543 CLASSIFICAÇÃO DE RISCO: PERFIL DO ATENDIMENTO EM UM HOSPITAL MUNICIPAL DO LESTE DE MINAS GERAIS CLASSIFICATION OF RISK: PROFILE OF ATTENDANCE IN MUNICIPAL HOSPITAL EAST FROM MINAS GERAIS Diliane Barroso Madeira Graduada em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG [email protected] Gláucia Mendes Loureiro Graduada em enfermagem pelo Centro Universitário do Leste de Minas Gerais – UnilesteMG [email protected] Edna Aparecida Nora Graduação em Enfermagem e Obstetrícia pela Universidade Federal do Espírito Santo – UFES; Especialização em Educação Profissional pela Escola Nacional de Saúde Pública – ENSP; Especialização em Docência do Ensino Superior pela Universidade Cândido Mendes – UCAM; [email protected] RESUMO Os serviços de Emergência trabalham de forma a atender as demandas de maneira ágil e concentrada, contando com um somatório de recursos que as Unidades de Atenção Básica não oferecem. Por isso a procura por atendimento neste serviço vem aumentando consideravelmente, tornando importante o serviço de classificação de risco que permite a avaliação dos clientes por meio dos critérios clínicos e não pela ordem de chegada. Este estudo teve como objetivo analisar o perfil de atendimento em um setor de classificação de risco de um Hospital Municipal do Leste de Minas Gerais. Trata-se de uma pesquisa quantitativa, onde a coleta dos dados foi feita através das fichas de atendimento adulto até 24 horas de permanência na instituição que tiveram passagem pelo setor de classificação de risco em um período de dois meses totalizando 10.175 atendimentos. Identificou-se que a demanda do serviço de Emergência corresponde tanto a atendimentos em situações graves e de risco para o paciente quanto a necessidades caracterizadas como não urgentes; estes correspondendo a maior demanda. Os profissionais ainda precisam ser capacitados e preparados para atuarem em um setor de classificação de risco a fim de proporcionar um atendimento dinâmico e eficaz ao usuário. PALAVRAS-CHAVE: Triagem. Serviço hospitalar de emergência. Urgências. ABSTRACT Emergency services work to meet the demands of a fast and concentrated, with a sum of funds that the Primary Care Units do not offer. So the demand for care in this service is increasing considerably, making it important the service of classification of risk that allows a evaluating each patient by clinical criteria and not in the order of their arrival. This study aimed to analyze the profile of attendance in an service of a classification of risk a municipal hospital east from Minas Gerais. This is a quantitative survey where data collection was done through attendance records of adults up to 24 hours in the institution who sought the sector classification of risk in a period of two months total 10,175 visits. It was identified that demand for emergency service matches the attendances of serious risk to the patient and the needs characterized as non-urgent; these corresponding to the more demand. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 544 Professionals still need to be trained and prepared to act in a sector of classification of risk to provide an attendance dynamic and effective to the user. KEY WORDS: Triage. Hospital emergency service. Urgencies. INTRODUÇÃO A área de Urgência e Emergência consiste em um importante componente da assistência à saúde e tem se transformado numa das mais problemáticas do Sistema de Saúde. A procura por atendimento nos Serviços de Emergência e consequentemente a demanda vem aumentando cada vez mais. Dentre os fatores que geram essa sobrecarga, pode-se citar o crescimento desordenado da população, o aumento na incidência de crimes e violência, o aumento significativo de acidentes, doenças cardiovasculares e até a busca de atendimento para problemas simples (ANDRADE et al., 2009; BRASIL, 2006; WHITAKER et al., 1990). A abertura de grandes unidades hospitalares de urgência foi uma tentativa de atender de forma mais rápida as pessoas que se aglomeravam nas portas das unidades de saúde. Tal fato ocorreu devido às constantes crises que o sistema de saúde brasileiro passou. Entretanto, essa estratégia fez com que aumentasse a procura da população por grandes hospitais terciários como porta de acesso mais rápida que facilitasse a resolução de seus problemas de saúde (NUNES et al., 1991 apud ROCHA, 2005). Nos últimos anos verifica-se uma propagação das unidades de pronto atendimento. Essas por sua vez sem apoio para esclarecimento diagnóstico, sem equipamentos e materiais capazes de oferecer uma atenção às urgências de forma adequada e sem qualquer articulação com o restante da rede assistencial. Ainda que cumprindo um papel de escoamento das demandas reprimidas não satisfeitas na atenção primária, o serviço de baixa qualidade oferecido implica em repetidos retornos (BRASIL, 2006). Para Marques e Lima (2007) vários fatores como a falta de definições políticas, qualidade dos serviços e baixo índice de resolutividade fazem com que o público procure atendimento em locais que concentram maior possibilidade de portas de entrada como os prontos atendimentos e emergências hospitalares. Isso porque esses serviços trabalham de forma a atender as demandas de maneira mais ágil e concentrada e possuem um somatório de recursos que unidades de atenção básica não oferecem. O atendimento aos usuários ocorre sem a avaliação do potencial de risco e agravo ou sofrimento ao qual o mesmo está submetido. O atendimento ocorre de forma burocrática através das filas por ordem de chegada (BRASIL, 2004). De acordo com Andrade et al. (2009) a imprensa tem mostrado de forma desabonadora questões referentes a humanização no atendimento a esses usuários. O enfoque é na demora, no atendimento, área física, materiais, equipamentos e recursos humanos inadequados. A triagem é considerada como um dos princípios do cuidado de emergência. A palavra triagem origina-se do francês trier, e quer dizer selecionar. A classificação de risco diferencia-se do tradicional conceito de triagem e suas práticas de exclusão, uma vez que todos os clientes serão atendidos. A sala de triagem classificatória de risco é uma área física obrigatória nas unidades de atendimento de urgência. Sendo Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 545 o seu principal objetivo identificar as prioridades, ela é fundamental em qualquer serviço que haja superlotação (ALBINO; GROSSEMAN; RIGGENBACH, 2007; BRASIL, 2004, 2006; NAYDUCH, 2005). Um dos métodos de triagem utilizados é o Sistema de Triagem de Prioridades de Manchester, implementado no ano de 1997 em Manchester, Inglaterra. Esse método consiste em promover um atendimento de acordo com o critério clínico. Através desse método é definido qual o tempo alvo recomendado até o atendimento médico. O Protocolo conta com 54 fluxos abrangendo as possíveis situações previsíveis. Cada fluxo segue com um discriminador que direcionará o funcionário a cor de identificação correspondente a queixa do cliente. São ao todo 5 cores: vermelho, laranja, amarelo, verde e azul (PORTUGAL, s.d). Segundo Albino, Grosseman e Riggenbach (2007) o processo de classificação de risco é desempenhado pelo enfermeiro, previamente capacitado e deve ser dinâmico e eficaz. Em Portugal, o processo é realizado tanto pelo profissional Médico quanto o profissional Enfermeiro (PORTUGAL, s.d). Este estudo permitirá aos enfermeiros o conhecimento acerca do processo de classificação de risco que é uma área de atuação nova e promissora para o mesmo, da demanda do hospital e do perfil da população atendida. Uma vez que os profissionais terão conhecimento desse perfil e estarão conscientes quanto a importância da aplicação deste novo processo, a assistência realizada pelos mesmos será mais qualificada e diferenciada. A pesquisa objetivou analisar o perfil de atendimento em um setor de classificação de risco de um Hospital Municipal do Leste de Minas Gerais. METODOLOGIA O estudo trata-se de uma pesquisa de caráter quantitativo, tendo como base uma análise documental descritiva, com o intuito de identificar o perfil do atendimento no setor de classificação de risco em um pronto atendimento de um hospital municipal localizado no leste de Minas Gerais. Foram analisadas como fonte de informações para coleta de dados, as fichas de atendimento do hospital sendo a amostra constituída somente pelas fichas de atendimento adulto até 24 horas de permanência na instituição que tiveram passagem pelo setor de classificação de risco. As fichas são geradas para cada atendimento realizado na instituição. Antes do atendimento médico, cada usuário passa pelo setor de classificação de risco para ser avaliado quanto a sua gravidade. Nessas fichas são anotados a queixa principal, fluxo, discriminador e cor conforme o protocolo utilizado no serviço. No final do processo, anexa-se as anotações da classificação na outra ficha que é gerada pela recepção do hospital (onde estão os dados pessoais do cliente) e estas são encaminhadas para os consultórios médicos para sequência do atendimento. Dessa forma, não foram consideradas as fichas de internação (AIH), pois a amostra equivale aos atendimentos até 24 horas de permanência no serviço. As fichas de atendimento infantil e politrauma não entraram na amostra devido o fato do serviço não estar mais encaminhando esses atendimentos para a classificação de risco. Também não foram consideradas as fichas do setor de ortopedia, curativo contaminado, urgência odontológica, medicação/nebulização, endoscopia, ultrasom Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 546 e drenagem de abscessos, pois esses atendimentos não têm passagem pelo setor de classificação de risco. O período escolhido para a análise das fichas foi de 01 de maio a 30 de junho de 2009, por ser o período que se encontrava disponível no setor de faturamento para a realização da coleta de dados. A coleta de dados ocorreu no período de julho a setembro de 2009 e foi realizada por meio de um check-list onde foi analisado o fluxo, discriminador e cor de cada atendimento. Para a análise dos dados foi utilizado o protocolo do Sistema de Triagem de Prioridades de Manchester que é utilizado na instituição pesquisada. Após a coleta dos dados, estes foram quantificados, consolidados, analisados, representados através de gráficos e tabelas. No que se refere aos cuidados éticos, foram respeitadas as diretrizes e normas regulamentadoras das pesquisas envolvendo seres humanos do Conselho Nacional de Saúde apresentado pela Resolução 196, de 10 de outubro de 1996 (BRASIL, 1996). O responsável pela instituição foi previamente informado sobre as finalidades, objetivos do estudo e demais informações pertinentes a pesquisa e assinou o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) em 2 vias, onde uma via ficou com o mesmo e a outra com o pesquisador. O TCLE foi entregue somente ao responsável pela instituição, pois ele foi o responsável legal por todos os pacientes atendidos. Os dados de identificação dos pacientes foram mantidos em sigilo. RESULTADOS E DISCUSSÃO O setor de classificação de risco da instituição pesquisada funcionava 24 horas ininterruptas seguindo o fluxo do pronto atendimento. Quando as fichas dos usuários são marcadas, vão direto para o setor de classificação de risco. Nesse caso excluem-se todos os atendimentos que não passam por esse setor. Lá o cliente é acolhido pela equipe, as suas queixas são ouvidas e o profissional correlaciona-as com o fluxo, discriminador e cor correspondente ao seu quadro. Após a classificação, a ficha é encaminhada ao consultório médico e o cliente convidado a aguardar o tempo determinado conforme a cor estabelecida. Levantou-se a quantidade de atendimentos adultos com menos de 24 horas de permanência na instituição realizados no período de maio a junho de 2009. As quantidade total de fichas analisadas perfez 10.175 atendimentos. Com esse montante analisou-se o número de atendimentos em cada cor. Os dados apresentados no GRAF. 1 estão inseridos na ordem apresentada pela legenda. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 547 100% 80% 74,9% 60% 40% 20% 0% 0,1% 1,2% 15,7% 0,9% 7,2% Classificação Vermelha Classificação Laranja Classificação Amarela Classificação Verde Classificação Azul Classificação não pertinente GRÁFICO 1 Percentual dos atendimentos realizados no setor de Classificação de Risco. De acordo com o GRAF. 1 pode-se observar que 74,9% dos atendimentos foi em decorrência da classificação verde, que representa os casos pouco urgentes e 0,1% dos atendimentos foi em decorrência da classificação vermelha, que representa os casos emergentes. O cliente classificado como vermelho é considerado emergente e tem um tempo de espera por atendimento de 0 minuto. O cliente classificado como laranja é considerado muito urgente e tem um tempo de espera por atendimento de no máximo 10 minutos. O cliente classificado como amarelo é considerado urgente e tem um tempo de espera de no máximo 60 minutos. O cliente classificado como verde é considerado pouco urgente e tem um tempo de espera de no máximo 120 minutos. O cliente classificado como azul é considerado não urgente e tem um tempo de espera de no máximo 240 minutos. Na pesquisa de Marques e Lima (2007) realizada em um Serviço de Pronto Atendimento de um Centro de Saúde foi identificado que as demandas do serviço correspondiam tanto a atendimentos em situações graves e de risco para os pacientes quanto às necessidades caracterizadas como não urgentes. Isso ocorria como forma de complementar os atendimentos das Unidades Básicas de Saúde e Unidades Especializadas, uma vez que era a forma pela qual as portas do atendimento se abriam para os usuários e poderia ser o meio, aparentemente, mais fácil e rápido de obter a resolução de seus problemas. Baggio, Callegaro e Erdman (2008) em uma pesquisa realizada na unidade de emergência de um hospital público estadual de Santa Catarina observaram que a procura pelo serviço era efetuada em sua grande maioria por clientes que não estavam clinicamente em situação de gravidade. Poucos apresentavam caráter prioritário, sendo que muitos poderiam ser assistidos pela Rede Básica de Saúde. O GRAF. 1 demonstra que em 7,2% dos atendimentos, a classificação de risco não foi realizada de forma correta. O profissional deve anotar na ficha de classificação de risco a queixa do cliente, o fluxo, discriminador e cor correspondente ao caso. Sendo assim, a classificação não pertinente inclui todas as fichas em que faltavam alguns desses dados ou quando preenchida com algum dado não correspondente ao protocolo do Sistema de Triagem de Prioridades de Manchester. Tal evidência foi identificada durante a coleta de dados. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 548 De acordo com Baggio, Callegaro e Erdman (2008), os profissionais que atuam em unidades de emergência devem demonstrar destreza, agilidade, habilidade e serem capazes de distinguir as prioridades abordando o paciente de uma maneira incisiva, objetiva e intervindo de forma consciente e segura. As patologias foram identificadas nos atendimentos referentes a cada cor. A TAB. 1 mostra as patologias identificadas na classificação vermelha. Nessa classificação o cliente é considerado emergente e tem um tempo de espera por atendimento de 0 minuto. TABELA 1 Classificação Vermelha: patologias identificadas. Hospital Municipal do Leste Gerais, 2009. Fluxo Discriminador Frequência absoluta Diabetes Hipoglicemia 12 Convulsões Convulsão Atual 2 Queimaduras Profundas e Superficiais Choque 1 Total 15 de Minas % 80 % 13,3 % 6,7 % 100 % De acordo com a TAB. 1 pode-se observar que 80% dos atendimentos foi em decorrência de um quadro de diabetes por hipoglicemia. Nesse caso é considerado qualquer cliente que chegue ao serviço com uma glicemia inferior a 80 mg/dL. Em 13,3% dos atendimentos foi identificado um quadro de convulsões, onde o cliente apresentava uma convulsão atual; ou seja, estava em crise no momento da classificação. Oehling e Vilibor (2005) destacam que as síndromes epilépticas representam uma significativa fração dos atendimentos em unidades de emergência. De acordo com Oliveira e Scochi (2002) as lesões estão entre as causas mais frequentes de atendimentos prioritários, o que pode ser observado na TAB. 1 através do quadro de queimaduras profundas e superficiais caracterizado por choque, que de acordo com Flynn (2005) corresponde a uma perfusão tissular inadequada que pode resultar em uma morte celular quando não tratada. A TAB. 2 mostra as patologias identificadas na classificação laranja. Nessa classificação o cliente é considerado muito urgente e tem um tempo de espera por atendimento de no máximo 10 minutos. TABELA 2 Classificação Laranja: patologias identificadas. Hospital Municipal do Leste de Minas Gerais, 2009. Fluxo Sobredosagem ou Envenenamento Dispnéia Indisposição no Adulto Dor Torácica Convulsões Indisposição no Adulto Sobredosagem ou Envenenamento Dor Torácica Dor Torácica Problemas Nasais Outros Total Discriminador Alta Mortalidade Frequência absoluta 28 % 23,7 % SAO2 Muito Baixo Pulso Anormal Dor Pré-Cordial Alteração do Estado de Consciência Alteração do Estado de Consciência Alto Risco de Nova Auto-Agressão 17 15 14 7 5 5 14,4 % 12,7 % 11,9 % 5,9 % 4,2 % 4,2 % Pulso Anormal Dor Severa Grande Hemorragia Incontrolável 4 3 3 17 118 3,4 % 2,6 % 2,6 % 14,4 % 100 % Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 549 Pode-se observar na TAB. 2 que 23,7% dos atendimentos foi em decorrência de um quadro de sobredosagem ou envenenamento, apresentando alta mortalidade como discriminador. Os dados corroboram com pesquisa realizada por Oliveira e Scochi (2002), onde identificaram que dentre as causas mais frequentes dos atendimentos considerados como prioridades estão os casos de envenenamento. Pode-se observar que em 14,4% dos atendimentos aparece o quadro de dispnéia por uma SAO2 (saturação de oxigênio da hemoglobina) muito baixo. É o cliente que chega ao serviço com uma saturação abaixo de 95% na terapêutica e abaixo de 90% em ar atmosférico. Em 12,7% dos atendimentos foi observado um quadro de indisposição no adulto por pulso anormal. O fluxo indisposição no adulto corresponde a um conjunto de sinais onde estão inseridas diversas patologias, não sendo possível dessa forma, avaliar a patologia de maior prevalência. Nesse caso o que caracteriza é o discriminador. O pulso anormal corresponde a uma bradicardia (<60bpm), taquicardia (>100bpm) ou um ritmo irregular. Dentre os atendimentos mais significativos pode-se observar também a dor torácica com quadro de dor pré-cordial representando 11,9%. Não há dados precisos acerca da prevalência de dispnéia, mas pode-se afirmar que é uma causa frequente em atendimentos de emergência. A dor torácica corresponde a um atendimento comum em pacientes que procuram tanto os serviços ambulatoriais quanto os de emergência. Tanto as patologias do sistema cardiovascular quanto respiratório são mais preocupantes em serviços de emergência uma vez que podem causar risco de vida em um estreito espaço de tempo (LIMA, 2005; PARK, 2005). A TAB. 3 mostra as patologias identificadas na classificação amarela. Nessa classificação o cliente é considerado urgente e tem um tempo de espera por atendimento de no máximo 60 minutos. TABELA 3 Classificação Amarela: patologias identificadas. Hospital Municipal do Leste de Minas Gerais, 2009. Fluxo Indisposição no Adulto Dor Abdominal Indisposição no Adulto Cefaléia Dor Lombar Dor Torácica Dispnéia Asma Vômitos Problemas Urinários Outros Total Discriminador Instalação Súbita Dor Moderada Dor Moderada Dor Moderada Dor Moderada Dor Moderada SAO2 Baixo História Significativa de Asma Vômitos Persistentes Cólica Frequência absoluta 324 146 109 104 91 84 83 69 61 58 471 1600 % 20,3 % 9,1 % 6,8 % 6,5 % 5,7 % 5,3 % 5,2 % 4,3 % 3,8 % 3,6 % 29,4 % 100 % De acordo com a TAB. 3, pode-se observar que 27,1% dos atendimentos foi em decorrência de um quadro de indisposição no adulto, sendo 20,3% por instalação súbita (com início em menos de 12 horas) e 6,8% por dor moderada (dor significativa mas suportável). Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 550 É possível observar também na TAB. 3 que o segundo maior atendimento (9,1%) corresponde a dor abdominal caracterizada também por dor moderada. De acordo com Branco e Novo (2005) a dor abdominal é um quadro muito frequente em serviços de atendimento a emergências, onde através da avaliação do processo da dor, o profissional será direcionado ao quadro correspondente. Outro atendimento significativo (6,5%) demonstrado na TAB. 3 é a cefaléia, que de acordo com Fortini (2005), está entre as mais frequentes aflições humanas correspondendo a uma causa comum na prática clínica. A TAB. 4 mostra as patologias identificadas na classificação verde. Nessa classificação o cliente é considerado pouco urgente e tem um tempo de espera por atendimento de no máximo 120 minutos. TABELA 4 Classificação Verde: patologias identificadas. Hospital Municipal do Leste de Minas Gerais, 2009. Fluxo Indisposição no Adulto Indisposição no Adulto Cefaléia Dor Abdominal Problema nos Membros Dor Torácica Dor Lombar Dor de Garganta Erupções Cutâneas Problemas Urinários Outros Total Discriminador Dor Problema Recente Dor Dor Dor Problema Recente Problema Recente Dor Dor/Prurido Dor Frequência absoluta 2199 1457 946 514 458 207 202 162 153 119 1199 7616 % 28,9 % 19,1 % 12,4 % 6,7 % 6% 2,7 % 2,7 % 2,1 % 2% 1,6 % 15,8 % 100 % De acordo com a TAB. 4 pode-se observar que 48% dos atendimentos foi em decorrência de um quadro de indisposição no adulto. Desses, 28,9% apresentaram dor como discriminador e 19,1% correspondiam a um problema recente (manifestações em até 7 dias). Assim como já dito anteriormente não é possível avaliar a patologia de maior prevalência e o que caracteriza é o discriminador. Dentre os atendimentos mais significativos podem-se observar também a cefaléia (12,4%), a dor abdominal (6,7%) e os problemas nos membros (6%), ambos caracterizados por dor. De acordo com Marques e Lima (2007) dentre os fatores que levaram os adultos a procurarem o serviço de pronto atendimento estão a dor abdominal e a cefaléia. O fluxo problema nos membros corresponde a qualquer lesão que venha acometê-los, que de acordo com Oliveira e Scochi (2002) é uma causa frequente em serviços de emergência. A TAB. 5 mostra as patologias identificadas na classificação azul. Nessa classificação o cliente é considerado não urgente e tem um tempo de espera por atendimento de no máximo 240 minutos. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 551 TABELA 5 Classificação Azul: patologias identificadas. Hospital Municipal do Leste de Minas Gerais, 2009. Fluxo Discriminador Frequência absoluta % Indisposição no Adulto Problema Não Recente 48 53,4 % Problema nos Membros Lesão Não Recente 17 18,9 % Erupções Cutâneas Problema Não Recente 10 11,1 % Cefaléia Problema Não Recente 4 4,4 % Dor Lombar Problema Não Recente 4 4,4 % Outros 7 7,8 % Total 90 100 % De acordo com a TAB. 5 pode-se observar que 53,4% dos atendimentos foi em decorrência de um quadro de indisposição no adulto devido a um problema não recente. A manifestação acima de 7 dias não é mais considerado problema recente, dessa forma a classificação será azul e o atendimento corresponde a um problema ambulatorial. Sempre que o profissional apresentar dúvidas quanto a classificação que corresponde a queixa do cliente, deverá classificá-lo um nível acima que a cor em dúvida, ou seja, na cor mais prioritária. Tal afirmativa pode ser uma justificativa para os atendimentos verdes estarem em maior concentração. De acordo com Marques e Lima (2007) os usuários procuram o pronto atendimento com a finalidade de solucionar suas necessidades, sejam elas urgentes ou não, algumas vezes expressas por meio da queixa, de forma inespecífica, que é a forma pela qual as portas do atendimento se abrem para eles. O´Dwyer, Matta e Pepe (2008) em uma pesquisa realizada em 119 serviços hospitalares do Rio de Janeiro, verificaram que em todas as regiões do Estado do Rio de Janeiro, havia superlotação nas emergências. Em cinco dessas regiões, o serviço permanecia constantemente superlotado. Foi identificado que a principal causa de superlotação foi o atendimento a pacientes com problemas ambulatoriais, o que condiz com os dados demonstrados nos GRAF. 4 e 5. De acordo com Garlet et al. (2009) essa é uma situação que pode ser percebida na maioria das unidades públicas de urgência do Brasil e que interfere de forma considerável na qualidade do cuidado que é prestado aos clientes. CONCLUSÃO Os resultados demonstraram que somente 17% dos atendimentos corresponderam às cores vermelha, laranja e amarela, o que de fato caracterizou o atendimento como urgência e emergência. Sendo assim a maioria dos clientes que procuraram o serviço (75,8%) necessitavam de atendimento de baixa complexidade, correspondendo aos atendimentos pouco urgentes e de resolução ambulatorial representados pela cor verde e azul. Foi observado que se um cliente durante a queixa dizia que o seu problema era recente, este era classificado de acordo com as informações colhidas, mesmo o problema não sendo recente. Isso justifica a maior concentração dos atendimentos estarem na classificação verde. Evidenciou-se que em 7,2% dos atendimentos a classificação de risco não foi realizada de forma correta, demonstrando que os profissionais ainda precisam ser capacitados e preparados para atuarem em um setor de classificação de risco, tornando-se aptos a distinguir as prioridades do cliente de maneira dinâmica e eficaz. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 552 Outras pesquisas e idéias com enfoque em classificação de risco devem ser realizadas, tendo em vista que essa é uma área nova e promissora para o Enfermeiro. Dessa forma espera-se proporcionar uma melhoria na qualidade deste serviço tendo em vista as diretrizes do Humaniza SUS, o que é fundamental para a saúde de todos os cidadãos. REFERÊNCIAS ALBINO, R. M.; GROSSEMAN, S.; RIGGENBACH, V. Classificação de risco: uma necessidade inadiável em um serviço de emergência de qualidade. Arquivos Catarinenses de Medicina, v. 36, n. 4, p. 70-75, out./dez. 2007. ANDRADE, L. Miranda de; MARTINS, E. C.; CAETANO, J. A.; SOARES, E.; BESERRA, E. P. Atendimento humanizado nos serviços de emergência hospitalar na percepção do acompanhante. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 11, n. 1, p. 151-157, 2009. BAGGIO, M. A.; CALLEGARO, G. D.; ERDMANN, A. L. Compreendendo as dimensões de cuidado em uma unidade de emergência hospitalar. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 61, n. 5, p. 552-557, out. 2008. BRANCO, P. D.; NOVO, F. C. F. O paciente com dor abdominal. In: VELASCO, I. T. Propedêutica na Emergência. São Paulo: Atheneu, 2005. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 196 de 10 de Outubro de 1996. Aprova as diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa com seres humanos. Diário Oficial da União. Brasília, 16 de outubro de 1996 BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Humaniza SUS. Acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer em saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2004. BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção às Urgências. 3. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2006. FLYNN, M. B. Choque e Falências Multissistêmica. In: SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. FORTINI, I. O paciente com cefaléia. In: VELASCO, I. T. Propedêutica na Emergência. São Paulo: Atheneu, 2005. GARLET, E. R.; LIMA, M. A. D. da S.; SANTOS, J. L. G. dos; MARQUES, G. Q. Organização do trabalho de uma equipe de saúde no atendimento ao usuário em situações de urgência e emergência. Texto Contexto - Enfermagem, Florianópolis, v. 18, n. 2, p. 266-272, jun. 2009. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010. 553 LIMA, M. A. P. O paciente com dispnéia. In: VELASCO, I. T. Propedêutica na Emergência. São Paulo: Atheneu, 2005. MARQUES, G. Q.; LIMA, M. A. D. da S. Demandas de usuários a um serviço de pronto atendimento e seu acolhimento ao sistema de saúde. Revista LatinoAmericana de Enfermagem, Ribeirão Preto, v.15, n.1, p. 13-19, fev. 2007. MARQUES, G. Q.; LIMA, M. A. D. da S. Organização tecnológica do trabalho em um pronto atendimento e a autonomia do trabalhador de enfermagem. Revista da Escola de Enfermagem da USP, São Paulo, v. 42, n. 1, p. 41-47, mar. 2008. NAYDUCH, D. Enfermagem de Emergência. In: SMELTZER, S. C.; BARE, B. G. Tratado de Enfermagem Médico-Cirúrgica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2005. O´DWYER, G.; MATTA, I. E. A. da; PEPE, V. L. E. Avaliação dos serviços hospitalares de emergência do estado do Rio de Janeiro. Ciências e Saúde Coletiva, v. 13, n. 5, p. 1637-1648, 2008. OEHLING, G. C.; VILIBOR, R. A. O paciente com convulsão. In: VELASCO, I. T. Propedêutica na Emergência. São Paulo: Atheneu, 2005. OLIVEIRA, M. L. F. de; SCOCHI, M. J. Determinantes da utilização dos serviços de urgência / emergência em Maringá (PR). Ciência, Cuidado e Saúde, Londrina, v. 1, n. 1, p. 123-128, nov. 2002. PARK, M. O paciente com dor torácica. In: VELASCO, I. T. Propedêutica na Emergência. São Paulo: Atheneu, 2005. PORTUGAL. Ministério da Saúde. O Serviço de Urgência. Recomendações para a Organização dos Cuidados Urgentes e Emergentes. Portugal. s.d. ROCHA, A. F. S. Determinantes da Procura de Atendimento de Urgência Pelos Usuários nas Unidades de Pronto Atendimento da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte. 2005. 97f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem)– Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005. WHITAKER, I. Y.; MADUREIRA, N. G.; DALOSSI, T.; GONÇALVES, V. C. S. A Enfermagem no Atendimento de Emergência. In: FELIPPE JÚNIOR, J. Pronto Socorro: Fisiopatologia, Diagnóstico e Tratamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1990. Revista Enfermagem Integrada – Ipatinga: Unileste-MG - V.3 - N.2 - Nov./Dez. 2010.