Publicação da Associação Cultural Nova Acrópole | Distribuição gratuita | Nov’12
Nº
4
Necessidade de Homens Bons
Esta necessidade
de uma condição
moral que provenha
de uma natureza ingenitamente pura,
do próprio Ser, está
assinalada por Platão na totalidade
das suas obras, com
mais de vinte séculos de distância, e
por Kant e seus seguidores.
Não houve nenhum filósofo nem
pensador que pusesse em dúvida tal
necessidade, embora com a queda do Mundo Clássico,
isto, evidente em si mesmo, ficasse condicionado a prévias razões teológicas, políticas e sociais, quando não
simplesmente económicas.
Ao desenvolvimento da mecânica instrumental no
campo físico, juntou-se um processo similar no metafísico, ficando o indivíduo paulatinamente enterrado num
lamaçal do que poderíamos chamar «culto ao procedimento» e ainda das procedências.
Assim, a bondade ingénita do homem está condicionada à sua religião, à origem familiar, geográfica, racial, e outras coisas que encheriam páginas inteiras de
um detalhado mostruário de preconceitos e superficialidades.
A Humanidade deixou-se ofuscar pelos planos e sistemas, pelas formas dos receptáculos em vez dos conteúdos.
Face à quebra da plataforma ética recorre-se às fórmulas
mais ou menos utópicas dos receituários, pois ao se conceber o mal como algo real – que já não é a simples carência do bem, mas uma presença consistente –, apela-se aos
exorcismos despersonalizados de todas as cores. O Ser
passa para segundo plano, condicionado aos aparelhos
que, em teoria, criarão, mediante a oração ou a razão, o
Homem perfeito a partir das suas próprias imperfeições.
Uma imagem
prática seria pretender que, se empilhássemos ladrilhos
de barro de uma determinada forma e
maneira, poderíamos construir uma
parede de pedra
dura, sólida e forte,
fazendo que a «magia» do conjunto
transmutasse a natureza do individual
e singular.
A massificação
espiritual precedeu
em muitos séculos as modernas cadeias de montagem,
e sem medir a realidade, pensou-se que empilhando o
parcial com o parcial dar-se-ia à luz uma criatura repleta
de virtudes e bondades, idêntica aos seus precedentes e
aos que lhe sucedessem.
Quando muito, admitiu-se a evolução das formas baseada nos fracassos e acertos da experiência.
Mas o importante deixou de ser o Homem para se dar
prioridade ao conjunto dos homens, como se estes fossem
uma mera invenção dos sistemas, homens aos quais os
próprios sistemas dariam o direito à sobrevivência por
meio das suas adaptações e perda de toda a característica
própria… nos casos em que esta fosse aceite como tal.
Os produtos das cadeias de montagem seriam qualificados segundo a sua proveniência, quer dizer, segundo
o sistema que os engendrasse.
Os cristãos eram bons, os «pagãos» maus.
De Santiago fizeram um «mata-mouros».
Os nobres tinham «sangue azul» e os demais eram
«vilões».
O povo é bom e os reis são maus… Viva a guilhotina!
O operário é bom e o industrial é mau.
O militar é mais válido do que o lavrador, ou vice-versa.
O «povo eleito»… «O povo de Deus»… Em resumo,
os «bons» que, para existirem, necessitam dos «maus».
E esse denominador comum faz com que se fale de
cristãos, judeus, muçulmanos, ateus, brancos, negros,
ricos, pobres, sábios e ignorantes. É o racismo de todas
as cores.
Esta aspiração massificante numa redenção colectiva, e numa destruição também colectiva dos que não
participem na tal redenção, classe ou partido, põe toda
a esperança nos sistemas, credos, raças e aceitações. O
homem singular perde importância.
E até se torna inconcebível alguém que não esteja inserido e militando no partido ou na seita em moda.
Contudo, o fracasso fáctico do comunismo, do fascismo, do nazismo e do capitalismo com as suas respectivas características políticas, sociais e económicas,
semeou no povo a dúvida acerca da eficácia dos sistemas. Não obstante, talvez orquestrados por poderosas
fontes de poder, quase todos os povos da Terra clamarem pela democracia e pelo direito ao voto, uns 50 % recusa fazê-lo, e onde é obrigatório, vota-se em branco ou
boicotam-se deliberadamente as listas pré-fabricadas
pelo sistema.
Exceptuando algumas modalidades do Islão, nas religiões passa-se o mesmo, e embora nos mapas demográficos venha apontado, por exemplo, que a Itália é
católica, a realidade é que as igrejas estão cheias de turistas curiosos, os mosteiros vazios, convertidos em centros de reuniões alheias à religião e o próprio Papa é alvo
de anedotas acerca da sua nacionalidade ou dos seus
costumes. É evidente que o que tradicionalmente se entendia por sagrado está muito longe de tudo isto.
É correcto pensar que a solução deste problema
passa pela compreensão pura e simples de que o que
realmente importa não são os sistemas, mas os homens
que os integram. E que o fundamental é a qualidade
moral destes homens.
Já pouco importa que um país esteja governado
pelas «direitas» ou «esquerdas», que o seu regime seja
presidencial ou monárquico.
O que é válido é se o homem ou os homens responsáveis pela administração de um país, são gente boa,
honrada, justa, valorosa e cabal.
O pior dos sistemas, se for integrado e conduzido por
homens bons, traz felicidade para o povo, riqueza, bonança e paz.
O melhor dos sistemas, se os seus governantes forem
pessoas carentes de moral, será um suplício para os governados. O mito da redenção colectiva através dos sis-
temas demonstrou a sua falibilidade. Inclusive que, com
o tempo, o mais organizado e natural dos sistemas desmorona rapidamente se não for mantido por homens e
mulheres honrados, morais, numa palavra: BONS.
O que necessitamos não é que triunfem determinadas facções ou seitas políticas, sociais ou religiosas. O
que necessitamos é de homens bons e que a esses homens bons, reconhecendo-os como tais, se os deixe ter
as máximas responsabilidade em todos os campos. Se
assim se fizesse, eles a aceitariam, não por ambição,
mas por espírito de generosidade e de solidariedade.
Se, voltando a Platão, o bom sapateiro tem o dever
de fazer sapatos para todos; o bom alfaiate, roupas para
todos, etc, aquele que se governa a si mesmo, que domina as suas paixões e verticaliza as suas ideias com a
força da sua vontade, há-de ser o mais apto para aplicar
aquilo que nele é vantajoso a todos os membros da sua
comunidade.
Se conseguirmos apoiar os homens bons e lhes dermos os instrumentos culturais necessários, estes poderão integrar qualquer forma de governo, pois qualquer
forma de governo em suas mãos será eficaz.
Se um homem bom estiver à frente de uma religião,
qualquer que esta seja, despertará nos seus crentes a
Presença de Deus, pois vê-la-á reflectida em si.
Se um homem bom se dedicar à Arte, à Ciência ou a
qualquer outra actividade, esta ver-se-á iluminada pela
sua própria bondade, não importando o caminho que
tome, pois na sua bondade escolherá sempre o melhor.
É necessário consciencializar que não bastou passar
do século XX para o século XXI para que cessem os racismos, as perseguições, os enriquecimentos ilícitos, os
genocídios; o que faz falta é mudar «por dentro», esotericamente, para que as máquinas contaminantes do
sistema dêem lugar aos homens bons.
É preciso encontrá-los, assinalá-los e apoiá-los.
Para um homem, não há maior inimigo do que um
outro homem, se este for mau, nem melhor amigo e
ajuda do que um outro homem, se este for bom.
Sejamos valentes e comecemos desde já a deitar na
caixa dos desperdícios da História os sistemas nefastos
que nos regem para que, sobre os seus escombros, possa
caminhar esse Homem Novo, cuja característica principal
é a de ser bom.
Jorge Angel Livraga
(1930-1991)
Fundador da Nova Acrópole
O Futuro Próximo do Conhecimento?
Na curta história que o computador tem, as interfaces
computador-humano deram um salto de gigante. Foi na
Era Vitoriana que em 1822 foi construído o Babbage Analyical Engine, um computador mecânico operado por
embraiagens, manivelas e engrenagens.
Desde então já assisimos ao cartão furado, ao
teclado e linha de comandos, ao rato e às interfaces gráficas do uilizador (GUI em inglês), ao mulitouch e à interface natural do uilizador (abreviado NUI em inglês) –
uilizado na Wii e na Kinect – e, mais recentemente, à interface de linguagem natural do uilizador (abreviado LUI
em inglês), como a Siri nos iPhones. Mas a derradeira
revolução está prestes a acontecer: interfaces cérebro-computador (abreviado BCI em inglês).
As interfaces cérebro-computador permitem restaurar a audição a surdos, a visão a cegos ou o movimento
a paraplégicos. Mas também permitem a pessoas comuns receber uma imagem directamente nos nervos ópicos ou um cheiro nos nervos olfacivos.
Imaginem poder navegar até uma perfumaria online
e cheirar uma amostra dos seus mais recentes produtos.
Ou jogar um jogo completamente imerso na sua realidade virtual. Ou abraçar um amigo que está do outro
lado do mundo. Não estará na realidade a abraçá-lo, mas
qual será a diferença?
De todas as possibilidades fantásicas que as interfaces cérebro-computador abrem, há uma especialmente curiosa: a parilha de ideias e senimentos. Consegue
imaginar uma Internet cujos impulsos eléctricos não
transportam para o computador interpretar, mas ideias
e senimentos directamente para o nosso cérebro?
Um futuro cada vez mais próximo e que contém a
potencialidade de alterar significativamente as nossas
vidas.
André Casal
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Etimologias: Consciência
A palavra «consciência», eimologicamente provém
do laim cum se scire que significa «quando se sabe».
Mas o que é o saber? Muitas vezes confunde-se de
uma forma errada Saber com ser-se intelectual. Ser intelectual é possuir na memória muito conhecimento, mas
ser Sábio é muito mais do que isso. O senido da palavra
sabedoria é revelado pela sua raiz eimológica, Sophia.
Esta é uma palavra grega que resulta de um anagrama
da palavra Ophis, cujo significado é serpente.
Assim, tal como a serpente se renova e “renasce”
quando perde a pele velha à medida que cresce, a sabedoria é o acto de renovação, renascimento e crescimento humano que resulta do conhecimento e da
vivência da verdade. Esta acção liberta o Homem daquilo
que o limita, abrindo-lhe novas possibilidades de Ser.
Enigma
Quantos quadrados tem esta imagem?
Aos primeiros três a descobrir o número de quadrados
que integram esta imagem, oferecemos um desconto de
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ACTIVIDADES LISBOA | NOVEMBRO / DEZEMBRO 2012
Dia 22/11 | Quinta-feira | 19h30
Dia 5/12 | Quarta-feira | 19h30
Conferência
Início de curso
Se o filósofo Platão fosse o
Primeiro-Ministro de Portugal,
que medidas económicas
tomaria?
Liderança e
Desenvolvimento Pessoal
Por José Carlos Fernández
Escritor, invesigador e
Director Nacional da Nova Acrópole
Por Paulo Alexandre Loução
[Curso em 16 sessões;
quartas das 19h30 às 21h30]
Inscrições abertas
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Entrada livre
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Dia 25/11 | Domingo | 10h-13h
Dia 7/12 | Sexta-feira | 19h30
Visita guiada
Recital de poesia
Jardins Iniciáicos da
Quinta da Regaleira
Florbela Espanca
Por José Manuel Anes
Autor da obra «Jardins Iniciáicos
da Quinta da Regaleira»
Por Grupo de Poesia
«Florbela Espanca» da Nova Acrópole
Entrada livre
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Inscrições abertas
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Dia 30/11 | Sexta-feira | 20h30
Dia 14/12 | Sexta-feira | 19h30
Jantar de solidariedade
Conferência
Símbolos e Mitos do «Solsício
de Inverno» e do «Ano Novo»
Os 47 Ronin e a
Éica do Samurai
Oradores: José Carlos Fernández,
José Patrão e Paulo Alexandre Loução
Por Cleto Saldanha
Formador da Nova Acrópole
Inscrições abertas
Entrada livre
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Dia 29/11 | Quinta-feira | 19h30
Início de curso
Filosofia e Psicologia
Práicas
A sabedoria viva das anigas civilizações
Por José Carlos Fernández
[Curso em 16 sessões;
quintas das 19h30 às 21h30]
Inscrições abertas
Nova Acrópole Lisboa
Av. António Augusto de Aguiar, 17 - 4º esq.
1050-012 Lisboa
(Perto da Estação de Metro «Parque»)
Telefone 213 523 056
E-mail: [email protected]
www.nova-acropole.pt
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Necessidade de Homens Bons O Futuro Próximo