A Alienação (Karl Marx)
Joana Roberto∗
FBAUL, 2006
Sumário
Introdução....................................................................................................................................
Desenvolvimento.........................................................................................................................
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1. A alienação do trabalho............................................................................................... 1
2. O Fenómeno da Materialização / Objectivação.......................................................... 2
3. Uma terceira deterninação do trabalho alienado......................................................... 3
Conclusão..................................................................................................................................... 4
Referências................................................................................................................................... 5
Resumo
Apresenta-se o problema da Alienação elaborado a partir da abordagem de Karl Marx. Procura-se fazer
uma leitura desenvolvida em três partes: a alienação pelo trabalho, a materialização/objectivação, e, por
fim, a alienação do homem em relação ao homem.
Introdução
Marx observa a sociedade de uma forma materialista: o homem tem uma vida social e
necessidades que vão muito além das básicas para a sobrevivência. Diferencia-se dos outros
animais por ter desenvolvido uma consciência; os limites da sua existência abrangem um
campo infinitamente maior que o dos instintos. Para possibilitar a manutenção de toda uma
vida ele passa a produzir materialmente, sendo que a acção colectiva tem um papel extremo
nessa mesma produção. Neste âmbito acaba por surgir a comunicação, a troca de ideias e a
divisão do trabalho. A conjunção de pensamentos e linguagem, juntamente com a actividade
material acabam por constituir uma parte da sua existência enquanto Homem,
independentemente de quais forem as suas necessidades ou interesses.
No entanto, e como resultado desta aglomeração, acontece, consequentemente, uma
contradição de ideias no interior do próprio individuo. Contradição essa que põe em confronto
os interesses pessoais e o interesse geral (de uma sociedade ou grupo social). É errado, porém,
pensar que esse “choque” de ideias acontece apenas num campo abstracto/imaginativo, na
verdade ele habita a realidade concreta onde o Homem, enquanto ser/fenómeno social é
dependente da sua realação com os outros indivíduos. Assim, o interesse geral passa a ser uma
força contrária ao interesse individual, sende que este fenómeno acaba por tornar o indivíduo
estranho às suas próprias acções. Ou seja ele é obrigado a produzir materialmente em
condições independentes das sua vontades.
[email protected]. O trabalho responde à disciplina semestral Cultura Visual II do primeiro ano da
Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, leccionada em 2006 por João Paulo Queiroz.
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Estes conceitos são desenvolvidos, no trabalho, em três partes: a alienação do trabalho,
O fenómeno da materialização/objectivação, Uma terceira determinação do trabalho
alienado, partes essas que vão ser lidas pela ordem referida.
1) A alienação do trabalho
Marx, no que diz respeito à alienação do trabalho, mais propriamente dita, afirma que
a valorização do mundo material (em todos os seus aspectos) acaba por aumentar em
proporção directa a desvalorização do próprio homem (Marx, 1993). Deste modo, o trabalho
acaba por se autonomizar da ideia/conceito de trabalho, para se transformar no próprio
prudutor de “mercadoria”. Ou seja o homem acaba por ser um produto do trabalho que
produz, tornando-se “escravo” do mesmo. Isto acontece porque não existindo qualquer tipo de
ligação entre a produção e o produtor, esta aparece como um ser estranho ao próprio
indivíduo, um poder independente do produtor . O produto do trabalho é o trabalho que
acabou por se fixar num objecto incorporando-o e assim, acabando por se transformar em algo
físico, palpável. A realização do trabalho constitui simultâneamente a sua materialização.
Assim, o processo de alienação pressupõe duas etapas: a realização do trabalho, que
aparece na esfera da economia política como desrealização do trabalhador e a materialização
que aparece como perda e servidão do próprio objecto. Depois, a apropriação gera a
alienação.
A realização do trabalho surge de tal modo como desrealização que o trabalhador se
invalida até à morte pela fome. A materialização revela-se de tal maneira como perda do
objecyo, que o trabalhador acaba por ficar privado dos objectos necessários não só à vida
como também ao próprio trabalho. A apropriação do objecto manifesta-se a tal ponto como
alienação que quanto mais objectos o trabalhador produzir tanto menos ele pode possuir e
mais se submete ao domínio do seu producto/ capital.
Tudo isto remete para o facto do produto do seu trablho aparecer em relação ao
trabalhador como um objecto estranho. Com base neste pressuposto, é claro que quanto
mais o trabalhador se esgota em si mesmo mais poderoso se torna o mundo material
que ele próprio cria perante si. Assim torna-se cada vez mais pobre interiormente e
cada vez menos pertence a si próprio (Pensar em Termos de Alienação, s.d.)
Marx estabelece, no que diz respeito a esta questão, um paralelismo entre a situação
mencionada e a situação religiosa: “quanto mais o homem atribui a Deus, tanto menos guarda
para si mesmo”, afirma (Marx, 1993).
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O trabalhador coloca toda a sua vida no objecto, no entao esta já não lhe pertence mas
sim ao próprio objecto. Quanto maior for, assim, a sua actividade, menos o objecto percente
ao trabalhador. O que se incorporou no objecto do seu trabalho já não é seu. Assim pode
dizer-se que tanto maior é o produto, mais ele fica diminuído.
A alienação do trabalhor significa não só que o trabalho se transforma em objecto,
assumindo uma existência externa, mas também que existe indepentendemente e fora dele
tornando-se um poder autónomo. A vida que o trabalhador deu ao objecto torna-se uma força
hostil e antagónica.
2) o fenómeno da materialização/objectivação
O trabalhador nada pode criar sem a natureza : este é o material onde se realiza o
trabalho, onde ele é activo , a partir do qual e por meio do qual produz coisas.
Mas assim como a natureza e o mundo externo sensível, fornecem os meios de
existência do trabalho, no sentido em que o trabalho não pode viver sem um objecto ( no qual
se exercita) de igual modo ela proporciona os meios de existência :
O mundo da natureza torna-se cada vez menos um objecto que pertence ao seu trabalho
ou um meio de existência no sentido imediato, meio para a subsistência física do trabalhador.
Assim, o trabalhador torna-se servo do objecto, primeiro porque recebe um objecto de
trabalho, ou seja, recebe trabalho; em seguida, pelo facto de receber meios de subsistência.
Deste modo o objecto capacita-o para existir, primeiro como trabalhador, e em seguida como
sujeito físico. A culminação de tao servidão é que ele só pode manter-se como sujeito físico,
enquanto trabalhador e só trabalhador enquanto sujeito físico.
Conclui-se, portanto, que o homem enquanto trabalhador, so se sente livermente activo
nas suas funções animais ( comer, beber, procriar, etc), enaquanto nas funções humanas se
sente reduzido a animal. No entanto funções como beber, comer e procriar, são também
certamente funções humanas. Mas abstractamente consideradas, o que as separa da restante
esfera da actividade humana e as transforma em finalidades últimas e exclusivas é o elemento
animal (Marx, 1993).
Considerámos o acto de alienação da actividade prática e humana, o trabalho, segundo
dois aspectos:
• A relação entre trabalhador e producto de trabalho como relação na qual o
segundo é um objecto estranho que domina o primeiro. O mesmo se aplicando ao
mundo da natureza, como um mundo estranho e hostil;
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• A relação do trabalho ao acto da produção dentro do trabalho. Tal relação é a
realação do trabalhador à própria actividade como uma coisa estranha, que não lhe
pertence., a actividade como sofrimento, aforça como impotência, a criação como
emasculação, a própria energia física e mental do trabalhador , a sua vida pessoal
como uma actividade dirigida contra ele, independente dele, que não lhe pertence.
Aqui podemos falar de auto-alienação, em contraposição com a acima referida
alienação da coisa.
3) Uma terceira deterninação do trabalho alienado
O homem é um ser genérico em dois sentidos: por um lado, faz objecto seu, prática e
teoricamente, a espécie, por outro lado comporta-se
perante si mesmo como a espécie
presente, viva, como um ser universal e portanto livre. A vida genérica, tanto para o homem
como para o animal, possui a sua base física no facto de que o homem vive da natureza
inorgânica, e uma vez que o homem é mais universal que o animal, também mais universal é a
esfera da natureza inorgânica de que ele vive.
No plano físico o homem vive apenas dos produtos naturais na forma de alimento ,
calor, vestuário, etc. A universalidade do homem aparece praticamente na universalidade que
faz de toda a natureza o seu corpo inorgânico:
• como meio imediato de vida
• como objecto material e instrumento da sua actividade vital
O homem vive da natureza, ou melhor, a natureza é o seu corpo com o qual tem de
manter-se em permanente intercâmbio para não morrer. Afirmar que a vida física e espiritaul
do homem e a natureza são interdependentes, significa apenas que a natureza se interrelaciona
consigo mesma, já que o homem é uma parte da natureza.
Uma vez que o trabalho alienado, por uma lado aliena a natureza do homem e por outro,
aliena o homem em si mesmo, a sua função activa, a sua actividade vital, acaba por alienar
igualmente o homem a respeito da espécie; transforma a vida genérica em meio da vida
individual. Em primeiro lugar aliena a vida genérica e individual; em seguida muda esta
última na sua abstracção em objectivo da primeira, portanto na sua forma abstracta e alienada.
De facto o trabalho e a actividade produtiva aparecem agora ao homem como unico
meio de satisfação de uma necessidade (a de manter a existência física). A vida revela-se
simplesmente como meio de vida (Marx, 1993).
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O animal identifica-se imediatamente com a sua actividade vital. Não se destingue dela.
É a sua própria actividade. Mas o homem faz da actividade vital o objecto da vontade e da
consciência. A actividade vital consciente, destingue o homem das actividades vitais dos
animais. Só por esta razão é que ele é um ser genérico. Ou melhor só é um ser consciente ,
quer dizer, a sua vida constitui para ele um objecto, porque é um ser genérico. Unicamente por
isso é que a sua actividade surge como livre. O trabalho alienado inverte a relação uma vez
que o homem, enquanto ser consciênte, transforma a sua actividade vital, o seu ser, em
simples meio da sua existência.
A consciência que o homem tem da própria espécie muda-se através da alienação, de
maneira que a vida genérica se transforma para ele em meio.
Por conseguinte, o trabalho alienado transforma:
• a vida genérica do homem, tal como a natureza enquanto sua propriedade genérica
espiritual. Aliena o homem e o próprio corpo, bem como a natureza externa, a sua
vidade intelectual e humana.
• Uma consequência imediata da alienação do homem a respeito do produto do seu
trabalho, da sua vida genérica, é a alienação do homem relativamente ao homem.
Quando o homem se contrapõe a si mesmo, entra igualmente em oposição com os outros
homens. De modo geral, a afirmação de que homem se encontra alienado da sua vida
genérica, significa que um homem está alienado dos outros, e que cada um dos outros se
encontra igualmente alienado da vida humana.
Conclusão
O homem, ao modificar a sua faceta animal e, consequentemente, a sua humanidade
(subordinando-a a um complexo sistema social de valores), acaba por perder a sua verdadeira
essência. A alienação humana e, sobretudo, a relação em que o homem se encontra consigo
mesmo, realiza-se e exprime-se primeiramente na relação do homem com os outros homens.
Então, na relação do trabalho alienado, cada homem olha os outros homens segundo o padrão
e a relação em que ele próprio, enquanto ser trabalhador, se encontra. Existe também a
questão da alimentação da alienação: trata-se neste caso de um certo tipo de propagandas de
produtos que vai desumanizar os homens, sendo que, um dos grandes objectivos das mesmas
será o de relacionar o produto com o consumidor, apropriando-se neste caso do próprio
consumidor, e, atingindo o seu propósito a partir do momento em que o produto é consumido,
e a sensação de humanização estanque após a sua utilização.
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Em síntese, para melhor compreender o problema da alienação é importante ter em conta
a sua dupla contradição. Por um lado, há a ruptura do indivíduo com a sua própria natureza
havendo também uma síntese de ruptura anterior que apresenta agora novas possibilidades de
romper com a mesma alienação. Em seguida apresenta-se uma contradição externa: o produto
tenta desumanizar-se o que leva o homem a lutar pela reapropriação da sua própria natureza.
Referências
Marx, K. , «O Trabalho Alienado» in Manuscritos Económico Filosóficos, Lisboa: Ed. 70
Wikipedia contributors (2006 a), The Free Encyclopedia [em linha]. Disponível em
«http://pt.wikipedia.org/wiki/Karl_Marx»
Wikipedia contributors (2006 b), The Free Encyclopedia [em linha]. Disponível em
«http://pt.wikipedia.org/wiki/Aliena%C3%A7%C3%A3o»
Pensar em Termos de Alienação (s.d.) [em linha]. Disponível em
«www.marxists.org/portugues/seve/1999/02-02.htm»
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