XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil EXAME NACIONAL DE INGRESSO NA CARREIRA DOCENTE: MAIS UM SEQUESTRO DA AVALIAÇÃO RODRIGUES, Raquel Cruz Freire Universidade Federal da Bahia-Brasil CUNHA, Fernando José de Paula Universidade Federal da Bahia-Brasil Universidade Federal da Paraíba-Brasil TAFFAREL, Celi Nelza Zulke [email protected] [email protected] Resumo A avaliação deveria ser principalmente um processo diagnóstico, mas isso não se configura como sendo uma verdade pedagógica na realidade brasileira e a formação unilateral, atualmente, é a expressão mais acabada da escola capitalista, decorrente na divisão social do trabalho que implica, no marco referencial das relações sociais travadas pelos homens, o acesso e a negação a conhecimentos e práticas necessárias a compreensão da realidade para nela intervir. Dados apresentados em estudos anteriores demonstram o caráter ideológico e de controle da avaliação, principalmente quando convertida em política educacional e programa de governo. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo analisar criticamente o documento para consulta pública, referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente e a portaria normativa do Ministério da Educação nº 14 de 21 de maio de 2010, que institui no âmbito do INEP, o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. No embate contrário a escola capitalista as formulações oriundas dos pesquisadores no seio da ANFOPE continuam servindo de referência, onde destacamos argumentos sobre a necessidade da avaliação: A) Para explicitar que o corpo de conhecimentos é um dos elementos que influi na identificação do profissional, reconhecendo-se ainda o profissional pela prática docente mediatizada por disciplinas específicas; B) A importância de se "ressaltar que a dimensão política determina e se manifesta na dimensão profissional e epistemológica”, constituindo aspectos de uma mesma realidade, significando isto a consideração de que a sociedade está dividida em classes e 568 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil que o compromisso deve se dá na direção da superação da sociedade de classe. Com esses argumentos descartamos a avaliação por resultados e destacamos a importância da função diagnóstica da avaliação no processo educativo. Palavras-chave: Formação de professores. Política educacional. Avaliação. Introdução O trabalho estar inserido dentre aqueles que abordam a avaliação, em especial a avaliação docente. Levantamos como problemática central os referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. Partimos da compreensão de que a avaliação se configura como um procedimento pedagógico que tem a finalidade de constatar se os objetivos foram alcançados. Contudo, o que observamos na realidade brasileira é a utilização da avaliação como instrumento de controle para poder direcionar e regular as instituições educacionais. De acordo com Taffarel (2009), a avaliação vem adquirindo grande centralidade na reforma da educação brasileira, permitindo ao Estado introduzir mudanças no sistema e, ao mesmo tempo, desencadear processos cotidianos de transformação do perfil e da identidade dos Sistemas de Ensino. A avaliação vem assumindo papel preponderante na ampliação do controle, por parte do Estado sobre as IES e formação de professores, bem como na implementação de princípios e parâmetros de mercado no tocante à reestruturação desses níveis de ensino. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo analisar criticamente o documento para consulta pública, referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente e a portaria normativa do Ministério da Educação nº 14 de 21 de maio de 2010, que institui no âmbito do INEP, o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. Entendemos que o debate e a análise sobre o sistema de avaliação devem oportunizar, também, uma reflexão fundamental acerca da função social da educação, bem como os limites que se interpõem entre a garantia de identidade institucional e de um patamar básico de qualidade, refletindo e antecipando suas funções para superar a lógica perversa do capital que se expressa nos atuais sistemas de ensino nas questões como produtividade, eficácia e eficiência que devem estar articuladas sim à efetivação 569 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil da noção de educação como um direito social inalienável para todos. A avaliação deve vincular-se à definição do projeto histórico emancipatório que tenha por base um projeto de sociedade para além da lógica do capital, em contraposição ao reducionismo pragmático, produtivista da lógica mercantil. É necessário desafiar a lógica implícita no sistema de avaliação, ou seja, de que a educação deve refletir a adaptação do individuo a sociedade e o aumento da competição entre as instituições e entre as pessoas. A avaliação deve orientar o exame para a superação da produção e reprodução de um modo perverso de vida, com suas injustiças e iniqüidades com a finalidade de modificar tais processos que se expressam também no interior das instituições de ensino superior. Os estudos apontam para uma formação sustentada exclusivamente nas habilidades e competências, concebidas numa perspectiva reducionista, instrumental e alienante, negando as possibilidades de uma formação na perspectiva da omnilateralidade180. Apontam também para a possibilidade dos cursos de formação de professores orientarem seus currículos a partir do conteúdo exigido no exame e não as históricas proposições curriculares defendidas por entidades e sociedade civil para a formação professores. Desenvolvimento: A política de avaliação no sistema educacional brasileiro O lugar competitivo nas relações capitalistas internacionais e na divisão internacional do trabalho tem levado os governos a se preocuparem cada vez mais com os resultados dos seus sistemas de educação. A decomposição e degeneração da economia capitalista, além de significativas mudanças na ordem social, econômica e política, alteram o tipo de demanda por educação. Do trabalhador desqualificado da linha taylorista passa-se a demandar um trabalhador capaz de tomar decisões, de adaptar-se a constantes mudanças e de aperfeiçoar-se pela vida toda (Delors, 1999). A idéia de que existe uma relação entre produtividade econômica e educação é 180 A formação, qualificação e profissionalização humana do educador e do educando, numa perspectiva contra-hegemônica, centra-se em uma concepção omnilateral, dimensões a serem desenvolvidas que envolvem o plano do conhecimento histórico-científico e, igualmente, os planos bio-psíquico, cultural, ético-político, lúdico e estético. (FRIGOTTO, 1996: 92). 570 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil antiga, com raízes na teoria do capital humano, assim os argumentos, com a progressiva globalização da economia, que relaciona a qualidade da educação ao processo de inovação e à conquista de mercados os levasse também a questionar sua capacidade de formar as competências necessárias para a competição global. Ao mesmo tempo em que esse processo de reestruturação produtiva penetra em áreas que até então sua presença era limitada, a educação passa a constituir um mercado em acentuada expansão em escala mundial. Isso tem promovido uma modificação acentuada nos objetivos gerais das políticas educacionais, tanto nos países centrais como nos países em desenvolvimento, em particular no Brasil. Inclui-se todo o processo educacional na lógica do mercado e generalizam-se os procedimentos e valores típicos do capitalismo, como a competição, na gestão dos sistemas e das instituições educacionais. Segundo informação da CAPES (2010), faltam 246 mil professores nas redes públicas de educação básica181, este é um dado preocupante, pois observamos que existem escolas em todo Brasil com déficit de professores. Mesmo com um déficit enorme de professores nas escolas públicas o Ministério da Educação esta preocupado em avaliar os docentes dentro de uma concepção fragmentada e limitada. A avaliação é entendida enquanto um procedimento pedagógico que tem como função diagnóstica e orientadora do processo de ensino aprendizagem. Esta concepção de avaliação supera aquela que historicamente vem se trabalhando no campo da educação, a avaliação numa perspectiva punitiva e classificatória. Infelizmente é dentro desta concepção que o Ministério da Educação esta propondo o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, os professores da rede pública irão fazer o provão do docente que irá classificá-los e ranqueá-los. O exame tem como objetivo mensurar o conhecimento dos docentes, não avalia estrutura e as condições de trabalho. O Exame de Ingresso na Carreira Docente proposto pelo MEC, parte da idéia da culpabilização do professor, ou seja, se a nota dele for baixa no exame será devido a sua incompetência ou da instituição que o formou. 181 http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36-noticias/2390-sistema-nacional-para-formarprofessores, acessado em 09/09/2010 571 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil Entidades científicas como Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação - ANFOPE; Associação Nacional de Política e Administração da Educação – ANPAE; Associação Nacional de Pesquisa e PósGraduação em Educação – ANPED; Centro de Estudos Educação e Sociedade – CEDES; Fórum Nacional de Diretores de Faculdades/Centros/Departamentos e Educação das Universidades Públicas Brasileiras - FORUMDIR já se posicionaram, assinaram documento revogando a portaria 14/2010 e reivindicando que se retome a discussão com as entidades do campo da educação e sociedade civil, com o propósito de um grande debate nacional para definir e implantar o currículo de formação do professor. Abaixo a Carta de Manifestação entregue ao Ministro de Educação Fernando Haddad em Audiência com as Entidades As entidades nacionais de estudos e pesquisas em educação, signatárias deste pronunciamento, vêm manifestar suas posições acerca da Portaria Normativa do Ministério da Educação, n. 14, de 21 de maio de 2010, que instituiu, no âmbito do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. O pronunciamento se insere no contexto dos esforços das entidades acadêmicocientíficas da sociedade civil organizada no campo da educação, visando contribuir para a formulação de políticas públicas de educação de qualidade para todos. No conjunto desses esforços da comunidade acadêmica, destacase a prioridade da formulação de políticas sustentáveis de formação e valorização dos professores, com base em diretrizes curriculares nacionais. A questão do currículo da formação dos professores é tema debatido há muito tempo no Brasil, particularmente a partir do início da década de 1980. Desde então, a problemática do currículo vem se impondo como objeto prioritário de estudos e pesquisas, como foco constante de reuniões acadêmicas e como tema recorrente na produção do conhecimento socializado em periódicos científicos do campo educacional. A literatura especializada revela que as teorias curriculares têm tido presença contínua nos processos de formulação de políticas públicas de educação em todo o mundo. No caso brasileiro, ressaltam-se as “Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Pedagogia”, políticas formuladas pelo Conselho Nacional de Educação e homologadas pelo Ministério da Educação, e os documentos finais da Conferência Nacional da Educação de 2010 e da Conferência Nacional da Educação Básica de 2008. As posições ali construídas pela comunidade educacional brasileira têm a marca da legitimidade enraizada em ampla participação nacional e que, como tal, devem informar os processos de formulação das políticas educacionais e suas matrizes referenciais. As entidades signatárias deste pronunciamento dedicam-se, historicamente, ao estudo das teorias curriculares como base fundamental de uma política global de formação e valorização dos profissionais da educação, que articule formação inicial e continuada, plano de carreira, condições dignas de trabalho e piso salarial nacional, expressas nos documentos acima citados. Esses 572 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil esforços objetivam oferecer subsídios para definir a orientação curricular dos cursos de formação dos professores, que emanem de uma base comum nacional e expressem uma concepção sócio-histórica da educação. Em que pesem avanços conquistados recentemente, a avaliação do estado do conhecimento e da execução das políticas públicas de educação revela que ainda enfrentamos enormes desafios, não apenas no campo da formação dos professores, mas também em temas correlatos, como o controle da criação de cursos de formação docente, de acompanhamento e avaliação da formação oferecida nas instituições de ensino superior e das condições objetivas para o exercício profissional, considerando as exigências da dignidade da profissão e do compromisso social e político dos educadores. Essas condições não foram consideradas na instituição do Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, cuja publicação vem acompanhada do lançamento de um período de consultas públicas para a formulação dos Referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. Cumpre destacar que o Exame passa diretamente à fase de avaliação do professor sem uma definição e implantação prévias de um currículo de formação a ser avaliado. Restringindo-nos a questões acadêmicas, há vários aspectos que antecedem o Exame. Em primeiro lugar, está a necessidade de que se tenha um currículo base para a formação dos professores. Não se trata, obviamente, de um currículo mínimo à moda já rejeitada no passado e muito menos de um simples Referencial para medição, mas sim de uma concepção de base comum nacional na formação dos profissionais da educação, incluídas suas principais áreas de formação e os resultados desejados. Em segundo lugar, a lógica da gestão educacional sugere que o processo de avaliação docente deve ser pensado quando se tem um desenho curricular concebido à luz do perfil profissional objeto de avaliação. As experiências internacionais que enfatizam a utilização de testes de alto impacto, semelhantes aos exames massivos adotados no Brasil, vêm sendo crescentemente questionadas por causa de suas nefastas consequências para os educadores e educandos. Efetivamente, esses tipos de exames geram ranqueamentos, que não ajudam a formar o professor que o país necessita e que seja respeitado pelo estado e pela comunidade. Existe significativo consenso na comunidade acadêmica brasileira de que a apregoada filosofia da “educação por resultados” não é um referencial politicamente efetivo e culturalmente relevante para a construção da educação de qualidade almejada, tanto pelo governo como pela sociedade. Nesse contexto, crescem as análises críticas sobre as reformas educacionais, que incluem os estudos sobre testes estandardizados de avaliação educacional. Em terceiro lugar, destacam-se os efeitos ligados ao "estreitamento da visão curricular da formação" pela avaliação. Não havendo um currículo implantado, este é substituído por uma matriz de referência que dá base à organização dos itens do exame de ingresso. Como os testes são limitados em sua abrangência e não incluem questões cujas respostas não possam ser objetivadas ou quantificadas, a avaliação será necessariamente incompleta. Por outro lado, existe a impossibilidade de provas unificadas diante da complexidade da educação e da pluralidade dos fundamentos e das concepções pedagógicas do campo educacional. Também no âmbito da prática educativa, os processos e procedimentos são dependentes das opções teóricas utilizadas, envolvendo, portanto, diferentes possibilidades de ação. Eliminados aspectos importantes da formação e adotada uma perspectiva homogeneizadora, como se a prática educacional aceitasse apenas uma forma de realização, as instituições formadoras passam, igualmente, a valorizar menos determinadas formas de abordar o processo educativo ou determinadas áreas de formação e passam a ensinar mais aquelas valorizadas na matriz de 573 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil referência. Ou seja, a matriz de referência acaba virando o próprio "currículo de formação". Finalmente, a matriz de referência acaba sendo o instrumento que além de pautar o currículo das agências formadoras, permite a uniformização da produção de bens e serviços educacionais em larga escala, movimentando empresas que se multiplicam, seja para produzir materiais, seja para preparar o próprio Exame. Nessa perspectiva, os exames deixam de medir, de fato, aqueles aspectos básicos para o desempenho profissional, passando a medir o quanto os candidatos se prepararam para fazê-los. Diante disso, a aprovação no Exame acaba não sendo um prognóstico confiável de bom desempenho profissional. As entidades signatárias do presente documento entendem, portanto, que é fundamental que o Ministério da Educação: 1. Revogue a Portaria 14/2010 e suspenda a montagem da matriz de referência do Exame pelo INEP, em razão das profundas implicações desse Exame para a educação brasileira, 2. Retome, com urgência, a questão da definição e implantação do currículo de formação do professor, em favor de um amplo debate nacional, envolvendo as diferentes secretarias do MEC, o CNE e os órgãos gestores de estados e municípios, assim como as universidades e as entidades da sociedade civil que atuam na área. Brasília, 07 de junho de 2010. (Escrito em quinta 10 junho 2010 21:35182) O CNTE – Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação em determinado momento chegou a defender a portaria 14/2010 e a UNE – União Nacional dos Estudantes e o CNE - Conselho Nacional de Educação não se posicionaram. Avaliação a serviço do mercado Segundo Freitas (2010)183 o MEC não possui uma política nacional de formação de professores e estar entregando o campo de formação de professores à lógica do mercado. As suas possíveis conseqüências serão o controle da criação de cursos de formação docente, de acompanhamento e avaliação da formação. O Governo Federal durante estes últimos oito (8) anos do governo Luis Inácio Lula da Silva enquanto aprofunda o controle do sistema educacional a partir da avaliação, podemos na Educação Básica com o Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB, na Educação do Ensino Médio com Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM, o Ensino Superior através do Exame Nacional de Cursos – provão, e agora com o ENEN do professor - portaria normativa do MEC de nº 14 de 21 de maio de 2010 que institui o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. Hoje em dia estes 182 http://anfope.spaceblog.com.br/834501/Carta-de-Manifestacao-entregue-ao-Ministro-de-EducacaoFernando-Haddad-em-Audiencia-com-as-Entidades acessado em 09/09/2010 183 http://avaliacaoeducacional.zip.net. Blog do Luiz Carlos de Freitas, acessado em 09/09/2010 574 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil exames/avaliações por dentro do Sistema Educacional Brasileiro esta tendo uma concepção regulatória, em que avaliação esta sendo o carro chefe desta política pública. Desta forma, o que observamos na lógica intrínseca as proposta avaliativas que vem se realizando no país, é a de atribuição de mérito com fins classificatórios. O que define de modo mais explicito a finalidade a que se destina a avaliação, em última instância focalizando a política educacional avaliativa no indivíduo e deixando de lado os processos relacionados à escola e o professor e como ocorre a avaliação educacional e a avaliação institucional, no seio desse processo. Em consonância com essa assertiva comenta-se: “nossas políticas públicas – à direita e à esquerda – têm-se preocupado mais com a figura do professor do que com o conjunto dos atores da escola”. (FREITAS et al, 2009, p. 31) Quando nos debruçamos com o documento do (INEP/MEC, 2010) que serve de referenciais para o exame de ingresso na carreira docente, se destaca logo que para melhoria da qualidade da educação básica brasileira, está a relevância do papel do professor nesse processo. Além do mais, ao nos aprofundarmos no referido documento não encontramos nenhuma relação de como se dará avaliação das condições de trabalho em que os professores ficarão expostos, muito menos dos processos avaliativos que indiquem carreiras mais atrativas e seguras ao trabalhador docente da educação, por outro lado é apresentada uma argumentação teórica do bom professor que contém 20 itens centrados nos aspectos individuais, que segue abaixo: 1. Domina os conteúdos curriculares das disciplinas que leciona, o que inclui a compreensão de seus princípios e conceitos. 2. Conhece as características de desenvolvimento dos alunos, suas experiências e contexto em que vivem, e como esses fatores afetam sua aprendizagem. 3. Domina a didática das disciplinas que ensina, incluindo diversas estratégias e atividades de ensino. 4. Domina o currículo ou as diretrizes curriculares das disciplinas que leciona. 5. Organiza os objetivos e conteúdos de maneira coerente com o currículo, os momentos de desenvolvimento dos alunos e seu nível de aprendizagem. 6. Seleciona recursos de aprendizagem de acordo com os objetivos de aprendizagem e as características de seus alunos. 7. Seleciona estratégias de avaliação coerentes com os objetivos de aprendizagem, a disciplina que ensina e o currículo, permitindo com que todos os alunos demonstrem o que aprenderam. 8. Estabelece um clima favorável para a aprendizagem, baseado em relações de respeito, equidade, confiança, cooperação e entusiasmo. 9. Manifesta altas expectativas em relação às possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento de todos os seus alunos. 575 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil 10. Estabelece e mantém normas de convivência em sala de aula, de modo que os alunos aprendam a ter responsabilidade pela sua aprendizagem e a dos colegas. 11. Demonstra valores, atitudes e comportamentos positivos e promovem o desenvolvimento deles pelos alunos. 12. Comunica-se efetivamente com os pais de alunos, atualizando-os e buscando estimular o seu comprometimento com o processo de ensino aprendizagem dos alunos. 13. Aplica estratégias de ensino desafiantes e coerentes com os objetivos de aprendizagem e com os diferentes níveis de aprendizado dos alunos. 14. Utiliza métodos e procedimentos que promovem o desenvolvimento do pensamento e da busca independente do conhecimento. 15. Otimiza o tempo disponível para o ensino, garantindo o máximo de aprendizagem de cada aluno durante toda a duração da aula. 16. Avalia e monitora o processo de compreensão e apropriação dos conteúdos por parte dos estudantes. 17. Busca aprimorar seu trabalho constantemente a partir de diversas práticas, tais como: a reflexão sistemática de sua atuação, a auto-avaliação em relação ao progresso dos alunos, as descobertas de pesquisas recentes sobre sua área de atuação, e as recomendações de supervisores, tutores e colegas. 18. Trabalha em equipe com os demais profissionais para tomar decisões em relação à construção e/ou implementação do currículo e de outras políticas escolares. 19. Possui informação atualizada sobre as responsabilidades de sua profissão, incluindo aquelas relativas à aprendizagem e ao bem -estar dos alunos. 20. Conhece o sistema educacional e as políticas vigentes. (INEP/MEC, 2010, p. 2-3, grifos nossos) É claro que os aspectos destacados para avaliação são importantes e vitais para qualidade da educação, porém esses aspectos não podem estar desarticulados das reais condições de trabalho (contrato de trabalho, estrutura física, materiais, etc.) e de qual será também o movimento que será realizado para mudança dessas atuais condições. Considerações finais Reconhecemos nos estudos anteriores (FREITAS et al., 2009) que a avaliação educacional implementada no Governo de Luiz Inácio Lula da Silva esta caminhando na contramão. Isto decorre da fragmentação e dissociação entre graus e níveis do complexo educacional, dentro do qual se situa a formação e atuação de professores. Defendemos, portanto que a: avaliação no processo de formação de professores é necessária para que possamos ter parâmetros tendo os objetivos/metas estão sendo alcançados. É necessária uma proposta para a avaliação educacional guiado por uma concepção de educação emancipatória “ancorada no desenvolvimento dos que fazem a escola e na responsabilidade do poder público” (FREITAS et al., 2009, p. 69). Neste processo devem se integrar três mecanismos, a saber: articular a avaliação da sala de aula, com a avaliação da instituição educacional e com a avaliação da rede de ensino. 576 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil Para que isso aconteça são necessários ainda alguns procedimentos fundamentais que superem esta avaliação classificatória. Segundo o COLETIVO DE AUTORES (1992), num enfoque mais crítico, elabora alguns caminhos possíveis para mudanças na avaliação: a) Inter-relacionar a avaliação existente em diferentes níveis - de aprendizagem, curricular e institucional, - na busca da unidade de ação, em função dos objetivos gerais da escola, consonantes com o seu projeto pedagógico e histórico assumido, coletivamente, pelo corpo social da escola; b) Facilitar a auto-organização do coletivo dos alunos, na sala de aula e na escola, para promover o aprendizado de formas democráticas de trabalho; c) Tornar a relação professor-aluno dialógica e comunicativa, de modo que permita um processo de decisão, execução e avaliação participativo; d) Superar as práticas avaliativas usualmente adotadas pela escola, exclusivamente nos termos de mensuração e quantificação, substituindo-as por práticas produtivo-criativas, vinculadas à atividade social real; e) Reinterpretar o insucesso escolar e o erro para não fazer deles fontes de culpa ou castigo que ocultem razões de classe; f) Selecionar os conteúdos conforme o seu significado social, o qual deverá ser explicitado pela avaliação, tomando o trabalho como princípio educativo; g) Fazer com que a avaliação incida sobre a aprendizagem e sobre o ensino, buscando a emergência da visão de totalidade do processo; h) Buscar formas de expressão dos resultados da aprendizagem que representem a “ordenação, compreensão e expressão” de uma realidade concreta - num concreto pensado - que contemple a inter-relação quantitativa e qualitativa e i) Promover a discussão do coletivo escolar - professores, alunos, pais, pessoal de serviço - sobre a avaliação de hábitos e valores. (coletivo de autores, 1992, p.101/102) Ou seja, é fundamental que haja uma política de formação de professores que desenvolva mecanismos integrados na condução da avaliação, sala de aula, instituição e rede de ensino de forma articulada. E ainda, uma avaliação que atenda as necessidades da classe trabalhadora: que tenha relação com o projeto histórico emancipado/socialista; com os parâmetros defendidos pelas entidades científicas/sindicais e pela sociedade civil no âmbito da formação de professores; com as melhorias salariais e condições de trabalho; e que a avaliação seja, realmente, um procedimento pedagógico e não um parâmetro para parabenizar os melhores e punir aqueles que não obtiveram boas notas. 577 XVIII Seminário Internacional de Formação de Professores para o MERCOSUL/CONE SUL De 03 a 05 de novembro de 2010 Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Florianópolis – Santa Catarina – Brasil Referências BRASIL, Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Referenciais para o exame nacional de ingresso na carreira docente – documento para consulta pública. Brasília: INEP/MEC, 2010. CAPES. Disponível em: http://www.capes.gov.br/servicos/sala-de-imprensa/36noticias/2390-sistema-nacional-para-formar-professores, acessado em 09/09/2010. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. DELORS, Jaques. Educação: um tesouro a descobrir; relatório para a UNESCO da comissão internacional sobre educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; MEC, 1999. FREITAS. Luiz Carlos. Medida única ou medida repetida?. Disponível em http://avaliacaoeducacional.zip.nt. Acessado em 09/09/2010. FREITAS, Luiz Carlos; SORDI, Mara; MALAVASI, Maria; FREITAS, Helena. Avaliação educacional: Caminhando pela contramão. São Petrópolis, Vozes. RJ, 2009. FRIGOTTO, Gaudêncio. A formação e a profissionalização do educador: novos desafios. In: GENTILI, P. (ORG.) 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