Hospitais da Universidade de Coimbra A “descoberta” da sua consciência como organização Q uando há cerca de dois anos e meio a equipa liderada pelo Professor Nascimento Costa chegou ao Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) tinha um objectivo prioritário muito bem identificado: era preciso melhorar, a baixo custo e com eficiência, a qualidade do serviço prestado aos seus doentes – a razão de ser de um Hospital –, de uma Região Centro, onde vivem aproximadamente 2 milhões de habitantes. Devido à sua natureza universitária e à excelência dos seus profissionais, o cumprimento deste objectivo tinha que ser realizado e articulado, por um lado, com a missão dos HUC enquanto universidade – ensinar e investigar –, e, por outro lado, levando sempre em linha de conta que os HUC são um hospital central, e um hospital de referência, a nível nacional, em algumas especialidades consideradas de alta complexidade (cirurgia cardíaca, transplantes, queimados, oftalmologia, tumores ósseos, cirurgia epilepsia). O problema e a necessidade Foi neste contexto que a nova equipa dirigente dos HUC “arregaçou as mangas” e procurou caracterizar a organização que liderava. Depois de fazer uma primeira avaliação à organização constituída por 5.000 profissionais, 3 edifícios periféricos, mais de 1.500 camas, 40 Serviços e mais de 100 entidades organizacionais, rapidamente verificou que seria muito difícil “arrancar” do ponto de partida em que se encontrava: diversidade técnica e tecnológica; heterogeneidade da organização dos Serviços; disparidade entre os estados de desenvolvimento dos Serviços; existência de linguagens diferentes entre Serviços semelhantes e diversidade de sistemas de informação – necessidade de integração. A conclusão era óbvia e só havia uma coisa a fazer: conhecer a organização, o que significava envolver todos os seus profissionais num esforço colectivo e coerente para obter uma visão única e normalizada dos HUC. “Era preciso que o Hospital, enquanto organização, tomasse consciência de si mesmo e se reconhecesse numa mesma radiografia”, explica Sofia Sousa Uva, Directora do Serviço de Doentes e Estatística e coordenadora do projecto “E-nov@huc, Coimbra Inovação, Como é da Tradição”, que os HUC criaram para poderem concretizar o objectivo. Encontrada a resposta para a pergunta “o que fazer?”, a nova pergunta era: “como fazer?”. Se estivéssemos na década de 90 a “receita” seria, quase de certeza, investir mais em Tecnologias de Informação. Mas, o novo enquadramento 52 | N7 - Junho de 2005 | Cadernos Link - Casos de sucesso económico-financeiro vigente e os resultados das várias experiências que optaram por essa solução, que ficaram muito distantes das expectativas com uma desadequação entre custo/benefício de muitos dos investimentos efectuados, aconselharam seguir o caminho “pensar primeiro o que somos”, lembra Sofia Sousa Uva, e só depois comprar. A solução A oportunidade, ou descoberta, surgiu no final de 2003: a solução passava por um projecto de uma Arquitectura Organizacional, numa perspectiva holística da organização, identificando as capacidades estratégicas dos HUC: arquitectura de missão, arquitectura da informação, arquitectura dos sistemas e arquitectura tecnológica. Assim, depois de um concurso público realizado no início de 2004 e ganho por um consórcio entre a link consulting e o Centro de Engenharia Organizacional (CEO) do Instituto Superior Técnico (ver caixa), dirigido pelo Professor José Tribolet, os HUC definiram as necessidades que este projecto deveria resolver: conhecimento da Organização HUC por si própria – «fotografia» dos HUC, focalizada na resposta a questões como: saber como «são» os Hospitais da Universidade de Coimbra, como «funcionam» na realidade; identificação de todos os serviços como parte integrante da instituição; preparação para a implementação de um processo global de garantia da qualidade; vontade de obter reconhecimento da excelência não apenas pela vertente técnica, mas pela vertente «organizativa». Como explica Sofia Sousa Uva, “Este era o caminho. Era preciso envolver todo o Hospital num único projecto, fazer o reconhecimento de todos os processos, partindo do «doente» como o elemento base dos circuitos e, desta forma, concretizar uma fotografia «macro» dos HUC em que todos os profissionais dos HUC se reconhecessem na «fotografia» da Organização. Dada a complexidade e dimensão dos HUC, a primeira fase do projecto arrancou com um conjunto de oito Serviços, três Clínicos (Medicina Intensiva; Urgência; Gastrenterologia) três de Apoio Clínico (Bloco Operatório Central/ /Anestesiologia; Laboratório de Hematologia; Farmácia), três Não Clínicos (Aprovisionamento; Serviço de Doentes e Estatística) e outros envolvidos em fase intermédia: Administradores de Área. “Foi uma escolha pelas diferenças entre si e pela possibilidade de posterior «contágio» a outros serviços, isto é, que possam ser agentes disseminadores, e subordinada ao princípio do utente em primeiro lugar”, explica Sofia Sousa Uva. Paulo Nunes e Lúcia Costa, Unidade de Business Consulting da Link Consulting Cadeia de Valor do Processo Resultados globais Apesar de todas as dificuldades – no início, a maior delas foi ter o envolvimento de todos os participantes – e do equilíbrio entre as expectativas e as apreensões dos serviços, bem como das incertezas de quem coordena, os resultados alcançados não podiam ser melhores. Segundo Sofia Sousa Uva, “em primeiro lugar, conseguimos normalizar a linguagem dentro de cada um dos serviços e entre os serviços envolvidos no projecto e passou-se a utilizar uma única metodologia de trabalho. Em segundo lugar, passámos também a identificar pontos de melhoria e a ter uma maior facilidade para a concepção das mudanças desejadas. Por fim, passámos a fazer um melhor planeamento de tarefas e hoje temos uma programação com definição de objectivos no curto prazo”. Este projecto está também a ter resultados a um outro nível. Na sua sequência, foi criado um curso pós-graduado de engenharia organizacional como forma de disseminação do conceito e de desenvolvimento do projecto, contribuindo para a extensão da iniciativa a todos os Serviços dos Hospitais da Universidade de Coimbra. Passos seguintes Entretanto, desde o final do Verão de 2004, o projecto já entrou na segunda fase, com a incorporação de novos Serviços (para já são mais dois, o de Cirurgia Cardiotorácica e o de Oftalmologia) e a reavaliação dos processos do Serviço de Urgência para efeitos de adaptação à sua nova realidade organizacional. Esta fase envolve ainda o «desenho» dos processos de gestão, o aprofundamento dos Serviços envolvidos na primeira fase; a concretização do organograma; a conclusão do regulamento interno; e «desenho» macro da Organização – HUC. Em termos de objectivos futuros, além de estender este projecto a todos os Serviços, os HUC pretendem também envolver outras Instituições de Saúde da área de Coimbra, através da criação de uma «rede» sinérgica, compreendida por todas as partes, mantendo de forma continuada e sistematizada o «desenho» da Organização. ‹› Link, o arquitecto A link consulting integrou um consórcio com o Centro de Engenharia Organizacional do Instituto Superior Técnico, escolhido pelo Conselho de Administração dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) para conceber, definir e desenhar uma Arquitectura Organizacional para aqueles hospitais. Para realizar este projecto, que decorreu entre Março e Setembro de 2004, a equipa de quatro consultores da unidade de Business Consulting da Link, dirigida por Pedro Amaro, adoptou uma metodologia baseada nas metodologias de Enterprise Architecture e orientada para o preenchimento do Framework de Zachman. Assim, a equipa da link consulting começou por fazer um levantamento da situação, tendo utilizado uma abordagem bottom-up, ou seja, individualmente em cada Serviço, com o objectivo de capturar a visão actual dos processos de negócio nos HUC. Posteriormente, e como resultado das actividades referidas anteriormente, promoveu-se uma abordagem top-down para identificar e descrever processos e padrões organizacionais, tendo como objectivo fazer o esboço da Arquitectura Organizacional. Este esboço, focado num tipo de processo, designado de Processo de Missão: Prestar Cuidados de Saúde, permitiu o estabelecimento de um “padrão” de actividades, transversais aos HUC, na prestação de cuidados de saúde. Casos de sucesso - Cadernos Link | N7 - Junho de 2005 | 53