UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GENÉTICA E BIOLOGIA MOLECULAR VARIABILIDADE GENÉTICA DE POPULAÇÕES DE Angiopolybia pallens (HYMENOPTERA: VESPIDAE: EPIPONINI) Discente: Antônio Freire de Carvalho Filho Orientador: Dr. Marco Antônio Costa Co-Orientador: Dr. Gilberto M. de M. Santos RESUMO (Seminário de Qualificação) Apesar de atualmente estarem separadas por um extenso corredor árido e seco (Chaco, Cerrado e Caatinga), indícios apontam para uma ponte histórica conectando a Mata Atlântica à Floresta Amazônica [1]. Esta conexão provavelmente foi rompida no Pleistoceno (há aprox. 1,8 M.a.) devido a mudanças na órbita do planeta responsáveis por flutuações climáticas que culminaram em Máximos Glaciais [2]. Nestes períodos de frio intenso a umidade foi reduzida na porção tropical da América do Sul e houve um aumento na aridez desta região [3]. Isto provocou a expansão do Cerrado e a retração das florestas úmidas para refúgios ecológicos periféricos [4; 5]. Com o fim da Era Glacial (100 m.a.) as florestas úmidas expandiram-se novamente enquanto as savanas retraíram-se e ocuparam suas atuais áreas de distribuição [6]. Estes efeitos estocásticos promoveram a separação das floretas úmidas da América do Sul fazendo com que a biota adaptada a este tipo de habitat sofresse concomitantemente os efeitos desta disjunção. É o caso da vespa social Angiopolybia pallens, um epiponíneo neotropical encontrado em ambas as florestas e com limitações ecológicas [7] que não permitem sua ocorrência em ambientes áridos presentes no interior do Brasil. Isto torna esta espécie uma excelente indicadora das mudanças ambientais quaternárias ocorridas na América do Sul além de um ótimo modelo para estudos filogeográficos de espécies amplamente distribuídas. A fim de investigar a diversidade genética desta espécie de ampla distribuição, analisamos regiões dos genes mitocondriais 16S e CO-I em indivíduos coletados na Mata Atlântica e na Amazônia. Utilizamos espécimes da vespa Angiopolybia paraensis como grupo externo em nossas análises devido à proximidade filogenética desta espécie com A. pallens [8] e pela sua ocorrência restrita à região Amazônica [9]. Análises citogenéticas também foram realizadas em populações provenientes da Mata Atlântica do estado da Bahia. As inferências filogenéticas geradas a partir dos resultados de PCR-RFLP evidenciaram uma grande diferença das populações que habitam a Mata Atlântica do Sul da Bahia quando comparadas àquelas da Amazônia. Esta alta diferenciação pode ter sido alcançada devido ao longo período de isolamento entre as populações residentes nestes biomas. Os dados fornecem evidências de que A. pallens apresentava-se distribuída de forma contínua em ambas as florestas antes do Último Máximo Glacial (UMG) ocorrido no Pleistoceno. Durante o UMG as populações residentes na Mata Atlântica e interior do Brasil provavelmente sofreram um grande declínio devido ao aumento da aridez na porção tropical da América do Sul. Aquelas populações que se encontravam nos refúgios provavelmente foram as únicas a permanecerem durante todo o período de frio como é registrado para outras espécies de florestas da Mata Atlântica [10]. Após este período, as populações devem ter passado por uma intensa expansão e ocuparam as áreas reflorestadas. As populações oriundas do Sul da Bahia demonstraram uma alta similaridade, formando um agrupamento monofilético suportado pelas análises de inferência filogenética e pelos resultados citogenéticos. Não houve diferença no número cromossômico (2n=26), fórmula cariotípica (2K=8M+2A+16SM) nem na natureza molecular da heterocromatina das nove colônias analisadas citogeneticamente. Os resultados alcançados indicam uma diferença expressiva entre as populações que habitam a Mata Atlântica do Sul da Bahia daquelas encontradas na Amazônia. As amostras oriundas do Baixo Sul, agreste e recôncavo baiano apresentaram maior similaridade com as amostras da Floresta Amazônica. Estes dados fornecem evidências de que as populações residentes no Sul da Bahia constituem uma espécie diferente para o gênero Angiopolybia. Entretanto, as análises a partir de PCR-RFLP e citogenética são muito limitadas e podem mascarar mudanças sutis que somente o sequenciamento de DNA pode revelar com maior precisão. Palavras-chave: Mata Atlântica; Amazônia; vespa social; mudanças climáticas. Referências Bibliográficas [1] Costa, L.P. 2003. 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