Clipping Nacional de Educação Segunda-feira, 14 de Setembro de 2015 Capitare Assessoria de Imprensa SHN Qd2Edifício Executive Office Tower Sala 1326 Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br IDEIAS 14/09/15 Eduque suas emoções As escolas públicas começam a ensinar os alunos a lidar com os sentimentos. Pesquisas mostram que esse é o caminho certo para promover mais igualdade de oportunidades. Flávia Yuri Oshima A auxiliar de educação Maria Carolina Dias da Silva está se preparando para cumprir uma maratona de joelhos. Literalmente. No final do ano, quando houver a colação de grau do 5Q ano de seu filho mais velho na Escola Estadual Alfredo Paulino, em São Paulo, Carolina deve ir de joelhos de sua casa à escola, a cerca de 2 quilômetros, para receber o canudo. Trata-se de uma promessa. Estamos em setembro e já dá para saber que Carolina terá de preparar os joelhos. Igor, o alvo da promessa, é um garoto bonito, de sorriso charmoso e olhos muito vivos. Fala do que gosta, do que não gosta, de como se enxerga e de como é visto pelos amigos com a tranqüilidade de alguém que se conhece bem. Sem seu histórico, é difícil entender por que a mãe ralará os joelhos. Ele mesmo explica: "Eu ia para a diretoria todos os dias", diz. Era muito freqüente? "Não, era só todos os dias." Mau comportamento era o motivo mais comum para as convocações à diretoria. "Eu ficava muito irritado, gritava, brigava com os colegas e, às vezes, batia neles", diz. Carolina afirma que Igor sempre fora muito nervoso, na escola e em casa com os dois irmãos menores, de 7 e 5 anos. Carolina pediu transferência para trabalhar em uma escola em que Igor pudesse estudar para ficar por perto e tentar ajudá-lo. "Chorava todos os dias. Tinha medo de que ele não conseguisse chegar ao 5U ano", afirma Carolina. O que ocorreu para que Igor mudasse seu padrão de comportamento? "Eu passei a contar até dez e respirar", diz Igor. "Às vezes, escuto e percebo que não fizeram nada contra mim." O carioca Flávio Mascarenhas, de 17 anos, sofria com problema oposto ao de Igor. Tinha muita dificuldade em mostrar quando estava com raiva, decepcionado, nervoso ou mesmo satisfeito e feliz. Flávio é tímido, e era retraído. "Eu me fechava porque tinha receio de conhecer as pessoas", diz. "Fui obrigado a ir me abrindo para dar conta dos projetos da escola." No Colégio Estadual Chico Anysio, no Rio de Janeiro, uma das tarefas da turma de Flávio é sair pelo bairro para rastrear problemas da comunidade e pensar em possíveis soluções. Nas reuniões, cada estudante tem de defender propostas. "Acabei pegando gosto por dar a minha opinião. Percebi que consigo mudar coisas assim." Num debate em que cada aluno defendia uma religião, Flávio, que é católico, representou um protestante. No fim do debate, o professor veio perguntar se ele estava se preparando para ser pastor. "Nunca pensei que pudesse defender ideias com tanta eloqüência." Além da promessa da mãe, no caso de Igor, e da vontade de ajudar a vizinhança, no caso de Flávio, ambos receberam outro tipo de ajuda. Eles entraram em escolas públicas onde aprenderam a lidar com as emoções. As secretarias de Educação de São Paulo e do Rio de Janeiro incorporaram a educação socioemocional ao currículo regular das escolas estaduais de ensino integral de suas redes. No Rio de Janeiro, uma parceria com o Instituto Ayrton Senna tornou viável o desenvolvimento do programa Solução Educacional para o Ensino Médio, que está funcionando em 56 escolas. Em São Paulo, uma aliança com a ONG Vila da Educação possibilitou a criação do programa Compasso, criado a partir do americano Second Step (segundo passo), metodologia que existe há 20 anos. O Compasso está em 17 escolas. Socioemocional é um dos nomes dados à pedagogia que incorpora o desenvolvimento de habilidades relacionadas a como 14/09/15 cada um enxerga o mundo, se relaciona e reage a ele. De acordo com pesquisas, aquela história de "eu nasci assim e nunca vou mudar" é pura falta de informação. A educação emocional defende que habilidades de personalidade podem ser aprendidas, aprimoradas e redesenhadas. São características como responsabilidade, colaboração, criatividade, autocontrole, abertura ao novo e perseverança. Não se trata de mudar a personalidade das pessoas, mas de equilibrar aspectos muito acentuados, como timidez excessiva ou impulsividade excessiva, para que determinada característica não sabote a vida social, o potencial de aprendizado e o bem-estar da pessoa. Esses aspectos de personalidade também são chamados de conhecimento ou habilidades não cognitivas, ou de traços de caráter, ou pelo termo soft skills, importado do inglês (habilidades suaves, em contraponto às hard skills, habilidades duras, como matemática, ciências e leitura). Essas habilidades suaves são tradicionalmente relegadas a segundo plano, encaradas como traço imutável da personalidade ou responsabilidade da educação familiar. Mas estudiosos do mundo do trabalho têm afirmado já há algum tempo que elas são as competências mais apreciadas nos profissionais, a ponto de serem centrais para o que chamam de "habilidades para o século XXI". Num tempo em que o conteúdo "duro" está tão disseminado, o que faz diferença, dizem esses estudiosos, é a forma de aplicálos. E isso exige habilidades "suaves": saber ouvir, equilíbrio emocional ante problemas, resolução de conflitos. Na educação, um marco para a popularização dessa discussão para além da academia foi o livro Uma questão de caráter, de 2012, em que o americano Paul Tough reuniu evidências que comprovavam a tese. Desde então, estudos acurados complementaram aquelas discussões. Agora, sabese não só que habilidades sociais e emocionais importam, mas também quanto elas fazem diferença, na escola e na vida. Essas descobertas impulsionaram iniciativas no Brasil e no mundo que colocam o ensino das habilidades socioemocionais no centro das estratégias de educação. O Brasil já colhe resultados positivos nos projetos que mantém, o Japão anunciou que reformulará toda a grade nacional de educação para deixar 30% do currículo dedicado ao ensino de habilidades socioemocionais e a principal avaliação de educação do mundo, o Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional para Avaliação de Estudantes), incorporará, a partir deste ano, aspectos socioemocionais às notas de matemática, leitura e ciências. Como preâmbulo ao novo ranking do Pisa, que será revelado em 2017, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) elaborou um levantamento inédito, que será divulgado no fim do ano, ao qual ÉPOCA teve acesso antecipado. O documento mapeia as principais iniciativas e os desafios globais do ensino socioemocional. Foi preparado com o apoio de grandes estudiosos de várias disciplinas, como o prêmio Nobel em Economia James Heckman, uma das primeiras vozes a defender a influência benéfica dos cuidados socioemocionais na primeira infância. Um dos estudos mais amplos, feito com o programa americano Perry School, mostrou que para 14/09/15 cada dólar gasto em educação emocional por aluno, o país ganha US$ 7 em benefícios que se estendem a outras pessoas, que convivem com quem recebeu essa educação. Isso porque aqueles que aprenderam a lidar com suas emoções ao longo da infância tiraram melhores notas, envolveram-se menos em conflitos na escola e escaparam do mundo do crime. "Quando se impede que um número maior de jovens desista da escola e deixe de ir para a cadeia, criamos cidadãos saudáveis, produtivos e criativos", diz Richard D. Roberts, pesquisador australiano e autor de mais de dez livros sobre educação socioemocional. "Não só os gastos com saúde pública e serviços sociais caem, como os ganhos econômicos aumentam." Outra conclusão comum das pesquisas internacionais é que habilidades geram habilidades. Ao desenvolver ou aprimorar características socioemocionais, potencializa-se a capacidade de aprendizado do aluno em várias áreas. "É como uma bola de neve montanha abaixo", diz Simone André, responsável pelo Superação, o primeiro programa com elementos emocionais do Instituto Ayrton Senna, formulado há dez anos para ajudar alunos com baixo desempenho escolar. O Brasil deu uma contribuição importante para o levantamento global da OCDE. O Instituto Ayrton Senna conduziu, em colaboração com a organização, a maior pesquisa já feita no Brasil sobre habilidades socioemocionais, com 25 mil alunos da rede estadual do Rio de Janeiro. A escola Chico Anysio formará em dezembro a primeira turma de ensino médio que recebeu a educação socioemocional desde o lu ano. Isso possibilitou a comparação entre os dois primeiros anos (a do 3U ano ainda será feita). Concluída neste ano, a pesquisa mostra um desempenho 30% superior, em notas, dos alunos que estudaram com a nova didática, tanto em língua portuguesa quanto em matemática, quando comparados a alunos de escolas integrais com currículo convencional. Se comparados a alunos de escolas de carga horária de meio período, as notas dos que freqüentaram o programa ocioemocional foram 65% superiores em língua portuguesa e 60% em matemática. Esses resultados confirmam o que dados internacionais já apontaram: trabalhar o lado emocional do aluno dá mais resultado no aprendizado de qualquer disciplina do que dar aulas de reforço para conteúdos específicos. O estudo feito no Rio de Janeiro também mostra que a educação socioemocional pode ser um importante instrumento para promover a igualdade. O nível de educação dos pais é determinante para o bom desempenho do estudante em atributos de aprendizagem, como gostar de ler e ir bem em matemática. No caso do ensino socioemocional, segundo o estudo, essa relação não existe. Filhos de pais mais instruídos não serão mais responsáveis do que os filhos de donas de casa sem escolaridade ou de operários braçais. No Brasil, foi possível avaliar que o nível econômico da família também não interfere no aprendizado de habilidades emocionais e sociais. Uma criança pobre aprende a cooperar, cria responsabilidade e treina assertividade tanto quanto uma criança rica. "Quando ajudamos um aluno a desenvolver atributos que levam à autonomia emocional e social, diminuímos a distância que separa ricos e pobres das boas oportunidades", diz Dana McCoy, pesquisadora da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, especializada na relação entre pobreza e educação. O acompanhamento de alunos até sua vida adulta concluiu que a perseverança e a diligência importam mais no sucesso de alguém do que a facilidade com conteúdos "duros". No longo prazo, alunos com esses atributos e notas medianas saíram-se melhores em construir uma vida saudável e produtiva do que estudantes que dominavam as disciplinas mais difíceis com facilidade, mas que não possuíam essas características. Um estudo feito pela Escola de Negócios da Universidade Stanford com grandes empresas mostrou que em mais de 65% dos casos a decisão de contratação ou promoção ocorreu porque o candidato foi identificado com atributos como comunicação, colaboração, temperamento, abertura ao novo e senso ético todos ligados às habilidades emocionais. Somente cerca de 30% dos profissionais foram contratados principalmente por seus atributos técnicos. 14/09/15 Todo professor sabe da importância de lidar com aspectos emocionais dos alunos e de ajudálos a fazer o mesmo. De forma geral, fazem isso no dia a dia, de forma intuitiva, na base da tentativa e erro. A eficácia depende da experiência e da paciência de cada professor. O rastreamento e a avaliação dos melhores métodos, como a OCDE se propõe a fazer, ajudarão a montar treinamentos sistematizados para os professores, que são peças-chave nesses programas. O aluno não dependerá mais da sorte por cair com um professor ou outro para se desenvolver. "No Chico Anysio (a escola ), estudamos o que queremos ensinar e treinamos como fazer isso", diz Ednês Santos, professora de língua portuguesa. "Costumo dizer que nunca estudei tanto quanto agora que dou aulas aqui." Os nomes dos programas de treinamento em habilidades socioemocionais mudam, mas há pontos em comum de como trabalhar com os alunos. A OCDE identificou três estratégias consolidadas em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. São elas: perseguir objetivos, trabalhar em equipe e reconhecer e lidar com seus sentimentos. Outro ponto considerado essencial para o sucesso da educação socioemocional na vida dos estudantes é o envolvimento das famílias. A adesão dos pais aos valores que a escola quer transmitir permite que o ensino ultrapasse os muros da escola e acelera a assimilação da criança. Se na escola ela é incentivada a dar sua opinião e esperar sua vez para fazer isso, em casa a opinião dela também deverá ser valorizada, tanto quanto o fato de ela ser capaz de respeitar sua vez de falar. Se na escola o erro é tratado como algo natural, que deve ser assumido sem medo e encarado com responsabilidade, em casa as repreensões devem ocorrer no sentido de chamar a criança para a responsabilidade, e não para gerar medo. O programa Compasso, de São Paulo, engloba lições de casa que devem ser feitas pelos alunos junto com adultos para tentar envolver toda a família nas propostas da escola. "Quando os pais passam a reconhecer em casa atitudes que viram no programa, essa adesão é imediata", diz Ana Luiza Colagrossi, uma das responsáveis pelo desenvolvimento do Compasso. "E, aí, o desenvolvimento da criança voa. Ela se sente valorizada dentro e fora da escola." Maria Carolina, a mãe do garoto Igor, conta que uma noite correu para a cozinha ao ouvir o som de louça quebrada. "Já estava preparada para ver um jogando a culpa no outro e para separar a briga entre os três, quando o Igor falou: "Fui eu, me desculpe"." "Parece pouco?", pergunta ela."Não é, não", responde baixinho, enquanto esboça um sorriso. 14/09/15 IDEIAS Entrevista / Richard D. Roberts "A educação emocional pode gerar uma revolução social" :: O psicólogo e educador australiano Richard D. Roberts diz que o ensino das emoções nas escolas pode proporcionar ganhos econômicos e menos gastos públicos Flávia Yuri Oshima É muito difícil pesquisar qualquer assunto relacionado à educação emocional, ao impacto da personalidade na aprendizagem e à inteligência afetiva sem deparar com o nome do australiano Richard D. Roberts. Rich, como gosta de ser chamado (inclusive em sua biografia acadêmica), é autor de mais de uma dúzia de livros e de mais de 150 estudos científicos sobre personalidade e educação emocional. É considerado um dos maiores especialistas em análise e avaliação de personalidade. Doutor em filosofia e psicologia pela Universidade de Sydney, Roberts especializou-se em avaliações internacionais de educação tradicional, entre elas o Pisa - Programa de Avaliação Internacional de Estudantes, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Fez isso "até o dia em que as achei insuficientes", diz ele. "Nenhuma nota individual é capaz de olhar o estudante efetivamente." Há 20 anos, dedica-se ao desenvolvimento de análise e avaliações emocionais e de personalidade. Hoje, vive em Nova York e dirige o Professional Examination Service, entidade que desenvolve avaliações para novos modelos de educação. Época - Por que ensinar os estudantes a lidar com as emoções é importante? Richard Roberts - Há fortes evidências de que trabalhar essas habilidades traz resultados positivos para os alunos no aprendizado de vários tipos de conteúdo e sobretudo na vida social. Nos Estados Unidos, temos pesquisas sérias que comprovam que para cada dólar investido em programas de educação socioemocional há um retorno de US$ 7 em benefícios para as pessoas que convivem com quem recebeu esse tipo de educação. Pense no poder de revolução social dessa pedagogia. EPOCA - De que forma se dá esse retorno? Roberts - A probabilidade de o estudante que recebeu esse tipo de treinamento ir para a cadeia cai drasticamente. O desempenho escolar como um todo melhora objetivamente. As taxas de evasão também caem. Quando se impede que um número maior de jovens desista da escola e deixe de entrar no mundo do crime, só para ficar em dois exemplos, criamos cidadãos saudáveis, produtivos e criativos. Financeiramente, não só os gastos com saúde pública e serviços sociais caem, como os ganhos econômicos aumentam. Há mecanismos sofisticados que já mediram esse tipo de retorno. Época - A educação socioemocional pode ser aplicada independentemente da cultura de um país? Roberts - Sim. Ao falarmos de habilidades socioemocionais, falamos de traços de personalidade e habilidades universais, como perseverança, responsabilidade, abertura ao novo, ansiedade e amabilidade. Há cada vez mais evidências de que os traços de personalidade são importantes para a educação e também para outros aspectos da vida, como sucesso no trabalho, e até para predizer a expectativa de vida. A relação é bastante lógica. Quem tem um bom relacionamento com as pessoas, foco e propósito vive melhor. Não mudamos nossas personalidades, mas podemos adquirir habilidades que equilibrem aspectos predominantes do nosso jeito de ser que podem nos atrapalhar. Quem é tímido ou muito passivo pode aprender a se colocar de forma saudável sem para isso se tornar líder de torcida. ÉPOCA - Há quem invista 14/09/15 anos de psicoterapia para chegar a esse equilíbrio. Como se podem trabalhar essas habilidades em estudantes? socioemocional. O importante é entender como podemos usar essas ferramentas para estimular os aspectos importantes para cada um. Roberts - Essa é a beleza dos programas socioemocionais: eles são muito simples. Primeiramente porque crianças e jovens são esponjas que assimilam e incorporam rapidamente atitudes que se mostram eficazes para eles. Há exemplos simples, como mostrar o caminho e incentivar a criança a seguir por ele. Quando algo nos incomoda, temos três formas de lidar com esse problema: evitar o fato, tentar lidar (ou nos afogar) com nossas emoções ou pensar em formas de resolver o incômodo. O que é mais eficaz comprovadamente? A terceira opção. Ao mostrar isso ao estudante e ao incentivá--lo a pensar em formas de resolver seus incômodos, nós os treinamos para encarar o mundo dessa forma. O ambiente escolar, com sua diversidade de interação social e os desafios de aprendizado, é rico e propício para despertar o olhar dessas crianças e estimular boas práticas. EPOCA - Hoje, nos Estados Unidos, os pais passaram a dar mais importância à educação das emoções na escola? ÉPOCA - Qual o papel da tecnologia no ensino das habilidades socioemocionais? Ela é algo inexorável na educação e na vida, mas também pode contribuir para o isolamento social dos alunos. Roberts - Temos muito a ganhar com a tecnologia. As ferramentas mais usadas hoje são um chamado para a colaboração, que é uma das bases do aprendizado Roberts - Esse é um conhecimento que está sendo disseminado. Há muitos livros hoje em dia sobre o assunto. O livro do escritor americano Paul Tough (Uma questão de caráter, no título em português) ficou entre os mais vendidos do The New York Times. Os pais estão mais ligados nesse assunto. ÉPOCA- Um estudo feito neste ano nos Estados Unidos, com mais de 6 mil professores, afirma que mais de 60% dos entrevistados não se sentem preparados para lidar com questões socioemocionais. Dizem que não receberam nenhum tipo de treinamento nem mesmo na universidade. Como preparar os professores para lidar com essas habilidades? Roberts - Essa é uma questão crítica. Há alguns anos, tínhamos uma organização social diferente. As mães ficavam em casa, perto das crianças, enquanto os pais trabalhavam. Hoje, a importância da escola aumentou e, consequentemente, a do professor. Os professores têm também a função de mostrar e desenvolver comportamentos adequados nas crianças. O que se pode fazer de imediato é pensar em como abordar os conteúdos formais para os quais os professores estão bem preparados. Se os alunos trabalham com uma história, vale questioná-los sobre o que acham certo ou errado, por que pensam daquela forma, o que fariam naquela circunstância. Pode-se pensar em como fazer abordagens que exijam reflexão do aluno. ÉPOCA - Os Estados Unidos construíram recentemente uma base curricular comum para todo o país. Isso é algo que está sendo preparado no Brasil. As questões socioemocionais foram abordadas na política americana de educação? Roberts - Não de forma específica. Há alguma menção como uma indicação. Agora, há muitos Estados americanos preocupados em sistematizar esse tipo de ensino. O mundo está acordando para isso agora. O levantamento da OCDE, que é um dos mais respeitados do mundo, está investindo nessa questão agora. Esse é um indicador importante. Estamos progredindo. Mesmo países como a Coreia estão preocupados em deixar de ser muito rígidos e dar mais espaço para olhar o lado emocional dos alunos. Fomos procurados pelo ministro da Educação da Coreia para ajudá-los com isso. EPOCA - Que países podem ser considerados modelos de ensino de habilidades socioemocionais hoje? 14/09/15 Roberts - Acho que ainda não temos uma resposta para isso, infelizmente. EPOCA - No Brasil, percebese um preconceito com as escolas que optam por trabalhar as emoções em relação às escolas que oferecem o currículo tradicional. Esse preconceito também ocorre nos Estados Unidos? Roberts - Existe, sim, algum preconceito por parte de quem defende o ensino tradicional. A maioria das inovações na forma de ensinar e de avaliar vem das escolas independentes. Há uma ideia de que, ao se preocupar com o conteúdo emocional, você estaria roubando espaço do ensino cognitivo. Mas, na verdade, ocorre o contrário. Ao reforçar o ensino emocional, potencializamos o cognitivo. EPOCA - Por que isso ocorre? Roberts-Acho que essa resposta exige uma análise complexa sobre o tipo de país que queremos ser e o que valorizamos numa sociedade. Tradicionalmente, seguimos a linha dos economistas. Eles costumam observar o retorno dos investimentos, a capacidade de produção, o cumprimento das regras. A economia ainda determina muita coisa nas políticas, inclusive nas educacionais. É uma questão de refletir sobre os valores que temos e sobre os que queremos transmitir. Quando fizermos isso, perceberemos o tipo de mudança que teremos de fazer. E aí, talvez, a diferença entre tradicional e alternativo na educação não faça mais sentido. O GLOBO 14/09/15 O PAÍS Corte de R$ 20 bi nos gastos as propostas de cortes e de aumento de impostos serão apresentadas antes aos presidentes do Senado, Renan Calheiros ( PMDB- AL), e da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), e também ao vicepresidente Michel Temer, que está em viagem oficial à Rússia e só volta a Brasília no fim desta semana. — O governo assume a responsabilidade de formular uma proposta de melhoria da receita, mas essa construção será feita em conjunto com o Congresso — afirmou um ministro de Dilma. GABRIELA VALENTE, JÚNIA GAMA E MARTHA BECK BRASÍLIA- Depois de passar o fim de semana em reuniões para tentar cobrir o deficit de R$ 30,5 bilhões no Orçamento, a presidente Dilma Rousseff acertou ontem com sua equipe econômica um corte de R$ 20 bilhões nas contas do governo, preservando programas sociais. No encontro com ministros da Junta Orçamentária e secretários da área econômica no Palácio da Alvorada, Joaquim Levy ( Fazenda) apresentou a sugestão de não conceder aumento algum aos servidores públicos federais em 2016. Somente com essa medida, o governo deixaria de gastar R$ 15 bilhões, que é o valor previsto no Orçamento de 2016 para pagar os aumentos salariais. Esse número pode ser superior se o governo também decidir congelar, total ou parcialmente, as novas contratações no próximo ano, que têm valor previsto de R$ 12 bilhões. A expectativa de ministros envolvidos nessas discussões é que as iniciativas para cortes das despesas da máquina governamental sirvam como “um marco para a austeridade orçamentária”. Após sofrer duras críticas do Congresso sobre a condução das respostas ao deficit orçamentário, Dilma decidiu que Há, no entanto, uma divergência entre os ministérios da Fazenda e do Planejamento em relação ao corte no reajuste de servidores. Segundo parlamentares que discutem com o ministro Nelson Barbosa ( Planejamento) saídas para cobrir o deficit, ele tem se mostrado refratário à ideia de “reajuste zero”. O ministro estaria negociando acordos com as diferentes categorias para oferecer um reajuste mínimo. A avaliação de Barbosa, segundo interlocutores, é que seria “politicamente inviável” não dar aumento algum aos servidores. FAZENDA INSISTE NA VOLTA DA CPMF Diversos cenários foram apresentados à presidente na 14/09/15 reunião de ontem no Alvorada, que durou cerca de três horas. Apesar das exposições da cada ministro, há clareza de que a palavra final sobre a forma como se darão esses cortes, inclusive o reajuste dos servidores, será de Dilma. Antes da reunião, o Ministério da Fazenda preparou uma lista com dez itens para levar a Dilma propondo novas ações para ampliar a arrecadação do governo e reduzir os gastos. Entre as medidas, estão insistir na recriação da CMPF, o chamado imposto do cheque, além de não conceder aumento aos servidores federais em 2016. A proposta de recriar a CMPF já foi duramente criticada por integrantes da base do governo e teria dificuldade de aprovação no Congresso. Já a ideia de reavaliar o reajuste para o funcionalismo surgiu na Comissão Mista de Orçamento. O relator da comissão, deputado Ricardo Barros ( PPRS), passou a defender a proposta diante do deficit no orçamento do ano que vem. O líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani ( RJ), defende que a decisão sobre o reajuste seja linear para todos os servidores, a exemplo do que pretende Joaquim Levy. — Não sei se reajuste zero, mas vai ter que ter muito bom senso na concessão de reajuste. Na iniciativa privada, as pessoas estão perdendo seus empregos. Os servidores já têm estabilidade, então não se pode, quando a maioria está perdendo emprego, querer reajustar seu salário. O ideal é definir um caminho único — afirmou Picciani. O líder da Minoria na Câmara, deputado Bruno Araújo ( PSDBPE), afirmou que lideranças da oposição se reunirão amanhã para discutir as propostas do governo para cobrir o deficit, mas aponta a necessidade de convergência entre as soluções apresentadas por Levy e Barbosa. — Fica claro que continua a haver pontos de vista diferentes na condução econômica entre Levy e Barbosa — diz o tucano. Também estão na lista de ações apresentadas pela equipe econômica alteração na cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF), mudanças no imposto de renda de pessoa jurídica, na contribuição sobre a folha e ainda no recolhimento do FGTS. Essas medidas fazem parte do arrocho nas contas que a Fazenda defende para reequilibrar as contas do governo. Já o Planejamento prepara cortes no orçamento dos demais ministérios e a redução nos gastos com empresas terceirizadas. No sábado, ministros de diversas áreas se reuniram com a presidente no Alvorada para discutir cortes em suas respectivas pastas. Segundo participantes da reunião, a tônica foi a apresentação das prioridades de cada ministério e das áreas e programas passíveis de corte de gastos. A ideia é anunciar em breve os cortes para dar um sinal de “austeridade” com as contas públicas. O GLOBO 14/09/15 O PAÍS CONTEXTO Fazenda, Planejamento e as divergências GABRIELA VALENTE Ministros negam atrito, mas disputam espaço há nove meses Divergências entre os ministros da Fazenda e do Planejamento não são novidade no governo federal. Joaquim Levy e Nelson Barbosa disputam espaço em debates na equipe econômica, principalmente no que diz respeito a questões fiscais, desde que assumiram suas respectivas pastas, no início deste ano. A primeira grande derrota de Levy foi o anúncio do contingenciamento do orçamento deste ano. Ele defendia um bloqueio de R$ 70 bilhões a R$ 80 bilhões. Para mostrar poder, o corte anunciado pelo ministro do Planejamento foi de R$ 69,9 bilhões. Os R$ 100 milhões a menos causaram ainda mais discórdia por não terem motivo técnico. Foram apenas um sinal claro para enfraquecer o ministro da Fazenda. Levy chegou ao governo com o apoio de boa parte do mercado financeiro e com um discurso bem diferente de seu antecessor, Guido Mantega. Nelson Barbosa era o número dois de Mantega e continuou a defender medidas tomadas pelo ex- chefe, entre elas a desoneração da folha de pagamentos. ATÉ NO FUTEBOL Nos debates, Barbosa tinha o apoio do núcleo desenvolvimentista do governo: a própria presidente Dilma Rousseff e o ministro- chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. A lista de divergências com Levy cresceu nesses nove meses de segundo mandato da presidente Dilma e incluiu temas como a retirada do status de ministro do presidente do Banco Central, que tem a oposição de Levy. Os dois já deram declarações para tentar minimizar o mal- estar. Barbosa chegou a brincar que sua principal rusga com Levy é “que ele é Botafogo, e eu sou Vasco”. A frase é sintomática: 2015 não é um ano fácil para os dois times. Um está na série B, depois de ter sido rebaixado no ano passado. O outro é o lanterna da série A. O GLOBO 14/09/15 O PAÍS Tarso: Outra política econômica afastaria impeachment Ex-presidente do PT vê risco de Dilma não completar mandato e diz que ajuste fiscal não pode recair sobre pobres Ex- presidente do PT, escolhido para recuperar a imagem do partido após o escândalo do mensalão, Tarso Genro disse ontem que se preocupa com a possibilidade de a presidente Dilma Rousseff não chegar ao fim do mandato. E que um eventual pedido de impeachment da presidente “depende mais da política que do Direito”. — Tenho essa preocupação, sim. Evidentemente, têm processos legais que podem ser levados a isso, e nós sabemos que a interpretação de um pedido de impedimento depende muito mais da política do que do Direito — disse Tarso, em entrevista ao colunista do GLOBO Jorge Bastos Moreno, no programa “Preto no Branco”, do Canal Brasil. Para o ex- governador do Rio Grande do Sul e ex- ministro da Justiça, Educação e Relações Institucionais no governo Lula, a única forma de afastar a possibilidade de impeachment de Dilma é mudar a política econômica: — O governo, para afastar a criação de um bloco social capaz de dar sustentação para o impedimento, de um bloco parlamentar, teria que mudar a política econômica e monetária. Teria que fazer um ajuste que não se debruçasse sobre as costas dos mais pobres. Ao comentar o ajuste fiscal do governo, personificado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, Tarso disse que a paternidade das medidas deve ser atribuída ao governo. — O ajuste que está aí não é do Levy, é do governo — afirmou o petista, sugerindo que o governo tem duas opções para sair da crise: uma solução “inovadora”, que seria organizada pela esquerda, ou “tomar medidas que todos os governos tomam”: — Ou seja, não gastar e transformar o problema em uma crise de orçamento, que é uma forma absolutamente medíocre de responder a essas grandes questões históricas. O petista criticou ainda as alianças do governo do PT. Ele acredita que, no futuro, o partido deve pensar em um novo sistema de entendimento com aliados. — Acho que o PMDB tem obrigação de dar governabilidade ao governo da presidenta Dilma. Nós temos que defender seu mandato e honrar a votação popular. O PMDB tem obrigação com isso, mas entendo que meu partido deve pensar um novo sistema de alianças, cuja governabilidade não seja tão pragmática e imediatista como essas que se fizeram até agora em todos os governos. Para Tarso, a aliança do PT com o PMDB chegou ao fim. — Essa aliança já acabou — disse o petista, acrescentando: — O primeiro partido do governo hoje é o PMDB. Perguntado sobre quadros do PT para concorrer à Presidência em 2018, Tarso citou outros nomes além de Lula, e disse que não seria candidato. — Há outros quadros de alta respeitabilidade: ( Fernando) Pimentel ( governador de MG), ( Jaques) Wagner ( ministro da Defesa), ( Aloizio) Mercadante ( ministro da Casa Civil). O GLOBO 14/09/15 SOCIEDADE Prova da Uerj está próxima do modelo do Enem, dizem estudantes RAPHAEL KAPA raphael. kapa@ oglobo. com. br Professores também apontam que exame ficou bem mais interpretativo “Vi uma prova mais parecida com o Enem e muito diferente do meu primeiro vestibular. A sensação é de que o exame mudou bastante” Gustavo Leitão Estudante Milhares de alunos realizaram ontem a segunda prova do exame de qualificação, na primeira fase do Vestibular da Uerj. Porém, a impressão era de que estavam fazendo um outro exame: o Enem. Como as questões exigiam mais interpretação e menos decoreba, professores e estudantes evidenciaram que a prova estadual se aproximou do modelo do exame nacional. — Vi uma prova mais parecida com o Enem e muito diferente do meu primeiro vestibular há cinco anos. A sensação é de que o exame mudou bastante — afirmou Gustavo Leitão, de 23 anos, que se formou em Letras mas agora está tentando uma vaga no curso de Jornalismo. A sensação de Gustavo é compartilhada pelo coordenador de vestibular do colégio QI, Renato Pellizzari. — Impressiona que o exame de qualificação se aproxime cada vez mais do modelo de Enem, contudo ainda há algumas questões mais conteudistas. Uma delas foi a que abordou a Revolução Cultural, na China. Não tinha como responder somente através da interpretação. Mas, como um todo, a prova vem chegando mais perto do modelo adotado pelo Enem. Da mesma forma que o exame nacional cobra mais a habilidade do aluno em interpretar gráficos e textos, o exame da Uerj chamou a atenção da estudante Ana Medeiros por ter poucas questões que exigissem conhecimento prévio do estudante. — Como no Enem, a prova de Português e a parte de ( Ciências) Humanas exigiram uma atenção com os textos, mas dava para fazer sem saber os conteúdos. Na parte de Exatas, era um pouco diferente, mas nada que surpreendesse. Apesar disso, a estudante achou a prova um pouco mais difícil do que a primeira aplicada neste ano. — Acho que, até pelas leituras, achei a prova mais complicada de fazer. Para Pellizzari, o teste teve o mesmo nível do anterior, mas os alunos acreditam em um mito — que para o professor não é real — de que a segunda prova é mais fácil do que a primeira. — Sempre fica aquela expectativa de que o segundo exame é mais fácil. Mas nunca senti isso. Na verdade, a diferença nos conceitos de Ae B é muito maior entre as provas porque o aluno passa a ter mais tempo de estudar. Não é por causa da dificuldade da prova. Ronaldo Ayres, professor de Física do colégio Pensi, também não viu muita diferença entre as provas e afirma que os alunos não tiveram grandes surpresas. — O exame de qualificação não aborda toda a ementa do ensino médio. O que costuma cair é bem previsível. Já na segunda fase, a prova aborda mais conteúdos. O aluno tem que pegar o edital e ver o que ainda não estudou e se planejar. Em Física, por exemplo, matérias como Óptica e Ondas caem na segunda fase e não na primeira. Gustavo Leitão, que já carrega dois vestibulares nas costas, acredita que vai tirar A, o conceito máximo, na prova. Mas não comemora e nem muda seu planejamento de estudo para os próximos meses. — Não dá para só focar nas específicas agora, porque ainda tem o Enem, que cobra tudo. Porém, se tirar A, isso dá um fôlego para me dedicar mais. As inscrições para a segunda fase do Vestibular da Uerj começam no dia 22 deste mês, e a prova será no dia 29 de novembro. Somente quem acertou mais de 40% no exame de qualificação pode se inscrever. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 PODER Ação publicitária em site de moda custou R$ 301 mil à gestão tucana ALEXANDRE ARAGÃO DE SÃO PAULO O governo de São Paulo, comandado pelo tucano Geraldo Alckmin, pagou R$ 301 mil à empresa Lumi5, do empresário Paulo Borges –que organiza a São Paulo Fashion Week–, por três postagens no Facebook, três no Instagram, dois anúncios e um banner no site FFW. A informação é de documentos oficiais consultados pela Folha. O pagamento ocorreu em 5 de dezembro de 2014, um mês após o evento. Diz respeito à publicação de fotos para divulgar trabalhos de alunos de escolas técnicas e do Centro Paula Souza. A negociação foi intermediada pela agência Lua, contratada por meio de licitação, que recebeu um comissionamento. A título de comparação, o mesmo governo pagou, numa data próxima, R$ 292 mil por uma propaganda de oito páginas na revista "Exame", da Editora Abril. E R$ 71 mil por um anúncio de duas páginas na "Época", da Editora Globo. No caso do site FFW, especializado em moda, os anúncios foram chamados de "publieditoriais" (propaganda que imita reportagem), mas nenhum foi identificado como publicidade. O conteúdo foi determinado pelo governo. Um relatório da Lumi5 informa que os dois anúncios tiveram, juntos, 8.191 impressões (uma das métricas utilizadas pelo mercado publicitário na internet). As três fotos no Instagram receberam 1.660 curtidas. E as postagens no Facebook tiveram 23.311 visualizações. O banner foi identificado como "superbanner novembro". Em nota a empresa diz que foi exibido durante seis meses no site FFW. A Folha teve acesso aos documentos após um pedido feito por meio da Lei de Acesso à Informação. OUTRO LADO O governo paulista afirmou, por meio de uma nota, que "a ação planejada pela agência de publicidade [Lua] não se resumiu a veiculação na internet". Segundo o governo, o valor pago, R$ 301 mil, também incluiu "intercâmbio entre alunos do Centro Paula Souza que fazem cursos ligados a moda e profissionais do SPFW", apesar de os documentos referentes ao contrato mencionarem apenas as postagens e os anúncios. "Houve exposição do trabalho dos estudantes no local do evento, que conta sempre com ampla cobertura dos veículos de comunicação", finaliza a nota do governo. A empresa Lumi5 disse que os valores "podem ser alterados, dependendo da quantidade de pacotes contratados, como é praxe de mercado". Afirmou ainda que o conteúdo não foi identificado como publicidade porque é "branded content", jargão para quando um anúncio é feito por um veículo de notícias, como o site FFW. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 MUNDO A crise, vista de Washington CLÓVIS ROSSI Situação brasileira é apenas uma "distração" em relacionamento que vive seus melhores momentos Vista de Washington, a crise brasileira é tão confusa quanto é para os brasileiros e acaba funcionando como uma distração para o desafio de produzir resultados em uma relação bilateral que está no melhor nível em muitos anos, com ou sem crise. Depois do esfriamento gerado pelo episódio de espionagem, a visita da presidente Dilma Rousseff aos EUA, em junho, levou o relacionamento a um ponto mais "sofisticado", na avaliação do Departamento de Estado. Exemplo de sofisticação, entre outros: dois acordos na sensível área militar que permitirão a troca de informações e avanços tecnológicos entre os dois países. A crise, como toda crise, abre também oportunidades. Na área de infraestrutura, o Brasil tem explorado a possibilidade de atrair construtoras norte-americanas, empresas que, até recentemente, eram refratárias. É razoável supor que as dificuldades das grandes empreiteiras brasileiras, enredadas na Lava Jato, tenham aberto o caminho para congêneres norte-americanas. Poderiam entrar, por exemplo, em consórcios com empresas nacionais para a construção e operação de aeroportos regionais. Na área comercial, a que mais facilmente permite medir avanços, o ministro Armando Monteiro está ansioso para colocar em prática a promessa de Dilma de dobrar o comércio com os EUA em dez anos. Os Estados Unidos já são o maior destino para exportações brasileiras de manufaturados, obviamente as de maior valor agregado, mas Monteiro explora acordos em áreas que não interfiram com tarifas, o que exigiria negociações complexas e, por isso, demoradas. Washington e Brasília estão explorando acordos em áreas como regulação e redução da burocracia alfandegária, que produzem resultados mais rapidamente. Há pouco, os dois países reuniram especialistas de parte a parte para discutir direitos humanos, tema que inevitavelmente subiu na agenda ante a crise dos refugiados na Europa e, mais recentemente, o deslocamento forçado de colombianos que moravam na Venezuela. A reunião é significativa não apenas pelo tema em si, naturalmente delicado, mas pelo fato de que os Estados Unidos incluem o Brasil em uma discussão que tem abrangência global, não apenas regional. É a reafirmação, no detalhe, de uma parceria estratégica, como os dois países tratam o relacionamento bilateral. Tão estratégica que os Estados Unidos usam o caso brasileiro com Cuba, ao apontar o Brasil como exemplo de que é possível promover avanços sociais na democracia e com mecanismos de mercado. Outro ponto estratégico é o papel dos estudantes brasileiros enviados aos EUA no âmbito do Ciências sem Fronteiras, hoje na altura recorde de 33 mil. Dizem reitores de universidades norte-americanos que os brasileiros energizam as relações nos locais em que estudam. Ah, estão também sendo convidados pelas corporações norte-americanas para complementar os estudos com estágios nas suas áreas de especialização. O risco, acho eu, é que, com a crise, não queiram mais voltar. Aí, sim, seria uma grave "distração" no relacionamento. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 COTIDIANO Disputas políticas, greves e cortes paralisam Ministério da Educação A assessores, ministro Renato Janine Ribeiro tem reclamado de interferências em seu trabalho Volta de Mercadante à pasta está em análise; chefe da Casa Civil e Lula têm representantes de confiança no Mec GUSTAVO URIBE FLÁVIA FOREQUE DE BRASÍLIA A greve nas universidades federais, o corte de R$ 10,2 bilhões no orçamento e as disputas políticas dificultam a gestão do ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, há cinco meses no posto. Além da possibilidade de ter seu comando alterado na reforma administrativa em estudo, a pasta tornou-se palco de disputa por espaço entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Em conversa com aliados, segundo relatos à Folha, Janine tem reclamado da falta de autonomia e da influência da Casa Civil. Segundo assessores, há interferência de Mercadante em temas como a paralisação de docentes e o Ciência sem Fronteiras. O ministro nega ter criticado Mercadante (leia texto abaixo), mas as queixas foram confirmadas por cinco interlocutores de Janine. Mercadante deixou o MEC em 2014, mas manteve um aliado: o secretário-executivo Luiz Cláudio Costa, com quem despacha semanalmente, segundo apurou a reportagem. Ao mesmo tempo, ele mantém entre seus auxiliares dois ex-secretários do ministério. Para marcar posição, Lula indicou para a chefia de gabinete de Janine um assessor próximo, o ex-secretário-executivo do Ministério das Comunicações Cezar Alvarez. Dilma assumiu seu segundo mandato sob o lema de construir uma "Pátria Educadora". Janine tomou posse na pasta em abril, após a saída conturbada do exgovernador do Ceará Cid Gomes. Professor de filosofia da USP, seu nome teve o apoio do expresidente, insatisfeito com o poder de Mercadante. Com o agravamento da crise política, no entanto, a presidente Dilma Rousseff estuda tirar Mercadante da Casa Civil, como revelou a Folha na sexta (11). Segundo ministros e assessores, ela considera colocá-lo no lugar de Janine. Cid esteve à frente do MEC por pouco mais de dois meses. Lançou ideias como o Enem digital e a capacitação de diretores de escolas públicas. A verba escassa freou as medidas. A proposta piloto de um Enem digital, apenas para treineiros, deve ser adiada para o próximo ano. Já um programa para os diretores ainda não saiu do papel. EXPERIÊNCIA Para críticos de Janine, falta experiência na gestão pública e empenho em acompanhar programas da pasta. Eles avaliam que o ministro não compôs equipe própria –o secretariado é formado principalmente por nomes que estavam nas gestões anteriores. No entanto, aliados alegam que Janine é deixado em segundo plano. Desde que assumiu, o ministro teve três audiências com a presidente. O antecessor, que permaneceu pela metade do tempo, foi recebido duas vezes. Dilma, aliás, não se posicionou publicamente sobre estudos do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) na área da educação, o que deixou Janine desconfortável –ele não foi consultado. Mangabeira prepara documento com mudanças no currículo da educação. A construção de uma base nacional comum é um dos pontos do Plano Nacional de Educação, acompanhado pelo MEC. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 COTIDIANO Cunha 'prende' em Brasília aliado de ex-ministro (FF E GU) DE BRASÍLIA Se hoje a rusga do MEC tem como endereço o Palácio do Planalto, na gestão de Cid Gomes (Pros) o incômodo tinha outra origem: o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). O desentendimento teve início quando Cid apontou a presença de "achacadores" no Legislativo. Convocado a se explicar, apontou o dedo para Cunha e disse preferir ser chamado de "mal-educado" a "acusado de achaque", em referência a suposto envolvimento de Cunha em esquema de corrupção. No meio do tiroteio, estava o secretário de Educação do Ceará, Maurício Holanda, aliado de Cid e servidor da Câmara dos Deputados, cedido ao governo do Estado. A autorização para Holanda permanecer afastado de Brasília vencia em março, uma semana depois da troca de acusações que motivou a saída de Cid. Para renová-la, era preciso a assinatura de Cunha. Resultado: Holanda teve que pedir exoneração da função e trocar Fortaleza por Brasília. Por um mês, bateu ponto na capital federal na função de analista legislativo. Congressistas do Ceará foram acionados para convencer Cunha a liberar o servidor por mais um ano. Só no final de abril, a autorização foi, enfim, concedida. Procurados, Cunha e Holanda não comentaram o caso. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 COTIDIANO Pasta afirma que não há 'desentendimentos' O Ministério da Educação nega que haja qualquer divisão na pasta ou desentendimentos com a Casa Civil. O ministro Renato Janine Ribeiro disse à Folha jamais ter reclamado ou feito críticas à atuação de seu colega de Esplanada em conversa com pessoas próximas. "Nunca me queixei do Mercadante, porque não há motivo de desentendimento", afirma. Em nota, o MEC disse que a divisão na pasta "não existe" e que a relação entre os dois ministérios é "sólida". Como exemplo disso, o ministro Janine destaca que foi o próprio Mercadante quem lhe transmitiu a notícia da escolha de seu nome pela presidente Dilma Rousseff para assumir o ministério. NOMEAÇÕES Segundo a pasta, Janine manteve a equipe das gestões anteriores porque "aprecia e confia no trabalho dos secretários, não vendo necessidade de mexer em um time que age corretamente". O MEC informou ainda que, desde que assumiu, ele nomeou dois secretários e três gestores. A pasta faz referência aos titulares da secretaria de Ensino Superior, Jesualdo Farias (exreitor da universidade federal do Ceará) e de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão, Paulo Nacif (ex-reitor da universidade federal do Recôncavo da Bahia). Os gestores são Newton Lima (ex-deputado federal do PT), Paulo Rubem Santiago (ex-deputado federal do PDT) e Carlos Nobre, que assumiu a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) após o comando de 12 anos de Jorge Guimarães. Na nota, o ministro ressalta ainda que escolheu Cezar Alvarez para a chefia de gabinete por "competência". "Ele tem experiência de gestão como ex-secretário executivo do Ministério das Comunicações e conhecimento na área de tecnologia e educação." GREVE Em relação à greve, Janine disse acompanhar diariamente as negociações "que vêm sendo feitas pelos secretários designados a dialogar e a buscar uma solução". Segundo o filósofo, as três audiências oficiais com a presidente Dilma Rousseff se somam ao contato constante que mantém com a petista, como em viagens para participar do Dialoga Brasil. O secretário-executivo Luiz Cláudio Costa negou à reportagem que despache semanalmente com Mercadante. Procurada, a Casa Civil não quis se pronunciar. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 COTIDIANO Em greve, docentes das federais pedem diálogo com Janine DE BRASÍLIA "Reflexão de Hegel: por que não #DialogaJanine!?" O questionamento, em tom irônico, é feito por professores de universidades federais, em greve desde o fim de maio. Nas redes sociais, o principal sindicato da categoria publicou charges de filósofos, a exemplo de Janine, lamentando a falta de interlocução com o titular do MEC. A pauta de reivindicações é debatida, como em anos anteriores, com o Ministério do Planejamento e a Secretaria de Ensino Superior do MEC. Mas os servidores se ressentem de ainda não terem tido um encontro com Janine. "É o primeiro ministro com quem não tivemos reunião", diz Paulo Rizzo, presidente do Andes (sindicado dos docentes das instituições federais). "[Janine] É professor universitário, tinha que ter uma posição mais firme diante dos cortes [de verbas]", afirma. CORREIO BRAZILIENSE 14/09/15 POLÍTICA NAS ENTRELINHAS Nove meses em sete dias Espera-se que, com nove meses de atraso, Dilma Rousseff finalmente aponte o rumo que o governo adotará para tentar atravessar a atual situação por Ivan Iunes [email protected] A presidente Dilma Rousseff inicia a semana pressionada pela necessidade de conseguir, em sete dias, ao menos apontar para as soluções que foi incapaz de fabricar desde o início do segundo mandato, em janeiro. Ao vestir a faixa presidencial para mais um mandato, a petista sabia que, ao menos no princípio da nova gestão, teria de conduzir o governo com um olho no retrovisor. A atenção voltada ao passado seria crucial para ao menos minimizar os erros colecionados entre 2011 e 2014, especialmente no ano eleitoral. A rápida deterioração da economia e a popularidade em queda livre, no entanto, não foram refreados pelo governo. E é por isso que a presidente corre cada vez mais o risco de ser a 12ª chefe de Estado na América do Sul a deixar o cargo antes do previsto, desde 1992. Até aqui, em nove meses, o Palácio, sob a batuta de Dilma, especializou-se em lançar balões de ensaio, mas não colocou em prática nenhuma das ideias testadas na mídia. Só de impostos, foram várias hipóteses cogitadas, indo desde a taxação de fortunas até a ressurreição da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) e o aumento da gasolina. Em termos de cortes, também falou-se muito, e houve até uma redução elogiável nos gastos discricionários do governo. Insuficientes, no entanto, para modificar o esfacelamento da economia. Quando assumiu pela primeira vez o Planalto, há quase cinco anos, Dilma prometeu colocar em prática reformas estruturais, necessárias para que o país seguisse progredindo. Todo o primeiro mandato foi perdido nesse sentido. O que se vê agora é que nenhum corte terá efeito duradouro caso não existam mudanças significativas para corrigir o rombo corrente na Previdência — de longe o maior dos problemas. As reuniões a toque de caixa realizadas no fim de semana pela presidente com vários ministros promete render, durante a semana, uma penca de cortes, incluindo em programas sociais que são o carro-chefe do governo, como Fies, Minha Casa Minha Vida e Ciência sem Fronteiras. O Bolsa Família deve ser preservado por único motivo: uma tesourada no programa significaria assumir o fracasso da nova matriz econômica posta em prática pelo PT a partir de 2003. Espera-se que, com nove meses de atraso, Dilma Rousseff finalmente aponte o rumo que o governo adotará para tentar atravessar a atual situação. Até aqui, tudo o que foi discutido não saiu do ponto da discussão. E, muito por isso, a situação se deteriorou com rapidez alarmante e o tal rebaixamento na nota de crédito pela Standard & Poors foi consumado — depois de ter sido evitado no início do ano. Caso siga a política errática que caracterizou o Planalto versão 2015, a petista corre o risco de entrar para uma estatística nefasta. Desde o afastamento de Fernando Collor de Mello, no Brasil, em 1992, a América do Sul já deteve 11 presidentes apeados do poder antes do tempo. Somente no Equador, 14/09/15 foram três: Abdalá Bucaran (1997), Yamid Mahuad (2000) e Lucio Gutierrez (2005). O Paraguai defenestrou dois: Raúl Cubas (1999) e Fernando Lugo (2012). Assim como a Bolívia, onde deixaram o poder Gonzalo Sánchez de Losada (2003) e Carlos Mesa (2005). O Peru, com Alberto Fujimori (2000); a Venezuela, com Carlos Pérez (1993); e a Argentina, com Fernando de La Rúa (2001) completam a lista. Pedaladas O exagero nas manobras fiscais promovidas pelo governo Dilma Rousseff no ano passado, aliado à falta de aprovação de reformas estruturantes, contribuíram muito para que a economia chegasse em 2015 com um grau preocupante de descontrole. A prática foi seguida em diversos estados, como já acontecera nas últimas eleições, e alguns chegaram à beira da bancarrota, sendo a situação mais grave a do Rio Grande do Sul. A principal constatação que se tem com isso é que, de fato, a Lei de Responsabilidade Fiscal precisa de urgente atualização. Mais do que isso, o Judiciário precisa encontrar soluções para as amarras que a burocracia judicial impõe ao trâmite de processos contra titulares de mandatos eletivos. É inaceitável que um mero processo por improbidade administrativa passe uma década pulando de tribunal em tribunal à mercê das regras do foro privilegiado. CORREIO BRAZILIENSE 14/09/15 OPINIÃO Duas lições proveitosas » PAULO NATHANAEL PEREIRA DE SOUZA Doutor em educação Há dois exemplos internacionais, repetidamente citados entre especialistas da importância da educação, pertinentes a projetos de desenvolvimento socioeconômico: um, o Japão, no século 19; e outro, a Coreia do Sul, no século 20. Ambos vieram de um tradicionalismo retrógrado, que não coadunava os procedimentos com o crescimento urbano e industrial da modernidade. Em curto espaço de tempo, com as mudanças infraestruturais feitas, conseguiram ombrear-se com os padrões de progresso dos países ocidentais do primeiro mundo. Estão, hoje, perfeitamente à vontade na onda de mundialização da economia, que marca a passagem de ambos para o século 21. Sobre o Japão já se falou demais, tanto na literatura econômica quanto na educacional, nos últimos 100 anos. Quanto à Coreia do Sul, nem tanto — razão pela qual vamos dedicar estes comentários à análise da conquista de alguns dos seus atuais índices macro. Para tanto, nos espelhamos em duas obras recentes: Preparando para o século 21, do historiador Paul Kennedy (editora Campos, Rio de Janeiro) e Educação na Coreia (2003-2004), editada pelo Ministério da Educação e dos Recursos Humanos daquela república e divulgada no Brasil pela Univer/cidade, do Rio de Janeiro. É claro que, com estes comentários, não estamos propondo a adoção das mesmas soluções pelo Brasil, com o intuito de obviar os esforços desenvolvimentistas, até porque sempre fomos críticos severos da importação de experiências alienígenas com vistas à implantação de reformas educacionais no Brasil. Cada povo com seu estilo e seus problemas, sobretudo, no que diz respeito às políticas sociais elaboradas pelos respectivos governos. O que se pretende é fixar alguns parâmetros, que possam ser úteis aos polices-makers e educadores brasileiros, nos esforços para tirar o nosso sistema de ensino do pantanal em que se meteu a pátria educadora. Nos anos 1960, todos os índices econômicos e sociais da Coreia do Sul estavam abaixo dos do Brasil e se igualavam aos de Gana. O país, ocupado por décadas pelo expansionismo japonês no Extremo Oriente e castigado pela devastadora guerra contra a vizinha Coreia do Norte, nos anos 1950, encontrou meios para, a partir do armistício de 1953, reunir as forças vivas da nação e iniciar a implantação do projeto, destinado a torná-la, meio século mais tarde, uma das mais prósperas repúblicas do planeta. A respeito disso, Paul Kennedy escreveu, na citada obra, todo um capítulo em que analisa os mais importantes fatores que asseguraram o sucesso dessa política. Destaca ele questões relativas ao planejamento socioeconômico; à opção pela indústria pesada e tecnologia de ponta, com vistas à economia de exportação; à poupança nacional, com regras rigorosíssimas, e aos investimentos governamentais em setores estratégicos, infraestruturais e outros havidos como prioritários; a ênfase à educação, nas duas políticas fundamentais e pétreas, a saber: preferência absoluta pela universalização da educação básica de qualidade, estendida a 100% da população, e formação universitária voltada de preferência para as engenharias, com milhares de estudantes bolsistas enviados aos países do Primeiro Mundo (em 1980, o número de alunos de engenharia que se formavam só nas instituições coreanas era igual à soma do Reino Unido, da Alemanha Ocidental e da Suécia juntos). Para se ter uma ideia dessa quantificação, enquanto que o Brasil forma, neste ano da graça de 2015, pouco mais de 30 mil engenheiros, por lá 14/09/15 formam-se, anualmente, 10 vezes mais. funcionamento dos equipamentos eletroeletrônicos. As conquistas educacionais na Coreia do Sul começam pela educação básica (infantil, fundamental e média) para todos os indivíduos até 18 anos, com qualidade e quase sempre em tempo integral. Conforme relatórios do ministério, incluídos na obra citada, há um Plano Geral de Educação para a Era da Informação, que, desde 2000, vem sendo rigorosamente executado. Ele é destinado a construir a infraestrutura para a educação no século 21. O planejamento está dividido em distribuição de equipamentos para as escolas, por um lado, e formação da rede de computadores, seguida da utilização da Internet, por outro. A atualização tecnológica visa à criação em toda a rede escolar do ambiente que conduza a um ensino que utilize a tecnologia da informação e comunicação efetivamente, bem como o incremento da distribuição de computadores às escolas, grande velocidade de acesso à Internet, adequada ao tamanho do estabelecimento e ao bom Para acelerar o processo modelador da sociedade do conhecimento do século 21, concluiu-se o projeto de apoio ao desenvolvimento e utilização de programas de computador para ensino e conteúdos educacionais de qualidade. O Serviço Coreano de Informação sobre Educação e Pesquisa lidera os trabalhos de desenvolvimento dos materiais educativos em formato multimídia, bem como dá suporte para explicações sobre a tecnologia digital. Ao mesmo tempo, os professores são formados na pesquisa e utilização das novas tecnologias para assuntos curriculares. Os próprios docentes são estimulados a desenvolver e produzir programas educativos de qualidade para computadores, como parte integrante do seu trabalho didático-pedagógico em sala de aula. Outros programas de treinamento incluem o acréscimo de um especialista em informatização por escola, para dar assistência permanente ao uso da rede digital. CORREIO BRAZILIENSE 14/09/15 CIDADES CRISE NO GDF » Pacote deve incluir suspensão de reajuste O adiamento do acréscimo concedido a 32 categorias é uma das possibilidades mais cogitadas entre as medidas a serem anunciadas amanhã. Caso contrário, o governo precisa de R$ 2,2 bilhões para acabar o ano em dia com empregados e fornecedores » MATHEUS TEIXEIRA Rodrigo Rollemberg passou o fim de semana reunido com assessores para definir onde vai cortar gastos Após passar o sábado e o domingo reunido com os auxiliares mais próximos, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) entra em uma das semanas mais importantes dos seus nove meses de administração. O seu staff ainda tem indefinições sobre o pacote de medidas a ser anunciado amanhã. A única certeza do núcleo central do Palácio do Buriti é que somente iniciativas muito duras serão suficientes para sanar a crise financeira e garantir o pagamento em dia dos servidores e fornecedores, até o fim do ano. Como vem antecipando o Correio, estuda-se desde aumento do preço de passagem de ônibus e restaurantes comunitários a demissão de funcionários públicos. Ontem, ganhou força a tese de que a única saída possível é suspender os reajustes salariais — a maioria passa a valer em setembro e deve ser paga no próximo dia 5 (veja quadro abaixo). Isso pode acontecer porque, na leitura de economistas do GDF, não há corte de cargos comissionados suficiente para o Executivo local escapar de extrapolar o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Só uma ampliação muito significativa da receita — leia-se aumento de impostos — permitiria o GDF fechar o ano com os gastos com pessoal dentro do parâmetro permitido pela legislação. Por isso, além de elevar tributos, adiar o pagamento dos aumentos salariais concedidos a 32 categorias é uma das possibilidades mais cogitadas internamente. O GDF calcula que, com isso, economizaria R$ 460 milhões daqui para o fim do ano. Somados a outros reajustes que passaram a vigorar nos meses anteriores, as negociações feitas pela gestão passada elevaram em R$ 855 milhões a previsão de gastos com pessoal de 2015 e em R$ 2 bilhões para 2016. Caso o socialista não postergue os acréscimos nos vencimentos para evitar uma greve geral do funcionalismo, como vêm ameaçando sindicatos, ele precisa de um incremento de R$ R$ 2,2 bilhões a fim de acabar o ano em dia com empregados e fornecedores do GDF. Fora a preocupação com a falta de dinheiro e os prováveis impactos no cotidiano da cidade, encerrar o ano além do limite da LRF pode levar Rollemberg a ter as contas do primeiro ano de governo rejeitadas no Tribunal de Contas do DF. Comissionados Mês passado, o governo já havia anunciado um corte de 20% no número de cargos comissionados. Amanhã, fora os amargos remédios preparados pela equipe econômica, também deve ser oficializada a redução de secretarias. Está em estudo a quantidade ideal de pastas — as atuais 24 pastas devem cair para um número próximo de 15. Setores com assuntos similares devem passar a ter o mesmo chefe. É o caso de Turismo, Esporte e 14/09/15 Cultura. Mulher, Igualdade Racial, Direitos Humano, Crianças, Adolescentes e Jovens podem integrar a supersecretaria de Justiça; Casa Civil e Relações Institucionais podem ser fundidas. Para fazer as mudanças, porém, Rollemberg tem uma complicada equação política a resolver. A simples especulação de que os cortes estão por vir causou um alvoroço nos bastidores. Se as mudanças citadas acima se concretizarem, por exemplo, Marcos Dantas e Jaime Recena poderiam deixar o primeiro escalão do Buriti. Difícil imaginar o chefe do Executivo local abrir mão de dois nomes mais fortes de seu partido, o PSB — eles são presidente e vice-presidente da sigla, respectivamente. 14/09/15 CORREIO BRAZILIENSE 14/09/15 CIDADES Cenário é pessimista Os reajustes a 37 categorias negociados pelo governo Agnelo Queiroz (PT) fizeram da folha de pagamento com pessoal do GDF a grande vilã das contas da administração Rodrigo Rollemberg. Os gastos com o salário dos servidores saltaram de R$ 5,7 bilhões em 2010 para R$ 19,2 bilhões este ano. Na avaliação de integrantes da equipe econômica da atual gestão, a elevação acima da inflação do período tornou os aumentos concedidos pela gestão petista e aprovados pela Câmara Legislativa, insustentáveis. A secretária de Planejamento, Leany Lemos, afirma que o cenário esperado para o fim do ano “não é otimista”. Ela, no entanto, diz que a decisão política do governo é priorizar os vencimentos dos empregados do Estado. “Temos nossa prioridade, mas dependemos do fluxo de entrada de recursos no caixa, e não temos como alterar isso”, explica. Segundo ela, todo mês o GDF retém gastos para dar conta da folha salarial. “Todo dia 25 a Fazenda trava o sistema e não pagamos mais nada. Fazemos um colchão, como chamamos, a fim de guardarmos verba suficiente para depositar na conta dos servidores”, diz. Lemos recorda que houve frustração na arrecadação de tributos este ano, o que dificultou ainda mais a vida de Rollemberg. Ela também cita a crise nacional e o nível de dependência que a economia brasiliense tem do setor público. “A gente sabe que quando contemos gastos a economia gira menos. É um ciclo de recessão. Infelizmente, essa bola caiu no pé do Rollemberg. Cairia no colo do vencedor da eleição, de qualquer um que se elegesse”, diz. Apesar de todos os problemas, a secretária demonstra otimismo: “Acredito firmemente que, com medidas corretas, muita disciplina e algumas medidas impopulares, as coisas vão se resolver no médio prazo.” DESTAKjornal (DF) 14/09/15 BRASÍLIA Valor Econômico 14/09/15 BRASIL Dilma terá que cortar programas sociais Por Ribamar Oliveira | De Brasília Para ampliar o corte nas despesas discricionárias previstas na proposta orçamentária de 2016, a presidente Dilma Rousseff terá que aceitar reduzir as dotações para três programas que lhe são muito caros: o Minha Casa Minha Vida (MCMV), o Bolsa Família e a transposição do rio São Francisco. Segundo fontes do governo, esses foram os programas que tiveram ampliação de despesas em relação ao autorizado para 2015, junto com uma reserva alocada para aumentar os auxílios alimentação e transporte dos servidores públicos, como parte da negociação em torno do reajuste salarial para os próximos dois anos. Mesmo que a presidente aceite cortar todo o acréscimo feito nessas áreas, o governo só conseguiria reduzir cerca de R$ 11,5 bilhões, advertem os técnicos - o que representa menos de 18% do que o governo precisa para cumprir a meta de superávit primário de R$ 43,8 bilhões ou 0,7% do Produto Interno Bruto (PIB) para todo o setor público em 2016. Como a proposta orçamentária da União para 2016 está com um déficit de R$ 30,5 bilhões, o governo precisa fazer um ajuste nas contas equivalente a R$ 64,9 bilhões para garantir um superávit primário de R$ 34,4 bilhões para o governo central (que compreende o Tesouro, a Previdência e o Banco Central). A estimativa é que os Estados e municípios façam um superávit de R$ 9,4 bilhões. O espaço para cortar as despesas discricionárias é considerado muito pequeno pelos técnicos oficiais. Assim, o governo intensificou os estudos para identificar gastos obrigatórios que podem ser reduzidos. Entre as possibilidades levantadas está a adoção de medidas administrativas para evitar fraudes e exageros na concessão do auxílio-doença, propostas para aumentar a fiscalização na concessão de aposentadorias por invalidez, tornar mais restritivas as concessões do seguro ao pescador artesanal (seguro defeso) e alterações nas regras de concessões de benefícios aos idosos e deficientes, no âmbito da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). Muitas dessas mudanças precisarão ser aprovadas pelo Congresso e envolverão uma difícil negociação política. A proposta orçamentária para 2016 prevê que as despesas discricionárias (aquelas que podem ser cortadas pelo governo) atingirão R$ 250,4 bilhões, contra um limite de R$ 233,9 bilhões fixado para este ano - o que representa um aumento nominal de 7% e um aumento real muito pequeno, em torno de 0,8%, o que equivale a R$ 2 bilhões. Em recente entrevista ao Valor, Dilma alertou para o fato de que, do total das despesas discricíonárias, R$ 135,3 bilhões não podem ser contingenciados, pois incluem gastos na área da saúde e da educação, que têm pisos constitucionais de despesa. Sobrariam R$ 115,1 bilhões que podem ser contingenciados. O principal aumento feito pelo governo nas despesas discricionárias foi para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que teve o seu limite de empenho elevado de R$ 35,25 bilhões neste ano para R$ 42,4 bilhões em 2016. O aumento é explicado, quase inteiramente, pelo programa MCMV, que têm previsão de dotação em 2016 de R$ 15,5 bilhões, ante um limite de empenho de R$ 8,3 bilhões fixado para este ano - acréscimo de R$ 7,2 bilhões. Com os recursos, o governo espera pagar todas as operações já contratadas do programa e realizar novas contratações, depois do lançamento da fase 3 do MCVM. 14/09/15 Houve um aumento de R$ 1,2 bilhão para a área de infraestrutura hídrica, principalmente para o programa de transposição do rio São Francisco. O governo tem estudo que aponta risco elevado de desabastecimento de água em Fortaleza em 2016. Por isso, decidiu intensificar as obras da transposição para levar água até o açude Castanhão, que abastece a região metropolitana da capital cearense. Para o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, o governo reservou uma dotação adicional de R$ 1,35 bilhão. A ideia inicial é utilizar esses recursos para reajustar, no ano que vem, os valores dos benefícios do programa Bolsa Família, que foram corroídos pela elevada inflação deste ano. O governo incluiu também na proposta orçamentária de 2016 uma dotação de R$ 1,8 bilhão para aumentar o auxílio alimentação e o vale transporte dos servidores públicos. Esse aumento dos auxílios faz parte da negociação feita em torno do reajuste salarial dos próximos dois anos. A proposta orçamentária prevê ainda uma verba adicional de R$ 792 milhões para a Secretaria de Aviação Civil. O objetivo do governo é usar esses recursos para fazer uma reestruturação da Infraero. O Ministério da Justiça ganhou R$ 300 milhões para garantir a segurança da Olimpíada do Rio. O acréscimo de R$ 400 milhões na dotação para o Ministério das Relações Exteriores foi para compensar a subida do dólar. Os técnicos informam que há espaço para cortes na previsão do gasto com diárias. O governo já anunciou que vai reduzir ministérios e cargos comissionados. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Mesmo em crise, USP é o primeiro lugar no ranking universitário Faculdades particulares ultrapassam escolas públicas em alguns cursos demissão voluntária. O cenário de corte também afeta as instituições federais. faculdade, e facilitam o acompanhamento, pela sociedade, do ensino superior brasileiro. SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO A USP ampliou sua liderança no RUF (Ranking Universitário Folha), a mais ampla avaliação de qualidade de instituições de ensino superior do país, que chega em 2015 à quarta edição. Ainda na graduação, faculdades privadas ultrapassaram grandes universidades públicas em alguns cursos. As 192 universidades do país são avaliadas em cinco aspectos: pesquisa, ensino, inserção no mercado, inovação e internacionalização. Primeira colocada no ranking geral, como nos anos anteriores, a instituição aumentou o número de primeiras colocações nas 40 áreas de graduação consideradas. Foi de 20 (em 2014) para 29. A escola obteve o resultado mesmo após adotar medidas para diminuir o deficit, como suspender contratações e aplicar programa de A FGV-SP obteve o segundo lugar em administração, à frente das federais de Minas e do Rio. O Insper subiu da 36ª para a 8ª posição, na carreira com mais calouros no país. A FGV-SP ficou ainda entre as cinco melhores escolas de economia. A ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing)alcançou o segundo lugar em propaganda; a São Leopoldo Mandic, o 4º em odontologia. Esses e outros dados visam ajudar o estudante a escolher sua Em outra frente, estão classificadas 2.391 instituições, considerando as 40 carreiras com mais calouros. Nesse grupo, a moda entrou no lugar dos cursos de filosofia. Pela primeira vez, os resultados podem ser comparados aos do ano anterior, devido à manutenção da metodologia, que inclui dados oficiais e pesquisas de opinião Datafolha. A inclusão de dados sobre formados e extensão universitária está em estudo e pode ser incluída no forte. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Aprenda a usar os dados para escolher sua universidade Nas tabelas, é preciso comparar as instituições de ensino por grupos SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA Se você se formou na faculdade recentemente, responda rápido: como você elegeu a sua instituição de ensino? Caso sua escolha tenha sido feita às cegas, não se assuste. É isso que acontece com a maioria das pessoas. A escolha de uma profissão ou de uma instituição de ensino podem ser decisivas para toda a carreira. Por isso, quanto mais embasamento, melhor. Desde 2012, o RUF avalia as instituições brasileiras de ensino superior e reúne informações que podem ajudar futuros universitários a escolher sua universidade. Mas é preciso entender os dados. Há dois tipo de classificações diferentes no RUF. O ranking de universidades avalia em cinco quesitos as 192 instituições brasileiras que fazem ensino, pesquisa e extensão –95 privadas e 97 públicas (veja infográfico). Há também os rankings de cursos, que listam universidades, centros universitários e faculdades em cada uma das 40 carreiras de maior demanda no país, como medicina, publicidade e direito. Para analisar todas essas informações é preciso olhar as instituições em grupos. No ranking de universidades, por exemplo, vemos que a USP é a melhor do país. São igualmente boas as escolas que estiverem no mesmo "quadrante" da USP –no grupo das 25 melhores. Há quatro nordestinas "padrão USP": as federais de Pernambuco (10º lugar), do Ceará (11º), da Bahia (15º) e do Rio Grande do Norte (25º). Há, também, duas instituições privadas no grupo da USP: as pontifícias do Rio de Janeiro (19º lugar) e do Rio Grande do Sul (20º lugar). As 95 universidades privadas do país também podem ser analisadas em grupos. No quadrante da melhor privada do país, a PUC-Rio, por exemplo, encontramos uma série de universidades católicas, o Mackenzie (4ª melhor privada) e a Universidade de Caxias do Sul (5ª). Uma universidade melhora de um ano para outro no RUF quando ela muda de quadrante. É o caso da Universidade Estadual da Paraíba, que saiu do 109º lugar em 2014 (3º quadrante) e passou para 93º lugar (2º quadrante), junto com escolas como a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (53º lugar). CURSO POR CURSO Se você já tem ideia da carreira que vai seguir, vale analisar o ranking do seu curso. Algumas instituições podem ser referência em áreas específicas, mas se diluem se comparadas como um "todo". No RUF, vemos o exemplo da federal de Viçosa: é a melhor do país no curso de agronomia, mas vai para 16º lugar no ranking de universidades. Situação semelhante acontece na PUC-SP: a universidade tem o 3º melhor curso de direito no RUF, só perdendo para a USP e para a federal de Minas Gerais. Já no ranking geral de universidades, a PUC-SP vai para 53º lugar. E se você tiver paciência, vá além: no site do RUF você consegue pesquisar a cidade de cada instituição e pode conferir informações detalhadas, como o número de alunos de cada universidade. Essa informação é importante. Há estudos sobre evasão escolar que mostram que há estudantes que não se dão bem em universidades muito grandes; outros não conseguem se manter estudando muito longe de casa. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Verba curta prejudica até as melhores escolas do país Saem construções e contratações, entram congelamentos e greves manutenção e 47% da de investimento (construções e modernizações da estrutura). COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO Até 2013, as universidades brasileiras falavam em construir e contratar. Em 2015, os termos desapareceram do ensino superior e foram substituídos por corte e greves. As federais de Minas e do Rio tiveram dificuldades até de pagar a conta de luz. O desaquecimento da economia fez com que as melhores universidades do país segundo RUF recebessem menos recursos do que o esperado. Por serem públicas, elas dependem do repasse dos Estados ou da União. Nas escolas paulistas (USP, Unesp e Unicamp), a verba transferida pelo governo estadual ficou 10% menor do que o previsto (até junho). Contratações de professores estão suspensas e há corte na verba para manutenção. Na USP, um plano de demissão voluntária de técnicos no começo deste ano levou a redução de cerca de 5% na folha de pagamento. Nas instituições federais, decreto presidencial de junho congelou 10% da verba de Greve iniciada há três meses atinge as 41 universidades federais que responderam à reportagem (em algumas, docentes estão parados; em outras, técnicos). Em 17 escolas, o primeiro semestre letivo ainda não acabou. Há reivindicação de reajuste salarial, via revisão da carreira, mas também por melhoria nas condição de trabalho. QUAL O EFEITO? Dirigentes universitários e pesquisadores entrevistados pela Folha dizem que a situação orçamentária atrapalha a vida das instituições no curto prazo, mas ainda não têm potencial para causar queda na qualidade do ensino e da pesquisa no médio prazo. Essa queda só ocorrerá se as restrições se prolongarem por alguns anos, afirmam. "Recursos humanos são a base para qualquer ambiente de ensino e pesquisa. E nosso pessoal segue bem qualificado, com doutorado", diz o secretário-executivo da Andifes (entidade que representa os reitores das federais), Gustavo Balduíno. Ex-presidente do CNPq (órgão federal de fomento à pesquisa), Glaucius Oliva lembra que, antes do corte orçamentário, as universidades viveram fase de compra de equipamentos e reforma de laboratórios. "Precisamos nos adaptar e otimizar esses recursos nos próximos anos." O reitor da USP, Marco Antonio Zago, afirma que as medidas de contenção de despesas foram escolhidas "para não comprometerem as atividades-fim da universidade". Os cortes na escola começaram ano passado, antes das demais, devido ao crescimento do gasto com folha de pagamento. À época, chegou a consumir 106% do que a escola recebe do governo. "Tomamos medidas que tomaríamos em casa", afirmou a vice-reitora da Unesp, Marilza Vieira Cunha Rudge. "Estamos apagando a luz, reduzindo o uso de água. No prédio da reitoria, colocamos borrachinha nas torneiras [para economizar água]." 14/09/15 EXEMPLOS DA CRISE Para a representante da Unesp, "é no momento de crise que as pessoas têm mais ideias interessantes". Ela cita como exemplo a diminuição de gastos com viagens. Videoconferências passaram as ser usadas em reuniões e até em bancas de doutorados. (SABINE RIGHETTI, FÁBIO TAKAHASHI, CLÁUDIO GOLDBERG RABIN E WALTER PORTO) - UFRJ Universidade Federal do Rio de JaneiroParalisação durou três meses, teve participação de alunos e terminou em agosto. O 1º semestre não acabou em alguns cursos UFERSA Universidade Federal Rural do SemiáridoGreve teve início em maio e atinge 100% dos cursos de graduação. As aulas do 1º semestre ainda não foram concluídas USP Universidade de São PauloPrograma de demissão voluntária para técnicos cortou 1.400 funcionários no começo deste ano; grandes obras estão suspensas UFSC Universidade Federal de Santa CatarinaFuncionários parados desde junho. Aulas foram mantidas, mas biblioteca e restaurante universitário estão prejudicados UFG Universidade Federal de GoiásGreve começou com paralisação dos funcionários, em maio; docentes aderiram ao movimento em agosto FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Unifesp tem pior queda entre primeiras da lista Em fase de expansão, universidade perde 12 posições e informa que prioridade, agora, é consolidar cursos novos DHIEGO MAIA DE SÃO PAULO A Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) foi a instituição que mais perdeu posições entre as 25 melhores nesta edição do RUF. Do 12º lugar, em 2014, caiu para 22º no ranking deste ano (com 192 universidades). A maior queda ocorreu na avaliação do mercado de trabalho, que é baseada em pesquisa com empregadores. A escola foi da 52ª para a 102ª colocação, o que mostra que a Unifesp não tem sido lembrada pelo mercado. Mas há uma ponderação: a universidade é a única entre as melhores com menos de 10 mil alunos. Nesse indicador, o tamanho importa, pois quanto mais pessoas forma, maior é a relevância da instituição para as empresas. A universidade também sofreu retração em outros dois aspectos: pesquisa (um posto) e inovação (nove). Em ensino (14ª) e internacionalização (10ª), ela se manteve. Nos últimos quatro anos, a Unifesp, até então conhecida por cursos da área da saúde, fez a maior expansão de sua história. Criou seis campi e o número de cursos saltou de 20 para 51, incluindo administração e engenharia. Se, por um lado, a escola passou a atender mais estudantes, por outro enfrenta problemas estruturais. As greves de alunos pedindo melhores condições de ensino são uma evidência disso. "Ela pagou preço por ter crescido sem planejamento", afirma Antonio Carlos Lopes, exdiretor da Escola Paulista de Medicina, unidade mais tradicional da Unifesp. Lopes cita como exemplos os campi de Osasco e Guarulhos, que funcionam em prédios alugados e ainda não tiveram suas obras concluídas. Mayra Guanaes, 25, cursa letras, em Guarulhos. Ela reclama que a biblioteca da unidade tem número insuficiente de livros. "Demoro muito para fazer as pesquisas." Uma aluna de 23 anos que está no último ano de medicina (e pede anonimato) afirma que há professores que preferem pesquisar e colocam pósgraduandos e técnicos para darem aulas. A pró-reitora de graduação da Unifesp, Maria Angélica Pedra Minhoto, reconhece os problemas provocados "pela rápida expansão". Mas, segundo ela, a universidade se planejou para dar conta desse crescimento, ao contratar mais professores. "Cerca de 95% dos docentes têm doutorado, quadro difícil de ser visto nas demais federais", afirma. Minhoto diz ainda que a prioridade, agora, é "fortalecer os cursos existentes, colocando em operação as obras dos novos campi." FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Escolas temem que o novo teto salarial provoque êxodo de cérebros Decisão do Supremo obriga corte em salário de professores experientes REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE SÃO CARLOS (SP) USP, Unesp e Unicamp vivem momentos de tensão. O salário de parte dos professores deve ser cortado nos próximos meses, depois de o Supremo Tribunal Federal deixar clara a aplicação do teto salarial para o funcionalismo. Até então, havia dúvidas do que considerar no salário do servidor para o cálculo desse limite salarial. A remuneração de um funcionário estadual não pode ultrapassar vencimentos do governador: Geraldo Alckmin (PSDB) ganha R$ 21,6 mil. No entendimento das universidades, os benefícios conquistados antes de 2003 não deveriam ser considerados nos salários dos servidores para o cálculo do teto. O Supremo, porém, contrariou esse entendimento. Disse que tudo deve ser computado. Assim, só na USP, cerca de 7% dos servidores devem passar a ganhar menos devido à decisão. Em geral, são os mais experientes da escola. As universidades, que aguardam os últimos trâmites legais para iniciar os cortes na folha de pagamento, dizem que podem perder parte dos melhores professores. Em artigo publicado mês passado na Folha, chamado "O Começo do Fim", o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, disse que há grande risco de haver migração de docentes para as federais, onde o teto é maior (R$ 34 mil). Para os servidores federais, o limite considera o salário de ministro do Supremo. DÚVIDA Dados levantados pela reportagem, porém, relativizaram a possibilidade de migração docente para federais. A Folha analisou o caso emblemático dos campi em São Carlos (interior de SP), um da USP e outro de uma federal, a UFSCar. Usando dados públicos do governo federal e da USP, a reportagem comparou os salários brutos de todos os professores do Instituto de Física de São Carlos, da USP, e dos docentes do departamento de física da UFSCar. Não há grande diferença entre as médias salariais. A maioria recebe entre R$ 11 mil e R$ 15 mil mensais. Nenhum dos 48 membros do departamento da federal chega a receber o teto do funcionalismo paulista. Comparando dois pesquisadores com tempo parecido de carreira, categoria similar (professor associado) e a mesma área geral de pesquisa (nanotecnologia) das duas instituições, a USP se sai melhor novamente: paga R$ 17 mil ao seu docente, contra R$ 15 mil no caso da UFSCar. Entre os docentes titulares (máximo da categoria), na UFSCar os salários variam entre R$ 17 mil e R$ 19 mil. Na USP, entre R$ 14 mil e R$ 30 mil (esses últimos são os que serão afetados pelo corte). O físico Fernando Fernandes Paiva, professor do instituto da USP desde 2012, diz que a discussão sobre as possíveis vantagens das instituições federais é controversa. "Pouca gente vai priorizar um número lá no fim da carreira para decidir se vai prestar concurso numa federal." Um ponto importante, para Paiva, é a infraestrutura oferecida e o ambiente de pesquisa em cada instituição. "Quando você se estabelece, ganha seu espaço e cria infraestrutura para fazer suas pesquisas, é quase loucura abrir mão disso por conta de um teto que pode ou não vir no fim da carreira", afirmou. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Estudante típico das 10 melhores está distante da média brasileira Maioria dos alunos é branca e oriunda de escolas particulares WALTER PORTO COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O aluno típico das melhores universidades é branco, de classe média e fez o ensino médio na rede privada. A informação vem da compilação dos dados socioeconômicos dos calouros de 7 das 10 universidades mais bem colocadas no RUF 2015. Todas foram procuradas pela Folha. Apenas as federais do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Pernambuco não repassaram as informações sobre os estudantes. O perfil dos alunos nessas instituições de ponta destoa do perfil da população brasileira. Nas melhores universidades, 27% dos alunos são pretos ou pardos. A média da população é de 51%, segundo o Censo do IBGE (2010). Pouco mais de 40% dos estudantes vieram do ensino médio público, rede que atende a 87% dos alunos do país. Apenas na Universidade Federal do Paraná há predominância de calouros vindos da rede pública: são 58% do total. A escola reserva 40% dos postos para esse público, por sistema de cotas. O recorte econômico mostra que a renda familiar mais frequente entre os estudantes é de dois a dez salários mínimos, faixa o que os coloca, segundo critérios do Centro de Políticas Sociais da FGV-SP, próximos à classe C. Pesquisa Datafolha de 2013 mostrou que 66% das famílias brasileiras ganham até três salários mínimos. A taxa de alunos na faixa de renda mais baixa das dez melhores universidades alcança 15%. Coordenador do grupo de estudos sobre ensino superior na Unicamp, o professor Renato Pedrosa afirma que a desigualdade no sistema de ensino começa ainda na educação básica. "Terminar o ensino médio já é um filtro. O ensino superior acumula essa exclusão." AS PRIMEIRAS RANKING UNIVERSIDADES 1 USP DO DE 2 UFRJ 3 UFMG 4 Unicamp 5 UFRGS 6Unesp 7 UFSC 8 UFPR 9 UnB 10UFPE É BRANCO Maioria declara ser da cor branca em todas as universidades, exceto na UFMG, em que são 47%; só na UnB a taxa de pretos alcança 10% CLASSE C Todas as universidades têm maioria de estudantes na faixa de renda de 2 a 10 salários mínimos; a UnB tem 20% de alunos com mais de 20 salários mínimos, e a USP tem 13%. ESTUDOU EM ESCOLA PAGA Egressos de escola particular predominam em todas as instituições, menos na federal do Paraná; na USP e na Unicamp, são 66% É HOMEM Dentro das dez melhores, os homens são 54%, contra 49% na média nacional FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Instituições estão investindo em professores com doutorado Escolas em Santarém (PA) e no Cariri (CE) são as que mais avançaram na formação do seu corpo docente CLÁUDIO GOLDBERG RABIN GIULIANA MIRANDA DE SÃO PAULO Universidades de todo o país têm contratado mais professores com doutorado: desde a primeira edição do RUF, em 2012, até esta, a participação de doutores no total aumentou de 43% para 48%. O percentual de professores com doutorado e mestrado no quadro docente da instituição é um dos indicadores contabilizados no ranking. Nesta edição de 2015, universidades que melhoraram significativamente a formação de seus professores também avançaram na classificação geral do ranking. A Ufopa (Universidade Federal do Oeste do Pará), em Santarém, foi uma das que mais subiu no quesito sobre formação de professores, saltando 54 posições. No ranking geral, a escola subiu da 167ª para a 134ª posição. lembra que uma causa da melhoria na qualificação de professores é o aumento da fiscalização, pelo Ministério da Educação, da lei que obriga a universidade a ter um terço do corpo docente com mestrado ou doutorado. A reitora da Ufopa, Raimunda Monteiro, diz que tem sido fundamental a parceria com outras instituições, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), por exemplo, para a formação de seus professores. O maior rigor começou em 2006. "Professores que não tinham o título passaram a exercer outras funções na universidade", diz César. Ao mesmo tempo, novos docentes já chegam bem formados. No critério do perfil de professores, a Universidade Regional do Cariri, no Ceará, foi a segunda que mais avançou. O reitor, José Patrício Pereira Melo, afirma que os concursos públicos realizados buscam filtrar pelos títulos os futuros docentes. FISCALIZAÇÃO Lácio César, que comanda a Universidade Santa Úrsula, no Rio, A Unoeste (Universidade do Oeste Paulista), de Presidente Prudente, informa que oferece subsídios para cursos e horário de trabalho flexível aos professores que decidem investir na sua formação. Já na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, o plano de carreira docente é atrelado à titulação do profissional, e não apenas ao seu tempo de trabalho. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL ANÁLISE Artigo científico 'blockbuster' catapulta notas de universidades Trabalho com mais de 900 autores fez escolas mineiras subirem no ranking SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO Um único artigo científico catapultou as universidades federais mineiras de São João del Rei e de Juiz de Fora para primeiras posições em quesitos do RUF que avaliam a qualidade da pesquisa acadêmica nas instituições de ensino. Em expediente controverso na ciência mundial, o trabalho –um estudo na área de física publicado no periódico "Physics Letters B" em 2012– foi assinado por mais de 900 pesquisadores, de vários países –incluindo o Brasil. O trabalho foi um dos que retratou a observação da partícula bóson Higgs, considerada uma das descobertas do século e que ajuda a entender formação do universo. Para se ter uma ideia do que significam 900 autores, o "Physics Letters B" teve uma média de três autores por artigo em 2012. Há estudos recentes com a assinatura de mais de 5 mil nomes. Dentre as mais de 900 assinaturas no estudo, onze são de pesquisadores brasileiros, da USP, UFRJ (federal do Rio) e das duas federais mineiras. A experiência ocorreu no maior acelerador de partículas do mundo, na Suíça. A controvérsia ocorre porque há pesquisadores num trabalho assim que têm papel lateral na descoberta, mas recebem praticamente o mesmo crédito que os líderes. Um desses louros é a citação do artigo em outros trabalhos acadêmicos, uma das principais formas de medir o impacto de uma pesquisa. A quantidade de citações é considerada no RUF para avaliar as universidades. No quesito que mede especificamente o número de citações por docente, por exemplo, a federal de São João del Rei subiu do 32º lugar em 2014 para o 1º lugar no país. Já a de Juiz de Fora foi de 44º lugar para o 4º posto no mesmo quesito. Isso aconteceu porque o artigo sobre o bóson de Higgs é uma espécie de "blockbuster": foi citado 1.039 vezes somente em novos estudos publicados somente em 2013. Em universidades como a USP ou a UFRJ, que publicam muitos estudos por ano, as citações recebidas em cada artigo ficam diluídas. Já em São João del Rei, de menor porte (que tem quase um quarto do tamanho da USP), o estudo foi suficiente para, sozinho, dobrar a quantidade de citações recebidas pela escola em 2013. O levantamento dos dados de impacto foi feito pelo pesquisador em ciência da informação Estêvão Gamba, consultor do RUF. ALTA ENERGIA A física Maria Aline Barros do Vale está entre os brasileiros que assinam o estudo –figura sozinha na federal de São João del Rei. Com doutorado pela UFRJ, ela inaugurou, em 2002, a área de estudos em física de altas energias na escola mineira. Hoje, coordena 14/09/15 a pós-graduação em física na universidade de Minas. Do Vale conta que já esteve no acelerado de partículas na Suíça algumas vezes –nos tempos em que o dinheiro para viagens internacionais científicas era mais farto. A participação dela no estudo publicado foi mais focada em física teórica –do Vale pesquisa outra partícula, ainda não observada, o bóson de gauge. "Cada pesquisador presta um serviço diferente", diz. "Há cientista, por exemplo, que ajuda a desenvolver um software que analisa os dados coletados pelo acelerador." Para George Matsas, do Instituto de Física Teórica da Unesp, investimentos bilionários como do acelerador de partículas gigante exigem milhares de pessoas. "Mas estamos surfando em onda que não é nossa. Esses estudos não são liderados por brasileiros", diz Matsas. O físico Leandro Tessler, da Unicamp, concorda: "Uma coisa é colaborar como uma via de duas mãos, em que há interesse mútuo na cooperação. Outra é o que vem ocorrendo com muitas instituições brasileiras, em que você manda especialistas, paga a conta e acha que avançou." "A distorção [no impacto das universidades por causa desse artigo] não deve ser usada para desvalorizar participação de cientistas do Brasil", afirma Carlos Henrique de Brito Cruz, diretorcientífico da Fapesp (agência paulista de fomento à ciência). Dados de impacto, no entanto, devem ser analisados com cautela para "filtrar efeitos espúrios", diz Cruz. Para do Vale, o trabalho tem rendido frutos. Segundo ela, graças à sua participação no estudo, um dos seus ex-alunos de mestrado conseguiu uma oportunidade para desenvolver parte da sua pesquisa de doutorado no acelerador da Suíça. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL ANÁLISE Universidade Precisa ser livre para poder abrir mão da pesquisa HÉLIO SCHWARTSMAN COLUNISTA DA FOLHA "Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa", diz a sabedoria popular. E, frequentemente, quando tentamos transformar o um em outro sem que as condições estejam dadas, acabamos produzindo confusões, quando não criamos quimeras. Com o ensino superior não é diferente. O artigo 207 da Constituição reza: "As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão". Temos aqui várias ficções constitucionais, mas é na última delas que eu gostaria de me concentrar. O que quer dizer indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão? Para simplificar um pouco, tiremos a extensão dessa equação –é forçoso reconhecer que essa é uma atividade lateral na universidade. Isso nos deixa com ensino e pesquisa. Eles devem ser mesmo tratados como indissociáveis? O consenso dizia que as duas atividades são tão complementares e sinérgicas que é justamente sua confluência num único espaço o que diferencia universidades de outras instituições educacionais ou científicas. Professores que pesquisam, diz o raciocínio, tendem a estar na vanguarda de suas áreas e conseguem passar antes e com muito mais entusiasmo o resultado de suas experiências aos estudantes. Parece bom mesmo. Mas esse efeito é real? Herbert W. Marsh (hoje em Oxford) e John Hattie (Universidade de Melbourne), em artigo de 2002, mostram que as coisas podem ser complicadas. As tentativas de medir o fenômeno resultaram num quadro ambíguo, com algumas revisões sistemáticas. Em geral, o vínculo virtuoso entre pesquisa e ensino não apareceu de forma robusta. Apareceu um pouco mais forte nas humanidades e nas ciências sociais, mas não nas ciências naturais. Marsh e Hattie levantam uma série de argumentos racionais que já apareceram na literatura para sustentar que a relação entre pesquisa e ensino é neutra ou mesmo antagônica (a personalidade ideal do bom professor é diferente da do bom pesquisador). Embora a questão ainda não esteja decidida, parece relativamente seguro afirmar que a indissociabilidade entre pesquisa e ensino não é o Santo Graal da vida universitária como se pensava. Assim, a exigência constitucional soa mais como extemporaneidade. À época que a Carta foi aprovada, não havia razão para duvidar de que o mantra da inseparabilidade não estivesse certo. Hoje, porém, o marco legal funciona mais como uma trava do que como incentivo. Instituições com muita vocação para o ensino e nenhuma para a ciência básica precisam fingir que fazem pesquisa para se adequarem às regras. E não fingem muito bem. Os dados brutos do RUF mostram que apenas 10% das universidades brasileiras publicam mais de um trabalho por docente a cada dois anos. A engambelação tem custo. Ela desvia recursos, pessoal e energias para algo que não está no seu DNA. Parece mais racional desburocratizar exigências, deixando que cada instituição encontre o caminho que mais lhe convém. O Brasil precisa melhorar tanto seu ensino superior como sua pesquisa. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Sudeste perde participação no total investido em pesquisa Sul foi a região que mais aumentou os gastos em ciência de 2012 a 2015 SABINE RIGHETTI COLABORAÇÃO PARA A FOLHA A fatia da região Sudeste no bolo de dinheiro investido em ciência no país diminui desde a primeira edição do RUF, publicada em 2012. A participação do Sudeste no total arrecadado para atividades científicas caiu de 65% (na edição de 2012 do RUF, com dados de 2010) para 59% (nesta edição de 2015, dados de 2013). A quantidade de dinheiro que cada universidade consegue para suas pesquisas é um dos indicadores do RUF que medem a atividade acadêmica das instituições. Esses dados são coletados nas agências de fomento federais à ciência –como a Capes (com foco na pós-graduação) e CNPq (que prioriza a pesquisa)– e nas fundações estaduais de amparo à pesquisa. O maior crescimento proporcional de recursos para pesquisa foi na região Sul. recursos para universidades de regiões em desenvolvimento. No RUF 2012, as 46 universidades da região tinham 14% do bolo financeiro. Nesta edição de 2015, a fatia aumentou para 18% do total. Desde 2001, Norte, Nordeste e Centro-Oeste recebem obrigatoriamente 30% dos recursos federais para ciência. Juntos, Norte, Nordeste e Centro-Oeste subiram de 21% do total arrecadado pelas universidades para 23%. Para a economista Maria Beatriz Bonacelli, do departamento de política científica e tecnológica da Unicamp, a mudança na distribuição dos recursos para ciência pode estar relacionada à criação e a consolidação de universidades federais pelo país. Fato: dez das 14 universidades federais criadas nos últimos dez anos estão no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "Isso pode explicar a queda de recursos do Sudeste." Glaucius Oliva, que presidiu o CNPq de 2011 a 2015, afirma que a mudança na distribuição do dinheiro pode, também, ser resultado de uma política antiga que estabeleceu cota mínima de "No começo, era preciso fazer um certo esforço para atingir a meta, porque alguns projetos das regiões em desenvolvimento não eram tão competitivos", afirma. Com mais dinheiro, os grupos de pesquisa dessas regiões se fortaleceram. "Mais recentemente, alguns editais [chamadas de financiamento para projetos de pesquisa] chegaram a ter mais de 30% para as regiões em desenvolvimento", diz. Hoje, de acordo com Oliva, há grupos de pesquisa nordestinos que competem em igualdade com as universidades paulistas –caso da área de física da Universidade Federal de Pernambuco. "Agora, é importante dar um passo além, e analisar também as desigualdades inter-regionais", afirma ele. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Moda derruba filosofia entre as graduações mais procuradas Carreira entra na avaliação do ranking, que considera os 40 com mais calouros PEDRO DINIZ ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA Entre a primeira citação em aula de desenho industrial na hoje Uerj (estadual do Rio), em 1962, até a marca atual de quase 150 cursos cadastrados pelo MEC (Ministério da Educação), a moda conseguiu romper preconceitos e a carência de profissionais. Essa trajetória fez com que a área fosse, pela primeira vez, analisada no RUF. O ranking analisa 40 áreas com mais ingressantes em cada ano. Em 2013, referência para esta edição, moda passou filosofia nesse quesito. A demanda por profissionais de moda é o principal fator, segundo os professores ouvidos pela reportagem, para a procura por graduações e cursos tecnológicos da área. A indústria do vestuário no Brasil já representa cerca de 10% do PIB industrial. Coordenador do bacharelado em filosofia da USP, Homero Santiago entende que a entrada de moda e a saída de filosofia do grupo de mais procuradas ocorre mais pela consolidação da primeira. Segundo ele, o ápice da procura por filosofia ocorreu há alguns anos, quando a matéria passou a ser obrigatória no ensino médio. "Já moda, como carreira relativamente nova, está se firmando." AS MELHORES A lista das escolas mais bem colocadas em moda inclui nomes tradicionais do ensino da costura, como a paulistana Faculdade Santa Marcelina (4ª), e surpresas, como Uniasselvi (15ª), em Brusque (SC), e a Universidade Federal do Ceará (2ª). Elas estão situadas em importantes polos têxteis e, em geral, inauguraram cursos a pedido do empresariado. É o caso do curso da Universidade Estadual de Londrina (PR), implantado em 1997 e terceiro colocado no RUF. "Reconhecemos as demandas locais para adaptar o currículo", diz a professora Patrícia de Mello Souza. Ela integrou a comissão do MEC que avaliava cursos com foco no vestuário. Em 2006, a pasta definiu que a espinha dorsal dessas graduações fosse o design. POLÊMICA A decisão causa controvérsia. Ao incluir moda no escopo do design –e não separados– grades curriculares e cargas horárias de cada disciplina ficaram muito heterogêneas entre as escolas. "Moda é design, é um produto e deve ser tratado como tal na academia", defende Souza, exmembro da comissão do MEC. Para Eloize Navalon, coordenadora do curso de design de moda da Universidade Anhembi Morumbi (primeiro no RUF), a inexistência de denominação clara impossibilita a "criação de diretrizes claras para a grade do curso". "Há cursos que combinam marketing com design. Isso causa confusão nos alunos e desvia o bacharelado da função de aprofundar o conhecimento em cada área", diz. 14/09/15 Hoje, mestrandos e doutorandos têm de guiar suas linhas de pesquisa em moda dentro de outras áreas, como design e comunicação. Para a diretora da Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Moda, Katia Castilho, o interesse pela produção científica de moda no país tem crescido, mas ainda enfrenta resistências. "Há muita procura por cursos técnicos de vestuário. Os alunos deixam de pensar moda, porque para muitos é mais bacana fazer desfile do que pesquisa", diz. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL Curso para estilista no Ceará vai de 'puxadinho' a vice-campeão (PD) ENVIADO ESPECIAL A FORTALEZA Sentados no laboratório de desenho da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, os alunos do bacharelado em design de moda da instituição, com idades entre 18 e 24 anos, falavam à Folha sobe as agruras de estudar no segundo melhor curso de moda do país, segundo o RUF. "Muitos alunos de outros departamentos acham que é um curso de patricinha. Ainda há preconceito", diz a estudante Jennifer Mello, 19. "Temos sempre de mostrar às pessoas que não vivemos numa bolha", afirma Deyvison Freitas, 20. Apesar dos desabafos, já houve tempos piores. A graduação começou em 1993 com uma estrutura de puxadinho no departamento de economia doméstica. Agora, com 305 alunos matriculados, abocanhou boa parte dos R$ 15 milhões destinados a nova reforma do Instituto de Cultura e Arte da UFC, onde está instalado. "Hoje somos protagonistas do ensino de moda no Ceará, mas no começo nenhum departamento queria abrir as portas para o curso. Foi um processo de identificar as demandas de alunos e adaptá-las à estrutura disponível", diz o vicereitor da universidade, Custódio de Almeida. "Agora o curso tem um dos corpos docentes mais estabilizados", afirma. Quase todos os professores são ex-alunos do curso, o primeiro de moda do Estado, que fizeram mestrado e doutorado fora do país. O curso de design de moda da universidade, enviou neste ano 16 bolsistas para o exterior através do programa Ciência Sem Fronteiras. Apoiados por uma indústria confeccionista pujante, os alunos, como na maioria dos cursos de moda no país, sonham em ser estilistas. "Percebemos que é importante olhar para fora. O mercado é enorme aqui, ainda que existam muitas confecções de fundo de quintal, e no curso você vai descobrindo que o campo de atuação não se resume à criação de roupas", diz a bolsista Kaline Pereira, 23. Modelista e designer de estampas estão entre as carreiras possíveis para quem estuda moda. FOLHA DE SÃO PAULO 14/09/15 ESPECIAL ANÁLISE A escola particular se fortalece, mas pública agoniza ROGÉRIO MENEGHINI ESTÊVÃO GAMBA ESPECIAL PARA A FOLHA A atual crise universitária nos faz considerar o que, dos resultados do RUF, podemos prever para o futuro próximo. O RUF deste ano ranqueou 192 universidades: 95 privadas e 97 públicas. A primeira consideração tem a ver com os recursos captados para pesquisa junto a agências de fomento federais (CNPq e Capes) e fundações de amparo à pesquisa estaduais (FAPs). No ranking deste ano, que tem como base os dados de 2013, vimos que as universidades arrecadaram mais de R$ 4 bilhões para pesquisa. Desse total, 8,1% couberam às particulares. Parece pouco, mas é importante destacar que, desde a primeira edição do RUF, em 2012, com dados de 2010, o total arrecadado para pesquisa por essas universidades cresceu 92%, ante 42% nas públicas. Do total de publicações científicas, 8,3% cabem às universidades privadas, sendo que 30 delas são responsáveis por 71% dos trabalhos acadêmicos contabilizados nesta edição do RUF (ou 7.466 artigos científicos). Não resta dúvida de que tem havido aumento significativo na performance das particulares. Já o prestígio das instituições públicas não pode ser generalizado: apenas uma elite de cerca de 20 delas se destaca com ao menos uma publicação por docente no período de dois anos. Grande parte das demais são universidades criadas nos anos mais recentes e atuam de forma precária, do ponto de vista de condições materiais e de qualificação do corpo docente. Nos tempos mais recentes a qualificação das públicas tende a se deteriorar, com greves prolongadas e fragilidade financeira. É muito provável que estejamos caminhando para situação similar àquela que nos anos 1960-1970 ocorreu com os colégios públicos, que passaram de escolas de elite a instituições pobres estruturalmente e desprovidas de corpo docente qualificado. Nos próximos anos, é provável que as famílias de classe média e alta procurem universidades ou outras instituições de curso superior com corpo docente bem qualificados e bem pago e infraestruturas de qualidade. É ainda provável que a maioria destas instituições seja privada. A partir dos resultados do ranking é de se esperar que algumas destas instituições procurem ter parte do corpo docente que se dedica à pesquisa (os recursos são públicos e essa atividade pode trazer prestígio à instituição). Outras vão se dedicar apenas ao ensino, buscando um corpo docente de qualidade. Universidade sem pesquisa científica seria criação brasileira, já que não existe em nenhum outro lugar. O MEC, por sua vez, teria que desqualificá-las como tais ou criar nova nomenclatura, como a de "universidade de ensino". O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15 NOTAS & INFORMAÇÕES Dilma, pedalada e eleição Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o procurador do Ministério Público no Tribunal de Contas da União (TCU), Julio Marcelo de Oliveira, relatou que a presidente Dilma Rousseff usou “pedaladas fiscais” para ter vantagem na reeleição de 2014. Ele e outros técnicos foram ao Senado justificar a decisão do TCU de não aprovar as contas e pedir explicações ao governo por atos que, no período eleitoral, violaram a Lei de Responsabilidade Fiscal, que “estabelece normas de finanças públicas voltadas para a responsabilidade na gestão fiscal”. O procurador observou que a lei proíbe gastos públicos feitos em ano de eleições sem a sua correspondente cobertura orçamentária, porque um de seus objetivos é acabar com a “farra” do uso do erário, que, antes de sua vigência, ocorria no período causando grandes danos à sociedade. Na análise das contas do governo federal no ano da reeleição de Dilma, os técnicos constataram dolo, conforme o procurador. Para ele, a culpa da presidente “grita nos autos” ante a constatação de que até agosto de 2014 seu governo aumentou despesas e garantiu que faria um superávit fiscal de R$ 80 bilhões. Somente depois das eleições, com os votos contados e a vitória assegurada, o eleitor foi informado de que, na verdade, havia um déficit previsto de R$ 20 bilhões. “Essa mudança de panorama de agosto para outubro, na opinião do Ministério Público, caracteriza um dolo evidente de manifestar uma situação fiscal irreal no período pré-eleitoral e só trazer a realidade após o período eleitoral”, ele afirmou. Oliveira disse, ainda, que “o governo deixou livres para execução despesas não obrigatórias, que teria de cortar (devido à queda na arrecadação). O que ocorre em 2014 é que o governo federal aumenta programas não obrigatórios que têm forte impacto eleitoral”. A essa informação, o procurador do TCU acrescentou fatos comprovados por números. Ele contou que foi aumentado demais o custo do programa chamado Fundo de Investimento Estudantil (Fies), por meio do qual o governo financia estudantes regularmente matriculados em cursos superiores presenciais não gratuitos e com avaliação positiva nos processos conduzidos pelo Ministério da Educação (MEC). O desembolso que anteriormente era de R$ 5 bilhões por ano passou a ser de R$ 12 bilhões no ano em que a eleição foi disputada. De acordo com técnicos do TCU, isso só foi possível com o recurso às “pedaladas”, truque que consiste em não cobrir recursos sacados de bancos oficiais para pagar despesas não previstas. E isso também é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Em nome de seus colegas técnicos, o procurador também relatou aos senadores presentes à sessão da CAE que o governo sabia desde o começo do ano que não teria recursos suficientes para financiar seus programas e deixou para fazer os cortes necessários das despesas depois das eleições. “Até agosto, o governo não se comportou de maneira coerente com a realidade. Viveu uma fantasia. Após a eleição, veio a realidade”, disse ele. Na sessão, o procurador contestou a argumentação governista, apresentada pelo senador Fernando Bezerra (PSB-PE), de que o uso de bancos públicos para pagar despesas é prática antiga. Segundo Oliveira, nunca antes governo algum deixou de cobrir diariamente saldos com bancos públicos por um ano inteiro, como aconteceu em 2014. E o líder do governo na Casa, José Pimentel (PT-CE), alegou que irregularidades idênticas cometidas em 2012 e 2013 foram referendadas pelo TCU. O procurador lhe respondeu que o fato de não ter contestado ilícitos anteriores não exime o TCU de fiscalizar as contas de 2014. Se para bom entendedor meia palavra basta, os técnicos do TCU levaram ao Senado palavras e números que desnudam o uso de recursos públicos, obtidos de forma irregular, para dar vantagem à candidata à reeleição durante o pleito. Se isso for aceito pelos membros do TCU e pelos congressistas, o impeachment de Dilma deixa de ser impossível. O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15 METRÓPOLE Viagens de colégios organizam desejo de estudar no exterior 14/09/15 O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15 METRÓPOLE 14/09/15 O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15 METRÓPOLE Desinteresse no Brasil entre elite tem motivo profissional 14/09/15 16/09/15 BRASIL Os sem-bolsa Quase 800 000 famílias já foram cortadas, neste ano, da lista do principal programa social do governo. Junto com os sem-casa e os sem-Pronatec, elas formam um novo contingente de desvalidos: o daqueles de quem o Estado, silenciosamente, começa a tirar o que deu PIETER ZALIS, SEMIÁRIDO do Nordeste do Primeiro, chega a "cartinha". Com carimbo do Ministério do Desenvolvimento Social, ela pede ao beneficiário do Bolsa Família que se apresente na prefeitura da cidade para agendar a visita de um assistente social à sua casa. A partir desse momento, o dinheiro do programa já para de entrar na conta da família. Semanas depois, o assistente social toca a campainha. Prancheta, caneta e almofadinha de carimbo na mão (para os casos em que o beneficiado não sabe escrever), ele faz perguntas sobre cada morador da casa: quem estuda, quem trabalha, quanto ganha. Caso note a presença de uma moto, de uma TV de LED ou de qualquer elemento que destoe do cenário de pobreza obrigatório, indaga quando a família adquiriu o bem e com que recursos. Encerrada a entrevista, pede ao beneficiário que assine o formulário preenchido e encaminha o papel à prefeitura. Feito isso, o resultado é quase sempre o mesmo: adeus, Bolsa Família. Poucos dos que recebem a visita do assistente social conseguem manter o benefício. Sem anúncio nem alarde, o governo federal começou a passar a tesoura nos programas sociais. O Bolsa Família, carro-chefe da administração petista, sofreu neste ano o mais profundo corte desde que foi criado, há onze anos. Apenas no primeiro semestre de 2015, 782 313 famílias deixaram de receber o benefício. Para diminuir os custos do programa sem admitir sua redução, o governo passou a promover um pente-fino silencioso entre os cadastrados. Desde maio, vem cruzando seus dados com informações do INSS e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), por exemplo. O objetivo é identificar quem possui bens incompatíveis com o teto de renda permitido aos participantes do programa (até 154 reais por membro da família, o que torna difícil a compra de um carro, por exemplo) ou está acumulando benefícios indevidamente. Os que já recebem a aposentadoria rural de um salário mínimo não podem ganhar Bolsa Família. Também estão impedidos de integrar o programa pescadores que recebem o seguro-defeso — pago durante o período de procriação dos peixes. Esse veto surgiu de uma portaria criada pelo governo federal em março deste ano. Desde então, em cidades do Nordeste que vivem da pesca, como Saubara, na Bahia, a queda no número de beneficiários do Bolsa Família foi de quase 70%. "Antes, o Ministério do Desenvolvimento Social enviava no máximo 200 famílias para a averiguação por ano", afirma Anderson Guilherme Araújo, coordenador do Bolsa Família, em Pombal, no interior da Paraíba. "Agora, só até agosto, já temos mais de 900 para checar." Em Jardim de Piranhas, no sertão do Rio Grande do Norte, a demanda de averiguação — 600 famílias — foi tão alta para o padrão local que a prefeitura foi obrigada a contratar reforços para ajudar a única assistente social na visita às casas. Além de excluir os duplamente beneficiados, o governo passou a cobrar o cumprimento de exigências para as quais sempre fez vista grossa. A obrigação de manter os filhos na escola, com uma frequência mínima de 85%, por exemplo, sempre esteve em vigor, mas mesmo as famílias que desprezavam a regra recebiam o dinheiro. Agora, começam a ter o benefício cortado. Alguns ex- 16/09/15 beneficiários afirmam que nem sequer foram informados sobre os motivos que levaram à sua exclusão do programa. No Nordeste, os cortes no Bolsa Família já podem ser sentidos na mesa. Na região onde está mais da metade das famílias cadastradas no programa, os gastos com supermercado, comida e bebida tiveram uma queda muito maior do que no restante do país. Os dados mais recentes mostram que em junho, na comparação com maio, a redução desse tipo de gasto foi de 7,8% no Ceará, 6,2% em Pernambuco e 5,1% na Bahia. No Brasil, no ano inteiro, a queda foi de 1,8%. A inflação também fez a sua parte. O Bolsa Família não é reajustado desde junho do ano passado. Isso significa que, nesses quinze meses, o benefício sofreu uma corrosão de 10,25% — uma família que ganha 300 reais por mês perdeu o equivalente a 31 reais em poder de compra. Os cortes no programa produziram ainda outro efeito: tiraram do sofá muita gente que tinha deixado de trabalhar. Do último trimestre do ano passado para o segundo trimestre deste ano, o número de "trabalhadores familiares auxiliares" — que ajudam informalmente em pequenos negócios de parentes ou amigos — cresceu três vezes mais no Nordeste do que no restante do Brasil, de acordo com os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE. O aperto no Bolsa Família é apenas o aspecto menos visível de um grande arrocho que o governo federal vem promovendo nos programas sociais nos últimos meses. No Minha Casa, Minha Vida, apenas 7415 novas unidades foram contratadas na Faixa 1 (dedicada às famílias mais pobres, com renda de até 1600 reais mensais), comparadas a 89 946 no último semestre do ano passado. O corte, em dinheiro, foi de 5,6 bilhões de reais. Para o ano que vem, a tesoura será de outros 4,4 bilhões de reais. Já o Minha Casa Melhor, de oferta de crédito para a compra de móveis e eletrodomésticos, virou poeira. O Pronatec — o programa de capacitação para emprego técnico — perdeu 60% das vagas. Em cidades do sertão onde no ano passado havia mais de dez cursos, neste ano há apenas um, quando muito. No ano que vem, o corte planejado é de 60% do orçamento. Com a maior retração da economia brasileira nos últimos 25 anos, perderão todos os brasileiros. De quem não tem quase nada, no entanto, o pouco que agora se tira muda tudo — e muito: é a diferença entre ir para a cama e dormir ou ficar acordado na madrugada de barriga vazia. 16/09/15 16/09/15 Ensino Desinteresse Por falta de inscrições, a Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro cancelou o início do MBA em Relações Governamentais – nome bonito da atividade de lobby, profissão ainda não regulamentada no Brasil. As aulas teriam início no sábado 12. Não se sabe se pesou a desilusão com a carreira ou os R$ 27,8 mil cobrados pela FGV. Em Brasília o curso vai bem, obrigado, mas o curso de pós-graduação previsto para começar em São Paulo, dia 29, ainda não atingiu o mínimo de matrículas considerado ideal. RICARDO BOECHAT 16/09/15 ECOMONIA & NEGÓCIOS Aulas de extensão universitária Quer turbinar o currículo? Fazer um curso livre em uma universidade pode ser uma boa opção por Ludmilla Amaral ([email protected]) A crise econômica e o aumento do desemprego tornaram a concorrência no mercado de trabalho ainda maior. Para conseguir uma colocação, só há uma alternativa viável: estar bem preparado. Uma das melhores maneiras de turbinar o currículo é se inscrever em um curso de extensão universitária. Há muitas opcões disponíveis e com preços que atendem a todos os bolsos. “O objetivo desses cursos é oferecer ferramentas para que a pessoa possa se desenvolver”, diz Gerson Leite, coordenador de Pesquisa e Extensão da Universidade Mackenzie. Em geral, os cursos de extensão têm a vantagem de ser mais baratos e durar menos do que a pós-graduação. “Frequentar esse tipo de aula demonstra que o profissional é pró-ativo, dedicado e disciplinado”, afirma Ricardo Ribas, gerente-executivo da Page Personnel, empresa especializada na área de Recursos Humanos. Conheça a seguir qual é o curso indicado para seu perfil e o que você deve considerar antes de fazer a escolha. 16/09/15 O BRASIL QUE CONSTRÓI Educação & Cultura O Brasil que constrói: educação e cultura Na segunda edição especial da série "O Brasil que constrói", conheça cinco projetos desenvolvidos e apoiados pela iniciativa privada que impactam na sociedade BRADESCO: Há quase 60 anos, o banco investe em 40 escolas pelo Brasil. Acima, desenho de Bruno Ribeiro, 16 anos, de Bagé (RS), aluno da primeira série do ensino médio da Fundação Conheça as empresas que, mesmo com a crise, continuam investindo e estão transformando o Brasil: Bolsa de talentos Com um projeto de longo prazo, a BM&F Bovespa mantém o mais bem-sucedido clube de atletismo do Brasil e ainda ajuda centenas de jovens de áreas carentes de São Paulo Lemann, um bilionário na educação Com quatro projetos que movimentam o ensino, empresário criou a Fundação que leva seu nome para massificar o aprendizado com tecnologia e inovação para salas de aula da rede pública Muito além da sala de aula Programa da Odebrecht Óleo e Gás promove o uso das escolas nos finais de semana e após as aulas, em oficinas ligadas ao esporte, lazer e cultura. A ideia forma cidadãos mais conscientes, ocupa lugares públicos, aproxima as pessoas e traz mais segurança Integração nacional pela cultura Com R$ 12 milhões por ano, programa do Itaú Cultural apoia projetos inovadores, descobre talentos e traça um novo perfil da produção artística brasileira Investimento com retorno garantido Há 60 anos, o fundador Amador Aguiar colocou a educação como missão do Bradesco. Nesse período, mais de 1,64 milhão de crianças e adolescentes passaram pelas escolas mantidas pela Fundação 16/09/15 O BRASIL QUE CONSTRÓI Educação & Cultura Bolsa de talentos Com um projeto de longo prazo, a BM&F Bovespa mantém o mais bem-sucedido clube de atletismo do Brasil e ainda ajuda centenas de jovens de áreas carentes de São Paulo Lucas Bessel ([email protected]) No dia 10 de julho, quando a festa de abertura dos Jogos PanAmericanos de Toronto, no Canadá, teve início, as dependências do centro de treinamentos do Clube de Atletismo BM&FBovespa, em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo, estavam bem menos cheias do que o normal. Não que faltasse interesse de esportistas, treinadores e outros funcionários do local em assistir à competição. Longe disso. Acontece que, dos 88 corredores homens e mulheres que representarão o Brasil nessa modalidade, 29 eram do BM&FBovespa. O mais bemsucedido clube de atletismo do País tem tudo para manter esse domínio na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, num claro exemplo de como o investimento privado de longo prazo pode ajudar a modificar o esporte nacional e, com ele, as vidas de centenas de pessoas. JOVEM PROMESSA: Izabela Rodrigues da Silva foi descoberta no projeto social apoiado pelo clube da Bolsa No plantel do BM&F Bovespa estão atletas já renomados, como a campeã mundial do salto com vara Fabiana Murer – que acaba de conquistar a medalha de prata no Mundial de Pequim, igualando a sua melhor marca da carreira (4,90 m) –, o bicampeão da maratona de Nova York Marílson Gomes dos Santos e a recordista sul-americana dos 100 metros rasos Ana Cláudia Lemos, que, apesar de ter se lesionado no Pan, é esperança de grandes resultados no ano que vem. Outro atleta consagrado é o bicampeão mundial indoor do salto em distância Mauro Vinícius “Duda” Coelho. Mas a equipe também é pródiga em revelar talentos, como o arremessador de peso Darlan Romani, que em maio obteve uma das dez melhores marcas do mundo e despontou como promessa para 2016. Todos os esportistas são contratados em regime CLT, têm suporte de equipes técnicas e médicas e estrutura de primeiro mundo no centro de treinamentos de São Caetano do Sul, inaugurado em 2012, que recebeu investimentos de R$ 20 milhões. “Era impossível imaginar uma estrutura assim no Brasil há alguns anos”, afirma o fundista Marílson. Na estrutura da corporação, o clube está sob os cuidados da diretoria de sustentabilidade e do Instituto BM&F Bovespa, responsável por coordenar os projetos de investimento social da companhia. Por esse motivo, a verba destinada ao esporte não se limita ao alto rendimento. Três centros para categorias de base – em São Caetano, Campinas e na capital paulista – também recebem apoio da BM&F Bovespa. Nesses locais, que atendem centenas de crianças e adolescentes carentes diariamente, o foco sai do resultado esportivo e passa à cidadania, à educação e à transformação social. “Todas essas iniciativas acontecem em parceria com instituições locais porque, nessa etapa, é importante que os jovens mantenham o laço familiar”, explica Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade do BM&F Bovespa e superintendente do Instituto. Aqueles que demonstram maior potencial para o atletismo ainda recebem uma bolsa mensal, com valores que vão de R$ 250 a R$ 500, além de auxílios de custo para transporte e alimentação. APOSTA DE OURO: A velocista Ana Cláudia Lemos é recordista sul-americana dos 100m e 200m 16/09/15 A campeã mundial juvenil no lançamento de disco Izabela Rodrigues da Silva, 19 anos, é um exemplo de que esse investimento também é capaz de formar grandes atletas. Ela começou a treinar no Instituto Elisângela Maria Adriano, um dos núcleos de formação do clube de atletismo. Ao se destacar em jogos escolares, ela chamou a atenção dos treinadores da BM&FBovespa e passou a integrar a equipe no ano passado. As medalhas e troféus em grandes competições são resultado de apostas de longo prazo. “Talentos não surgem do nada”, diz o diretortécnico do clube, Sergio Coutinho. “É preciso evitar um erro muito comum no atletismo brasileiro que é pular etapas.” As primeiras iniciativas da então BM&F de São Paulo na área aconteceram na década de 1980, com o Prêmio Ouro Olímpico, que premiou com barras de ouro os atletas vitoriosos na Olimpíada de Seul-1988. Em 1990, a bolsa fez uma parceria com a Federação Paulista de Atletismo para incentivar novos esportistas. Em 2000, o programa já contava com 25 atletas, entre eles nomes de peso como o medalhista de bronze na maratona da Olimpíada de Atenas, Vanderlei Cordeiro de Lima, e a campeã olímpica do salto em distância Maurren Maggi. A partir daí, a ideia era criar uma estrutura para permitir o desenvolvimento e aperfeiçoamento do atleta. O primeiro passo foi absorver a Funilense, agremiação de São Paulo que era protagonista no atletismo. O Clube BM&F – nome que mudaria para BM&F Bovespa em 2008, após a fusão com a Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa – começou a competir em 2002. Atualmente, a Bolsa investe cerca de R$ 6 milhões por ano no atletismo. Outros R$ 4 milhões vêm de parceiros e patrocinadores. Assim, ela espera poder medir resultados não só em medalhas mas na formação de cidadãos. Foto: Pedro Dias, Agência Luz 16/09/15 O BRASIL QUE CONSTRÓI Educação & Cultura Lemann, um bilionário na educação Com quatro projetos que movimentam o ensino, empresário criou a Fundação que leva seu nome para massificar o aprendizado com tecnologia e inovação para salas de aula da rede pública Mariana Barboza O nome de Jorge Paulo Lemann é lembrado pelas agressivas tacadas no mundo dos negócios. Nos últimos anos, o 3G Capital, seu fundo de investimento em sociedade com Marcel Telles e Beto Sicupira, criou a Ab-InBev, empresa que controla 15% do mercado global de cervejas, com as marcas Budweiser, Stella Artois, Brahma, entre outras, adquiriu a rede de fast food Burger King e se associou ao megainvestidor americano Warren Buffett para comprar a Kraft Foods e a Heinz e formar o terceiro maior conglomerado do setor de alimentos dos Estados Unidos e o quinto em escala mundial. Com uma fortuna estimada em US$ 22,1 bilhões, o homem mais rico do Brasil e um dos 30 maiores do mundo ainda tem um sonho: ser lembrado pelo seu papel de educador. GAROTA, EU VOU PRA CALIFÓRNIA: Jorge Paulo Lemann (acima) em sala de aula e seu núcleo de estudos direcionado aos problemas do Brasil, na Universidade Stanford (abaixo) é um centro que ajuda as pessoas a voarem mais alto e a contribuir com o País.” Aos 76 anos, Lemann é um exemplo de empresário que tem participação ativa na transformação social. A educação não está na sua lista de negócios lucrativos, mas ele não se importa. É com o ensino que Lemann espera colher seu melhor fruto. Seus quatro projetos movimentam o ensino básico, fundamental, vestibular, graduação, pósgraduação e novas metodologias de ensino. A Fundação Estudar, criada em 1991 com seus sócios Telles e Sicupira, custeia bolsas de graduação e pós-graduação; a Fundação Lemann testa novas tecnologias para melhorar em massa a qualidade da educação; a Gera Venture foi criada para investir em startups voltadas à educação; e o Lemann Center é um núcleo de estudos em Stanford, na Califórnia, voltado às pesquisas sobre alguns dos principais problemas do Brasil. “As pessoas apareciam no escritório e eu dava bolsas. Devo ter dado umas 500 bolsas e não tinha mais noção de quem estava ajudando”, disse Lemann, em evento promovido pela consultoria Falconi, há dois anos. “A Fundação Estudar surgiu para organizar esse trabalho e hoje A Estudar marca o início de sua atuação no universo da educação, mas é a fundação que leva seu nome a responsável pela grande transformação. Criada em 2002 com recursos da família, a Fundação Lemann atua na melhoria da qualidade da educação brasileira com projetos inovadores. Só no ano passado, as atividades da instituição atingiram quatro milhões de pessoas (em 25 anos a Estudar financiou menos de mil bolsistas). Para Lemann, é pouco. Nos próximos três anos, ele quer que esse número chegue a 30 milhões. Como presidente do Conselho da Fundação, Lemann acompanha o trabalho de perto. Participa de reuniões e eventos, e de todo o planejamento estratégico. “Temos um acompanhamento de projetos muito profissional, com metas, gerenciamento de resultados, além de uma equipe bem escolhida e muito motivada”, diz a diretora de projetos Camila Pereira. A organização se empenha, entre várias ações, em desenvolver plataformas de ensino à distância e aplicativos para conectar pais e professores, em capacitar docentes para publicarem suas aulas no YouTube e ganharem visibilidade, 16/09/15 em apoiar empreendedores e em fazer parcerias com sites que oferecem cursos. A exigência é que sejam sempre gratuitos, online e disponíveis para todo o mundo. Com a plataforma Khan Academy, a Fundação Lemann traduziu para o português as lições de matemática do professor americano Salman Khan e colocou ao alcance de mais de 50 mil alunos de escolas públicas em 44 redes municipais. O uso da tecnologia nas salas de aula é visto como um apoio fundamental para a personalização do aprendizado – o conceito é que cada aluno aprende num ritmo e de um jeito diferente. A plataforma ajuda os professores a lidarem com a heterogeneidade das turmas. Assim como ferramentas como Facebook, Netflix e Google, que guardam um perfil do usuário, a Khan Academy aprende com o comportamento do aluno. “A plataforma sugere novos desafios a partir de erros, acertos e da maneira como ele resolve os exercícios”, afirma Camila. O professor acompanha a turma em tempo real, identifica as dificuldades e adapta seus métodos. Mas o uso da tecnologia na sala de aula tem uma barreira. As escolas precisam ter internet banda larga com acesso sem fio. Esse ainda é o gargalo que impede a adoção desses recursos em larga escala. Por isso, a Fundação Lemann precisa colocar em prática uma outra estratégia, a de influenciar as políticas públicas. Os encontros com secretários estaduais de educação, parlamentares, ministros e diretores de agências regulatórias são frequentes. Se a massificação com a qualidade de ensino der resultado, os alunos podem sonhar em ser futuros líderes, com apoio da própria Fundação. O Lemann Fellowship distribui bolsas de pósgraduação em universidades americanas como Harvard, Stanford e Yale para quem quiser dedicar a carreira a resolver problemas sociais no Brasil seja no setor público, privado ou no terceiro setor. Ricardo Terra é um deles. Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo, ele foi para Harvard, em 2012, graças ao programa. Hoje é um dos coordenadores do Instituto do Câncer de São Paulo e impacta diariamente a vida de centenas de pessoas. Lemann costuma repetir que sonhar grande ou pequeno tem o mesmo preço. Na educação, ele segue firme a sua lição. 16/09/15 O BRASIL QUE CONSTRÓI Educação & Cultura Muito além da sala de aula Programa da Odebrecht Óleo e Gás promove o uso das escolas nos finais de semana e após as aulas, em oficinas ligadas ao esporte, lazer e cultura. A ideia forma cidadãos mais conscientes, ocupa lugares públicos, aproxima as pessoas e traz mais segurança Rodrigo Caetano A educação é a base para o crescimento econômico. Mas não é somente a escola a responsável pela formação de bons cidadãos e, consequentemente, bons profissionais. O engajamento em atividades extracurriculares aumenta o escopo de aprendizado dos jovens e ajuda na ampliação do entendimento sobre o papel de cada um na sociedade. Além disso, o uso das escolas nos finais de semana e após o horário das aulas ocupa os espaços públicos, trazendo mais segurança ao seu entorno. Essas são algumas das recomendações da Unesco para a formatação de uma metodologia de desenvolvimento educacional eficiente, sustentável e de longo prazo. Foi a partir desse ponto de partida que a Odebrecht Óleo e Gás, braço para o setor de petróleo do grupo Odebrecht, desenvolveu o seu Programa de Responsabilidade Social na cidade de Macaé, no Rio de Janeiro, considerada a capital nacional do petróleo. O ponto central do projeto está na parceria com as escolas municipais para implantação, gestão, avaliação e execução de oficinas e atividades ligadas ao esporte, educação e qualificação profissional, no qual as diretoras têm um papel fundamental para inserção das ações da política pública municipal de educação e na mobilização das comunidades envolvidas. “O objetivo é gerar mais conhecimento e, consequentemente, maior engajamento social por parte dos jovens”, afirma Marco Aurélio Fonseca, diretor de sustentabilidade da Odebrecht Óleo e Gás. “Trata-se de um projeto que envolve toda a comunidade. Isso o torna sustentável, pois não depende, exclusivamente, da atuação de um patrocinador.” VIDA DE CAMPEÕES: Desde 2007, a Odebrecht Óleo e Gás, em parceria com a prefeitura de Macaé, desenvolve atividades esportivas e culturais nas escolas O programa começou a ser colocado em prática em 2007, em parceria com a prefeitura da cidade carioca. Inicialmente, foram identificadas pessoas nas comunidades com algum tipo de talento, seja artístico, profissional ou esportivo, para ministrar as aulas nas oficinas. Funcionários da Odebrecht foram mobilizados para atuar no apoio, no treinamento e na oferta da expertise para a implantação do programa nas escolas. Mais de 400 colaboradores da empresa participam do programa. Cursos de inglês, artesanato, ginástica, entre outras atividades socioeducativas, passaram a ser oferecidos em quatro escolas. “Não são atividades ligadas diretamente ao nosso negócio, mas, indiretamente, traz resultados para a empresa, pois, no futuro, teremos melhores profissionais”, afirma Fonseca. Com o tempo, novos talentos foram identificados nas comunidades e o escopo de atividades cresceu. Atualmente, são oferecidas oficinas de robótica, dança e, até, jiu-jítsu. Pelas contas da Odebrecht, mais de 20 mil pessoas, considerando os jovens e suas famílias, já foram impactadas pelo programa. Tratase de um número considerável, levando em conta que a população de Macaé é de, aproximadamente, 195 mil pessoas. A estudante Eduarda Santos, de 16 anos, é uma das adolescentes que vivenciaram uma grande mudança de vida, 16/09/15 graças ao projeto. Ela frequenta, desde o ano passado, as oficinas de jiu-jítsu. “As aulas vão além da luta no tatame”, afirma Eduarda. “Aqui, aprendemos a pensar no futuro e em ter um bom emprego.” Para a estudante, o clima de amizade e companheirismo entre instrutores e alunos ajuda na motivação. Essa realidade é levada, também, para dentro de casa. “Adotei uma postura mais respeitosa com meus pais”, diz Eduarda. Já para Dheferson dos Reis, de 18 anos, os frutos de ter participado do programa já estão sendo colhidos. Ex-aluno de atletismo e do Caia na Rede, iniciativa de inclusão digital que faz parte do projeto, ele conseguiu ingressar no Programa Jovem Aprendiz, da própria Odebrecht, e acabou efetivado. Atualmente, faz um curso técnico em segurança do trabalho e pretende retornar ao programa como voluntário. “Eu era muito jovem quando comecei, tinha 14 anos, e, graças às oficinas, enxerguei possibilidades de crescimento pessoal e profissional”, afirma Reis. “Ninguém é tão bom que não precisa de ajuda. Um dia quero estar capacitado para ser voluntário e ajudar outras pessoas.” A violência, no entanto, segue sendo um grande obstáculo para o crescimento do programa. Em 2011, por exemplo, mudanças nas lideranças das facções criminosas que atuam no Rio de Janeiro aumentaram muito o risco para os voluntários da Odebrecht, que tiveram de interromper a sua participação. Para não cancelar o programa, a empresa decidiu reestruturá-lo, dando mais ênfase às necessidades locais e se aproximando das lideranças comunitárias. Em 2012 foi introduzido um novo modelo que conferia maior autonomia aos responsáveis pelas ações na comunidade, além de ampliar o número de jovens atendidos. A mobilização da sociedade foi muito grande, segundo Fonseca. “Tornar as ações de sustentabilidade independentes é fundamental”, afirma o diretor. “Não seria um projeto eficiente se dependesse de nós para sempre e não pudesse ganhar vida própria.” Fotos: Geraldo Pestalozzi 16/09/15 O BRASIL QUE CONSTRÓI Educação & Cultura Integração nacional pela cultura Com R$ 12 milhões por ano, programa do Itaú Cultural apoia projetos inovadores, descobre talentos e traça um novo perfil da produção artística brasileira Ana Weiss ([email protected]) P E R F O R M A N C E RECONHECIDA: A artista paraense Berna Reale teve o seu primeiro trabalho apoiado pelo Itaú, em São Paulo, em 2012 A paraense Berna Reale era funcionária do Instituto de Medicina Legal de Belém quando decidiu que tentaria pela última vez se inscrever no projeto Rumos, do Itaú Cultural. Criadora de performances provocativas que tratam em linguagem contemporânea da violência contra a mulher, ela não conseguia espaço no meio artístico. “Se você é paraense, o mundo espera que você faça cerâmica, pinte jangada ou no máximo mostre fotografias da população ribeirinha, que é o que o mundo pensa que resume o que é a região Norte brasileira”, conta a artista, que representou o Brasil na Bienal de Veneza deste ano, o maior e mais importante evento de arte contemporânea do mundo. O projeto Rumos foi criado em 1997, momento em que a cultura brasileira crescia estimulada pelas políticas de incentivo fiscal. A primeira meta do programa foi incentivar a produção artística brasileira realizada fora o circuito Rio-São Paulo. Berna Reale teve a primeira grande mostra de seu trabalho montada pelo Itaú em São Paulo, em 2012, tornando-se a partir de então uma referência internacional de performance (seu apelido nos grandes centros de arte é Marina Abramovic do Pará). A história da artista – uma entre mais de 1,3 mil contemplados pelo programa – é uma amostra de que a etapa descentralizadora funcionou. Na edição mais recente, das 15 mil inscrições recebidas pelo Itaú Cultural, 2,6 mil eram do Nordeste, 8 mil do Sudeste e 1,8 mil do Sul. Sem recorrer aos descontos fiscais que poderia, o Itaú Cultural hoje investe cerca de R$ 12 milhões em cada seleção anual, em uma forma de patrocínio que varia de acordo com a proposta. A escolha é feita por uma comissão composta por gerentes de área da instituição e representantes da sociedade convidados, todos profissionais ligados à cultura. Na sede do Instituto, na avenida Paulista, em São Paulo, o público pode conhecer os cem projetos contemplados este ano, em mostras abertas ao público e lançamentos que acompanham a realização. Entre eles, um livro em que Nuno Ramos, um dos maiores artistas plásticos brasileiros, escreve sobre o seu processo criativo, e outro, que mostra o colorido movimento gastronômico realizado pelas comunidades da favela da Maré, do Rio de Janeiro. “A ideia é mesmo aproximar a expressão de grandes ícones e gente desconhecida”, diz Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural. Um salto recente do programa custou muito pouco e multiplicou os beneficiados a mudança do formulário de inscrição. “Percebemos que os artistas e produtores estavam formatando seus projetos para se encaixar melhor no edital. Muitas peculiaridades ficavam de fora de uma proposta para que ela pudesse ser enquadrada nos formulários”, conta Saron. Hoje, para se inscrever no Rumos, o interessado precisa apenas responder a um questionário. “Isso permite, ao mesmo tempo, avaliar os projetos e mapear as áreas que estão melhor desenvolvidas e as que 16/09/15 precisam de mais estímulo. Assim, além de aproximar o artista ou produtor sem experiência com editais, também conseguimos saber quais linguagens estão crescendo ou diminuindo. Usamos essa informação para traçar os demais projetos do Itaú Cultural.” Se neste ano o Brasil foi representado na Bienal de Veneza por uma artista que usa o corpo nu em instalações a céu aberto é porque o Itaú Cultural soube por meio do Rumos que, ao contrário do que se pensava, nem só de cerâmica e personagens ribeirinhos se faz arte no Norte do País. 16/09/15 O BRASIL QUE CONSTRÓI Educação & Cultura Investimento com retorno garantido Há 60 anos, o fundador Amador Aguiar colocou a educação como missão do Bradesco. Nesse período, mais de 1,64 milhão de crianças e adolescentes passaram pelas escolas mantidas pela Fundação Márcio Kroehn LIVRO DE OURO Em quase 60 anos, 1,64 milhão de pessoas passaram pelas escolas do Bradesco Desde 2013, as 40 escolas mantidas pela Fundação Bradesco, braço de filantropia do banco, estão sendo reformadas e ampliadas. O investimento de R$ 220 milhões é calculado em tempo de sala de aula. As novas estruturas irão acrescentar uma hora ao tempo dedicado aos estudos. Parece pouco, mas essa adição será suficiente para aumentar o conteúdo das disciplinas e exigir mais dedicação dos alunos. O Bradesco é um banco obcecado com educação de qualidade. Desde a sua fundação, o banqueiro Amador Aguiar imprimiu essa marca na instituição financeira ao dizer que era preciso criar acesso à educação gratuita e de qualidade para formar crianças, jovens e adultos. A Fundação Bradesco, criada em 1956, trabalha para ser a diferença na vida de milhares de pessoas – mais de 1,64 milhão de estudantes, da educação infantil à formação técnica, passaram por cursos integrais ou eventuais. “Nosso papel é mostrar para os alunos que a escola é o local onde eles podem sonhar e fazer a diferença para o País do futuro”, diz a diretora Denise Aguiar, neta do fundador. Quando o Bradesco começou a investir em educação, as melhores escolas públicas eram ocupadas pelos filhos de famílias ricas. A massificação do ensino gratuito só aconteceu, de fato, em meados dos anos 1970, mas a quantidade derrubou a qualidade. Para a Fundação Bradesco, a excelência no ensino é inegociável, por isso ela tem o controle de todo o projeto. Ao contrário de fundações que fazem a captação de recursos e entregam o desenvolvimento do programa para um terceiro, a Fundação compra os imóveis, contrata os professores, paga todos os funcionários e cuida da gestão, administração e conteúdo das escolas. O modelo da Fundação Bradesco passou a ser estudado e copiado. Por influência de seu bem-sucedido plano de atuação, a educação é, hoje, o principal investimento social privado do País. Estudo realizado pela ONG Comunitas, criada pela educadora Ruth Cardoso, mostra que 40% dos recursos financeiros estavam direcionados a projetos do setor. “É um orgulho passar nossa experiência e conhecimento para outras empresas”, diz Denise. SALAS MODERNIZADAS: Há dois anos, as escolas mantidas pelo Bradesco estão sendo reformadas e ampliadas O sonho de Amador Aguiar foi cumprido: ele queria ter uma escola em cada Estado. Mas o maior desafio do Bradesco nunca foi a ampliação do projeto. A permanência do aluno na escola, cumprindo as aulas propostas e alcançando a formatura continua sendo o grande obstáculo. Denise explica que a percepção para a evasão é a falta de crença do cidadão de que é possível ter escola gratuita de qualidade. A Fundação Bradesco banca material, uniforme e estrutura. Mesmo assim, há evasão pela desconfiança sobre um projeto de uma fundação privada. A maneira de evitar o abandono é incentivando a reclamação. “Se o aluno não estiver gostando, ele tem de falar e pedir solução”, diz Denise. “Só assim vamos entender o que temos de mudar para ele não desistir.” Um dos dilemas atuais é o uso de tecnologia. A Fundação 16/09/15 Bradesco informatizou toda a gestão da educação. Isso possibilita controlar a frequência de alunos em sala, quais aulas os professores ensinaram no dia e como está o desempenho da classe. Mas, manter a mesma qualidade do mundo analógico com o digital tem sido desafiador. Há lousas digitais disponíveis, mas não são todos professores que sabem utilizá-la. Os recursos tecnológicos são dominados pelos alunos, mas os professores resistem em mergulhar nessa nova Era. “Os nativos digitais são os alunos. Há uma dificuldade dos professores entenderem o funcionamento dessas novas tecnologias”, diz Denise. Para unir esses dois mundos, a Fundação tem incentivado a apresentação de trabalhos em ferramentas digitais. O ensino a distância é um complemento das aulas presenciais. A Fundação Bradesco acredita que o mais importante investimento ainda é em conhecimento. O GLOBO 13/09/15 SOCIEDADE ‘Há uma crise de atenção’ BRUNO ALFANO* da realidade” e que “o problema é como utilizar”. Para pensador polonês Zygmunt Bauman, internet dificulta a lida diária com a realidade “Concentrar-se e se dedicar por um longo tempo é uma questão muito importante. Somos cada vez menos capazes de fazer isso da forma correta” “Não há como voltar à situação em que o professor é a única fonte, o único guia” Zygmunt Bauman Sociólogo polonês No encontro Educação 360, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman afirmou que o uso da internet leva à informação fragmentada e gera crise de atenção. Para construir conhecimento, disse, é preciso trabalhar a paciência. Uma busca no Google com os termos “O que é modernidade líquida?” rende 187 mil resultados em 0,34 segundo. São, todos eles, “fragmentos de conhecimento”, na visão do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que discursou ontem para um auditório lotado na Escola Sesc de Ensino Médio durante o encontro internacional Educação 360, realizado pelos jornais O GLOBO e “Extra” em parceria com a prefeitura do Rio e o Sesc, com apoio da T V Globo e do Canal Futura. O filósofo defende que “não vamos nos livrar Desafio. Para Bauman, para se construir conhecimento sólido é preciso apostar em atenção, paciência e perseverança, que a web não incentiva — A educação é vítima da modernidade líquida, que é um conceito meu. O pensamento está sendo influenciado pela tecnologia. Há uma crise de atenção, por exemplo. Concentrarse e se dedicar por um longo tempo é uma questão muito importante. Somos cada vez menos capazes de fazer isso da forma correta — disse o pensador. — Isso se aplica aos jovens, em grande parte. Os professores reclamam porque eles não conseguem lidar com isso. Até mesmo um artigo que você peça para a próxima aula eles não conseguem ler. Buscam citações, passagens, pedaços. Como o próprio Bauman mencionou, a modernidade líquida — definida nos resultados do Google como a época em que vivemos, caracterizada por “volatilidade” , “incerteza” e “insegurança” — norteou as obras do filósofo; ele escreveu cerca de 30 livros apenas em torno dessa maneira de enxergar a contemporaneidade. — Não há como contestar que a internet nos trouxe grandes vantagens. A facilidade de acesso à informação, a facilidade com que podemos ignorar as distâncias... Lembro-me de que, quando era jovem, passava muito tempo na biblioteca tentando ler cem livros para encontrar um pedacinho de informação de que precisava. Agora, basta pedir para o Google. Em décimos de segundo ele dá milhares de respostas. Um problema foi eliminado: nós não precisamos passar horas na biblioteca. Mas há um novo problema. Como vou compreender essas milhares de respostas? — questionou Bauman, logo recorrendo à Grécia Antiga para para continuar. — Só agora, idoso, consegui entender Sócrates: “Só sei que nada sei”. Há ainda, na visão de Bauman, outras crises que chegam com a internet e precisam ser superadas. O filósofo defende que vivemos com cada vez menos paciência, pela quantidade de informação que recebemos ao mesmo tempo. E, quando não temos isso, o resultado é a irritação. — Se demoramos mais de um 13/09/15 minuto para acessar a internet quando ligamos o computador, ficamos furiosos. Um minuto só! Nosso limiar de paciência diminuiu. As informações mais bem-sucedidas, que têm mais probabilidade de serem consumidas, são apenas pedaços — diz o polonês. — Outra coisa é a persistência. Conseguir algo contém em si um número de fracassos que faz com que você perca tempo e tenha que recomeçar do zero. E isso é muito complicado. Não é fácil manter essa persistência nesse ambiente com tanto ruído e tantas informações que fluem ao mesmo tempo de todos os lados. Todo esse novo cenário, explicou o pensador à plateia de educadores, desafia e transforma a posição secular do docente. Para Bauman, “não há como voltar à situação em que o professor é o único conhecedor, a única fonte, o único guia”. E dá caminhos: — Não há como conceber a sociedade do futuro sem tecnologia. Então, se não pode vencê-la, una-se a ela. Tente contrabalancear o impacto negativo, como a crise da atenção, da persistência e de paciência. É preciso ter determinadas qualidades se você deseja construir conhecimento e não só agregá-lo: paciência, atenção e a habilidade de ocupar esse local estável, sólido, no mundo que está em constante movimento. É preciso trabalhar a capacidade de se manter focado. EDUCAÇÃO DESIGUAL Hoje, de acordo com o filósofo, a educação reproduz privilégios em vez de aperfeiçoar a sociedade. Ele lembra que, nos EUA, 70% dos alunos na universidade vêm das classes mais altas, enquanto só 3% são das camadas de renda mais baixa. Segundo Bauman, essa é “uma forma de reafirmar a desigualdade social”, tema do livro “A riqueza de poucos favorece a todos nós?”, o mais recente lançamento (no mês passado) do escritor no Brasil. — Uma das tarefas da educação é conferir a todas as pessoas que tenham talento a possibilidade de adquirir conhecimento para que isso acabe tendo um uso criativo para a sociedade. Mas esse objetivo não está sendo perseguido em muitos lugares. Na Grã-Bretanha, os preços, em vez de diminuírem para as pessoas com menos dinheiro, vão subindo. E cada vez menos pais têm a possibilidade de economizar a quantia necessária para seus filhos cursarem a universidade. O problema, segundo Bauman, é que a educação está pressionada pela política e pelos interesses corporativos. E isso, explica ele, se reflete na mente do estudante. O polonês critica o fato de os alunos escolherem a área de estudos baseados “no fato de se vão conseguir emprego ou não”. — Se você quer conhecimentos especializados, que são as condições para um bom emprego, precisa estudar quatro ou cinco anos, e isso requer muito esforço. Mas, se você está sendo guiado pelo atual estado de coisas, tudo vai mudar nesse tempo de estudo. E você vai perceber que não vai conseguir encontrar um uso rentável para o tipo de qualificação e habilidade que adquiriu nesses anos de trabalho árduo na faculdade — argumenta. Mesmo após toda essa lista de desafios, a mensagem que o dono de uma das mais influentes mentes no mundo deixou para o auditório na noite de ontem foi de pura esperança: — Educar, senhoras e senhores, é fazer um investimento nos próximos cem anos. O GLOBO 13/09/15 SOCIEDADE Jiang Xueqin: ‘Ensino é experiência emocional’ EDUARDO VANINI Foco excessivo em exames eliminaria individualidade e criatividade Quando Jiang Xueqin ainda estava na escola, uma professora lhe disse que apostava em seu potencial. Isso nunca saiu da cabeça dele e virou, mais adiante, um dos principais motivadores de seu empenho em aprender. Acabou aprovado com bolsa na Universidade de Yale, uma das mais tradicionais dos Estados Unidos. E, ao refletir sobre o impacto das palavras da professora em sua vida, Xuequin concluiu que não tinha escolha: Novo enfoque. Para Xueqin, incentivar o pensamento crítico é fundamental — O benefício da educação me inspirou. Não queria me tornar um advogado para ganhar dinheiro. Por isso escolhi a área pedagógica e voltei à China, onde hoje minha meta é inspirar os estudantes. Escritor e professor, Xueqin formou-se em Literatura Inglesa e é um dos maiores estudiosos do sistema de ensino chinês. Ele criou um programa de estudos a partir de duas das escolas mais prestigiadas na China para levar aos alunos valores pouco destacados no cenário educacional atual, como cidadania e pensamento crítico. Segundo ele, o país já mostrou que é bom em disciplinas e habilidades tradicionais, como a matemática, mas agora precisa iniciar uma cruzada em busca da criatividade. Nas últimas edições do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), por exemplo, Xangai liderou o ranking de avaliados. Para o especialista, isso foi possível em função de alguns fatores cruciais, como a forte ênfase na formação continuada dos docentes. Eles ficam 14 horas em sala de aula e cumprem outras 20 horas de atividades, como encontros colaborativos para o aperfeiçoamento do ensino. — O governo de Xangai está comprometido com a igualdade, para que nenhuma criança fique para trás durante o processo de aprendizagem. Para se ter uma ideia, os melhores professores são destacados para as piores escolas — acrescentou. Soma-se à lista um fator cultural: de acordo com Xueqin, os chineses não acreditam em talento. Para eles, um bom desempenho depende de trabalho árduo. Hoje, boa parte dessa dedicação se desdobra em função das avaliações, incluindo o vestibular. E é aí que está o problema: — Quando há esse foco na avaliação, elimina-se a diversidade, a individualidade e a criatividade. Também se fomenta uma cultura da “cola” e se mata o amor pela aprendizagem. Xueqin entende que os alunos precisam de uma grande reforma que introduza mais competências socioemocionais nas escolas. Assim, ele tem proposto experiências com dois focos: — Um deles é o poder do pensamento global. Acho que o futuro da China está justamente em passar esse valor aos alunos, para que tenham mais consciência. Mas também é muito importante o engajamento crítico. PAPEL DOS PAIS O educador tem conseguido bons resultados nessa direção através de intercâmbios e programas em que alunos vivenciam experiências práticas, como atuar em alguma causa social fora do país. — É importante tornar a aprendizagem cada vez mais aberta — defende. 13/09/15 O papel dos pais nessa cruzada é vital. Segundo o especialista, pesquisas comprovam que crianças incentivadas em casa e com famílias mais estáveis têm mais segurança emocional, o que potencializa o aprendizado. — O foco, portanto, não pode ser em educar apenas as crianças. É preciso formar uma rede de pais capazes de colaborar entre si e criar centros comunitários para que eles possam se encontrar. Além disso, é preciso prestar muita atenção para usar corretamente a tecnologia no processo. Para Xueqin, mal empregada, ela pode atrapalhar. — O ensino é uma experiência emocional. O professor precisa fazer com que seus alunos amem o conhecimento e isso exige tempo e intimidade. A tecnologia, muitas vezes, distancia docentes de estudantes. O GLOBO 13/09/15 SOCIEDADE Professores precisam de mais qualificação e prática em sala EDRO ZUAZO* sociedade@ oglobo.com. br (*) Do “Extra” Para especialistas, formação docente está em estado de alerta “É como se, na falta do médico, contratássemos um enfermeiro para fazer a cirurgia. Fazemos isso todo dia no campo da educação”. A frase da pedagoga e pesquisadora Paula Louzano não foi proferida como uma provocação isolada, mas um alerta para a urgência de se repensar o processo de formação de docentes no Brasil. O tema foi debatido ontem, no encontro internacional Educação 360, na mesa “O professor de que precisamos. Como formá- lo, hoje e amanhã”. No mesmo debate, Beatriz Cardoso, diretora executiva do Laboratório de Educação, chamou a atenção para o papel do docente. A mediação ficou por conta de Paulo de Camargo, jornalista especializado em educação. — Embora a maioria dos professores tenha formação superior, um quarto deles não tem formação na disciplina que leciona. Quando a gente olha especificamente para a área de exatas, esse número é ainda maior. Isso mostra o pouco cuidado que há. Professores dão aula sem ter sido formados para aquilo. Duvido que a sociedade brasileira aceitaria da mesma maneira se tentássemos fazer isso na área médica — afirmou Paula, baseando-se numa pesquisa feita pela USP com professores do segundo segmento do ensino fundamental. Refletindo sobre a formação ideal de professores, a educadora citou quatro pilares: residência pedagógica, análise de ensino e aprendizagem, estudos de caso e pesquisas sobre a prática docente. — As pesquisas têm mostrado que uma educação de qualidade só se constrói quando a formação do professor é centrada na prática. Hoje, o educador é jogado na sala de aula sem passar pela experiência de ser professor. A formação desse profissional, que atua de maneira prática, deveria ser muito similar à de um médico. Isso é uma questão de política pública — disse Paula. SABER COMO PROVOCAR O APRENDIZADO Beatriz Cardoso ressaltou que a linguagem é a base de toda aprendizagem. Para ela, assim como os óculos ampliam a visão, a linguagem amplia o pensamento. — Não se trata apenas de criar escolas e oferecer bibliotecas. O acesso não garante a apropriação. O divisor de águas é saber como provocar, quais são as práticas interativas adequadas, como criar condições para uso e produção de linguagem, enfim, entender melhor o papel do professor e da escola — explicou. Ao fazer uma análise sobre o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, programa do governo federal instituído em 2013, Beatriz criticou o fato de a formação de docentes ter ficado a cargo das universidades parceiras, isoladamente. — Um programa desse tamanho tem que criar mecanismos de acompanhamento, de discussão permanente, num trabalho formativo que os professores precisam continuar recebendo. Tem que dar suporte para que eles sejam capazes de produzir — explicou. O fortalecimento das estruturas públicas é um dos grandes desafios, segundo Beatriz, para a melhoria da educação. E ela não parou por aí. Assim como Paula, destacou a importância da profissionalização, além da participação das famílias e da comunidade no processo educacional. O GLOBO 13/09/15 SOCIEDADE Estímulo à reflexão e à filosofia na sala de aula RAPHAEL KAPA Para especialistas, é preciso vencer a ‘superficialidade’ típica da era digital A tecnologia invadiu silenciosamente a sala de aula mas causou um tremendo barulho. Com ela, também chegaram os questionamentos. Com um mundo cada vez mais conectado e com mais plataformas digitais disponíveis para alunos e docentes, os professores Zeca de Mello, da Coppe-UFRJ e da FGV, e Nelson Pretto, da UFBA, debateram sobre ética, educação e tecnologia durante o seminário internacional Educação 360. A mesa foi mediada pelo curador do evento, Antonio Simão Neto. Uma pergunta permeou todo o debate: com tanta informação disponível em variadas plataformas, como ensinar? — É necessário uma nova atitude perante o mundo. Temos que vencer a grande tentação da “superficialidade”. Para enfrentar isso, é preciso lucidez crítica. Desenvolver a filosofia, uma criticidade, que a gente ainda não aprende na escola — afirmou Mello. Os palestrantes concordaram que a nova geração tem mais acesso à informação, domínio que era quase exclusivo da escola. Porém, Nelson Pretto expôs que não se pode ser saudosista e acreditar que uma geração possui competências melhores que a outra. — Zuenir Ventura escreveu uma vez que “essa geração só tem reflexo, não tem reflexão”. Verdade. Mas, e aí? Vamos trabalhar. Vamos agora ficar comparando? O desafio, então, é desenvolver mais reflexão. A questão é: como faço política pública para que a criação seja o centro? O ritmo acelerado da sociedade atual também foi bastante discutido. Mello, que já foi padre por mais de dez anos, mencionou uma série de teóricos que indicam pontos negativos na aceleração social. Citando frequentemente o pensador Harmut Rosa, disse que é preciso um despertar a criticidade desde os bancos escolares até o auge da vida empresarial. — A gente cria palavras novas para exprimir coisas que não podem ser exprimidas. “Tempo de qualidade com os filhos”, como se isso pudesse ser medido em um tempo. Livros como “Mil e um vinhos que a pessoa tem que beber”: imagine a angústia da pessoa... Mil coisas para ver, mil lugares para visitar. Uma angústia. DA REPRODUÇÃO À PRODUÇÃO Pretto disse que a atual lógica de ensino é pautada na reprodução de conteúdo e que isso é fácil de mensurar em avaliações, mas não pode ser considerado como um sistema de ensino adequado. Para ele, o grande passo seria sair da condição de reprodução para a de produção na sala de aula. Quanto à interação entre tecnologia, educação e ética, a questão é distinguir o uso da tecnologia: fugindo de “grandes corporações e se aproximando de uma lógica mais artesanal”: — Computador e internet não são ferramentas. Temos que entender como elementos de produção, de linguagem, ou vamos reduzi- los a equipamentos pedagógicos. FOLHA DE SÃO PAULO 13/09/15 PODER Tribunal do Rio começa a pagar auxílio-educação Dependentes de magistrados de 8 aos 24 anos têm subsídio de R$ 953,47 desembargador no Rio é de R$ 30.471,08. benefício. Cada um receberá um auxílio-educação de R$ 953,47. "A perda de poder aquisitivo não conhece rubrica, vitimando a todos indistintamente. O auxílio serve como estímulo", afirmou o desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, presidente do TJ do Rio, ao justificar o pedido do benefício, em maio, à Alerj (Assembleia Legislativa). Os benefícios para educação, alimentação e moradia vêm sendo tema de discussão no plenário do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Há um projeto para incluí-los na Lei Orgânica da Magistratura, que rege a atuação de juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores. O Tribunal de Justiça do Rio iniciou, na terça (8), o pagamento de um auxílio-educação a funcionários que tenham filhos entre 8 e 24 anos. Para juristas e magistrados ouvidos pela Folha, o auxílio, chamado de "penduricalho", garante um aumento nos vencimentos da categoria no Rio. Diferentemente dos tribunais de outros Estados, que têm a verba sob gestão dos governadores e recebem percentuais para seus gastos, o TJ do Rio tem um fundo próprio. Com a medida, passam a ser sete os benefícios concedidos a juízes e desembargadores lotados no tribunal mais rico do país. O dinheiro para o pagamento do auxílio sai do Fundo Especial do TJ. Até a sexta (11), a arrecadação do fundo chegava a R$ 1 bilhão. O impacto do novo benefício no orçamento do tribunal será de R$ 130 milhões em 2016, segundo o próprio TJ. Desembargadores e juízes passam a ter sete benefícios; tribunal do Rio é o mais rico do país e tem fundo próprio MARCO MARTINS DO RIO ANTÔNIO Da adoção ao funeral, os magistrados têm garantido o auxílio com dinheiro público. Isso sem contar diárias por viagens, além de gratificação por exercer funções nas eleições ou dirigir fóruns. O salário base de um Até o momento, 359 dependentes de magistrados estavam inscritos para obter o "O dinheiro do fundo se destina a melhorias na Justiça e não à educação de filhos de magistrados. Os juízes ficam inventando penduricalhos que servem apenas para aumentar nosso desgaste diante da sociedade", disse o desembargador Siro Darlan, contrário ao pagamento do benefício. FOLHA DE SÃO PAULO 13/09/15 OUTRO LADO Presidente do TJ do Rio diz que medida estimula DO RIO O presidente do Tribunal de Justiça do Rio, o desembargador Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, não concedeu entrevista à Folha, apesar do pedido feito pela reportagem. Quando a Alerj (Assembleia Legislativa) do Rio aprovou o pedido de pagamento de auxílioeducação a magistrados, em maio, o desembargador falou que a medida "vai influir positivamente no estímulo aos magistrados e servidores". O benefício começou a ser pago na terça-feira (8). O desembargador Carvalho disse, no momento da aprovação pelos deputados estaduais, que "a perda de poder aquisitivo não conhece rubrica, vitimando a todos indistintamente". Na ocasião, o desembargador também defendeu a concessão do benefício porque, segundo ele, os magistrados passaram quatro anos sem reajuste salarial. "Houve um congelamento. O benefício seria um mecanismo de compensação", afirmou, no último dia 27 de maio, em entrevista à rádio CBN PODER FOLHA DE SÃO PAULO 13/09/15 MERCADO Inadimplência nas escolas de São Paulo já chega a 13,70% Dado médio de julho supera o de 2009, pós-crise global THÂMARA KAORU DO "AGORA" A inadimplência em escolas particulares de São Paulo de educação infantil, ensino fundamental e médio voltou aos níveis da crise econômica de 2009. Segundo dados do Sieeesp (sindicato das escolas do Estado), em julho, o índice médio que mede a falta de pagamentos dos pais estava em 13,70% na cidade de São Paulo. No mesmo período do ano passado, era 8,35%. Em julho de 2009, o indicador foi 13,40%. Em setembro daquele ano, 14,30%. No Estado de São Paulo, a inadimplência em julho foi de 8,37%, ante 7,31% no mesmo mês de 2014. Segundo Benjamin Ribeiro da Silva, presidente do sindicato, além da crise, o aumento do desemprego fez a inadimplência subir. O QUE FAZER A orientação é que os pais procurem as escolas para negociar. Essa também é a recomendação de Maria Inês Dolci, coordenadora institucional da Proteste. Os pais não podem ser incluídos em listas de cadastro negativo –ou seja, se forem procurar vagas em outras escolas, estas não podem exigir atestado de quitação da instituição anterior. A escola anterior também não pode reter documentos que impeçam o aluno de ser transferido. Dolci lembra que a instituição não pode impedir o aluno de participar das atividades escolares e ele não pode sofrer constrangimentos por causa da dívida. Para Fátima Lemos, assessora técnica do Procon-SP, a escola tem, porém, a opção de não renovar a matrícula. FOLHA DE SÃO PAULO 13/09/15 COTIDIANO Unesp vai monitorar nota de aluno para evitar abusos Universidade constatou ligação entre queda de rendimento e uso de álcool Especialista defende a medida; mães estão de acordo, mas pedem que escola invista mais em conscientização ESTÊVÃO BERTONI DE SÃO PAULO A partir do próximo semestre, os mais de 37 mil alunos da Unesp passarão por uma malha fina. O sistema que armazena as notas dos estudantes irá alertar coordenadores dos 134 cursos sobre quedas de rendimento acadêmico. O monitoramento é parte de um pacote de medidas que a reitoria adotou para inibir casos de violência e abuso. A ideia surgiu, segundo a vicereitora da Unesp, Marilza Rudge, depois que uma sindicância constatou que os alunos hospitalizados em fevereiro deste ano após uma competição com vodca em Bauru (a 329 km de São Paulo) já registravam queda no desempenho acadêmico. Na ocasião, o estudante de engenharia elétrica Humberto Moura Fonseca, 23, morreu intoxicado após ingerir mais de 25 doses da bebida. Outros seis foram internados. "Um desses meninos era excelente no primeiro ano, mas foi caindo progressivamente de rendimento até ficar muito fraco", diz Rudge. Por isso, a universidade, que não divulga as notas dos estudantes envolvidos no caso, criou uma ferramenta para reconhecer as oscilações. Quando avisados, os coordenadores terão de identificar a origem do problema. "No geral, quando um estudante se envolve com álcool, ele perde o interesse no curso. A ideia é detectar antes um evento drástico como o de Bauru", conta o professor de engenharia elétrica Laurence Colvara, pró-reitor de graduação da Unesp. Se o problema for o álcool, o aluno será aconselhado a procurar ajuda em serviços da própria universidade. Para o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, professor associado da USP e titular da Faculdade de Medicina do ABC, a iniciativa é "inteligente" e "ousada", mas, por si só, não é suficiente. "Na universidade, muitos estudantes se envolvem com diversas novidades, como o álcool. E há situações em que o grupo promove festas com consumo 13/09/15 intenso de bebida. Para quem tem alguma ansiedade, frustração ou não está bem no curso, o álcool serve como uma muleta", afirma. deveria conscientizar os estudantes sobre os riscos das festas, para que tivessem receio e cuidado com o álcool. Ele defende maior ingerência das universidades sobre as festas. "Não é só o estudante com o rendimento ruim que vai buscar no álcool uma escapada para as angústias." "Muitas tragédias já aconteceram, não foi só a com o meu filho, e as universidades não conseguem acabar com esses abusos", afirma. 'RISCOS DAS FESTAS' A professora de enfermagem Josely Pinto de Moura, mãe de Humberto, diz que o filho estava se saindo bem na faculdade, não costumava ir a grandes festas e foi levado a beber pela "força do grupo". Mesmo assim, ela diz achar a proposta válida. "O fato de o professor ser alertado é importante para ele ver o que está acontecendo com o aluno." Para Josely, a universidade A bibliotecária Fátima Alves, mãe da aluna Gabriela Alves, que foi internada após a competição, diz que sua filha também não teve problemas com os estudos. Ela defende um trabalho de conscientização que envolva todo o ambiente acadêmico. "O problema não é só do aluno, é de toda a universidade." A Unesp diz ter organizado oficinas virtuais e workshops sobre álcool e drogas, além de ter capacitado os vice-diretores das unidades para lidar com casos de abusos. O ESTADO DE S. PAULO 13/09/15 POLÍTICA Planalto paralisa mote do 2º mandato RAFAEL MORAES MOURA O ESTADO DE S. PAULO 'Pátria Educadora’, lema da nova gestão de Dilma, permanece engavetado em meio a disputa política e perde espaço para plano nacional do MEC Brasília - O Palácio do Planalto decidiu manter engavetado o projeto “Pátria Educadora”, mote do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, que até hoje não saiu do papel. O plano, lançado no discurso de posse da presidente, foi elaborado pelo ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Mangabeira Unger, e prevê metas na área educacional. Mas uma disputa de protagonismo político entre Mangabeira e o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, na prática inviabilizou sua implementação. O governo decidiu que o Plano Nacional de Educação (PNE) será a principal bandeira na área de ensino, esvaziando as investidas de Mangabeira na área. Diante disso, o titular da SAE cogita pedir desoneração do cargo porque, além de ver o “Pátria Educadora” enfraquecido, sua pasta deve perder em breve o status de ministério na reforma administrativa. O “rebaixamento” do programa da SAE envolveu um cálculo político do governo. Seguindo orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma definiu que o PNE, de fato, continuará sendo a principal bandeira do governo na área educacional. O gesto, ao mesmo tempo, prestigia Janine Ribeiro, contém a ambição de Mangabeira de avançar sobre temas educacionais e atende aos movimentos sociais ligados ao PT – que rejeitavam ter uma figura filiada ao PMDB e próxima ao vice-presidente Michel Temer à frente de um plano na área. A base educacional petista defende uma destinação de 10% do PIB para a educação em dez anos – uma das metas mais ambiciosas do PNE. Atualmente, o investimento em educação é de 6,2%. Bastidores. A queda de braço entre a SAE e a equipe do Ministério da Educação (MEC) teve início quando a presidente pediu a Mangabeira um “plano de concepção” envolvendo o lema do governo. O andamento do projeto, porém, desagradou ao governo. “Autoritário” e “megalomaníaco” são alguns dos adjetivos usados pela cúpula do Planalto para descrever a atuação de Mangabeira à frente da pasta. A avaliação é de que Mangabeira tentou se cacifar para assumir o MEC, após a saída de Cid Gomes (PDT). 13/09/15 Os problemas se agravaram quando o peemedebista decidiu incluir no plano uma proposta de diretrizes curriculares para a Base Nacional Comum da Educação, que define o que se espera que alunos aprendam em cada etapa da educação básica. Para auxiliares da presidente, Mangabeira extrapolou as suas funções, ao atropelar uma discussão que já ocorria no âmbito do MEC. “Quem apresenta proposta de educação é o MEC. Será o ministro da Educação quem apresentará qualquer proposta de educação”, disse um ministro sob a condição de anonimato. mesmo por auxiliares diretos da presidente Dilma Rousseff. “Isso é sinal de que não tem programa algum para a educação, não é?”, ironizou um outro ministro. Em meio a especulações sobre o destino da SAE, que deve ser incorporada ao Ministério do Planejamento, o futuro do “Pátria Educadora” é desconhecido até Considerado a Carta Magna da educação, o PNE, sancionado sem vetos pela presidente em junho de 2014, estabelece as diretrizes das políticas públicas na área para os Reação. Em resposta ao Estado, Renato Janine Ribeiro disse que a contribuição de Mangabeira Unger é “importante como todas as outras”. “A educação é sim prioritária na pátria educadora. A ideia é que existe educação na parte do MEC, que está substanciada no Plano Nacional da Educação, mas há inúmeros outros aspectos que também são educação.” próximos dez anos. Entre as metas estão a erradicação do analfabetismo, a oferta de educação em tempo integral em no mínimo 50% das escolas públicas e a elevação de pós-graduandos de modo a atingir a titulação anual de 60 mil mestres e 25 mil doutores. Já as propostas do plano de Mangabeira, estão vinculadas a quatro campos: a organização da cooperação federativa na educação; a reorientação do currículo e da maneira de ensinar e de aprender; a qualificação de diretores e de professores e o aproveitamento de novas tecnologias. Procurado pela reportagem, o ministro Mangabeira Unger não se manifestou. CORREIO BRAZILIENSE 13/09/15 OPINIÃO O ajuste fiscal do Estado elefante » SACHA CALMON Advogado, coordenador da especialização em direito tributário das Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e da UFRJ A jogada pueril do irrecuperável ministro do Planejamento de encostar na parede o Congresso Nacional, enviando-lhe o orçamento de 2016 com um rombo de R$ 30 milhões, produziu dois resultados. O primeiro, a repulsa do Congresso em assumir o ônus de colmatar a lacuna. O segundo, o rebaixamento de dois graus da agência de risco Standard & Poors, pondo-nos no nível especulativo. Quem aplicar fica ciente de que corre risco, implicando remuneração mais robusta (juros maiores). O fato mostra quão bisonha é a equipe palaciana e a ignorância do ministro de Planejamento, membro do governo até 2013 e, portanto, contaminado pela incompetência governativa do PT. Agora, a nação começa a debater em profundidade o que fazer para cobrir o buraco orçamentário. A presidente disse que não há mais o que cortar. O ministro Levy cogita aumentar impostos. O Congresso recusa-se a fazê-lo. O povo repudia o aumento da carga tributária, hoje em torno de 36% do PIB em processo de encolhimento (recessão). O ministro Levy, ao regressar do G20, na Turquia, declarou que o IR das pessoas físicas é dos mais baixos do mundo. Não está correto. Primeiro, porque os países desenvolvidos têm renda per capita entre 4 a 6 vezes maior do que a brasileira — cerca de 11 mil dólares. Em segundo lugar, porque são países de grande igualdade social (maior base tributável). Em terceiro lugar, porque, entre eles, os retornos em educação, saúde, segurança e mobilidade urbana são infinitamente melhores, justificando alíquotas de até 45% em uns poucos países. Quanto aos países em desenvolvimento, os Brics e as nações americanas, o nosso imposto de renda das pessoas físicas é o maior de todos. Comparados aos níveis de renda dos EUA, o nosso é 10% maior. Uma pessoa lá com renda contada em dólares equivalentes a reais paga a alíquota mínima; aqui, paga a máxima, só para exemplificar. Passemos aos impostos cobrados sobre as vendas e os faturamentos das empresas, mas repassados ao consumo de bens e serviços adquiridos pelo povo em geral, os impropriamente chamados impostos indiretos, e que encarecem substancialmente os bens e serviços vendáveis. A situação aqui é ainda pior. Lá fora, variam de 8% a 21%. Aqui, não será exagero dizer que, na média, perfazem 42% dos preços praticados. Se a pessoa compra, digamos, um par de sapatos, certamente uns 40% do preço são impostos (IPI, ICMS, PIS, Cofins, ISS, taxas et caterva). A sociedade brasileira já está, inclusive as famílias mais modestas, altamente tributada. Mais que isso, o contrato de trabalho formal quase dobra a remuneração do trabalhador. A burocracia fiscal para vender, contratar, importar e exportar impõe um mundo de obrigações acessórias (custo brasil tributário). Finalmente, em quadra recessiva, qualquer aumento de impostos gera uma das duas consequências ou mesmo as duas a um só tempo: diminui o poder de compra da população e aumenta o custo dos bens e serviços (o tributo assim como os salários são custos). Assim sendo, resta ao governo central cortar os próprios gastos (viagens, cartões corporativos, gratificações), reduzir em 80% os cargos em comissão, extinguir pelo menos 20 ministérios. Depois disso, vender ativos do governo, como prédios inúteis (e das estatais). E privatizar o que puder (portos, aeroportos, ferrovias, estradas, usinas elétricas só para exemplificar). Vale a pena trazer o dinheiro que esta lá fora sem cobrar imposto algum. Basta pagar 13/09/15 15% do valor repatriado. Do modo como estão desenhados os ônus do reingresso, o programa será um fracasso. Quem precisa de recursos deve fazer concessões. No Orçamento de 2016, o governo dispõe de R$ 215 bilhões de despesas discricionárias, ou seja, não obrigatórias. Então, que diminua o valor das BolsasFamília, reduza o Minha Casa, Minha Vida,” o Pronatec, o Fies, em 40%. Se fizer isso o governo não apenas cobre o rombo de 30 bilhões como faz um superavit primário ainda que pequeno, queira ou não o PT é o Sr Barbosão. O povo deve sair as ruas e obrigar Dilma a largar a indecisão que a paralisa. Não ao aumento da carga tributária e sim à redução do Estado-elefante. A presidente precisa saber que o povo brasileiro se dispõe a ajudar, desde que a verdade seja-lhe dita. Foi por mentir que a sua aprovação veio ao rés do chão. A situação é gravíssima, a exigir sacrifícios. O governo deve dar o exemplo e cortar na carne. O Brasil está acima da presidencial popularidade. Chegou a hora da “mea-culpa” e da verdade. Resta saber se a Chefe de Estado está à altura de suas responsabilidades. Pode até doer olhar para o chão e ver a própria ideologia lá jogada como um traste velho, mas é a solução, caso contrário, o poder lhe sairá das mãos. Quem criou o problema o resolve ou então renuncia. CORREIO BRAZILIENSE 13/09/15 CIDADES EDUCAÇÃO » Enem para estudar em Portugal O Instituto Politécnico do Porto se une a outras quatro instituições portuguesas e passa a aceitar nota do Exame Nacional do Ensino Médio para ingresso de alunos brasileiros. Se aprovado, estudante desembolsará mensalidade média de R$ 900 » Isabela Bonfim Especial para o Correio Estudantes do IPP na biblioteca da instituição, no Porto Boas notícias para quem deseja fazer faculdade em Portugal. O Instituto Politécnico do Porto (IPP) é a quinta instituição daquele país (veja quadro) a aceitar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como prova de ingresso para alunos brasileiros na graduação. O acordo foi firmado com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), na última semana, e os alunos já podem se inscrever na seleção, que começa em 25 de setembro. Para a inscrição, o candidato deve submeter o resultado do Enem realizado a partir de 2010. O aluno brasileiro que deseja concorrer a uma vaga no IPP participa do concurso especial para estudantes internacionais. Este ano, serão oferecidas 274 vagas. As inscrições se encerram em 10 de outubro — 15 dias antes das provas do Enem 2015. Por essa razão, o instituto negocia a realização de outra fase, com data mais adequada para aqueles que ainda não fizeram o exame. Não se trata de intercâmbio; os aprovados vão poder cursar toda a faculdade na instituição portuguesa. Na avaliação do presidente do Inep, Chico Soares, este é mais um passo na expansão do Enem. “O exame, que proporciona muitos acessos à educação superior no Brasil, aos poucos, também está abrindo boas oportunidades de estudo em Portugal.” Para Carlos Ramos, vice-presidente do IPP, o uso dos resultados do Enem vai facilitar a seleção de alunos brasileiros. “O exame permite fazer um melhor acompanhamento da trajetória desses estudantes. O IPP tem o Brasil como prioridade no seu projeto de internacionalização, daí que seja importantíssimo esse acordo com o Inep.” Anna Luiza Espindola, 21 anos, estuda gestão da tecnologia da informação e acabou de voltar do intercâmbio para o IPP. Ela conseguiu a vaga por meio de um acordo de cooperação entre o instituto português e a instituição em que estuda no Brasil. Antes de ser aceita, ela participou de duas seleções e concorda que o uso do Enem vai facilitar o ingresso de alunos brasileiros. “A candidatura na faculdade lá fora é diferente. Por isso, o Enem é um ótimo indicador do desempenho do aluno no ensino médio”, avalia. O IPP é a maior instituição politécnica de Portugal e conta com 18.500 estudantes distribuídos nas cidades do Porto, Matosinhos, Póvoa de Varzim, Vila do Conde, Vila Nova de Gaia e Felgueiras. É composto de sete escolas, nas quais são ministrados cursos superiores nas áreas de engenharia, contabilidade, administração, turismo, estudos industriais, tecnologia, educação, música, artes cênicas e saúde. Apesar de ser uma instituição pública, o ensino em Portugal não é gratuito, como no Brasil. Os estudantes brasileiros devem desembolsar uma taxa anual entre • 1.500 e 2.250 euros, de acordo com a área de conhecimento. Com as recorrentes altas do euro, a mensalidade estaria próxima a R$ 900. Para Anna, o valor é caro. “A taxa para estrangeiros está alta, por isso a decisão deve levar em conta 13/09/15 o quanto a pessoa quer investir no ensino.” Mas ela também cita algumas vantagens. “A biblioteca é atualizada, tem ótima infraestrutura e tive contato com alunos de outros lugares do mundo, o que não é comum aqui.” Leandro Turon, 22, estuda administração e também teve oportunidade de fazer intercâmbio no IPP. Para ele, o que mais chamou a atenção foi a existência de aulas ministradas em inglês. “Realizei uma disciplina chamada inglês aplicado à contabilidade e foi muito enriquecedora, porque treinamos o vocabulário para situações específicas da nossa carreira.” Ele indica o instituto, principalmente, para os alunos com intensão de construir uma carreira internacional. “O IPP dará uma ótima formação e diversas oportunidades de crescimento, inclusive de fazer intercâmbio em outros países da Europa.” Programe-se Confira as instituições que aceitam o Enem em Portugal Universidade de Coimbra Universidade de Algarve Instituto Politécnico de Leiria (IPL) Instituto Politécnico de Beja (IPBeja) Instituto Politécnico do Porto (IPP) Matrículas no IPP Período: 25 de setembro a 10 de outubro Site: www.ipp.pt Anuidade: 1.500 a 2.250 euros CORREIO BRAZILIENSE 13/09/15 CIDADES Festa para reforçar os laços afetivos » Camila de Magalhães Pais, avós, tios e crianças aproveitaram a Festa da Família, ontem Não há um jeito certo para ser família, cada uma tem a sua forma, e o que vale é o amor. Foi com essa mensagem que o Centro Olímpico e Paralímpico de Riacho Fundo I recebeu na manhã de ontem centenas de pessoas num momento pensado para estreitar os laços afetivos e incentivar o bemestar e a qualidade de vida, a Festa da Família. O evento, que será realizado hoje na unidade de Samambaia e no próximo fim de semana em Ceilândia (Parque da Vaquejada) e São Sebastião, foi uma ideia da Fundação Assis Chateaubriand para trazer aos Centros Olímpicos pessoas importantes na vida dos alunos. A iniciativa é feita em conjunto com a Secretaria do Esporte e Lazer do Distrito Federal. A programação teve jogos de futebol, corrida de revezamento, aulão de hidroginástica, oficinas de pipa, dobradura de papel e pintura. Ao final, houve um piquenique. Na avaliação da assistente social da Fundação Assis Chateaubriand Cleide de Vasconcelos Lima, são inúmeros os benefícios de aproximar os entes queridos no dia a dia de crianças e jovens. “Muitas famílias hoje estão perdendo o vínculo por não conviverem tanto. Esse contato é muito importante para a socialização e a construção de valores. Só com educação teremos um futuro melhor para as nossas crianças.” Para João Eustáquio Barros, representante da Secretaria do Esporte e Lazer do DF, esse resgate de valores é muito válido num ambiente esportivo. “Você vê o interesse das pessoas em se aproximar. É gratificante saber que se está fazendo a diferença na vida delas, prevalecendo a família e o esporte”, ressaltou. CORREIO BRAZILIENSE CORREIO VALORIZA PROJETO EDUCACIONAL O Correio Braziliense busca valorizar e retratar em suas reportagens a importância de um ensino de excelência desde a primeira infância. Para abordar o tema com mais profundidade, o jornal apresenta o Projeto Correio Escola. A ideia é unir à Agenda da Educação, coluna mensal que aborda as principais notícias do ensino no DF, os tradicionais suplementos educacionais do Correio: Escolha a escola do seu filho e Volta às aulas. O primeiro suplemento do Projeto Correio Escola será veiculado em 3 de outubro e promete auxiliar os pais na escolha do colégio dos filhos. O caderno abordará os critérios, os cuidados na hora de fechar o contrato, itens de segurança e outros pontos importantes para a matrícula. Vale lembrar que esta é uma excelente oportunidade para anunciantes e agências participarem dos projetos, expondo marcas e produtos para um público qualificado. O segundo suplemento, que trata da volta às aulas, está previsto para janeiro de 2016. 13/09/15 CIDADES - MARCAS & NEGÓCIOS Canal on-line Também haverá a ampliação para a plataforma web por meio de um canal disponibilizado no Eu, Estudante, um dos mais completos sites de educação da capital. O canal, que terá destaque na home da página, estará em vigência entre outubro de 2015 e janeiro de 2016, com reportagens, dicas, informações e conteúdos. Pensando em facilitar a identificação dos produtos do projeto, todos os suplementos e postagens relacionados serão acompanhados de um selo especial, criado pela Editoria de Arte. Trata-se de mais uma iniciativa do Correio direcionada para o DF. Dar importância à educação é valorizar o futuro do país e, por meio de iniciativas como o Projeto Correio Escola, o jornal busca contribuir com as discussões, promovendo o debate de temas importantes. O GLOBO 12/09/15 O PAÍS 'Economia evoluiu de maneira imprevisível', diz defesa de Dilma Governo alega ao TCU que repetiu expediente usado desde 2001 Evandro Éboli BRASÍLIA O governo entregou ontem ao Tribunal de Contas da União (TCU) mais mil páginas de defesa no processo sobre supostas irregularidades nas contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff. Ao apresentar o material, o ministro da Advocacia Geral da União (TCU), Luis Inácio Adams, disse que o governo não tinha como prever a crise econômica que o país enfrenta. - O que gerou a realidade não foi uma decisão governamental, mas uma realidade econômica, um elemento exógeno. O governo procurou construir soluções de reduzir despesas. Tiveram decisões difíceis que alcançaram programas sociais. Agora, a realidade econômica evoluiu de uma maneira imprevisível para todos os analistas - disse Adams. "Não há violação da LRF" Segundo ele, "ninguém projetava um impacto na redução de commodities, de aumento do dólar, de mudança no quadro econômico do jeito que aconteceu no final de 2014". - Foi essa realidade que gerou a necessidade de mudança de meta que foi acatada pelo Congresso, e em 31 de dezembro o governo atendeu à lei - disse o advogadogeral, numa referência à aprovação pelo Congresso do projeto enviado pelo governo que derrubou a meta fiscal para 2014. Um dos principais argumentos da defesa da presidente é dizer que o governo não inovou ao autorizar gastos antes da aprovação do Congresso. Segundo a AGU, a prática já tinha ocorrido no passado, e foi reconhecida pelo TCU e aprovada também pelo Congresso. A AGU citou como exemplo a repetição desse expediente em 2001, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando, segundo a defesa, foram baixados cerca de cem decretos de concessão de créditos sem prévia aprovação do Congresso. - Não há violação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). Em 2001, o governo adotou mais de cem decretos de mudanças de abertura de crédito. O governo (Dilma) reproduziu prática que vinha sendo admitida pelo TCU, e que foi aprovada pelo Congresso. Não há como dizer que há violação. Há uma jurisprudência. Não foi irregular naquela época, por que seria agora? - questionou Adams. O prazo para apresentar a defesa do governo terminou ontem. Somados aos 13 pontos questionados pelo TCU que envolvem as "pedaladas fiscais", são 15 os itens que exigiram a defesa do governo no TCU. Adams rebateu argumento do MP junto ao TCU de que o governo exorbitou nos gastos num ano eleitoral. E deu como exemplo cortes feitos no programa Bolsa Família em 2014. - A acusação do procurador de que foram operações realizadas com fins eleitorais não procedem pelo seguinte exemplo. O governo adotou várias medidas de contenção na área social. A mais significativa foi a revisão cadastral do Bolsa Família, que retirou mais de dois milhões de famílias do programa. Uma economia de mais de R$ 5 bilhões. Em pleno processo eleitoral disse o ministro. A defesa de Dilma, no calhamaço entregue ontem ao TCU, citou a questão da segurança jurídica e insinuou que pode recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso as contas sejam rejeitadas. "Constata-se, assim, que, caso o TCU adote, em relação ao exercício de 2014, posicionamento diverso do adotado em exercícios passados, estará indo de encontro com os 12/09/15 postulados da segurança jurídica, da boa-fé objetiva e da proteção da confiança, enquanto expressões do Estado Democrático de Direito, na medida em que, como já externado nestes autos à Corte de Contas, interfere diretamente na certeza do direito e na estabilidade das relações jurídicas." O documento com a defesa foi entregue por Adams ao presidente do TCU, Aroldo Cedraz, e ao relator das contas de Dilma, Augusto Nardes. O relator disse não ter ainda prazo para levar as contas ao plenário. Sobre eventual risco de impeachment de Dilma caso suas contas sejam rejeitas pelo TCU, Adams diz não ver cabimento nessa possibilidade. - Não tem cabimento essa pretensão por parte de alguns atores políticos. Não é sustentável juridicamente. O GLOBO 12/09/15 SOCIEDADE Uma base para o ensino Ministro diz que documento com orientações para escolas apostará na regionalização RAPHAEL KAPA Interdisciplinar e com muita regionalização. Foram estas as primeiras pistas que o ministro da Educação, Renato Janine Ribeiro, revelou sobre o rascunho da Base Nacional Comum (BNC), documento com orientações curriculares para as 190 mil escolas brasileiras. O esboço do governo deverá ser enviado no próximo dia 16 ao Conselho Nacional de Educação (CNE). Ele abordou o assunto durante sua palestra, ontem, no encontro Educação 360, realizado pelos jornais OGLOBO e "Extra", em parceria com a prefeitura do Rio e o Sesc, e com apoio da TV Globo e do Canal Futura. — A Base Nacional Comum vai fortalecer a estrutura de componentes curriculares. Quando o professor de geografia abordar bacias hidrográficas, por exemplo, poderá relacionar com sertão, que poderá ser utilizado pelo professor de literatura ao trabalhar o livro "Vidas Secas" — exemplificou Janine, no auditório da Escola Sesc do Ensino Médio, em Jacarepaguá. O objetivo do documento é determinar, pela primeira vez, de forma clara e precisa, o que se espera que o aluno aprenda em cada nível de ensino. Estima-se que essa base representará algo em torno de 60% do conteúdo que as escolas deverão passar aos estudantes . Hoje, o ministério estipula apenas parâmetros de ensino. A regionalização terá um papel importante no documento . — Há certas disciplinas que talvez tenham mais de 60% de conteúdos específicos . É, provavelmente , o caso da matemática. Já compreendemos isso. Mas, com certeza, história, geografia, português e biologia devem valorizar os conteúdos regionais — disse Janine. Ao ser questionado se o Enem, exame anual e nacional de acesso ao ensino superior , seria modificado por conta das alterações previstas na Base Nacional Comum, Janine afirmou que é cedo para dizer: — O Enem pode ser mudado. Ele é um exame que serve muito bem para o que queremos e tem um resultado muito bom, mas pode ser mudado. Isso é um processo. Só pode ser feito depois desse primeiro passo, que é a Base Nacional Comum. O ministro também demonstrou que estas mudanças podem impactar o Ensino Médio, principal gargalo da educação pública. — Estamos estudando itinerários mais personalizados, mas isso deve ser feito com cuidado porque o aluno tem que ter um básico. Ele tem que sair do Ensino Médio com a certeza de que vai alcançar um certo patamar . A interdisciplinaridade e regionalização previstas foram consideradas um avanço pela secretária municipal de Educação do Rio, Helena Bonemy. — Só de ter uma Base Nacional Comum já é um avanço. Acho que fomos modelo porque o Rio já tem um currículo formado com base nas diretrizes curriculares do MEC. Ter um olhar voltado para regionalização é muito importante porque é no local que acontecem as coisas, e com a interdisciplinaridade podemos interpretar melhor. Ernesto Vogel, professor de Educação da UnB, que acompanhou a conferência de Janine, também elogiou o projeto. —É muito importante que se deixe claro o que cada aluno ter á de habilidades e competências quando sair de um determinado segmento. Isto é uma escolha, também, política. Por isso, a fala do ministro , mostrando que haverá in ter disciplinaridade , é esperada e importante . Já ele ter dito que busca a regionalização mostra um posicionamento que rompe com a atual centralização — afirmou. A necessidade da valorização da educação também foi uma preocupação demonstrada por Janine, que comparou como os efeitos do ensino são difíceis de 12/09/15 serem vistos, se comparados com os de outras áreas, como a de saúde: —Enquanto uma pessoa tem plena noção de que está doente , ninguém tem sintoma de que está ignorante . Não dói no pé. Ninguém vai conversar com professores para dizer que está passando mal por burrice. Além disso, a cada geração se sabe mais . Os nossos filhos sabem mais do que nós todos. No final, somos todos ignorantes em alguma coisa. O problema é não saber qual é nossa ignorância. FALTA DE COMPROMETIMENTO DE ALUNOS Outro tema abordado durante a conferência foi a desigualdade social e a necessidade que estudantes de instituições públicas valorizem aquilo que a sociedade proporcionou a eles: — Temos estudantes que se beneficiam de um ensino superior público e gratuito e não se sentem comprometidos com a sociedade. Dessa forma, não tem retorno para a sociedade. Nos Estados Unidos, não é assim, não. Para entrar em Harvard, é valorizado se o aluno faz trabalho social. Durante a palestra, que teve um momento dedicado a perguntas mediadas pelo colunista Antônio Gois, Janine reforçou a importância da ética. Professor titular desta respectiva cadeira na Universidade de São Paulo, o ministro disse que a ética deverá ser incluída na formação educacional. O GLOBO 12/09/15 SOCIEDADE ‘Pensar e resolver problemas não é mais suficiente’, diz educadora finlandesa EDUARDO VANINI Referência em ensino, país propõe foco em criatividade e multidisciplinaridade Referência no mundo inteiro por seu modelo educacional, a Finlândia se prepara para uma série de mudanças profundas em seu sistema escolar. Pode soar estranho para uma nação que há anos aparece bem em avaliações internacionais — já ocupou a primeira posição no ranking dos 65 países avaliados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) diversas vezes —, mas a coordenadora de educação de Helsinque, a capital do país, Marjo Kyllönen, veio ao Brasil mostrar que em time que está ganhando se mexe, sim. Horizonte. Marjo Kyllönen na palestra: ‘Estamos olhando para o futuro’ — Estamos olhando para o futuro, tentando descobrir quais são as novas competências necessárias. Estamos no limite de uma era, e isso está alterando nossos procedimentos — disse ela, na conferência que abriu a edição deste ano do seminário internacional Educação 360. INCENTIVO À COLABORAÇÃO À frente do projeto "Escola do Futuro", que propõe uma restruturação do ensino pautada em conceitos como multidisciplinaridade e protagonismo dos alunos, já adotados em algumas escolas de Helsinque, Marjo apresentou algumas das novas competências que serão reforçadas no país. É o caso da colaboração, que incentiva os estudantes a serem socialmente mais responsáveis pelos outros, e do pensamento crítico, cujo mote é capacitá-los para lidar com a variedade de informações. — Pensar e resolver problemas não é mais suficiente. Hoje, qualquer pessoa pode acessar e mudar uma informação. E ainda agimos com se o professor guardasse o cálice sagrado do conhecimento — criticou. A educadora contou que há um grande foco na criatividade, com crianças e jovens sendo encorajados a pensar diferente, e na transdisciplinaridade, mas sem negligenciar o conteúdo de matérias tradicionais: — Tudo isso faz com que a gente reescreva a narrativa das nossas escolas. Os alunos precisam saber como aquilo que aprendem está conectado com sua vida cotidiana. Para alcançar essa nova concepção de ensino, o país tem mobilizado pais, professores e alunos para refletirem sobre a nova cultura das escolas. E isso trouxe à tona várias demandas das novas gerações, como estudar em ambientes externos, ter contato com atividades práticas e fazer uso intenso da tecnologia. Chegar a esse ideal exige que os professores saiam da zona de conforto, o que pode assustar. Por isso, as ideias vêm sendo implementadas aos poucos no país: — Introduzimos, por exemplo, o projeto escola pop-up, em que pais ou alunos ensinam algum talento. Essa inversão de papéis foi muito interessante ao proporcionar um rompimento com a forma tradicional de ensinar. Os resultados têm sido animadores. Marjo garante que quem experimenta essa nova “narrativa”, não quer voltar atrás: — Queremos ser um país onde todos amam aprender. Acho que em dois anos isso será realidade. O GLOBO 12/09/15 SOCIEDADE Novos papéis para a escola moderna ANA CAROLINA SOUZA* Especialistas discutiram as competências socioemocionais necessárias para o século XXI Nota alta em português, matemática, geografia... Mas quem disse que isso garante um futuro promissor ao aluno? Ontem, no encontro internacional Educação 360, uma realização O GLOBO e “Extra”, em parceria com a prefeitura do Rio e o Sesc, e com apoio da TV Globo e do Canal Futura, a função da escola na vida dos estudantes no século XXI foi tema da mesa de debate “Novos alunos, velhos alunos? E o papel das competências socioemocionais”, com Mozart Ramos Neves, atual diretor de Articulação e Inovação do Instituto Ayrton Senna e secretário de Educação de Pernambuco entre 2004 e 2006, e Luiz Carlos de Freitas, professor da Faculdade de Educação da Unicamp e autor de sete livros, com mediação do jornalista Antônio Gois, colunista do jornal “O Globo” especializado em Educação. Mesa plenária. Debate sobre a mudança no perfil do aluno reuniu Mozart Neves e Luiz Carlos de Freitas com mediação do jornalista Antônio Gois Cada convidado teve 20 minutos para manifestar suas ideias. Freitas começou propondo uma mudança: — Vamos pensar em velhos alunos, novos estudantes. Pode parecer bobagem, mas não é. É fundamental entender que temos um novo aluno em uma velha escola, que não muda sua estrutura, sua organização, sua gestão, seus métodos de aprender e de ensinar. Para Freitas, as novas formas de comunicação quebram o monopólio da escola. Se antes a única porta de entrada do aluno para a vida era o professor, hoje as coisas estão bem diferentes. — Escola não é um prédio. É uma relação. Temos que olhar para a escola e para as relações que têm ali dentro indagando quais são as velhas funções da escola que nós queremos que ela pare de cumprir e quais são as novas funções sociais que queremos que ela apresente — propôs. A ligação de exclusão e subordinação entre aluno e professor, segundo ele, já não funciona mais. E também não adianta encher de tecnologia porque o jovem continuará isolado. — O professor tem que seguir protocolos de ensino, usar apostilas, jogos, dvds... As coisas estão definidas. Viram para ele e dizem: “É isso que você tem que fazer”. Esses protocolos têm suas funções, é claro, causam a paralisia do professor. Mozart reconheceu que o tema da mesa de debate é relativamente novo e usou como exemplo o Colégio Estadual Chico Anysio (Ceca), uma escola pública de referência na qual está sendo desenvolvida uma proposta curricular inovadora, criada pelo Instituto Ayrton Senna para o ensino médio em tempo integral. Segundo o professor, o Ceca vem apresentando resultados superiores a outros colégios da rede pública na prova estadual Saerjinho (processo de avaliação bimestral do processo de ensino e aprendizagem nas escolas). — O desafio hoje é como oferecer uma escola que caiba na vida do aluno. As crianças e jovens do século XXI merecem uma educação do século XXI — afirmou ele, que criticou o excesso de exercícios em sala, repetições e testes: — Eles podem até apresentar bons resultados, mas não é o que o aluno precisa para a vida — acredita. Para Mozart, essa nova visão para a escola não implica em deixar de lado as habilidades cognitivas, mas investir nas chamadas habilidades socioemocionais. Ou melhor: habilidades para a vida. — Estudos mostram que quando essas habilidades são potencializadas no projeto pedagógico, há melhoria da aprendizagem, do clima de paz nas escolas e do desenvolvimento futuro de nossas crianças em termos pessoais e sociais — explica. O GLOBO 12/09/15 SOCIEDADE Desinteresse dos jovens é mito Lendas e fatos sobre o ensino foram apresentados e debatidos na mesa especial da TV Globo “Escola púbica é de pobre”, “o jovem não dá valor à educação” e “as novas tecnologias atrapalham os estudos”. A mesa especial da TV Globo “Educação: mitos e fatos” foi dedicada a destrinchar essas ideias. Mediados pelo jornalista e apresentador Pedro Bial, a diretora de escola da rede municipal carioca Eliane Ferreira, o jornalista e escritor Fernando Gabeira, o integrante do coletivo Educ-ação André Gravatá, e o professor da UFF e fundador do observatório das favelas, Jailson de Souza e Silva discutiram por cerca de uma hora sobre temas como ensino público, tecnologia e o possível desinteresse dos jovens pela escola, apontado por várias pessoas em vídeo exibido no telão — ideia prontamente combatida pelos participantes. — Constatar que isso é verdade seria um desastre — afirmou Eliane. Para Gravatá, cabe à escola se questionar se está interessada nos jovens: — Muitas vezes, a escola é colocada como uma estrutura pronta diante do jovem, na qual ele tem que entrar. Mas não reflete sobre as necessidades e interesses dele. Já Gabeira rebateu as dúvidas sobre tecnologia: — A tecnologia nos permite avançar muito, só será prejudicial se acharmos que é a única saída para os problemas. O GLOBO 12/09/15 SOCIEDADE Inovação e transformação à vista Projeto do MEC vai mapear e ampliar iniciativas criativas em território nacional Como implementar a tão sonhada inovação? Para Helena Singer, assessora especial do ministro da Educação Renato Janine Ribeiro, e Cesar Nunes, pesquisador da Unicamp e especialista em desenvolvimento e avaliação da criatividade, a receita tem ingredientes como discussão e construção coletiva, autonomia para a comunidade acadêmica, e vontade real de pôr novas técnicas em prática. Para agilizar essa transformação, a educadora conta com um projeto lançado na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC) e do qual Helena é uma das coordenadoras. O “Inovação e Criatividade na Educação Básica” pretende mapear iniciativas inovadoras no Brasil e ampliar seu impacto no território nacional. A tarefa, porém, não é simples. De acordo com Cesar Nunes, é preciso ter vontade real de implementar mudanças: — Se queremos criatividade, temos de abrir espaço para que as atividades sejam criativas. E saber que vai levar tempo. Inovação e criatividade sim, mas com conteúdos regulares, segundo Helena. — Uma instituição inovadora e criativa deve fornecer instrumentos para o aluno enfrentar o Enem. Mas, de forma nenhuma, a preparação para uma prova deve levar 14 anos — criticou. O ESTADO DE S. PAULO 12/09/15 ECONOMIA Empresas de educação devem assumir risco de crédito para compensar Fies 12/09/15 CORREIO BRAZILIENSE 12/09/15 ECONOMIA CONSUMIDOR » Calote nas escolas chega a 19% Número de famílias que não conseguem pagar mensalidades dispara por causa da crise econômica e da alta dos preços CELIA PERRONE A inadimplência nas escolas particulares avançou de forma expressiva em 2015. No ano passado, 8% das famílias não conseguiam pagar as mensalidades escolares. Em agosto último, esse número passou para 19%. É o que aponta o Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC). O dado faz parte de uma pesquisa maior, que mostra que caiu 5,9%, no mês passado, ante julho, a quantidade de pessoas que conseguiram sair do cadastro negativo. Os motivos desse cenário preocupante são a recessão, o aumento do desemprego, a inflação alta e os salários defasados. O advogado Luís Cláudio Megiorin, presidente da Associação de Pais e Alunos do Distrito Federal (ASPA- DF), aponta outra razão para o aumento da inadimplência. “Os reajustes são abusivos”, disse ele. “Ultrapassaram 50% nos últimos cinco anos. A margem de lucro das escolas no país fica entre 40% e 60%”, garantiu. Para Megiorin, a falta de fiscalização é o principal motivo de os reajustes extrapolarem a capacidade de pagamento dos pais. “Neste ano, já registramos a intenção das escolas de aumentarem as mensalidades em 20%. Os pais precisam se empoderar da Lei 9.860/99, que lhes garante acesso à planilha de custos dos estabelecimentos —– uma verdadeira caixa preta. Mesmo sendo esclarecidos, eles não exercem a fiscalização, que deveria ser feita pelo Estado, mas foi jogada pelo Congresso no colo da população”, disse. De acordo com a ASPA, o Distrito Federal conta com 482 escolas privadas e, segundo Megiorin, o número vai continuar crescendo porque não param de chegar propostas de fundos de investimentos que querem entrar no setor da educação. “Como Brasília tem a maior renda per capita do país, os lucros aqui são exorbitantes. No ano passado, um fundo de Cingapura comprou uma das melhores instituições da capital.” Megiorin já acionou o Ministério Público, o Procon-DF e o Prodecon e espera resposta do deputado federal Raimundo Ribeiro (PSDB-DF) para que seja marcada uma audiência pública para discutir os aumentos. Custos O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Distrito Federal, Álvaro Domingues, alega que, em sua maioria, os estabelecimentos aplicaram reajustes de 8% a 10%. Ele argumenta que os aumentos de custo foram muitos. “Cerca de 50% do impacto nas mensalidades vem da folha de pagamentos. O piso salarial foi reajustado em 10% e o custo da hora-aula do professor aumentou 6%, mais 2% de ganho real. Além disso, tem a alta da eletricidade em cerca de 48%, água, mais 30%, aluguel próximo da inflação, além de equipamentos de informática, que precisam de manutenção e têm peças com preços indexados ao dólar, que subiu mais de 40%”, salientou Domingues. Professor de educação financeira da Fundação Getulio Vargas (FGV-SP), o economista Fabio Gallo diz que o aumento de custos não foi tão grande a ponto de as mensalidades terem que subir 20%. “A pessoa que está conseguindo pagar as parcelas hoje em dia é um herói”, afirma. “Suponhamos que os custos de uma escola tenham aumentado 10%, soma-se a isso 9% de inflação. Resumo da ópera: ficou 19% mais caro. É uma situação muito difícil para o consumidor”, lamentou. CORREIO BRAZILIENSE 12/09/15 OPINIÃO O Enem e o DF » ROGÉRIO VIANNA Analista de ciência e tecnologia do MCT aposentado Semana passada, o ministro da Educação, Renato Janine, divulgou e comentou os resultados do Enem 2014, tendo apresentado uma planilha produzida pelo Inep com detalhes sobre a participação de 15.640 escolas e 1.370.520 alunos (a seleção foi justificada por razões de relevância estatística). No DF, a planilha aponta 183 escolas e 27.009 alunos. O que se pode inferir desses dados? Como vai o DF? E como se compara a outras unidades da Federação? Para estudar melhor essas questões ,construímos um pequeno sistema de visualização baseado na planilha oficial, que o leitor pode encontrar em www.inicio.com.br. Este artigo procura colocar algumas dessas indagações. Quase todos os dias, a mídia divulga fatos sobre a educação brasileira e aqui, no DF. As notícias são quase sempre ruins e a precariedade da formação educacional de nossos jovens, principalmente no setor público, é fato notório há muito tempo. Por exemplo, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da Unesco, mostra que o pior indicador brasileiro e no DF está na educação. Os dados do Inep corroboram essa visão pessimista ou traz alguns alentos? Infelizmente, eles comprovam claramente essa calamidade nacional. A própria entrevista do senhor ministro revelou sua preocupação e seu desânimo, afinal, das 27 unidades da Federação, apenas seis tiveram médias estaduais acima da média nacional: em 21 estados, as médias foram menores do que a nacional — além do baixo rendimento escolar, o Brasil continua profundamente desigual. Vejamos alguns números do Inep/Enem-2014 e a situação do DF. Em Brasília, parece haver entre nós a impressão de que nosso nível educacional se destaca no Brasil, será verdade? Das 100 melhores escolas do Brasil, aferidas pela média das notas em matemática, redação, leitura, ciências e humanas, apenas 3 são do DF (todas privadas, e a primeira está na 29ª posição). O Piauí tem 6, o Ceará, 8. Na nota de matemática, é ainda pior: o DF tem apenas 2 escolas entre as 100 primeiras (também privadas); o Piauí, 5; o Ceará, 7: e Pernambuco, 6. Pela média, não há uma única escola pública do DF (federal ou distrital) entre as 100 primeiras escolas públicas do Brasil. A melhor escola pública do DF está na 111ª posição e no 1.196º lugar no ranking geral brasileiro. Você sabia disso? Pesquise na planilha ou no sistema e descubra outras calamidades como essas. Fato alentador é que não temos, no DF, escola entre as 100 piores do Brasil. Nossa pior escola está na posição 13.185 das 15.640 (quase lá). Também podemos analisar os fatores que influenciam nesses péssimos indicadores do Brasil e do DF. Por exemplo, haverá correlação entre o nível socieconômico dos alunos e sua média no Enem? Se houver, então nosso problema será ainda maior, pois os mais pobres estarão recebendo educação ainda pior, e o quadro geral de precariedade na educação nacional tenderá a se manter no futuro e o fosso social também. Vejamos: como um todo, no Brasil, há correlação apreciável 12/09/15 entre esses dois fatores, especialmente na escolas médias e grandes (mais de 60 alunos). Essa péssima notícia se aplica igualmente às escolas públicas e privadas? Sim, a correlação é menor nas escolas privadas do que nas públicas, mas existe — correlação positiva significa que, quando uma variável cresce, a outra tende a crescer, correlação negativa significa que quando uma varável cresce a outra tende a diminuir. E no DF? O que se observa é que nas escolas privadas em geral não há essa correlação, mas, nas escolas públicas, ela existe. Claramente, há nas escolas grandes, com mais de 90 alunos — são 69 delas no DF, com 13.224 pobres alunos. Aí, está o segundo drama. Em geral nossas escolas não conseguem obter bons resultados dos alunos, mas os de nível socioconômico mais baixo são ainda mais penalizados. Mas já sabíamos disso, não é? Mais: será que nível dos nossos professores influenciam esses péssimos indicadores? Parece que, em certa medida, sim. No Brasil, como um todo, particularmente nas escolas grandes, os dados mostram certa correlação entre o nível do professor e a média das notas dos alunos no Enem. E também nas escolas privadas. O mesmo se repete no DF. Mas aqui quase só nas escolas públicas, embora em nível de correlação moderado, a ensejar melhores análises. Pode parecer natural que, quanto menor o nível do professor, menor o rendimento do aluno, mas também se pode pensar o contrário: é preciso melhores professores para se produzir melhores alunos. Como a correlação encontrada não chega a ser determinante, alguns podem concluir de forma diferente: essa correlação não existiria ou não seria expressiva. Nesse caso, a conclusão talvez seja ainda pior, pois não importaria a qualidade do professor, os alunos ainda não teriam bom desempenho. Os fatores extraescolares responderiam por notas baixas. Então, a doença não seria apenas do sistema escolar, mas de toda a sociedade. Pessoalmente, me parece haver um pouco de cada fator. Aí está! Estamos mal. Já sabíamos. Mas os novos dados nos mostram quantitativamente a triste situação da educação de nível médio no Brasil e no DF. O que fazer? CORREIO BRAZILIENSE 12/09/15 CIDADES CRIME » UnB apura denúncia de racismo contra índios PALOMA SUERTEGARAY O espaço conhecido como Maloca, na Universidade de Brasília, foi palco da discussão na quarta-feira Uma denúncia de racismo contra estudantes indígenas da Universidade de Brasília (UnB) resultou no afastamento de uma servidora da instituição ontem. Segundo relato dos alunos, a coordenadora administrativa do Centro de Convivência Multicultural dos Povos Indígenas da UnB — conhecido como Maloca —, Adriana Rosa, os teria tratado com desrespeito, ao dizer, na semana passada, que o espaço era “mal utilizado” e “que os negros são mais educados que os índios, que não merecem esse lugar”. Os estudantes publicaram uma nota de repúdio contra a funcionária nas redes sociais e chegaram a ocupar a Maloca, na quarta-feira, quando aconteceu um desentendimento entre os jovens e a mulher. A polícia precisou ser acionada. Depois do ocorrido, Rosa entregou o cargo e está afastada da UnB. O Decanato de Assuntos Comunitários (DAC) da universidade abriu sindicância para apurar os fatos. A aluna de enfermagem Rayanne Cristine Máximo França, 23 anos, integrante do Coletivo de Estudantes Indígenas da UnB, relata que Rosa estaria envolvida em mais de um episódio de preconceito. “No início do ano, quando ela se apresentou para nós, em uma sala de aula, chegou a me falar que eu não parecia indígena, por ser tão branca”, descreve. “Na semana passada, uma colega contou que a coordenadora teria dito que estava insatisfeita com os estudantes indígenas, que seriam apenas um gasto para o poder público”, completa. O caso mais recente levou os integrantes do coletivo a ocuparem a Maloca para pedir a Rosa que se explicasse. Ela se negou e chamou a polícia, alegando que os alunos a mantinham em cárcere privado. Depois do desentendimento, os estudantes registraram ocorrência na 5ª Delegacia de Polícia por agressão, já que alegam que Rosa teria agredido uma aluna com uma chave. A servidora também fez boletim de ocorrência contra os jovens, justificando que eles a teriam ameaçado. Ao Correio, a coordenadora desmentiu os fatos. “Não foi do jeito que os alunos contam. Saí da Maloca acompanhada pela polícia para que eles não me agredissem. Eles querem que a gente aceite toda a cultura deles, sendo que são pessoas que estão há muitos anos na universidade e acham que temos de nos adaptar ao que eles querem.” O reitor da UnB, Ivan Camargo, informou que o caso será investigado. “Ainda não temos uma confirmação do que realmente aconteceu, mas o episódio será apurado.” CORREIO BRAZILIENSE 12/09/15 CIDADES ENEM » A internet como aliada Estudantes trocam a sala de aula por cursinhos on-line para reduzir custos e tempo de estudo na preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio. Sites oferecem videoaulas e exercícios, mas, muitas vezes, não conseguem tirar as dúvidas dos candidatos » Isabela Bonfim Especial para o Correio Victor Ferreira usa o curso online como complemento às disciplinas a que assiste na escola pública: professores do colégio o ajudam Assim como muitos estudantes, Victor Ferreira, 17 anos, concilia as aulas da escola com uma preparação intensa para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Mas ele não precisa se deslocar todos os dias até o curso, porque faz o preparatório on-line. “Eu optei por esse método justamente porque não tinha tempo para o cursinho. Eu trabalhava, e precisava de algo prático e rápido”, explica. Os sites oferecem videoaulas e exercícios para quem quer se preparar para os vestibulares. Flexibilidade e preço já atraíram mais de meio milhão de estudantes. Os sites cobrem o conteúdo exigido no edital do Enem por meio de videoaulas curtas, com duração de 5 a 15 minutos. Para praticar, os alunos podem fazer os exercícios relacionados a cada módulo e assistir às correções em vídeo. Só parte do conteúdo está disponível gratuitamente. Para ter acesso ao pacote completo, é preciso ser assinante. “O preço é mais em conta que o cursinho presencial”, diz. Victor optou pelo pacote semestral, de R$ 89,90. Um curso preparatório em Brasília custa, em média, R$ 2.500 por semestre. Outra vantagem é a flexibilidade, já que o aluno assiste aos vídeos quando for mais conveniente. Mas, para que as aulas on-line funcionem como um curso preparatório, é preciso disciplina. Victor, por exemplo, organizou a grade de estudos com auxílio dos professores da escola. Com o objetivo de passar no curso de direito na Universidade de Brasília (UnB), ele estuda cinco horas por dia. Duas são exclusivamente por meio da plataforma na internet. “Tudo depende do aluno. Se ele não quiser, não vai conseguir desfrutar do conteúdo do site.” Marco Aurélio Andrade, 51 anos, também se prepara on-line. Ele usa o site Me Salva! e acredita que o método funciona. “Eu gosto do formato da aula. Você só vê a mão e escuta a voz da pessoa, isso ajuda a se concentrar melhor.” Ele, que está se aposentando agora da Polícia Militar, já é aluno de educação física na UnB, mas quer realizar o sonho de estudar medicina. Também já foi aprovado em outros vestibulares e prefere se preparar sozinho. Para ele, a vantagem do curso on-line é a rapidez. “Uma videoaula de poucos minutos, às vezes, cobre o conteúdo de um capítulo do livro. Como falta pouco tempo para o Enem, essa agilidade é fundamental.” Metodologia Para que o aprendizado seja mais fácil, os conteúdos são divididos em módulos bem específicos e de maneira progressiva. “O primeiro módulo de matemática é sobre operações básicas. É para o aluno que realmente não sabe nada. Aos poucos, ele evolui para módulos mais avançados, com nível de vestibular”, diz Vinicius Neves, diretor de conteúdo do Stoodi. Segundo ele, os professores dão aulas em cursinhos e escolas de São Paulo e já estão acostumados com a preparação para o Enem. 12/09/15 Davis Posso, professor de biologia, explica que precisou fazer adaptações nas aulas presenciais para o formato on-line. “Uma aula de 50 minutos na escola é fragmentada em dois ou três vídeos. A duração curta é importante para manter a concentração do aluno.” Em compensação, ele conta que é possível inserir elementos interativos mais facilmente do que em sala. Para o professor, a maior dificuldade é acompanhar o progresso do aluno. “Observar a evolução do estudante na sala de aula é algo imediato, mas, no ambiente virtual, é um desafio.” Um dos pontos que as plataformas ainda não cobrem completamente é a solução de dúvidas. Victor conta que, quando não entende algo, recorre aos professores da escola. Diretor do Me Salva!, Miguel Andorffy conta que a plataforma não nasceu com o intuito de ser exatamente um cursinho on-line. “Nosso objetivo é ser o melhor amigo do aluno e ajudá-lo a fazer a própria gestão do aprendizado.” Ciente de que muitos usam o site como curso preparatório, a equipe tem se organizado para oferecer serviços mais especializados. Na reta final para o Enem, a plataforma vai disponibilizar, gratuitamente, oito aulões de revisão e uma maratona de simulados. Quanto custa? Stoodi Conteúdo: 2 mil aulas, 3,5 mil exercícios, resumos teóricos. Grátis: primeira aula de cada módulo, provas e gabaritos de vestibulares e Enem. Assinantes: aulas mais avançadas dos módulos, exercícios e correção em vídeo. Pacotes: mensal: R$ 19,90; semestral: R$ 89,90 e anual: R$ 149,90. Endereço: www.stoodi.com.br Me Salva! Conteúdo: 2,6 mil aulas e 6,4 mil exercícios. Grátis: revisão para o Enem e maratona de simulados — mais da metade do conteúdo do site é de acesso livre Assinantes: revisões e cursos preparatórios exclusivos Pacotes: mensal: R$ 40; semestral: R$ 192 e anual: R$ 336 Endereço: www.mesalva.com JORNAL DE BRASÍLIA 12/09/15 POLÍTICA JORNAL DE BRASÍLIA 12/09/15 CIDADES Vila Planalto Situação provisório se arrasta há 2 anos 12/09/15 CLÁUDIO HUMBERTO 12/09/15 DIÁRIODOPODER.COM.BR PÁTRIA... A Universidade Federal do Paraná abriu vagas para “todos os beneficiários do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária” se inscreverem a uma das 60 vagas para o curso de Direito. ... EDUCADORA Se sobra dinheiro para financiamento de estudo dos semterra, falta para o Ministério da Educação. Com a crise financeira, o governo cortou R$ 1 bilhão no orçamento do seu ministério “mais importante”.