Experimentos de Física com o Sistema de Som do PC Carlos Eduardo Aguiar Programa de Pós-Graduação em Ensino de Física Instituto de Física Universidade Federal do Rio de Janeiro XVII Semana da Física, UERJ, 2013 Resumo • O computador no laboratório didático • Aquisição de dados com a placa de som • Alguns experimentos usando áudio digital Velocidade de uma bola de futebol Velocidade do som Queda livre Ondas sonoras estacionárias Medida de frequência Efeito Doppler na Fórmula 1 Acústica de uma garrafa • Comentários finais O computador no laboratório didático computador coletor de dados (data-logger) sensores O computador no laboratório didático • Instrumento muito versátil. • Ótimo para medidas envolvendo: − tempos muito longos; − tempos muito curtos; − grandes quantidades de dados. • Torna mais simples realizar: − análises gráficas; − análises estatísticas; − modelagem matemática. Data-loggers e sensores • Normalmente encontrados na forma de kits comerciais: pacotes com data-logger, sensores e programa de aquisição de dados. • Fabricantes: Vernier, Pasco, Picotech, Phywe, ... • Dispendiosos para a típica escola brasileira. Alternativas? Alternativa 1: Construir seu próprio sistema de aquisição de dados Envolve: • Encontrar sensores apropriados; • Conectá-los a um conversor analógico-digital; • Escrever um programa de aquisição de dados. Meio complicado... (mas vejam a placa Arduíno) Alternativa 2: Aproveitar as interfaces já existentes no computador • • • • • Joystick Mouse Webcam (ou câmeras digitais) Microfone (ou gravadores digitais) ... Microfone e Placa de Som microfone: “sensor” placa de som: “data-logger” Microfone e Placa de Som Para que servem? • Experimentos envolvendo som (óbvio). • Cronômetro capaz de medir fração de milisegundo. Gravação e análise dos arquivos de áudio Audacity • Outros programas: Goldwave, CoolEdit, ... Alguns experimentos de Física baseados em gravações digitais Com que velocidade você chutou a bola? D Com que velocidade você chutou a bola? Elisa (14 anos) • T = 0,214 s • D = 2,5 m T velocidade da bola chute batida na parede V=D/T = 12 m/s = 42 km/h Numa escola do Rio de Janeiro Aquisição de dados Análise dos dados netbook Marta Máximo Pereira, Colégio de Aplicação da UFRJ e CEFET-RJ Resultados 80 (km/h) da bola velocidade ball speed (km/h) number de of students alunos número 30 25 20 15 10 5 0 35 4040 45 5050 55 6060 65 707075 8080 0 5 101015 202025 3030 velocidade da bola (km/h) ball speed (km/h) girls meninas boys meninos 60 40 20 0 1.4 1.5 1.6 1.7 1.8 1.9 alturaheight do aluno (m) (m) • Oportunidade para introduzir o tratamento estatístico de dados: - Velocidade média, desvios em torno da média. - Quem chuta mais forte? Correlação com características físicas pessoais (gênero, idade, tamanho, etc.). 2.0 Resumindo • Formalização do conceito de velocidade num contexto atraente aos alunos. • Medida impossível com cronômetro. • Motivação para análise estatística dos dados. • Ponto de partida para discussões da física do futebol: – a resistência do ar é importante a essas velocidades? – qual é a velocidade do pé logo antes do chute? Mais detalhes: C. E. Aguiar e M. M. Pereira, “Using the Sound Card as a Timer”, The Physics Teacher 49, 33-35 (2011) Medindo a velocidade do som Medindo a velocidade do som som entra no tubo D = 4,97 m T = 0,0142 s som sai do tubo Vsom = D / T = 350 m/s A 28 oC e 63% de umidade (condições locais) a velocidade do som é 349 m/s. Concepções sobre a propagação do som • O som não se propaga (é parte do objeto sonoro). • O som é algo material, provido de substância e “ímpeto”, que se propaga pelo ar. – Som mais intenso propaga-se mais rapidamente. – O som “vai parando” à medida que se propaga. Som fraco anda mais devagar? 3ª questão Número de respostas 10 8 6 4 2 0 a b c Sérgio Tobias da Silva, Colégio Pedro II, RJ Som fraco anda mais devagar? T = 0,0142 s Vsom = 350 m/s mesma velocidade O som perde velocidade? 4ª questão Número de respostas 10 8 6 4 2 0 a b c Sérgio Tobias da Silva, Colégio Pedro II, RJ O som perde velocidade? tubo 2 vezes mais longo Vsom = 10,08 m / 0,0290 s = 348 m/s Resumindo • • • • Experimento fácil de montar e executar. Método direto, conceitualmente simples: V = D / T . Resultados extremamente precisos (erro <1%). Os métodos usuais são baseados na observação de ressonâncias ou medidas do comprimento de onda: V = λ f . Complicados de montar e entender. • Métodos diretos já propostos usam dois microfones e exigem montagem de circuito especial. Mais detalhes: • S. T. Silva e C. E. Aguiar, “Propagação do Som: Conceitos e Experimentos”, Anais do XIX Simpósio Nacional de Ensino de Física (Manaus, 2011) • S. T. Silva, Dissertação de Mestrado, PEF-UFRJ, 2011. Escutando a queda livre moeda tira de papel h Escutando a queda livre Tempo de queda medido: t = 0,449 s Queda livre: • h = 96,1 cm • g = 978,8 cm/s2 t pancada na tira de papel moeda cai no chão 2h t 0.443 s g Numa escola do Rio de Janeiro Aquisição de dados Análise dos dados netbook Marta Máximo Pereira, Colégio de Aplicação da UFRJ e CEFET-RJ Resultados 180 Queda Livre (turmas 21A e B) 160 200 dados cálculo 120 h (cm) 150 altura (cm) g = y983 cm/s2 = 982.97x 140 100 100 80 60 50 40 20 0 0.000 0 0.200 0.400 tempo (s) 0.600 0.800 0 0.05 0.1 0.15 t2/2 (s2) No Rio de Janeiro, g = 979 cm/s2 – erro de 0,4%. 0.2 Resultados com cronômetro Queda Livre (turmas 21A e B): com cronômetro 200 180 200 dados (cron.) cálculo 140 h (cm) 150 altura (cm) gy ==869.89x 870 cm/s2 160 100 120 100 80 60 50 40 20 0 0 0 0.2 0.4 tempo (s) 0.6 0.8 0 0.05 0.1 0.15 2 0.2 0.25 2 t /2 (s ) Difícil reconhecer a relação h x t. Erro em g da ordem de 10%. Resumindo • Medida do tempo de queda livre com boa precisão. • Permite verificar que h = ½ g t2. • Determinação de g com erro inferior a 1%. • Cronômetros manuais experimento muito precário. Mais detalhes: C. E. Aguiar, M.M. Pereira, “O computador como cronômetro”, Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 34, n. 3, art. 3303 (2012) O som no interior de tubos ressonantes Tubo com extremidades abertas: deslocamento do ar no modo fundamental O som no interior de tubos ressonantes Qual é a intensidade do som neste ponto? Tubo com extremidades abertas: deslocamento do ar no modo fundamental O som no interior de tubos ressonantes Qual é a intensidade do som neste ponto? Tubo com extremidades abertas: pressão do ar no modo fundamental O som no interior de tubos ressonantes 50 40 30 Diagrama de deslocamento 20 Diagrama de pressão 10 0 Certo A- C+ Errado A+ C- (respostas corretas) Anderson R. de Souza, Colégio Pedro II, RJ O som no interior de tubos ressonantes O som no interior de tubos ressonantes Tubo com extremidades abertas. O som no interior de tubos ressonantes 2º modo 3º modo O som no interior de tubos ressonantes lado aberto lado fechado Tubo com uma extremidade fechada: modo fundamental. O som no interior de tubos ressonantes 2º modo lado fechado lado aberto 3º modo Tubo com uma extremidade fechada. Resumindo • Relação pouco intuitiva (diferença de fase de 90º) entre o deslocamento do ar e a pressão numa onda sonora. • Fonte de muita confusão entre os alunos (condições de contorno, por exemplo). • O que ouvimos: deslocamento ou pressão? • Método simples que permite mapear (com resultados “visuais”) a intensidade sonora no interior do tubo. Mais detalhes: • A. R. Souza e C. E. Aguiar, “Observando ondas sonoras”, Anais do XII Encontro de Pesquisa em Ensino de Física (Lindóia, 2010). • A. R. Souza, Dissertação de Mestrado, PEF-UFRJ, 2011 Medida de Frequência Com que frequência o mosquito bate asas? zumbido de mosquito período = 0,0027 s frequência = 370 Hz Com que freqüência o mosquito bate asas? f = 370 Hz 2f 3f Espectro de freqüências (obtido com o Audacity) Efeito Doppler na Fórmula 1 (Marco Adriano Dias, PEF-UFRJ) M. Schumacher, Suzuka 2003, “reta oposta” Efeito Doppler na Fórmula 1 antes: 880 Hz depois: 577 Hz V f1 f2 Vsom f1 f2 V = 254 km/h Acústica de uma Garrafa tubo aberto ou fechado? 4L 2L Dimensões da garrafa 2,8 cm 7,5 cm 3 cm 19 cm Ondas estacionárias na garrafa c = velocidade do som = 340 m/s L = comprimento da garrafa = (19+3,0/2) cm = 20,5 cm Tubo fechado nos dois lados: c fn n 2L f1 = 829 Hz Tubo aberto em um dos lados: c fn (2n 1) 4L f1 = 415 Hz Batida no fundo da garrafa Batida no fundo da garrafa (zoom) 2 frequências dominantes Espectro sonoro ? 107 Hz 830 Hz tubo fechado Ressonância de Helmholtz ar na garrafa: “mola” com k = γPA2/V A Lg V ar no gargalo: “massa” com m = ρALg 1 k f0 2 m c A f0 2 L g V velocidade do som: c P / Ressonância de Helmholtz c = velocidade do som = 340 m/s A = área do gargalo = π × (raio do gargalo)2 = 2,54 cm2 Lef = Lg + L = comprimento efetivo do gargalo Lg = comprimento do gargalo = 7,5 cm δL = correção de borda = 1.5×(raio do gargalo) = 1,35 cm V0 = volume do corpo da garrafa = 750 ml c f0 2 A L ef V0 f0 = 106 Hz o som dominante na garrafa é o da ressonância de Helmholtz Garrafa com água: medidas x cálculos onda estacionária Helmholtz Sopro na garrafa Sopro no gargalo: espectro sonoro 103 Hz 207 Hz 1628 Hz 829 Hz 1932 Hz o som é produzido essencialmente pela ressonância de Helmholtz Sopro no gargalo: espectro sonoro • • • • • 103 Hz – ressonância de Helmholtz 207 Hz – “harmônico” de Helmholtz: efeito do sopro? 829 Hz – onda estacionária na garrafa 1628 Hz – 2º harmônico da onda 1932 Hz – onda estacionária no gargalo Ondas estacionárias no gargalo: tubo aberto c fn n 2 L ef c = velocidade do som = 340 m/s Lef = comprimento efetivo do gargalo = (7,5+1,35) cm = 8,85 cm f1 = 1921 Hz o pico em 1932 Hz é uma onda estacionária no gargalo Comentários finais • O gravador do PC pode ser usado como sistema de aquisição de dados em muitos experimentos de Física: – ondas sonoras, acústica; – mecânica (cronômetro capaz de medir fração de ms). • Facilidade na montagem, execução e análise dos experimentos. • Custo quase zero, se o computador já existe. • Introdução à aquisição digital de dados: – o microfone como transdutor; – a placa de som como conversor analógico-digital. Comentários finais • Computadores domésticos e seus periféricos podem ser utilizados com muito proveito como instrumentos de laboratório didático. • Experimentos com gravações de áudio digital representam apenas pequena parte do que pode ser feito. • Custos relativamente baixos: laptops de preço inferior a R$ 1.000 (netbooks) já existem. Tablets e smartphones também podem ser usados. • Maneira muito econômica de se montar um laboratório didático.