XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL ENSINO DE ECOLOGIA ATRAVÉS DA CONSCIENTIZAÇÃO SOCIOAMBIENTAL NO MEIO URBANO Ana Alice Eleuterio. Univ. Fed. da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, PR. [email protected]. Antonio de la Peña Garcia. Univ. Fed. da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, PR. INTRODUÇÃO Crianças que vivem em áreas urbanas estão cada vez mais distantes de seu entorno natural (Kahn e Kellert, 2002; Taylor e Kuo, 2006). Atualmente, crianças gastam cada vez mais tempo interagindo com a tecnologia e mídia, e menos tempo engajando-se em atividades conjuntas na natureza. Em comparação às gerações anteriores, a liberdade de exploração e mobilidade das crianças se vê progressivamente limitada, contribuindo para um menor uso de espaços públicos e abertos, e levando a uma vida sedentária (Atchley et al., 2012). O desinteresse pela interação direta com seres vivos e seus hábitats pode influenciar negativamente o compromisso de futuras gerações com a conservação da biodiversidade e a sustentabilidade, principalmente a escalas locais. Por outro lado, a experiência direta benefícios físicos e mentais para crianças de diversas faixas etárias (Kellert, 2002). Nesse sentido, a educação ambiental gera benefícios sociais, ambientais e pessoais. Os estudos do entorno socioambiental e da sua história ambiental contribuem para a compreensão do papel do ser humano no ecossistema (Moran, 2006). A investigação em contextos socioculturais compartilhados pelas crianças, como pátios de escolas, e seus bairros, estimula o interesse pela exploração de fenômenos de paisagem e seus habitantes. A utilização do método hipotético-dedutivo e ciclo de indagação (onde observação, conhecimento prévio, curiosidade e interesse atuam como formadores de perguntas de investigação), pode estimular em crianças o aprendizado através da reflexão (Arango et al. 2009). Neste estudo, procuramos promover, entre crianças com idades entre 8 -11 anos, a interação com o contexto socioambiental que caracteriza o entorno de escolas municipais da cidade de Foz do Iguaçu, PR. Analisamos como as crianças incorporam conhecimentos sobre seu entorno socioambiental por meio de diversas técnicas, como análise de discurso, análise de categorias em desenhos e mapas. OBJETIVOS Este é um projeto de pesquisa e extensão universitária, que combina objetivos de formação profissional, e investigação acadêmica. O objetivo geral do Projeto é fomentar a interação de crianças com seu entorno socioambiental, e avaliar o aprendizado das crianças com as atividades de Ensino de Ecologia e Educação Ambiental propostas, por meio do uso de desenhos, análise de narrativas, observações participativas, e entrevistas. MATERIAL E MÉTODOS Este estudo iniciou-se em março de 2015, como parte de um projeto de extensão acadêmica, e é realizado com alunos 4º e 5º anos de Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEFs) de Foz do Iguaçu, PR. Desenvolvemos atividades que estimulam o interesse dos alunos participantes pelo conhecimento do espaço socioambiental em que 1 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL vivem. Para tal, propomos três tipos fundamentais de intervenção: 1) Reconhecimento e pesquisa em áreas livres da escola, espaços públicos, e áreas verdes do bairro e da cidade; 2) Visitas, conversas, e entrevistas com moradores do bairro onde estão localizadas as escolas; e 3) Atividades lúdicas direcionadas a formar um pensamento crítico sobre problemas ambientais na região e no mundo. Utilizamos métodos de ciclos de indagação para desenvolver projetos a partir do interesse das crianças por temas diversos e comuns aos seus cotidianos (Arango et al. 2009). Esses métodos propõem a construção de perguntas de pesquisa a partir de observações empíricas, e estimula a análise de resultados de forma científica. A análise do aprendizado das crianças se dá a partir da observação participante, na qual acompanhamos o processo de definição de temas de estudo, tomada de dados, e análise de resultados. O aprendizado através de intervenções em áreas livres, e em entrevista com moradores, é avaliado com base em análise do conteúdo de textos elaborados pelos alunos, representativos de sua visão da visita. Concomitantemente, analisamos desenhos sobre o mesmo tema, para identificar temas de interesse das crianças, que possam não ter sido evidenciados na análise narrativa. O objetivo desse tipo de avaliação é proporcionar um panorama de formas de expressão e percepção do entorno pelas crianças. Os resultados são aprensentados de forma qualitativa (apresentação de breves narrativas) e quantitativa (avaliação de atividades por parte das crianças, e análise de categorias de percepção em desenhos e textos). RESULTADOS Os resultados apresentados são parciais, visto que a execução das atividades, e tomada de dados encontram-se em andamento. Aproximadamente 92% das crianças (N = 18-20) consideraram as atividades até então realizadas ótimas. Pequenos experimentos realizados com as crianças demonstraram maior preferência por trabalhar com animais (insetos), seguido de plantas (interação planta-polinizador), e menor afinidade por processos ecossistêmicos. Cabe ressaltar que os experimentos foram desenvolvidos a partir de indagações das crianças, a partir de observações realizadas no pátio da escola. Exemplos de perguntas construídas pelas crianças são: “Por que o solo nesse caminho é tão duro?”, ou “Será que as formigas podem subir em todo tipo de superfícies?”. Aproximadamente 50% mais crianças participaram ativamente dos projetos em grupo, e da apresentação de resultados quando as pesquisas eram derivadas de suas próprias observações. DISCUSSÃO A utilização do método de ciclo de indagação em contextos espacialmente restritos contribuiu para oferecer aos alunos uma distinta percepção sobre seus entornos (Arango et al. 2009). As explicações das crianças sobre certos fenômenos observados remete a uma visão antropocêntrica dos processos. Os resultados corroboram que atividades em áreas livres, em contato direto com seres vivos contribuem para o desenvolvimento psicológico e social das crianças (Kellert, 2002; Atchley et al., 2012). CONCLUSÃO A execução de atividades de pesquisa sobre o entorno socioambiental contribui para o desenvolvimento cognitivo e social de crianças, e para uma melhor compreensão sobre as interações sociedade-natureza no meio urbano. AGRADECIMENTOS Agradecemos à S. Trentin, e M. Kropf pelo auxílio na estruturação e coordenação das atividades em campo. Este 2 XII CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL trabalho foi financiado pela Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (PROEX/UNILA). REFERÊNCIAS ATCHLEY, R.A., STRAYER, D.L., & ATCHLEY, P. 2012. Creativity in the Wild: Improving Creative Reasoning through Immersion in Natural Settings. PloS one 7.12: e51474. ARANGO, N., CHAVES, M.E., & FEINSINGER, P. 2009. Principios y práctica de la enseñanza de Ecología en el patio de la escuela. Fundación Senda Darwin, Santiago. KAHN, P.H. & KELLERT, S. 2002. Children and nature: psychological, sociocultural, and evolutionary investigations. MIT Press, Cambridge. KELLERT, R. 2002. Experiencing Nature: Affective, Cognitive, and Evaluative Development in Children. Pp: 117 – 151 in: Kahn, P.H. & Kellert, S. (eds.) Children and nature: psychological, sociocultural, and evolutionary investigations. MIT Press, Cambridge. MORAN, E.F. 2006. People and nature: an introduction to human ecological relations. Blackwell Publishing, Malden. TAYLOR, A.F. & KUO, F.E. 2006. Is contact with nature important for healthy child development? State of the evidence. Pp. 124 – 140 in: Spencer, C. & Blades, M. (eds.), Children and their environments: learning, using and designing spaces. Cambridge University Press, Cambridge. 3