APLICAÇÃO DE FILME BIODEGRADÁVEL NO CULTIVO DE PFAFFIA GLOMERATA Patrícia Morena Sanchez (Fundação Araucária/ UEL), Ana Paula Bilck, Guilherme Zambrozi Garcia, Fabio Yamashita (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina / Centro de Ciências Agrárias / Depto Ciência e Tecnologia de Alimentos) PR. Ciências Agrárias / (50700006) Ciência e Tecnologia de alimentos. Palavras-chave: amido, PBAT, fáfia, mudas, plantas medicinais Resumo: O crescente acúmulo de lixo não-biodegradável, aliado às dificuldades de reciclagem da maioria das embalagens sintéticas são um dos grandes problemas ambientais do momento. Estes filmes plásticos aplicados na agricultura constituem um sério, pois devido ao seu elevado peso molecular e propriedades hidrofóbicas, possuem alta estabilidade química, levando em média 100 anos para se decomporem totalmente. Estes problemas podem ser solucionados se estes passarem a ser confeccionados a partir de polímeros biodegradáveis. Muitos trabalhos têm utilizado o amido de mandioca para produção de filmes biodegradáveis devido à abundância, baixo custo e biodegradabilidade. Entretanto, suas aplicações tecnológicas normalmente requerem melhorias nas propriedades mecânicas e de barreira, uma vez que esses filmes são solúveis em água, quebradiços e de difícil processamento. Uma opção é a mistura de polímeros biodegradáveis comerciais com amido visando reduzir o custo sem modificar de forma drástica a resistência mecânica, maquinabilidade e permeabilidade dos mesmos. Para a produção de mudas em estufa são utilizados sacos pretos feitos de filme de polietileno de baixa densidade, porém não existem estudos no Brasil referentes à forma de descarte destes sacos após a retirada da muda para o plantio no solo. A reciclagem se torna difícil devido a grande quantidade de matéria orgânica aderida ao material. O objetivo do projeto é produzir filmes biodegradáveis mistos, via extrusão, que tenham propriedades mecânicas adequadas para produção em escala industrial, utilizando amido, plastificante e polímero biodegradável para a produção de sacos para mudas de Pfaffia glomerata que possam ser enterradas sem a retirada da embalagem. Introdução Nos últimos anos, tem sido crescente o interesse na utilização de polímeros biodegradáveis como uma alternativa para minimizar os problemas Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava – PR. 1 ambientais causados pelo descarte de polímeros sintéticos tradicionais (BASTIOLI, 2001). No mundo, cerca de 150 milhões de toneladas de plásticos são produzidos anualmente, sendo que a produção e o consumo são cada vez maiores. Estes problemas podem ser solucionados se os filmes passarem a ser confeccionados a partir de polímeros biodegradáveis, pois os filmes plásticos aplicados na agricultura constituem um sério problema ambiental, devido ao seu elevado peso molecular e propriedades hidrofóbicas, possuem alta estabilidade química, levando em média 100 anos para se decomporem totalmente. Existem no mercado diversos polímeros biodegradáveis (PB), que apresentam boas características para a produção de embalagens, mas a substituição dos polímeros convencionais por estes é dificultada pelo alto custo. Além disso, diversos desses produtos ou não são produzidos no Brasil ou o são ainda em pequena escala. O amido é um polímero natural renovável, também denominado biopolímero, de fácil decomposição, abundante e de baixo custo, mas a sua utilização como único polímero para produção de embalagens biodegradáveis não é viável, pois vários estudos demonstram que filmes de amido são higroscópicos e de baixa resistência mecânica, característica que compromete a eficiência da embalagem e a qualidade do produto nela contido. Embora o amido possa ser termoplasticamente processado sob condições especiais, ele não pode ser considerado um polímero termoplástico típico, pois há perda da organização natural das cadeias deste biopolímero (VILLAR, 1995; ALAVI, 2002; ROSA et al., 2004; MALI et al., 2005, 2006). Uma opção é uma mistura utilizando amido visando reduzir o custo do filme plástico flexível com resistência mecânica, maquinabilidade e permeabilidade adequada para cada aplicação. Além disso, o processo de produção desses filmes mistos utilizaria os mesmos equipamentos empregados na produção de filmes plásticos convencionais, podendo ser incorporados agentes plastificantes como glicerol, sorbitol e outros. Materiais e métodos Amido de mandioca, glicerol comercial, polímero biodegradável poli(butileno adipato-co-terefatalato) (PBAT) e, para o filme biodegradável preto (FBP), foi utilizado o pigmento Sicopal Black ® K0095 (SB) e sacos de mudas de polietileno da cor preta para comparação. As mudas de Pfaffia glomerata foram adquiridas do viveiro da Universidade Estadual de Londrina e a propagação foi feita por estaquia. Os filmes biodegradáveis brancos (FBB) e pretos (FBP) foram obtidos por extrusão a partir das blendas de amido, PBAT e agente plastificante (glicerol), previamente misturados. Foram 6 tratamentos: 3 sacos para mudas (FBB, FBP, e PE) e 3 formas de plantio das mudas (com o saco inteiro, com o fundo cortado e sem o saco), com 5 repetições cada. Este tratamento foi realizado com objetivo de verificar a biodegradação dos sacos para as mudas e a sua influência no Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava – PR. 2 desenvolvimento das plantas. Os vasos com as fáfias foram mantidos em estufa, na casa de vegetação da UEL durante 240 dias, com regas diárias a fim de manter a umidade do solo em torno de 65% (± 5). Resultados e Discussão As mudas de fáfia foram coletadas após 60, 120 e 240 dias do plantio nos vasos nos 3 tratamentos (sem o saco, com o fundo cortado e com o saco inteiro) e foram realizadas as analises de peso seco das raízes das plantas e a avaliação visual da biodegradação dos filmes. Após 60 dias observou-se que as plantas enterradas com o saco inteiro de FBB e FBP não tiveram diferença significativa de peso seco se comparado com as plantas transplantadas sem o saco e com o fundo cortado. O peso seco das plantas com o saco FBP foi maior quando comparado com o FBP sem saco e FBP com fundo cortado.. As plantas enterradas sem o saco, as quais foram produzidas nos sacos de FBB tiveram maior peso seco (10,71g.planta-1) se comparado com os PE (6,16g.planta-1) e FBB (6,82g.planta-1). Os sacos inteiros de FBB e FBP estavam com cerca de 40% da sua estrutura degradada e se desmanchava ao entrar em contato com a água que foi usada para lavar as raízes. Os sacos de PE estavam inteiros e sem nenhum sinal de decomposição ou rasgos, somente alguns furos causados pela força das raízes ao tentarem sair da embalagem. O peso seco das fáfias plantadas no FBB sem saco, fundo cortado e inteiro não tiveram diferença significativa após 120 dias do plantio. Nos sacos inteiros FBP e PE as plantas tiveram uma redução do peso seco de 42% e 64%, respectivamente, se comparado com as amostras sem saco, indicando que o desenvolvimento das fáfias pode ter sido prejudicado pela presença da embalagem. As plantas no saco de PE estavam com as raízes enroladas e deformadas pela falta de espaço para seu desenvolvimento, uma vez que a embalagem não rompeu e degradou neste período. Nas amostras de FBP, o saco estava com 95% de biodegradação e não foi observada nenhuma deformidade das raízes que pudesse impedir o desenvolvimento das plantas. Após 240 dias do plantio nos vasos, os sacos FBB e FBP estavam 100% biodegradados e o PE não apresentaram sinal de degradação e fragilidade, somente alguns furos na parte inferior provocado pelas raízes das plantas. O peso seco das fáfias do FBB, FBP e PE sem saco e fundo cortado não tiveram diferença significativa entre os tratamentos, o menor valor de 14,83 g.planta-1 para o FBP sem saco e o maior valor de 16,98 g.planta-1 para o FBB fundo cortado. O peso seco das fáfias plantadas no PE com saco inteiro foi 23% e 25% menor que o PE sem saco e PE fundo cortado. Se comparado com os outros tratamentos, o PE inteiro também teve peso seco menor, 27% em relação ao FBB inteiro e 33,5% em relação ao FBP. As raízes das fáfias com PE inteiro em busca de espaço e Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava – PR. 3 nutrientes cresceram pela parte superior, por fora da embalagem ou perfuraram o fundo do saco, indicando que o desenvolvimento foi prejudicado pela falta de espaço e nutrientes. Conclusões Os filmes biodegradáveis brancos e pretos desenvolvidos pelo processo de extrusão não influenciaram no cultivo das fafias durante o período de 60, 120 e 240 dias. Após 240 dias do transplante nos vasos, os sacos de FBB e FBP estavam 100% biodegradados e não tiveram diferença significativa de peso seco se comparado com as plantas enterradas sem o saco e fundo cortado. As plantas cultivadas no PE com saco inteiro tiveram dificuldades no desenvolvimento das raízes e o peso seco foi menor se comparado com os demais tratamentos sem saco e com fundo cortado. O uso de filmes biodegradáveis é uma alternativa para a substituição dos sacos para mudas podendo ser transplantado sem a retirada da embalagem que será totalmente biodegradada no solo sem influenciar no desenvolvimento das plantas. Referências ALAVI, S.H.; CHEN, K.; RIZVI, S.S. Rheological characteristics of intermediate moisture blends of pregelatinized and raw wheat starch. Journal of Agriculture and Food Chemistry, v.50, p.6740-6745, 2002. BASTIOLI, C. Global status of the production of biobased packaging materials. Starch/Stärke, v.53, p.351-355, 2001. BRIASSOULIS, D. Mechanical behaviour of biodegradable agriculural films under real field conditions. Polymer Degradation and Stability, v.91, p.1256-1272, 2006. CHANDRA, R.; RUSTGI, R. Biodegradable polymers. 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