do Grupo Bauru e mais jovens, como as coberturas cenozoicas (PONÇANO, 1981). Quanto a morfologia deste compartimento, observam-se frontes escarpados com perfis escalonados cortados por plataformas estruturais. Os sistemas de relevo típicos são morros amplos e arredondados e relevos residuais de mesas basálticas, além de colinas médias no reverso da cuesta. Ocorrem também em algumas áreas pequenos platôs basálticos delimitados por relevos do tipo encostas sulcadas por vales subparalelos, ou com cânions locais (PONÇANO, 1981, PENTEADO, 1976). Apesar de não ser estabelecida sua subdivisão em zonas geomorfológicas, este compartimento pode ser caracterizado em duas linhas de cuestas, denominadas cuestas externas e internas. Enquanto que esta é contínua em todo território paulista, desenvolvendo-se desde o Rio Grande até o Rio Paranapanema, a cuesta externa ocorre desde Minas Gerais de forma menos contínua, perdendo sua altura junto ao vale do Rio Pardo, até descaracterizar-se por completo a SW do Rio Mogi Guaçu, configurando-se apenas como um degrau topográfico. A ocorrência da Província das Cuestas Basálticas na bacia do Ribeirão do Roque é observada à margem esquerda do rio Mogi Guaçu, onde a continuidade da cuesta externa é comprometida pelo crescimento da espessura dos arenitos infrabasálticos e interrupções do conjunto inferior (ALMEIDA, 1964). Os basaltos prosseguem de forma descontínua e sustentam um nítido degrau entalhado pelo Rio Descaroçador, seguindo para SW, derrames baixos, intercalados no pacote de arenito Botucatu, apresentando-se na superfície de maneira isolada. A partir da travessia do Rio Mogi Guaçu pela cuesta interna, e seguindo em direção ao sul, observa-se um relevo basáltico muito festonado, devido às intercalações de arenitos entre os derrames basálticos. Esta forma de relevo residual encontra-se restrita a dois setores na porção oriental da bacia do Ribeirão do Roque, representados pela Serra do Cuscuzeiro (NW) e Morro Grande (WNW), sendo este, um alto testemunho isolado da cuesta interna, avançado no espigão divisor de águas do Rio Mogi Guaçu e o Rio Tietê (ALMEIDA, 1964; PENTEADO, 1976). 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 4 4. UNIDADES DE TERRENO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO ROQUE A bacia hidrográfica do Ribeirão do Roque possui uma área de aproximadamente 500 km2, localizada na porção central da Depressão Periférica Paulista, na Zona do Mogi-Guaçu (ALMEIDA, 1964). O meio físico analisado caracteriza-se pela grande diversidade de formas de relevo e litotipos, correlatos às rochas paleozoicas e mesozoicas da Bacia Sedimentar do Paraná, distribuídos em dez unidades de terreno, conforme observado na Figura 01. Figura 01: Mapa de Unidades de Terreno da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Roque (SP) 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 5 A travessia do OSBRA (Figura 02) é feita em uma planície aluvionar do Ribeirão do Roque, na Unidade I, com presença de um pequeno meandro abandonado, sobre uma soleira de diabásio da Unidade VI. O local apresenta certa estabilidade geotécnica com presença de rachão de rocha para controle do processo erosivo nas margens e a travessia é feita em cavalete diretamente na rocha (diabásio), o que propicia uma proteção adicional. Figura 02: Perfil topográfico e material de subsuperfície na travessia do OSBRA no Ribeirão do Roque O Quadro 01 traz a síntese das características geológicas, geomorfológicas e de materiais inconsolidados, além da classificação das unidades segundo os critérios de fotoanálise e fotointerpretação (propriedades e atributos geotécnicos interpretados), e informações de campo. Quadro 1 – Análise integrada do meio físico da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Roque (Parte 1) Unidades de Terreno III IV Terraços Fluviais Coberturas cenozóicas Arenitos da Fm. Itaqueri Areias, cascalhos e argilas em planícies fluviais Materiais dominantemente arenosos em terraço fluvial Colúvios e coberturas com solos lateríticos em relevos colinosos Arenitos em topos de Cuestas Arenitos e Basaltos em relevos de escarpas Baixa Baixa Baixa Baixa Média a alta Baixa Baixa a média Alta Baixa Baixa Alta I II Subsuperfície (geologia) Planície Aluvial Denominação (litologia/materiais e relevo) Fotoanálise Drenagem e relevo Baixa Baixa Baixa (plana) Vales Abertos e superfícies plainas Vales Abertos e superfícies planas Superfícies planas Superfícies planas Convexas Côncavas Retilíneas Não orientada Meandros e depósitos de assoreamento Alta Não orientada Não orientada Não orientada Não orientada - - Voçorocas Escorregamento blocos Alta Alta Média Baixa a média Média Alta Alta a Média Média Baixa Baixa Baixa Baixa Baixa Alta a Média Baixa Baixa Baixa Baixa a média Alta a Média Homogênea Homogênea Homogênea Homogênea Homogênea Ausentes Ausentes Ausentes Ausentes Presentes Processos geológicos Erosão fluvial e assoreamento Erosão Erosão Erosão Uso da terra Mata ciliar Pasto e Cana Pasto e Cana Agricultura Formas de relevo Estrutura Densidade textural Amplitude local Declividade Formas de topo e vale Formas de encosta Tropia Fotointerpretação Feições particulares Drenagem e relevo Espessura do manto de alteração Resistência à erosão natural (dureza) Potencialidade a movimentos gravitacionais Composição e estrutura Afloramentos e blocos rochosos Observações de campo Va Arenitos da Fm. Botucatu e Basaltos da Fm. Serra Geral Baixa 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental Vales Abertos e Vales abertos e superfícies planas topos arredondados Vales fechados Rastejo, Escorregamento e queda de blocos Vegetação Nativa 6 Quadro 1 (continuação) – Análise integrada do meio físico da Bacia Hidrográfica do Ribeirão do Roque (Parte 2) Subsuperfície (geologia) Denominação (litologia/materiais e relevo) Vb VI Unidades de Terreno VII VIII IX X Folhelhos, Diabásio – calcários e sílex diques e Arenitos das Siltitos e Depósito de Arenitos da Fm. da Fm. Irati e soleiras Fm. Pirambóia e argilitos da Fm. Talus Pirambóia siltitos e correlatas a Fm. Botucatu Corumbataí arenitos da Fm Serra Geral Tatui Material Diabásio em Folhelhos, inconsolidado relevo de Arenitos e solos calcários e sílex proveniente de morrotes Arenitos e solos arenosos em Siltitos e argilitos da Fm Irati e intemperismo e alinhados e arenosos em relevo de em relevo de siltitos e ação da encostas relevo de meia encostas meia encosta arenitos da Fm gravidade no íngremes Talus encosta suaves Tatui em relevo sopé de e colúvios de meia encosta Cuestas associados Fotointerpretação Fotoanálise Drenagem e Densidade Média Média Baixa Média Média a alta Média a alta relevo textural Amplitude Média Alta Baixa Média Baixa Baixa local Declividade Baixa Alta Baixa Baixa a Média Baixa a Média Baixa a Média Formas de Vales abertos e Vales Abertos e Vales abertos e Vales Fechados Vales abertos e Vales abertos e Formas de relevo topos topos angulosos topos e topos topos topos topo e vale arredondados a arredondados arredondados arredondados arredondados arredondados Formas de Côncavas e Côncavas e Convexas e Convexas e Convexas Convexas encosta retilíneas retilíneas Côncavas Côncavas Orientada Estrutura Tropia Não orientado Não orientada Não orientada Não orientada Não orientada (diques) Cristas Ravinas e Feições particulares Ravinas orientadas Ravinas Voçorocas Escorregamento Drenagem e relevo Média Média Alta Alta a média Baixa Baixa Espessura do manto de Média a Baixa Baixa a alta Alta Média a Baixa Baixa Baixa a média alteração Resistência à erosão Baixa Alta Baixa Média a Baixa Média Média natural (dureza) Potencialidade a movimentos Alta a Média Alta a Média Baixa Baixa Baixa Baixa gravitacionais Homogênea a Composição e estrutura Homogênea Homogênea Heterogênea Heterogênea Heterogênea Heterogênea Afloramentos e blocos Ausentes Raros Presentes Ausentes Ausentes Ausentes rochosos (raros) Rastejo e Processos Escorregamento EmpastilhaEmpastilhaObservaErosão Erosão Erosão geológicos e queda de mento mento ções de blocos campo Uso da terra Pasto e Cana Pasto Pasto e Cana Pasto e Cana Pasto e Cana Pasto e Cana As unidades representadas pelas planícies fluviais (I), terraços (II) e coberturas coluvionares (III) compõem as formas de relevo mais suaves a leste da área. Na porção central, o relevo colinoso está associado às rochas paleozoicas (unidades IX e X), enquanto que as formas mais dissecadas são compostas por rochas mesozoicas e paleozoicas (unidades de VI a VIII). São observadas a oeste rochas areníticas sobre os relevos cuestiformes das unidades IV e V. A unidade I, formada por sedimentos quaternários, caracteriza-se por superfícies planas junto às drenagens principais da bacia, com desenvolvimento de planícies aluviais, entreposta em colinas e morros amplos, principalmente ao longo dos Ribeirões do Moquém, do Descaroçador, do Arouca e do Roque. Nesta unidade é encontrada a travessia do OSBRA (Fig. 02), estrutura esta sujeita aos processos erosivos fluviais bem como ondas de cheias. A unidade II ocorre próximo à foz da bacia, identificada pelo terraço fluvial entre o Ribeirão do Roque e o Rio Mogi Guaçu, em uma superfície plana e irregular, onde é observada a surgência da água subterrânea 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 7 formando lagoas de topo que alimenta pequenos cursos d’água. Esta unidade caracteriza-se pela erosão hídrica linear, mobilizando sedimentos flúvio-lacustres cenozoicos inconsolidados. As coberturas cenozoicas da unidade III caracteriza-se por sedimentos indiferenciados retrabalhados de outras rochas (colúvios), associadas à superfície erosivas e estendem-se sobre os topos aplainados em colinas amplas e suaves. A centro-leste da área ocorrem as rochas paleozoicas, dominantemente pelíticas, das formações Corumbataí, Irati e Tatuí, definidas respectivamente como unidades IX e X, em setores de meia e baixa encosta, em um terreno sujeito aos processos de empastilhamento. A unidade IX diferencia-se da unidade X por apresentar maior densidade textural, o que está relacionada ao maior aporte hídrico e erosão linear mais intensa. Os diques e soleiras de diabásio formam os morrotes alongados e espigões da unidade VI, com encostas íngremes e topos anguloso, susceptíveis aos processos de rastejo, escorregamento e queda de blocos. Os arenitos das formações Pirambóia e Botucatu caracterizam-se pelos degraus estruturais a oeste da área e rebordos erosivos típicos do relevo de morros amplos de encostas suaves da unidade VII. Já unidade VIII, formada por rochas da Fm. Pirambóia, é definida por um relevo formado por colinas amplas com interflúvios arredondados, vales fechados e encostas dissecadas, resultantes pela menor resistência ao entalhe erosivo da drenagem. Caracterizada pelo relevo do tipo platô, a sub-unidade Va é formada por encostas verticais com feições de instabilidade como ravinamento e fraturas com quedas de blocos rochosos. Os materiais inconsolidados da sub-unidade Vb, caracterizam-se por sedimentos quaternários provenientes do intemperismo das cuestas e movimentos gravitacionais de queda de blocos e escorregamentos de solo e rocha, com a deposição deste material no sopé do relevo escarpado. Sobre este relevo, a unidade IV ocorre de forma localizada formando um relevo suave com topos arredondados e vales abertos. A seguir, as Figuras 03 e 04 apresentam os perfis topográficos e seções geológicas indicados no mapa da Figura 01, ilustrando as rochas/materiais de subsuperfície e formas de relevos das dez unidades de terrenos da bacia do Ribeirão do Roque. Legenda Figura 03: Perfil topográfico DE e material de subsuperfície da bacia hidrográfica Ribeirão do Roque 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 8 Legenda Figura 04: Perfil topográfico ABC e material de subsuperfície da bacia hidrográfica Ribeirão do Roque 15º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia e Ambiental 9 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS O desenvolvimento da paisagem a partir de uma sequencia evolutiva de processos de desnudação com a progressiva mudança da forma do relevo encontra-se impressa nas unidades de terreno mapeadas. Na bacia do Ribeirão do Roque, como em toda a Depressão Periférica Paulista e Cuestas Basálticas, estes eventos resultaram no gradual rebaixamento de topos e interflúvios com a suavização da inclinação das vertentes e escalonamento topográfico. A grande diversidade de formas de relevo da área estudada se deve a variedade de litotipos, os quais estão associados a superfícies em níveis altimétricos distintos (Figuras 03 e 04), revelando o caráter espacial e cronológico dos processos de desnudação (intemperismo, erosão e movimentos de massa) sobre tipos de rochas e em uma variedade de estruturas geológicas. A definição da bacia hidrográfica como unidade de análise dos elementos do meio físico corrobora para compreensão integrada dos condicionantes de estabilidade de obras de infraestrutura, como no caso do OSBRA. Conclui-se, portanto, que o mapeamento das unidades de terreno numa escala de semi-detalhe, acompanhado pela contextualização geomorfológica regional e análise morfogenética, permitirá a avaliação sistêmica do comportamento geotécnico e dos processos geológicos exógenos que podem afetar direta e indiretamente o referido duto. REFERÊNCIAS AB’SABER, A.N. A Depressão Periférica Paulista: um setor das áreas de cincundesnudação pós-cretácea da Bacia do Paraná. Boletim do Instituto de Geografia – USP, Geomorfologia 15. 15p. 1969. ALMEIDA, F.F.M. Fundamento geológicos do Relevo Paulista. Boletim Instituto Geográfico e Geológico, 41. p. 169-263. 1964. FÚLFARO, V.J. O Cenozoico da Bacia do Paraná. In. 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