Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do RJ
Pró-Reitoria de Pesquisa, Inovação e Pós-Graduação
Mapeamento Musical da Baixada Fluminense
Daniel Barros Gonçalves Pereira, Vanderson Rocha Nunes,
Alvaro Simões Corrêa Neder.
[email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro.
Palavras-chave: Mapeamento; música; Baixada Fluminense.
Introdução
O projeto Mapeamento Musical da Baixada Fluminense tem por objetivo desenvolver uma pesquisa
participativa que contribua para o registro da memória musical dessa região e para a formação de quadros
críticos oriundos desse espaço geográfico, que possam aí se estabelecer e promover efeitos multiplicadores,
levando a uma maior interferência das próprias comunidades na formulação das políticas públicas que as
afetam.
Por meio do uso da metodologia participativa e da teoria pedagógica de Paulo Freire (1987), tendo
como base os conceitos expostos e problematizados em sua obra Pedagogia do Oprimido, além do conceito
de musicar, de Christopher Small (2012), que colabora para uma concepção mais democrática e crítica da
música, busca-se, com este trabalho, estabelecer relações horizontais entre pesquisador e pesquisado,
utilizando-se de uma postura autocrítica, e compreendendo o diálogo como principal ferramenta para o
desenvolvimento da pesquisa. O pesquisador está inteiramente aberto às possibilidades de troca,
reconhecendo o dinamismo da pesquisa, uma vez que os temas abordados são escolhidos de acordo com as
contribuições dadas pelos próprios pesquisados. Dessa forma, esperamos que, com a utilização desta
metodologia experimental, haja um empoderamento dos moradores da Baixada para a produção de uma
reflexão crítica e uma participação na reformulação das políticas públicas a partir dos pontos de vista destas
comunidades. Desta forma, buscamos produzir uma pesquisa em que o próprio sujeito se auto-represente,
visando superar os modelos tradicionais em que agentes externos à comunidade em questão falem pela
mesma.
Na prática, o cronograma desta pesquisa consistiu, primeiramente, na leitura e discussão de textos
que nos auxiliaram na compreensão, no desenvolvimento e na aplicação da metodologia participativa, além
de textos que levaram a um aprofundamento do conhecimento sobre a Baixada Fluminense. Em
seguida, realizamos debates em que foram coletivamente propostos temas de investigação e pessoas a
entrevistar. A partir daí, realizamos entrevistas com o objetivo de fazermos um levantamento tanto da
produção musical da Baixada Fluminense quanto dos principais problemas relacionados.
Com esta pesquisa em andamento, todos estes passos continuam a ser realizados. Temos como
alguns dos resultados esperados uma compreensão melhor e mais ampla de como a música constrói laços
de sociabilidade, como a música se relaciona com o público que dela usufrui, com o espaço físico no qual ela
está inserida e com as esferas socioculturais. Com o objetivo de tornar o material produzido universalmente
acessível ao público, e como forma de valorizar as culturas e memórias da Baixada Fluminense, será criado
um banco de dados na internet (blog ou site) onde os registros audiovisuais documentados serão
disponibilizados de forma gratuita.
Resultados e Discussão
Este primeiro ano pode ser visto como um necessário período inicial, exploratório, em que nos
aproximamos de músicos, entidades, associações de moradores e movimentos sociais, buscando construir
as bases da pesquisa que desejamos fazer. Ao mesmo tempo, estamos fazendo um levantamento da
atividade musical da Baixada e de seus principais problemas, relacionando-os com a música produzida na
região, valorizando sua memória, e realizando aproximações com a comunidade, o que levará ao segundo
estágio. Por meio desse levantamento, poderemos chegar a outro tema importante de pesquisa:
identificar movimentos sociais, grupos de pessoas, coletivos diversos que se articulam, se organizam e
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adquirem sustentabilidade crítica, ou seja, sustentabilidade apoiada em uma visão política crítica da exclusão
das populações de periferia.
Em termos práticos, estão sendo realizadas entrevistas em vídeo com residentes, músicos,
produtores, secretários de cultura, pesquisadores, enfim, grupos e/ou sujeitos que tenham seus trabalhos
voltados para a Baixada Fluminense. Temos, até então, como produto resultante desta primeira fase de
pesquisa os vídeos e as transcrições das entrevistas. O modelo de entrevista que temos feito apresenta
perguntas abrangentes com espaço democrático para que o entrevistado possa falar livremente.
Durante este processo de entrevistas têm surgido subtemas importantes, tais como a relação entre
as músicas e o sonoro (músicas sobre o trem, os ruídos da cidade, do campo), como citado pelo geógrafo
Manoel Ricardo:
“Tem uma música muito interessante que é (...) em ritmo do balanço do trem, do ritmo do trem,
eu acho que é até do Robson Gabiru não sei se ele é o autor, mas ele canta essa música. (...)
Quem mora na beira do mar, o mar tem essa coisa, a sonoridade, o barulho das ondas, né? A
própria atmosfera. Aqui, a gente não tem praia, mas têm rios, têm cachoeiras, tem a coisa do
trem, a coisa das estradas passando, é um lugar de passagem ainda, tem o burburinho das
ruas, eu acho que isso de certa maneira acaba influenciando no trabalho dos artistas.” (Manoel
Ricardo, em entrevista em: 17/11/2011)
A relação entre o sonoro e temas mais diretamente políticos, como lembra Rodrigo:
“(...) a música vem muito do fato que você vive, fala do seu lugar e tudo mais e eu trocando
ideia com o pessoal, com o Ras Bernardo, com o próprio Dida mesmo, eles falam muito disso,
que eles tentavam retratar mesmo o lugar, o que eles viviam, o que eles sentiam na época,
saca? (...) pra tentar mudar um pouquinho essa situação, tentar mobilizar o pessoal e tudo
mais, entende? (Rodrigo Caetano, em entrevista em: 16/12/2011).
Além das relações citadas acima, outro assunto muito recorrente nas entrevistas é o Centro Cultural
Donana que, segundo Nascimento (2010), surgiu na década de 80, quando, membros da família Nascimento,
resolveram criar um espaço no quintal da casa onde moravam, voltado para as artes e alfabetização. O Centro Cultural
teve, e continua tendo, uma grande importância para os moradores da Baixada (principalmente de Belford Roxo, onde se
localiza), podendo ser visto como grande espaço na construção de laços de sociabilidade.
“O Centro cultural Donana foi muito importante, por exemplo, na minha infância, (...) aí quando
tinha lá os trabalhos que eram feitos por eles, de artes plásticas, de oficina de percussão, eu
tinha oportunidade de assistir né, e até algumas vezes participar, isso foi durante minha
infância. Depois, né, já na fase adulta (...) eu também tive a oportunidade de algumas vezes
estar em contato com o pessoal do Donana e em especial o Dida Nascimento, que é um
grande nome ali, né, é um símbolo de resistência pra esse centro cultural.” (Sidnei Gama, em
entrevista em 20/01/2012).
“(...) é um ponto, uma referência mesmo em Belford Roxo, né, grandes músicos e tal, a mídia
internacional já foi lá, já esteve lá, o Jimmy Cliff visitou lá o Centro Cultural Donana. (...)
Espaço interessante mesmo, sempre acontecem atividades lá, interessante conhecer, e eu
procuro sempre divulgar lá. Acontece alguma coisa eu convido os amigos, e tal. Tem espaço
pra bandas tocarem...” (Alessandro Almado, em entrevista em 30/11/2011)
André Leite (2006) ressalta que esse centro passa a ser visto como o principal espaço utilizado pelos artistas
da região para manifestarem suas propostas artísticas.
Ao apresentarmos as diferentes manifestações artísticas que estão presentes na região temos a
intenção de contribuir para desconstruir o estigma que está muito presente quando se fala em Baixada
Fluminense e evidenciar o intenso esforço de seus moradores para reformular sua realidade por meio da
criatividade musical.
Conclusões
Este levantamento inicial permite observar que a Baixada desenvolve diversas atividades artísticomusicais que possuem inegável importância política, pois intensificam a autoestima dos residentes e laços de
união e sociabilidade entre eles. Por meio de sua música, a Baixada surge, não como espaço de violência e
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estigma, mas como união de sujeitos e grupos que lutam com a intenção de gerar mudanças importantes
para a região.
Agradecimentos
Ao IFRJ e ao CNPq pelo apoio financeiro.
Referências
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido, 17ª. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
SMALL, Christopher. El Musicar: Un ritual en el Espacio Social. Disponível em:
http://migre.me/99JUP. Acesso em: 14/05/2012.
LEITE, André Santos. Memória Musical da Baixada Fluminense. Dissertação de Mestrado. UNIRIO. Rio de
Janeiro, 2006. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/cp022659.pdf
Acesso em: 13/05/2012.
NASCIMENTO, Érika. Centro Cultural Donana. Disponível em: http://migre.me/99JRV Acesso em: 14/05/2012
SILVA, Sinesio Jefferson Andrade. Memória dos sons e os sons da memória: um encontro entre a História
Oral e a Etnomusicologia. PPGMUS-UFRJ e LE-UFRJ. Rio de Janeiro, 2009. Disponível em:
http://migre.me/99JOq Acesso em: 14/05/2012
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O texto artístico: leitura, crítica e argumentação nos encontros de leitura
e escrita
Aluna: Miriam Greice Santiago Maranhão*
Professora Orientadora: Angela Maria da Costa e Silva Coutinho*
[email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro
Palavras-chave: leitura, escrita, cultura, literatura, língua portuguesa
Introdução
O projeto de pesquisa, em sua versão completa visa ao estudo da apreensão da cultura por crianças,
adolescentes e jovens da contemporaneidade, tendo em vista a observação dos saberes adquiridos na
escola; dos adquiridos por meio dos gêneros consagrados de leitura (textos literários, teatrais e
cinematográficos) e os de fontes emergentes da indústria cultural (televisão, revista, cinema e internet). As
principais orientações desse estudo se originam do pensamento de Hans Robert Jauss a respeito da
recepção do texto poético e sua compreensão relacionada à permissão de o leitor “participar da gênese do
objeto estético”(LIMA (org.), 2002); na visão de Walter Benjamin sobre reprodutibilidade técnica,
autenticidade da obra de arte e recepção (BENJAMIN, 1994) e nas recentes propostas de ensino e
aprendizagem da leitura e da escrita. Esta proposta maior é fracionada em subprojetos entre os
pesquisadores. Neste subprojeto, mantém-se o objeto da pesquisa na relação ensino-aprendizagem da arte
literária, particularizando-se o estudo dos textos artísticos veiculados em livro, cinema, revista e vídeo nos
encontros de leitura e escrita destinados aos alunos da educação básica do campus São Gonçalo. Tal
medida deve-se à compreensão de ser esse empreendimento uma ação educativa e cultural favorável à
apreensão de relevantes saberes que deverão contribuir para o aprimoramento do desempenho escolar
desses estudantes. Pretende-se que ampliem seus critérios de observação e de crítica relativas às
linguagens contemporâneas e tenham oportunidade de expressar-se satisfatoriamente, por meio de textos
verbais e não verbais, auxiliados por essa ação que é, também, de compartilhamento dos avanços das
pesquisas lingüísticas, literárias e culturais entre os membros do grupo de pesquisa e seus convidados.
Estima-se, prioritariamente, como resultado, que nossos estudantes consigam um crescente desempenho
positivo em suas atividades acadêmicas.
Discussão
A preocupação com o bom desempenho do estudante na escola, atualmente, no âmbito dos estudos
literários, linguísticos e culturais tem como fundamentos as teorias, conceitos e modelagens estruturais da
área, tais como os que estão ancorados em reflexões que pensam a aceleração das transformações
ocorridas no mundo, nas últimas décadas, e seus efeitos nas relações comunicativas e “nas mais diversas
áreas, modificando sensivelmente o modo de vida das pessoas, as relações econômicas, sociais, familiares,
e, especialmente, a infância” conforme afirma Jacoby (2003,p.7). Para ela, “à mercê do jogo de forças de
uma sociedade capitalista, voltada para o consumo e em vias de globalização, a criança recebe o impacto de
uma produção cultural nem sempre comprometida com a sua emancipação como sujeito.” (idem). No debate
relativo à cultura, o ponto de vista de Roberto da Matta distingue a acepção de cultura do senso comum –
instrução vasta e variada, prerrogativa daquele que sabe muito – e a recoloca em lugar de acesso a todas
as pessoas – como toda e qualquer forma de construção de significado. Segundo ele, “ter cultura trata-se de
uma condição inerente a todo ser vivo que, com suas experiências, produz significados individual e
coletivamente no conjunto dos atores sociais de seu tempo.” (apud Ketzer, 2003, p.12). Nesse sentido, o que
se busca aprimorar na relação dos leitores com as textualizações contemporâneas são os critérios de
seleção e de escolha, para que lhes seja possibilitado rejeitar ou aceitar este ou aquele bem cultural de forma
consciente, de acordo com as convicções advindas da própria história particular ou coletiva. Essa
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emancipação, ao que se observa, não acontece sem a interferência de uma libertadora ação formativa. Na
avaliação de Bordini (2003, p.268),
tanto pais como professores leem pouca poesia, desconhecem a tradição brasileira dirigida aos
adultos e mais ainda a internacional, de modo que o gênero não é apreciado e portanto não é
transmitido às novas gerações. Como o poema de qualidade sempre propõe desafios a seu leitor,
quem não domina o verso moderno, parâmetro dos melhores autores, não consegue mostrar à
criança a sua arte e despertar-lhe a admiração diante da música, das correspondências e
sugestões das imagens que se projetam do texto.
A atualidade das lições de Benjamin (1994, p.184) sobre arte e reprodutibilidade técnica é fundamental
para orientar essa nossa ação educativa de aprimoramento da expressão escrita dos estudantes. Segundo
este autor
Com a ampliação gigantesca da imprensa, colocando à disposição dos leitores uma quantidade
cada vez maior de órgãos políticos, religiosos, científicos, profissionais e regionais, um número
crescente de leitores começou a escrever, a princípio esporadicamente. No início, essa
possibilidade limitou-se à publicação de sua correspondência na seção “Cartas dos leitores”. Hoje
em dia, raros são os europeus inseridos no processo de trabalho que em princípio não tenham uma
ocasião qualquer para publicar um episódio de sua vida profissional, uma reclamação ou uma
reportagem. Com isso a diferença essencial entre autor e público está a ponto de desaparecer. Ela
se transforma numa diferença funcional e contingente. [...] O mundo do trabalho toma a palavra.
Saber escrever sobre o trabalho passa a fazer parte das habilitações necessárias para executá-lo.
A competência literária passa a fundar-se na formação politécnica e não na educação
especializada, convertendo-se, assim, em coisa de todos.
As questões relativas aos estudos do discurso, da cognição e da interação social orientadas por
pesquisadores nacionais e internacionais, dentre eles Teun Adrianus van Dijk e Ingedore V. Koch sugerem
uma associação de pressupostos cognitivos e contextuais com os quais é elaborado um modelo que concebe
o processamento de discurso como outros processos complexos de informação “um processo estratégico no
qual uma representação mental na memória é construída a partir do discurso, usando informações externas e
internas, com o objetivo de entender o discurso”.
Finalmente, as orientações básicas sobre elaboração de argumentos, estrutura textual e produção de
sentido, gêneros e tipos de textos fazem parte desse corpus teórico.
Resultados e Conclusão
Os processos utilizados no desenvolvimento do projeto são de duas naturezas: a primeira é de
caráter filosófico e consiste no ajuste dos pressupostos gerais e específicos do corpus teórico para a
proposta deste subprojeto, a segunda, relacionada aos objetivos específicos, trata do planejamento das
atividades, incluindo-se a seleção do material utilizado pelos alunos. Essa seleção se efetiva consoante a
opção do modelo teórico da Estética da Recepção e dos fundamentos da Semiótica, das modalidades
discursivas da narrativa, do poema lírico e do texto dramático e dos gêneros textuais predominantes nos
textos da indústria cultural contemporânea, como por exemplo, os textos da propaganda nos seus variados
suportes visuais e os textos lírico-musicais. Por outro lado, é prerrogativa tanto dos professores quanto dos
alunos a escolha dos temas, dos autores dos textos e as dinâmicas da produção textual. Os encontros
acontecem no do campus São Gonçalo, no horário da tarde. As modalidades textuais são estudadas a partir
da leitura dos textos representativos e das atividades de produção textual. Os alunos elaboraram um material
que serviu de parâmetro para se voltar a atenção às textualizações contemporâneas sobre o trabalho e o
trabalhador.
Foram elaborados dois cursos com a participação de dois professores de Língua Portuguesa –
Marcelo Pacheco e Hayla Tamy. Um curso de 20 horas e outro de 24 horas. Os resultados levaram a
pesquisadora, a aluna bolsista e uma aluna voluntária a elaborar um projeto de extensão para a semana
acadêmica do campus São Gonçalo cujo objeto de pesquisa foi o trabalhador e sua forma de expressar-se
durante a realização do seu trabalho. Chamou-se a esse projeto de “O canto do trabalhador”. Essa pesquisa
envolveu estudos bibliográficos e uma pesquisa de campo, a fim de recolher informações sobre as formas de
expressão dos trabalhadores e associá-las às Normas Regulamentadoras da Segurança do Trabalho.
Portanto, a partir da compreensão dos gêneros textuais, desenvolveu-se um diálogo entre textos líricos,
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poéticos, da música popular, estes com função expressiva e textos com função informativa, referenciais, de
caráter prescritivo da legislação trabalhista próprios da área da Segurança do Trabalho. Neste primeiro
semestre de 2012, estão sendo pesquisados documentários e textos poético- musicais cujo conteúdo verse
sobre o trabalho e se elaborando interpretações em conversação, preferencialmente, com as Normas
Regulamentadoras da Segurança do Trabalho. Essas interpretações, já realizadas pela aluna bolsista e mais
outros três voluntários, estão sendo aprimoradas e serão levadas, como Atividade Autogestionada para a
Mostra de Inovação Tecnológica do II Fórum Mundial de Educação Tecnológica.
Agradecimentos
Referências
BENJAMIN, Valter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Magia e técnica, arte e política.
São Paulo: Brasiliense, 1994. p.195-196
BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil e produção cultural. In: JACOBY, Sissa (org.) A criança e a
produção cultural: do brinquedo à literatura. Porto Alegre, Mercado Aberto, 2003. p. 253-272
DIJK, Teun Adrianus van A caminho de um modelo estratégico de processamento de discurso. Cognição,
discurso e interação (apresentação e organização de Ingedore V.Koch). 3.ed. São Paulo: Contexto, 2000,
p. 9-35.
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e construção dos sentidos. 7.ed. São Paulo: Contexto, 2003.
SERAFINI, Maria Tereza. Como escrever textos. 5.ed. Tradução de Maria Augusta Bastos de Mattos. São
Paulo: Globo, 1992.
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Leituras na escola contemporânea: Literatura, Teatro e cinema
Alunas Larissa Magalhães e Natália Cabral Muniz IC *
Professora Orientadora Angela Maria da Costa e Silva Coutinho PQ*
[email protected]
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Palavras-chave: leitura, dramaturgia, teatro, cinema, literature.
Introdução
Inicio, expressando a minha estima em iniciar estudantes do ensino médio na pesquisa da cultura, a
fim de que estes desenvolvam a compreensão sobre o lugar das ciências, das letras e das artes nos valores
culturais e sociais brasileiros. Associo minha estima ao pensamento de Zilberman (2008,p.18) para também
afirmar, com certeza, que “o texto poético favorece a formação do indivíduo, cabendo, pois, expô-lo à
matéria-prima literária requisito indispensável a seu aprimoramento intelectual” .
Os estudos contemporâneos relativos à cultura abordam as relações sociais (particularmente no caso
que nos interessa, da criança, do adolescente e do jovem) interligando a indústria cultural, a família e a
escola. Nessa perspectiva, os saberes adquiridos na escola – e concebidos como bens culturais relevantes
para o desenvolvimento social de todas as pessoas – convivem com os bens de consumo divulgados pela
indústria cultural, uma vez que estes últimos já foram incorporados pelos responsáveis das famílias e
funcionam como uma espécie de veículo para o cumprimento do seu papel de provedores da satisfação dos
filhos. Segundo Martín Barbero (2002) citado por Canclini (2008,p.33), “os saberes e o imaginário
contemporâneos não se organizam, faz pelo menos meio século, em torno de um eixo letrado, nem o livro é o
único foco ordenador do conhecimento”. Pensar, pois, a interferência do desenvolvimento da leitura e da
expressão nesse quadro, tem como significado promover a emancipação do pensamento e instigar o jovem a
exercer seu direito de escolha. A maneira para se alcançar essa escolha se dá no oferecimento de
oportunidades de leitura de textos de diferentes gêneros, veiculados em variados suportes técnicos, e na
disponibilização de experiências expressivas a serem realizadas com o aproveitamento da pluralidade de
veículos comunicativos atuais. Assim, os textos devem ser considerados, tanto estando impressos em folhas
de papel quanto na tela de um computador, em um espaço cênico, nas imagens do écran, em legendas e
outdoors. A expressão poderá ser veiculada, na sala de aula, em todas as modalidades de ensino, não
somente pela recomendada impessoalidade da organização dissertativa, mas, de modo sistemático, pelo
simbólico lirismo da poesia, da melodia, da singeleza sonora do verso popular. Optando-se pela
diversificação da oferta de bens culturais, de orientações de leitura e de oportunidades de expressão,
constrói-se a hipótese de que o aprendiz possa elaborar argumentos oriundos de sua reflexão e de acordo
com pontos de vista que ele mesmo foi capaz de construir no percurso de suas leituras.
Discussão
Tomo como exemplo, para ilustrar a convicção na eficácia da orientação de leituras e de elaborações
expressivas nos moldes mencionados, o conto A função da arte/1 do escritor uruguaio Eduardo Galeano
(1989, p. 15) que termina com um singular pedido de um menino ao seu pai: “Me ajuda a olhar!”. Essa frase
do final do conto obriga o leitor a retornar ao início da história, quando o narrador declara que “Diego não
conhecia o mar”. E a seguir, narra a viagem dos dois para o sul, a longa caminhada até alcançar as alturas
de areia e ver a imensidão do mar na frente de seus olhos: o menino fica mudo de beleza. Aí, tremendo,
gaguejando, faz o pedido: “Me ajuda a olhar!” A partir desse olhar, pode-se perceber o despertar dos outros
sentidos: de ouvir, de cheirar, de tatear, e a faculdade da fala. Essa dimensão sensorial agiliza a
compreensão do poético que, por intermédio das palavras, mobiliza a percepção estética e formula imagens
virtuais na mente do leitor. Quanto a esse fenômeno da percepção estética, Hans Robert Jauss declara que
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A interpretação de um texto poético já sempre pressupõe a percepção estética
com compreensão prévia; só deve concretizar significados que parecem ou
poderiam parecer possíveis ao intérprete no horizonte de sua leitura anterior. [..]
Cada leitor conhece a experiência que muitas vezes o significado de um poema
se torna claro apenas numa segunda leitura, após retornar do final ao início do
texto. Num caso destes, a experiência da primeira leitura torna-se o horizonte da
segunda leitura: aquilo que o leitor assimilou no horizonte progressivo da
percepção estética torna-se tematizável no horizonte retrospectivo da
interpretação. (In: LIMA (org.), 2002, p.877-878)
A experiência do menino do conto de Galeano é uma alegoria da experiência da matéria artística. O
leitor é um menino em ponto de descoberta que, ao vislumbrar o novo, se permite interrogar, esquadrinhar,
supor, dimensionar, comparar, elaborar hipóteses, falar por suas memórias e ecos culturais, propor,
fundamentar e defender propostas
Resultados e Conclusão
Em 2011, realizou-se o estudo da dramaturgia a partir da leitura da coleção Espetáculos do Galpão que
veicula textos clássicos adaptados pelo grupo Galpão e contém uma apresentação significativa sobre o fazer
teatral além de uma introdução explicativa daquela adaptação e dos espetáculos produzidos. Dentre outras,
dessa coleção, leu-se e estudou-se a peça Um Molière imaginário, dirigida por Eduardo Moreira e adaptada
por Cacá Brandão para o texto O doente imaginário de Molière. Em seguida, estudou-se a crítica
cinematográfica do filme O rei leão fundamentada na perspectiva discursiva e de caráter semiológico. Outra
leitura sobre cinema abordou a ficção científica nos aspectos históricos e estruturais. A peça A vida de
Galileu de Bertolt Brecht foi lida e disponibilizada para outros estudantes do campus, bem como o texto
Liberdade, liberdade de Flávio Rangel e Millôr Fernandes. Esta última foi escolhida pelas alunas bolsistas e
pelos colegas leitores para fazer parte da oficina de dramaturgia, teatro e cinema realizada na Semana
Acadêmica do campus Gonçalo, no mês de dezembro de 2011. Nesta ocasião realizou-se uma leitura
encenada da peça com a participação de 10 alunos. Nesta mesma semana, foi exibido o filme Fahrenheit 451
do cineasta Francois Trouffeau, produzido no ano de 1966. Esta exibição foi seguida por debates e
informações sobre a estética do filme, sua temática e as possíveis significações, além da produção do autor
e sua trajetória no cinema mundial. As alunas bolsistas, também apresentaram uma comunicação oral cujo
conteúdo era o desenvolvimento dessa pesquisa, no espaço da Jornada Científica interna realizada nesta
mesma semana acadêmica. Neste 1º semestre de 2012, estão sendo realizados estudos da história mundial
do cinema e do teatro. Prepara-se, para apresentação no II Fórum
Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, uma leitura encenada da peça Oxigênio dos autores Karl
Djerassi e Roald Hofmann.
Pode-se entender que o esforço de pesquisa e estudo das condições de leitura e interpretação de
diferentes textualizações é necessário porque, contemporaneamente, a criança, o adolescente, o jovem
recebem as informações disponíveis na escola, nas bancas de jornal, nas livrarias, nas feiras de livros, nas
salas de cinema, na própria casa, por meio de aparelhos individuais como televisão, vídeo, DVD, rádio, celular,
CD, e, quem sabe, esteja chegando ao país, neste momento, um novo aparelho, (ou um aparelho já conhecido
com sutis modificações no seu funcionamento?) Ou, quem sabe, talvez já esteja sendo fabricada uma nova
fonte de transmissão de mensagens, com estrutura revolucionária, a exigir do usuário um novo repertório e
muito mais agilidade para operá-la? Tais exigências de rapidez de apreensão dos repertórios e das estruturas
das mensagens são recorrentes nos produtos da indústria cultural e já foram absorvidas pelos usuários. O
problema é que a leitura e a apreensão desses sempre novos produtos diferem da leitura e da apreensão dos
textos estéticos e, por extensão, em termos de complexidade, dos textos teórico-conceituais e acadêmicos,
uma vez que essas modalidades expressivas requerem um esforço humano que dê conta de suas
possibilidades significativas e de suas associações a outros significados que solicitam saberes culturais
subjacentes.
Dessa forma, considera-se a mensagem artística desafiadora porque ela visa ao esforço intelectual
unicamente facultado ao homem. Seu efeito mobilizador de crítica tem como precedente a manipulação dos
mecanismos de elaboração dos diferentes gêneros textuais para operar a ação interpretativa dos signos, a fim
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de que essa mesma mensagem provoque a modificação almejada, qual seja a de ampliar o conhecimento e
construir um novo e genuíno saber.
Agradecimentos
Referências
BORDINI, Maria da Glória. Poesia infantil e produção cultural. In: JACOBY, Sissa (org.) A criança e a
produção cultural: do brinquedo à literatura. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2003. p. 253-272.
CANCLINI, Néstor García. Cultura e comunicação no desenvolvimento latino-americano In: ESCOSTEGUY,
Ana Carolina (org.) Comunicação, cultura e mediações tecnológicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006,
p.19-36.
____________________. Leitores, espectadores e internautas. Tradução de Ana Goldberger. São Paulo:
Iluminuras, 2008.
GALEANO, Eduardo. O livro dos abraços. Tradução de Eric Nepomuceno Porto Alegre: L&PM, 1991.
ZILBERMAN, Regina e SILVA, Ezequiel Theodoro. Literatura e pedagogia: ponto & contraponto. 2.ed.
São Paulo: Global; Campinas: ALB-Associação de Leitura do Brasil, 2008.
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Estudo experimental do português falado pelo corpo discente do IFRJ – Campus
Pinheiral
Isadora Lomeu Nunes Hermann Garcia* e Lucas Barbosa Lima*
Carlos André dos Anjos Teixeira *
[email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro*, Instituições parcerias ** e/ou de outros campi do
IFRJ
Palavras-chave: oralidade – entoação – vogal – consoante - WinPitch
Introdução
Estudos sobre o português do Brasil, no âmbito da oralidade, vêm se desenvolvendo, nos últimos anos, em
diversas instituições de ensino e pesquisa brasileiras.
A pesquisa experimental e orientada da fala, por meio dos seus sofisticados recursos, possibilita a realização
do registro vocal num programa computacional possibilitando, assim, um trabalho de pesquisa que pode ter
como resultado fatos relevantes a partir do estudo da linguagem oral, visto que o continuum da fala pode ser
analisado do ponto de vista da entoação e da fonética articulatória da língua portuguesa.
O projeto apresenta como objetivo geral, analisar e descrever os traços entoacionais e articulatórios
relevantes a partir das falas do corpo discente do curso técnicos em meio ambiente do IFRJ do Campus
Pinheiral.
Os objetivos específicos serão enumerados em seguida, tendo como base a configuração resultante dos
processos entoacional e articulatório:
1) Incentivar o estudo científico da linguagem oral.
2) Analisar a variação da curva melódica dos enunciados frasais.
3) Descrever o movimento da curva entoacional nas modalidades de frases
declarativa e interrogativa
4) Descrever, do ponto de vista articulatório, a distinção entre vogais e consoantes do português.
5) Promover o progresso dos estudos da linguagem oral sob seus aspectos articulatório e prosódico.
A metodologia utilizada para a execução da pesquisa é o da Fonética Experimental Computacional por meio
do programa WinPitch, criado e desenvolvido, na França, pelo engenheiro de som e linguista Professor
Doutor Philippe Martin. Criado, em 1996, pelo foneticista e engenheiro Professor Doutor Philippe MARTIN,
WinPitchPro é uma eficiente ferramenta para a pesquisa experimental da fala, em geral, e para os estudos da
prosódia, em particular. Contém procedimentos que permitem ao pesquisador concentrarem-se mais nos
trabalhos da pesquisa, do que nos seus aspectos técnicos, ao contrário do que geralmente ocorre com os
programas de computador na análise dos sons da fala.
Nesse programa as falas são gravadas e sua representação realiza-se, no espectrograma, por meio de
traçados que mostram a variação da curva entoacional e o oscilograma representativo do sinal da fala.
Convém ressaltar que, através desses traços, podem-se analisar cientificamente os fatos linguísticos que se
manifestam nas frases faladas. Como ilustração, observa-se, por meio do traçado subsequente, a
manifestação da fala:
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Figura 1: Curva melódica e oscilograma da frase Tom Jobim morou em Ipanema.
Resultados e Discussão
Figura 2: Curva melódica e oscilograma da frase Nunca lhe disseram que as calotas polares estão derretendo?
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Figura 3: Curva melódica e oscilograma da frase Nunca lhe disseram que as calotas polares estão derretendo.
DESCRIÇÃO DAS FRASES
A duração da frase afirmativa “Nunca me disseram que as calotas polares estão derretendo”(figura 2) é de
3,310s. A duração da sílaba “nun” do vocábulo nunca é de 0,228s. Já a duração da sílaba “res” do vocábulo
“polares” é de 0,197s, à medida que a sílaba “ten” do vocábulo “derretendo” obteve uma duração de 0,263s.
Analisando a curva melódica, podemos observar a existência de uma grande ascensão na sílaba “nun”, onde
a frequência de início é 175Hz, meio é 213Hz, e de término é de 243Hz. A sílaba “res” permaneceu, de certa
forma, no mesmo patamar, até um ponto que obteve uma longa descendência. Sua frequência de início é
153Hz, meio 177Hz, e término 122Hz. Na sílaba “ten”, observamos uma singela descendência, com início de
137Hz, meio de 126 e término de 107Hz.
Assim, a duração da frase interrogativa “Nunca lhe disseram que as calotas polares estão derretendo”(figura
3) é de 3,950s. A duração da sílaba “nun” do vocábulo nunca é de 0,236s. Já a duração da sílaba “res” do
vocábulo “polares” é de 0,151s, enquanto que a sílaba “ten” do vocábulo “derretendo” obteve uma duração de
0,282s. Dessa forma, podemos observar a existência de uma também grande ascensão na sílaba “nun”,
onde a frequência de início é 169Hz, meio é 223Hz, e de término é de 248Hz. A sílaba “res” permaneceu
novamente, de certa forma, constante, até um ponto que obteve uma pequena descendência; sua frequência
de início é 144Hz, meio 147Hz, e término 123Hz. Na sílaba “ten”, observamos uma súbita e grande
ascensão, com início de 135Hz, meio de 189 e término de 232Hz.
As consoantes surdas momentâneas ou oclusivas não se manifestam no oscilograma, como por exemplo, [t]
de calotas e [k] do vocábulo nunca.
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Conclusões
Em síntese, as duas frases apresentam oscilações representadas genericamente pelos traços prosódicos
representados pelo movimento da curva entoacional e da duração. Ressalta-se que as consoantes surdas
não se manifestam no oscilograma, ao contrário das sonoras e, também das vogais que são reforçadas por
causa da vibração das cordas vocais.
Agradecimentos
Ao IFRJ pelo apoio financeiro. Quando for o caso também colocar as demais fontes de fomento sejam CNP,
Faperj etc.
Referências
1) MARTIN, Philippe. «Systèmes prosodiques et énonciation», Gragoatá, Revista do Instituto de Letras,
Programa de Pós-Graduação, UFF, n.5, 1998, Niterói, RJ, Brésil. 21-40
2) MARTIN, Philippe. Analyse et modele de l’intonation du portugais brésilien: phnologie expérimentale avec
Winpitch. In: REIS, César (org). Estudos em Fonética e Fonologia do Português. Belo Horizonte: FALEUFMG, 2002. 207p. p.13-56.
3) TEIXEIRA, Carlos André dos Anjos. Estudo experimental da relação prosódia-sintaxe na fala espontânea
do português de Niterói. 2006.143f. Tese (Doutorado em Letras) – Instituto de Letras, Universidade
Federal Fluminense, Niterói. 2006.
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A formação profissional consciente: práticas de leitura e escrita
Adriana Maria de Oliveira
Hayla Thami da Silva
[email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro*, Instituições parcerias ** e/ou de outros campi do
IFRJ
Palavras-chave: texto, ensino, escrita, leitura, língua portuguesa.
Introdução
O objetivo central do presente projeto é estabelecer relações mais profundas entre os conhecimentos
adquiridos na escola e o seu efetivo uso nas práticas profissionais, de modo a fazer com que o aluno seja
capaz de compreender que os tópicos trabalhados e discutidos amplamente em sala de aula e, muitas vezes,
vinculados ao dia a dia do jovem, contribuem para reflexões e escolhas mais precisas no plano profissional.
Como se sabe, atualmente, o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo e a formação de
alunos capacitados é meta a ser cumprida por todas as instituições de ensino, principalmente as que são
voltadas para a formação técnica. O que se vê, no entanto, é que algumas áreas de conhecimento, sobretudo
as relacionadas às ciências humanas, muitas vezes, não são vistas com importância pelo aluno, dado que
este compreende que as matérias técnicas são aquelas que fomentam, de maneira mais contundente, a sua
formação.
A grande questão a ser discutida, entretanto, é a seguinte: em que medida e de que forma nós,
educadores, podemos mostrar para o nosso alunado as relações existentes entre a área técnica e os
conteúdos atrelados às ciências humanas? A Língua Portuguesa, por exemplo, é de fundamental importância
na formação acadêmica de qualquer estudante devido à necessidade que temos de nos comunicar bem tanto
no âmbito da escrita como no da fala. Dessa forma, o bom profissional é aquele que se faz entender de modo
claro e competente, o que é oriundo de práticas frequentes de leitura e escrita dentro e fora da sala de aula.
Sendo assim, visamos a coligar, de modo claro, os conhecimentos linguísticos essenciais para a
compreensão e estudo real das práticas de leitura e escrita às questões de ordem mais técnicas, como a
produção de relatórios, por exemplo. Com isso, de posse de conhecimentos consolidados acerca, sobretudo,
dos modos de organização do discurso, tipologia e gêneros textuais, os alunos serão capazes não apenas de
reproduzir mecanicamente modelos preestabelecidos de textos, mas sim constituírem-se autores-revisores
de suas atividades escolares e profissionais.
Resultados e Discussão
Pesquisas recentes revelam que os problemas do sistema educacional do Brasil são alarmantes,
principalmente no que se refere ao estudo da língua portuguesa. Muitas são as razões para esse grande
déficit na prática de leitura e escrita dos jovens, mas, sem dúvida, “no caso específico do ensino de
português, nada será resolvido se não mudar a concepção de língua e de ensino de língua na escola”
(POSSENTI, 2004: 16).
Há alguns anos atrás já se discutia a necessidade de mudança nas práticas de ensino de língua que,
como é sabido, pautava-se quase que exclusivamente na abordagem de regras gramaticais do “bom falar” e
do “bom escrever” (cf. BAGNO, 2002). Essa prática distancia os jovens do verdadeiro conhecimento da
linguagem, já que, para eles, conhecer sua língua é o mesmo que decorar normas sem sequer entendê-las;
com isso, formam-se leitores pouco eficientes, posto que avaliações exigem domínio estrito de regras e a arte
de interpretar textos é vista como “não-matéria” e um jogo de “tudo pode”.
Essa concepção de ensino de língua trouxe à tona o desinteresse da grande maioria dos alunos pelo
estudo real daquilo que é a linguagem e do modo como “fazemos língua portuguesa” todos os dias. Por conta
disso, o jovem, sobretudo o que busca conhecimentos atrelados a áreas técnicas, pensa que estudar
português é o mesmo que decorar regras ou ler textos de antigamente.
Nosso papel, enquanto educador e, mais, como linguista, é mostrar que (a) estudar língua
portuguesa é ir além das regras, sem descartá-las, mas entendendo, principalmente, como elas se
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concretizam na construção de sentido do mundo que nos cerca (cf. FIORIN, 2005); (b) estudar o texto, em
seu sentido mais amplo (cf. FÁVERO, 1997), é ter a capacidade de traduzir em palavras o nosso olhar e
nosso ponto de vista sobre as questões do mundo; e (c) compreender a relação entre o uso competente da
linguagem e o modo como ela subsidia nossas práticas profissionais é imprescindível para formar cidadãos
críticos. Em síntese, ensinar língua é “conseguir ampliar as competências comunicativo-interacionais dos
alunos” (ANTUNES, 2003:34).
Dessa forma, as práticas de estudo/ensino da língua portuguesa devem, pois, sustentar os interesses
de nossos alunos e fomentar as suas necessidades. Se, então, objetivamos romper com um modelo de
ensino que visa apenas a rotular palavras e sentenças e passamos a conceber a língua como um mecanismo
de construção do pensamento e das palavras que traduzem esse pensamento, estaremos, assim, adotando
uma nova forma de encarar a estudo da linguagem e, consequentemente, inovaremos antigas práticas de
sala de aula para mobilizar os jovens a compreender que o principal papel da língua portuguesa é formar
autores-críticos.
Para tanto, alguns conhecimentos são fundamentais na formação de bons leitores-produtores e,
automaticamente, de profissionais proficientes. O principal deles é o estudo dos modos de organização do
discurso. Sabe-se que há, na língua, modos de organização de um texto, como a descrição, a narração e a
argumentação (cf. CARNEIRO, 1993). Esses modos, por sua vez, articulam-se na formação de gêneros
textuais. Sendo assim, compreender bem esses grandes modos e saber suas características faz com que o
aluno articule melhor esse conhecimento para a elaboração de textos técnicos, a exemplo de um relatório.
Na área de Segurança do Trabalho, é comum que os profissionais tenham de elaborar relatórios
detalhados de acidentes. Ensinar um modelo preestabelecido de elaboração desse gênero textual sem
qualquer reflexão sobre essa atividade é, mais uma vez, resgatar o conceito de língua que restringe a
linguagem a um conjunto de regras. É interessante mostrar para o aluno que elementos típicos da descrição
articulam-se com o texto narrativo para formar um bom relatório e, além disso, a argumentação faz com que
o profissional posicione-se frente a um determinado problema, como um acidente.
Desse modo, o estudo profundo dos mais variados textos e a compreensão de que entendê-los
passa por sua estrutura e pela percepção da ação dos signos linguísticos em diálogo na construção do
sentido é tornar o estudante um leitor consciente e, consequentemente, formar um autor-crítico e conhecedor
de seu papel na atividade sócio-comunicativa.
Com tal objetivo, produzimos materiais de modo a subsidiar as práticas docentes. Sendo assim,
propusemos o estudo de nossa atividade em sala de aula a partir da análise dos trabalhos aplicados aos
alunos e sua análise. Verificamos, desse modo, que o estudo mais profundo do texto e o uso de uma didática
voltada para a apreensão da significação desses textos tornou o leitor mais eficiente e, portanto, crítico (não
só no que concerne à sua concepção de mundo, mas também a sua própria produção textual).
Conclusões
Concluímos que a elaboração reflexiva de materiais didáticos e as produções e trabalhos dos alunos
como objeto de estudo para a elaboração de novos materiais e, principalmente, para reflexões profundas
acerca do ensino de Língua Portuguesa, revigora o ensino de língua portuguesa e o torno mais envolvente e
dinâmico.
Agradecimentos
Ao IFRJ pelo apoio financeiro.
Referências
•
ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003.
•
BAGNO, Marcos. Preconceito linguístico. São Paulo: Loyola, 2002.
•
BENJAMIN, Valter. A obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica. Magia e técnica, arte e
política. São Paulo: Brasiliense, 1994.
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•
CARNEIRO, Agostinho Dias. Redação em Construção: a escritura do texto. 1 ed., São Paulo,
Moderna, 1993.
•
FÁVERO, Leonor Lopes. Coesão e Coerência textuais. São Paulo, Ática, 1997.
•
FIORIN, José Luiz. As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo:
Ática, 2005.
•
KOCH, Ingedore Villaça. O texto e construção dos sentidos. 7.ed. São Paulo: Contexto, 2003.
•
POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. São Paulo: Mercado das Letras, 2004.
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CENÁRIO MUSICAL DA BAIXADA FLUMINENSE: ASPECTOS SOCIAIS E
CULTURAIS
Rogério Luiz de Castro Gomes *, Júpiter Martins Junior, [email protected].
*Aluno bolsista do programa de iniciação científica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro*.
IFRJ
Preservação e identidade cultural na sociedade musical Lira de Ouro
Palavras chaves: Práticas culturais, identidade e cultura.
Introdução
O presente trabalho é uma pesquisa inserida no projeto de doutorado O Cenário musical da Baixada
Fluminense: Aspectos culturais e sociais; onde me encontro na posição acadêmica de orientando na bolsa de iniciação
científica, tendo como proposta principal o levantamento histórico e sua atuação no papel de instrumento cultural
localizado no Município de Duque de Caxias. O tema Preservação e identidade cultural na sociedade Lira de Ouro é
uma pesquisa feita no contexto de estudos e investigação sobre as práticas culturais, que tem tido uma colocação
considerável na tentativa de fomentar projetos fortalecendo a interlocução, entre cultura e desenvolvimento por meio
da aprendizagem musical, no contexto social.
Fundada em 1957, a sociedade musical Lira de Ouro, é um dos poucos espaços culturais que simboliza a
preservação cultural da região do central do Município de Duque de Caxias. Atualmente a sociedade possui uma
orquestra que executa seu repertório tradicional em música popular brasileira. Em 2005, a Lira de Ouro fora
reconhecido como um ponto de cultura, onde foi possível viabilizar alguns projetos culturais para a comunidade da
região. No presente momento a direção do espaço, aguarda algumas decisões burocráticas para dar continuidade ao
projeto de ponto de cultura.
Pretendo difundir as atividades artísticas desenvolvidas no espaço cultural em questão, como fonte de
desenvolvimento cultural e urbano, bem como a importância do trabalho de preservação e identidade cultural.
A missão do projeto é refletir sobre as ações e as reações por meio da produção cultural neste espaço.
Abordar por meio de uma análise teórica sobre tais práticas, visando inserir estes conhecimentos em registros
acadêmicos fomentando novos conhecimentos e saberes locais por meio de práticas culturais.
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Os objetivos específicos são a análise das contribuições culturais e sociais destas práticas e sua relação
com a comunidade; descrever toda a estrutura do equipamento cultural, bem como o processo de captação de
recursos e projetos e a identificação dos atores participantes e colaboradores do espaço.
Resultados e Discussão
Espera-se neste projeto, detectar a relação das políticas públicas para com os projetos relacionadas à cultura
massiva. Ademais, provocar a reflexão sobre a necessidade de atribuir o ensino extra-acadêmico como suporte na
educação tradicional, visando estreitar os conceitos de cultura para a grande massa por meio de uma cultura
tradicional. Neste caso, tenho a convicção de que os resultados alcançados possa servir de incentivo a novas políticas
correlacionadas a preservação da cultura nas cidades menos favorecidas. O fato é que, ao propor esta investigação,
por meios de bases teóricas e antropológicas, os resultados esperados desta pesquisa é interpretar o real significado
destas manifestações culturais e suas atuações. Ou seja, como um espaço cultural e seus rituais podem interferir na
vida de um jovem que frequenta suas oficinas, ou, como estas iniciativas podem permanecer ativas sem o apoio do
poder público e principalmente, como difundir estas práticas para o grande público e para mídia de massa, a fim de
fortalecer a identidade cultural e seus valores.
A discussão sobre o tema tem recebido atenção dos especialistas no mundo todo, o que leva a crer a
necessidade de expandir o assunto baseadas em teorias aplicadas principalmente na América Latina. Canclini, 1997,
em sua abordagem sobre a hibridação cultural; estabelece entre as culturas urbanas e a cultura de menor poder de
visibilidade, onde em seu livro “culturas Híbridas e poderes oblíquos”, afirma que a expansão urbana é uma das
causas da intensificação da hibridação cultural. O sentido urbano se restitui onde o massivo passa ser uma expressão
amplificada de poderes locais, ou a complementação de fragmentos. Por meios dessas teorias, onde se chama a
atenção para o rompimento de possíveis barreiras culturais, entre as classes sociais, se espera no presente trabalho
uma possível desconstrução do conceito conservador sobre a cidade que vivemos. Inicialmente é preciso ver e
entender a cultura como um conjunto de fator que proporciona a diversidade cultural propriamente dita, mas também o
conflito gerado nas grandes cidades por conta do domínio da indústria cultural e seus valores.
Conclusões
Conclui-se, que, a produção artística da sociedade Lira de Ouro ou outros espaços relacionados à cultura,
são ferramentas imprescindíveis para o desenvolvimento urbano por meio da cultura, como vem sendo mencionado
durante todo o resumo. O grande desafio é legitimar tal afirmação e compreender o processo de reconhecimento das
ações culturais em prol da sociedade. Uma boa parte dos espaços culturais na América Latina não faz parte de um
projeto de evolução social, por conta da resistência das gestões públicas, que insistem em não direcionar um processo
de institucionalização cultura nos grandes centros culturais. Seguindo esta lógica, temos a certeza de que, fomentar a
cultura o seu papel de criador de redes, para supostamente desenvolver novos rumos em educação e cidadania,
através de bens culturais, patrimônios e manifestações artísticas; fazendo valer reconhecimento globalizado das
práticas culturais em suas diferentes camadas sociais, econômicas e geográficas.
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Agradecimentos
Ao CNPQ pelo financiamento da bolsa; ao professor Júpiter Martins Junior, pela a orientação e a
credibilidade do projeto e a toda diretoria da Sociedade Musical Artística Lira de Ouro.
Referências
Fleury, Laurent. Sociologia da Cultura e das Práticas Culturais; tradução Marcelo Gomes. – São Paulo: Editora
SENAC São Paulo, 2009.
Almeida, Julia. Movimentos culturais e práticas políticas nas periferias do Rio de Janeiro. Artigo apresentado
originalmente no XXVII Congresso Internacional da LASA – Latin American Studies Association, 2009.
CANCLINI, Nestor Garcia. O papel da Cultura em Cidades Pouco Sustentáveis. In: SERRA, Mônica Allende. (Org.)
Diversidade Cultural e Desenvolvimento Urbano. São Paulo: Iluminaras Ed, 2005. P. 185-198
CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização; tradução Maurício
Santana Dias. Rio de Janeiro. Ed. UFRJ, 1995.
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A poética do conto
Isabele Moraes Rodrigues (IC), Paola Andrade de Almeida (IC)
Marcelo Pacheco Soares (PQ)
[email protected]
Palavras-chave: 1. Narratologia; 2. Conto; 3 . Crítica literária.
Introdução
A formação de profissionais técnicos com capacidade de desenvolver pensamento crítico é um dos objetivos
basilares do IFRJ, especialmente nos cursos que se desenvolvem de modo Integrado ao Ensino Médio.
Considerando que, como defende a semiótica moderna, o mundo representa um texto a ser lido, desenvolver
a interpretação de obras literárias e artísticas representa preparar o olhar para processar a leitura de mundo
que se espera do cidadão e do ser humano que os Cursos Técnicos Integrados do Instituto soem formar.
Esta pesquisa investiga e experimenta mecanismos de desenvolvimento de competências de leituras de
obras artísticas, notadamente as literárias, e torna públicas as produções discentes na área.
Nesse primeiro ano de implementação do projeto, não pareceu despiciendo que essa pesquisa apontasse
para uma das mais remotas formas de narrativa que acompanha o ser humano — o conto — opção que se
mostra producente tanto no que diz respeito à apresentação de peças de contornos mais precisos, facilitando
a montagem de um corpus de pesquisa, quanto pela acessibilidade que esse material encontra entre o
público discente.
Resultados e Discussão
A despeito de sua origem de tradição oral, nossa pesquisa investiga mais notadamente o “conto
contemporâneo, digamos o que nasce com Edgar Allan Poe, e que se propõe como uma máquina infalível
destinada a cumprir sua missão narrativa com a máxima economia de meios”, como o define o ensaísta e
exímio contista Julio Cortázar.
Para tanto, foi-nos pertinentes as teorias elaboradas por Ricardo Piglia para investigar o
funcionamento do gênero, que levantam a hipótese de uma bilateralidade inerente ao enredo de narrativas
desta natureza, conforme ele esclarece ao expor uma de suas teses sobre o conto, qual seja: um conto
sempre conta duas histórias:
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Num de seus cadernos de notas, Tchekhov registra esta anedota: “Um homem em
Montecarlo vai ao cassino, ganha um milhão, volta para casa, suicida-se.” A forma
clássica do conto está condensada no núcleo desse relato futuro e não escrito.
Contra o previsível e o convencional (jogar-perder-suicidar-se), a intriga se oferece
como um paradoxo. A anedota tende a desvincular a história do jogo e a história do
suicídio. Essa cisão é a chave para definir o caráter duplo da forma do conto.
Primeira tese: um conto sempre conta duas histórias.
[...]
O conto clássico (Poe, Quiroga) narra em primeiro plano a história 1 (o relato do
jogo) e constrói em segredo a história 2 (o relato do suicídio). A arte do contista
consiste em saber cifrar a história 2 nos interstícios da história 1. Um relato visível
esconde um relato secreto, narrado de um modo elíptico e fragmentário.
O efeito de surpresa se produz quando o final da história secreta aparece na
superfície.
Com base em tais conceitos, o pesquisador e os alunos de IC envolvidos no projeto fomentaram, na I
Semana de Letras, Artes e Cultura do Campus São Gonçalo, o I Concurso Literário do Campus São Gonçalo,
privilegiando justamente o gênero conto, cuja seleção do vencedor foi feita mediante os critérios instituídos
pelas teorias de Cortázar e Piglia.
Conclusões
O conto possui uma narração principal que se forma por ausência de significantes, sob o ocultamento da
história 2 pela linha de um oceano; assim, ao menos, determinaria a metáfora do iceberg que Ernest
Hemingway encontrara para expor o seu fazer poético, conforme Piglia mesmo menciona: “A teoria do
iceberg é a primeira síntese desse processo de transformação: o mais importante nunca se conta. A história
é construída com o não-dito, com o subentendido e a alusão.” — ou seja, para esse escritor americano, a
história 2 seria a que se encontra sob a água e, assim, o leitor apenas a deduz enquanto acompanha a
história 1, que não passaria da ponta do iceberg.
A aplicação da teoria mostrou-se pertinente em obras analisadas pelos pesquisadores envolidos.
Agradecimentos
Ao IFRJ pelo apoio financeiro.
Referências
1. CORTÁZAR, Julio. Valise de Cronópio. Tradução: Davi Arrigucci Jr.; João Alexandre Barbosa. São
Paulo: Perspectiva, 2008.
2. PIGLIA, Ricardo. Formas breves. Tradução: José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2004.
3. POE, Edgar Allan. “Filosofia da composição”. In: ------. Ficção completa, poesia & ensaios. Tradução:
Oscar Mendes; Milton Amado. Rio de janeiro: Nova Aguilar, 1986, p. 911-20.
4. ------. “Review of Twice-told tales”. In: Graham’s Magazine. Philadelphia: Harvard College Library, no
20, Janeiro de 1842, p. 398-430.
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“Ele enxerga um cardume de peixe de mil metros”:
Um estudo sobre os sinais do vigia na pesca artesanal em Arraial do Cabo
Ronaldo Miranda Fialho* (Bolsista PIBITI)
Maria Aparecida G. Ferreira*
[email protected]
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro*
Palavras-chave: vigia, sinais, pesca artesanal.
Introdução
Vendo que a pesca artesanal vem sofrendo com a escassez do pescado e com o desaparecimento dos
pescadores artesanais e do seu conhecimento adquirido na prática, vi a importância de registrar as técnicas e
saberes desses pescadores. O vigia, responsável por perceber a presença de cardumes e comunicar aos
demais pescadores essa informação, é o foco dessa pesquisa. Este pescador tem a função de ficar em terra,
em cima de um morro observando o mar. É com sua visão e prática de identificação, que os pecadores
embarcados contam para realizar a pesca bem sucedida (BRITTO, 1999). Assim, o objetivo do estudo é
analisar a importância dos sinais do vigia na pesca artesanal, a partir da perspectiva dos pescadores. Esses
sinais são criados pelos vigias ao observar os cardumes e são feitos com as mãos, braços e um lenço.
Os pescadores são homens que, com humildade e respeito à natureza, assumem os riscos e o desafio
de viver do mar (LINSKER e TASSARA, 2005). São conhecidos como “homens simples que aprendem a
decifrar os mistérios das águas e dos ventos para, daí retirar seu sustento e o de suas famílias” (LINSKER e
TASSARA, 2005, p.11). O pescador artesanal nasce do pai pescador e com ele a sua herança empírica. O
seu conhecimento vem de várias gerações, passado de pai para filho, na forma oral e pela observação. Para
Rio (1951 apud LINSKER e TASSARA, 2005, p. 11), os pescadores “são propriedades do mar. Nascem de
mães pescadoras, (...), vivem nas praias, nunca as abandonam. Aos quatro anos nadam, aos dez remam e
acompanham os parentes às pescarias, e assim passam a existência, familiarizados apenas com as redes e
os apetrechos de pesca”. Os pescadores artesanais mantêm a tradição, os conhecimentos sobre o ambiente
e a possibilidade de explorá-lo, sem causar impactos, utilizando instrumentos rústicos. O pescador artesanal
conta também com a observação da natureza e com o uso da intuição (LINSKER e TASSARA, 2005;
CALLOU, 2010).
Britto (1999) traz informações sobre os pescadores de Arraial do Cabo. Ela fala que uma companha de
é formada por nove pescadores: “vigia, mestre, chumbereiro, corticeiro, proeiro, meeiro, reeiro, contra-ré e
cabeiro” (BRITTO, 1999, p. 90). O vigia deve avistar, e comunicar para os demais companheiros, a
aproximação de cardumes, além de orientar a manobra da canoa e o lançamento da rede até que se conclua
o cerco. Ele transmite três tipos de informação ao grupo embarcado: a espécie a ser capturada, a quantidade
de peixes e os sinais que conduzirão as manobras da canoa e lançamento da rede.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas (WORCMAN e PEREIRA, 2006), realizadas com 4
pescadores, entre 80 e 92 anos, por serem os mais tradicionais da cidade. As entrevistas aconteceram nas
residências dos pescadores, sendo que uma foi realizada no morro do vigia. Os nomes reais dos pescadores
foram mantidos, por se tratar de projeto de histórias de vida e termos a permissão concedida por eles para
uso de seus nomes reais.
Resultados e Discussão
Foram separados trechos de entrevistas feitas com os pescadores para esse resumo. Abaixo, temos
um trecho de entrevista com S. Quinca Peró, de 86 anos, pescador de Arraial do Cabo desde os 14. Essa
entrevista foi gravada no morro do vigia da Praia Grande.
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S. QP: vigia é um pescador também, é um quinhão que ganha, (...) a gente é nove camarada que
pesca, é cinco remadores que puxa a canoa, e dois que bota a rede no mar, joga rede no mar, um que
mestreia a canoa, que guia a canoa, né, um outro que puxa, (...) é nove, e o vigia que fica aqui assim é
nove pessoa, (...)
(entrevista - 13.12.11)
Assim como Britto (1999), S. Quinca Peró define o vigia como pescador (linha 01). Ele afirma que o
“vigia é um pescador também”, já que se pode pensar que pescador é somente quem atua na água. Britto
(1999, p. 91), no entanto, fala que existem dois grupos na pesca: o da terra e o do mar. A equipe da terra é
formada pelo vigia e cabeiro. O vigia é, então, um pescador que atua no grupo da terra. Em seguida, cita
algumas pessoas que formam a companha (linhas 02-04). Dessa forma, vemos o vigia descrevendo, com
suas palavras, características citadas em Britto (1999). Abaixo, temos outro trecho, em que ele explica como
é feita a identificação do peixe e como são os sinais usados na comunicação com a equipe do mar.
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Pesq.: como é que ele identificava o peixe?
S QP.: se via pelo conjunto, fica junto, fica preto igual a aquela ferrage lá, ó, ta vendo aquela ferrage
preta lá, (...) então aquilo fica lá formado junto assim e anda, né, num fica parado não, (...) e tem os
movimentos, (…) eu digo que peixe é, eu faço o sinal, pra eles saber qual que é o peixe, (...)
Ronaldo: mostra alguns sinais pra gente!
S QP: anchova é assim (faz o sinal), ó, sacomé, (...), porque ela pega na linha né, de anzol. Xaréu,
antigamente, a pessoa escalava o xareu, então, tinha uma machadinha que a pessoa batia na cabeça
do xaréu assim, (faz o sinal) “é xáreu!!”, aí todos já sabia, (...)
Ronaldo: a tainha? A tainha?
S QP.: a tainha fica pulando e saltando assim, a gente conhece tainha por isso, (...) o bonito é assim,
ele se vira, bonito (...)
(entrevista - 13.12.11)
Nas linhas 01-03, o vigia começa a explicar como se identificava o cardume do alto do morro. Ele diz
que se “via pelo conjunto” e, nas linhas 03-04, cita os sinais que usa para se comunicar com os embarcados.
Em seguida, faz alguns sinais para explicar sua comunicação. Ele mostra o sinal usado para avisar que o
cardume é de enchova, com um “movimento simulando o ato de recolher uma linha de pesca” (BRITTO,
1999, p. 253) e descreve o sinal usado para xaréu, que envolve o uso de uma machadinha para cortar a
cabeça do peixe (linhas 07-08).
A seguir, ele faz o sinal para tainha e comenta que a tainha “fica pulando e saltando assim” (linha 10).
Vemos essa descrição em Britto que cita os “movimentos repetitivos com as mãos, demonstrando tratar-se
de uma espécie de peixe que se desloca na superfície da água, dando saltos intermitentes” (BRITTO, 1999,
p. 253). No trecho seguinte, temos S. Dok, 82 anos, descrevendo o trabalho do vigia.
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S. Dok: ele fica lá em cima, ele tá vigiando, aí (...), ele enxerga um cardume de peixe, de mil metros,
ou mais, ele alcança com a vista, (...), eu gosto do vigia, porque ele enxerga longe sabe, ele vê, aí,
ele levanta, o pescador aqui nas canoa, sabe logo quando ele vai fazê o sinal, aí vão lá sobe tudo nas
canoas, ‘ele vai mandá, ele vai mandá’, porque ele se levanta, (...) quando vê o cardume de peixe
lááá em baixo, ele vai si espriguiça, olha pro sol, pra vê se é nuvem né, pra falar o certo, porque a
nuvem tem sombra né, (...) a diferença da nuvem, porque o peixe é igual uma mancha de sangue,
então, ele num quer se enganar, quando ele falar é porque falou na certa, (...), ele vai, puxa a
toalhazinha branca dele aqui e todo mundo fica... aí, ele faz o sinal, e também lá de cima (...), ele diz
também que qualidade de peixe é, então se é enchova ele faz sinal que é enchova, quando é xerelete
ele faz sinal que é xerelete, (...) e também diz ‘ó tem cinco mil enchova’, (...) e ele vai perder por 500
peixe, dá certinho, né, Ronaldo, dá tudo certinho
(entrevista - 10.01.12)
Acima, S. Dok fala que gosta do vigia porque “ele enxerga longe”, lembrando a ideia de pescador como
intuitivo e sagaz. Depois, narra como o vigia avisa aos companheiros sobre a qualidade e quantidade de
peixe que se aproxima. A equipe do mar fica atenta aguardando o sinal e comando do vigia (linhas 3-4).
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Destaco que o vigia só avisa “na certa”, (linhas 5-8) e que “dá tudo certinho” (linha 11), para garantir a
verdade da história. Houve outras entrevistas analisadas que, por causa do limite de espaço, não puderam
ser citadas.
Conclusões
Das entrevistas analisadas, percebemos nas palavras dos pescadores a importância do vigia na pesca
artesanal. Verificamos que os conhecimentos sobre os sinais são transmitidos oralmente. Justificamos,
assim, a importância de pesquisas como essa, onde registramos esses saberes e reconhecimento nas
palavras do próprio pescador.
Agradecimentos
Ao IFRJ pelo apoio financeiro e aos pescadores de Arraial do Cabo.
Referências
BRITTO, R. C. de C. (1999) Modernidade e Tradição – construção da identidade social dos pescadores de
Arraial do Cabo/ RJ. Niterói: EdUFF.
CALLOU, A. B. F. (2010) Povos do mar: herança sociocultural e perspectivas no Brasil. Ciência e Cultura, v.
62, p. 45-48.
LINSKER, R. e TASSARA, H. (2005) O mar é uma outra terra. São Paulo. Terra Virgem.
WORCMAN, K. e PEREIRA, J. V. (2006) História falada: memória, rede e mudança social. São Paulo. SESC
SP. Museu da Pessoa.
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