Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração REVISTA ANGRAD Volume 8 Número 1 Rio de Janeiro Jan/Fev/Mar 2007 arte_angrad.pmd 1 11/3/2007, 19:35 A Revista ANGRAD é um periódico trimestral da ANGRAD (Associação Nacional dos cursos de Graduação em Administração), que tem como missão difundir o estado da arte do ensino e pesquisa em administração. Revista ANGRAD/Associação Nacional dos cursos de Graduação em Administração. – v.8, n.1, (Jan./Fev./Mar. 2007) - Rio de Janeiro: ANGRAD, 2007 – trimestral 1. Administração - Periódico ISSN – 1515 -5532 Projeto Gráfico e Editoração: Milla Santana Revisão Editorial: Milla Santana Tiragem: Impressão: Gráfica Dominaret Data de Impressão: As opiniões emitidas nos textos publicados são de total responsabilidade dos seus respectivos autores. Todos os direitos de reprodução, tradução e adaptação estão reservados. A Revista ANGRAD, completa um volume a cada ano e é distribuída gratuitamente aos seus associados. As Associações podem ser feitas através do Portal www.angrad.org.br e os números anteriores estarão disponíveis, enquanto durarem os estoques. arte_angrad.pmd 2 11/3/2007, 19:35 Conselho Editorial da Revista ANGRAD Prof. Antonio de Araujo Freitas Junior EBAPE - Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas Fundação Getúlio Vargas Profa. Eda Castro Lucas de Souza UNB – Universidade Nacional de Brasília Prof. Geraldo Ronchetti Caravantes UNISINOS – Universidade do Vale do Rio dos Sinos Prof. João Becker UFRGS – Universidade Federal do Rio Grande do Sul Profa. Manolita Correia de Lima ESPM – Escola Superior de Publicidade e Marketing Profa. Maria da Graça Pitiá Barreto (Editora) UFBA - Universidade Federal da Bahia Profa. Maria Tereza Fleury USP – Universidade de São Paulo Prof. Mário César Barreto Moraes Universidade do Estado de Santa Catarina Prof. Omar Acktuff HEC - École des Hautes Études Commerciales de la Universidad de Montreal - Canadá Prof. Pedro Lincoln UFPE – Universidade Federal de Pernambuco Prof. Roberto Costa Fachin PUC Minas – Pontifícia Universidade Católica Prof. Roberto Moreno Pontifica Universidade Católica – PUC Rio Profa. Silvia Roesch London School of Economics - Inglaterra Profa. Silvia Vergara FGV – Fundação Getúlio Vargas Profa. Sônia Dahab UNL - Universidade Nova de Lisboa - Portugal Profa.Tânia Fisher UFBA – Universidade federal da Bahia Prof. Walter Fernando Araújo de Moraes Faculdade Boa Viagem – Recife/PE arte_angrad.pmd 3 11/3/2007, 19:35 Diretoria da ANGRAD 2005-2007 Conselho Diretor Presidente Nacional: Prof. Antonio de Araujo Freitas Junior Vice-Presidente Nacional: Profa. Míria Miranda de Freitas Oleto Vice-Presidente de Administração e Finanças: Prof. Agamêmnom Rocha Souza Vice-Presidente de Ensino: Prof. Mário Cesar Barreto Moraes Vice-Presidente Científico: Profa. Maria da Graça Pitiá Barreto Vice-Presidente de Relações Institucionais: Prof. Joaquim Celso Freire Silva Vice-Presidente de Marketing: Prof. Hamil Adum Filho Conselho Fiscal Prof. Francisco José Batista Prof. Geraldo Gonçalves Júnior Profa. Nádia Kassouf Pizzinatto Prof. Geraldo R. Caravantes Conselho Consultivo Prof. Alexander Berndt Prof. Manuel Santos B. Alvarez Prof. Rui Otávio B. de Andrade Prof. Mauro Kreuz Equipe ANGRAD Luiz Carlos da Silva Gleverson Bruno G. Soares Carlos Augusto Cruz arte_angrad.pmd 4 11/3/2007, 19:35 Editorial O aperfeiçoamento contínuo tem sido muito discutido e incentivado nos dias de hoje. E isso é o que temos tentado fazer com a Revista ANGRAD. Estamos nos empenhando em atualizá-la em seu padrão técnico e científico para que nossa Revista possa se firmar cada vez mais como o ponto de encontro da graduação e da pós-graduação na discussão do ensino e pesquisa em Administração. Queremos registrar nossos sinceros agradecimentos ao Prof. Piotr pela sua generosidade em colaborar com o aprimoramento contínuo da Revista ANGRAD. Todos os integrantes da comunidade científica reconhecem a competência do professor. Ele tem se disposto a nos ajudar e, efetivamente, vem contribuindo nessa tarefa de alavancar tecnicamente a nossa Revista. Portanto, nossos leitores vão perceber algumas alterações neste exemplar e solicitamos a todos que nos enviem sugestões e críticas para que possamos continuar nosso objetivo de aperfeiçoar continuamente a Revista ANGRAD. Neste exemplar, encontramos a contribuição de dois professores de Portugal que, em parceria com um professor da Polônia, expõem o resultado de uma pesquisa realizada nesses paises a respeito da contabilização dos intangíveis. Importante registrar as considerações da Profa. Manolita Correia Lima, integrante de nosso comitê editorial, a respeito da influência que o Ministério da Educação (Conselho Nacional de Educação) e o Ministério do Trabalho (Conselhos Profissionais) exercem sobre a educação superior. Há outras reflexões muito ricas neste número. Conhecendo o preconceito que os estudantes da área de ciências sociais aplicadas têm das disciplinas quantitativas, quatro professores pesquisaram as atitudes dos alunos em relação à Estatística. Discussões a respeito do Estágio Supervisionado e da contribuição da Empresa Júnior, também, são objeto de análise em dois artigos componentes deste número. Um outro artigo apresenta o resultado de uma pesquisa que investiga o perfil intraempreendedor dos gestores de todos os cursos de Administração do Paraná e de Santa Catarina. Agradecemos a todos as contribuições enviadas e ratificamos o convite aos demais professores e pesquisadores da graduação e da pós-graduação de todas as IES nacionais e/ou estrangeiras para que nos enviem suas contribuições sobre o ensino e a pesquisa em administração. Profa. Maria da Graça Pitiá Barreto Editora - Chefe arte_angrad.pmd 5 11/3/2007, 19:35 arte_angrad.pmd 6 11/3/2007, 19:35 Sumário 09 Atitudes Atitudes dos Alunos dosdoAlunos Cursodo deCurso Administração de Administração em Relação àem Estatística Relação à Estatística Administration Students Administration Attitudes Students with regard Attitudes the with Statistic regard studies the Statistic studies Daielly Melina Daielly Nassif Mantovani Melina Nassif Mantovani Maria Flávia Barbosa Maria Leite Flávia Barbosa Leite Guilherme de Farias Guilherme Shiraishi de Farias Shiraishi Adriana Backx Noronha Adriana Backx Viana NoronhaViana 33 Contribuição Contribuição da Empresa da Empresa Júnior deJúnior Administração de Administração no Brasil no Brasil Contribution of the Contribution Administration of the Junior Administration EnterpriseJunior in Brazil Enterprise in Brazil Mariana Carvalho Mariana LopesCarvalho Lopes Paulo da Costa Paulo Lopesda Costa Lopes Zuleica AmaralZuleica Alves deAmaral Lima Alves de Lima José Carlos Dalmas José Carlos Dalmas 53 De Professor De Professor a Gestor:a uma Gestor: Análise umado Análise Perfil do dosPerfil dos Gestores dosGestores Cursos de dosAdministração Cursos de Administração das Instituições das Instituições de Ensino Superior de Ensino da Região Superior Oeste da Região do Paraná Oeste do Paraná From Teacher toFrom Manageman: Teacher to anManageman: analysis of the anprofile analysis of the of the Administration profile of theCourses Administration Managemen of the upper Education Courses Institutions Managemen fromofParaná the upper WestEducation Institutions from Paraná West Silvana Anita Walter Silvana Anita Walter DanielaTorres da Daniela RochaTorres da Rocha Maria José Carvalho Mariade José Souza Carvalho Domingues de Souza Domingues GérsonTontini GérsonTontini 73 Estágio Supervisionado Estágio Supervisionado no Contexto no Contexto das das Instituições de Instituições Ensino Superior: de Ensino Aportes Superior: Reflexivos Aportes Reflexivos acerca da suaacerca inserção da sua nosinserção Cursos de nosAdministração Cursos de Administração Supervising Pratical Supervising TrainingPratical in the upper Training Education in the upper Institutions Education Context: Institutions Considerations Context:about its insertion in the Administration Considerations Courses about its insertion in the Administration Courses Antonia Carlinda Antonia CunhaCarlinda de Oliveira Cunha de Oliveira arte_angrad.pmd 7 11/3/2007, 19:35 93 Intangibles Intangibles Accounting: Accounting: a Comparative a Comparative Study Between Study Portugal Between andPortugal Poland and Poland Contabilidade deContabilidade Intangíveis: um de estudo Intangíveis: comparativo um estudo entre comparativo Portugal eentre a Polônia Portugal e a Polônia Leonor FerreiraLeonor Ferreira Manuela Sarmento Manuela Sarmento Justina Fijalkowska Justina Fijalkowska 109 O Sentido O Sentido da Educação da Educação no Contexto no Contexto da Sociedade da Sociedade Pós-Moderna Pós-Moderna The meaning of The the Education meaning ofinthe theEducation Pos-Modern in the Society Pos-Modern Context Society Context Manolita Correia Manolita Lima Correia Lima arte_angrad.pmd 8 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística Administration Students Attitudes with regard the Statistic studies Daielly Melina Nassif Mantovani [email protected] Maria Flávia Barbosa Leite Guilherme de Farias Shiraishi Adriana Backx Noronha Viana Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo CEP: 14040-900 Ribeirão Preto - SP - Brasil Resumo Alunos de cursos que não pertençam à área de exatas costumam apresentar preconceitos em relação à disciplina Estatística. Paralelamente, os conhecimentos estatísticos assumem importância crescente na carreira dos administradores, como uma ferramenta de auxílio à tomada de decisões. Torna-se, então, relevante conhecer as atitudes dos alunos em relação à Estatística. O perfil de atitudes foi obtido por meio da tradução, adaptação e aplicação da escala SATS (Survey of Attitudes Toward Statistics) a 261 alunos de cursos de Administração (dois cursos de graduação e um curso de Mestrado) de duas faculdades da região de Ribeirão Preto. Obtiveram-se, como resultado, quatro dimensões atitudinais baseadas na escala original. Os testes estatísticos Mann-Whitney e Kruskal-Wallis foram aplicados para verificação de diferença entre a atitude do sexo masculino e feminino e entre os três cursos. Observou-se que, em geral, os alunos possuem sentimentos positivos em relação à Estatística, julgam-na uma disciplina relevante, com grande aplicabilidade e acreditam que são capazes de aprender os conceitos e ferramentas. Observa-se, entretanto, atitude desfavorável quanto à complexidade da Estatística. Palavras-chave: Dimensões atitudinais, aprendizado de Estatística Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 9 9 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana Abstract Students who don’t belong to mathematics areas usually bear in mind preconceptions about Statistics even before initiate their learning. At the same time, the statistics knowledge represents a thing of vital concernment in management career as an instrument to decision making. The student’s profile was obtained by the Survey of Attitudes Toward Statistics, translated, suited and applied to 261 students from two Management courses and one Management post graduated course from 2 colleges.The research indicates four dimensions of attitude based on an original scale. Mann-Whitney and Kruskal-Wallis were the statistical methods applied to verify the differences between male and female and among the three courses. In general, the students present positive behavior in connection to Statistics.They believe Statistics is a relevant subject with a great potential to applicability. They also believe they are able to learn the concepts and tools. However, there is an unfavorable behavior about the complexity of Statistics. Key-words: Dimensions of attitude, Statistics learning 1. Introdução Os cursos de graduação, em sua maioria, possuem disciplinas de Estatística na grade curricular. Os conteúdos ministrados nestas disciplinas, apesar de parecerem muito teóricos, costumam ser base para a aprendizagem de outras disciplinas mais específicas do curso. No entanto, dificuldades eminentes de aprendizado existem no ensino da Estatística, especialmente para alunos que não são da área de exatas, como é o caso dos alunos de Administração. Estas dificuldades se referem à percepção de complexidade que os alunos associam à Estatística. Como indica a literatura, alunos de cursos de ciências sociais aplicadas mostram-se resistentes à disciplina por julgarem-na muito complicada pelo volume de cálculos e fórmulas envolvidos e por não conseguirem fazer uma ligação entre os conhecimentos estatísticos e sua aplicação em questões práticas, o que torna a utilidade destes conhecimentos nebulosa aos aprendizes (NOLAN; SPEED 1999). A resistência pode ocorrer devido à abordagem pedagógica dada à Estatística pelos sistemas educacionais. No passado, com a ausência de tecnologias computacionais capazes de aplicar ferramentas estatísticas, os alunos eram obrigados a realizar cálculos, por vezes complexos, manualmente (KENNEDY, 1998). Adicionalmente, os professores que ministram disciplinas de Estatística costumam possuir formação matemática e acabam ministrando disciplinas em cursos não apenas de base matemática, o que é o caso da Administração. Dessa forma, pode ser difícil ao professor relacionar os conceitos de Estatística com os outros campos do saber estudados por 10 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 10 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística seus alunos. Isto torna o trabalho de ensinar Estatística mais dificultoso ao professor que ensina e ao aluno que aprende (GELMAN, 2005). Este cenário histórico fez com que a Estatística fosse considerada uma disciplina “castigo” dos cursos superiores. Os alunos podem iniciar seu estudo trazendo muitos estereótipos e preconceitos, o que costuma prejudicar a aprendizagem. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é estudar e explorar a atitude dos alunos do curso de Administração em relação à Estatística, por meio de uma escala psicométrica para mensuração de atitudes denominada SATS (Survey of Attitudes Toward Statistics) (SCHAU, 1999), considerando-se que, no âmbito educacional, as atitudes positivas podem determinar interesse pelo estudo das disciplinas e atitudes negativas podem revelar dificuldades de aprendizagem. Assim, as instituições de ensino podem trabalhar os programas desta disciplina de forma a torná-la mais estimulante. 2. Fundamentação Teórica 2.1. Atitudes A definição do conceito “atitudes” é muito divergente entre os estudiosos do assunto. A palavra deriva do latim “aptus”, tendo assumido significado inicial de “aptidão” ou “adaptação”, com o sentido de capacidade física. Com o passar do tempo, o termo passou a ser empregado também com o sentido de “preparação mental” (GONÇALVES, 2002). Devido à amplitude do termo, existe uma larga gama de definições na literatura. Menezes (1986 apud GONÇALVES, 2002) cita algumas definições: postura mental; disposição mental específica em relação a uma experiência que está para se realizar; complexo de sentimentos, receios, desejos convicções e pretensões; disposição mental do indivíduo humano para agir contra ou a favor de algum objeto definido; meio emocional de se considerar objetos; gostos ou antipatias, afinidades e aversões; orientação de aproximação ou afastamento em relação a um objeto. Mostra-se mais adequada ao propósito deste estudo, a definição de atitude como sendo a predisposição à ação contra ou a favor de um objeto (BRESSAN, 1995). As atitudes se fundamentam em quatro atividades humanas: pensar, sentir, comportar-se e interagir com outros, isto é, possui componentes cognitivos, emocionais, comportamentais e sociais (BEM, 1973). Para Bressan (1995), entende-se por afeto os valores e sentimentos do indivíduo em relação ao objeto; cognição é o conhecimento, as opiniões, as crenças e os pensamentos associados ao objeto; comportamento envolve as intenções, interações e ações sobre o objeto. O modelo a seguir expõe a estrutura conceitual da atitude (figura 1). Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 11 11 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana Figura1: Representação esquemática da estrutura conceitual da atitude. Fonte: BRESSAN (1995). Para Bressan (1995), a atitude em relação ao objeto é a somatória das crenças (componente cognitivo) sobre o objeto, adquiridas através de aprendizagem; e valores (componente afetivo) atribuídos às crenças e associados aos atributos do objeto. Desta forma, entendendo-se a atitude como uma disposição para a ação, é possível concebê-la apenas como um fenômeno afetivo/cognitivo. Esta organização de crenças e cognições dotada de carga afetiva leva ao comportamento e ação diante de determinado objeto, ou seja, a atitude do sujeito em relação ao objeto permite predizer os comportamentos e ações que ele terá em situações que envolvem o referido objeto (TRONCON e outros, 2003). No âmbito educacional, as atitudes dos alunos em relação aos “objetos” são relevantes, considerando-se a relação existente entre atitudes e aprendizagem (TRONCON e outros, 2003). A motivação é maior quando os estudantes se deparam com conceitos aos quais são favoráveis. Por outro lado, atitudes negativas em relação aos conceitos podem acarretar em dificuldades de aprendizagem. 2.2. Atitudes em Estatística A importância das aplicações da estatística tem crescido nos últimos anos e com isto surge a necessidade de compreender as dificuldades no ensino desta disciplina. De acordo com Gal e Ginsburg (1994), a estatística é considerada um obstáculo que se opõe ao alcance de objetivos dos universitários. Os estudantes, em geral, recordam-se da tensão pela qual passaram durante o curso de estatística, mas os conteúdos ensinados são esquecidos pela maioria. Muitas destas dificuldades podem ser explicadas pela atitude dos universitários em relação à Estatística. A atitude desfavorável, que a maioria dos estudantes apresenta, acaba acarretando em preconceitos contra a disciplina, mesmo antes do início de seu estudo. 12 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 12 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística É relevante conhecer a atitude dos alunos dos cursos de Administração em relação à Estatística, por três razões: 1) influência dos aspectos atitudinais no ensino-aprendizagem; 2) influência no comportamento estatístico dos alunos fora das aulas; 3) influência na decisão dos alunos em participar de outros cursos de Estatística mais tarde (GAL; GINSBURG; SCHAU, 1997). Assim, as instituições de ensino e professores passam a conhecer os sentimentos dos alunos e, então, podem trabalhar melhor seus currículos e metodologias de aula, reformulando o sistema de ensino para esta disciplina. Como afirma Pedrão, Avanci e Malaguti (2002), as atitudes são passíveis de mudança. Portanto, tendo conhecimento sobre a atitude dos estudantes é possível agir, transformando a atitude desfavorável em favorável. Desta forma, o comportamento de resistência em relação à Estatística, determinado pela atitude negativa, pode ser reduzido e até transformado em uma experiência agradável ao aluno. 3. Método 3.1. Abordagem da pesquisa Com base na classificação de Gil (2002), o presente estudo, em relação ao seu objetivo geral, é classificado como uma pesquisa descritiva. As pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis. São inúmeros os estudos que podem ser classificados sob esse título e uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática (GIL, 2002, p. 42-43). A presente pesquisa possui como objetivo analisar a atitude dos alunos do curso de Administração perante a Estatística, por meio de uma coleta estruturada e análise estatística dos dados. Adicionalmente, pretende-se verificar se existe diferença de atitude entre o sexo masculino e feminino e entre os cursos de graduação e pós-graduação analisados. 3.2. Metodologia de análise dos dados A escala Likert, utilizada neste estudo, é classificada como uma escala qualitativa, do tipo ordinal, isto é “mede atributos que se distinguem em grau ou intensidade, de forma que, além de relações de igualdade/desigualdade, podem-se reconhecer relações de ordem” (PEREIRA, 2001) e cujo ponto médio exprime uma situação intermediária de indiferença ou nulidade. Segundo Pereira (2001), esta escala não possui um zero absoluto, ou seja, o código zero não possui função de nulidade, mas de posição entre códigos positivos e negativos. Desta maneira, não é possível a realização de operações aritméticas Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 13 13 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana utilizando-se esta escala, apenas a aplicação da mediana (destaca a categoria que divide as observações ao meio) e da moda (destaca a categoria de maior freqüência). É possível reconhecer uma hierarquia entre os atributos e definir a orientação da escala (PEREIRA, 2001). Por exemplo, numa escala do tipo 1, 2, 3, 4, 5 (como a utilizada neste trabalho), tem-se que 1 < 2 < 3 < 4 < 5. A escala em estudo possui cinco pontos, sendo o ponto de indiferença denotado pelo código 3 (“não concordo nem discordo”). Utilizou-se três testes estatísticos para análise dos dados: correlação de Spearman; teste Mann-Whitney e teste Kruskal-Wallis. - Correlação de Spearman A correlação de Spearman é uma ferramenta não-paramétrica utilizada para avaliar o grau de relacionamento entre observações, determinando até que ponto dois conjuntos de postos concordam (STEVENSON, 1981). A concordância pode ser medida por meio do somatório dos quadrados das diferenças entre dois conjuntos de postos. Desta maneira, uma soma pequena indica concordância, da mesma forma que uma soma grande indica discordância (STEVENSON, 1981). O coeficiente “r”de Spearman ( rsp ) pode ser obtido por meio da equação 1. onde “n” é o número de casos ou observações e ∑d 2 é a soma dos quadrados das diferenças entre os postos. O coeficiente pode variar entre [-1; 1] , sendo que valores próximos de 1 indicam que os conjuntos de postos são semelhantes; valores próximos de -1 indicam que os conjuntos de postos são diferentes; valores próximos de zero sugerem uma ausência relacionamento entre os conjuntos (STEVENSON, 1981). Ao se trabalhar com amostras, é possível que se encontrem correlações fortes quando de fato esta não existe. Neste contexto, torna-se relevante o teste da significância de rsp , cujas hipóteses seriam: 14 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 14 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística As hipóteses são testadas por meio da estatística t (equação 2), com (n – 2) graus de liberdade. - Teste de Mann-Whitney O teste Mann-Whitney (conhecido como teste U) é utilizado para testar se dois grupos independentes foram extraídos da mesma população. Trata-se de um dos mais poderosos testes não-paramétricos, utilizado para escalas ordinais ou quando os pressupostos dos testes paramétricos não são preenchidos (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006). As hipóteses do teste podem ser estabelecidas em termos da mediana () dos dados, tendo em vista a impossibilidade de se calcular a média para dados ordinais. Neste contexto, as hipóteses para o teste entre dois grupos “a” e “b” seriam: O teste é aplicado da seguinte maneira, as observações combinadas são ordenadas de forma crescente e os postos são atribuídos (os maiores valores negativos recebem os menores postos e assim sucessivamente até que o maior valor positivo receba o maior posto). A estatística U é obtida, então, pelas fórmulas 3 ou 4 (SIEGEL, 1975). onde representa o número de observações no grupo “a”; = número de observações no grupo “b”; = soma dos postos atribuídos ao grupo cujo tamanho é ; = soma dos postos atribuídos ao grupo cujo tamanho é . - Teste de Kruskal-Wallis O teste Kruskal-Wallis é aplicado para verificar se k amostras independentes provém de populações iguais ou com a mesma mediana () (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006). Desta forma, “o teste admite que as variáveis sob estudo têm a mesma distribuição Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 15 15 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana contínua subjacente; assim, ele requer pelo menos mensuração ordinal da variável” (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006). As hipóteses para este teste são: Primeiramente, para a aplicação do teste, os dados são colocados em uma matriz onde cada grupo representa uma coluna e cada linha representa uma observação. Na seqüência, atribuem-se postos aos escores combinados (organizados em uma única série). O menor escore recebe o posto 1 e assim sucessivamente até que o maior escore receba o posto mais elevado. Calcula-se, então, a soma dos postos para cada grupo (coluna da matriz) e retira-se uma média. Se os grupos provêm de populações iguais ou com a mesma mediana, logo os postos médios devem ser parecidos (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006). Por fim, para o teste da significância, utilizam-se as fórmulas 5 ou 6 (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006). onde k= número de grupos ou amostras; = número de casos na j-ésima amostra; N= número de casos na amostra combinada (soma dos ); = média dos postos na j-ésima amostra/grupo; = média dos postos na amostra combinada (N+1)/2; = soma dos postos na j-ésima amostra ou grupo. 3.3. Etapas de desenvolvimento do trabalho O trabalho foi desenvolvido em três etapas: definição do instrumento; coleta e preparação dos dados; análise dos dados. Cada uma delas é descrita a seguir. - Definição do instrumento Utilizou-se, na pesquisa, um questionário estruturado com 28 afirmações que consideram aspectos afetivos e cognitivos em relação à Estatística. Trata-se da tradução e adaptação de um questionário existente, o SATS (Survey of Attitudes Toward Statistics), (SCHAU, 1999). A escala utilizada no questionário é do tipo Likert de 5 pontos, variando de “1- discordo totalmente” a “5- concordo totalmente”. Esta escala mensura o nível de concordância do sujeito em relação a cada afirmação. 16 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 16 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística A escala original aborda, através de respostas auto-avaliativas, quatro dimensões atitudinais: afeto, competência cognitiva, valor, dificuldade. A dimensão afeto trata de sentimentos positivos e negativos no que se refere à Estatística e é composta por seis afirmações que revelam questões afetivas. A dimensão competência cognitiva trata das atitudes a respeito dos conhecimentos intelectuais e habilidades que são demandados pela Estatística, sendo composta por seis afirmações que cobrem o assunto. A terceira dimensão, valor, trata das atitudes quanto à utilidade, relevância e valor da Estatística no contexto profissional e pessoal. Esta terceira dimensão é composta por nove afirmações. A quarta dimensão, dificuldade, trata das atitudes diante da complexidade inerente do assunto Estatística e é composta por sete afirmações. As afirmações serão expostas nas análises do trabalho. O instrumento possui frases no sentido positivo e negativo. As frases positivas apresentam um assunto a favor da estatística. Em oposição, as frases negativas apresentam um assunto contra a estatística. Espera-se que os alunos que possuam atitudes favoráveis em relação a um assunto atribuam concordância às afirmações positivas. Analogamente, espera-se que os sujeitos que possuam atitudes desfavoráveis em relação ao assunto concordem com as afirmações que expressam algo negativo em relação a ele. Após realizada a tabulação, as variáveis com sentido negativo tiveram seus escores invertidos para que as análises pudessem ser realizadas. - Coleta e Preparação dos Dados A amostragem não-probabilística foi realizada por conveniência, isto é, participaram voluntariamente da pesquisa os alunos presentes na sala de aula no momento da coleta dos dados. Os dados foram coletados em agosto de 2005, obtendo-se 261 questionários válidos, respondidos por alunos dos cursos de graduação em Administração FEA-RP/USP, Mestrado em Administração de Organizações da FEA-RP/USP e por alunos do curso de graduação em Administração de uma Faculdade municipal localizada na região de Ribeirão Preto, denominada aqui Faculdade M. 4. Análise dos Dados O instrumento de medida utilizado para a mensuração das respostas foi a escala Likert. Tratando-se de uma escala ordinal, torna-se necessária a utilização de ferramentas estatísticas não-paramétricas para análise dos dados. As análises foram conduzidas em duas etapas: análise descritiva (perfil dos respondentes); aplicação dos testes estatísticos nãoparamétricos (testar se há diferença de atitudes entre os grupos). Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 17 17 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana Utilizou-se o software SPSS 11.0 (Statistical Package for Social Sciences) para a realização das análises. 4.1. Análise descritiva Obteve-se um total de 261 casos válidos, distribuídos da seguinte forma: 59% dos casos são do sexo masculino e 41% do sexo feminino; 44,8% dos alunos pertencem ao curso de graduação em Administração da Faculdade M, 45,2% dos alunos são do curso de graduação em Administração da FEA-RP/USP e 10% pertencem ao Mestrado em Administração de Organizações da FEA-RP/USP. Quanto ao ano de ingresso no curso tem-se 0,8% ingressante no ano de 1999, 7,3% ingressante no ano 2000, 10,7% ingressante em 2001, 14,2% ingressante em 2002, 37,5% ingressante em 2003 e 29,5% ingressante em 2004. O curso de graduação da FEA-RP/USP (denotado neste estudo como ADMFEA) (118 casos) é composto predominantemente por pessoas do sexo masculino (65,3%). A idade média é de 21,12 anos (desvio-padrão de 1,698 anos). O curso de mestrado em Administração de Organizações da FEA-RP/USP (denotado neste estudo como Mestr FEA) (26 casos) é composto por 50% de pessoas do sexo masculino e 50% de pessoas do sexo feminino. A idade média é de 26,46 anos (desviopadrão de 4,292 anos). O curso de graduação da Faculdade M (denotado neste estudo como ADM FacM) (117 casos) é composto por 54,7% de pessoas do sexo masculino. A idade média do grupo é de 23,18 anos (desvio-padrão de 5,972 anos). 4.2. Testes estatísticos - Estabelecimento das dimensões As questões (frases) do instrumento de medida foram agrupadas de acordo com dimensões definidas pela escala original, originando quatro novas variáveis (dimensão 1, 2, 3, 4), conforme exposto no quadro 4. 18 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 18 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística Quadro 4: Agrupamento das frases nas dimensões da escala original. Dimensão 1 Afeto Sentimentos positivos/negativos em relação à estatística Dimensão 2 Competência Cognitiva Atitudes sobre conhecimentos intelectuais e habilidades aplicados à estatística Dimensão 3 Valores Atitudes sobre utilidade, relevância e valor da estatística na vida profissional e pessoal Dimensão 4 Dificuldade Atitudes sobre a dificuldade do assunto estatística. 1) Eu gosto de Estatística 3) Tenho dificuldades de entender Estatística devido a minha maneira de raciocinar 5) Vale a pena estudar estatística 4) É fácil entender as fórmulas de estatística 2) Me sinto inseguro quando estudo Estatística 9) Não entendo estatística 7) A estatística deveria ser uma competência exigida para os profissionais da minha área 6) Acho a estatística uma matéria muito complicada 11) Fico frustrado com meus resultados nas provas de estatística 20) Cometo erros de matemática quando faço cálculos de estatística 8) Saber estatística me tornará um profissional diferenciado 17) A estatística é aprendida rapidamente pela maioria das pessoas 14) Fico tenso durante as aulas de Estatística 23) Acho que consigo aprender estatística 10) Acho que Estatística não é realmente útil na maioria das profissões 18) Para aprender estatística é necessário ter muita disciplina de estudo 15) Acho legal ter disciplinas de Estatística na grade curricular 24) Entendo o que as equações estatísticas querem dizer 12) A estatística não tem nenhuma utilidade fora do meu trabalho 22) A estatística exige grande uso de computadores 21) A Estatística me assusta 27) Tenho dificuldades em entender os conceitos estatísticos 13) Uso estatística na minha vida cotidiana 26) Estatística é uma disciplina muito técnica 16)As conclusões obtidas pela estatística raramente são utilizadas na vida cotidiana 28) A maioria das pessoas precisa aprender uma nova maneira de raciocinar para conseguir aprender estatística 19) Não vou aplicar estatística na minha profissão 25) A estatística é irrelevante na minha vida Cada uma das dimensões foi obtida por meio da aplicação da mediana entre as frases da dimensão correspondente, por exemplo, a dimensão 1 corresponde à mediana das frases 1, 2, 11, 14, 15, 21. Subsequentemente à obtenção das dimensões, foi aplicada a Análise de Correlação com intuito de verificar se existe realmente correlação significativa entre as frases que compõem cada dimensão. Aplicou-se a Correlação por postos de Spearman, em pares e considerou-se um nível de significância, com as seguintes hipóteses: Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 19 19 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana A hipótese nula é rejeitada quando o p - valor < α . Os resultados obtidos são apresentados no quadro 5. Quadro 5: Correlações entre as frases nas dimensões Dimensão Pares com correlação não-significativa Alfa de Cronbach 1- Afeto Frase2/frase15 0,7466 2- Competência Cognitiva _________ 0,7502 3- Valor _________ 0,8395 4- Dificuldade Frase4/frase22; frase4/frase26; frase4/frase28; frase6/frase22; frase17/frase26; frase26/frase28 0,5929 Aplicou-se o Alfa de Cronbach para testar a confiabilidade das dimensões. Consideram-se valores acima de 0,6 como satisfatórios, ou seja, indicativos de confiabilidade satisfatória. Percebe-se que o Alfa de Cronbach é baixo para a dimensão 4. Excluiu-se, então, cada uma das frases, uma por vez, com intuito de verificar um aumento na confiabilidade, o que não ocorreu. Com a exclusão das frases o índice alfa se reduziu. Desta forma, apesar de alguns pares de frases não apresentarem correlações significativas ao nível de significância, decidiuse manter todas as 28 frases no estudo para realização dos testes de hipóteses, pois são frases muito importantes para avaliação da atitude dentro das dimensões. Os gráficos de barra (1, 2, 3 e 4) a seguir apresentam as freqüências de respostas em cada escore de mediana para cada uma das dimensões. Gráfico 1: Freqüência de escores de mediana para a dimensão afeto 20 arte_angrad.pmd Gráfico 2: Freqüência de escores de mediana para a dimensão competência cognitiva Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 20 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística Gráfico 3: Freqüência de escores de mediana para a dimensão valor Gráfico 4: Freqüência de escores de mediana para a dimensão Dificuldade Consideram-se atitudes negativas ou desfavoráveis para valores de mediana M<3, atitudes indefinidas ou conflitantes para valores de mediana 3 < M < 4 e atitudes tendendo a positivas ou favoráveis para valores de mediana M > 4. Observando-se os gráficos exibidos pela figura 5, observa-se que; na dimensão 1; a maior freqüência de casos ocorre na categoria 4, o que indica atitude com tendência positiva nesta dimensão. Na dimensão 2, observa-se maior freqüência nas categorias entre 3 e 4, com predominância na categoria 4, sugerindo atitude positiva nesta dimensão. Na dimensão 3, observa-se maior freqüência de dados nas categorias 4 e 5, o que indica atitude positiva nesta dimensão. Por fim, na dimensão 4, observa-se maior freqüência de casos nas categorias 2 e 3, indicando atitude conflitante tendendo à negativa/desfavorável. De forma sintética, por meio do exame dos gráficos, percebe-se que a atitude dos alunos de Administração possui tendência positiva nas dimensões afeto, competência cognitiva e valor. Em oposição, na dimensão dificuldade os alunos apresentam atitude que tende entre conflitante e negativa. Isto significa que, de forma geral, os alunos apresentam um sentimento favorável em relação à Estatística, não se sentem inseguros ou com medo desta disciplina. Adicionalmente, acreditam ter capacidade para lidar com as competências e conhecimentos exigidos para o estudo da Estatística, ou seja, acreditam que conseguirão aprender os conceitos e aplicar os modelos. Ademais, consideram a Estatística uma competência importante e relevante para a carreira e vida cotidiana, com aplicações realmente úteis. Por fim, a atitude está entre conflitante e negativa quanto à dificuldade da disciplina Estatística. Os alunos a consideram uma disciplina difícil, técnica e a qual as pessoas costumam apresentar dificuldades no curso. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 21 21 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana - Testes de hipóteses Além de estudar a atitude dos alunos de Administração em relação à Estatística, este trabalho tem como objetivo verificar se existe diferença significativa na atitude dos alunos dos diferentes cursos e sexos em relação a cada dimensão. Para atingir-se este objetivo, aplicaram-se testes de hipóteses não-paramétricos para amostras independentes: Mann-Whitney (2 amostras independentes) e Kruskall-Wallis (k amostras independentes). Especificamente para a dimensão 4 (devido ao valor do Alfa de Cronbach), realizaram-se os testes para as frases individualmente e agrupadas, obtendo-se para as frases individualmente o mesmo resultado que para o agrupamento, de forma serão apresentados os resultados para a dimensão como um todo, ou seja, para as frases agrupadas. Aplicou-se o teste Mann-Whitney para verificar se existia diferença de atitude entre o sexo masculino e feminino dentro de cada curso. As hipóteses desses testes são: Os resultados obtidos são expostos no quadro 6. Quadro 6 – Resultados dos Testes Mann-Whitney para o sexo. Graduação ADM FEA-RP Dimensão Mestrado FEA-RP Graduação ADM Faculdade M p-valor Decisão p-valor Decisão p-valor Decisão 1) Afeto 0,668 Não se rejeita 0,897 Não se rejeita 0,949 Não se rejeita 2) Competência Cognitiva 0,014 Rejeita-se 0,979 Não se rejeita 0,367 Não se rejeita 3) Valor 0,766 Não se rejeita 0,405 Não se rejeita 0,776 Não se rejeita 4) Dificuldade 0,243 Não se rejeita 0,335 Não se rejeita 0,932 Não se rejeita Cada um dos testes é explicado a seguir. 22 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 22 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística - Curso de Graduação em Administração da FEA-RP/USP Considerando-se um nível de significância α = 5% e amostras de tamanho m=41 e n=77, rejeita-se a hipótese nula apenas para a dimensão 2. Dessa forma, conclui-se que existe diferença significativa de atitudes entre o sexo masculino e feminino, considerando-se as competências exigidas pelo uso da Estatística. Isto indica que ambos os sexos possuem atitudes parecidas com relação à dimensão 1, 3 e 4. Na dimensão 1 (afeto), a atitude é predominantemente positiva, ou seja, os alunos possuem sentimentos positivos em relação à Estatística e, de forma geral, não se sentem inseguros ou sob estresse ao estudar estatística. Na dimensão 2 (competência cognitiva), em que há diferença significativa entre o sexo masculino e feminino, observa-se que a atitude masculina é predominantemente positiva, enquanto a atitude feminina fica entre conflitante e positiva. Assim, tem-se que o sexo masculino mostra-se mais confiante em relação à sua capacidade de aprender Estatística e acreditam que são capazes de aprender as ferramentas e conceitos. Na dimensão 3 (valor), a atitude é positiva, ou seja, os alunos acreditam que a Estatística é importante e possui aplicações úteis no âmbito profissional e pessoal. Na dimensão 4 (dificuldade), a atitude é entre negativa e conflitante, ou seja, os alunos consideram, de forma geral, a Estatística uma disciplina complexa, com técnicas e conceitos complicados, que exige larga utilização de computadores e a qual as pessoas costumam apresentar dificuldades de aprendizagem. - Curso de Mestrado em Administração de Organizações da FEA-RP/USP Considerando-se um nível de significância α = 5% e amostras de tamanho m=13 e n=13, não existem evidências suficientemente fortes que permitam rejeitar a hipótese nula. Conclui-se que não existem diferenças significativas entre as atitudes do sexo masculino e feminino nas dimensões do estudo. Na dimensão 1 (afeto), a atitude está entre positiva e conflitante, ou seja, os alunos possuem sentimentos positivos em relação à Estatística. Sentem, entretanto, alguma insegurança ou estresse ao estudar estatística. Na dimensão 2 (competência cognitiva), observa-se atitude predominantemente positiva, ou seja, os alunos mostram-se confiante em relação à sua capacidade de aprender Estatística, acreditando que são capazes de aprender as ferramentas e conceitos. Na dimensão 3 (valor), a atitude é positiva, ou seja, os alunos acreditam que a Estatística é importante e possui aplicações úteis no âmbito profissional e pessoal. Na dimensão 4 (dificuldade), a atitude está entre negativa e conflitante, ou seja, os alunos consideram, de forma geral, a Estatística uma disciplina complexa, com técnicas e conceitos Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 23 23 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana complicados, que exige larga utilização de computadores e a qual as pessoas costumam apresentar dificuldades de aprendizagem. - Curso de Graduação em Administração da Faculdade M Considerando-se um nível de significância α = 5% e amostras de tamanho m=53 e n=64, não existem evidências suficientemente fortes que permitam rejeitar a hipótese nula. Assim, não há diferenças significativas entre as atitudes do sexo masculino e feminino nas dimensões do estudo. Na dimensão 1 (afeto), a atitude é predominantemente positiva, ou seja, os alunos possuem sentimentos positivos em relação à Estatística e, de forma geral, não se sentem inseguros ou sob estresse ao estudar estatística. Na dimensão 2, (competência cognitiva) a atitude é predominantemente positiva, ou seja, os alunos mostram-se mais confiante em relação à sua capacidade de aprender Estatística, acreditando que são capazes de aprender as ferramentas e conceitos. Na dimensão 3 (valor), a atitude é positiva, ou seja, os alunos acreditam que a Estatística é importante e possui aplicações úteis no âmbito profissional e pessoal. Na dimensão 4 (dificuldade), a atitude encontra-se entre negativa e conflitante. Os alunos consideram, de forma geral, a Estatística uma disciplina complexa, com técnicas e conceitos complicados, que exige larga utilização de computadores e a qual as pessoas costumam apresentar dificuldades de aprendizagem. - Teste Kruskal-Wallis Com intuito de verificar a existência de diferenças de atitudes entre os alunos dos três cursos, aplicou-se o teste Kruskal-Wallis. As hipóteses para esses testes são: Considerando-se um nível de significância α = 5% e amostras de tamanhos tem-se os seguintes resultados (quadro 7): 24 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 24 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística Quadro 7 – Resultados do Teste Kruskal-Wallis entre os cursos Dimensão p-valor 1- Afeto 0,476 Decisão Não se rejeita 2- Competência Cognitiva 0,025 Rejeita-se 3- Valor 0,000 Rejeita-se 4- Dificuldade 0,001 Rejeita-se Pode-se afirmar que existem diferenças significativas entre pelo menos um par de cursos para as dimensões 2 (competências cognitivas necessárias para aprendizagem de Estatística), 3 (valor e utilidade de se aprender Estatística) e 4 (dificuldade ou complexidade da Estatística), ao nível de significância α = 5%. A fim de verificar em quais pares ocorre a diferença de atitudes, aplicaram-se testes Mann-Whitney para cada par de cursos. Os resultados são apresentados no quadro 8. Quadro 8 – Resultados dos Testes Mann-Whitney para os cursos 1) Afeto Testes 2) Competência Cognitiva 3) Valor 4) Dificuldade p-valor Decisão p-valor Decisão p-valor Decisão p-valor Decisão Graduação FEA-RP X Mestrado FEA-RP 0,875 Não se rejeita 0,161 Não se rejeita 0,001 Rejeita-se 0,358 Não se rejeita Graduação FEA-RP X Graduação Faculdade M 0,213 Não se rejeita 0,053 Não se rejeita 0,000 Rejeita-se 0,000 Rejeita-se Mestrado FEA-RP X Graduação Faculdade M 0,663 Não se rejeita 0,021 Rejeita-se 0,000 Rejeita-se 0,191 Não se rejeita Cada um dos testes é detalhado a seguir. - Graduação em Administração FEA-RP/USP X Mestrado em Administração FEA-RP/USP. As hipóteses para o teste são: Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 25 25 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana Considerando-se o nível de significância α = 5% e amostras de tamanho m=118 e n=26, a hipótese nula pode ser rejeitada para a dimensão 3 (valor e utilidade em estudar Estatística), ou seja, existe diferença significativa de atitudes em relação à utilidade de se estudar Estatística entre o curso de graduação da FEA-RP e o Mestrado da FEA-RP. - Graduação em Administração FEA-RP/USP X Graduação em Administração Faculdade M. As hipóteses para o teste são: Considerando-se o nível de significância α = 5% e amostras de tamanho m=118 e n=117, a hipótese nula pode ser rejeitada para a dimensão 3 (valor e utilidade em estudar Estatística) e para a dimensão 4 (dificuldade associada à disciplina Estatística). Desta forma, admite-se que existe diferença significativa de atitudes em relação à utilidade de se estudar Estatística e a atitude em relação à Estatística ser uma disciplina complexa entre o curso de graduação da FEA-RP e o curso de graduação da Faculdade M. - Mestrado em Administração FEA-RP/USP X Graduação em Administração Faculdade M. As hipóteses para o teste são: Considerando-se o nível de significância α = 5% e amostras de tamanho m=26 e n=117, a hipótese nula pode ser rejeitada para a dimensão 2 (competências e habilidades aplicadas a Estatística) e dimensão 3 (valor e utilidade em estudar Estatística). Dessa forma, admite-se que existe diferença significativa de atitudes em relação aos conhecimentos e habilidades exigidos pela Estatística e à utilidade de se estudar Estatística entre o curso de Mestrado da FEA-RP e o curso de graduação da Faculdade M. O quadro 9 resume os resultados dos testes Mann-Whitney para os cursos. 26 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 26 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística Quadro 9 – Resumo dos resultados Dimensão onde há diferença significativa Teste Graduação FEA-RP X Mestrado FEA-RP Dimensão 3 - Valor Dimensão 3 - Valor; Dimensão 4 - Dificuldade Graduação FEA-RP X Graduação Faculdade M Mestrado FEA-RP X Graduação Faculdade M Dimensão 2 - Competência Cognitiva; Dimensão 3 - Valor O quadro 10 mostra a atitude de cada um dos cursos nas quatro dimensões. Quadro 10 – Atitudes dos cursos Dimensão Graduação ADM FEA Mestrado FEA Graduação ADM Fac. M 1)Dimensão Afeto Positiva Positiva tendendo a conflitante Positiva 2)Dimensão Competência cognitiva Positiva Positiva Positiva tendendo a conflitante 3)Dimensão valor Positiva Positiva Positiva 4)Dimensão dificuldade Negativa tendendo a conflitante Conflitante tendendo a negativa Conflitante tendendo a negativa No caso dos cursos de graduação em Administração da FEA-RP/USP e do curso de Mestrado da FEA-RP/USP, observou-se diferença significativa de atitudes na dimensão 3 (valor). Conforme exposto no quadro 10, ambos os cursos apresentam atitudes positivas nesta dimensão. As atitudes dos alunos do Mestrado, no entanto, são mais favoráveis que a atitude dos alunos da graduação, ou seja, atribuem relevância e utilidade maior para a Estatística. Comparando-se o curso de graduação da FEA-RP/USP e o curso de graduação da Faculdade M, obteve-se diferença significativa de atitudes nas dimensões 3 (valor) e 4 (dificuldade). Na dimensão 3, observa-se que ambos os cursos possuem atitudes positivas. No entanto, a atitude dos alunos do curso de graduação da FEA-RP parece mais favorável, ou seja, atribuem à Estatística maior relevância e utilidade que os alunos da Faculdade M. Na dimensão 4, observa-se que o curso de graduação da FEA-RP apresenta atitude negativa tendendo a conflitante, enquanto o curso de graduação da Faculdade M apresenta atitude conflitante tendendo a negativa. Desta forma, a atitude dos alunos da FEA-RP é mais negativa se comparada à atitude dos alunos da Faculdade M, ou seja, atribuem à Estatística uma complexidade maior que os alunos da Faculdade M. No caso do curso de Mestrado da FEA-RP e do curso de graduação da Faculdade M obteve-se diferença significativa de atitudes nas dimensões 2 (competência cognitiva) e 3 (valor). Na dimensão 2, observa-se que os alunos do Mestrado apresentam atitudes positi- Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 27 27 11/3/2007, 19:35 Daielly Melina Nassif Mantovani, Maria Flávia Barbosa Leite, Guilherme de Farias Shiraishi e Adriana Backx Noronha Viana vas, enquanto os alunos da Faculdade M apresentam atitudes negativas tendendo a conflitantes. Assim, a atitude dos alunos do Mestrado é mais positiva, ou seja, mostram-se mais confiantes quanto à sua capacidade de aprender Estatística. Na dimensão 3, ambos os cursos apresentam atitudes positivas, entretanto, a atitude dos alunos do Mestrado é mais favorável, ou seja, atribuem à Estatística maior relevância e utilidade que os alunos da Faculdade M. 5. Conclusões O estudo atingiu os objetivos propostos, trazendo novos insights sobre as atitudes dos alunos do curso de Administração quanto à Estatística. Obtiveram-se quatro dimensões atitudinais em relação à Estatística baseadas nas dimensões da escala SATS original. Cada uma das dimensões trata de um aspecto distinto da Estatística. A dimensão 1, denominada afeto, trata dos sentimentos dos alunos em relação à Estatística. A dimensão 2, denominada competência cognitiva, trata dos conhecimentos e habilidades necessários para aprender os conteúdos. A dimensão 3, denominada valor, trata da relevância e utilidade percebida da Estatística e a dimensão 4, denominada dificuldade, trata da complexidade do assunto Estatística. Com base nas análises realizadas, percebe-se que, em geral, os alunos possuem sentimentos positivos em relação à Estatística, julgam-na uma disciplina relevante e possuem consciência da utilidade dos conhecimentos estatísticos tanto na vida profissional quanto pessoal. Em oposição, possuem atitude conflitante tendendo a negativa na quarta dimensão (dificuldade). Os resultados revelam que os alunos consideram a Estatística uma disciplina complexa, a qual costumam apresentar dificuldades de aprendizagem. Nos testes de hipóteses, observou-se que, em geral, não existe diferença significativa de atitudes entre os alunos do sexo masculino e feminino. No que concerne aos cursos, observou-se diferença de atitudes em três das dimensões: competência cognitiva, valor e dificuldade. De forma geral, percebe-se que o curso de Mestrado da FEA-RP possui atitude mais positiva em relação ao valor da Estatística, ou seja, os alunos atribuíram escores mais elevados nesta dimensão, o que significa que consideram a Estatística uma disciplina realmente relevante e de grande aplicabilidade. A atitude em relação à dificuldade inerente da Estatística é conflitante com tendência à negativa. Observa-se, entretanto, que a atitude mais negativa provém dos alunos da graduação da FEA-RP. Adicionalmente, a atitude na dimensão competência cognitiva é, em geral, positiva, entretanto, esta atitude é menos favorável para os alunos do curso de graduação da Faculdade M. Neste contexto, algumas reflexões são necessárias, pois pode ser considerado um grande progresso o fato de os alunos de cursos de Administração perceberem a Estatística como relevante e entenderem sua empregabilidade fora do ambiente acadêmico. Observa-se, no entanto, que os alunos ainda consideram a Estatística uma disciplina complexa, 28 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 28 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística a qual costumam apresentar dificuldade de aprendizagem. O medo associado à dificuldade de aprendizagem leva a uma atitude negativa que, por sua vez, pode levar a real dificuldade de aprendizagem, prejudicando a formação do aluno. Considerando-se que a disposição para aprendizagem se mostra, em geral, positiva, devem-se localizar esforços no intuito de romper antigos paradigmas em relação à Estatística, favorecendo-se, assim, um processo de aprendizagem efetiva. O objetivo de se inserir disciplinas de Estatística nos cursos de Administração é desenvolver nos estudantes habilidades flexíveis e críticas de solução de problemas e análise de dados. Para que este objetivo seja alcançado, no entanto, os cursos de Estatística ministrados precisam de reformulação e flexibilização, sendo mais voltados para a aplicação dos conhecimentos estatísticos e não à dedução de modelos e fórmulas. É necessária a criação de uma atmosfera que desenvolva o sentimento de autoconfiança e segurança para testar diferentes ferramentas, conforto para lidar com incertezas e probabilidades, e motivação para trabalhar em problemas que podem requerer grandes investimentos de tempo e energia. Como limitações do trabalho, tem-se que a utilização da escala tipo Likert para mensuração das respostas não permite o reconhecimento das causas para as respostas dadas.Todavia, o perfil atitudinal traçado a partir da escala permitiu constatar que aspectos não estruturados (crenças e valores) influenciam as atitudes e, em educação, as atitudes são determinantes de dificuldade ou facilidade de aprendizagem. Adicionalmente, é importante ressaltar que as conclusões obtidas consideram apenas os grupos analisados, não permitindo a generalização dos resultados para a toda população de estudantes das duas instituições de ensino. 6. Referências BEM, D. J. Convicções, atitudes e assuntos humanos. São Paulo: Edusp, 1973. BRESSAN, L. Ap. Atitudes frente ao trabalho interdisciplinar em equipes de saúde mental. 1995. Dissertação (Mestrado em Saúde Mental) – Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 1995. GAL, I.; GINSBURG, L. 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Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Ed. Atlas, 2002, 175 p. GONÇALVES, N. Atitudes dos alunos do curso de pedagogia com relação à disciplina de estatística no laboratório de informática. 2002. 191 f. Tese (Doutorado em Educação Matemática) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002. KENNEDY, P.E. Teaching undergraduate econometrics: a suggestion for fundamental change. 1998. Disponível em: <http://links.jstor.org/sici?sici=00028282%28199805%2988%3A2%3C487%3ATUEASF%3E2.0.CO%3B2-Y>. Acesso em:11 Abr 2006. NOLAN, D.; SPEED, T. P. Teaching statistics theory through applications. The American Statistician, v. 53, 4, p. 370-375, nov. 1999. NORUSIS, M. J. SPSS 11.0: guide to data analysis. New Jersey: Prentice Hall, 2002. PEDRÃO, L. J.; AVANCI, R. C. de; MALAGUTI, S. E. Perfil das atitudes de alunos do curso de enfermagem frente à doença mental, antes da influência da instrução acadêmica, proveniente de disciplinas de área específica. Rev. 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Daielly Melina Nassif Mantovani é Mestranda em Administração de Organizações pela FEA -Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. CEP:14050-230 [email protected] Maria Flávia Barbosa Leite é Graduanda em Administração pela FEA -Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. CEP: 14015-100 [email protected] 30 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 30 11/3/2007, 19:35 Atitudes dos Alunos do Curso de Administração em Relação à Estatística Guilherme de Farias Shiraishi é Professor da Universidade Mackenzie e Doutorando em Administração FEA -Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. CEP:14050-230 [email protected] Adriana Backx Noronha Viana é Professora Livre Docente da FEA -Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo. CEP: 14040-900 [email protected] Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 31 31 11/3/2007, 19:35 arte_angrad.pmd 32 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil Contribution of the Administration Junior Enterprise in Brazil Mariana Carvalho Lopes [email protected] Paulo da Costa Lopes Zuleica Amaral Alves de Lima Universidade do Estado de Londrina - UEL CEP: 86051-990 Londrina - Paraná - Brasil Resumo O conceito “Empresa Júnior” é recente no Brasil, entretanto, o “Movimento Empresa Júnior” no país tem crescido consideravelmente, reunindo o maior número de empresas juniores em todo o mundo. Essa dimensão torna relevante compreender um pouco melhor esse fenômeno. Dessa forma, neste estudo, objetivou-se analisar qual a contribuição desse tipo de organização como coadjuvante dos cursos de graduação na formação do administrador. Além disso, de forma complementar, buscou-se identificar os fatores que motivam a participação dos estudantes nessas empresas e caracterizar o perfil do empresário júnior de administração no Brasil. Trata-se de uma pesquisa exploratória, que utiliza a estatística descritiva para análise dos dados. Constatou-se que, entre os principais fatores que motivam a participação dos estudantes, estão: aliar teoria e prática; desenvolver novas habilidades; agregar valor ao curriculum vitae; e vontade de empreender. Observou-se, também, um perfil relativamente homogêneo dos empresários juniores. Concluiu-se pela existência de contribuição efetiva da empresa júnior no provimento de algumas competências fundamentais que, na visão dos estudantes, são menos desenvolvidas pelos projetos pedagógicos dos cursos. Palavras-chave: Empresa Júnior, formação do administrador. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 33 33 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas Abstract The concept of “Junior Enterprise” is recent in Brazil. However, the “Junior Enterprise Movement” in the country has grown considerably, resulting in the highest number of junior Enterprises all over the world. This dimension makes it relevant to understand this phenomenon a little better.Thus, in this study, we aimed at analyzing the contribution this type of organization gives for the administrator’s education as a support in undergraduate courses. Besides, in a complementary way, we also searched to identify the factors that motivate students´ participation in such Enterprises and characterize the profile of the junior administration businessman in Brazil. This is an exploratory research which uses descriptive statistics for data analysis. It has been found that the main factors that motivate students´ participation are: to join theory and practice; to develop new skills; to add value to their curriculum vitae; and the willingness to be an entrepreneur. It has also been observed that there is a relatively homogeneous profile of junior businessmen. The conclusion is that there is an effective contribution made by the junior enterprise in providing some fundamental skills that, in the students´ view, are less developed in the pedagogical projects of the courses. Key-words: Junior Enterprise, administrator’s education Introdução A qualidade da formação de administradores tem sido uma preocupação crescente em, praticamente, todas as sociedades. As transformações em curso, de naturezas tecnológica e cultural, produzem efeitos múltiplos cujas evidências se expressam, predominantemente, na aceleração da velocidade da inovação e na abrangência e complexidade das relações de mercado. No Brasil, naturalmente, este cenário também está configurado e vem estimulando a reflexão e ação na busca de maior qualidade e efetividade no processo de formação profissional do administrador. Não obstante a ação de organismos governamentais e profissionais que, nos últimos anos, trabalharam intensamente para instituir novas diretrizes para o curso de administração (CNE, 2005), parece não haver, ainda, reflexos visíveis na qualidade dos cursos. Houve sim, um forte e salutar crescimento do número de vagas, particularmente, nas instituições privadas. Entretanto, ampliar acesso aos jovens brasileiros com preservação e ampliação da qualidade implica em desenvolver projetos pedagógicos inovadores e, sobretudo, incentivar iniciativas independentes e autônomas compatíveis com o cenário de complexidades e incertezas cada vez maiores em nosso meio. Um caso especial desse tipo de iniciativa independente, que possui importante articulação com os projetos pedagógicos dos cursos de graduação, é o da “Empresa Júnior”, 34 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 34 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil conhecida por EJ. Em meio a esse quadro, em que as diretrizes curriculares orientam para uma formação profissional por competências, é alentador observar que o fenômeno EJ esteja se consolidando. Essas empresas, hoje, tendo em vista seu reconhecimento no âmbito acadêmico e, sobretudo, nos organismos oficiais de avaliação e acompanhamento do ensino superior, podem ser consideradas iniciativas indispensáveis no processo de formação do administrador e, portanto, devem ser compreendidas e cada vez mais incentivadas. A dimensão adquirida pelas EJs no Brasil é surpreendente. Hoje em dia, existem, no país, mais de 600 EJs. É um tipo de organização que surgiu na França nos anos 60 do século XX e chegou ao Brasil no final dos anos oitenta. Em muitos casos, o surgimento da EJ não foi um processo espontâneo nascido da iniciativa dos estudantes, mas, ao contrário, uma medida que decorreu do interesse das IES que perceberam o alto valor atribuído, pelas instâncias oficiais, à existência dessas estruturas quando avaliam um curso de administração. Independentemente desse aspecto, esse mecanismo de aproximar o jovem estudante à realidade do mercado está se alastrando com grande rapidez nas universidades e faculdades brasileiras. São mais de 850 empresas juniores pelo mundo, geridas pela juventude, que usam seu conhecimento e o desenvolvem para empreender soluções para a sociedade. Estas sementes amadurecem para desenvolver e fortalecer as raízes de uma sociedade dinâmica e vibrante. (BRASIL JÚNIOR, 2004) A partir da experiência acadêmica vivenciada por autores deste estudo, pode-se sugerir que a EJ contribui para o desenvolvimento de inúmeras habilidades de caráter pessoal que a academia, muitas vezes, parece não conseguir prover adequadamente ou com a mesma intensidade. Acredita-se que a EJ desenvolva uma ação complementar fundamental aos projetos pedagógicos dos cursos de administração, funcionando como um mecanismo que, de maneira especial, proporciona a aproximação da dinâmica acadêmica com a realidade empírica do ambiente dos negócios. Um mecanismo que parece permitir a consolidação de conhecimentos adquiridos pelo estudante durante o curso e favorece o desenvolvimento e/ou fortalecimento de múltiplas habilidades de natureza comportamental e técnica. Um processo que se apóia em atitudes e valores fundamentais para a formação e exercício profissional do administrador, constituindo-se num mecanismo privilegiado para construção da autonomia e de uma visão critica da realidade. Nessa perspectiva, emergiram algumas questões relevantes, em especial, quanto à percepção dos estudantes sobre a efetividade e natureza da contribuição da EJ na formação profissional. E, para respondê-las, estabeleceram-se neste estudo os seguintes objetivos específicos: conhecer as principais motivações dos estudantes para participar desse movimento; identificar o perfil do empresário júnior brasileiro; e captar a percepção do empresário júnior quanto às contribuições que oferecem EJs e cursos na formação profissional do administrador. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 35 35 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas O exame mais detido dessas questões justificou-se pelo que representa no desenvolvimento dos estudantes e, também, pela importância para aqueles que, direta ou indiretamente, estão envolvidos neste processo como micro e pequenas empresas, instituições de ensino e a sociedade em geral. A relevância em estudar o tema também ficou caracterizada pela sua recentidade e pela escassez de estudos sobre este tipo de organização no Brasil. Para apresentação do estudo, estruturou-se este artigo em cinco partes, incluindo esta introdução. Na próxima seção apresenta-se um referencial teórico, onde são apresentados aspectos conceituais relacionados à EJ e às competências características do administrador profissional. Na terceira seção, são apresentados os aspectos metodológicos. Depois, apresentam-se os resultados encontrados na pesquisa e, por fim, as conclusões do estudo e outras considerações dos autores. Aspectos Conceituais Para que se possa compreender um pouco melhor o fenômeno EJ e seu papel na formação profissional do administrador, apresentam-se aqui prévias considerações em dois planos: posicionar o próprio conceito de EJ; refletir sobre algumas competências e atributos fundamentais que deve possuir o administrador. Particularmente, busca-se destacar, nesta sessão, como alguns autores percebem esse processo das EJs e quais as competências que, acreditam, possam ser melhor desenvolvidas através da participação do estudante nessas empresas. Num primeiro plano, é importante destacar que o Movimento EJ teve origem na França, em 1967, em vista da latente demanda, por parte dos estudantes, de buscar novos contatos com o mundo profissional. Chegou ao Brasil em 1988, quando um grupo de estudantes da Fundação Getúlio Vargas, liderado por Rodrigo Cher, estudou as melhores formas de implantar uma EJ. Hoje, no Brasil, podem-se encontrar esses espaços privilegiados de atuação acadêmica de estudantes universitários em diferentes cursos de graduação, com destaque para Administração, Psicologia, Computação, Economia, Engenharias, Biologia e Turismo. A EJ é uma associação civil sem fins lucrativos, formada e gerida por estudantes de cursos superiores de graduação que deve ter como objetivos: promover o desenvolvimento técnico e acadêmico de seus associados, o desenvolvimento econômico e social da comunidade, fomentar o espírito empreendedor de seus associados, promover o contato dos alunos com o mercado e trabalho, e promover o desenvolvimento pessoal e profissional de seus associados. (FEJEPAR, 2003) A definição oferecida pela Federação das Empresas Juniores do Estado do Paraná – FEJEPAR - revela o amplo conjunto de preocupações que deve ter a EJ no cumprimento 36 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 36 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil de seu papel. Observa-se pelo enunciado que ela deve-se pretender não apenas como vetor de desenvolvimento de diferentes competências de natureza técnica, mas, impor-se como objetivos, não menos relevantes, o desenvolvimento social e econômico da comunidade e o fomento do espírito empreendedor de seus associados. Juntas, as metas de contribuir ao desenvolvimento local e fomentar o empreendedorismo constituem-se um poderoso mecanismo de formação profissional e de construção da cidadania. A EJ pode ser considerada um mecanismo de atuação universitária, na medida que sua ação se coaduna aos objetivos das instituições de ensino superior de desenvolver, criar e repassar conhecimentos para a sociedade. Embora a EJ desempenhe um papel de canal de transferência de conhecimento autônomo com relação à universidade, está intrinsecamente associada à mesma, uma vez que é formada por iniciativa de seus estudantes, orientada pelos seus docentes e utiliza, muitas vezes, o espaço físico e até mesmo o nome da instituição de ensino. (MATOS, 1977) Nesta perspectiva, a EJ estaria desenvolvendo uma ação de caráter extensionista no âmbito da IES. Entretanto, como contraponto à visão de apêndice universitário, ressalta-se o caráter autônomo da ação dessas empresas que, naturalmente, a distingue de maneira fundamental de um mero instrumento institucional. De qualquer maneira, este papel extensionista da EJ é, também, reconhecido pela Confederação das Empresas Juniores do Brasil. Para a Brasil Júnior, como é chamada a Confederação, o principal objetivo de uma EJ é a capacitação de seus membros através de uma inserção voluntária e não remunerada dos estudantes. Dessa forma, as EJs têm uma estrutura de custos que lhes permite a realização de serviços de qualidade a um preço bastante competitivo.Trabalhando assim, a EJ pode atender a um nicho de mercado que não teria condições de contratar as consultorias tradicionais. Portanto, o foco principal está nas microempresas e pequenas empresas. Além destas, trabalham também com projetos sociais e outras atividades que trazem benefícios diretos para as instituições de ensino superior, para os estudantes e para a sociedade local onde a EJ esta inserida, cumprindo um papel fundamental característico da extensão universitária no Brasil. (BRASIL JÚNIOR, 2004) Observa-se, entretanto, que a EJ oferece duas formas distintas de transferir conhecimento ao estudante. A primeira está associada à experiência prática, ao aprendizado que os estudantes, consultores juniores, adquirem quando desenvolvem projetos junto aos clientes, fortalecendo e consolidando suas habilidades técnicas. A segunda forma de aporte realizado pela EJ está associada à realização de atividades do cotidiano administrativo da própria EJ. Esse ponto muito importante contribui de maneira ímpar para o desenvolvimento de habilidades e competências do administrador profissional, proporcionando, além de habilidades técnicas, o desenvolvimento de habilidades interpessoais e outras competências mais gerais de gestão. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 37 37 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas Do ponto de vista pedagógico, a experiência curricular que mais se aproximaria da EJ é o estágio tradicional. Para Souza (2002, p.102), a experiência na EJ é potencialmente superior em termos de aprendizado, pois atribui aos universitários grandes responsabilidades quando comparadas aos estágios que são oferecidos por empresas e que constituem a principal porta de entrada do universitário no mercado de trabalho. As atividades da EJ podem estimular o trabalho em equipe, desenvolver o espírito empreendedor e capacitar futuras lideranças empresariais de maneira muito mais eficiente do que o estágio convencional. Atuando com agenda de trabalho mais flexível e contrato com a empresa, sem os limites dos períodos letivos e das férias estudantis, os estudantes da EJ conseguem articular processo de aprendizagem prática e demanda do cliente por soluções. (LOPES, 2001, p.39) Pode-se sintetizar a participação dos estudantes nas EJs como um mecanismo que, além de aperfeiçoar a competência técnica, permite melhor desenvolver outras importantes competências, com destaque para: capacidade de trabalho em equipe, capacidade de relacionamento interpessoal, visão sistêmica e empreendedora. Refletir como está sendo desenvolvido esse conjunto de competências e valores nos cursos de administração no Brasil, constitui-se numa questão central, embora além do escopo deste trabalho. Diagnósticos como os de Lopes (2001) e Nicolini (2001) identificaram fragilidades no processo de formação profissional de administradores, sugerindo que algumas competências, provavelmente, não estão sendo adequadamente providas pelas estruturas e dinâmicas de formação oferecidas pelos cursos de graduação. Essas fragilidades estruturais, algumas históricas, estão, provavelmente, na base do surgimento das EJs no Brasil e no mundo. Considera-se que estão posicionados, conceitualmente, algumas características e o potencial contributivo da EJ no plano do desenvolvimento de competências necessárias ao exercício dos diferentes papéis do administrador. Sobretudo, concorda-se que essas competências individuais são adquiridas em diferentes momentos e processos ao longo da educação profissional formal, da carreira e da vida. Busca-se, portanto, oferecer algumas definições e articular alguns atributos e competências que podem ser, mais apropriadamente, desenvolvidas ou favorecidas no processo de formação profissional durante o período universitário. Inicialmente, cabe posicionar a perspectiva geral dos autores deste estudo quanto ao conceito de competência como sendo a capacidade de articulação de conhecimentos, habilidades e atitudes para tratar de situações concretas num contexto de trabalho, produzindo resultados efetivos. Concorda-se, sobretudo, que esses atributos de capacidade, conhecimento e atitudes articulam-se para expressar determinadas competências mais gerais. Essa idéia de competência caracterizada pela ação que produz resultados práticos é compartilhada por inúmeros autores. 38 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 38 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil Resende (2003) que preconiza que estamos vivendo no mundo a era da competência, a define como “... a transformação de conhecimentos, aptidões, habilidades, interesses, vontade etc. em resultados práticos. Ter conhecimento e experiência e não saber aplicá-los em favor de um objetivo, de uma necessidade, de um compromisso, significa não ser competente”. Essa afirmação permite estabelecer uma distinção fundamental, entre conhecer administração e ser capaz de administrar. Aparentemente, essa distinção esteve na base das discussões que produziram as diretrizes curriculares aprovadas em 2004, que sinalizam claramente para um processo inovador de formação orientado por competências que, minimamente, possam ser construídas pelo estudante. (CNE, 2005) Para Zarifian (1999, p.33, apud ESTEVES, 2005) competência é “... tomar iniciativa e responsabilizar-se com o êxito, tanto no nível do indivíduo como de um grupo, diante de uma situação profissional”. Também, defendido por Le Boterf (1995), Dutra (2001) e Fleury (2004), observa-se que o enfoque predominante é o da competência em ação. Pode-se considerar que, para esses autores, a competência se desenvolve através de um processo histórico cumulativo a partir da combinação de recursos individuais com o enfrentamento de situações profissionais. Ou seja, propõem a existência de uma forte correlação entre o desenvolvimento de competências individuais e o contexto das competências organizacionais. Iniciativa, autonomia, capacidade empreendedora e disposição de entregar-se à organização, são elementos citados por Dutra (2001), sem os quais a competência não se realiza. A idéia de competência sendo construída na relação entre recursos individuais e circunstância organizacional fica clara quando se identifica que: Objetivos desafiantes e arriscados exigirão dos profissionais, espírito empreendedor e compromissos pessoais. Tarefas complexas, não-repetitivas, urgentes e de maior conteúdo intelectual serão desempenhadas por indivíduos mais adaptáveis, com um processo mental eficaz, uma disposição para mudar e correr riscos quando necessário, além de aptos a tomarem decisões, pressionados pela escassez do tempo. (CARVALHAL, 2002, P.15) Nesta perspectiva, competência implica num amplo conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, isto é, uma apropriação de diversos atributos pessoais que integram as competências do administrador, praticamente, impossível de se conseguir num ambiente em que predomine a reflexão de natureza teórica. A partir dessa contextualização sobre o conceito de competência, compreendendoa como algo que mobiliza de maneira sofisticada um amplo conjunto de atributos pessoais do administrador, cabe considerar alguns exemplos relativos a algumas das competências específicas do profissional de administração, que poderão ilustrar melhor a complexidade de competências mais gerais de gestão. Uma delas é a capacidade empreendedora. De natureza complexa, naturalmente, extrapola a dimensão meramente técnica. “Para um empreendedor, a coisa mais impor- Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 39 39 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas tante é estar num processo dinâmico de aprendizagem, em que possa continuar a aprender indefinidamente”. (FILION, 1991, p.64) A aludida complexidade dessa competência fica mais clara quando se constata que “os empreendedores podem gerar um entusiasmo contagiante em uma organização. Eles transmitem um senso de propósito e determinação, mostrando que o sucesso da organização vai, consideravelmente, além da competência técnica”. (BIRLEY; MYZUCA, 2001, p. 4) Zuanetti (2001, p.35) defende ainda que a qualificação do profissional atual está baseada menos no conjunto de capacidades técnicas e mais na capacidade de organizar, coordenar, inovar, agir em situações nem sempre previsíveis, decidir e cooperar com a equipe de trabalho. Especificamente em relação à capacidade de trabalhar em equipes e de liderá-las, tem-se claro que, também, envolve um amplo conjunto de outras habilidades. Em síntese, por um lado, conceitos que emergiram da literatura tomam a competência como um processo dialético no qual a entrega e o uso dos recursos individuais na arena organizacional reforça competências pessoais e constrói competências organizacionais. Por outro lado, revelou-se abrangente e complexo o conjunto de atributos necessários para constituir determinadas competências mais gerais de gestão. Estariam essas idéias centrais a limitar a potencialidade dos cursos de graduação, em seus ambientes, para prover efetivamente essas competências profissionais aos estudantes? Estariam as EJs antecipando, para o momento universitário, oportunidades e possibilidades de construção de algumas competências fundamentais que as instituições, pela própria natureza do processo didático pedagógico tradicional, não conseguem oferecer no curso de graduação? São essas algumas das questões que ensejaram o presente estudo. Entretanto, para que se pudesse avaliar, em termos de competências ou capacidades, a efetiva contribuição da EJ, buscou-se identificar na literatura um conjunto abrangente de atributos pessoais que, considerados em seu conjunto, podem expressar algumas das competências fundamentais ao administrador. Desta forma, com uma lista de atributos pessoais, seria possível captar junto aos estudantes a importância relativa atribuída a eles e com que graus ou intensidades eram desenvolvidos pelo curso de graduação e, também, pela EJ. Considerou-se o estudo de Berndt e Nagelschimdt (1995) coadunado com os objetivos. O referido estudo explorou o processo de formação profissional do administrador, procurando avaliar a pertinência dos cursos de administração para o exercício profissional. Naquela oportunidade, os autores buscaram identificar a percepção dos recém-formados em administração da USP a respeito da importância de um conjunto de atributos pessoais e a contribuição dada pelo curso para seu desenvolvimento. Apoiou-se numa lista de 35 atributos pessoais, tanto cognitivos quanto técnicos, considerados fundamentais para o desempenho profissional, e que eram comumente utilizados no recrutamento e seleção por importantes empresas brasileiras. (BERNDT; NAGELSCHIMDT, 1995, p.92) 40 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 40 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil Considerando-se a representatividade e a importante relação com as habilidades e competências que se pretendeu avaliar neste estudo, os atributos considerados no estudo de Berndt e Nagelschimdt (1995) serviram, com alguma adaptação, conforme apresentado no quadro 1, de base fundamental para o levantamento dos dados e descrição da contribuição das EJs para a formação profissional do administrador. Quadro 1 – 35 importantes atributos do administrador 1. Capacidade analítica para resolver problemas 2. Flexibilidade e capacidade de adaptação 3. Capacidade de liderança 19. Rapidez, muita energia 20. Conhecimento e habilidade para a computação 21. Sensibilidade às necessidades de outras pessoas 4. Habilidade para comunicação face a face 22. Capacidade para lidar com problemas de pessoas 5. Conhecimento do mundo dos negócios 23. Conhecimento daquilo que pode tocar as pessoas 6. Capacidade para tolerar pressões 7. Autoconfiança e estabilidade emocional 8. Maturidade suficiente para exercer o comando 9. Criatividade 10. Orientação para o trabalho em grupo 11. Saber o que quer da vida 12. Comunicação escrita 13. Facilidade de adaptação a terceiros 14. Habilidade intelectual 15. Clara visão do trabalho que se espera dele 16. Foco na carreira e ambição profissional 17. Habilidade para avaliar outras pessoas 24. Senso comum 25. Pouco academicismo e não-isolamento da realidade 26. Trabalho independente 27. Disposição para ser treinado 28. Devido respeito aos superiores 29. Valores favoráveis ao mundo empresarial 30. Habilidade para lidar com números 31. Habilidade para o aconselhamento 32. Compreensão dos princípios científicos 33. Conhecimento de técnicas estatísticas 34. Valores favoráveis ao setor público 35. Habilidade para usar processador de texto 18. Transmissão de uma boa imagem Fonte: Adaptado de Berndt e Nagelschimdt (1995) Assim, as idéias e conceitos aqui sistematizados subsidiaram o planejamento metodológico, especialmente, a formulação do instrumento de pesquisa para coleta de dados e posterior análise, visando captar a percepção dos empresários juniores sobre como as EJs e os próprios cursos de graduação estariam contribuindo para o provimento dessas competências essenciais ao administrador profissional. Aspectos Metodológicos O estudo caracteriza-se como exploratório e descritivo. Entendeu-se ser fundamental explorar esse fenômeno da EJ de maneira mais sistematizada, tendo em vista a escassez de estudos sobre o tema. Também, buscou-se apresentar as características do fenômeno, descrevendo-o em alguns de seus elementos. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 41 41 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas Quanto aos meios, a pesquisa é bibliográfica e de campo. A pesquisa bibliográfica foi utilizada em todas as fases do trabalho, com ênfase para Berndt e Nagelschimdt (1995) que ofereceram o conjunto básico de atributos apresentados como referência nesse estudo. Nesses e nos demais autores, foram buscados os conceitos que subsidiaram a modelagem da pesquisa e sua posterior análise. Para Vergara (2004), esse aporte bibliográfico assegura a consistência acadêmica e científica do trabalho. Muito dificilmente, um projeto se constitui como um corpo ideal que engloba todos os aspectos abrangentes da análise de determinado tema. Portanto, no escopo deste trabalho, buscou-se construir um perfil geral dos empresários juniores, identificando-se as principais características e motivações desses estudantes, e analisar as principais competências desenvolvidas através da experiência de participação na EJ, em contrapartida ao que parece ser, predominantemente, construído pelo curso. A amostra estudada constitui-se de empresários juniores membros de EJs de administração do Brasil. Foram consideradas apenas as EJs cadastradas no MC2, que é o ambiente web de colaboração e conhecimento da Brasil Júnior. No momento da aplicação dos questionários, em maio de 2004, foram identificadas no cadastro do MC2, cinqüenta e sete empresas juniores do curso de administração, com algumas poucas empresas multidisciplinares, que incluem outros cursos. Neste universo, verificou-se um total de, aproximadamente, 170 empresários juniores cadastrados, para os quais foram enviados os questionários. Obteve-se um retorno de 80 questionários, de 13 estados brasileiros, constituindo a amostra do estudo. A coleta de dados foi através de questionário distribuído pelo correio eletrônico. E, para a análise dos dados, utilizou-se o software SPSS que possibilitou uma análise estatística descritiva, com as médias obtidas para cada atributo. Para tratar as questões voltadas para captar as principais características e motivações do empresário júnior, utilizou-se a análise de freqüência. Como limitações, destacam-se: (1) o universo pesquisado restringiu-se às empresas juniores brasileiras da área de administração, não abrangendo EJs de outras áreas do conhecimento; e (2) os questionários foram direcionados a empresários juniores de EJs cadastradas no MC2, desconsiderando-se EJs não cadastradas neste sistema. Apresentação dos Resultados Os principais resultados do estudo são apresentados em três grupos distintos, consistentemente aos objetivos estabelecidos: motivações à participação; perfil do empresário júnior de administração brasileiro; e contribuição da empresa júnior. Como a motivação à participação pressupõe conhecimento sobre a existência da EJ, duas questões foram formuladas: como tomou conhecimento da EJ da qual participa; e quais os principais motivos que o estimulam a participar da EJ. 42 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 42 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil No primeiro caso, como pode ser observado no gráfico 1, os principais fatores que levam ao conhecimento e contato dos estudantes com as Ejs são as “relações de amizade com membros da EJ” e a “divulgação da EJ realizada pelo próprio curso de administração”, ambos com 51% das respostas. Um terceiro aspecto, também muito citado, com 35% das respostas, foi a “atuação ativa da EJ na sua IES”. Pode-se considerar, portanto, que existe um reforço recíproco entre os principais fatores que fazem com que os estudantes de Administração tenham contato com as Ejs. Quanto às principais motivações para participação na EJ, conforme gráfico 2, estão: “o interesse em praticar a teoria aprendida”, com 78,8% das respostas; e a “necessidade de desenvolver novas habilidades”, com 68,8%; Agregar valor ao curriculum vitae, com 51,3%; e vontade de empreender, com 47,5%, aparecem também como fatores de destaque. Gráfico 1 – O que motivou a sua participação na EJ? De modo geral, o interesse em agregar valor ao curriculum vitae pode significar uma atitude pró-ativa dos estudantes, que percebem e antecipam a valorização pelo mercado profissional dessa participação na EJ. Visando identificar as principais características que compõem o perfil do empresário júnior, levantaram-se algumas informações que dizem respeito ao estudante, à instituição de ensino superior e à EJ da qual participam. A EJ, como registrado anteriormente, é uma espécie de laboratório para praticar a teoria aprendida em sala de aula. Não há restrições quanto ao tempo de academia para ser um membro da EJ. Portanto, verificou-se que existem estudantes de todos os períodos acadêmicos envolvidos com a EJ. Conforme apresentado no gráfico 3, a maioria dos Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 43 43 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas entrevistados concentra-se no 2º e 3º ano da graduação, com 28,8% e 32,6% das respostas, respectivamente. Nota-se que esses estudantes procuram a EJ ainda no início do seu curso. Isso pode ser confirmado ao cruzar essa informação com a questão que se refere ao tempo de participação na EJ. A pesquisa mostrou que 76,3% dos entrevistados estão na EJ há mais de 6 meses, e 51,3% já está há mais de um ano. Esses dados permitem afirmar que a percepção dos estudantes sobre a contribuição da EJ é representativa da realidade dessa experiência, considerando o tempo e a intensidade com que esse relacionamento acontece. Outra possível razão para a maioria dos empresários juniores estarem concentrados nos períodos intermediários é que, com o passar do tempo acadêmico, é natural que os graduandos busquem alternativas como, estágios remunerados ou empregos formais. Nos últimos períodos do curso, o aluno sente-se mais preparado e o mercado mais disposto a absorvê-lo. Gráfico 2 – Ano acadêmico dos Participantes Existem, no entanto, aqueles que, por uma questão de oportunidade, ingressam na EJ da metade da sua graduação para o final. Parecem trazer uma contribuição importante para a EJ como um todo, pois, com o conhecimento e experiências técnicas adquiridas durante curso, podem enriquecer qualitativamente as discussões, o desenvolvimento dos membros e a qualidade dos projetos na prestação de serviço da EJ. Dos 80 empresários juniores pesquisados, 81,3% concluíram o segundo grau todo em escola particular. Essa característica releva uma questão muito discutida no Movimento: a não remuneração dos seus membros torna a EJ um movimento elitista? Embora a participação na EJ não impeça o estudante de combinar com outra atividade remunerada, a demanda por trabalho e dedicação é tal que acaba, em geral, por inviabilizar essa combinação. 44 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 44 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil Como apresentado no gráfico 4, 68,8% têm renda familiar acima de 15 salários mínimos e 42,5% têm renda familiar acima de 25 salários mínimos. Portanto, se pensarmos que são jovens estudantes, que concluíram o segundo grau integralmente em escola particular e com renda familiar dessa ordem, pode-se constatar que os empresários juniores pesquisados apresentam uma condição econômica elevada. Dados do DEAES/INEP/ MEC – ENC 2003 indicam que 70,8% dos estudantes de instituições públicas têm renda familiar até 10 salários mínimos. Gráfico 3 – Renda Familiar A questão da renda familiar relaciona-se com a discussão sobre a elitização do movimento.Trata-se de uma questão complexa que, embora não esteja no escopo deste estudo, é considerada polêmica e vem sendo muito debatida pelo MEJ. Acredita-se que o perfil geral do empresário júnior, aqui apresentado, poderá instigar estudos mais elaborados para auxiliar no aprofundamento do tema. Considerando-se domínio de idiomas, como sendo a capacidade de leitura e fluência na comunicação em idioma estrangeiro, verificou-se que 86% dos estudantes dominam o inglês e 29% o espanhol. Observou-se que a maciça maioria domina as principais ferramentas do Office:Word (100%), Excel (90%), Power Point (83,7%). Em síntese, o empresário júnior de administração no Brasil fala inglês e domina a informática para gestão; 61,3% estão na faixa etária de 20 a 22 anos; 63,8% residem com os pais; 85% estudam em instituição de ensino superior pública; e percebem um apoio adequado dessas IES à EJ, com 71,3%. Os estudantes entrevistados estão em IES de 13 Estados brasileiros, em sua maioria, do Paraná, Distrito Federal, São Paulo e Rio de Janeiro (55,1%). Como se pode constatar, há certa homogeneidade dos empresários juniores do curso de Administração do Brasil. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 45 45 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas Quanto a questão central, da contribuição da EJ na formação profissional do acadêmico de graduação em administração, utilizaram-se, na análise estatística descritiva, os dados médios como medida de tendência central das respostas obtidas junto aos estudantes da amostra. A contribuição da EJ foi analisada frente aos atributos pessoais importantes para a profissão do administrador e, também, frente à contribuição do curso para esta formação, a partir da percepção dos empresários juniores pesquisados. Para atender a este objetivo específico, os estudantes, tiveram que atribuir notas, numa escala de 1 a 4, para uma lista de 37 atributos, que correspondiam a diferentes capacidades habilidades e atitudes que acabam por constituir, potencialmente, as competências profissionais. Uma primeira análise indicou que a média geral de 3,34, atribuída para a importância dos atributos para a profissão, foi superior à média geral de 2,47 para a contribuição do curso na construção dessas habilidades e muito próxima da média geral de 3,32 para a contribuição da EJ no desenvolvimento desses atributos. Esses resultados podem indicar que, para os empresários juniores, a capacidade do curso de administração em prover e/ou aperfeiçoar o conjunto de atributos utilizado no estudo, está aquém do patamar de importância que esses atributos têm para a profissão do administrador. Por outro lado, em termos da média global, pode-se considerar que a contribuição da EJ para a construção e/ou aperfeiçoamento desses atributos, parece ser compatível à importância a eles atribuída. Reforçando os achados de Berndt & Nagelschimdt (1995), a análise das dispersões nas avaliações, considerando o coeficiente de variação da mediana, apresenta maior convergência de opinião quanto à importância dos atributos para a profissão do administrador, e quanto à contribuição da EJ para construí-los, do que quanto à contribuição do curso de administração para os mesmos atributos profissionais. Os coeficientes de variação da mediana foram: 0,08 para a importância dos atributos para a profissão; 0,10 para a contribuição da EJ; e 0,13 para a contribuição do curso para desenvolver aqueles mesmos atributos. No entanto, nos 3 aspectos apresentados, pode-se considerar que o grau de dispersão foi baixo indicando alta representatividade nos valores apresentados. No quadro 2, apresentam-se, em ordem decrescente, os 10 principais atributos profissionais nas 3 perspectivas estudadas. Observa-se, pelas células hachuradas, que dentre os 10 atributos considerados mais importantes para a profissão, 7 deles, também estão entre as maiores contribuições da EJ. Para os empresários juniores, num cotejamento entre importância e contribuição do curso, apenas 2 dos mais importantes atributos para o exercício profissional estão entre as 10 principais contribuições do curso: orientação para o trabalho em grupo; e conhecimento do mundo dos negócios. 46 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 46 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil Quadro 2 – Os 10 principais atributos Importância p/ Profissão Atributos Média Capacidade analítica para resolver problemas 3,81 Pró-atividade 3,75 Flexibilidade e capacidade de adaptação 3,70 Habilidade para comunicação face a face 3,66 Orientação para o trabalho em grupo Contribuição da EJ Atributos Pró-atividade Média Contribuição do Curso Atributos Média 3,81 Habilidade intelectual 3,16 3,80 Compreensão dos princípios científicos 3,09 3,79 Orientação para o trabalho em grupo 3,00 Orientação para o trabalho em grupo 3,71 Comunicação escrita 3,00 3,66 Capacidade Empreendedora 3,71 Conhecimento das técnicas estatísticas 2,94 Capacidade Empreendedora 3,60 Capacidade de Liderança 3,61 Habilidade para lidar com números 2,89 Capacidade de Liderança 3,59 Flexibilidade e capacidade de adaptação 3,60 Conhecimento do mundo dos negócios 2,79 Conhecimento do mundo dos negócios 3,58 Transmissão de uma boa imagem 3,54 Valores favoráveis ao mundo empresarial 2,73 Maturidade suficiente para exercer o comando 3,54 Rapidez, muita energia 3,53 Devido respeito aos superiores 2,70 Disposição para ser treinado 3,50 Valores favoráveis ao mundo empresarial 3,51 Foco em resultado 2,63 Habilidade para comunicação face a face Capacidade analítica para resolver problemas As maiores discrepâncias encontradas nas respostas dos alunos entre a importância para a profissão e a contribuição do curso foram: Autoconfiança e estabilidade emocional (1,54); Capacidade de Liderança (1,41); Maturidade suficiente para exercer o comando (1,40); Flexibilidade e capacidade de adaptação (1,35); Pró-atividade (1,30). A alta discrepância em atributos de natureza pessoal pode ser, parcialmente, explicada pelo fato de esses alunos estarem na faixa etária de 20 a 22 anos. Estudos dão conta que, nessa idade, o jovem ainda sente a necessidade de um auxílio para seu desenvolvimento pessoal. Embora o curso contribua para dotá-los de instrumental de trabalho, contribui menos para seu amadurecimento como seres humanos. Segundo Berndt e Nagelschimdt (1995), são exigidos dos executivos, assim como de todos os seres humanos, maturidade emocional, energia para o trabalho, hábitos saudáveis e capacidade para lidar com as pessoas. Essa busca por pessoas capazes e competentes, privilegia outras qualidades além das meramente técnicas. Obviamente, a qualificação técnica é muito importante para o exercício profissional e a pesquisa aponta para o bom cumprimento dessa função pela academia. Em relação a esses atributos, encontrou-se uma média próxima a 3,00 para a contribuição do curso. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 47 47 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas Analisando, no entanto, os resultados da pesquisa frente às três áreas de habilidades gerenciais necessárias ao processo de administração: técnica, humana e conceitual, conforme a classificação desenvolvida por Katz (1955, p.33-42), que continua sendo uma referência importante nos dias de hoje (NETO, 2004), pode-se esperar que uma estratégia de ação conjunta, do curso e da EJ, apresenta alto potencial para produzir efeitos combinados que contemplariam uma formação adequada para o conjunto desses atributos. Para permitir uma livre manifestação ao empresário júnior pesquisado sobre a EJ, aparecem no questionário, duas perguntas abertas referentes à principal contribuição e a principal falha e/ou dificuldade da EJ. No que diz respeito à contribuição positiva da EJ, as mais citadas foram: crescimento pessoal e profissional, com 36,3%; praticar a teoria aprendida em sala de aula, com 32,5%; o desenvolvimento do espírito empreendedor 12,5% e a pró-atividade dos participantes, 11,3%. Outras contribuições interessantes citadas foram: a ampliação da rede de contatos; o relacionamento interpessoal; a liderança; a oportunidade de o aluno experimentar situações da vida profissional num momento aonde as pessoas ainda têm certa tolerância; e desenvolver a capacidade de análise crítica. Quando à principal falha/dificuldade encontrada na EJ, aspectos relacionados à gestão do conhecimento e à comunicação interna foram citados por 22,5% dos respondentes, a alta rotatividade, por 15%, e a falta de apoio das IES, por 10%. Observase que pode haver uma relação entre a rotatividade e a deficiência na gestão do conhecimento. Embora a permanência do estudante na EJ seja suficiente para o aporte individual de algumas habilidades e competências, persistem dificuldades em termos do repasse do conhecimento consolidado coletivamente, o que pode estar impedindo que a curva de aprendizado da empresa se mantenha em constante ascendência. Outras dificuldades enfrentadas pela EJ, na opinião dos respondentes, são: algum descrédito por parte das empresas e sociedade em geral; falta de maior apoio dos docentes; o acesso restrito a poucos alunos nas Ejs. De modo geral, os resultados apresentados ressaltam a importância da contribuição da EJ como um processo acadêmico complementar fundamental na formação profissional do aluno de graduação. Ao mesmo tempo, os resultados reforçam a oportunidade de se proceder a reflexões sobre os projetos pedagógicos dos cursos de Administração no país. Esses aspectos estão a alertar para a predominância do repasse do conhecimento técnico-instrumental nos cursos. Conclusão A pesquisa realizada teve como objetivo geral descrever a contribuição da EJ na formação profissional do administrador. A formação profissional de qualidade requer o desenvolvimento de atributos pessoais fundamentais, que foram identificados na revisão 48 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 48 11/3/2007, 19:35 Contribuição da Empresa Júnior de Administração no Brasil bibliográfica, verificados na aplicação do questionário e, pode-se concluir, seu provimento é contemplado, tanto na academia quanto na EJ, com diferentes intensidades. A relevância deste estudo está, justamente, em estudar e identificar a fundamental contribuição da EJ na formação profissional, avançando para além do conceito de EJ como um espaço para aplicação prática dos conhecimentos teóricos recebidos em sala de aula e analisando-a como instrumento essencial para o desenvolvimento da capacidade de análise crítica, da liderança, do espírito empreendedor, do espírito de cooperação, em todas as esferas de relacionamento. Mesmo com as inúmeras oportunidades para os estudantes desenvolverem muitas das competências essenciais para o exercício profissional, em diversas circunstâncias da vida pessoal, cabe às instituições de ensino superior uma parcela importante dessa responsabilidade. Para Zuanetti e outros (2001, p.36), “a elas cabe estimular o desenvolvimento das capacidades sócio-comunicativas dos futuros profissionais, através de dinâmicas de grupo, trabalhos em equipe, tomando tais atividades como laboratórios de aprendizagem”. Nessa perspectiva, a essência das atividades desenvolvidas pela EJ apresenta importante suporte a essa necessidade. O resultado da pesquisa permite extrapolar seus objetivos e considerar que, embora aparentemente, os cursos de Administração no Brasil estejam buscando a atualização dos seus currículos, no sentido de aproximar a escola à realidade do mercado, as contribuições atuais dos mesmos apresentam-se ainda em descompasso com os novos desafios de uma sociedade globalizada. Cada vez mais, essa nova sociedade vem exigindo profissionais pró-ativos e que reúnam habilidades relacionadas à adaptação à mudança, à inovação, à visão empreendedora, à visão sistêmica das organizações. De modo geral, pode-se afirmar que, embora numa perspectiva complementar e indissociável dos cursos onde estão inseridas, as empresas juniores vêm provendo de maneira importante algumas dessas habilidades. Um aspecto, que chama à atenção, é que as empresas juniores enquanto conceito, princípios e valores, estão alcançando seus objetivos, pois estão conseguindo produzir satisfação àqueles que podem ser considerados seus principais “clientes”, ou seja, aos empresários juniores. Isto pode ser verificado pelas altas médias obtidas pela contribuição da EJ nos atributos considerados mais importantes. É fundamental ressaltar, no entanto, que ao realizar um cotejamento entre as contribuições do curso e as da EJ, na formação profissional do acadêmico de graduação, não se pretendeu indicar opções alternativas para a essa formação e sim, pelos resultados expostos, alertar para a efetiva complementaridade à função da academia, que a EJ mostrou oferecer. Portanto, pode-se esperar que as IES que articularem um projeto pedagógico adequado e o estímulo ao desenvolvimento da EJ em seus cursos de Administração estarão passos à frente na formação com qualidade de profissionais aptos a enfrentarem a nova Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 49 49 11/3/2007, 19:35 Mariana Carvalho Lopes, Paulo da Costa Lopes, Zuleica Amaral Alves de Lima e José Carlos Dalmas realidade do ambiente de negócios. A formação profissional num ambiente como esse, poderá atender às exigências atuais do mercado de trabalho, além de oferecer possibilidades de preparar o indivíduo para a vida social e para a cidadania. Afinal, aprender a se comunicar e a viver em grupo também implica novas responsabilidades sociais. Nessa perspectiva, a contribuição da EJ para o estudante vai além da aplicação prática dos conhecimentos teóricos recebidos em sala de aula. Funciona, também, como um instrumento essencial para o desenvolvimento da capacidade de análise crítica, da liderança, do espírito empreendedor, do espírito de cooperação, em todas as esferas de relacionamento, promovendo a construção e o desenvolvimento de habilidades e competências imprescindíveis no nível pessoal e que são incorporados nas suas atitudes, nos seus valores e princípios. Além disso, cabe considerar o importante efeito da presença do aluno integrante da EJ na sala de aula. A busca por resposta às questões vivenciadas em situações reais de gestão, associada à ampliação da capacidade de entendimento e aplicação de aspectos teóricos relevantes, demandam competências daqueles que respondem pela disseminação de conhecimento. Esses aspectos acabam por elevar compulsoriamente, a qualidade do processo de ensino e aprendizagem nos cursos de administração das IES, evidenciando a importância dessa atividade em seus projetos pedagógicos. Referências BERNDT, A.; NAGELSCHMIDT, A. M. 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[email protected] Zuleica Amaral Alves de Lima é Professora-Mestre do Departamento de Administração da UEL - Universidade Estadual de Londrina. [email protected] José Carlos Dalmas é Professor-Doutor do Departamento de Matemática Aplicada da UEL - Universidade Estadual de Londrina. [email protected] 52 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 52 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná From Teacher to Manageman: an analysis of the profile of the Administration Courses Managemen of the upper Education Institutions from Paraná West Silvana Anita Walter [email protected] Daniela Torres da Rocha Pontífica Universidade do Paraná - PUCPR Campus Toledo CEP: 85960-000 Marechal Cândido Rondon - Paraná - Brasil Maria José Carvalho de Souza Domingues Gérson Tontini Universidade Regional de Blumenal - FURB CEP: 89012-900 Blumenau - Santa Catarina - Brasil Resumo Este artigo tem por objetivo identificar e analisar o perfil e as características intraempreendedoras de 27 gestores responsáveis por 41 cursos de graduação em Administração de 20 Instituições de Ensino Superior do Oeste do Paraná, sendo parte integrante de um projeto que investiga o perfil intraempreendedor dos gestores de todos os cursos de Administração do Paraná e de Santa Catarina. Para obtenção dos dados, utilizouse, como principal método, a pesquisa exploratória, descritiva e do tipo “survey” e, como instrumento de coleta de dados, um questionário. Como principais resultados, constatou- Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 53 53 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini se que os gestores são, em sua maioria, homens, com grau de titulação de Mestre e que seu principal vínculo empregatício é com a instituição em que atuam como gestores. O pouco tempo de dedicação à gestão, discrepâncias entre ações desejadas e efetivamente realizadas e demasiado enfoque interno de suas ações são aspectos que devem ser melhorados. Como principais atividades dos gestores, observaram-se: ações focadas nos professores, nos alunos, em atividades de Projeto Político-Pedagógico e na capacitação docente. O estudo evidenciou as características intraempreendedoras dos gestores. Palavras-Chave: Professores, administração, perfil dos gestores Abstract This article has for objective to identify and to analyze the profile and entrepreneur characteristics of 27 managers of 41 undergraduate programs in business administration in 20 universities of the West region of Paraná.This work is part of a project that investigates the managers’ entrepreneur profile of all business administration programs from PR and SC. The research methodology principal is of survey type using a self filled questionnaire for collection of data. As main results, it was verified that the managers are, in majority, men with Master degree. Their principal employment link is with the institution where they act as managers. The little time of dedication to the administration, discrepancies among wanted and indeed accomplished actions and too much internal focus of their actions are aspects that should be improved. As the managers’ main activities were actions focused at teachers, at students, at Program organization activities and training. The study also evidences that the researched managers present entrepreneur characteristics. Key-words: Teachers, administration, managemen profile 1. Introdução Muitas organizações, em todo o mundo, têm buscado um novo perfil de liderança. As empresas buscam não apenas administradores ou burocratas profissionais, mas líderes que tenham soluções criativas, que prosperem na gerência da mudança e que tenham visão de futuro, de si mesmos, de seus clientes e de sua organização, ou seja, que empreendam. A universidade, enquanto organização complexa tem passado por um processo de reestruturação e adaptação frente a diversos desafios, destacando-se: a expansão do sistema de ensino superior, o aumento do controle externo via avaliações, as regulamentações em decorrência da Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a utilização das tecnologias de informação e comunicação, bem como a necessidade de padrões gerenciais mais eficientes e eficazes. 54 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 54 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná A expansão do sistema universitário e, principalmente, dos cursos de Administração em todo o país gerou expectativa quanto à qualidade do ensino nessa área do conhecimento. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2004), existiam, no Brasil, em 2004, 3.016 cursos de Administração, sendo que, aproximadamente, 190 estavam instalados no Paraná. Nas Instituições de Ensino Superior (IES), esses desafios e expectativas são respondidos pelos seus principais dirigentes ou, como são chamados atualmente, gestores. Desses gestores universitários, que são, em sua maioria, professores, espera-se um desempenho gerencial capaz de manter sua instituição competitiva frente às pressões ambientais internas e externas. Estudos já realizados sobre a função gerencial de docentes gestores de universidades públicas e privadas brasileiras revelam que suas funções estão diluídas em práticas sociais e que as indefinições, a falta de planejamento e a improvisação têm sido comuns. (SILVA, 2002; MARRA; MELO, 2003; KANAN; ZANELLI, 2004). Neste contexto, ao ponderar sobre o reflexo do perfil e das características intraempreendoras dos gestores na qualidade dos cursos, considerou-se importante visualizar esse perfil e as ações empreendidas pelos gestores das IES localizadas no Paraná, iniciando-se pela região Oeste. Desta forma, este artigo apresenta os resultados de uma pesquisa realizada nas 20 IES localizadas na região Oeste do Paraná, com o objetivo de identificar o perfil dos gestores dos cursos de Administração destas IES, o exercício da função gerencial e analisar as características intraempreendedoras desses gestores, com base em um instrumento de coleta de dados adaptado, segundo Walter e outros (2005a), de Mastella (2005) e de Dornelas (2003). 2. De Professor a Gestor de Curso As IES possuem objetivos e estruturas organizacionais por meio das quais distribuem responsabilidades e competências, recursos e tecnologias e produzem serviços demandados pela sociedade (MEYER JR., 2000). Para que isso ocorra de forma ordenada, é necessário que esses objetivos, ações e resultados sejam integrados por meio de pessoas. Para Meyer Jr. (2000), o papel da Administração e de seus gestores reveste-se, atualmente, de maior importância frente aos seguintes fatores: o volume significativo de recursos administrados; o grande número de instituições que integram o sistema; a quantidade de pessoas que participam direta ou indiretamente das atividades do sistema; a necessidade de adequação das instituições frente à nova realidade caracterizada por mudanças que influenciam a essência do trabalho acadêmico; a forma da prestação de seus serviços; e o reconhecimento da importância da educação superior para o desenvolvimento do país. Diante das pressões apontadas, os cargos de chefia ou de gerência passam a ter uma responsabilidade ainda maior, pois precisam responder a esses desafios. Para Meyer Jr. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 55 55 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini (2000), o grande problema das universidades é transpor o culto do gestor amador e político. Além de Meyer Jr. (2000), Silva (2002), Marra e Melo (2003) citam que, na maioria dos casos estudados, não há adequação entre a formação técnica do professor e as práticas gerenciais. Justifica-se essa afirmação com o fato de que, na maioria, os gestores de curso adquirem habilidades gerenciais por meio de erros e acertos, ou seja, na prática. O desempenho esperado do gestor, para Silva (2002), corresponde ao cumprimento das atribuições definidas pela instituição. E, como resultado do comportamento empreendedor dos seus gestores, as organizações percebem uma revitalização de inovação, estratégias, criatividade e desenvolvimento administrativo. (KURATKO e outros, 1993). Já Meyer Jr. (2000) aponta como características importantes do professor-gestor: visão de futuro, domínio da tecnologia, visão estratégica, capacidade de decisão, prática de empowerment, gerenciamento de informações e o ato de empreender e participar. Neste contexto, percebe-se a importância das características pessoais de comportamento dos gestores. 3. Do Empreendorismo ao Intraempreendedorismo As principais concepções sobre o empreendedor foram desenvolvidas teoricamente por Schumpeter em 1911, considerado, na literatura, como a pessoa que melhor analisou o empreendedor e sua inserção na economia (BARBIERI e outros, 2003). Schumpeter (1982) assegura que o empreendedor desafia o mercado, rompendo com o equilíbrio existente e aproveitando oportunidades para criar coisas novas e diferentes. Na década de 1960, os comportamentalistas, ao estudarem o empreendedor como pessoa, ampliaram o campo do empreendedorismo. Outra teoria de destaque na área é de McClelland (1972), fundamentada na motivação psicológica, e que resultou em um dos poucos instrumentos de coleta de dados que mensura as características comportamentais dos empreendedores. Timmons, Smollen e Dingee (1977) salientam que o empreendedorismo é uma revolução silenciosa que será para o século XXI mais do que a revolução industrial foi para o século XX. No Brasil, o movimento do empreendedorismo surgiu no início da década de 1980, nos cursos de administração de empresas. Com o enfoque diferenciado do termo empreendedorismo relacionado à criação de novas empresas (empreendedor start-up), o intraempreendedorismo ou empreendedorismo corporativo, foco deste estudo, relaciona-se, segundo Dornelas (2003), às ações empreendedoras desenvolvidas dentro de uma organização já existente. Para Pinchot (1989) e Filion (1999), o que diferencia o intraempreendedor do empreendedor é que o primeiro atua de forma empreendedora inserido em uma organização já existente. 56 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 56 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná Pinchot (1989) definiu intrapreneur ou intraempreendedor como aquele que, mesmo sem deixar a organização em que atua, realiza atos de criação ou inovação típicos dos empreendedores. “Intraempreendedores são empregados que possuem iniciativas novas em organizações estabelecidas e fazem alguma diferença material. Eles propõem idéias novas e valiosas que eles são capazes de desenvolver, em um ambiente cultural favorável”. (THOMPSON, 2004, p. 246). O termo intraempreendedor designa, portanto, o empreendedor corporativo, nesse caso, os gestores de cursos de Administração. Para muitos pesquisadores, os empreendedores corporativos possuem, praticamente, as mesmas características dos empreendedores start-up. Hornsby e outros (1993) afirmam que, apesar de muitas organizações não avaliarem as características de personalidade de seus empregados, é importante reconhecer sua influência no comportamento inovador. Eles também complementam que o comportamento intraempreendedor pode surgir por meio de treinamento ou de outras oportunidades intraempreendedoras. Para Walter e outros (2005b), o intraempreendedor apresenta estilo mais pró-ativo, visionário e flexível às mudanças. Esses pesquisadores identificaram em estudo teórico que necessidade de apoio e habilidade de ensinar os outros foram duas características citadas apenas para os intraempreendedores. Segundo Pinchot (1989), os intraempreendedores são visionários; têm necessidade de agir; são dedicados; estabelecem metas autodeterminadas; estabelecem altos padrões internos; superam erros e fracassos; administram riscos e possuem lealdade em seus negócios. Kuratko, Montagno e Hornsby (1990) verificaram que os intraempreendedores são motivados, mas que também necessitam do apoio e do reconhecimento da organização para atuarem de forma empreendedora. Desta forma, segundo Dornelas (2003), o intraempreendedor, ao identificar, desenvolver, capturar e programar novas oportunidades de negócio requer que a organização faça mudanças na forma como os recursos são empregados, criando, assim, novas competências empresariais e buscando, por meio dessas novas competências, novas possibilidades de posicionamento no mercado, bem como um compromisso de longo prazo e criação de valor para os agentes internos e externos à organização, criatividade, motivação e superação. Como a responsabilidade pelos resultados do desempenho pedagógico e administrativo dos cursos de graduação é, primeiramente, dos seus gestores, estes possuem uma função complexa e decisiva na qualidade desses cursos. Assim, este estudo traz uma reflexão sobre as características intraempreendedoras desses gestores, por meio da adaptação de dois questionários - o de Dornelas (2003), um dos poucos instrumentos que medem o perfil intraempreendedor e o de Mastella (2005), de diagnóstico de gestão segundo Walter e outros (2005a). Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 57 57 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini 4. Método da Pesquisa Para alcançar os objetivos propostos neste estudo, utilizou-se como método a pesquisa exploratória de caráter descritivo, do tipo levantamento que, de acordo com Gil (1999), descreve uma situação real e específica. Neste caso, ainda segundo o mesmo autor, é possível analisar os dados por meio de comparações e testes estatísticos das diferenças encontradas entre os subgrupos, bem como podem ser realizadas análises estatísticas mais elaboradas. Neste estudo, utilizou-se como instrumento de coleta de dados um questionário que foi respondido pelos gestores dos cursos de Administração das IES pesquisadas. Dividiu-se o questionário para investigação do perfil dos gestores em três etapas distintas. Na primeira etapa, investigaram-se questões relativas ao perfil dos gestores, tendo como base o diagnóstico de gestão de cursos de Administração de Mastella (2005). Na segunda etapa, pesquisaram-se as características intraempreendedoras dos gestores a partir da adaptação do questionário de Dornelas (2003), já aplicado e validado pela pesquisa de Walter e outros (2005a). Também se pesquisaram, na terceira etapa do questionário, por meio de método qualitativo, as principais ações dos gestores. Segundo Oliveira (2001), a pesquisa qualitativa pode ser utilizada para estudos dirigidos à análise de atitudes, motivações, expectativas e valores. Este estudo é parte integrante de uma pesquisa que identificará, por regiões, o perfil dos gestores dos cursos de Administração dos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Iniciou-se a primeira fase da pesquisa em 2005, em IES de SC. O trabalho ora apresentado relata a segunda fase da pesquisa que objetiva identificar o perfil intraempreendedor dos gestores do Paraná. Atualmente, existem 239 cursos de Administração no Paraná e um total de 189 instituições de ensino, conforme dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP, 2006). A população desta pesquisa constituiu-se, portanto, dos gestores dos cursos de graduação em Administração da região Oeste do PR, envolvendo todas as suas habilitações. Direcionou-se a pesquisa aos 27 gestores responsáveis por 41 cursos de Administração de 20 IES, distribuídos em 24 campi. As IES pesquisadas foram: UNIALFA, FAA, FAG, FAC, FACITEC, FEPI, ISEPE, FAESI, UDC, FACEMED, FALURB, FASUL, UNIAMÉRICA, UNIFOZ, PUCPR Campus Toledo, UNIVEL, UNIMEO, UNIPAN, UNIOESTE e UNIPAR. Anteriormente ao envio dos questionários, realizaram-se contatos telefônicos com os pesquisados. Após o primeiro contato com os gestores, enviaram-se, por e-mail, os questionários. No decorrer do período em que se realizou a coleta de dados, abril e maio de 2006, se estabeleceram novos contatos telefônicos com o intuito de elevar o índice de respostas e, conseqüentemente, a qualidade desta pesquisa. Obteve-se, ao final, um significativo retorno, totalizando 100% de questionários. 58 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 58 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná Realizou-se a análise dos dados por meio de três métodos distintos utilizados nas três etapas da pesquisa: a primeira, que se refere ao perfil do gestor do curso; a segunda, às suas características intraempreendedoras; e a terceira, às principais ações dos gestores. Na primeira etapa, realizaram-se análises das características dos gestores. Na segunda etapa, que se refere ao teste do perfil intraempreendedor ou empreendedor corporativo, adaptado de Dornelas (2003), analisaram-se as características intraempreendedoras desses gestores. Classificaram-se os gestores de acordo com a pontuação atingida no teste, em que os gestores que pontuarem entre 90 e 119 pontos, são classificados, conforme Dornelas (2003), como detentores de algumas características intraempreendedoras e os que atingirem 120 pontos apresentam características comuns aos intraempreendedores. Essa segunda etapa caracterizou-se como uma auto-avaliação do gestor referente às características reunidas em cinco dimensões – a) comprometimento e determinação; b) obsessão pelas oportunidades; c) tolerância ao risco, ambigüidade e incertezas; d) criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação; e e) motivação e superação – divididas em três blocos distintos: o primeiro relaciona-se à importância que as IES atribuem a determinadas características dos gestores, o segundo, ao desempenho que sua instituição espera e o terceiro, à auto-avaliação atual do desempenho do gestor. Na terceira etapa, analisaram-se as ações desenvolvidas pelos gestores, consideradas pelos mesmos, as mais relevantes. Essas ações foram categorizadas em 16 dimensões por meio de análise qualitativa e representadas de acordo com a freqüência por meio de um gráfico, comparado com o resultado da segunda etapa do questionário, isto é, com a autoavaliação. Para o tratamento dos dados, utilizou-se planilha eletrônica (Excell). Utilizouse, também, programa estatístico (software SPSS), aplicando-se o teste-f para verificar a homogeneidade de variância entre as amostras, em que as acima de 0,05 são consideradas equivalentes, bem como o teste-t para verificar a diferença das médias com variâncias equivalentes para os que apresentaram teste-f acima de 0,05 e com variância diferente para os que apresentarem o teste-f abaixo de 0,05, das dimensões a, b, c, d e e investigadas na segunda etapa do questionário. 5. Análise e Interpretação dos Dados A análise dos dados apresenta-se dividida em três seções. A primeira refere-se ao perfil do gestor do curso; a segunda, às suas características intraempreendedoras; e a terceira, às ações mais importantes realizadas por esses gestores. 5.1 O perfil do gestor do curso de administração Neste tópico, apresenta-se a análise dos dados pessoais, das características e das atividades dos gestores. A respeito da faixa etária dos gestores, 7,4% têm idade entre 21 e Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 59 59 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini 30 anos; 55,6%, de 31 a 40 anos; 29,6%, de 41 a 50 anos; e 7,4%, de 51 a 60 anos. A maior concentração na faixa de 31 a 40 anos revela que os gestores são, em sua maioria, jovens. Em relação ao gênero, a maioria, 70% dos gestores são homens e apenas 30% dos cargos são ocupados por mulheres. A nomenclatura atribuída ao cargo dos gestores responsáveis pelos cursos, em 3,7% da IES, é de Chefe de Departamento; 3,7%, de Diretor de Curso; e 92,6%, de Coordenador de Curso, fato que acompanha a nomenclatura encontrada na pesquisa de Mastella (2005) e Walter e outros (2005a). A tabela 1 apresenta a formação dos gestores dos cursos de Administração. Tabela 1 - Formação dos Gestores dos Cursos Graduação Especialização Mestrado Doutorado Administração Outra Administração Outra Administração Outra Administração Outra 81% 26% 48% 15% 52% 37% 0% 15% Fonte: Dados da pesquisa. Conforme os dados da Tabela 1, a maioria dos gestores de curso das IES pesquisadas possui formação na área de atuação, o que comprova o alinhamento com as diretrizes do Ministério da Educação (MEC). Os dados mostram que 52% dos gestores têm o título de Mestre em Administração. Contudo, apenas 15% dos gestores possuem doutorado, e nenhum possui doutorado na área. O tempo de atuação dos gestores e existência dos cursos são mostrados na Tabela 2. 60 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 60 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná Tabela 2 - Tempo de atuação dos gestores de curso e tempo de existência dos cursos a) Atuação anterio como gestor em outras IES b) Atuação como gestor na IES atual c) Carga horária semanal dedicada à gestão de curso d) Tempo de existência dos cursos Nenhum 51,9% Menos de 1 22,2% Até 10 horas 14,8% Até 5 44% 1 ano 11% 1 ano 7,4% Até 20 horas 40,7% 6 a 10 37% 2 anos 14,8% 2 anos 11,1% Até 30 horas 7,4% 11 a 20 4% 5 anos 11% 3 anos 29,6% Até 40 horas 37,0% 21 a 30 7% Acima de 40 0% 31 a 40 4% Sem resposta 4% 6 anos 4% 4 anos 7,4% Acima de 10 4% 5 anos 11,1% Sem resposta 4% 6 anos 3,7% 7 anos 3,7% 10 anos 4% Fonte: Dados da pesquisa. De acordo com a primeira questão da Tabela 2, 51,9% dos gestores iniciaram sua atuação na função de gestão na IES com a qual se encontram vinculados atualmente, ou seja, não possuem experiência anterior como gestores. Os dados da segunda questão do mesmo quadro também acompanham a pesquisa de Mastella (2005) e a de Walter e outros (2005a), as quais revelam que a maioria dos gestores está pouco tempo na função. No Oeste do Paraná, 88,80% dos gestores exercem a função há menos de cinco anos. Com relação à carga horária de dedicação à gestão do curso de Administração, a Tabela mostra que 40,7% dos coordenadores têm dedicação de até 20 horas semanais. Conforme política do INEP, esse dado é preocupante e corrobora a pesquisa de Marra e Mello (2003); Kanan e Zanelli (2004) sobre a problemática da conciliação das atividades administrativas com as atividades docentes. O pouco tempo de dedicação à coordenação do curso pode repercutir negativamente nos resultados das atividades de gestão, pois lecionar e gerir um curso de graduação acarreta uma sobrecarga de trabalho, podendo, conseqüentemente, dificultar o desenvolvimento de projetos, de ações inovadoras e o relacionamento com docentes, funcionários e superiores hierárquicos. Observa-se, ainda, que 81% dos cursos de Administração das IES pesquisadas existem há menos de dez anos e que apenas 15% em um período superior a dez anos. Na Tabela 3, pode-se observar a atuação dos gestores como docentes. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 61 61 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini Tabela 3 - Atuação do gestor como docente a) Tempo de atuação como docente na carreira b)Tempo de atuação como docente na IES atual c)Carga horária semanal dedicada à docência d)Atuação como docente em outra IES 2 anos 3,7% Menos de 1 7% Até 10 horas 51,9% Não 81% 3 anos 7,4% 1 ano 11% Até 20 horas 29,6% Sim 19% 4 anos 3,7% 2 anos 7,4% Até 30 horas 0,0% 5 anos 18,5% 3 anos 18,5% Até 40 horas 14,8% 6 anos 3,7% 4 anos 11,1% Acima de 40 0% 7 anos 3,7% 5 anos 14,8% Nenhuma 3,7% 8 anos 18,5% 6 anos 3,7% 9 anos 3,7% 7 anos 3,7% 10 anos 11,1% 8 anos 11,1% Acima de 10 anos 22,2% 10 anos 3,7% Sem resposta 3,7% Acima de 10 anos 3,7% Sem resposta 3,7% Fonte: Dados da pesquisa. Quanto à primeira questão da Tabela 3, é possível constatar que 85,1% dos gestores possuem considerável experiência enquanto docentes, visto atuarem há mais de cinco anos e, 55,5% atuarem, há no mínimo, oito anos. Na segunda questão, observa-se que a atuação dos gestores como docentes na IES atual está distribuída em quase todos os períodos e que, dos 22,2% dos gestores que atuam há mais de dez anos na carreira, 3,7% atuam esse período na IES à qual se encontram vinculados atualmente. A carga horária semanal dedicada à docência, para 51,9% dos pesquisados, é de, até, dez horas, e a carga horária de 29,6% concentra-se em, até, 20 horas. Pode-se observar que 81% dos gestores atuam como professores somente na IES onde exercem cargo de gestão. A Tabela 4 apresenta a freqüência das ações executadas pelos gestores. 62 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 62 11/3/2007, 19:35 arte_angrad.pmd 63 3,70 3,70 3,70 3,70 0,00 Faz pesquisa de mercado a fim de responder de maneira adequada à demanda Faz sondagem do ambiente frente às IES concorrentes Faz palestras e workshops com empresários da região Acompanha a inserção de alunos no mercado de trabalho Representação externa da instituição Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 11/3/2007, 19:35 3,70 Estimula o desenvolvimento da pesquisa na IES Atendimento aos alunos 0,00 0,00 Envolve seus alunos em ações sociais junto à comunidade AÇÕES FOCADAS NOS ALUNOS 0,00 Promove atividades de extensão junto à comunidade. PESQUISA E EXTENSÃO 7,41 Nunca (%) Faz visitas às empresas para conhecer o perfil profissional AÇÕES VOLTADAS AO MERCADO Freqüência de ações executadas pelo gestor do curso de Administração 0,00 11,11 11,11 3,70 11,11 14,81 14,81 3,70 22,22 29,63 3,70 11,11 25,93 25,93 25,93 33,33 25,93 33,33 29,63 37,04 7,41 33,33 29,63 51,85 25,93 29,63 48,15 25,93 37,04 22,22 Raramente Eventualmente Freqüenteme(%) (%) nte%) 88,89 37,04 29,63 18,52 37,04 18,52 7,41 33,33 3,70 3,70 Sempre (%) 3,85 2,81 2,70 2,85 2,89 2,44 2,41 2,81 2,07 1,85 Média Ponderada 3,85 2,79 2,41 Média 1 6 7 Classificação De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná Tabela 4 - Ações executadas pelos gestores dos cursos de Administração 63 arte_angrad.pmd 64 64 3,70 3,70 3,70 Faz sondagem do ambiente frente às IES concorrentes Faz palestras e workshops com empresários da região Acompanha a inserção de alunos no mercado de trabalho 3,70 Estimula o desenvolvimento da pesquisa na IES 11/3/2007, 19:35 Atendimento aos alunos 0,00 0,00 Envolve seus alunos em ações sociais junto à comunidade AÇÕES FOCADAS NOS ALUNOS 0,00 Promove atividades de extensão junto à comunidade. PESQUISA E EXTENSÃO 0,00 3,70 Faz pesquisa de mercado a fim de responder de maneira adequada à demanda Representação externa da instituição 7,41 Nunca (%) Faz visitas às empresas para conhecer o perfil profissional AÇÕES VOLTADAS AO MERCADO Freqüência de ações executadas pelo gestor do curso de Administração 0,00 11,11 11,11 3,70 11,11 14,81 14,81 3,70 22,22 29,63 3,70 11,11 25,93 25,93 25,93 33,33 25,93 33,33 29,63 37,04 7,41 33,33 29,63 51,85 25,93 29,63 48,15 25,93 37,04 22,22 Raramente Eventualmente Freqüenteme(%) (%) nte%) 88,89 37,04 29,63 18,52 37,04 18,52 7,41 33,33 3,70 3,70 Sempre (%) 3,85 2,81 2,70 2,85 2,89 2,44 2,41 2,81 2,07 1,85 Média Ponderada 3,85 2,79 2,41 Média 1 6 7 Classificação Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini Fonte: Dados da pesquisa. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná As questões referentes a ações dos gestores, apresentadas na Tabela 4, foram submetidas ao cálculo da média ponderada e agrupadas nas sete dimensões. Cada dimensão gerou uma média e essas médias foram ordenadas. A maior freqüência das ações dos gestores encontra-se ordenada da seguinte forma: ações focadas nos alunos, nos professores, em reuniões, em atividades de Projeto Político Pedagógico (PPP), em capacitação docente, em pesquisa e extensão e no mercado. Na Tabela 5, mostram-se as ações mais importantes dos gestores. Tabela 5 - Ações consideradas mais importantes pelos gestores Ação Percentual Ação Percentual Focadas nos professores 76% Capacitação docente 24% Atividades de PPP 72% Colegiado do curso 20% Focadas nos alunos 60% Contratação de professores 12% Pesquisa e extensão 60% Avaliações do curso 12% Voltadas ao mercado 56% Grade curricular 8% Qualificação pessoal 28% Estágios acadêmicos 4% Gestão burocrática 28% Pós-graduação 4% 24% Acompanhamento de egressos 4% Viagens, visitas e palestras Fonte: Dados da pesquisa. Na tabela 5, mostram-se as ações realizadas pelos gestores, consideradas pelos mesmos como as mais importantes, obtidas por meio de uma questão subjetiva descrita na terceira etapa do questionário e agrupadas em 16 dimensões de acordo com a freqüência. Contrapondo os dados da Tabela 4 aos dados da Tabela 5, observa-se que coincidem os resultados das dimensões referentes às ações focadas nos alunos, que foram as mais citadas nas respostas objetivas (Tabela 4) e terceira nas subjetivas (Tabela 5); ações focadas nos professores, segunda colocada na Tabela 5 e quarta na Tabela 4; ações focadas nas atividades de PPP, quarta mais citada nas objetivas e segunda nas subjetivas; ações voltadas à capacitação docente, quinta na Tabela 5 e sexta na Tabela 4; ações voltadas à pesquisa e extensão e voltadas ao mercado se equivaleram na terceira posição do Tabela 5 e na sexta e na sétima, respectivamente, na Tabela 5. A dimensão reuniões aparece, na Tabela 5, em terceiro lugar na freqüência de execução, porém não é mencionada entre as ações que os gestores consideram mais relevantes. Este resultado pode demonstrar que os gestores tomam muito de seu tempo em reuniões pouco produtivas. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 65 65 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini Investigou-se, também, a participação dos agentes envolvidos no colegiado do curso. Como resultado, identificou-se uma alta participação de professores (100%), de alunos (93%) e de coordenadores (89%) nos colegiados e também uma relativa participação de diretores (22%) e de funcionários (22%). Isso demonstra que as instituições pesquisadas estão cumprindo a recomendação do MEC em relação à presença de um colegiado de curso que represente os vários atores do cenário institucional e que exerçam as funções administrativas de direção e coordenação. A Tabela 6 mostra as decisões tomadas pelo colegiado de curso. Tabela 6 - Decisões tomadas pelo colegiado de curso Decisões tomadas pelo colegiado de curso % Decisões tomadas pelo colegiado de curso Decisões relativas a conteúdos programáticos 100% Decisões relativas à divulgação do curso no mercado 70% 56% % 96% Decisões relativas a parcerias empresas com da região Decisões relativas a atividades de extensão 85% Decisões relativas à contratação de professores 41% Decisões relativas a atividades de pesquisa 78% Outras decisões 41% 78% Decisões relativas à gestão financeira do curso 15% Decisões relativas à matriz curricular e análise curricular Decisões relativas a tipos de avaliações pedagógicas Fonte: Dados da pesquisa. Quanto às decisões tomadas pelo colegiado de curso, verifica-se que as decisões relativas à gestão pedagógica do curso possuem maior percentual de respostas, significando que o colegiado de curso tem maior poder de decisão sobre as questões pedagógicas em relação às questões administrativas. Esta primeira etapa identificou o perfil dos gestores do Oeste do Paraná, em que se evidenciaram o perfil jovem desses gestores, o reduzido tempo de atuação no cargo de gestão e a reduzida carga horária de dedicação à gestão e, também, o recente ingresso das IES no mercado. Na próxima seção, serão descritos e analisados os resultados do perfil intraempreendedor dos gestores pesquisados. 5.2 Características Intraempreendedoras dos Gestores de Curso de Administração Neste tópico, apresenta-se a análise das características intraempreendedoras dos gestores e aplicam-se o teste-f e o teste-t com o objetivo de verificar se existem diferenças significantes entre a auto-avaliação do desempenho dos gestores e o desempenho esperado pela IES na opinião destes. 66 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 66 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná De acordo com os resultados do teste do perfil intraempreendedor ou do empreendedor corporativo de Dornelas (2003), a média geral atingida pelos gestores foi de 126,7 pontos, o que o autor classifica como características comuns a intra-empreendedores, pois ultrapassa 120 pontos. Quatro dos 27 respondentes, contudo, pontuaram entre 90 e 119 pontos, sendo classificados, conforme o autor, como detentores de algumas características intraempreendedoras, comportando-se, por vezes, como tal, porém com potencial para desenvolver-se ainda mais, visando melhorar os pontos ainda fracos para equilibrar com os pontos já fortes. O gap (diferenças) entre auto-avaliação de desempenho x desempenho esperado pela IES, das cinco dimensões propostas no teste de perfil intraempreendedor de Dornelas (2003), encontra-se descrito na Tabela 7. Tabela 7 - Auto-avaliação de desempenho x desempenho esperado pela instituição (b) (a) Comprometimento Obsessão pelas oportunidades e determinação (d) (c) Criatividade, Tolerância ao autoconfiança e risco, ambigüidade habilidade de e incertezas adaptação (e) Motivação e superação P(F<=f) uni-caudal para diferença das variâncias (teste-f) 0,079 0,155 0,271 0,008 0,437 P(T<=t) bi-caudal para diferença das médias (teste-t) 0,728 0,611 0,549 0,037 0,824 Auto-avaliação do desempenho atual 4,34 4,12 4,20 4,28 4,21 Desempenho que a IES espera dos gestores 4,39 4,21 4,11 3,96 4,19 GAP desempenho atual x desempenho esperado pelas IES -0,05 -0,07 0,09 0,32 0,02 Fonte: Dados da pesquisa. Ao se aplicar o teste-f para verificar a homogeneidade de variância entre as amostras, verificou-se que apenas na dimensão d (criatividade) as amostras apresentaram variâncias diferentes. Assim, aplicando-se o teste-t para verificar a diferença das médias com variância equivalente nas demais dimensões, não foram constatadas, com 95% de confiança, dife- Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 67 67 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini renças significativas entre o desempenho esperado pela instituição e o desempenho de auto-avaliação dos gestores. Já efetuando o teste-t para verificar a diferença das médias com variância diferentes na dimensão d (criatividade), verificou-se que o desempenho atual é superior ao desempenho esperado pela instituição, conforme mostra a Tabela 7. De modo geral, na avaliação do perfil intraempreendedor, a maioria dos gestores demonstrou possuir habilidades intraempreendedoras e, na dimensão criatividade, os gestores se avaliaram acima das expectativas da instituição. 6. Considerações Finais Essa pesquisa buscou identificar o perfil dos gestores dos cursos de Administração das IES da região Oeste do Paraná; o exercício desempenhado na função gerencial e analisar as características intraempreendedoras dos gestores desses cursos, a fim de permitir aos gestores refletirem a respeito de sua atuação e aperfeiçoarem suas ações e seu perfil intraempreendedor. Em relação ao perfil, os gestores dos cursos são em sua maioria denominados coordenadores e são homens, estão na faixa etária entre 31 a 40 anos, possuem a titulação de mestres em Administração e têm seu principal vínculo empregatício com a instituição na qual atuam. O tempo de dedicação à gestão de 40,7% dos gestores é de, até, 20 horas semanais e de atuação na docência, para 51,9%, é de, até, 10 horas semanais, fato que, para Marra e Mello (2003); Kanan e Zanelli (2004), desperta preocupação quanto à conciliação das atividades devido ao tempo restrito de dedicação à coordenação do curso. As ações realizadas pelos gestores, ordenadas por freqüência, são focadas nos alunos, nos professores, em reuniões, em atividades de PPP, na capacitação docente, voltadas à pesquisa e extensão e ao mercado. Contudo, as ações consideradas mais importantes pelos gestores são focadas nos alunos, nos professores, em reuniões, em atividades de PPP e na capacitação docente. Percebe-se que as ações mais desenvolvidas pelos gestores apresentam-se, em sua maioria, voltadas às ações internas, essencialmente ao atendimento de alunos e professores, fato que deveria ser objeto de reflexão nas IES, uma vez que atividades de planejamento (PPP), por exemplo, poderiam ser priorizadas. No entanto, contrapondo este dado à baixa carga horária de dedicação à coordenação, supõe-se que este possa ser um fator capaz de prejudicar a realização dessas atividades. Em relação às características intraempreendedoras de Dornelas (2003), ficou evidenciado o potencial dos gestores, dado que 88,89% dos respondentes obtiveram pontuação entre 120 e 150 pontos e a média geral de 126,78 pontos, o que indica características comuns aos intraempreendedores ou empreendedores corporativos. Esse resultado permite que os gestores sejam considerados como detentores de características intraempreendedoras, demonstrando potencial para se diferenciar nessas IES, bem como 68 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 68 11/3/2007, 19:35 De Professor a Gestor: uma Análise do Perfil dos Gestores dos Cursos de Administração das Instituições de Ensino Superior da Região Oeste do Paraná diferenciá-las no mercado, desenvolver ações que garantam a sobrevivência das mesmas e garantir a qualidade do ensino aos alunos. Existe, entretanto, um potencial a ser explorado, tendo em vista a pontuação máxima ser de 150 pontos. Em relação ao gap entre as cinco dimensões propostas no teste de perfil intraempreendedor de Dornelas (2003), a dimensão que apresentou o maior gap positivo foi d (criatividade, autoconfiança e habilidade de adaptação), significando que, de acordo com o teste-t, na auto-avaliação dos gestores, eles superam as expectativas de desempenho nessa dimensão. Concluiu-se, de forma geral, que o perfil dos gestores das IES do Oeste do Paraná acompanha a tendência demonstrada na pesquisa de Mastella (2005) e diferencia-se em alguns aspectos em relação aos gestores do Sistema ACAFE de acordo com Walter e outros (2005a), cujas instituições atuam há mais tempo no mercado e cujos gestores atuam há mais tempo como docentes e possuem maior titulação na área de Administração. Outra distinção importante entre as duas pesquisas está nas ações que os gestores consideram mais importantes: os gestores do Sistema ACAFE apresentam maior homogeneidade em relação às ações que consideram mais importantes. Os gestores do Oeste do Paraná consideram as ações voltadas aos professores e ao PPP mais importantes, enquanto os gestores do Sistema ACAFE priorizam a importância de ações voltadas aos alunos. Ações de qualificação pessoal, gestão burocrática e acompanhamento de egressos não foram citadas pelos gestores do Sistema ACAFE que, em contrapartida, citaram ações voltadas ao acervo bibliográfico, não citadas pelos gestores do Oeste do Paraná. Percebe-se, entretanto, que questões como a conciliação entre a carga horária ensino/gestão ainda precisa ser aperfeiçoada para que possam ser atingidos melhores níveis de profissionalização na gestão universitária. Além do perfil intraempreendedor e de uma atuação eficaz dos gestores, outro fator crucial para o sucesso da gestão das IES e da melhoria da qualidade de ensino, evidenciado por Kuratko; Montagno e Hornsby (1990), são as condições gerais proporcionadas pelas IES à atuação dos gestores, em termos de apoio às iniciativas, recursos e condições de trabalho. Devido à auto-avaliação dos gestores em relação ao seu desempenho e ao desempenho esperado pelas IES não apresentar diferença significativa, sugere-se, para a próxima etapa desta pesquisa e para futuras do gênero, investigar a visão dos superiores imediatos destes gestores em cada instituição (diretores de centro, decanos, etc.) a fim de verificar em que nível os gestores estão atendendo às expectativas destas IES e verificar possíveis diferenças de desempenho. No tocante à importância desta pesquisa, avaliar o perfil intraempreendedor dos gestores dos cursos de Administração por meio dos estudos de Dornelas (2003), Mastella (2005) e Walter e outros (2005a) apresenta-se como uma possibilidade de os gestores realizarem uma auto-avaliação e reflexão no que se refere às suas ações de gestão e à Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 69 69 11/3/2007, 19:35 Silvana Anita Walter, Daniela Torres da Rocha, Maria José Carvalho de Souza Domingues e Gérson Tontini perspectiva da IES em relação ao seu perfil e ações. Possibilita, também, que as IES reavaliem seus processos de modo a aperfeiçoarem suas ações gerenciais a fim de se tornarem mais eficazes, acarretando possíveis melhorias para a qualidade do ensino. Conclui-se que, por meio da adaptação de dois questionários – o de Dornelas (2003), que medem o perfil intraempreendedor, e o de Mastella (2005), de diagnóstico de gestão - segundo Walter e outros (2005a), é possível avaliar de forma inovadora o perfil intraempreendedor e as ações de gestores de cursos de Administração, sob a ótica da autoavaliação. 7. Referências ANDRADE, A. A universidade como organização complexa. Revista de Negócios, Blumenau, v. 7, n. 3, p. 15-28, jul./ set. 2002. BARBIERI, J. C. et al. Organizações inovadoras: estudos e casos brasileiros. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2003. DEGEN, Ronald J. O empreendedor: fundamentos da iniciativa empresarial. 3. ed. São Paulo: McGraw-Hill, 1989. DORNELAS, J. C. A. Empreendedorismo corporativo: como ser empreendedor, inovar e se diferenciar em organizações estabelecidas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. FILION, L. J. Diferenças entre sistemas gerenciais de empreendedores e operadores de pequenos negócios. 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Coletânea de Estudos: Gestão em Empreendedorismo. Blumenau: Nova Letra, 2005b, p. 146-172. No prelo. Silvana Anita Walter é Mestre em Administração da FURB-SC - Universidade Regional de Blumenal e Professora de Graduação e Pós-Graduação em Administração da PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Toledo. CEP: 85960-000 [email protected] Daniela Torres da Rocha é Graduanda em Administração da PUCPR - Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Toledo. CEP: 85900-290 [email protected] Maria José Carvalho de Souza Domingues é Doutora em Engenharia de Produção da UFSC-SC - Universidade Federal de Santa Catarina e Professora do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAd) da FURB-SC - Universidade Regional de Blumenal. CEP: 89012-900 [email protected] Gérson Tontini é Doutor em Engenharia Mecânica UFSC-SC - Universidade Federal de Santa Catarina, Pós-doutor em Administração (CSU-Hayward) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração (PPGAd) da FURB-SC - Universidade Regional de Blumenal. CEP: 89012-900 [email protected] 72 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 72 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração Supervising Pratical Training in the upper Education Institutions Context: Considerations about its insertion in the Administration Courses Antonia Carlinda Cunha de Oliveira [email protected] UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana DCIS - Departamento de Ciências Sociais Aplicadas CEP: 44031-460 Feira de Santana - Bahia - Brasil Resumo Para o graduando em administração que não vivencia a práxis organizacional, a educação formal nesta área pode significar muito pouco. Por muito tempo se acreditou, consubstanciando-se na perspectiva mecanicista que permeou a ciência da Administração e conseqüentemente, que veio a influenciar a filosofia dos cursos, que regras gerais poderiam ser aplicadas às situações de administração e da vida organizacional, sem considerar o contexto nas quais estavam inseridas. Na pós-modernidade, contudo, há um consenso crescente que administrar é uma prática que envolve, em grande parte, arte, técnica e ciência. É por esse motivo que administradores não podem ser formados, em uma situação restrita à sala de aula. As reflexões acerca do estágio curricular supervisionado se impõem como relevantes no processo de articulação entre teoria e prática e na efetivação da interação entre escola, organizações e sociedade. Nesta perspectiva, conceber o estágio supervisionado não significa restringi-lo a uma disciplina formal, mas concebê-lo como uma metodologia que venha permear todas as disciplinas da estrutura curricular do curso de modo a estender a educação formal para a concretude da vida nas organizações. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 73 73 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira Palavras-chave: Estágio supervisionado, práxis docente, organização curricular, educação formal do administrador Abstract Formal education in the Administration course might mean too little for the undergraduate who do not exercise the organization praxis. For a long time it was believed that general rules could be applied to administrative and organizational life situations, what had been concerned to a mechanicist perspective that permeated the Administration science, and consequently influenced the philosophy of the corresponding course. However, in post modernity, there is a growing consensus about administrating as a practice that most involves art, technique and science. It is for that reason that administrators can not graduate just confined to a classroom. Reflections upon a supervised probation are relevant in the process of articulation between theory and practice and in the process of interaction among school, organizations and society.Taking into consideration that perspective, to conceive the supervised probation doesn’t mean to restrict it to a formal subject, but to understand it as a methodology that ought to pass by all the subjects that integrate the curriculum of the corresponding course, in order to extend formal education to labor on busy organizations. Key-words: Supervised probation; teaching praxis; curriculum; administrator’s formal education 1. Introdução Em uma sociedade cujo ritmo de mudanças alcança níveis extraordinários, onde as exigências do meio para que o Homem domine o arsenal tecnológico e científico é cada vez maior e onde as “verdades científicas” assumem um caráter de transitoriedade jamais visto, conclui-se que dentro dos princípios instituídos pela LBD1, pelo Parecer n. 776/ 972, e pela Resolução nº. 04 de 13/07/2005, o estágio curricular supervisionado deve desempenhar funções importantes, criando espaço para estabelecer um ensino indissociado da pesquisa e da extensão, superando a reprodução do conhecimento e assumindo o exercício sistemático de produção de conhecimento próprio, pressupondo amadurecimento intelectual, profissional e pessoal do graduando. Mesmo consciente das dificuldades existentes que limitam a implantação de uma proposta arrojada de estágio curricular, este artigo transparece o propósito de discutir a questão de maneira a suscitar caminhos para reestruturá-lo, visando o fortalecimento do curso numa dimensão que implique no conhecimento do Homem como elemento diferenciador, posicionado numa perspectiva de vanguarda, capaz de assumir responsabi- 74 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 74 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração lidades, com conseqüência e consciência, produzindo conhecimentos destinados à melhoria da qualidade de vida e a dinamizar o progresso econômico e social. O processo pedagógico caracterizado pelo “aprender a aprender” diz respeito ao ensino com qualidade formal - habilidade para inovar - e qualidade política - habilidade para intervir (DEMO, 1998, p.87). Nessa perspectiva, não é propósito defender, neste estudo, um modelo determinista ou, até mesmo prescritivo, do estágio curricular supervisionado. Pretende-se suscitar reflexões que se constituam em indicadores para construção de possíveis alternativas metodológicas de operacionalização que sirvam de referencial para se promover ajustes que o tornem adequado ao nosso tempo e meio. Este estudo é resultante da análise a respeito da operacionalização do estágio curricular supervisionado no curso de Administração, associada às recentes políticas direcionadas ao ensino superior brasileiro, às experiências coletadas durante o I Encontro Nacional de Avaliação do Estágio Supervisionado dos Cursos de Administração – Natal/RN (1996), às discussões nos ENANGRAD - Encontro da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração e no intercâmbio de informações com IES de diversas regiões do país. Espera-se que a discussão proposta se constitua no marco inicial para se arquitetar um espaço educativo para emergir, como resultante, o sujeito histórico competente, sob o entendimento que “o questionamento reconstrutivo promove, ao lado da capacidade de tomar iniciativa, por vezes agressiva, a modéstia do necessário auto-questionamento e da obsequiosa convivência com argumentos contrários (DEMO, 1998, p.92)”. Por isso mesmo requer, no trabalho de reestruturação do modelo de estágio curricular, o compromisso coletivo de todos os envolvidos, despertados pela consciência do fazer universidade competente. 2. Dimensão Analítica Existem duas dimensões a serem consideradas para a caracterização operacional do estágio curricular supervisionado. Primeiro, refere-se à prática docente; no redimensionamento de ensinar e aprender; de entender e conceber o papel do professor como artífice do processo ensino-aprendizagem. Assim, “busca-se superar ostensivamente tanto a condição de um professor que apenas ensina, como a de um aluno que apenas aprende, emaranhados na mediocridade da reprodução copiada do conhecimento” (DEMO, 1998, p.87). Segundo, há se analisar a lógica de organização do currículo e de produção do conhecimento no âmbito da academia. Conforme Cunha (1998, p. 30), o modelo de ensino tradicional tem colocado a teoria como referência para a prática. Inicialmente, o aluno “vê” princípios, leis e teorias, para, posteriormente, aplicá-los à prática (LEITE e outros, 1998). Nessa perspectiva, o estágio curricular tem sido colocado como “sacramentação” final do curso, estabelecendo porquanto, dentro dessa sistemática processual, o “trabalho de conclusão do curso”.Toda essa lógica vem Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 75 75 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira a se constituir em elemento impeditivo para instaurar um modelo de ensino que privilegie a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, preconizada no artigo 207 do texto constitucional de 1988. Ademais, estimula a reprodução do conhecimento, restringindo a inovação e a produção de conhecimento próprio mediante a teorização da prática3, resultante de uma articulação espontânea entre ambas, em perspectiva interdisciplinar. A esse respeito, Cunha (1998, p. 30) nos ensina: Do ponto de vista de uma proposta pedagógica de ensino indissociável da pesquisa, a questão, então, é perguntar como nasce a dúvida intelectual, aquela que move o sujeito no sentido de debruçá-lo sobre o objeto do conhecimento. Parece ser na trajetória experiencial que isso acontece; pode-se perceber que a dúvida nasce da observação e da leitura da prática do campo de conhecimento que a pessoa vive ou se propõe a estudar. Só a prática e a realidade são as fontes capazes de gerar a dúvida intelectual que, por sua vez, mobiliza a pesquisa. Essa reflexão nos faz examinar a lógica tradicional dos currículos, em que a prática é colocada no ápice dos cursos (estágios), em que parece não haver espaço para uma aprendizagem de ensino com pesquisa simplesmente porque a lógica da organização curricular impede esse acontecimento. O estudante não faz a leitura da prática como ponto de partida para construção da dúvida epistemológica. A prática, nessa lógica de currículo, não é referência para a teoria, ao contrário, como a lógica positivista determina, a teoria é referência para a prática. Complementando esse argumento, Leite e outros (1998, p. 42) dizem: Os currículos privilegiam nos primeiros anos as disciplinas básicas, depois, as profissionalizantes e, por último, os estágios. A orientação é para o acúmulo de informações. O docente, no caso, é fonte dessas informações, desses saberes, desses conhecimentos. Não se pode assegurar que tais discussões possuem epístemes próprias. É relevante, entretanto, se tentar fazer uma leitura da realidade para encontrar significações paradigmáticas que se constituam em referencial para compreender outros vértices de significações. A organicidade linear do currículo não resiste aos requerimentos do mundo moderno. Da mesma forma, a universidade como lócus, por excelência, de produção e socialização do conhecimento não mais comporta esquemas mentais fundamentados na fragmentação cartesiana do saber. A abordagem curricular deve, por seu turno, preservar a pluralidade metodológica. Isto implica que não deve estar condicionada a uma estrutura hierarquizada do saber. A construção do conhecimento, a mudança de enfoques no que se ensina e no que se aprende, implica em alternativas curriculares que incorpore a possibilidade de se criar novos espaços para se vivenciar experiências significativas. Esse será o desafio a ser construído durante todo o curso de graduação. Preservando-se a forma, deve-se privilegiar o conteúdo, isto é, o enfoque epistemológico (DORGIVAL HENRIQUE, 2001). 76 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 76 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração A lógica do “ensinar e do aprender” que se tornou hegemônica no mundo ocidental, talvez encontre explicações no modelo epistemológico racional-positivista que se firmou como referencial para moldurar as feições da escola moderna, fundada nas noções de norma, seqüência e disciplina (ASSMANN, 1998). Estas discussões preliminares nos fornecem indicativos para refletir criticamente a própria concepção filosófica do curso que, inevitavelmente, nos direciona ao nosso principal objeto de análise: o estágio curricular supervisionado. Tal procedimento não poderia deixar de ser diferente. À medida que se reflete sobre a operacionalização do estágio curricular não se poderia deixar de adotar um procedimento coerente que perpassa, em conceber o curso como um todo, distanciando-nos de uma perspectiva analítica fragmentada. Essas idéias sugerem que o estágio curricular é uma referência para o curso, numa perspectiva de totalidade sistêmica. Constitui-se em aprendizado tanto para o acadêmico como para os docentes envolvidos. Exige do docente, superar toda a autocracia apassivadora que reveste a tradicionalista prática do “ensinar”. Impõe-lhe a necessária compreensão da temporária imaturidade intelectual, da insegurança, das dúvidas com as quais se deparam os discentes, para que, enquanto agente facilitador do processo de ensino-aprendizagem, aprenda a escutar democraticamente, contribuindo para o processo emancipatório do educando (FREIRE, 1996). Isso implica em respeitar multiplicidades de idéias e pensares. A leitura do mundo que o educando faz vem revelar a inteligência do mundo que vem cultural e socialmente constituindo. Demonstra a percepção do sujeito sobre a construção do mundo (FREIRE, 1996). É nesse sentido que a instituição de ensino deve constituir-se em espaço privilegiado para negar todo processo de domesticação e reprodução do status quo. Desafiar o aluno para perceber e recriar através de sua prática. Como bem coloca Tragtenberg (1989, p. 33), Deve-se privilegiar o sentido da utilidade social em relação ao que é lucrativo, embora as funções profissionais sejam definidas em termos de resultados a atingir, mais que de atividades sociais a serem assumidas [...] Uma política autêntica de ‘formação’ deve dar liberdade de expressão aos ‘formandos’, ultrapassando o nível de aquisição de conhecimento, tendo em conta a maturidade humana e social. Em uma visão mais tradicional do processo de formação do graduando, os estágios são considerados como uma “forma de complementar o ensino e a aprendizagem acadêmica” [grifo nosso]. Independente desse entendimento, contudo, devem ser planejados, executados, acompanhados e avaliados em conformidade com o currículo, programas e calendário escolar, a fim de se constituir em instrumento de integração, em termos de treinamento prático, de aperfeiçoamento técnico-cultural, científico e de relacionamento humano (ROESCH, 1996). Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 77 77 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira Obviamente que para a consecução do estágio curricular supervisionado deve-se atentar para um planejamento, onde estejam definidas todas as etapas de desenvolvimento, através de instrumento formal. Esses procedimentos, entretanto, necessariamente estarão alinhados ao projeto político pedagógico do curso, privilegiando-se um entendimento de que o estágio deve ser concebido desde o início do curso, de forma que possa assegurar uma articulação espontânea entre teoria e prática, reafirmando que é através da prática que se encontra motivação e instrumental para se criar e recriar conhecimento. Nesse sentido, para Andrade e Amboni (2002, p. 71), O Estágio Curricular compreende diferentes etapas, ou seja, abrange desde as atividades de observação até a realização do confronto dos aspectos teóricos pertinentes às diferentes áreas da Administração verificados em sala de aula com a prática administrativa, como a forma de o acadêmico poder responder e solucionar de maneira sistemática o que foi visto na realidade organizacional e social. O Estágio Curricular, dessa forma, abre espaços para o desenvolvimento da interpretação e da reflexão do que foi observado e não de reprodução do que foi apenas ensinado em sala de aula. É um espaço de intervenção técnica e pedagógica na realidade, constituindo um componente fundamental no processo educativo do acadêmico. De forma mais operacional, o estágio curricular supervisionado consiste no desenvolvimento de habilidades formal e política, isto é, capacidade de analisar, refletir e inovar para interferir na realidade. Pressupõe o desenvolvimento, por parte do graduando, de atividades relacionadas à pesquisa e à execução de atividades extensionistas, na área de Administração, enfatizando a interdisciplinaridade. Assim, todo processo operacional deve ser conduzido sob orientação de um professor, com objetivo de estimular a criatividade e percepção do acadêmico, contribuindo para a sua maturidade intelectual, de maneira que ele possa estabelecer novas correlações entre as diversas áreas de conhecimento, produzindo e recriando conhecimentos que venham a contribuir para melhoria da qualidade de vida da sociedade, enquanto Homem e Cidadão. 3. Caracterização do Estágio 3.1 Dimensão legal O Estágio está disciplinado pela seguinte legislação básica: • Lei Federal n. 6.494 de 07 de dezembro de 1977; Dispõe sobre os estágios de estudantes de estabelecimento de ensino superior e ensino profissionalizante do 2º Grau e Supletivo e dá outras providências. • Decreto n. 87.497 de 18 de agosto de 1982 78 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 78 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração Regulamenta a Lei no 6.494, de 07 de dezembro de 1977, que dispõe sobre o estágio de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e de 2º grau regular e supletivo, nos limites que especifica e dá outras providências. • Decreto n. 89.467 de 21 de março de 1984 O parágrafo único do Art. 12º do Decreto n. 87.497 de 18 de agosto de 1982 foi revogado pelo Decreto no 89.467, de 21.03.84 (DOU de 22.03.1984). • Lei n. 8.859 de 23 de março de 1994 Modifica dispositivos da Lei no 6.494, de 07 de dezembro de 1977, estendendo aos alunos de ensino especial o direito à participação em atividades de estágio. • Decreto n. 2.080 de 26 de novembro de1996 Dá nova redação ao art. 8º do Decreto no 87.497, de 18 de agosto de 1982, que regulamenta a Lei no 6.494, de 7/12/1977, que dispõe sobre os estágios de estudantes de estabelecimentos de ensino superior e de ensino profissionalizante do 2º Grau e Supletivo. • LDB - Lei 9394 de 20 de dezembro de 1996 Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. (Art. 82º: as Instituições de Ensino regularão a matéria estabelecendo normas sobre estágio em sua jurisdição). • MP 2.164-39 de 28 de junho de 2001 Altera a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, para dispor sobre o trabalho a tempo parcial, a suspensão do contrato de trabalho e o programa de qualificação profissional, modifica as Leis nos 4.923, de 23 de dezembro de 1965, 6.321, de 14 de abril de 1976, 6.494, de 7 de dezembro de 1977, 7.998, de 11 de janeiro de 1990, e 9.601, de 21 de janeiro de 1998, e dá outras providências. • Resolução n. 04 de 13 de julho de 2005 do Conselho Nacional de Educação/ CES/MEC (o Estágio Supervisionado será optativo: § 3º do art. 7º). Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração, bacharelado, e dá outras providências. (No que se refere aos Cursos de Administração) 3.1.1 A Lei 6.494/77 estabelece: • Conceito de Estagiário “São estagiários os alunos regularmente matriculados e que venham freqüentando, efetivamente, cursos vinculados à estrutura de ensino público ou particular, nos níveis superior, profissionalizante de 2º grau e supletivo.” (art. 1º). • Finalidade e Operacionalização do Estágio “O estágio somente poderá verificar-se em unidades que tenham condições de proporcionar experiência prática na linha de formação, [grifo nosso] devendo, o estudante, Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 79 79 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira para esse fim, estar em condições de estagiar, segundo disposto na regulamentação da presente lei”. (Art. 1º §1º) “Os estágios devem propiciar a complementação do ensino e da aprendizagem a serem planejados, executados, acompanhados e avaliados em conformidade com os currículos, programas e calendários escolares, a fim de se constituírem em instrumento de integração, em termos de treinamento prático, de aperfeiçoamento técnico-cultural, científico e de relacionamento humano” (art. 1º § 2º). “O estágio, independente do aspecto profissionalizante, direto e específico, poderá assumir a forma de atividades de extensão [grifo nosso], mediante a participação do estudante em empreendimentos ou projetos de interesse social” (art. 2º). Estabelece a necessidade do termo de compromisso com a interveniência obrigatória da IES – Instituição de Ensino Superior (art. 3). Entretanto, observa que “os estágios realizados sob a forma de ação comunitária estão isentos da celebração do termo de compromisso [grifo nosso].”(§ 2º) Ratifica a inexistência do vínculo empregatício de qualquer natureza [grifo nosso], podendo o estagiário receber bolsa.(art. 4) 3.1.2 O Decreto n. 87.497/82 que regulamenta a Lei 6.494/97, no que se refere ao estágio curricular, estabelece, basicamente: • Definição de Estágio Art. 2º - Considera-se estágio curricular, para efeitos deste Decreto, as atividades de aprendizagem social, profissional e cultural, proporcionadas ao estudante pela participação em situações em situações reais de vida e trabalho de seu meio, sendo realizadas na comunidade em geral ou junto a pessoas jurídicas de direito público e privado, sob a responsabilidade e coordenação da instituição de ensino. • Preserva a Competência da Instituição de Ensino sobre a Matéria Art. 3º - O estágio curricular, como procedimento didático-pedagógico [grifo nosso], é atividade de competência da instituição de ensino, a quem cabe a decisão sobre a matéria, e dele participam pessoas jurídicas de direito público e privado, oferecendo oportunidades e campos de estágio, outras formas de ajuda, e colaborando no processo educativo. • Disciplina sobre a Operacionalização Art. 4º - As instituições de ensino regularão a matéria contida neste decreto e disporão sobre: a) a inserção do estágio curricular na programação didático-pedagógica; b) carga horária, duração e jornada de estágio curricular, que não pode ser inferior a um semestre letivo; 80 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 80 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração c) condições imprescindíveis, para caracterização e definição dos campos de estágios curriculares; d) a sistemática de organização, orientação, supervisão e avaliação do estágio curricular. Art. 5º - Para a caracterização e definição do estágio curricular é necessário, entre a instituição de ensino e pessoas jurídicas de direito público e privado, a existência de instrumento jurídico [grifo nosso], periodicamente reexaminado, onde estarão acordadas todas as condições de realização daquele estágio, inclusive transferência de recursos à instituição de ensino, quando for o caso”. Art. 6º - A realização do estágio curricular, por parte do estudante, não acarretará vínculo empregatício de qualquer natureza [grifo nosso]. • 1º O termo de compromisso será celebrado entre o estudante e a parte concedente da oportunidade do estágio curricular, com a interveniência da instituição de ensino, e constituirá comprovante exigível pela autoridade competente da inexistência de vínculo empregatício. Conforme Andrade e Amboni (2002, p. 75), o Termo de Compromisso, dentre outras disposições, deve constar: – “Qualificação da empresa concedente, do estagiário e da instituição de ensino; – Duração e objeto do estágio, que deve coincidir com programas estabelecidos pelo curso; – Valor da bolsa, quando pactuada; – Horário do estágio; – Companhia seguradora e número da apólice, garantindo ao estagiário a cobertura do seguro contra acidentes pessoais; – instrumento jurídico “. • 2º O termo de compromisso de que trata o parágrafo anterior deverá mencionar, necessariamente, o instrumento jurídico a que se vincula, nos termos do Art. 5º. • 3º Quando o estágio curricular não se verificar em qualquer entidade pública ou privada, inclusive como prevê o § 2º do Art. 3º da Lei nº 6.494/77, estão isentos de celebração de termo de compromisso. Art. 7º A instituição de ensino poderá recorrer aos serviços de agentes de integração públicos e privados [grifo nosso], entre sistemas de ensino e os setores de produção, serviços, comunidade e governo, mediante condições acordadas em instrumento jurídico adequado. Art. 10º Em nenhuma hipótese poderá ser cobrada ao estudante qualquer taxa adicional referente às providências administrativas para a obtenção e realização do estágio curricular. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 81 81 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira 3.1.3 No que tange ao Estágio Curricular Supervisionado, a Resolução n. 04 de 13 de julho de 2005, estabelece: Art. 7º - O Estágio Supervisionado é um componente curricular obrigatório, indispensável à consolidação dos desempenhos profissionais desejados inerentes ao perfil do formando, devendo, cada instituição, por seus colegiados superiores acadêmicos, aprovar o correspondente regulamento de estágio, com suas diferentes modalidades de operacionalização. • 1º O estágio de que trata este artigo poderá ser realizado na própria instituição de ensino, mediante laboratórios que congreguem as diversas ordens práticas correspondentes aos diferentes pensamentos das Ciências da Administração. • 2º As atividades de estágio poderão ser reprogramadas e reorientadas de acordo com os resultados teórico-práticos gradualmente relevados pelo aluno, até que os responsáveis pelo acompanhamento, supervisão e avaliação do estágio curricular possam considerá-lo concluído, resguardando, como padrão de qualidade, os domínios indispensáveis ao exercício da profissão. • 3º Optando (grifo nosso) a instituição por incluir no currículo do Curso de Graduação em Administração o Estágio Supervisionado de que trata este artigo deverá emitir regulamentação própria, aprovada pelo seu Conselho Superior Acadêmico, contendo, obrigatoriamente, critérios, procedimentos e mecanismos de avaliação, observado o disposto no parágrafo precedente. Face às citações anteriores pode-se entender: a) Cada instituição de ensino é responsável pela organização, orientação, supervisão, avaliação e formalização do estágio curricular; b) A flexibilidade que a lei permite justifica as diversas formas de concepção e realização do estágio curricular existente nas diferentes IES do Brasil. c) O estágio passa a se configurar como componente curricular optativo. Logo, como atividade didático-pedagógica, a partir dessas prerrogativas, A IES pode instituir um modelo operacional que implique em introduzir o estágio curricular como diferencial do curso. 3.2 Operacionalização do Estágio: uma breve referência de análise Independente do número de etapas estabelecido para operacionalização do estágio curricular, deve-se guardar coerência com o perfil profissiográfico definido pelo curso, identificando, claramente, o “como fazer” e o “porquê fazer” do curso, a partir do seu projeto político pedagógico. Nesta perspectiva, a IES deverá definir e implementar um Regulamento de Estágio para o curso de Administração, aprovado pelo colegiado superior acadêmico, que con- 82 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 82 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração temple no mínimo, a legislação básica com destaque para o Termo de Compromisso [grifo nosso]; as competências da Coordenação de Estágios; as competências do Professor Orientador e do Supervisor da organização, bem como dos estagiários; a matrícula, os pré-requisitos (se for o caso) e período de realização; plano de trabalho; política de acompanhamento e de avaliação pela Coordenação e pelo Professor Orientador e composição estrutural do relatório de conclusão do estágio. Deve-se destacar ainda que a Instituição deve assegurar ao estagiário ou ao grupo de estagiários, professores orientadores para realizarem o acompanhamento das atividades definidas no Plano de Trabalho. O Plano de Trabalho deverá ser resultado, da discussão entre professor orientador e aluno.Também o horário do estágio deverá ser livre, ou seja, fora do horário regular de aulas [grifo nosso], devendo ficar sob a responsabilidade do professor orientador e do estagiário. Mesmo considerando esta prerrogativa de que o estágio deverá ser livre, isto é, fora do horário regular de aulas, deve-se atentar para as peculiaridades inerentes ao curso. Portanto, independente de tais prerrogativas, considerando-se uma atividade genuinamente acadêmica, deve-se definir a alocação da carga horária do estágio, dentro da mesma concepção processualística das demais disciplinas, de forma a garantir uma orientação programada que assegure ao aluno um cronograma definido para orientação. Todas as discussões acima suscitadas têm, tão somente, como fundamento, estabelecer indicadores concretos, como marco para se discutir uma proposta de estágio de vanguarda e inovadora, direcionada aos cursos de Administração. Procura-se estabelecer nesse campo inovador, tendo em vista que as questões não se apresentam como propostas definitivas, uma ação pioneira de compromisso com o estágio supervisionando, entendendo-o como referencial para se reformular, inovar e, até mesmo, confirmar conhecimentos sistematizados. Nesse aspecto, tem-se em vista contribuir para a autonomização do acadêmico, enquanto sujeito histórico e político. 4. Dimensão Finalística O Estágio Curricular Supervisionado visa: • Contribuir para o amadurecimento pessoal, profissional e intelectual do acadêmico, através da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão com apoio da formação teórico instrumental, que pode ser revista mediante as oportunidades experienciais vivenciadas ao longo do curso, preparando-o para o mercado de trabalho e para a empregabilidade; • Edificar as bases para um pluralismo metodológico resultante dos diferentes paradigmas existentes para contribuir no esforço de explicar problemas administrativos e organizacionais; Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 83 83 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira • Estimular o estudante a elaborar conhecimento próprio da realidade com apoio de uma base teórica compatível, estimulando-o à busca de aprimoramento pessoal e profissional; • Proporcionar ao estudante oportunidade de desenvolver suas habilidades, analisar criticamente situações e propor mudanças no ambiente organizacional e societário; • Atenuar o impacto da passagem da vida acadêmica para a vida profissional, abrindo ao estudante mais oportunidades de conhecer a filosofia, diretrizes, organização e funcionamento das instituições e da comunidade; • Promover a interação entre IES/curso-organizações-comunidade; • Incentivar o desenvolvimento das potencialidades individuais, propiciando o surgimento de novas gerações de profissionais empreendedores, capazes de adotar modernas técnicas de gestão, métodos e processos inovadores, novas tecnologias e metodologias operacionais; • Atuar como instrumento de iniciação científica à pesquisa e ao ensino, facilitando o processo de atualização de conteúdos e disciplinas, permitindo sua adequação às constantes inovações tecnológicas, políticas, sociais e econômicas a que estão sujeitos. 5. Reflexões sobre o Estágio Curricular Supervisionado Concebendo o estágio como parte integrante do Curso de Administração e, particularmente, configurando-se em aporte de referencial estratégico no que se refere às atividades de caráter acadêmico, faz-se necessário contextualizá-lo junto à política acadêmica e ao projeto político pedagógico do curso. Portanto, deve-se primeiramente identificar elementos que permitam definir a identidade do curso de Administração: que tipo de indivíduo/profissional pretende formar e que tipo de formação deseja-se oferecer para atingir, satisfatoriamente, tal objetivo. Nessa percepção, a proposta educacional deverá respeitar a multiplicidade de características do meio no qual o curso de Administração está inserido, no que se refere: • Ao campo organizacional - trabalhará as peculiaridades das organizações, independente da sua natureza jurídica, porte, origem e setor; • A estrutura e organização do trabalho nas organizações - respeitará a diversificação de competências exigidas pela nova ordem socioeconômico, cultural, política, científica, tecnológica e informacional; • A importância da função do Administrador para o desenvolvimento social, político e econômico do país - trabalhará os princípios da ética para desempenhar suas atividades de forma construtiva; • Ao indivíduo - assimilará as expectativas, as capacitações, as tendências, os projetos e as aspirações dos estudantes para melhor prepará-los, direcionando-os a sua caracterização. 84 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 84 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração O projeto político pedagógico pretende transcender a dimensão profissional. Portanto, almeja-se contribuir para a formação do graduando como pessoa e cidadão. Dessa forma, não seria possível afunilar os objetivos do curso de Administração, voltando-se, restritamente ao processo de formação baseado em conteúdos e técnicas atualizados. A pretensão deve ser mais ampla e eclética, já que, além disso, objetiva-se formar um sujeito cogniscente, “Ser Integral”, resultante de um processo de ensino-aprendizagem voltado a esse fim. Isso implica em formar o indivíduo para a vida, (GORDON e HOWELL, apud MOTTA, 1983; MOREIRA, 1995) transpondo as expectativas genéricas de formação voltada para as demandas de mercado que ao enfatizar uma formação tecnicista, entendendo a função do administrador como pautada pela racionalidade instrumental (MOTTA, 2000; KLIKSBERG, 1993), limita e atrofia o crescimento do Homem e da Mulher. Nessa perspectiva, o curso de Administração requer que se associe à concepção profissionalizante, dimensões mais amplas de educação - incluindo formação humanística - para atingir a meta: formar profissionais, Homens/Mulheres conscientizados para o exercício da Cidadania. A necessária formação integral posta pela LDB (Lei 9.394 de dezembro de 1996) e pelo Parecer 776/97 da Câmara de Educação Superior, do Conselho Nacional de Educação, implica na exigência de totalidade [grifo nosso] no processo de formação do acadêmico o que implica, no desenvolvimento de habilidades técnicas, habilidades humanas e habilidades conceituais4. Em Masetto (1998), significa: desenvolvimento na área de conhecimento; desenvolvimento do aspecto afetivo-emocional; desenvolvimento de habilidades; desenvolvimento de atitudes e valores que se traduzem em capacidade analítica, criticidade, trabalho em equipe, cooperação, estabelecimento de relações intra e inter curso, participação na sociedade; ética em suas abordagens mais amplas (valores pessoais, grupais e profissionais). Para concretização de um modelo de estágio curricular fortalecido, necessária se faz a integração de todos os agentes que compõem o curso: professores, alunos e instâncias acadêmicas. Além disso, exige-se uma política institucional no sentido de promover a instrumentalização necessária ao seu desenvolvimento e uma maior integração com a comunidade em geral. É evidente que o estágio curricular supervisionado isoladamente jamais atenderá às expectativas exigidas pela complexidade atual. Assim, no seu processo de concepção e execução, far-se-á necessário articular todos os elementos que estão diretamente vinculados ao curso, como por exemplo, a definição e integração da estrutura curricular, dos conteúdos programáticos, das didáticas de ensino, do material instrucional, dos processos de avaliação; dos professores e alunos; da escola, das organizações e comunidade em geral; da teoria e prática; do ensino, da extensão e da pesquisa; do homem e da mulher, do profissional e do cidadão e da cidadã. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 85 85 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira De modo geral, decentes e estudantes, inseridos no mundo acadêmico, apontam diversas dificuldades e problemas estruturais que permeiam todo o sistema educacional, notadamente, o universitário. Em muitas situações evidencia-se o descompasso entre a ciência e a sociedade, à medida que se desconsidera, na contemporaneidade, que os critérios de qualidade acadêmica tradicionais são alterados. Nesta nova ordem, deixam de se apoiarem apenas em avaliações interpares ou em critérios estabelecidos formalmente pelas comunidades científicas, passando-se a incluir referências como custo, segurança, relevância social e outros indicadores, provenientes de ambientes de fora de laboratórios e centros de pesquisa. 6. Integração Instituição-Curso-Organizações: uma breve discussão O curso de Administração deve dispor de uma política institucional direcionada a abertura de espaços objetivando uma interação entre o curso e as organizações que permita o fortalecimento do estágio curricular supervisionado. Isto implicaria em manter um cadastro de empresas e de outros campos alternativos de estágio, trabalhar a imagem do curso no meio organizacional e promover caminhos para viabilizar programas de consultoria para pequenos empreendimentos. Desde o espaço primário de contribuição que é a formação de profissionais para as organizações, elenca-se uma amplitude de ações através das quais a IES pode interagir com as empresas/comunidade: a inserção de estudantes para realizar estágio na empresa/organização ou para prestar consultorias através das empresas juniores; programas de P & D conjuntos; consultoria e pesquisa contratadas; incubadoras de empresas; organização de simpósios, seminários e congressos e dentre tantas outras a formação de gestores na área de ciência e tecnologia. (PLONSKI, 1999; ZAGOTTIS 1995). Ter êxito nesse projeto exige capacitar o aluno para contribuir com ética, consciência, responsabilidade e competência, na qualidade de Sujeito, para um projeto de sociedade capaz de, em suas dimensões econômicas, sociais e políticas, promover mais realizações, prazer e felicidade a nível individual e coletivo. A IES (academia) e a empresa são guiadas por valores próprios. Portanto, a parceria entre esses atores não denota a interferência ou até mesmo a perda de suas identidades ou, ainda, a subordinação de uma à outra (MARCOVITCH, 1995). Ademais, não se trata de uma visão reducionista do papel da IES. Trata-se de reafirmar que as relações com as empresas/organizações se inscrevem como uma das missões centrais da IES: capacitar os alunos e gerar conhecimento, assumindo a sua função social de “núcleo de progresso”. Não há mais como se manter no casulo, sob a proteção de um artificialismo acadêmico, que insiste no ideal de “universidade contemplativa” (ANDRADE, 1995). Expor-se ao mundo real, implica expor-se, também, aos mecanismos naturais que regem a socieda- 86 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 86 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração de. Será esta a experiência que permitirá o amadurecimento da IES para aproximar-se e viver, concretamente, o mundo real, estabelecendo referenciais para a reflexão crítica dos seus papéis perante a sociedade. Ao contrário do que recomenda a Conferência Mundial sobre Educação Superior, realizada em Paris, em 1998 (entre tantas, reforçar a gestão e o financiamento da educação superior com parcerias e alianças: pública/privada), o que se observa na práxis por parte das instituições de ensino superior, notadamente as públicas, é uma resistência quase que intransponível acerca da consolidação dessas parcerias. A conduta regulatória professada por alguns ethos da academia tem demonstrado um profundo distanciamento do mundo real. Para estes, a interação empresa-universidade se traduz em “heresia”, em ato completamente condenável, digno de repúdio e recriminação. Obviamente que as universidades representam o locus onde se recria continuamente pela reflexão da pluralidade de idéias. Seria contraditório não se conceber a interação entre empresa/organizações/comunidade e universidade sob o entendimento que esse processo resultaria em perda de autonomia na produção de conhecimento. As universidades públicas, em particular, são custeadas pelos recursos oriundos da atividade produtiva e da geração de renda. Portanto, a não efetivação dessa parceria não implicará em subserviência ou no enfraquecimento do sistema capitalista, que tem sua própria dinâmica. Convive-se com grandes dificuldades para inserir o acadêmico em uma organização para realizar o seu estágio. Pelas experiências relatadas no Encontro Nacional de Avaliação do Estágio Supervisionado dos Cursos de Administração, contudo, esse não se traduz em um problema vivenciado apenas em nosso ambiente. Por essa razão, as instituições/cursos buscam diversificar alternativas de estágio. 7. Considerações Finais Percebe-se que, na prática, o estágio curricular supervisionado está longe de responder às aspirações da lei, às expectativas dos estudantes e às exigências das organizações. Entretanto, mesmo considerando o estágio curricular supervisionado como uma atividade opcional, caso seja implementado no curso de Administração, não se quer restringi-lo a uma atividade burocrática, ao cumprimento da carga horária definida para legitimar a habilitação do acadêmico. Considerando o pluralismo disciplinar do curso de Administração, parece relevante que o estágio esteja articulado com o currículo estabelecido para o curso e estruturado em termos de concepção e processo. A formação da consciência cidadã resulta da dialética entre as dimensões teóricas e práticas: conhecer a realidade para transformá-la, reconstruí-la, aperfeiçoá-la. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 87 87 11/3/2007, 19:35 Antonia Carlinda Cunha de Oliveira Não é possível o estudante se transformar em um pesquisador ou em um consultor capaz de formular diagnósticos organizacionais e identificar alternativas de solução apenas por ser aluno de Administração. As condições para que o acadêmico assuma, com êxito, estes papéis, precisam ser oferecidas por cada disciplina - em termos de conteúdo e forma - ao longo do curso. Baseando-se nesses pressupostos, o estágio curricular supervisionado, caso concebido, como parte integrante do curso, configura-se como elemento estratégico na busca da excelência do processo formacional. Assim, repensá-lo, implica em reconhecê-lo no contexto do curso e integrá-lo à dinâmica do mesmo, de maneira que ele se constitua em um recurso de transversalidade para as disciplinas que compõem a estrutura curricular. Isto implica em entendê-lo como recurso metodológico que norteará a práxis docente. Isto quer dizer que haverá necessidade de: (1) os professores assumirem, freqüentemente, as funções de orientadores; (2) que o curso defina e os professoresorientadores exijam um padrão de trabalho acadêmico, tanto à nível de forma, como de conteúdo; (3) sempre que possível, os professores articulem parcerias entre diferentes disciplinas e estas forneçam a elaboração de uma reflexão multidisciplinar; (4) sempre que possível, os professores proponham estudos que exijam a articulação de pesquisas bibliográficas, documental e de campo, que estimulem ao acadêmico a consultar outros profissionais; (5) que a instância de administração acadêmica do curso viabilize e divulgue os recursos disponíveis para os estudantes; (6) que a Direção Administrativa Acadêmica busque viabilizar, a partir de suas propostas didático-pedagógicas, a disponibilidade de professores suficientes para orientar atividades complementares de ensino, de estudos, de pesquisa e consultorias realizados pelos alunos, em consonância com a proposta didático pedagógica do curso; (7) que se busque viabilizar a ampliação do número de convênios, intercâmbio e acordos de cooperação entre a Instituição e a comunidade, no âmbito da temática de Administração; (8) que se ajuste as atividades acadêmicas de cada disciplina, ao nível intelectual dos estudantes, em termos de domínio teórico e conceitual; (9) que se ajuste as atividades acadêmicas às especificidades da problemática administrativa; (10) que se demonstre a pertinência e a importância das atividades acadêmicas, tanto para a elevação do nível de formação do acadêmico, quanto para o êxito dos resultados em termos de aprendizagem, atingidos pelas diferentes disciplinas; (11) que se invista no surgimento, na excelência, na qualidade e na sistemática dos programas de extensão, notadamente, àqueles afetos à temática da Administração. 8. Referências ANDRADE, Rui Otávio Bernardes de, AMBONI, Nério. Projeto pedagógico para os cursos de Administração. São Paulo: Makron Books, 2002. 88 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 88 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração ANDRADE, Adnei Melges de. Nota prévia ao dossiê Universidade-Empresa. Revista USP, São Paulo, (25): 6-7, março/maio 1995. ASSMANN, Hugo. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1998. CHAUÍ, MARILENA DE Souza. As humanidades contra o humanismo. Universidade, formação, cidadania. Santos, Gislene Aparecida dos (org.) São Paulo: Cortez, 2001. CUNHA, Maria Isabel da. Aportes teóricos e reflexões da prática: a emergente configuração dos currículos universitários. In: Docência na Universidade. Marcos T. Masetto (org.). Campinas, SP: Papirus, 1998. DEMO, Pedro. 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O Parecer 776/97 da Câmara de Ensino Superior do Conselho Nacional de Educação estabelece orientações gerais a serem observadas na formulação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação. 3 Segundo Demo (1998), a teorização da prática se efetiva como habilidade de reconstruir questionamentos sobre determinadas práticas, descobrir seus vazios teóricos ou precariedade inovadora, e, seguir, com base teórica renovada, recuperar a condição criativa das práticas, ou propor a sua superação. (p. 112) A competência sempre renovada alimenta-se também da capacidade de colocar sob questionamento a prática, a rotina de trabalho, o ambiente diário de exercício profissional. (p.71). 4 Segundo Moraes (2000, p. 8-10) habilidades técnicas dizem respeito a capacidade de utilizar procedimentos, métodos e conhecimentos de um campo de especialização; habilidades humanas, caracteriza-se pela aptidão para o relacionamento interpessoal (capacidade de comunicação, motivação e liderança) e habilidades conceituais ou integradoras, competência para ver o quadro geral, visando à integração sistêmica 1 2 90 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 90 11/3/2007, 19:35 Estágio Supervisionado no Contexto das Instituições de Ensino Superior: Aportes Reflexivos acerca da sua inserção nos Cursos de Administração Antonia Carlinda Cunha de Oliveira é Mestre em Administração pela Universidade Federal da Bahia e Professora do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da UEFS - Universidade Estadual de Feira de Santana. CEP: 44031-460 [email protected] Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 91 91 11/3/2007, 19:35 arte_angrad.pmd 92 11/3/2007, 19:35 Intangibles Accounting: a Comparative Study Between Portugal and Poland Contabilidade de Intangíveis: um estudo comparativo entre Portugal e a Polônia Leonor Ferreira [email protected] Universidade Nova de Lisboa Zip Code: 1700-167 Lisboa - Portugal Manuela Sarmento Universidade Lusíada and Academia Militar Zip Code: 1400-219 Lisboa - Portugal Justina Fijalkowska Lodz University Zip Code: 95-040 Koluszki - Poland Resumo As organizações estão enfrentando a era do conhecimento, que é caracterizada pela prevalência dos intangíveis, criando valor adicionado às companhias. Este artigo enfoca a presença de intangíveis nas companhias selecionadas em Portugal e na Polônia baseado no cálculo das taxas do market-to-book valor Adicionalmente, objetiva-se identificar e explicar similaridades e diferenças entre esses dois paises, nos regulamentos contábeis e nos relatórios financeiros a respeito dos intangíveis. A pesquisa demonstra que o valor dos ativos financeiros da companhia difere do real valor de mercado, devido aos intangíveis. É recomendado que a contabilidade dos intangíveis da companhia se aperfeiçoe. Contudo, do ponto de vista puramente econômico, pesquisas futuras deveriam refletir e analisar profundamente a base teórica das diferenças entre os ativos tangíveis e intangíveis, uma vez que ambos representam benefícios econômicos futuros para a firma. Palavras-chave: Ativos intangíveis, benefícios econômicos futuros Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 93 93 11/3/2007, 19:35 Leonor Ferreira, Manuela Sarmento e Justina Fijalkowska Abstract Organizations are facing the knowledge era, which is characterized by the prevalence of intangibles, creating added value for companies.This paper aims at focusing on the presence of intangibles in the listed companies in Portugal and Poland based on the calculation of the market-to-book value ratios. Additionally, intends to identify and explain similarities and differences between these two countries, in accounting regulation and financial reporting about intangibles. The research demonstrates that the value of the company in the financial statements differs from real market value, due to intangibles. It is recommended that intangible accounting of companies should improve. However, from a purely economic point of view, future research should deeply reflect and analyze the theoretical basis of the differences between intangibles and tangible assets, since both represent future economic benefits for the firm. Key-Words: Intangibles assets, future economic benefits 1. Introduction Organizations are facing a new phase in economic development, which is characterized by the prevalence of intangible assets creating added value for companies. Therefore, many individual researchers as well as institutions worldwide, such as Organization for Economic Cooperation and Development, European Union Commission, governments, and accounting standardization bodies shifted their attention to the intangibles accounting. The research presented in this paper is based on the calculations of market-to-book values of listed companies in Portugal and Poland. Computed market values in both countries have been greater than book value for the analyzed years.The evidence from this research confirms the findings presented in Lev and Zarowin (1999), Garcia-Ayuso, Monterrey and Piñeda (1997), Amir and Lev (1996), and Eccles and Mavrinac (1995), that indicate a lack of relevance of the accounting information. The achieved results have implication for accounting standard setting. Book values can be interpreted as being a result of conservative practices used to protect creditors in Portugal and Poland. The paper concludes that, for Portugal and Poland, financial statements should give more attention to intangibles, in order to make financial reporting more relevant for investors, which are in line with the International Accounting Standard Board recommendations. Descriptive report of intangibles should supplement the financial statements making the generated information more transparent and better reflecting market value. 94 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 94 11/3/2007, 19:35 Intangibles Accounting: a Comparative Study Between Portugal and Poland 2. Literature Review The intangible assets and the intellectual capital of the company have been widely analyzed in the economic and accounting literature. Issues examined include the economic nature, definition, classification, recognition and measurement, as well as the relevance of those assets for the purpose of the value creation and decision making processes. However, on some of those issues there is no one common idea, shared by all authors. Investments in intangibles are increasing more and more, since companies have understood that competitive advantage depends on such type of investments, what is underlined by Schumpeter (1942), who stressed that innovation is a fundamental source of wealth. Possible sources of innovation are investments in research and development, and also investments in human resources, new technologies, advertising, marketing and software development. For young innovative firms that operate in highly competitive markets, such as pharmaceutical, wireless communication, internet services, the most important long-term assets are intangibles. These assets include the knowledge of employees, technology under development, manufacturing arrangements and marketing and distribution system, all of which are absent from financial statement (MORTENSEN, EUSTACE and LANNOO, 1997). These categories can be grouped under the title of Intellectual Capital. Traditional management accounting, dating back to the beginning of the last century, has served as a tool for cumulating and sorting data on costs and calculation of the costs of products. Thus, first based on historical costs, later it has been also used to create budgets. The great increase of indirect costs, during the last decades, brought lack of precision in the calculation of unit costs.Traditional accounting usually ignored intangibles and especially human resources (JARUGA, NOWAK and SZYCHTA, 2001). In 1964, Hermans noticed that the balance sheet does not reflect the true picture of the company, as it does not include the human capital (ROSLENDER and DYSON 1992). Attempts to treat people as assets and to valuate them began with Likert (1967) and Flamholtz (1987). The former underlined the necessity of including the human resources to the long term planning while the latter proposed the criteria to valuate them. Sackman, Flamholtz and Bullen (1987) highlight the importance of so called “human resources accounting”, by stating that capitalizing human resources simplifies the decision making process. Later, in the 80’s, the role of human resources in accounting declined, mainly because it was based on too many assumptions and ethical issues. However, with entering the knowledge era, the concept returned. Representatives of management theory and practice state that economy is based on the intangible assets. Innovative companies usually allocate the invested resources in the intangible part of the company as they notice that their development is the key for future success. According to Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 95 95 11/3/2007, 19:35 Leonor Ferreira, Manuela Sarmento e Justina Fijalkowska Tollington (1994), balance sheet as they are presently elaborated and disclosed can distort assets, what are no longer accepted. Kerstei and Kim (1995) and Hansson (1997) conclude that investors valuate in a more positive way those companies that make investments. According to their studies, expenditures on investments in tangible and intangible assets are strongly and positively associated with the substantial returns on investments. However, if companies invest in their employees and do not reflect it on the financial statements, potential investors lack this important information. Moreover disclosing to users intangibles as expenses instead of capitalized investment, can discourage potential investors from allocate funds in the firm. The utility of traditional accounting and reporting is declining (Roslender, 1997). The usefulness of reported earnings, cash flow and book (equity) values have been deteriorating over the last 25 years (LEV and ZAROWIN, 1999). Wallman (1996) presented some reasons of this distortion and underlines the necessity of changes in the traditional conduct of companies. He emphasizes the difficulties concerning the measurement of distortions, which usually derive from intangibles. He also highlighted the low utility of financial reports. Ryan and Tibbits (1996) claimed that apart from valuating intangible assets, based only on historical costs, it is necessary to create new systems of presentation, taking into account actual information concerning present values. This would unable to reduce the gap between the market value of the company and the book value presented in its balance sheet. It is the authors’ opinion that the theoretical framework behind the emergence of new ideas on valuation of intangibles is mainly an economic theory. One may observe the shift from valuation based on costs, which was inspired by Adam Smith, David Ricardo and Karl Marx to valuation based on utility assumptions. The criteria to classify an item as an asset based on legal ownership are overlapped by the assumption of utility. A recent approach to intangibles’ valuation is based on the concept of intellectual capital2. It is called “the new wealth of organizations” (STEWART, 1997, SVEIBY 1997), “the buried treasure” (DZINKOWSKI, 1999a) or “revealed treasure” (DZINKOWSKI, 1999b).The broadest definition of intellectual capital is “the difference between a company’s market value and its book value” (James, 1997). In a narrower sense, intellectual capital is “the sum of the knowledge of its members and the practical translation of this knowledge, that is, brands, trademarks and processes” (ROOS and others, 1997). Some companies in EU have already implemented the concept and even Scandinavian governments made intellectual capital statement an obligatory one. Skandia was the first company to publish a supplement to the yearly financial statement on intellectual capital in the 1994. The company reported the possession of knowledge, applied experience, organizational technology, customer relationships and professional skills that provide it with a competitive edge in the market (EDVINSSON 1997). 96 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 96 11/3/2007, 19:35 Intangibles Accounting: a Comparative Study Between Portugal and Poland Authors of slightly different definitions and approaches to the intellectual capital agree that it is becoming the critical resource for a firm’s viability and success (BONTIS and others, 1999). Several models of reporting have emerged as an attempt to managing, measuring and reporting the intellectual capital of a firm.Table 1 lists the names and main contents of the most well known of those models. Table 1: Models of intellectual capital reporting. Authors Kaplan and Norton (1992) Petrash (1996) Haanes and Lowendahl (1997) Sveiby (1997) Method Balanced Scorecard Platform Value Classification of Intangible Resources Intangible Asset Monitor Edvinsson and Malone (1997) Skandia Intellectual Capital Model Danish Confederation of Trade Unions (1999) Three Categories of Knowledge Classification of Intellectual Capital •Internal Business Perspective •Customers Perspective •Innovation and Learning Perspective •Financial Perspective •Human Capital •Customer Capital •Organizational Capital •Competencies •Relations •External Structure •Internal Structure •Competences •Human Capital •Structural Capital •Peoples •Systems •Market The base concepts of intellectual capital reporting models are very similar, although one can observe slight differences among their contents. These models have been voluntarily used by several companies. It is worth while mentioning the actual national and international regulations do not detail and clarify reporting prescriptions. 3. Regulation on Valuation of Intangible Assets The regulation concerning recognition, valuation, measurement, amortization and impairment of intangible assets is stated in Portuguese and Polish accounting laws. While in Portugal they are published in the Official Accounting Plan and accounting guidelines, Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 97 97 11/3/2007, 19:35 Leonor Ferreira, Manuela Sarmento e Justina Fijalkowska issued by the Portuguese Accounting Standardization Board, and in Poland, they are included in the Act on Accounting. Table 2 presents the comparison between Portuguese and Polish reporting regulations about intangibles, and highlights similarities and discrepancies in these regulations3. Basically, the national rules in both countries are in line with international rules, such as International Accounting Standard 38 issued by International Accounting Standard Board (IASB), which are compulsory since 2005, for consolidated financial reports of companies with listed shares. Both Portuguese and Polish regulations present incomplete definitions of intangibles: • Portuguese regulation gives an inventory classification of intangible assets, but does not provide the characteristics of each intangible asset; • Polish regulation details characteristics that allow the classification of some intangible assets. Table 2: Comparison between Portuguese and Polish reporting regulation about intangibles. Portuguese Regulation Polish Regulation Definition • There is not a legal definition of the term intangible assets, although the law provides definitions of each category of intangibles. • The accounting law provides the complete list of fixed intangible assets, namely: start-up costs, R&D expenditures, industrial property and other rights, goodwill. • The Polish definition states that intangible assets are economically usable property rights, required by an entity and included in its fixed assets, with anticipated useful life of more than one year, that are used by the entity. • The Act on Accounting provides a list of intangibles, containing: authors' economic rights and neighbouring rights, licences and concessions, rights to inventions patents, trademark, utility and decorative designs, know how, the acquired value of the firm, costs of development projects completed. Recognition • Intangibles investments should be expensed in accounting period in which they are incurred. • Intangibles expenditures may only be capitalized in exceptional cases (e.g. R&D). • Recognition of an intangible asset is according to its acquisition price and manufacturing cost. • It includes also costs of bringing an asset to a useable condition or trading, including costs of transport, loading, unloading, storage or bringing into trade. Measurement • Only in historical and benchmark cost. Only in historical and benchmark cost. Revaluation • Not admitted, unless authorized by law. Not admitted, unless it is authorized by law. 98 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 98 11/3/2007, 19:35 Intangibles Accounting: a Comparative Study Between Portugal and Poland Portuguese Regulation Polish Regulation Amortization • Amortization should be done. • Maximum period of amortization is 5 years. In exceptional cases it can be extended according to the useful life of the asset, but the reason must be disclosed. In addition amortization of goodwill must not exceed 20 years. • Depreciation write-offs should be done. • Goodwill should be amortized in a period not exceeding 5 years. For justified cases it can be extended to 20 years. Impairment • Impairment should be done. • No specific rule is provided by the Portuguese law, thus IAS should be used. • Impairment should be done. • No specific rule issued by the Polish law. Thus, in both countries, some resources, which are part of the intellectual capital, are not included in the legally binding rules of accounting and so they are either underestimated or totally ignored in the financial statements. The most important similarity between regulations in Portugal and Poland is that investments on intangibles are expensed in the year in which they are incurred and may only exceptionally be capitalized as an asset in the balance sheet. The very restrictive accounting criteria for the recognition and valuation of intangible assets make it difficult to disclose them in annual accounts. As a consequence, financial statements are becoming less informative on the firms’ current financial position and future prospects because they provide reliable but not relevant estimates of the value of companies (Cañibano, L., Garcia-Ayuso, M., Sanchez, P., 2000). They do not provide investors and other stakeholders with the appropriate information for the decision-making process. 4. Research Framework One indicator of the existence of intangible assets not included in the financial statement is the difference between market value and book value.This difference has been tested by several authors, such as Sveiby (1997) and Brooking (1996). However, due to its simplicity, it is not able to capture all the complexity of the real situation as it ignores some factors influencing the market value of a company, such as deregulation, supply conditions and general market volatility. According to Financial and Management Accounting Committee (1998) this indicator may also be inaccurate, because book values can be affected if firms adopt tax depreciation rates for accounting purposes, which do not approximate the diminution in the value of an asset. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 99 99 11/3/2007, 19:35 Leonor Ferreira, Manuela Sarmento e Justina Fijalkowska These reasons have justified that more recently researchers have adopted the marketto-book value as the proxy to intangibles not recognized as assets. Several empirical papers have explored the gap between market and book values, following the pioneer study by Lev (1996), which reported an increase in the market-to-book value from 1973-1992 in U.S. companies. Examples, either from North America, or later from Europe, are Lev and Zarowin (1999), Amir and Lev (1996), Cañibano and Sanchez (1997), Garcia-Ayuso, Monterrey and Piñeda (1997), Francis and Schipper (1999) and Brennan and Connel (2000). They all evidence a growing gap between market and book values of the companies. These authors conclude that financial statements ignore many intangibles, and as a result, accounting reporting is loosing its explanatory power for those who intend to make rational economic decisions. The research presented in this paper adds two more countries to previous literature. It analysis financial reporting process concerning the reflection of the intangibles in Portuguese and Polish companies, thus it compares the market value with the book value of companies in these two countries. Two variables were chosen, as alternative proxies to measure the non-recognized intangible assets both in Portuguese and Polish companies: • Firstly, we calculate the simple average market to book value ratio, e.g. the simple average of the individual market to book ratio of all the firms in the sample; • Secondly, we calculate the aggregated average market to book value. The later is in line with Givoly and Hayn (2000), who argued that using the aggregated market to book value has the advantage over the simple average ratio across individual companies of being independent of the cross-sectional variance in the ratio. Aggregated market to book ratio is the total market capitalization of all firms in the sample divided by the total sum of the book value figures of all firms in the sample. To choose the sample, the following criteria were adopted: companies with shares listed in the main market at the Portuguese Stock Exchange (BVLP) and the Warsaw Stock Exchange (GPW) on the 31st December of years 1997 to 2002. Three reasons justified these criteria: • The availability of information, as listed companies must disclose and publish their annual reports and financial statements; • The accuracy in the financial information disclosed by those companies was considered, due to the fact that they are submitted to an additional audit; • The frequency of trading is usually higher in companies listed in the main market. Some restrictions were imposed to the sample. Banks and other financial institutions with listed shares were excluded because they are submitted to different accounting rules. Additionally, companies that had no comparable information for analysis were 100 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 100 11/3/2007, 19:35 Intangibles Accounting: a Comparative Study Between Portugal and Poland excluded from the sample. Also, four Polish companies and one Portuguese company, which reported negative equity book values, were excluded. All the observations with missing values were also deleted from the sample. The final size of the sample is 215 companies for Portugal and 220 companies for Poland. The sources of data used to construct the sample are: Datastream, the database available at DATHIS, data from the Warsaw Stock Exchange, the financial statements published by companies and, data retrieved from the Internet. A remark should be made to the fact that it is still difficult to find a centralized and available public database to get the needed information in both countries. The information was collected either from the individual annual accounts or from the consolidated accounts. The number of companies analyzed per year (6 years) varies, as new firms became public and other listed firms were excluded from the Portuguese Stock Exchange and Warsaw Stock Exchange. 5. Interpretation of Results Table 3 presents basic statistics of the sample for Portugal and Table 4 for Poland. Price is the market value per share and BV is the book value per share4. Table 3: Descriptive statistics Portugal (Euros) Table 4: Descriptive statistics Poland Price BV (Euros) Mean 12.44 9.02 Mean Price BV 30.81 23.97 Maximum 174.08 86.00 Minimum 0.40 0.31 Maximum 420.00 322.00 Minimum 0.21 Standard deviation 17.55 8.80 0.16 Standard deviation 53.80 30.47 Table 5 shows the Market to Book ratios for non-financial listed companies in Portugal for the years 1997 to 2002. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 101 101 11/3/2007, 19:35 Leonor Ferreira, Manuela Sarmento e Justina Fijalkowska Table 5: Market-to-book ratios for non-financial listed companies in Portugal. Year Number of companies Simple MV/BV Aggregated MV/BV 1997 38 1.87 2.25 1998 38 1.79 2.26 1999 36 1.67 2.15 2000 36 1.68 1.74 2001 36 1.85 1.74 2002 31 1.86 1.34 Table 6 shows the market-to-book ratios for non-financial listed companies in Poland for the same period. Table 6: Market-to-book ratios for non-financial listed companies in Poland. Year Number of Companies Simple Aggregated MV/BV 1997 26 1.54 1.31 1998 35 1.05 1.76 1999 42 2.53 2.62 2000 41 1.50 2.25 2001 41 1.38 1.43 2002 35 1.05 1.43 The market to book value from the period 1997 to 2002 is always greater than one in both countries, showing that there is a gap between market and book values and that financial statements do not reflect all the intangible assets that create market value. In some cases it reaches even 2.25 (aggregated in Portugal for the year 1997) and 2.65 (simple for Poland for the year 1999). However, when we analyze individual companies we can find even market to book value ratio accounting for 8. Figure 1 provides a comparison between the achieved results in both countries, concerning simple market-to-book value ratio. 102 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 102 11/3/2007, 19:35 Intangibles Accounting: a Comparative Study Between Portugal and Poland Figure 1: Evolution of the simple market-to-book value ratio - Portugal and Poland. Figure 2 provides a comparison for the results achieved in both countries, concerning aggregated market-to-book value ratio. Figure 2: Evolution of the aggregated market-to-book value ratio Portugal and Poland. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 103 103 11/3/2007, 19:35 Leonor Ferreira, Manuela Sarmento e Justina Fijalkowska These results are not affected by the way in which the market to book value has been calculated as the aggregated ratio and simple ratio lead to similar conclusions. 6. Conclusion This paper demonstrates the lack of relevance of the accounting information presented in the financial statements of non-financial listed companies in Poland and in Portugal. The value of the company in the financial statements differs from real market value. It is also confirmed that intangible assets, liabilities and investments are important and real value generators of the economy.Thus, intangibles are an important part of the company market value. From a purely economic point of view, there is no theoretical basis upon which a clear distinction exists between intangible and tangible assets, since both represent future economic benefits for the firm, resulting from past transactions or events. This research is in line with the findings presented in Eccles and Mavrinac (1995), Lev and Zarowin (1999) Amir and Lev (1996) and Garcia-Ayuso, Monterrey and Piñeda (1997) that indicate the lack of relevance of the accounting information. The results of this paper have implications on accounting standard setting. Book value figure can be understated due to conservative practice to protect creditors in Portugal as well as in Poland. Most of the intangible investments, even though they contribute to generate future value and earnings, according to accounting law and practices in both countries, are immediately expensed and disclosed in the income statement. They are not disclosed in the balance sheet. Polish and Portuguese Accounting Standards are adopting the International Accounting Standard Board recommendations: descriptive report on intangibles should supplement the financial statements. Generally, stakeholders, policymakers, and researchers consider the new regulation about intangibles more transparent, improving the status quo. In order to provide the users of financial statements with relevant information that could enhance the process of rational economic decision-making, accounting standards setting bodies may provide guidelines for a better recognition, valuation and presentation of intangibles in financial statements. 7. References Amir, E. and Lev, B.Value-relevance of non-financial information: the wireless communications industry, Journal of Accounting and Economics. 22: 3-30, 1996. Bontis, N.; Dragonetti, N.; Jacobsen, K. and Goran, R.The knowledge toolbox: a review of the tools available to measure and manage intangible resources. 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CEP: 1400-219 [email protected] Justina Fijalkowska é estudante do PhD e Mestre em Administração. É conferencista da Lodz University. CEP: 95-040 [email protected] Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 107 107 11/3/2007, 19:35 arte_angrad.pmd 108 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna The meaning of the Education in the Pos-Modern Society Context Manolita Correia Lima [email protected] ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing Campus Prof. Francisco Gracioso CEP: 04018-010 São Paulo - São Paulo - Brasil Resumo O ensaio teórico promove reflexão de natureza crítica propositiva acerca do sentido e perda de sentido da educação superior no contexto da sociedade pós-moderna. Para tanto, identifica as razões que desencadeiam a crise ética que aflige as sociedades contemporâneas, para discutir em que medida os ambientes educacional e profissional fortalecem uma existência pautada pela ética. A influência que o Ministério da Educação (Conselho Nacional de Educação) e o Ministério do Trabalho (Conselhos Profissionais) exercem sobre a educação superior figura o cerne da reflexão. O raciocínio construído está estruturado em 5 partes: inicialmente, problematiza-se acerca da (im)possibilidade de investir na educação do caráter do sujeito moral em sociedades pós-modernas, marcadas pelo individualismo e indiferença; para evoluir sobre o conceito de ética e sua razão de ser. Na seqüência, discute-se o sentido impresso à ética nos espaços da educação e do exercício profissional para, finalmente, apontar alternativas capazes de contribuir para a solução de problemas identificados. Os materiais explorados na fundamentação das idéias resultam de consulta à literatura disponível e a documentos pertinentes. Palavras-chave: Ética, Educação Superior, Educação Profissional, Ministérios da Educação e do Trabalho; Conselho Nacional de Educação e Conselhos Profissionais. Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 109 109 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima Abstract The theoretical essay promotes a reflection of a critical propositive nature about the significance and loss of significance of undergraduate and graduated education in the context of the pos-modern society. In order to achieve these aims it identifies the reasons that give origin the ethical crisis that racks the contemporary societies, then discusses in what sense the educational and professional environments contribute to an existence guided by ethics. The influence of the State Department of Education (National Board of Education) and the State Labor Department (Professional Councils) exercise over graduating and graduated education constitutes the core of the reflection. The argument we put forward is structured around 5 parts: initially, the (im)possibility of investing in the character of the moral individual in pos-modern societies where the individualism and indifference are notorious; to evolve about the concept of ethics and its reason to be. Afterwards, discusses the significance imposed to ethics in the educational and professional spaces to, at the end, indicate alternatives capable of contributing to the solutions of the problems identified.The materials explored in justifying of the ideas result of the exploration of the available literature and of documents relevant to the point. Key-Words: Ethics, Higher Education, Professional Education, State Departments of Education and labor, National Board Of education and Professional Councils. 1. Considerações Iniciais Nas últimas décadas, o mercado editorial tem investido em autores que se propõem a refletir sobre a sociedade contemporânea ressaltando que o espaço ocupado pela perda de alguns valores tradicionais foi substituído por valores pouco comprometidos com a virtude, a responsabilidade, a felicidade e a realização humanas.1 O individualismo resultante da pressão pelo sucesso, o acirramento da competição frente à redução de oportunidades de inserção social e a fragilidade de instituições que, tradicionalmente, desempenharam papel relevante na formação do Homem e na organização do tecido social (a família, a religião, a escola, o Estado, os sindicatos etc.) ilustram transformações que contribuem para a efemeridade dos grupos sociais, dos laços humanos, para o sentimento de isolamento, solidão e desamparo, para o descompromisso e desresponsabilidade frente ao outro, frente aos projetos e espaços públicos. Até que ponto é possível acreditar no trabalho quando são divulgadas as taxas de absentismo e de turn over? Quando a aposentadoria se torna uma aspiração de massa e, para muitos, verdadeiro ideal? Em que medida é possível acreditar na família quando são divulgados os índices de divórcio, o número de casais que não desejam filhos, de idosos que são exilados em casas de repouso, de pais que se desresponsabilizam da educação dos filhos e 110 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 110 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna querem permanecer eternamente jovens (nem que para isto recorram a cirurgiões e psicanalistas)? Como é possível acreditar no Exército quando todos querem escapar do serviço militar? A Igreja já não consegue recrutar seus celebrantes e, tampouco, converter os fiéis. O sindicalismo perde sentido e credibilidade porque abriu mão de referencial reivindicatório. O prestígio e a autoridade dos professores desaparecem quase completamente. Neste contexto, “a onda de desafeição se prolonga por todo o lado, despindo as instituições de sua grandiosidade e, simultaneamente, do seu poder de mobilização emocional” (LIPOVETESKY, 2005 p.19). De que modo atuar contra essas tendências destrutivas porque desagregadoras na direção de caminhos e valores que resgatem o sentido individual e coletivo da vida? Opondo-se às leituras deterministas da realidade, é indispensável considerar como premissas o fato de: a) a realidade não ser homogênea, conseqüentemente, estamos utilizando a generalização como recurso teórico para discutir questões que afligem as sociedades pós-modernas, particularmente aquelas submetidas à dinâmica de funcionamento das grandes metrópoles; b) a realidade não ser dada e sim produto de construções sociais, conseqüentemente, ela pode ser dialeticamente construída, desconstruída e reconstruída sob outras bases, desde que coletivamente acordadas. O trabalho comprometido com processos de transformação social, econômica e política envolve o longo prazo, mas este não pode ser o pretexto para não iniciá-lo, caso queiramos colaborar para um futuro melhor para as gerações que nos sucederão. Nesta direção, torna-se importante identificar aspectos que temos condições de exercer alguma influência e agirmos. Este ensaio teórico se presta a reunir elementos que colaborem para a reflexão crítica e propositiva acerca do sentido da educação superior em um país de economia emergente, como o Brasil. Para tanto, foram explorados os recursos típicos das pesquisas bibliográfica e documental. Enquanto o material resultante de pesquisa bibliográfica contribuiu para a definição conceptual e para a fundamentação do raciocínio construído – razão pela qual o conteúdo dos textos transita entre as áreas de Filosofia, Política, Sociologia e Educação e Administração, a pesquisa documental colaborou na reunião de evidências extraídas de pareceres formulados por relatores vinculados ao Conselho Nacional de Educação (CNE). 2. O que é Ética? Por que e como cultivá-la? Os sentimentos e condutas humanos são modelados pelas condições de vida e de existência dos grupos sociais. Sendo assim, sofremos maior ou menor influência dos membros da família, dos grupos e classe social que pertencemos, da escola que freqüentamos, da religião que faz sentido para nós, do trabalho que realizamos, das condições de trabalho que estamos submetidos, dos representantes políticos que elegemos etc. Levando em conta que Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 111 111 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima a nossa formação é influenciada por valores socialmente acordados, o processo de assimilação, respeito e reprodução de tais valores parece mais algo natural do que cultural. O fato é que tendemos a incorporar tais valores à medida que somos recompensados, quando os respeitamos e punidos quando os transgredimos. Por conseguinte, se educados pelas múltiplas instituições das quais fazemos parte, tendemos a interiorizar as noções de certo e de errado, de bem e de mal, de verdadeiro e falso, de belo e feio, de aceitável e inaceitável, e assim assumimos deveres e obrigações enquanto pessoas e cidadãos. O que somos capazes de fazer para ter a atenção e o amor dos pais, para sermos elogiados pelos professores a quem respeitamos, para sermos queridos pelos nossos pares, para nos destacar entre os membros dos grupos sociais aos quais fazemos parte, para sermos reconhecidos e recompensados pelos ‘chefes’, nos ambientes de trabalho etc? Batalhamos pela conquista de repertório intelectual consistente; investimos em saúde e aparência física; tentamos nos comunicar de forma clara, convincente e atraente; lutamos por melhores oportunidades de trabalho; empenhamos esforços para ampliar nossa remuneração e bem-estar; tentamos influir sobre a opinião dos outros e sermos convincentes sobre aquilo que acreditamos; buscamos ser respeitosos com quem discordamos; tentamos ser colaborativos nos projetos que não são nossos; batalhamos para atender às exigências do Qualis; tentamos controlar frustrações e tantas outras coisas mais! Então, a ética nasce do trabalho de uma sociedade determinada a delimitar e controlar a violência – tanto a violência que podemos dirigir contra os outros, quanto a violência que podemos deflagrar contra nós mesmos – ao instituir valores, meios e fins capazes de nos liberar desta dupla violência. A filosofia moral se ergue como reflexão contra a violência, em nome de um ser humano concebido como racional, desejante, voluntário e livre. Com esta introdução, é possível entender porque a ética e a moral referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de determinada sociedade e como tais costumes são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros (CHAUI, 1995 p.340). Então, seria possível admitir que o sentido impresso à ética é similar ao sentido atribuído à moral? Não, enquanto a moral é particularista, profundamente vinculada e identificada com interesses de determinados grupos – religiosos (a moral judaico-cristã); classistas (a moral pequeno-burguesa); intelectual (a moral acadêmica), partidária (a moral do Partido dos Trabalhadores) – a ética tem conteúdo universal, parte do princípio da igualdade dos seres humanos e de respeito a direitos inalienáveis. Para Rattner (2004), a ética postula código de conduta que exige comportamentos baseados em valores consentidos (desejados) e praticados (exercidos por todos) em dimensões universais. Assim, a ética universal transcende a todos os outros sistemas de crença e valores. Apresenta-se como uma espécie de síntese da consciência humana, ciente da preciosidade de todas as formas de vida humana e dos direitos das pessoas à liberdade e à felicidade. Além do caráter universalista, o Autor imprime dimensão temporal ao concei- 112 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 112 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna to, ao assegurar que a ética se refere a uma visão futura da humanidade, cujos sujeitos desejantes podem formar comunidades de cidadãos ativos, fontes de liberdade e por isto mesmo movidos por elevada capacidade de transformar a História, de construir, desconstruir e reconstruir a realidade. A ética pode ser entendida como a educação do caráter do sujeito moral. Conseqüentemente, tem a pretensão de colaborar para o controle racional de impulsos e desejos na ambição de orientar a vontade das pessoas rumo ao bem e desta forma conseguir influir em processos de transformação que objetivam elevar pessoas a membros da coletividade sociopolítica. A transgressão da ética se inicia quando a organização da sociedade limita os sujeitos desejantes, capazes de transformar a História, a poucos. Desta forma, constrói uma sociedade de desiguais e compromete a noção universalista intrínseca à idéia de ética. Em nossa prática docente cotidiana, estamos fortalecendo ou enfraquecendo a ética pensada por este prisma, ao produzir conhecimento e ao trabalharmos orientados pelo e para os projetos que dão sentido a educação – seja no plano da instituição, do curso e dos estudantes? Hengel (apud CHAUI, 1995 p.348) assegura ser possível perceber o momento em que determinada sociedade e Cultura entram em declínio. Para o Autor, na medida em que elas perdem a capacidade de conservar-se, é inevitável a emergência de crises internas que anunciam seu término e a passagem a uma outra formação sociocultural, porque ao se sentirem oprimidos pelos valores de determinada sociedade e Cultura, é comum que seus membros se insurjam conta os valores vigentes, com manifestações declaradas de transgressão. Neste momento, adverte Chauí (1995), o antigo acordo estabelecido entre as vontades subjetivas e objetivas é rompido, anunciado a emergência de novo período histórico. A sociedade contemporânea estaria dando sinais de esgotamento? A violência praticada por crescente número de jovens brasileiros e os movimentos sociais que pipocam na França figurariam exemplos de sociedades que rejeitam os valores vigentes? Não é significativo que tais movimentos sejam protagonizados por jovens que desejam ter o direito de formular projetos de vida2, que almejam o direito de ter perspectivas e desenhar horizontes? Como este sentimento de desamparo culmina em um País que historicamente o governo adota políticas sociais e a economia atraiu investimentos da ordem de 48 bilhões de dólares, apenas em 20053? Partindo-se da premissa que as instituições educacionais exercem (ou deveriam exercer) expressiva influência sobre a formação de princípios éticos que repercutirão não só sobre a prática profissional, mas sobre a vida social das pessoas, valeria a pena refletir: o sistema de educação superior brasileiro colabora para o enfraquecimento ou o fortalecimento da ética entre os jovens? Em que medida o Conselho Nacional de Educação (CNE) e os alguns Conselhos Profissionais (CP) têm contribuído para a perda de sentido da educação superior? Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 113 113 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima 3. A Educação Superior e o Fortalecimento da Ética A educação desempenha múltiplas funções. Aquela que permanece historicamente presente, embora mais no plano do discurso do que no nível da prática, é a função política, responsável pela formação do Sujeito, capaz de conquistar espaços de participação responsável na sociedade. O desenvolvimento das competências humanas assume caráter político na medida em que política é entendida como a habilidade de ampliar, aprofundar e aprimorar as condições de o Sujeito se transformar e contribuir para processos de transformação da sociedade. Por este prisma, a educação corresponde ao âmago do fenômeno político porque é obra de Sujeitos para gestar Sujeitos (DEMO, 1996 p.22). O conceito de qualidade aplicado à educação remete a duas visões: uma relaciona a qualidade da educação à elevação de competitividade na medida em que entende o conhecimento como instrumental determinante do processo de inovação e, sendo a inovação elemento essencial para competir no mercado, estabelece intrínseca relação entre competitividade e educação. A outra relaciona a qualidade com o compromisso de a educação contribuir para a formação política do cidadão. Demo (1996; 1999) nomeia estas duas instâncias da educação de qualidade formal e qualidade política. A busca pela elevação da competitividade realça o lado formal da qualidade, que corresponde ao manejo do conhecimento, considerado instrumento primordial de processos simultâneos de transformação e de adaptação. Esta perspectiva de educação está ancorada a um tipo de habilidade fundado no domínio metodológico instrumental, ou seja, na capacidade de manipulação dos meios. Já a expressão política ressalta a face política da qualidade, aquela que expressa a ética da intervenção histórica, ou seja, o desafio de não só fazer história, mas, sobretudo, de contribuir para humanizá-la. Enquanto a qualidade formal resulta do desenvolvimento de habilidades instrumentais e da capacidade prática de exercitá-las, a qualidade política resulta da incorporação de valores humanos comprometidos com princípios éticos e com responsabilidade social. Entretanto, embora o conhecimento se encontre na base do processo de emancipação humana, pode, por incorporar caráter tendencialmente técnico, frutificar com facilidade no campo da exacerbação do individualismo, da intolerância, da competitividade, da concorrência e da irresponsabilidade social, em detrimento do campo da cidadania solidária (MORIN, 2004; DEMO, 1997). Ao enfatizar a importância de as IES criarem condições para estudantes conquistarem domínio instrumental e autonomia responsável acaba-se reconhecendo, valorizando e perseguindo a qualidade formal e política da educação, no sentido evocado por Demo (1996; 1999). Instituições, cursos e professores interessados em contribuir para a educação substantiva preocupam-se em ultrapassar a fragmentação da realidade – resultante de desenhos curriculares em que cada disciplina tem um fim em si mesma – cultivando o espaço da dúvida, favorecendo a formulação de projetos, que 114 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 114 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna quando implementados permitirão ao estudante alcançar diferentes níveis de interpretação, compreensão, explicação, resposta, solução e proposição conseqüente. Desta forma, contribuirão para o desenvolvimento de competências imprescindíveis para o estudante atuar profissionalmente – dimensão da qualidade formal – e para o desenvolvimento de sua condição de sujeito político, capaz de intervir eticamente sobre a realidade, na proporção que subverte a condição de massa de manobra e contribui para que se assuma como artífice do seu destino – dimensão da qualidade política. Apresentados e definidos os conceitos de qualidade formal e política na educação, cabe questionar: até que ponto a motivação dos estudantes de graduação está ancorada à educação política ou à educação formal, centrada na possibilidade de ampliarem o índice de empregabilidade, de êxito e ascensão profissional? A relação de subordinação existente entre educação e trabalho ainda pode ser explicada pela teoria do capital humano? A formulação do conceito de empregabilidade e a apologia do conceito de competência não seriam tentativas de renovar as idéias que sustentaram a teoria do capital humano4? É no contexto marcado pela eliminação de postos de trabalho e de aumento da competição entre trabalhadores que emerge o conceito de empregabilidade – argumento cada vez mais explorado por IES que buscam atrair estudantes propensos a acreditar na teoria do capital humano. Frente à incapacidade de Governo e Economia criarem mecanismos eficazes de diminuição do desemprego, o conceito de empregabilidade é formulado para responsabilizar os indivíduos pelo estabelecimento de estratégias capazes de inserilos no mercado de trabalho. Assim, é possível reduzir um problema estrutural (o desemprego) a um problema individual, ou seja, a desqualificação dos indivíduos frente às crescentes exigências impostas pelas transformações ocorridas no universo do trabalho, particularmente com a incorporação de novas tecnologias que agilizam o trânsito de informações, mercadorias e capital. Neste contexto, o conceito de empregabilidade expressa não apenas a capacidade de o indivíduo conquistar determinado emprego, mas, sobretudo, a capacidade de se manter em mercados de trabalho em permanente mutação (OLIVEIRA, 2003 p.34). Conseqüentemente, a inserção no mercado de trabalho dependerá de investimentos canalizados individualmente com a intenção deliberada de desenvolver as competências requeridas pelo mercado de trabalho – e o desemprego perde a face política. Assim, é de se esperar que em países desenvolvidos, que consolidaram sistemas educacionais mundialmente respeitados – pela qualidade da educação e pela democratização do acesso – o desemprego e o seu conteúdo intrínseco de violência não se constituíssem problema nacional. Inobstante, o caso francês subverte esta lógica5: em texto de 1999, Desjardins (apud DIAS SOBRINHO 2000, p.21) afirma que em 1998, 11 mil estudantes concluíram o doutorado em universidades francesas, porém, mais da metade (6.750) continuava desempregada 12 meses depois. O Autor adverte que o mercado de trabalho na França consegue cada Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 115 115 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima vez menos a inserção de recém graduados: 60% dos egressos de cursos superiores não conseguem encontrar trabalho seis meses depois de obtido o diploma e, após 12 meses, 30% permanecem desempregados. O exemplo reforça que o desemprego não é reflexo da desqualificação profissional – como querem postular aqueles que fazem uso do conceito de empregabilidade – conseqüentemente, a formulação e utilização do referido conceito servem para dissimular as verdadeiras razões do desemprego. Frente ao exposto, admite-se que a relação existente entre educação e trabalho não é tão determinante quanto gostaríamos porque os dados revelam que investir em maior qualificação, desregulamentação das leis trabalhistas e no maior entendimento entre trabalhadores e empresários correspondem a medidas que pouco influem sobre a ampliação do número de postos de trabalho. A crise econômica deflagrada nos anos 70 do século XX fez com que parte da geração desse período (adultos nos anos 80 e com grau de instrução superior ao dos pais) não encontrasse emprego e quando encontrasse, via de regra, era exigida qualificação inferior à apresentada pelos candidatos. Isto leva Biarnès (2004 p. 117) afirmar que em tal contexto, o diploma não constitui garantia de emprego, embora mais bem formada, a juventude ocupa cargos menos qualificados e recebe remuneração abaixo do que era esperado, ao concluir a formação superior. Nesta direção, o Autor esclarece que “un indicateur important du début des années 2000 montre que le flux d’argent transgénérationnel, qui auparavant se faisait dans le sens des jeunes vers leurs parents, se fait maintenant des parents vers les jeunes. Ce sont les sénoires qui, bien que moins diplômés, possède un pouvoir d’achat plus important que la génération suivant plus diplômée” (2004 p.140). A relação que o Ministério da Educação (MEC), porém, por meio do Conselho Nacional de Educação (CNE) e do Ministério do Trabalho, por meio dos Conselhos profissionais (CP), parece desconsiderar este fato. Com isto, aos 17 ou 18 anos, aqueles que podem investir em educação superior são forçados a definir a área de conhecimento que irão estudar e a se especializar, quando sequer têm maturidade intelectual para identificar e entender as diferentes áreas dos saberes. Simultaneamente, escolhem a profissão que irão seguir, mesmo que desconheçam as implicações desta decisão! Nas palavras de Edson de Oliveira Nunes e Antônio Carlos Caruso Ronca (relatores do parecer nº 329/2004, do CNE), “o candidato à educação superior precisa saber que profissão terá, antes mesmo de claramente entender a complexidade do mundo do conhecimento. [Curiosamente] é candidato à profissão antes de ser candidato ao saber.” Em tais condições, como estes indivíduos podem ser incluídos na vida adulta como Sujeitos de seu próprio destino? Como poderão formular projetos de vida capazes de imprimir sentido à sua existência? Como serão educados em instituições que assumem a responsabilidade de profissionalizar contingentes de indivíduos sem perspectivas de exercer a profissão? Como ser profissional antes de ser cidadão? Até que ponto os CP alimentam este ciclo vicioso? 116 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 116 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna 4. O Exercício Profissional e o Fortalecimento da Ética Historicamente, a educação superior no Brasil assumiu caráter marcadamente profissionalizante, de formação de quadros profissionais com competência técnica para exercer responsabilidades na burocracia do Estado e nos sistemas produtivos, em desenvolvimento. Este fato explica a educação está orientada pela e para a qualidade formal. As profissões de nível superior são controladas por Conselhos Federais e estes conselhos de registro profissional correspondem a autarquias públicas, sujeitas à supervisão do Ministério do Trabalho6. O Brasil é um dos países que mais regulamentam profissões. Quais seriam os fatores capazes de explicar a preocupação pela regulamentação das profissões? Primeiramente, a Constituição brasileira confere ao Estado a responsabilidade de promover a defesa do interesse público, mediante instrumentos legais, capazes de proporcionar a fiscalização do exercício das profissões que requeiram conhecimentos e habilidades específicos. Segundamente, as categorias profissionais emergentes lutam para conquistar os direitos alcançados pelas profissões clássicas, isto é, a reserva de mercado para os diplomados. Tordino (2004), Martins (1992) e Schwartzman (1985) ressaltam que estes dispositivos legais consolidam a tradição brasileira – que remonta à década de 30 do século passado– de atribuir a cada profissão uma fatia legalmente definida do mercado de trabalho e uma organização corporativa de fiscalização profissional, sob o controle ministerial. Barbosa (apud MARTINS, 1992 p.187/188) chama atenção para a existência de dois tipos de regulamentação e respectivas implicações: a) regulamentação com controles voltados para a posse de credenciais, em algum campo de conhecimento, como condição de capacidade para o exercício de determinada profissão, b) regulamentação com controles centrados sobre a efetiva capacitação para o exercício profissional. Neste caso, a regulamentação termina, de forma indireta, por garantir a qualidade do serviço oferecido à população, minimizando o risco social ou individual dos usuários dos serviços profissionais prestados (a exemplo de médicos, engenheiros, motoristas e aeronautas). Ao observar a evolução do ordenamento constitucional acerca da regulamentação profissional, é possível perceber que o País caminhou da ampla liberdade profissional à medida que o Artigo 179, Inciso XXIV, legisla que “nenhum gênero de trabalho, de cultura, indústria e comércio pode ser proibido, uma vez que não se oponha aos costumes públicos, à segurança do dos cidadãos” (Constituição Federal de 1824) para uma espécie de liberdade vigiada, expressa nos termos do Artigo 5, Inciso XXIII, que “consagra como direito e garantia fundamentais a liberdade de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer” (Constituição Federal de 1988). Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 117 117 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima Quadro 1 – Evolução do Ordenamento Constitucional acerca da Regulamentação Profissional Instrumento Legal Determinação Constituição de 1824 Art.179, Inciso XXIV - "nenhum gênero de trabalho, de cultura, indústria e comércio pode ser proibido, uma vez que não se oponha aos costumes públicos, à segurança do dos cidadãos." Constituição de 1891 Art. 72, alínea 24 - "livre exercício de qualquer Profissão moral, intelectual e industrial." Constituição de 1934 Art. 113, alínea 13 - estabelece a garantia de exercício de qualquer profissão "observadas as condições de capacidade técnica e outras que a lei estabelecer..." Constituição de 1937 Art. 122 - o princípio de "liberdade profissional" é substituído pelo princípio de "liberdade de escolha profissional." Constituição de 1946 Volta parcial ao disposto na Constituição de 1934. Constituição de 1967 Continuidade da competência da União para definir as condições de capacidade para o exercício das profissões liberais. Constituição de 1988 Art. 5, Inciso XIII - "é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer." Fonte: Adaptado de Martins (1992, p.193). A associação estabelecida entre a conquista de títulos escolares e o exercício profissional é, em grande parte, responsável pela ênfase dada ao ensino superior de caráter profissionalizante. Sobre esta questão, vale a pena regatar parte do conteúdo do parecer nº 329 (11/11/2004) do CNE: “a história da formação superior no Brasil é exatamente medida pela escolha da profissionalização precoce, caracterizada, desde o primeiro minuto de vida acadêmica, por um destino profissional compulsório. Em decorrência, o diploma continua a ser o passe para a vida profissional.” A extraordinária disseminação deste paradigma está associada à intensa profissionalização do mundo moderno e contemporâneo, freqüentemente atribuída à divisão racional do trabalho, à explosão dos conhecimentos científicos e tecnológicos e à crescente demanda por recursos humanos qualificados para as funções produtivas e gerenciais de sociedades altamente tecnificadas e burocratizadas. Entretanto, a formação profissional oferecida pelas instituições de educação superior requer alguma reflexão à medida que se estrutura em função quase exclusiva das necessidades impostas pelo mercado de trabalho. Mas, até que ponto a educação superior pode alcançar plenamente este objetivo? A decisão de limitar a educação superior à formação profissional implica conseqüências desastrosas para os Estudantes, a Ciência, a Universidade e a Sociedade na medida em que colabora para, segundo MARTINS, 1992; AKTOUF, 2005: • Crescente descompromisso das instituições educativas com a educação. 118 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 118 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna • Perda de credibilidade das instituições educacionais que prometem à sociedade algo (empregabilidade) que depende mais de variáveis político-econômicas do que de fatores educacionais. • Deterioração de padrões acadêmicos, conteúdos ministrados e critérios de avaliação dos conhecimentos alcançados pelos estudantes uma vez que a centralidade do processo educativo recai na obtenção do diploma e não na aprendizagem significativa e no desenvolvimento de competências humanas. • Fortalecimento do individualismo uma vez que a formação superior está calcada em aspirações individuais atreladas ao sucesso profissional. • Crescente oferta de cursos limitados ao atendimento precário de exigências formais, fortalecendo a mercantilização de títulos e diplomas. • Subordinação da educação a interesses imediatos do mercado. • Descompromisso com a produção e difusão de conhecimentos capazes de colaborar na renovação de currículos e na transformação de pessoas, instituições e sociedade. • Descompromisso com programas comprometidos com a formação substantiva de professores. Martins (1992) coloca em dúvida a contribuição formativa da universidade para habilitação profissional quando se trata de capacitar pessoas para desempenhos ocupacionais específicos. A promessa de as IES desenvolverem habilidades profissionais não é integralmente alcançada à medida que as habilitações que abrangem domínio de conteúdos teóricos e aquisição de habilidades práticas não são alcançadas unicamente pelo cumprimento do currículo formal. Em maior ou menor escala, pressupõem aprendizados que ocorrerão fora do ambiente universitário. O Autor (1992 p.181) lembra que explorar recursos pedagógicos que envolvam simulação de situações de trabalho e estágio curricular corresponde a indícios de que a habilitação profissional não é proporcionada exclusivamente pela escolarização universitária. Corroborando o que já foi afirmado por diversos autores (DEMO, 2002; MACHADO, 2002; MARTINS, 1992, OLIVEIRA, 2003, entre outros), cabe sublinhar que a formação profissional relativa à aquisição de habilidades específicas não pode ser confundida com educação superior voltada para a educação formal e política dos estudantes porque neste caso, além da profissionalização, é indispensável investir em formação cultural, política e científica. A instrumentalização da educação elimina qualquer diferença que possa existir entre formação profissional, cultural, política e científica, e nivela a educação superior por baixo, porque, neste caso, ela estaria mais ancorada ao desenho de cursos técnicos do que de cursos superiores. Defensor da educação superior pautada na formação acadêmico-científica, capaz de favorecer a produção e a difusão de conhecimentos com potencial de elevar a qualidade de vida da sociedade, Oliveira (2003) é taxativo ao afirmar: “Atribui à escola a responsabilidade de garantir um novo tipo de formação, permitindo aos Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 119 119 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima indivíduos que se apropriem de novas competências cognitivas e comportamentais acarreta sua descaracterização como um espaço responsável pela formação de seus alunos em âmbito mais expansivo que apenas a preparação para o trabalho (p.40)... Além disso, carece considerar que o reducionismo educacional presente nas proposições ligadas às teorias que subordinam a educação a um projeto de competitividade econômica e disputa por uma vaga no mercado de trabalho estabelece na arena pedagógica, uma concepção de cidadão minimizada e fragmentada” (p.41). O que a LDB (Lei nº 9.394, de 1996) legisla sobre a questão? Qual é a posição formalmente assumida pelo MEC? Que tipo de influência os CP exercem sobre a formação superior, com quais conseqüências? O Artigo nº 48 da LDB assegura que “os diplomas de cursos superiores reconhecidos, quando registrados, terão validade nacional como prova da formação recebida por seu titular.” Ao se manifestar sobre isto, em parecer formulado em 2004 (nº 329), o CNE desvincula a educação superior do exercício profissional, ao afirmar que a LDB “abriu novas perspectivas para a educação superior brasileira, possibilitando a desconexão entre a vida profissional e a formação universitária, indicando que o diploma atesta o que se aprendeu nos estudos superiores, não ligando, necessariamente, o diploma à licença profissional”. Estranhamente, em maio de 2006, o presidente da República assina decreto prevendo a participação dos CP no reconhecimento dos cursos superiores. Nas palavras do ministro da Educação, “se um curso está formando maus profissionais, quem melhor que os conselhos para apontar isso?” (apud Folha de São Paulo, 11/5/2006). Neste contexto, a lógica e os critérios que prevalecerão no reconhecimento dos cursos de graduação em Administração estarão mais ancorados ao universo profissional do que ao universo acadêmico, contrariando a cultura acadêmica que rege a formação superior? Esta medida fortaleceria a formação superior em Administração? Ampliaria as chances de os egressos da graduação realizar programas de mestrado e doutorado e investir em programas de educação continuada? É pouco compreensível a influência que o atual Governo espera que os CP exerçam formalmente sobre a educação superior tendo em vista que a razão de ser destas corporações está associada ao exercício profissional e não às etapas que antecederam ao registro dos egressos de cursos superiores aos referidos conselhos: Tordino (2004, p.163) reconhece os CP com órgão que deve “zelar para que o campo profissional seja respeitado e o exercício profissional se dê na conformidade da lei”; Rodrigues (apud TORDINO 2004 p. 162) associa os CP à promoção de valores profissionais, à manutenção ou aumento da autonomia das autoridades profissionais; e Schwartzman (1985) assegura que a principal função dos CP reside em controlar a qualidade técnica e o comportamento ético de seus membros. Mas, até que ponto os CP cumprem as responsabilidades assumidas e dão sentido à sua existência? É inegável que nestes quase 80 anos, as transformações ocorridas no âmbito das relações econômicas – nacionais e transnacionais – e na organização do trabalho tornaram a dinâmica de funcionamento da sociedade brasileira muito mais complexa. Isto explica a emergência de manifestações contrárias ao mercado de trabalho ser organizado por pro- 120 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 120 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna fissões legalmente definidas e fiscalizadas por corporações profissionais na forma de autarquias públicas. É significativo que em texto publicado há mais de vinte anos, Schwartzman (1985) explore argumentos justificadores deste ponto de vista ao assegurar que, apenas no plano formal, as principais funções exercidas pelos CP residem no controle da qualidade técnica e no comportamento ético de seus membros. Por mais estranho que seja, ações nesta direção – adverte o Autor – têm sido negligenciadas em nome da defesa de monopólios profissionais de diferentes categorias profissionais. Dois exemplos de defesa de monopólio profissional são as Resoluções Normativas (nº 300 e nº301) baixadas pelo Conselho Federal de Administração (CFA). Embora inconstitucionais, visto que o CFA não possui qualquer competência normativa em matéria educacional, seu teor adverte que apenas os bacharéis em Administração podem coordenar cursos de graduação em Administração e lecionar disciplinas técnicas intrínsecas ao campo da Administração, oferecidas nos currículos dos cursos de graduação (RODRIGUES, 2005 p.1/2)7. Levando-se em conta que, na prática, é impossível estabelecer clara divisão de funções entre, por exemplo, Engenheiros e Arquitetos, Farmacêuticos e Bioquímicos, Psiquiatras e Psicólogos, Engenheiros de Produção e Administradores etc. termina prevalecendo lutas políticas travadas entre diferentes categorias profissionais em nome da definição legal de privilégios (SCHWARTZMAN, 1985), a exemplo das ações do CFA, antes mencionadas. Esta luta se agrava quando o capitalismo avançado pressiona governos e IES a subverterem os territórios epistemológicos estabelecidos com a emergência da ciência moderna, na direção do desenvolvimento de multicompetências, capazes de favorecer a redução dos custos e ampliar a produtividade. Este fato explica a crescente valorização de projetos educacionais que transcendam propostas disciplinares e explorem as dimensões multi, inter e transdisciplinares, indispensáveis aos exercícios que exijam a compreensão de realidades complexas (MORIN, 1999). É imprescindível, porém, considerar que a monopolização das oportunidades de trabalho em nome da formação profissional legitima processos de exclusão social – intoleráveis em países que a educação pública permanece um privilégio – e estimula a multiplicação de cursos e diplomas desprovidos de conteúdos cognitivo e técnico que realmente os justifiquem. Conseqüentemente, ela termina contribuindo para excluir do mercado de trabalho pessoas capacitadas e comprometidas, mas, por diversas razões não se submeteram ao ritual educacional requerido. A conseqüência inevitável desta distorção é a proliferação de cursos superiores, diplomas e semi-profissões de conteúdo cognitivo e profissional duvidosos, mas formalmente supervisionados pelo CNE e respectivos CP (SCHWARTZMAN, 1985). No momento em que a obtenção de diploma de curso superior assume maior importância do que a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de competências humanas8, Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 121 121 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima é evidente que a preocupação e o compromisso com projetos educacionais conseqüentes ficam relegados a segundo plano. Não raro, são rejeitados por representarem obstáculos ao objetivo principal da educação superior: a obtenção do diploma! Sobre isto, Martins (1992 p.174) assegura que o credencialismo pode ser responsabilizado pela crescente degradação dos valores acadêmicos, fazendo com que a função principal da universidade deixe de ser a promoção da Ciência em sua totalidade de pesquisa e ensino, à medida que a disciplina nos estudos perde a sua razão de ser e se afrouxam os critérios de verificação do mérito e do rendimento escolar para se acobertar uma pseudo-habilitação profissional. Neste contexto, as instituições de educação superior comprometem suas funções substantivas ao terem que abrir mão do sentido histórico e estruturante de sua raizon d’être: instituição orientada para e pela produção e difusão de conhecimento. Assim, suas responsabilidades educativas e aspirações de domínio científico e tecnológico são significativamente comprometidas. Na reflexão desta questão, Martins (1992 p.179/180) é categórico ao afirmar que: “qualquer sistema educativo que faça da produção de credenciais um fim em si mesmo estará abdicando das condições intrínsecas da missão pedagógica em troca das farsas inerentes à administração ou à venda dos privilégios e vantagens educacionais.” A compreensão das distorções antes apontadas leva à elaboração do Parecer nº 136, pelo CNE, (de 4/6/2003 apud TORDINO, 2004 p.153), em que os relatores estabelecem limites entre o sistema de ensino superior e o sistema de licenciamento para o exercício profissional ao anunciar que “as condições para início do exercício profissional não reside no diploma, mas no atendimento aos parâmetros do controle de exercício profissional a cargo dos respectivos Conselhos.” Neste caso, destaca Tordino (2004 p.154), cabe aos CP “entenderem que o diploma, por si só, continua sendo condição suficiente para inscrição em seus quadros e início de exercício, logo de imediato à diplomação do profissional” que, como tal, não pode ser tratado enquanto não for licenciado! O entendimento desta questão é ampliado com a leitura do Parecer nº 329, do CNE (11/11/2004), tendo em vista que o relator expressa severas críticas à atuação de algumas corporações profissionais: “reconhecidas por lei, chanceladas pelo Estado, beneficiárias do direito de atribuir validade ao diploma profissional e, simultaneamente cobrar taxas de seus membros compulsórios, não cuidam [...] do acesso à profissão que porta seu selo.” Estas corporações, prossegue o relator, “... reservadas especialíssimas exceções, nada fazem para aferir a qualidade daqueles profissionalmente licenciados, transformado o diploma em implícita licença profissional, para isso se valendo do reconhecimento estatal.” Em tom que transita da denúncia para o desabafo, os relatores sublinham que “a profissão, no Brasil, é matéria estatal.” Isto é, “o mundo profissional, no Brasil, é um mundo associado à proteção estatal. Deriva do Estado o seu monopólio. Tira do Estado o seu direito à receita. Recebe, extrai do Estado a lei que lhe dá a concessão de ditar regras setoriais.” E além disto, tais corporações desejam que “o ensino, a vida acadêmica e o conhecimento, se ajustem aos cânones de estrita natureza corporativa.” 122 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 122 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna Estruturados desta forma e atuando nesta direção, como é possível que os CP contribuam para o fortalecimento da profissão e para a defesa dos interesses da sociedade? 5. A competência diplomada A educação é formal quando gera diplomas para aqueles que concluíram com êxito disciplinas, ciclos ou cursos. Para Martins (1992 p.170), o caráter deformador do credencialismo reside no uso do processo de acompanhamento e avaliação do desempenho discente para atender a finalidades externas aos projetos educativos.A força do credencialismo concentra-se no papel atribuído ao diploma na estruturação de hierarquias profissionais, na tradição corporativista que regula a organização e o exercício de profissões, frente ao estabelecimento de privilégios legais e à restrição de acesso, esclarece o Autor. Embora a validade real de determinado diploma só possa ser confirmada com o exercício profissional, o credencialismo sustenta que a educação formal confere a priori as qualificações requeridas para acesso ao emprego ou a posições superiores e intermediárias das hierarquias organizacionais. Por isto, o credencialismo é originário de processos de reprodução das desigualdades sociais e cumpre papel ideológico de legitimação destes processos com base na valorização de uma meritocracia de caráter formalista na medida em que tenta racionalizar o acesso às melhores posições e sancionar a distribuição de privilégios e vantagens pessoais entre alguns poucos (MARTINS, 1992). Até que ponto estas distorções ferem a razão de ser dos CP, que, para a literatura consultada (TORDINO, 2004; SCHWARTZMAN, 1985), reside em zelar para que o campo profissional seja respeitado e que o exercício profissional se dê na conformidade da lei, além de controlar a qualidade técnica e o comportamento ético de seus membros? Em que medida as referidas distorções seriam superadas com o reforço de mecanismos de controle e de supervisão hoje existentes? Até que ponto estas distorções justificariam reformulações na estrutura corporativa das profissões regulamentadas? Enquanto havia mercado de trabalho garantido para pessoal de nível superior, é inegável que o empenho de organizar o mercado de trabalho em monopólios profissionais compartimentalizados e baseados na existência de diplomas obtidos em estabelecimentos de educação superior apresentou alguns resultados aparentes, embora de valor social discutível (SCHWARTZMAN, 1985). Porém, atualmente, sua principal conseqüência é a ampliação progressiva de exércitos de diplomados (de nível superior) desempregados e frustrados, devido aos pesados investimentos realizados em nome de privilégios profissionais, garantidos por lei e negados pela realidade da economia. Resultados de inúmeras pesquisas sinalizam que qualquer definição a priori de profissão e currículos acadêmicos voltados para a formação profissional está condenada a ser rapidamente superada seja em virtude da dinâmica do mercado de trabalho, seja em razão Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 123 123 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima da própria evolução do conhecimento e da tecnologia. Conseqüentemente, o atual formato corporativo estimula a formação pseudo-especializada, a obtenção de diplomas estanques e pouco significativos, em detrimento da educação polivalente – mais adequada às exigências da sociedade da informação e de um mercado de trabalho em rápida transformação. A literatura é farta em textos cujos conteúdos denunciam que a dificuldade de conceber e/ou se ajustar a processos de transformação é proporcional à rigidez da formação profissional de caráter técnico-instrumental (DUPAS, 2001). É possível que uma das maneiras de reverter esta situação seja oferecer ampla liberdade para as IES desenharem currículos, livres da tutela do CNE e dos CP. Mas, até que ponto seria defensável substituir a atual estrutura corporativa por um sistema de mercado em que tanto a educação quanto o exercício profissional estariam livres de supervisão e controle? Em que medida o Estado pode se furtar da responsabilidade de prover educação e dispor de mecanismos de acompanhamento de sua qualidade e desempenho? As profissões carecem de sistemas de autocontrole e de regulação capazes de funcionar como critérios de qualidade para aqueles que contratam os serviços dos profissionais? Seria oportuno o Estado brasileiro ultrapassar características monopolistas e controladoras na direção da formulação de mecanismos que estimulem a geração e circulação de informações a respeito do que ocorre na educação superior e no mercado de trabalho? Estas questões são de fácil formulação, mas de difícil solução frente às conseqüências que podem desencadear. Conseqüentemente, esta problematização requer aprofundamento da reflexão em textos mais ambiciosos porque mais profundos na discussão. No entanto, os relatores do parecer do CNE (nº. 329, publicado 11/11/2004), registram que seria desejável que a educação superior brasileira evoluísse na direção de projetos diferenciados de acordo com as especificidades de cada área de conhecimento e com as necessidades regionais, sem que, na maioria dos casos, “precisasse haver manifestação do CNE sobre o assunto, [...] já que a essência doutrinária da LDB contempla e incentiva estes princípios. [...].”As questões educacionais, no entanto, não são movidas por esta lógica. E o aspecto nuclear desta discussão reside no fato de o diploma ser considerado o passe profissional necessário à obtenção da licença profissional. Diversas leis (de hierarquia similar à LDB) regulamentam as profissões e criam normas e ordens para a sua fiscalização. E, não raro, desencadeiam conflitos de competências sobre problemas de diversas naturezas. Por esta razão, freqüentemente Conselhos e Ordens das profissões regulamentadas por lei solicitam manifestações doutrinárias ao CNE, na tentativa de conciliar a contradição existente entre alguma flexibilidade educacional, expressiva rigidez normativa das corporações e a natureza formal da CLT. (Parecer do CNE, nº 329, de 11/11/2004). Exemplo disto reside na diversidade de oferta e duração dos cursos superiores esbarrarem nas regras estabelecidas para permitir o acesso à licença profissional, tendo-se verificado inúmeras manifestações das Ordens, vedando a prática profissional de egressos 124 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 124 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna do ensino superior, diplomados segundo critérios de duração e concepção de cursos não endossados pelas corporações. Resta investir no exigente trabalho de IES, Ordens e Conselhos buscarem evoluir na compreensão dos novos desafios e avançar na direção da redução de resistências àquilo que representa inovação, transformação, diversidade e flexibilidade (Parecer do CNE, nº 329, de 11/11/2004). Os relatores do Parecer terminam afirmando que as: “Corporações, diferentemente da doutrina da LDB, apreciam a uniformidade e o caráter nacional de currículos mínimos e duração de cursos, de modo a erigir uma espécie de identidade corporativa nacional, não diversa, senão indivisível. E tem a lei a escorar tal aspiração, de modo que, assim como o País é uma federação de estados, a vida dos egressos do ensino superior é caracterizada por uma federação de monopólios profissionais, de cunho nacional, nunca regional, de traços uniformes, nunca diversos, de comandos unitários, nunca múltiplos.” Esta corresponde a uma maneira antiga de encarar a profissão e o profissionalismo porque não reflete o dinamismo que prevalece na sociedade atual. É possível que esta forma de atuar dos CP resulte de três condicionantes: as significativas alterações ocorridas no mercado de trabalho; as crescentes limitações de oferta de emprego; e uma formação superior de caráter técnico-instrumental e especializado que dificulta – quando não impede – processos de adaptação às mudanças, impostas pela reorganização do trabalho. E quando não podemos mudar, é natural que dificultemos o processo de mudança! Nunca é demais lembrar que a transformação das instituições depende da transformação prévia das pessoas. 6. Considerações Finais Os problemas mapeados ao longo do texto podem evoluir para soluções bastante satisfatórias na direção de fortalecer pessoas, instituições e sociedades na medida em que se coloca em dúvida o valor da tutela como mecanismo de ordem, controle, qualidade, segurança, uniformidade etc. Observa-se que, no contexto da cultura brasileira, quando objetivos reconhecidos como relevantes para o bem-estar da sociedade são perseguidos, há forte tendência de serem criados mecanismos de formalização com a nobre intenção de controlar processos e resultados. No entanto, simultaneamente, mecanismos são acionados na intenção de driblar tais controles. Com isto, dificulta-se que as pessoas e as instituições assumam as responsabilidades que lhes cabem à medida que trabalham em regime permanente de infantilização porque de tutela – em grande parte é este o papel assumido pelos Ministérios da Educação e do Trabalho, no contexto aqui tratado. Levando em consideração este raciocínio, na seqüência serão apresentadas medidas que podem contribuir para a subversão desta lógica: Ä Autonomia para as IES: a) formularem e colocarem em prática projetos pedagógicos que julguem pertinentes para as áreas de conhecimento que exploram; a região que atuam e os projetos dos estudantes que desejam atrair; b) assumirem projetos cuja pro- Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 125 125 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima posta esteja comprometida com a produção de conhecimento, com programas de educação integral dos estudantes e não com o equivocado conceito de empregabilidade (já discutido); c) explorarem a auto-avaliação como mecanismo de fortalecimento institucional. Desta forma, elas formularão critérios de avaliação compatíveis com os objetivos que desejam alcançar, com a formulação de diagnósticos e com a definição de ações de melhoria capazes de implantar; d) estabelecerem permanente e estreito canal de comunicação com a sociedade, não com o intuito de autopromoção, mas com a intenção de divulgar projetos e conquistas. Desta forma, comunicarão a identidade institucional que contribuirá para serem reconhecidas e ampliarão as chances de serem escolhidas por estudantes, professores e funcionários que tenham afinidade com a sua identidade institucional. Ä Renovação dos CP objetivando o envolvimento de gerações com outra visão de mundo. E, por isto mesmo, revelem-se mais sensíveis e predispostas à necessidade de refletir, discutir, formular coletivamente e implantar transformação nas práticas de orientação e controle profissional uma vez que a razão de ser dos referidos organismos necessita, apenas, ser resgatada como norteadora destas ações. Ä Transformação dos atuais CP em associações voluntárias, de caráter privado, com autonomia para estabelecer critérios próprios de filiação, de modo que uma mesma categoria profissional possa despertar interesse pela criação de mais de um conselho. A negação do monopólio que fiscaliza a prática profissional e, simultaneamente, defende os interesses de determinadas categorias profissionais pode ser revigorante para todo o sistema. Ä Definição de claros territórios de ação entre os CP das IES de modo que as instituições assumam suas responsabilidades históricas – sem a chance de transferi-las para terceiros – e os conselhos assumam as responsabilidades relativas ao exercício profissional de modo mais centrado em suas funções orgânicas. Ä Atribuir ao MEC a responsabilidade pela definição de política de educação superior conseqüente e pelo acompanhamento do sistema de educação. 7. Referências BIARNÈS, Jean. Du sens de l’école das les sociétés du XXIème siècle: l’exemple de l’école française. São Paulo: Eccos – Revista Científica Centro Universitário Nove de Julho. V.6, n.2, dez./2004, p.129-152. CHAUÍ, Marilena. Convite a Filosofia. 2ª edição. São Paulo: Ática, 1995. DEMO, Pedro. Avaliação sob o olhar propedêutico. Campinas: Papirus, 1996. __________. Conhecimento moderno: sobre a ética e a intervenção do conhecimento. Petrópolis: Vozes, 1997. __________. Avaliação qualitativa: polêmicas do nosso tempo. 6ª ed. Campinas: Autores Associados, 1999. 126 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 126 11/3/2007, 19:35 O Sentido da Educação no Contexto da Sociedade Pós-Moderna __________. Politicidade: razão humana. Campinas: Papirus, 2002. DIAS SOBRINHO, José. Avaliação da educação superior. Petrópolis: Vozes, 2000. DUPAS, Gilberto. Ética e poder na sociedade da informação. 2ª ed. rev./amp. São Paulo: Editora UNESP, 2001. ENGUITA, Mariano F. Educar em tempos incertos. 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LIPOVETSKY, Ed. Bacarolla), Ética e poder na sociedade da informação (G. DUPAS, Ed. UNESP), entre outros. 2 A existência humana só tem sentido e razão de ser se estiver orientada pela idéia de PROJETO. Textos que 1 Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 arte_angrad.pmd 127 127 11/3/2007, 19:35 Manolita Correia Lima alicerçam esta visão: Jean-Pierre Boutinet (Antropologia do Projeto – Ed.Instituto Piaget), Nilson José Machado (Educação: projetos e valores – Ed.Escrituras) e vários textos de Jean-Paul Sartre – uma vez que Projeto corresponde a um conceito chave na construção do Existencialismo, particularmente do existencialismo sartriano. 3 Em janeiro de 2006, as Nações Unidas divulgou ranking cujo conteúdo revela que a França foi o quarto País a receber dinheiro estrangeiro em 2005 – 48 bilhões de dólares (apud Carolina MEYER. A campeã de investimentos in: Exame de 1º de março de 2006). 4 Nas sociedades em que o conhecimento é percebido como o principal fator de produção não é raro que os conceitos transitem entre os universos da Educação e da Economia. Nesta direção, o conceito de competência emerge no contexto da economia do conhecimento e por isto mesmo assume dimensão pragmática já que expressa a capacidade de os indivíduos articularem o conhecimento disponível e aplicarem-no objetivando o alcance de resultados. Entretanto, alguns autores têm trabalhado o conceito de competência numa perspectiva mais humanista e menos economicista – um deles é Nilson José Machado (2002). 5 Dados publicados pela UNESCO (apud FIEMEYER, 2004 p.21) revelam que em 2001 mais de 1,8 milhões de estudantes realizavam a formação superior fora de seus países de origem. Destes, aproximadamente um milhão estavam distribuídos em quatro países: Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e França. Na ocasião, a França recebia 147 mil estudantes – número 13% superior a 2003. 6 A subordinação dos Conselhos Profissionais ao Ministério do Trabalho é definida por dispositivos legais: tanto o Decreto-Lei 200, de 25 de fevereiro de 1967, quanto o Decreto-Lei 968, de 31 de outubro de 1969, legalizam a supervisão ministerial. 7 Para aqueles que desejarem aprofundar esta questão, recomenda-se a leitura do artigo de autoria de Horácio Wanderley Rodrigues – Mestre e Doutor em Direito pela UFSC, instituição em que é professor titular – intitulado As Resoluções Normativas nº 300 e nº 3001 do Conselho Federal de Administração e o Direito brasileiro, publicado na Revista @prender, n. 23, mar.abr. 2005, pp.63-64. 8 O conceito de competências humanas foi introduzido por Nilson José Machado no texto “Sobre a idéia de competência”. Este material foi divulgado na coletânea organizada por Philippe Perrenoud, intitulada de As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio da avaliação, publicada pela Artmed, em 2002. Manolita Correia Lima é Professora Doutora da ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing, Coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Publicação e Coordenadora de Pesquisa do Centro de Altos Estudos de Propaganda e Marketing CEP: 04018-010 [email protected] 128 arte_angrad.pmd Revista ANGRAD - V. 8, N. 1, Jan./Fev./Mar. 2007 128 11/3/2007, 19:35 arte_angrad.pmd 129 11/3/2007, 19:35 Política Editorial Foco A Revista Angrad é uma publicação que busca difundir o estado da arte do ensino e da pesquisa em administração, oportunizando a apresentação, em forma de artigos, de teorias, modelos, pesquisas e retrospectivas que abordem o processo de ensinoapredizagem e intensifiquem a prática da educação em disciplinas dos Cursos de Administração. Por voltar-se ao ensino e a pesquisa, a Revista ANGRAD torna-se o ponto de encontro de acadêmicos, docentes e pesquisadores da graduação e da pós-graduação das várias IES nacionais e internacionais. Estilo Os trabalhos enviados a Revista ANGRAD devem ser inéditos e demonstrar uma linguagem clara e objetiva. Recomenda-se uma atenção especial com a estrutura geral do artigo e com o contexto lógico dos argumentos. Ressaltamos que as opiniões emitidas nos textos publicados são de total responsabilidade dos seus respectivos autores. Todos os direitos de reprodução, tradução e adaptação estão reservados. Os artigos encaminhados para a Revista ANGRAD deverão ser apresentados no seguinte formato: Editor de texto: Word for Windows 6.0 ou posterior. Configuração das páginas: • Tamanho do papel: A4 (29,7 x 21 cm) • Margens: - Superior 3 cm; - Inferior 2 cm; - Esquerda 3 cm; - Direita 2 cm. • Fonte do texto: Arial, corpo 12; • Espaçamento: Simples (entre caracteres, palavras e linhas); • Número de páginas: Máximo de 15 (quinze), incluindo ilustrações, bibliografia e notas de final de texto. Observações: • Conteúdo da primeira página: Primeira linha: - Titulo do trabalho em português e inglês, centralizado, com todas as palavras em letras maiúsculas e em negrito; - Identificação do autor: Nome, titulação, cargo que ocupa, endereço comercial e email, alinhado à direita; arte_angrad.pmd 130 11/3/2007, 19:35 Política Editorial - Resumo / Abstract de no mínimo 10 (dez) e no máximo 15 (quinze) linhas, inscrito no mesmo idioma do trabalho, em um único parágrafo, justificado; Seguindo de palavras-chave / key-words. • Conteúdo da segunda página: - Primeira linha: Titulo do trabalho, com todas as palavras em letras maiúsculas e em negrito; - Quarta linha: o Início do corpo do texto • Ilustrações, tabelas e gráficos: - Excel ou Power Point, vinculados ao Word, com fonte Arial - corpo 10. • As referências completas deverão ser apresentadas em ordem alfabética no final do texto, de acordo com as normas da ABNT. • As notas devem ser reduzidas ao mínimo necessário e serem apresentadas no final do texto seqüencialmente antes das referências. Envio do Trabalho Os artigos podem ser enviados em português, espanhol, inglês ou francês e deverão ser encaminhados atrás da home-page da ANGRAD (www.angrad.org.br). Processo de Avaliação Os artigos enviados para publicação na Revista ANGRAD são submetidos a um processo de avaliação, objetivando divulgar as melhores contribuições recebidas e avaliadas até o momento da editoração do exemplar. O processo de avaliação da Revista ANGRAD se inicia com uma avaliação do(a) editor(a) que irá observar a adequação do artigo à política editorial da revista. O(a) editor(a) encaminhará os artigos para avaliadores seguindo o double blind review, que recebem um relatório com aspectos a serem observados no artigo. Após a análise, destacam pontos importantes que justificam a sua avaliação, contribuindo para a melhoria do trabalho do(a) autor(a). O artigo passa, ainda, por uma revisão ortográfica e estilística profissional. É por tudo isso fortemente recomendado que os autores solicitem a opinião crítica de algum colega antes do envio do artigo. Processo de Escolha Por ser um veículo nacional, a Revista ANGRAD publicará sempre artigos de autores oriundos das diversas unidades da federação. Após a análise e aprovação dos avaliadores, o (a) editor(a) da Revista procurará sempre selecionar para publicação em cada fascículo artigos de autores vinculados as IES das mais diversas localidades do país. A Revista se permite o direito de publicação em cada fascículo de um artigo internacional que, também, passará pelos mesmos critérios de avaliação. arte_angrad.pmd 131 11/3/2007, 19:35 Esta Revista Científica é uma publicação da ANGRAD (Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração) www.angrad.org.br [email protected] arte_angrad.pmd 132 11/3/2007, 19:35