VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental II-037 – ESTUDO DA QUALIDADE BACTERIOLÓGICA DA ÁGUA NOS USOS DOMICILIARES VISANDO REÚSO NÃO-POTÁVEL Cristiane Santana Cruz(1) Engenheira Sanitarista e Ambiental pela UFBA. Mestranda em Engenharia Ambiental Urbana na Universidade Federal da Bahia. Bolsista da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia. Asher Kiperstok(2) Engenheiro Civil, MSc./PhD em Eng. Química, Tecnologias Ambientais. Professor Adjunto do Departamento de Eng. Ambiental – EPUFBA. Coordenador da Rede de Tecnologias Limpas da Bahia-TECLIM e do Mestrado Profissionalizante em Gerenciamento e Tecnologias Ambientais no Processo Produtivo, Ênfase em Produção Limpa –MEPLIM da UFBA. Endereço(1): Rua Aristides Novis, 02 – – Federação – Salvador - BA- CEP: 40.210-630- Brasil - Tel: +55 (71) 3235-4436 - Fax: +55 (71) 3203-9892 - e-mail: [email protected]. RESUMO O reúso de águas servidas vem sendo apontada como alternativa tecnológica para minimização do consumo da água. O objetivo deste trabalho é caracterizar a qualidade da água nos possíveis usos domiciliares, no ambiente urbano, especificadamente a água dos selos hídricos de vasos sanitários, visando identificar a qualidade de reúso apropriada para tal finalidade. Foram coletadas 98 amostras de água dos selos hídricos dos vasos sanitários nos sanitários masculinos e femininos de 5 shoppings centers, uma Estação rodoviária e 3 unidades da Universidade Federal da Bahia. Todas as amostras colhidas mostraram a presença de coliformes termotolerantes. Os resultados levantam a questão que a utilização de águas de reúso com qualidade equivalente à encontrada nos vasos, para se efetuar a descarga dos mesmos, não representaria, aparentemente, em redução significativa da qualidade das mesmas nem redução de segurança dos usuários no que se refere à questão de saúde pública. PALAVRAS-CHAVE: Reúso de Água, Qualidade da Água, Vaso Sanitário, Minimização do Uso de Água. INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é caracterizar a qualidade da água nos possíveis usos domiciliares, no ambiente urbano, especificadamente a água dos selos hídricos de vasos sanitários, visando identificar a qualidade de reúso apropriada para tal finalidade. O reúso de água vem sendo aplicado mais intensamente na irrigação e recarga de aqüíferos, seguido das indústrias e mais timidamente no meio urbano. No ambiente urbano são identificadas diversas oportunidades de reúso tais como irrigação de jardins de parques públicos, descargas de vasos sanitários, lavagem de ruas, dentre outros visando a minimização do consumo de água potável. A construção do Desenvolvimento Sustentável exige esforços na busca de alternativas exeqüíveis, porém seguras, de reúso de água no sentido de se dar uma maior racionalidade ao uso deste recurso natural. Um dos conceitos utilizados no ambiente industrial para se otimizar o uso da água, minimizando os seus encargos energéticos, tem sido o do “uso em cascata”. Este conceito adaptado ao ambiente urbano caracteriza-se no aproveitamento das águas servidas para outro uso compatível com seu novo uso, podendo este não ser tratado ou sofrer menor tratamento possível antes da aplicação. A legislação brasileira não define padrões de qualidade para água de reúso domiciliar. Atualmente existe uma proposta que esta em fase de discussão. Esta proposta é baseada em legislações de outros países onde são apresentados critérios de qualidade da água para reúso de acordo com uso previsto. No quadro 1 são apresentados critérios bacteriológicos de reúso de água para nivelamento de vasos sanitários. Verifica-se que tais critérios apresentam-se a princípio bastante restritivos em relação ao uso pretendido. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 1 VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental Quadro 1: Critérios Bacteriológicos de Reúso de Água para Nivelamento em Vasos Sanitários Coliforme Termotolerante Coliforme Total (UFC/100ml) (UFC/100ml) US.EPA 14¹ 0² Florida 25¹ 0³ Texas 75 Canadá 2,2 média e 14¹ Japão 10¹ Alemanha 100 500 ¹ p/ simples; ² p/ 90% amostras simples; ³ p/ 75% amostras simples; 4 guia; 5 legislação Fonte: Lazarova, Hill e Birks 2003 A única norma identificada que aponta para padrões de qualidade de água para uso em vaso sanitário é a NBR 13969 (ABNT, 1997) que revê a NBR 7229 (ABNT, 1993), que apresenta como parâmetro bacteriológico de reúso de água nas descargas dos vasos sanitários 500 NMP/100ml de coliforme fecal. MATERIAIS E MÉTODOS Foi realizado estudo de caráter exploratório em 5 shoppings centers, uma Estação rodoviária e 3 unidades da Universidade Federal da Bahia localizados em Salvador-BA. Foram coletadas 98 amostras de água dos selos hídricos dos vasos sanitários nos sanitários masculinos e femininos dos locais supracitados. O indicador analisado foi coliforme termotolerante. Foram realizadas análises estatísticas descritivas além dos testes t e Tunkey para comparação entre as médias. O procedimento de coleta da água dos selos dos vasos foi realizado sem se dar descarga, desde que a água no vaso apresentasse aparência limpa. Caso contrário era dada descarga previamente a coleta. Procurou-se reproduzir as condições normalmente encontradas pelos usuários. Todas as amostras, foram analisadas pelo método da membrana filtrante, conforme estabelecido pelo Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater 20th Edition-1998. Na Escola Politécnica, as coletas foram realizadas em sanitários regularmente utilizados pelo público (4º, a 7º andares), desprezando-se os sanitários dos andares de pouca movimentação (1º, 2º, 3º e 8º andares) e em sanitários femininos e masculinos. O objetivo desse procedimento foi minimizar as distorções nos resultados, reduzindo as variáveis a serem interpretadas neste estagio. Nos shoppings centers as amostras foram recolhidas em vasos sanitários de banheiros femininos e masculinos em todos os andares com grande movimentação, com filas de usuários e, conseqüentemente, sujeitos à descargas seguidas. RESULTADOS A Figura 1 apresenta a distribuição dos resultados das análises da água dos vasos femininos e masculinos em ordem logarítmica onde 38% das amostras de água dos vasos sanitários femininos encontram-se no intervalo de até 1,00E+1UFC/100ml de coliforme termotolerante enquanto no masculino, 29% das amostras encontramse no intervalo entre 1,00E+1 e 1,00E+2UFC/100ml. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 2 Frequência Relativa (%) VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 45% 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 38% masculino 29% 26% feminino 24% 20% 17% 15% 11% 8% 8% 3% 2% 1,E+01 1,E+02 1,E+03 1,E+04 1,E+05 1,E+06 Limite Superiorda faixa de Concentração (UFC/100ml) Figura 1: - Histograma: Distribuição de Coliforme Termotolerante nos Vasos Femininos e Masculinos Na Figura 2, das 98 amostras analisadas para coliformes termotolerantes, 50% se encontrava na faixa de 1,55E+02 a 1,20E+05 UFC/100ml. Sendo que 4,5E+02 a 1,2E+05 UFC/100ml nos vasos masculinos e 4,5E+01 a 1,2E+05 UFC/100ml nos vasos femininos. 1,E+06 1,E+05 1,E+04 1,E+03 1,E+02 1,E+01 1,E+00 25% 50% 90% 10% BA -F UF -M BA UF in g -F -M in g Sh o pp pp F lSh o To ta To ta l- M Mín Máx 75% Figura 2: Box plot - Concentração de Coliforme Termotolerante na Água de Vasos Sanitários Feminino e Masculino dos Shoppings e de 3 Unidades da UFBA ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 3 VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental A tabela 1 apresenta a média e desvio geométrico da densidade de coliformes termotolerantes nos shoppings e unidades de UFBA onde se verifica que a maiores médias geométricas foram encontradas nos shoppings D e E, 4,27E+03 ±5,62E+00 e 1,80E+03 ±1,73E+01. Tabela 01 – Média e desvio geométricos da densidade de coliformes termotolerantes nos shoppings e unidades da UFBA. Média geométrica (UFC/100ml) Desvio geométrico (UFC/100ml) Total A B C D E F PAF II PAF II Poli 1,3E+02 1,99E+01 9,50E+00 5,57E+01 4,27E+03 1,80E+03 7,69E+02 8,14E+01 2,22E+02 9,8E+01 1,33E+01 6,42E+00 1,76E+01 5,62E+00 1,73E+01 4,08E+00 2,53E+01 6,88E+01 4,6E+01 10 13 10 10 9 7 10 3,1E+01 Número de amostras 98 10 19 O teste t e Tunkey, para comparação entre as médias, demonstraram que não houve diferença significativa entre as médias das análises de águas dos selos nos vasos sanitários dos banheiros masculinos, dos diferentes locais, com nível de confiança de 95 e 99%. Nos banheiros femininos, os testes apresentam diferenças significativas entre os locais estudados. Os testes mostraram que existe diferença significativa na qualidade da água do selo hídrico do shopping E em relação a todas as outras localidades estudadas. Acreditasse que deve haver maior intensidade na limpeza dos banheiros femininos em relação aos masculinos, outro fato relacionado é que nos banheiros femininos os vasos sanitários são usados para urinar e defecar e no banheiro masculino existe a opção dos mictórios. Com relação aos tipos de saneantes utilizados na limpeza, acreditasse que o mesmo não deva apresentar representar aspecto relevante visto que os produtos utilizados nos banheiros femininos deve ser os mesmos utilizados nos banheiros masculinos de um mesmo local. CONCLUSÕES Com base no trabalho realizado, concluiu-se que: 9 Todas as amostras colhidas mostraram a presença de coliformes termotolerantes. 9 Os resultados levantam a questão que a utilização de águas de reúso com qualidade equivalente à encontrada nos vasos de banheiros públicos, para se efetuar a descarga dos mesmos, não representaria, aparentemente, em redução significativa da qualidade das mesmas nem redução de segurança dos usuários no que se refere à questão de saúde pública. 9 A densidade de coliforme termotolerante encontrada nos vasos sanitários dos prédios públicos analisados apresenta valores superiores aos indicados nas legislações internacionais de reúso, apontando que tais parâmetros apresentam-se muito restritivos. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação de Amparo a Pesquisa da Bahia - FAPESB, FINEP/PROSAB, Fundação Escola Politécnica da Bahia-FEP, ao acadêmico Alisson Meireles e ao pessoal do Laboratório do DEA/EPUFBA pelo apoio na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13969: Tanques sépticos - unidades de tratamento complementar e disposição final dos efluentes líquidos: projeto, construção e operação. Rio de janeiro,1997 2. APHA/AWWA/WEF. Standard Methods for Examination of water and wastewater. 20th edition. New York: American Public Health Association, 1998. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 4 VIII Simpósio Ítalo Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 3. HESPANHOL, I. Potencial de reúso de água no Brasil: agricultura, industria, município e recarga de aqüíferos. In: MANCUSO P. C. S.; SANTOS, H. F. Reúso de água. Barueri, SP: Manole, 2003. p. 37 – 96. 4. KIPERSTOK,A.; ALMEIDA, G.S.; MENDONÇA, P.A.O.; COHIM, E.; DULTRA, F.A. Qualidade Mínima para Reúso de Efluentes em Vasos Sanitários: uma proposta para discussão. In: IV Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental, 2004, Porto Alegre. Anais do IV Simpósio Internacional de Qualidade Ambiental. Porto Alegre, 2004. 5. LAZAROVA, V., HILL, S. e BIRKS, R. Using recycled water for non-potable, urban uses: a review with particular reference to toilet flushing.Warter Science and Technology. Water Supply. V. 3. nº4, pg. 69-77, 2003. ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental 5