ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I Versão Online 2009 O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL JANETE APARECIDA GILICZYNSKI PEREIRA Ms. Cristiane Malinoski Pianaro Angelo (Orientadora) (UNICENTRO – Unidade Universitária de Irati) A LEITURA DO GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS IRATI/ PR 2010 PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA PDE 2009 DADOS DE IDENTIFICAÇÃO: 1. PROFESSORA PDE: JANETE APARECIDA GILICZYNSKI PEREIRA 2. ÁREA: LÍNGUA PORTUGUESA 3. MUNICÍPIO: IRATI 4. NRE: IRATI 5. ORIENTADORA: MS. CRISTIANE MALINOSKI PIANARO ANGELO 6. INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR: UNIVERSIDADE DO CENTRO-OESTE/ UNICENTRO - Unidade de Irati 7. TEMA: GÊNERO DISCURSIVO E A PRÁTICA DA LEITURA 8. TÍTULO: A LEITURA DO GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS 2 UNIDADE DIDÁTICA A LEITURA DO GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA E SUAS IMPLICAÇÕES PEDAGÓGICAS JANETE APARECIDA GILICZYNSKI PEREIRA APRESENTAÇÃO A linguagem como um meio de interação social possibilita a ação humana, pela qual o homem se organiza e dá forma às suas experiências, exigindo, assim, dessa ação entre sujeitos, possíveis reações/ comportamentos. É um processo inerente à vida das pessoas; pelo qual se constrói o conhecimento, interage-se com o mundo. Uma série de atividades de linguagem é mobilizada durante as práticas sociais, exigindo do indivíduo, diferentes modos de se expressar que se adequam às diferentes situações comunicativas. São, pois, os enunciados manifestados pelos discursos e materializados nos textos. Há inúmeros e variados os textos em suas funções específicas que circulam diariamente nas diferentes esferas sociais, veiculadas nos meios de comunicação. “São tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais são denominados de gêneros do discurso, [...] que configuram nos enunciados as condições específicas e as finalidades de certo campo não só por seu conteúdo (temático) e pelo estilo da linguagem [...], mas por sua construção composicional”. (BAKHTIN, 2003, p. 261, 262) Assumindo a concepção sócio-interacionista da linguagem, nos encaminhamentos metodológicos do trabalho com a língua, propõe-se tomar o 3 texto/ enunciado como um exemplar de gênero do discurso, instrumento pelo qual se faz o intermédio e integração entre as práticas sociais e as atividades de linguagem. É função dos Professores de Língua Portuguesa, conforme postulam as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná, proporcionar o contato dos alunos com a variedade de textos, por meio de uma dinâmica que explore o gênero para além de sua forma, considerando-o em sua essência enunciativa, visando “aprimorar os conhecimentos linguísticos e discursivos dos alunos, para que eles possam compreender os discursos que os cercam e terem condições de interagir com esses discursos” (PARANÁ, 2008, p. 50). Enquanto ação pedagógica a partir dos gêneros discursivos, a leitura é tomada como “um ato dialógico, interlocutivo, cujo leitor tem um papel ativo como co-produtor de sentidos”. (op cit. p. 71). Para tanto, o leitor precisa munir-se de informações explícitas e implícitas no texto, somadas aos conhecimentos de mundo pré-existentes para a produção de sentido ao texto-enunciado. Ao compreender o sentido do discurso, o ouvinte posiciona-se em relação ao dito, concordando ou discordando, completando ou não, numa “atitude responsiva ativa”. O enunciado se constrói levando em conta as atitudes responsivas, em prol das quais ele, em essência, é criado. “[..] toda compreensão é prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte torna-se o locutor.” (BAKHTIN, 1992, p. 290) ocorrendo a alternância de papéis durante a ação interativa. Numa analogia, pode-se dizer que a atitude responsiva corresponde aos dois lados de uma moeda. É sob esta perspectiva teórico-prática que se traz à tona, nesta Unidade Didática, reflexões sobre a prática da leitura em sala de aula numa perspectiva dialógica, considerando o gênero como um evento discursivo, cujos sentidos são produzidos mediante a compreensão de informações a partir das dimensões social e verbal. Apresenta-se uma proposta que possa desenvolver uma atitude crítica no leitor capaz de levá-lo a posicionar-se frente ao que lê, a fim de “promover um tipo de leitor que não se adapte ou se ajuste inocentemente à realidade que está aí, mas que, pelas práticas da leitura, participe da transformação social” (SILVA, 1999, p.47). A leitura, pois, é um veículo que possibilita obter conhecimento de mundo posicionar-se diante dele. 4 Por sua natureza social, é infinita a diversidade dos gêneros do discurso, dadas as mais complexas possibilidades de ações humanas. Diante disso, optouse pelo trabalho da leitura com o Gênero Divulgação Científica, como uma oportunidade de aliar essa prática discursiva às diferentes ciências, suscitando a compreensão que extrapola as marcas textuais, somando-se à possibilidade de articular os saberes científicos à vida cotidiana, estabelecendo um elo de informações entre o universo científico e o não-científico; no intuito de melhor compreender as mudanças que vêm ocorrendo com o próprio ser humano e com o ambiente que o circunda. Para essa proposta de leitura, buscaram-se Textos de Divulgação Científica veiculados nas Revistas Ciência Hoje e, em especial, a Ciência Hoje das Crianças (publicadas pelo Instituto Ciência Hoje – organização da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC). A escolha deve-se à sua dinamicidade e naturalidade na apresentação dos fatos científicos, bem como na relação interativa que mantém com o leitor, o que estimula a investigação e reflexão e a apropriação dos conceitos científicos, seja pelas escolhas temáticas, seja pela utilização de recursos diversificados e atrativos ao seu público. 5 LEITURA E CIDADANIA Por que as lâmpadas fluorescentes são mais econômicas? Comer pão com bolor faz mal à saúde? Por que os alimentos mofam? Como funciona o filtro solar? (Fontes: Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças. Edições 2008, 2009 e 2010) Em nosso cotidiano, caracterizado pela circulação de um grande volume de informações, somos instigados à leitura e à reflexão de fatos relevantes sobre diferentes Ciências e que suscitam questões referentes ao meio ambiente, astronomia, medicina, história, enfim, são inúmeros conceitos disponibilizados pelos diferentes meios de comunicação (impresso, on line televisivo...) divulgando informações de interesse do público. Estão nas enciclopédias, nos livros didáticos, nos jornais, nas revistas, na internet, em programas de televisão (...) as diversas possibilidades de se conhecer os avanços e descobertas das ciências e entender que o conhecimento dos fatos científicos contribui, direta ou indiretamente, na melhoria da qualidade de vida das pessoas. O que se enfatiza, hoje, nessa sociedade imersa nas informações é a formação de um cidadão que, além do acesso às informações, seja capaz de lêlas, analisá-las de forma mais profunda, inter-relacionando aos conhecimentos já adquiridos e ampliando seu repertório cognitivo e sua competência comunicativa. A leitura, sob essa ótica, é um instrumento que proporciona o conhecimento de mundo e, ao mesmo tempo, possibilita ao leitor posicionar-se diante dele, com subsídios que lhe permita ter condições de questionar os fatos de sua realidade, confrontar opiniões, apontar caminhos viáveis para melhoria da vida em sociedade, garantindo, assim, o exercício, de fato e de direito, de sua cidadania. Questões similares às apresentadas anteriormente são comuns no cotidiano das pessoas e isso revela a constante busca por respostas que atendam às suas necessidades em prol de uma vida melhor, tendo no caminho das ciências, o viés para sanar muitos questionamentos, motivo pelo qual se evidenciou, nos últimos tempos, a propagação da divulgação científica visando 6 atender ao público, de forma quantitativa e qualitativamente mais significativa, fazendo uso dos recursos tecnológicos disponíveis. A sala de aula é um dos ambientes favoráveis à divulgação das diferentes ciências, por isso, a leitura de Textos de Divulgação Científica nas aulas de Língua Portuguesa poderá ser uma possibilidade de promover, numa ação interdisciplinar, a apropriação dos conhecimentos da produção científica e a ampliação da capacidade linguístico-discursiva dos alunos a partir do contato e compreensão de mais um gênero de circulação social. O TEXTO CIENTÍFICO E TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: GÊNEROS DISCURSIVOS DA ESFERA CIENTÍFICA Os gêneros discursivos estão vinculados à atividade humana, a uma situação social de interação dentro de uma esfera social, com finalidade discursiva específica para atender às necessidades de comunicação. Conforme Bakhtin (1992), cada esfera social, dadas suas funções (científica, técnica, jornalística, cotidiana, jurídica...) e as condições de comunicação discursiva específicas de cada campo, gera determinados tipos de enunciados estilísticos, temáticos e composicionais relativamente estáveis, que se constituíram, historicamente como (regularidades) comuns nas situações de interação verbal, reconhecidas por seus usuários. Inseridos na esfera científica, tanto o gênero científico quanto o gênero de divulgação científica pertencem à ordem do “expor” e têm por função difundir o conhecimento científico sistematizado, produzido culturalmente, relacionado a diferentes ciências: Química, Biologia, História, Arte, dentre outras. Embora façam parte da mesma esfera social, esses gêneros apresentam suas especificidades e, nesta Unidade Didática, considerando a proposta de reflexão sobre a leitura dos textos de Divulgação Científica, convém estabelecer as relações com o texto científico que lhe serve de fonte de informações. 7 Professor(a)! Propicie aos alunos a leitura de diferentes textos científicos e de divulgação científica na intenção de reconhecê-los e compreender suas especificidades. Como sugestão, para o primeiro gênero, busque exemplos em revistas especializadas (área médica, odontológica, nutrição, informática...) ou sites específicos (como o site www.scielo.org, da Biblioteca Científica Eletrônica em Linha, por exemplo) e para o segundo recorra à revista Ciência Hoje das Crianças, a fim de apresentar as distinções existentes entre eles. O TEXTO CIENTÍFICO O texto científico está em função do conhecimento historicamente construído pela humanidade. Funda-se em princípios universais que os garante certa permanência e universalidade, pois o conhecimento baseia-se em um estatuto de verdade advindo de métodos objetivos para sua produção. Sua função é disseminar o conhecimento, transmitir informações científicas, difundir resultados de pesquisas dos especialistas aos seus pares - às comunidades específicas. Para tanto, faz-se uso de gêneros discursivos como papers, artigos científicos, monografias, enciclopédias, resenhas, dentre outros, publicados em revistas especializadas. Neste gênero textual, destaca-se a linguagem que está a serviço do conhecimento, por isso, seu estilo é formal e unívoco (com única interpretação), evitando qualquer indício de ambiguidade, prima pela objetividade, concisão e formalidade, impessoalidade, com uso de terminologia técnica e específica da área de pesquisa. Outra característica perceptível é a utilização de argumentos de autoridade no intuito de validar as informações, o que justifica o uso de citações em diversos textos dessa natureza. Apresenta-se com uma estrutura formal rígida, característica própria do texto científico e, em muitos deles, como em monografia, em artigo científico, é perceptível a distinção de três partes, conforme orientam Nantes e Gregório (s/d): • A primeira traz a descrição dos materiais usados na pesquisa; • A segunda aponta os objetivos e procedimentos utilizados; • Por fim, apresentam-se os resultados obtidos. 8 O TEXTO DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA O texto de divulgação científica (doravante TDC) é formado a partir da junção de dois discursos: o científico que, como já abordado, visa transmitir informações científicas ou difundir resultados de pesquisas dos especialistas aos seus pares e o jornalístico que prima pela notícia em si e atende a um público diverso, necessitando, portanto, de uma linguagem clara, objetiva, concisa, convergindo para a impessoalidade. O TDC apresenta-se como prática de reformulação do discurso fonte (científico) em um discurso segundo (divulgação). É entendido como uma recriação do conhecimento científico no intuito de comunicar ao público distante das ciências, em linguagem acessível, os fatos e princípios da ciência, dentro de uma filosofia que permita aproveitar o fato jornalisticamente relevante como motivação para explicar os princípios científicos, os métodos de ação dos cientistas e a evolução das ideias científicas, conforme define Reis (1964), divulgar cientificamente é: [...] comunicar ao público, em linguagem acessível os fatos e princípios da ciência, dentro de uma filosofia que permita aproveitar o fato jornalisticamente relevante com motivação para explicitar os princípios científicos, os métodos de ação dos cientistas e a evolução das idéias científicas. (REIS, 353) Visando atender a um público mais amplo, a divulgação científica pode ser veiculada em jornais e revistas (on-line e impressos) que procuram apresentar temas atrativos, curiosos sobre diferentes ciências, tanto com relação ao meio ambiente, como ciências humanas, exatas, enfim, questões da atualidade. Dentre as publicações brasileiras de cunho de divulgação científica destacam-se as revistas Ciência Hoje, Ciência Hoje das Crianças, Superinteressante, Galileu, entre outras. VOCÊ SABE A ORIGEM DO TERMO “DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA”? Leia o texto abaixo e fique por dentro dessa informação: 9 Por várias ordens de razão – mudanças sócio-históricas, interesse na qualificação dos trabalhadores, mudanças na dinâmica política e nas classes dominantes – a ciência foi um dos bens culturais – assim como as artes e ofícios – que entraram na disputa social como bens cobiçados a partir do final da Idade Média. A própria idéia de di-vulgação, isto é, de darão vulgo (à plebe, aos pobres, aos trabalhadores, aos que falam a língua vulgar – o povo) os bens do conhecimento, nasce desse movimento de acesso sucessivo das massas aos bens culturais valorizados, patronizada pelos intelectuais da Revolução Francesa – os iluministas que devem levar as luzes (da ciência) ao século XVIII. Os textos e discursos de divulgação científica e didáticos surgem justamente dessa vontade política: dar ao vulgo os bens culturais da ciência e do conhecimento. Esses bens culturais foram disputados pelos homens livres, pelos padres da Igreja, pela burguesia e pelos trabalhadores. Ao final da chamada Idade Moderna, tínhamos em boa parte do Ocidente, uma situação em que todas as classes têm acesso à escolarização – inclusive como mecanismo de disciplina(riza)ção dos bárbaros que passa a ser obrigatória e universal [...] desde sempre as compilações de textos didáticos acompanharam o ensino da Filosofia, da História, das sete Artes Liberais; além disso, a vontade de divulgar os achados da ciência fora da escola, ao povo ou ao “homem do mundo”[...] A ação de maior impacto foi, justamente, a organização da Enciclopédia, por Diderot e d’Alembert [...] ROJO, Roxane. O Letramento Escolar e os Textos de Divulgação Científica: a apropriação dos gêneros do discurso na escola. Revista linguagem em (Dis)curso, vol. 8, nº 3, set/dez. 2008. Disponível em http://www3.unisul.br/paginas/ensino/pos/linguagem/0803/08.htm. Acesso em 04/03/2010. LEITURA... PARA COMEÇO DE CONVERSA As atividades de leitura no âmbito escolar visam à formação de leitores competentes, capazes de reconhecer e selecionar, dentre os diferentes textos de circulação social, aqueles que atendam às suas necessidades e ainda que sejam capazes de atribuir-lhes sentido, de forma mais crítica, resultando numa atitude responsiva ativa, que os leve a assumir uma postura frente ao que lê. A formação dessa competência leitora depende de trabalho e estímulo. Solé (1998) orienta a possibilidade de seu alcance mediante o uso de estratégias de leitura, que são consideradas como procedimentos que envolvem a determinação de um objetivo para ler e ações que garantam sua efetivação, na busca de uma atitude mais autônoma do leitor. A autora, ao discutir sobre as estratégias de leitura, especificamente, sobre as atividades que antecedem esta prática, ressalta que o leitor precisa ser estimulado à leitura a qual deve conter um propósito (um objetivo para ler – o leitor precisa saber o que vai fazer, sentir-se capaz de fazer), pois fora da escola, lê-se com diferentes propósitos: seguir instruções, localizar informações, para aprender, para se divertir; há sempre um porquê e, assim, é possível acionar 10 conhecimentos que fazem parte do seu repertório experiencial e cultural. A compreensão dos textos não está atrelada a uma noção de vale-tudo, mas implica na relação dos conhecimentos que o leitor tem sobre o tema, somados aos indícios (pistas) fornecidos pelo texto e aos objetivos estipulados para se chegar ao seu sentido. Comungando desse pensamento, Taglieber e Pereira (1997) sugerem, dentre as atividades de pré-leitura, a exploração de imagens, a elaboração de perguntas e respostas, a apresentação de figuras ou slides, formulação de perguntas (...), as quais podem ser ajustadas, conforme as possibilidades do texto. Segundo as autoras (op. cit.), ressalta-se a importância da realização de atividades antes da leitura propriamente dita porque contribuem para a preparação do aluno para o conteúdo do texto: “direcionam seus pensamentos, criam expectativas para a leitura, estimulam seu interesse, aguçam a sua curiosidade e, acima de tudo, proporcionam uma atividade intelectual desde o início do processo”. (p. 75) Partindo desses pressupostos, a proposta de leitura tomando os Textos de Divulgação como referência, primará por atividades de pré-leitura que suscitem os conhecimentos previamente adquiridos sobre o tema visando também ao levantamento de hipóteses na busca da produção de sentidos. Professor(a)! Estimule os alunos à leitura dos textos de divulgação científica, na intenção de ativar seus conhecimentos sobre a temática e levantar hipóteses sobre o sentido dos textos. Sugestão: Retome o tópico “Leitura e Cidadania” e discuta as questões, instigando-os a encontrar as respostas possíveis: • Onde podemos encontrar respostas para essas perguntas? • Que tipo de texto pode conter as informações solicitadas? • Você já leu um texto dessa natureza? • Onde é possível encontrá-lo? Não se esqueça de anotar as hipóteses para compará-las posteriormente! 11 CONHECENDO O GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA ATIVIDADE Professor (a)! Para as atividades que seguem, é importante promover ações interativas, por meio de leituras dialogadas, debates, discussões em grupo, atendendo a perspectiva dialógica da linguagem. Selecione diferentes textos de divulgação científica, tendo como referenciais possíveis, as Revistas Ciência Hoje, Ciência Hoje das Crianças, Superinteressante, Science American, e distribua-os aos alunos para manuseio, observação da temática, as recorrências do texto a fim de propiciar seu reconhecimento enquanto gênero discursivo, percebendo as regularidades linguísticas e discursivas. Num segundo momento, restrinja a leitura dos TDC a partir da Revista Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, repetindo as observações. A partir das Revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças, proponha a leitura dos textos de divulgação científica selecionados numa perspectiva global, atentando para os recursos como imagens, título, subtítulo, observando a autoria e instigando os alunos a reconhecer no texto questões como: o que se escreve, para que, para quem, qual intenção, onde, que conteúdo, qual o local de circulação, enfim, aguce a leitura de elementos explícitos e implícitos do texto. Fonte: http://cienciahoje.uol.com.br 12 Professor (a), agora é sua vez! Acione os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do texto de divulgação científica, a partir de questões de pré-leitura. Como sugestão, selecione um exemplar da revista Ciência Hoje das Crianças e a partir da capa, explore: - Você conhece a revista? - O que sugerem as imagens? - Para quem são dirigidas as informações? - Considerando o título da Revista, você imagina de que tema ela trata? Você poderá utilizar outras estratégias para este fim! Para saber mais consulte: * TAGLIEBER, L. K; PEREIRA, Gragoatá, Niterói, (2): 1. sem. 1997, 73-92. C. M. Atividades pré-leitura. * SOLÉ, Isabel. Estratégias de Leitura. Trad. Cláudia Schilling. 6 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998. REVISTAS CIÊNCIA HOJE E CIÊNCIA HOJE DAS CRIANÇAS E OS TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Os textos a seguir pertencem ao gênero de divulgação científica, cujas fontes são as revistas Ciência Hoje e Ciência Hoje das Crianças. Leia-os com atenção e descubra que fatos científicos são abordados. Observe as regularidades presentes, atentando para a temática, autoria, interlocutor, fonte (lembre-se de que estes textos são encontrados nas versões impressas e online), título, relação imagem/ texto/ sentido, além dos aspectos composicionais, disposição na página, enfim, descubra o que eles têm em comum! 13 Por que os alimentos mofam? Saiba que aquelas manchas esverdeadas na comida devem-se à ação de fungos. Por João Micheletti Neto Publicado em: 10/10/2008 Atualizado em: 26/10/2009 Comer pão com bolor faz mal à saúde? Torrá-lo neutraliza o possível efeito maléfico? Os fungos e leveduras que formam o bolor que cobre alimentos armazenados de forma inadequada podem não ser inofensivos. Em resposta a nosso leitor, uma nutricionista explica por que seu consumo não é recomendado. Por: Réia Sílvia Lemos Publicado em 08/02/2010 | Atualizado em 17/02/2010 (Ilustração Fernando) Bate a fome e você invade a cozinha à procura de algo para comer. Depois de inspecionar a geladeira de cima a baixo sem encontrar nada que desperte a atenção do seu estômago, você se lembra daquele delicioso pãozinho bem guardado no forno. Abre o pacote com a boca cheia d’água e – argh! – o que é essa coisa verde?! Pão bolorento (foto: Henry Mühlpfordt). [Pergunta de Francisco Corrêa, por correio eletrônico] Essas manchas esverdeadas são o que chamamos de bolor ou mofo: seres vivos microscópicos, que fazem parte do grupo dos fungos. Eles são capazes de aproveitar frutas, madeiras, tecidos, pão, couro e outros materiais como alimento, sendo que a variedade de fungos que existe é tão grande que o mofo que se alimenta de pão pode não ser o mesmo que se alimenta do tecido que reveste o sofá. Quando os fungos agem sobre uma fruta, um legume ou um pedaço de pão, eles mudam as características dos alimentos, como o cheiro e a cor, o que, para nós, é um sinal de que eles estão apodrecendo. Comer alimentos nessas condições é um perigo porque os fungos também podem liberar substâncias tóxicas que, se ingeridas, causam sérios problemas ao organismo. Mas sabia que existem alimentos mofados que não estão estragados? Um exemplo é o queijo gorgonzola, feito a partir do leite de vaca e produzido originalmente na cidade italiana de Gorgonzola. Esse é um tipo de queijo que só se considera que está pronto depois que mofou. Para fabricá-lo, deve ser adicionado o fungo Penicillium roqueforti ou o Penicillium glaucum ao leite de vaca. Esses tipos de fungo alimentam-se da gordura do leite, liberam substâncias que não são nocivas ao ser humano e dão o sabor característico do queijo. O gorgonzola, porém, não é o único tipo de queijo fabricado com a ajuda de fungos. O brie e o camembert também podem ser considerados queijos mofados, só que por agentes diferentes, como o Penicillium candidum e o Penicillium camemberti. Os queijos em questão têm sabores muito peculiares e são apreciados no mundo inteiro. Vimos que eles resultam da ação de fungos específicos que não trazem perigo à nossa saúde, mas vale lembrar que a maioria dos fungos produz substâncias tóxicas ao ser humano, até mesmo outros do grupo Penicillium. Além disso, mesmo os queijos mofados próprios para consumo têm prazo de validade e devem ser guardados em condições adequadas, pois apodrecem quando sofrem a ação de outros tipos de fungos ou de bactérias. Por isso, esteja sempre atento à aparência dos alimentos, mesmo dos queijinhos mofados e comestíveis. João Carlos Micheletti Neto Professor de Ciências da Escola Móbile/SP http://chc.cienciahoje.uol.com.br/revista/revista-chc2008/195/por-que-os-alimentos-mofam Acesso em 25/05/2010 Sim e não. Formado por fungos e leveduras, o bolor é o nome vulgar dado somente à textura esbranquiçada, esverdeada ou mesmo enegrecida que se desenvolve na superfície dos alimentos, quando são armazenados de maneira inadequada, ficam expostos ao ambiente ou mesmo sob refrigeração. Essa substância até poderia ser considerada inócua, mas, como em casa, nos restaurantes ou em outros locais de venda ou conservação de alimentos não temos como saber quais as espécies de organismos que se desenvolvem nos alimentos, não se pode considerar esse bolor inofensivo. Além disso, quando um fungo se expõe na superfície do alimento, é porque sua colônia já está bem desenvolvida no interior do mesmo, e é lá que são produzidas as substâncias nocivas, chamadas de micotoxinas – que variam de acordo com a espécie do fungo. Torrar o pão mata o fungo, mas não inativa a toxina produzida por ele Torrar o pão mata o fungo, mas, na maioria das vezes, não inativa a toxina produzida por ele, pois esta é resistente ao calor. O consumidor deve confiar nas mensagens de repulsa de sua visão e de seu olfato: deve recusar alimentos que não atendem aos requisitos de nossos sentidos e de sanidade, evitando ser acometido por doenças assim veiculadas pelos alimentos. Réia Sílvia Lemos Faculdade de Nutrição Universidade Federal do Pará Texto publicado na CH 267 (janeiro-fevereiro/2009) Disponível em http://cienciahoje.uol.com.br/revistach/2010/267/comer-pao-com-bolor-faz-mal-a-saudetorra-lo-neutraliza-o-possivel-efeito-malefico Acesso em 15/02/2010. 14 LEITURA DO GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA NA PERSPECTIVA DIALÓGICA À luz dos pressupostos bakhtinianos, a noção de gênero discursivo reportase ao funcionamento da língua em práticas comunicativas, como eventos reais, concretos, construídos por sujeitos que integram e interagem nas diferentes esferas das relações humanas/ sociais (entendidas como cenários ou formação social na qual se inserem os sujeitos). É no interior dessas esferas, ou seja, das instâncias sociais privadas ou públicas que se elaboram os gêneros discursivos no intuito de atender às necessidades de interlocução dos sujeitos que nelas se inter-relacionam. Em virtude da dinamicidade e diversidade das esferas de atividades e comunicação humana em seus diferentes grupos sociais, os gêneros discursivos são inúmeros e heterogêneos, e cada esfera social de uso da língua organiza seus próprios gêneros discursivos determinando as formas gerais relativamente estáveis quanto aos aspectos temáticos (o conteúdo que se pode dizer conforme a esfera), ao estilo (recursos linguísticos) e ao arranjo composicional. Como assegura Bakhtin (2003), os gêneros do discurso são eventos enunciativos que atendem as necessidades sociais, e “[...] refletem as condições específicas e as finalidades de cada referido campo não só pelo seu conteúdo temático e pelo estilo de linguagem, [...] mas acima de tudo, por sua construção composicional”. (p. 261). Pode-se dizer que o discurso que se materializa sob a forma de texto apresenta características comuns que são reconhecidas a partir das interações em dada esfera social. Considerando a heterogeneidade dos gêneros discursivos, e suas especificidades funcionais, que o autor os distingue em gêneros em primários e secundários, estejam eles apresentados sob a forma oral ou escrita. Os gêneros primários são constituídos em instâncias privadas, em esferas cujas atividades referem-se a situações cotidianas, em caráter privado, por meio de um diálogo, de uma carta pessoal, de anotações, de bilhete, enfim, revelam circunstâncias de comunicação mais espontâneas. Já os gêneros secundários como os romances, os textos jornalísticos acontecem em circunstâncias mais complexas e evoluídas de comunicação, construídas em instâncias públicas, como a artística, a 15 jornalística, a científica, que requerem uma organização mais elaborada dada sua complexidade. Ao considerar os gêneros discursivos como formas relativamente estáveis de manifestação do discurso, evidencia-se, além de sua dinamicidade, o fato de que sua sistematização e ou normatização, construídos ao longo da história pelos sujeitos em suas interações, necessita manter constante atualização. É preciso rever as normas linguísticas, discursivas e temáticas que regem as práticas sociais, garantindo, assim, aos interlocutores estabelecerem as relações dialógicas que advêm ao processo enunciativo. Por sua natureza social, os gêneros discursivos, em sua função comunicativa, definem-se no e por seu processo de produção e recepção dos enunciados, e também por sua via de difusão, considerando: a esfera social (privada ou pública); os interlocutores (autor e destinatário); o lugar e o papel social que os interlocutores assumem no processo interativo (posição que assume na sociedade: pai, professor, cientista..); as vozes do texto que orientam o que pode ou não ser dito; o nível de formalidade; a finalidade/ atitude enunciativa (intenção discursiva) do interlocutor e as expectativas atreladas à atitude responsiva do destinatário em relação ao que foi dito. Enfim, todos esses fatores, inter-relacionados, constituem ao discurso/ enunciado uma configuração peculiar quanto ao seu conteúdo temático, seu estilo e sua construção composicional, caracterizando, assim, o gênero discursivo em suas dimensões social e verbal. Soma-se, nesta teia discursiva, a relação intrínseca que se estabelece entre a intenção (intuito discursivo) do locutor e a atitude responsiva do destinatário, ou seja, se a base do enunciado “é o fato de dirigir-se a alguém, de estar voltado para o destinatário [...] e cada um dos gêneros do discurso, em cada uma das áreas de comunicação verbal, tem sua concepção padrão do destinatário [...]” (BAKHTIN, 1992, p. 320, 321), isto implica em o locutor projetar neste destinatário uma compreensão responsiva, pressupondo uma reaçãoresposta que este possa ter sobre o assunto. Espera-se deste “uma resposta, uma concordância, uma adesão, uma objeção, uma execução.” (op. cit. p. 291) em relação ao enunciado. É sob essa concepção teórico-metodológica fundamentada nas Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa - como documento curricular oficial que orienta 16 a ação pedagógica no trabalho com a língua – que se apresenta uma proposta de leitura, numa perspectiva discursiva e dialógica, tendo no gênero de Divulgação Científica a referência e o objeto de estudo. Sob essa ótica, a leitura é compreendida “[...] como um ato dialógico, interlocutivo que envolve demandas sociais, históricas, políticas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento” (PARANÁ, 2008, p. 56) e o leitor tem um papel ativo nesse processo. Requer um leitor ativo que relacione suas experiências sócio-culturais, seus conhecimentos às informações apresentadas no texto, convergindo numa relação estreita entre autor/ texto/ leitor na busca da produção de sentido. É preciso considerar que o texto vai além dos aspectos formais e deve ser compreendido em seu propósito enunciativo, a partir de suas dimensões social e verbal (linguístico-discursivas). Amparando-se em Bakhtin, Lopes-Rossi (2002) reforça o fato de que o reconhecimento da dimensão social onde se encontra o gênero suscita as características discursivas referentes às condições de produção e circulação reveladas por informações obtidas a partir de questões como: qual é o gênero discursivo? Em que condições esse gênero pode ser produzido? Quem é o autor? Qual é sua intenção? Que lugar social ocupa? Qual o possível interlocutor? Quais as possíveis respostas desse interlocutor? Que informações sustentam o enunciado? A partir dessas informações que se tem a dimensão social do gênero e que orientam as escolhas dos recursos linguísticos e do arranjo composicional que acabam por configurar a dimensão verbal dos gêneros discursivos, na busca da produção de sentido. Professor(a)! A seguir uma proposta de leitura do Gênero Divulgação Científica, sob o enfoque enunciativo, consideradas suas dimensões social e verbal, orientando-se, por meio de perguntas. Retome o texto da Revista Ciência Hoje “COMER PÃO COM BOLOR FAZ MAL À SAÚDE? TORRÁ-LO NEUTRALIZA O POSSÍVEL EFEITO MALÉFICO” e discuta com seus alunos as questões, com vistas à produção de sentido. 17 ESFERA SOCIAL E CONTEÚDO TEMÁTICO DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Em cada esfera social (cenário ou formação social onde o texto se localiza: mídia, literatura, jornalística, familiar...), as atividades humanas produzem seus tipos específicos de enunciados e instituem marcas dessa esfera quanto aos interlocutores envolvidos, aos lugares que ocupam socialmente, às finalidades e ao conteúdo temático (ao que pode ser dito), ou seja, aos conteúdos ideologicamente determinados pela esfera social, refletindo seu campo de comunicação, sendo, portanto, único, concreto e histórico e que se adapta às condições do momento. Assim, serão as leis o conteúdo temático da esfera jurídica; os dogmas na esfera religiosa e, em relação aos Textos de Divulgação Científica, instituídos na esfera científica (com viés da esfera jornalística) têm-se nos fatos científicos e tecnológicos produzidos pela humanidade nas diferentes áreas do conhecimento (ciências) o conteúdo temático determinado, cujo destinatário refere-se a um círculo preciso de leitores. ATIVIDADE: Reconhecer o conteúdo temático do Gênero Divulgação Científica, a partir da esfera social em seu contexto de produção. 1. Considerando o texto “Comer pão com bolor faz mal à saúde? Torrá-lo neutraliza o possível efeito maléfico?” Que situação comunicativa pode gerar a sua produção? 2. Quem é o autor do texto? 3. É possível reconhecer a posição que o autor ocupa na sociedade? Que elementos do texto possibilitam a descoberta? 4. A que público esse texto se destina? Em que lugar social encontra-se o possível leitor? 5. Sendo um texto de divulgação científica, onde pode circular? 6. Em que esfera social o texto de divulgação científica é produzido? 7. Qual é o conteúdo temático dos textos de divulgação científica? 8. Que reação-resposta espera-se do destinatário a partir desse texto? 9. Qual a data de publicação do texto? 10. Onde o texto foi publicado? Que informações se têm sobre seu suporte? 18 Questões dessa natureza pressupõem o reconhecimento da dimensão social constitutiva do Gênero Divulgação Científica a partir da exploração das condições de produção, finalidade, autor, público-alvo, conteúdo temático, esfera social, enfim, busca-se compreender sua situação enunciativa. No exemplo, considerando o perfil da Revista Ciência Hoje de onde o texto foi extraído, o conteúdo temático volta-se aos fatos científicos direcionados a adultos não especializados, cuja circulação é observada em bibliotecas escolares, em ambientes domésticos, via assinatura ou de forma on-line. A autoria dos textos, muito mais do que a identificação do escritor, revela a função social; o lugar que o autor ocupa no processo enunciativo: função de cientistas... fato este que lhe institui uma certa relação de poder, garantida pela “voz de autoridade” ao divulgar o assunto. No texto em questão, a autoria é de uma nutricionista da Universidade Federal do Pará. Outro fator importante a destacar é a circulação do texto e seu suporte implicados em sua significação. O texto é veiculado na Revista Ciência Hoje, uma publicação do Instituto Ciência Hoje, organização social de interesse público sem fins lucrativos vinculada à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC. Essa Instituição é responsável pela divulgação científica da sociedade, por meio de outras publicações, incluindo Ciência Hoje (desde 1982), Ciência Hoje das Crianças (desde 1996) e uma Série de Livros na Escola (1996), tendo ainda um site de divulgação científica em ação “A Ciência Hoje on-line” disponível no endereço www.ciencia.org.br. CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL DO GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Mesmo sendo flexíveis, os gêneros apresentam certa estabilidade quanto à construção composicional a qual se refere à forma de organização compartilhada pelos textos do mesmo gênero, tanto pela sua estrutura textual, como discursiva e semiótica e que são reconhecidas pelos partícipes de uma dada esfera social. Trata-se da estruturação, do conjunto particular de sequências textuais que compõem o gênero. 19 Por ser um gênero híbrido (científico e jornalístico), o texto de divulgação científica incorpora características de ambos: são textos, geralmente curtos, assumem, muitas vezes, a forma de reportagem, apresentam um título que chame a atenção do leitor, tem no primeiro parágrafo a constatação inicial instigando o leitor a prosseguir, por isso, as informações mais específicas seguem nos parágrafos seguintes, trazendo as explicações para os fatos apresentados, seguida de uma conclusão/ avaliação. Os parágrafos são curtos, sugerindo a ideia de dar uma pausa ao leitor para reflexão. Também é característico do arranjo composicional dos textos de divulgação científica, a presença de informações complementares, que muitas vezes, podem ser visualizadas por meio de elementos não-verbais como imagens, gráficos, fotos, desenhos que objetivam contribuir na compreensão. ATIVIDADES: Reconhecer o arranjo composicional do Gênero Divulgação Científica e perceber a relação entre texto/ imagem/ esfera social e sua contribuição para a produção de sentido na leitura. 1. Identifique a idéia central de cada parágrafo e sugira um título: PARÁGRAFO TÍTULO SÍNTESE/ IDEIA CENTRAL Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto 2. Faça uma leitura comparativa a partir de dois ou mais textos de divulgação científica e apresente as regularidades quanto ao arranjo composicional: 3. Observe o Texto de Divulgação Científica da nutricionista Réia Lemos e teça comentários a partir das questões: 20 a. A imagem está relacionada ao conteúdo veiculado no texto? Contribui para a produção de sentido? b. A imagem refere-se a alguma passagem do texto? Aponte, em caso afirmativo: c. Que reação o autor espera do leitor a partir da foto publicada? d. Se você visse essa mesma foto fixada na parede de uma panificadora, teria o mesmo sentido? Que impressão causaria? e. Imagine essa foto anexada a um relatório emitido por um vigilante sanitário a ser entregue ao dono de uma panificadora. v Que efeito de sentido essa foto teria? Comente: v Que papel social exerce o vigilante sanitário? v Qual a finalidade do relatório? v Agora você é o vigilante sanitário e deverá apresentar ao dono da panificadora o relatório de verificação. Elabore um parágrafo desse relatório considerando a mesma foto como anexo: v Considerando as diferentes situações de uso, você diria que uma mesma foto tem igual sentido? Comente As questões acima propostas visam à reflexão quanto à organização composicional determinada pela situação enunciativa do texto de divulgação científica, bem como destacar a contribuição do uso da imagem para a produção de sentido dos textos. É importante a percepção de que a mudança de significado no uso de uma mesma imagem está atrelada à esfera social em que se vincula e seu lugar de circulação. No texto de DC, em estudo, a imagem pode reforçar a ideia do mal que o bolor traz à saúde. Na sugestão de seu uso em um relatório emitido por um representante de um órgão de inspeção sanitária apresentado ao dono da panificadora, a mesma imagem denotaria uma notificação por falta de higiene num local público. Embora com igual teor negativo, imprimiria uma sensação de repugnância não só ao objeto - pão bolorado, mas à empresa que perderia sua credibilidade diante da sociedade. 21 ESTILO DO GÊNERO DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA Quando se fala sobre o estilo que compõe um gênero discursivo, não se trata da individualidade do locutor, mas a partir das orientações de Hila (2009), Goldstein (s/d), o estilo refere-se às unidades linguístico-discursivas mais comuns no gênero, como recursos lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua. No Texto de Divulgação Científica, há uma série de recursos estilísticos que garantem sua constituição e produção de sentido. Seguem algumas recorrências estilísticas que podem ser encontradas nos Textos de Divulgação Científica: • Definição/ explicação: como, muitas vezes, não há como fugir das terminologias científicas, torna-se necessário explicá-las, defini-las por meio de uma linguagem simples. As comparações/ analogias são bem comuns. • Comparações e Analogias: visam aproximar o conteúdo científico dos fenômenos do cotidiano do leitor. • Voz de Autoridade: o texto de divulgação científica tem na voz do cientista, jornalista ou pesquisador a autoridade necessária para sustentar a argumentação. • Vocabulário Técnico/ Objetividade: uso de termos específicos, quando da impossibilidade de substituí-los e a objetividade denotam veracidade ao texto que reforça a argumentação do discurso. • Interpelação Direta com o Leitor: uso de palavras ou expressões que visam à interação com o leitor, numa atitude de aproximação. • Presença do Locutor: o autor manifesta sua presença no texto a partir de expressões linguísticas (uso da primeira pessoa, por exemplo). ATIVIDADES: Reconhecer as marcas linguístico-discursivas presentes no Gênero Divulgação Científica e sua contribuição na produção de sentido. 22 Considerando o texto em estudo, responda as questões: 1. No texto há uma voz que explica o fato científico. Que sentido traz a presença dessa voz no texto? Encontrem no texto recursos linguísticos que confirmam sua presença: 2. A quem o texto se dirige? Que elementos do texto comprovam? 3. É comum o autor dirigir-se ao leitor buscando maior interação. No texto, este recurso foi usado? Há indícios no texto? 4. Encontrem no texto pistas que revelam o motivo gerador da produção desse artigo de divulgação científica: 5. A partir dos elementos que organizam o gênero divulgação científica, encontre passagens que comprovam a presença de: Definição: ____________________________________________________ Emprego de termos científicos: ___________________________________ 6. No título, aparece a palavra “possível”. Reflita sobre a importância dessa palavra para a produção de sentido do texto: 7. No texto, observe que os verbos aparecem no tempo presente. Que efeito de sentido isso provoca? 8. Na questão: Torrar o pão mata o fungo, mas não inativa a toxina produzida por ele, a palavra MAS, estabelece uma relação entre as idéias. Que efeito essa palavra sugere na produção de sentido? 9. Observa a frase: “Essa substância até poderia ser inócua (...)” a. A que palavra se refere a expressão grifada? ___________________ b. Qual o sentido da palavra inócua? _____________________________ c. Em que situação, o bolor seria inócuo? _________________________ 10. Com base nas informações do texto: a. Qual a origem do bolor no pão? b. Que justificativas foram dadas ao leitor sobre o efeito do bolor à saúde? c. As informações apresentadas atenderam ou não às expectativas do leitor? d. Como se responderia as questões propostas no título: 11. Considerando o arranjo textual e os recursos linguísticos selecionados pelo autor, pode-se dizer que (...) é um bom texto? Por quê 23 As questões elencadas vêm reafirmar os pressupostos de Bakhtin, quando assegura que é a partir da situação enunciativa numa dada esfera social, somada à intenção discursiva do locutor que serão selecionados os elementos estilísticos ou linguístico-discursivos do texto no intuito de provocar uma reaçãoresposta no destinatário e obter a produção de sentido desejada. No intuito de se reconhecer os recursos estilísticos presentes no Gênero Divulgação Científica, retomam-se algumas questões já abordadas em sua dimensão social. Pode-se destacar dentre os recursos estilísticos: o uso do termo “nutricionista” que revela a voz da Réia como profissional/ autoridade para abordar o assunto denotando, assim, veracidade às informações; a identificação da Instituição de Ensino Superior corrobora essa informação; outra característica linguístico-discursiva presentes no texto de divulgação científica: a interação marcada por meio das perguntas, pela resposta “sim e não” e pelo uso da palavra “nosso leitor”; o uso de definições: “bolor.”; “micotoxinas” entre outras de igual importância para a organização e produção de sentido do texto deste gênero. AMPLIANDO A ATITUDE RESPONSIVA DO LEITOR Como um ato dialógico, interlocutivo, a leitura de diferentes textos, requer a presença de um leitor ativo como co-produtor de sentido que se utiliza dos conhecimentos de mundo adquiridos e agrega-os às informações do texto e busca a sua compreensão. Neste movimento, o leitor é instigado a posicionar-se frente ao que lê, exigindo uma compreensão responsiva o que o leva a apresentar sua réplica, a contra palavra (Bakhtin, 2003) ora convergindo, ora opondo-se à palavra do outro, favorecendo a um posicionamento crítico diante da realidade social. Sob esse enfoque, que a partir da leitura dos TDC, espera-se um leitor mais dinâmico que perceba as intenções presentes e que o instigue a uma atitude mais crítica, para que esta prática sirva-lhe como um instrumento que o leve a obter conhecimento de mundo e a posicionar-se diante dele. 24 Seguem algumas sugestões de atividades no intuito de ampliar a atitude responsiva dos alunos a partir dos Textos de Divulgação Científica: 1. Pesquisa: Utilizando a biblioteca e o laboratório de informática de sua escola, a partir de revistas de divulgação científica ou sites específicos, pesquise outros textos de divulgação científica que enfoquem sobre a ação dos fungos em alimentos. Importante: Arquivar os textos para organizar o mural. Você já ouviu falar que há fungos que prejudicam a saúde das pessoas se ingeridos em alimentos; outros, porém, podem ser benéficos: Depois da coleta de informações, organize um debate com os colegas da turma colocando em discussão as questões: • Existem vilões entre a família dos fungos? Como agem? Quais os prejuízos à saúde? • Como os fungos podem agir de forma benéfica ao ser humano? ALGUMAS DICAS: 1. Explore o site da Revista Ciência Hoje das Crianças apresentando também outros recursos disponíveis: rádio, vídeos.... incentivando a leitura constante. 2. Acesse o link abaixo e conheça um pouco mais sobre a ação dos fungos: http://www.youtube.com/watch?v=YC3O-yvnFac 3. O link abaixo apresenta os personagens da Revista Ciência Hoje das Crianças - CHC, Rex e Diná falando da importância de uma alimentação saudável e o papel da nutricionista: http://www.youtube.com/watch?v=VCQdLR1BNR4&feature=related 25 2. Propagação de Informações: Elabore, periodicamente, pequenas propagandas (cartazes) instigando a leitura de artigos da Revista Ciência Hoje das Crianças aos alunos da escola. Coloque-as em pontos estratégicos: corredores, biblioteca, cantina e convide os leitores a conhecer os assuntos. VOCÊ SABE O QUE É UM ETNOBIÓLOGO? A Revista CHC/ 199 (março/2009) tem a resposta para você! Vá até a biblioteca da escola ou acesse o site http://cienciahoje.uol.com.br selecionando a CHC indicada e fique sabendo!. Boa Leitura! 3. Produção de Texto de Divulgação Científica: Escolham um tema científico, pesquisem sobre o assunto e, a partir das características trabalhadas, produzam um texto de divulgação científica a veicular na escola para os alunos de 5ª série. Deixem claras as condições de produção: o que, para que, para quem, qual suporte, local de circulação..do texto a ser produzido). 4. Organização de Jornal Mural: Reúna os textos de divulgação científica coletados durante a pesquisa e os que forem produzidos e organize um Jornal Mural a ser afixado no rol de entrada da escola, a fim de cumprir o seu real propósito: “divulgar ao público escolar os fatos das ciências”: 26 SUGESTÕES DE LEITURAS: Para saber mais sobre as características do TDC, consulte MASSARINI, Luísa. [ET al] / editores David Dickson, Barbara Keating. Guia de Divulgação Científica. Rio de Janeiro, SciDev.Net: Brasília, DF: Secretaria de Ciência e Tecnologia para a Inclusão Social, 2004. Disponível em http://www.fiocruz.br/museudavidanovo/media/Guia_Divulgacao_Cientifica. pdf Acesso em 06/11/2009. LOPES-ROSSI, Maria A. G. Gêneros Discursivos no Ensino de Leitura e Produção de Textos/ org. Maria Aparecida Garcia Lopes-Rossi. Taubaté-SP: Cabral Editora e Livraria Universitária, 2002. O livro apresenta vários artigos, frutos de relatos de projetos pedagógicos a partir dos gêneros discursivos que envolvem a leitura e escrita, desenvolvidos em língua materna e estrangeira. 27 CONSIDERAÇÕES A partir das reflexões apresentadas nesta Unidade Didática, constata-se a relevância de que os Professores de Língua Portuguesa precisam buscar cada vez mais aprofundamento sobre os pressupostos bakhtinianos da Teoria Enunciativa que orienta a prática pedagógica no trabalho com a língua. Pensar a prática docente sob essa perspectiva implica em considerar os gêneros discursivos e sua funcionalidade no dia a dia, como um evento comunicativo real construído por sujeitos que integram as diferentes esferas das relações sociais. Diante disso, na sala de aula, a prática da leitura dialógica, a partir dos gêneros discursivos, precisa ser trabalhada sob o enfoque de suas dimensões social e linguístico-discursiva, de forma indissociada, que se configuram nos enunciados as condições específicas por seu conteúdo temático, recursos estilísticos e arranjo composicional com vista à produção de sentido. Espera-se que a proposta apresentada neste material didático, fundada no princípio dialógico da linguagem, a partir de um gênero discursivo – o texto de divulgação científica - contribua na construção de possíveis caminhos metodológicos para que prática de leitura seja uma atividade mais dinâmica e interlocutiva e que possa suscitar uma atitude responsiva ativa do leitor, capaz de levá-lo a posicionar-se frente ao que lê, desenvolver a criticidade, fato este que interfere, diretamente, na forma de pensar e agir, enfim, em sua formação enquanto sujeito com vistas à participação na transformação social. 28 REFERÊNCIAS BAKHTIN, Michael. VOLOCHINOV, M. Marxismo e a Filosofia da Linguagem. Tradução: Michel Lahud e Yara Frastechi. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999. BAKHTIN, M. Os Gêneros do Discurso. In: Estética da Criação Verbal. Tradução: Paulo Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 1992, p. 277-327. ______. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 261-269. COSTA, Cibele Lopresti. 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