VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
II-037 – ESTUDO DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA NOS USOS
DOMICILIARES VISANDO REÚSO NÃO-POTÁVEL
Cristiane Santana Cruz(1)
Engenheira Sanitarista e Ambiental pela UFBA. Mestranda em Engenharia Ambiental Urbana na
Universidade Federal da Bahia. Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia.
Asher Kiperstok(2)
Engenheiro Civil, MSc./PhD em Eng. Química, Tecnologias Ambientais. Professor Adjunto do Departamento
de Eng. Ambiental – EPUFBA. Coordenador da Rede de Tecnologias Limpas da Bahia-TECLIM e do
Mestrado Profissionalizante em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Ênfase em
Produção Limpa –MEPLIM da UFBA.
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RESUMO
O reúso de águas servidas vem sendo apontada como alternativa tecnológica para minimização do consumo da
água. O objetivo deste trabalho é caracterizar a qualidade da água nos possíveis usos domiciliares, no
ambiente urbano, especificadamente a água dos selos hídricos de vasos sanitários, visando identificar a
qualidade de reúso apropriada para tal finalidade. Foram coletadas 98 amostras de água dos selos hídricos dos
vasos sanitários nos sanitários masculinos e femininos de 5 shoppings centers, uma Estação rodoviária e 3
unidades da Universidade Federal da Bahia. Todas as amostras colhidas mostraram a presença de coliformes
termotolerantes. Os resultados levantam a questão que a utilização de águas de reúso com qualidade
equivalente à encontrada nos vasos, para se efetuar a descarga dos mesmos, não representaria, aparentemente,
em redução significativa da qualidade das mesmas nem redução de segurança dos usuários no que se refere à
questão de saúde pública.
PALAVRAS-CHAVE: Reúso de Água, Qualidade da Água, Vaso Sanitário, Minimização do Uso de Água.
INTRODUÇÃO
O objetivo deste trabalho é caracterizar a qualidade da água nos possíveis usos domiciliares, no ambiente
urbano, especificadamente a água dos selos hídricos de vasos sanitários, visando identificar a qualidade de
reúso apropriada para tal finalidade.
O reúso de água vem sendo aplicado mais intensamente na irrigação e recarga de aqüíferos, seguido das
indústrias e mais timidamente no meio urbano. No ambiente urbano são identificadas diversas oportunidades
de reúso tais como irrigação de jardins de parques públicos, descargas de vasos sanitários, lavagem de ruas,
dentre outros visando a minimização do consumo de água potável.
A construção do Desenvolvimento Sustentável exige esforços na busca de alternativas exeqüíveis, porém
seguras, de reúso de água no sentido de se dar uma maior racionalidade ao uso deste recurso natural. Um dos
conceitos utilizados no ambiente industrial para se otimizar o uso da água, minimizando os seus encargos
energéticos, tem sido o do “uso em cascata”. Este conceito adaptado ao ambiente urbano caracteriza-se no
aproveitamento das águas servidas para outro uso compatível com seu novo uso, podendo este não ser tratado
ou sofrer menor tratamento possível antes da aplicação.
A legislação brasileira não define padrões de qualidade para água de reúso domiciliar. Atualmente existe uma
proposta que esta em fase de discussão. Esta proposta é baseada em legislações de outros países onde são
apresentados critérios de qualidade da água para reúso de acordo com uso previsto. No quadro 1 são
apresentados critérios bacteriológicos de reúso de água para nivelamento de vasos sanitários. Verifica-se que
tais critérios apresentam-se a princípio bastante restritivos em relação ao uso pretendido.
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Quadro 1: Critérios Bacteriológicos de Reúso de Água para Nivelamento em Vasos Sanitários
Coliforme Termotolerante
Coliforme Total
(UFC/100ml)
(UFC/100ml)
US.EPA
14¹
0²
Florida
25¹
0³
Texas
75
Canadá
2,2 média e 14¹
Japão
10¹
Alemanha
100
500
¹ p/ simples; ² p/ 90% amostras simples; ³ p/ 75% amostras simples; 4 guia; 5 legislação
Fonte: Lazarova, Hill e Birks 2003
A única norma identificada que aponta para padrões de qualidade de água para uso em vaso sanitário é a NBR
13969 (ABNT, 1997) que revê a NBR 7229 (ABNT, 1993), que apresenta como parâmetro bacteriológico de
reúso de água nas descargas dos vasos sanitários 500 NMP/100ml de coliforme fecal.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi realizado estudo de caráter exploratório em 5 shoppings centers, uma Estação rodoviária e 3 unidades da
Universidade Federal da Bahia localizados em Salvador-BA. Foram coletadas 98 amostras de água dos selos
hídricos dos vasos sanitários nos sanitários masculinos e femininos dos locais supracitados. O indicador
analisado foi coliforme termotolerante. Foram realizadas análises estatísticas descritivas além dos testes t e
Tunkey para comparação entre as médias.
O procedimento de coleta da água dos selos dos vasos foi realizado sem se dar descarga, desde que a água no
vaso apresentasse aparência limpa. Caso contrário era dada descarga previamente a coleta. Procurou-se
reproduzir as condições normalmente encontradas pelos usuários. Todas as amostras, foram analisadas pelo
método da membrana filtrante, conforme estabelecido pelo Standard Methods for the Examination of Water
and Wastewater 20th Edition-1998.
Na Escola Politécnica, as coletas foram realizadas em sanitários regularmente utilizados pelo público (4º, a 7º
andares), desprezando-se os sanitários dos andares de pouca movimentação (1º, 2º, 3º e 8º andares) e em
sanitários femininos e masculinos. O objetivo desse procedimento foi minimizar as distorções nos resultados,
reduzindo as variáveis a serem interpretadas neste estagio.
Nos shoppings centers as amostras foram recolhidas em vasos sanitários de banheiros femininos e masculinos
em todos os andares com grande movimentação, com filas de usuários e, conseqüentemente, sujeitos à
descargas seguidas.
RESULTADOS
A Figura 1 apresenta a distribuição dos resultados das análises da água dos vasos femininos e masculinos em
ordem logarítmica onde 38% das amostras de água dos vasos sanitários femininos encontram-se no intervalo
de até 1,00E+1UFC/100ml de coliforme termotolerante enquanto no masculino, 29% das amostras encontramse no intervalo entre 1,00E+1 e 1,00E+2UFC/100ml.
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Frequência Relativa (%)
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45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
38%
masculino
29%
26%
feminino
24%
20%
17%
15%
11%
8%
8%
3% 2%
1,E+01
1,E+02
1,E+03
1,E+04
1,E+05
1,E+06
Limite Superiorda faixa de Concentração (UFC/100ml)
Figura 1: - Histograma: Distribuição de Coliforme Termotolerante nos Vasos Femininos e Masculinos
Na Figura 2, das 98 amostras analisadas para coliformes termotolerantes, 50% se encontrava na faixa de
1,55E+02 a 1,20E+05 UFC/100ml. Sendo que 4,5E+02 a 1,2E+05 UFC/100ml nos vasos masculinos e
4,5E+01 a 1,2E+05 UFC/100ml nos vasos femininos.
1,E+06
1,E+05
1,E+04
1,E+03
1,E+02
1,E+01
1,E+00
25%
50%
90%
10%
BA
-F
UF
-M
BA
UF
in
g
-F
-M
in
g
Sh
o
pp
pp
F
lSh
o
To
ta
To
ta
l-
M
Mín
Máx
75%
Figura 2: Box plot - Concentração de Coliforme Termotolerante na Água de Vasos
Sanitários Feminino e Masculino dos Shoppings e de 3 Unidades da UFBA
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A tabela 1 apresenta a média e desvio geométrico da densidade de coliformes termotolerantes nos shoppings e
unidades de UFBA onde se verifica que a maiores médias geométricas foram encontradas nos shoppings D e
E, 4,27E+03 ±5,62E+00 e 1,80E+03 ±1,73E+01.
Tabela 01 – Média e desvio geométricos da densidade de coliformes termotolerantes nos shoppings e
unidades da UFBA.
Média
geométrica
(UFC/100ml)
Desvio
geométrico
(UFC/100ml)
Total
A
B
C
D
E
F
PAF II
PAF II
Poli
1,3E+02
1,99E+01
9,50E+00
5,57E+01
4,27E+03
1,80E+03
7,69E+02
8,14E+01
2,22E+02
9,8E+01
1,33E+01
6,42E+00
1,76E+01
5,62E+00
1,73E+01
4,08E+00
2,53E+01
6,88E+01 4,6E+01
10
13
10
10
9
7
10
3,1E+01
Número de
amostras
98
10
19
O teste t e Tunkey, para comparação entre as médias, demonstraram que não houve diferença significativa
entre as médias das análises de águas dos selos nos vasos sanitários dos banheiros masculinos, dos diferentes
locais, com nível de confiança de 95 e 99%. Nos banheiros femininos, os testes apresentam diferenças
significativas entre os locais estudados. Os testes mostraram que existe diferença significativa na qualidade da
água do selo hídrico do shopping E em relação a todas as outras localidades estudadas. Acreditasse que deve
haver maior intensidade na limpeza dos banheiros femininos em relação aos masculinos, outro fato
relacionado é que nos banheiros femininos os vasos sanitários são usados para urinar e defecar e no banheiro
masculino existe a opção dos mictórios. Com relação aos tipos de saneantes utilizados na limpeza, acreditasse
que o mesmo não deva apresentar representar aspecto relevante visto que os produtos utilizados nos banheiros
femininos deve ser os mesmos utilizados nos banheiros masculinos de um mesmo local.
CONCLUSÕES
Com base no trabalho realizado, concluiu-se que:
9
Todas as amostras colhidas mostraram a presença de coliformes termotolerantes.
9
Os resultados levantam a questão que a utilização de águas de reúso com qualidade equivalente à
encontrada nos vasos de banheiros públicos, para se efetuar a descarga dos mesmos, não
representaria, aparentemente, em redução significativa da qualidade das mesmas nem redução de
segurança dos usuários no que se refere à questão de saúde pública.
9
A densidade de coliforme termotolerante encontrada nos vasos sanitários dos prédios públicos
analisados apresenta valores superiores aos indicados nas legislações internacionais de reúso,
apontando que tais parâmetros apresentam-se muito restritivos.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à Fundação de Amparo a Pesquisa da Bahia - FAPESB, FINEP/PROSAB, Fundação
Escola Politécnica da Bahia-FEP, ao acadêmico Alisson Meireles e ao pessoal do Laboratório do
DEA/EPUFBA pelo apoio na realização deste trabalho.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13969: Tanques sépticos - unidades
de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos: projeto, construção e operação. Rio
de janeiro,1997
2.
APHA/AWWA/WEF. Standard Methods for Examination of water and wastewater. 20th edition. New
York: American Public Health Association, 1998.
ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental
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VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental
3.
HESPANHOL, I. Potencial de reúso de água no Brasil: agricultura, industria, município e recarga de
aqüíferos. In: MANCUSO P. C. S.; SANTOS, H. F. Reúso de água. Barueri, SP: Manole, 2003. p. 37 –
96.
4.
KIPERSTOK,A.; ALMEIDA, G.S.; MENDONÇA, P.A.O.; COHIM, E.; DULTRA, F.A. Qualidade
Mínima para Reúso de Efluentes em Vasos Sanitários: uma proposta para discussão. In: IV Simpósio
Internacional de Qualidade Ambiental, 2004, Porto Alegre. Anais do IV Simpósio Internacional de
Qualidade Ambiental. Porto Alegre, 2004.
5.
LAZAROVA, V., HILL, S. e BIRKS, R. Using recycled water for non-potable, urban uses: a review
with particular reference to toilet flushing.Warter Science and Technology. Water Supply. V. 3. nº4, pg.
69-77, 2003.
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