Clipping Nacional
de
Educação
Segunda-feira, 14 de Setembro de 2015
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IDEIAS
14/09/15
Eduque suas emoções
As escolas públicas começam
a ensinar os alunos a lidar com
os sentimentos. Pesquisas
mostram que esse é o caminho
certo para promover mais
igualdade de oportunidades.
Flávia Yuri Oshima
A auxiliar de educação Maria
Carolina Dias da Silva está se
preparando para cumprir uma
maratona de joelhos. Literalmente.
No final do ano, quando houver a
colação de grau do 5Q ano de seu
filho mais velho na Escola
Estadual Alfredo Paulino, em São
Paulo, Carolina deve ir de joelhos
de sua casa à escola, a cerca de 2
quilômetros, para receber o
canudo. Trata-se de uma promessa.
Estamos em setembro e já dá para
saber que Carolina terá de
preparar os joelhos. Igor, o alvo
da promessa, é um garoto bonito,
de sorriso charmoso e olhos muito
vivos. Fala do que gosta, do que
não gosta, de como se enxerga e
de como é visto pelos amigos com
a tranqüilidade de alguém que se
conhece bem. Sem seu histórico,
é difícil entender por que a mãe
ralará os joelhos. Ele mesmo
explica: "Eu ia para a diretoria
todos os dias", diz. Era muito
freqüente? "Não, era só todos os
dias."
Mau comportamento era o
motivo mais comum para as
convocações à diretoria. "Eu
ficava muito irritado, gritava,
brigava com os colegas e, às vezes,
batia neles", diz. Carolina afirma
que Igor sempre fora muito
nervoso, na escola e em casa com
os dois irmãos menores, de 7 e 5
anos. Carolina pediu transferência
para trabalhar em uma escola em
que Igor pudesse estudar para ficar
por perto e tentar ajudá-lo.
"Chorava todos os dias. Tinha
medo de que ele não conseguisse
chegar ao 5U ano", afirma
Carolina. O que ocorreu para que
Igor mudasse seu padrão de
comportamento? "Eu passei a
contar até dez e respirar", diz Igor.
"Às vezes, escuto e percebo que
não fizeram nada contra mim."
O carioca Flávio Mascarenhas,
de 17 anos, sofria com problema
oposto ao de Igor. Tinha muita
dificuldade em mostrar quando
estava com raiva, decepcionado,
nervoso ou mesmo satisfeito e
feliz. Flávio é tímido, e era
retraído. "Eu me fechava porque
tinha receio de conhecer as
pessoas", diz. "Fui obrigado a ir
me abrindo para dar conta dos
projetos da escola." No Colégio
Estadual Chico Anysio, no Rio de
Janeiro, uma das tarefas da turma
de Flávio é sair pelo bairro para
rastrear problemas da comunidade
e pensar em possíveis soluções.
Nas reuniões, cada estudante tem
de defender propostas. "Acabei
pegando gosto por dar a minha
opinião. Percebi que consigo
mudar coisas assim." Num debate
em que cada aluno defendia uma
religião, Flávio, que é católico,
representou um protestante. No fim
do debate, o professor veio
perguntar se ele estava se
preparando para ser pastor. "Nunca
pensei que pudesse defender ideias
com tanta eloqüência."
Além da promessa da mãe, no
caso de Igor, e da vontade de
ajudar a vizinhança, no caso de
Flávio, ambos receberam outro
tipo de ajuda. Eles entraram em
escolas públicas onde aprenderam
a lidar com as emoções. As
secretarias de Educação de São
Paulo e do Rio de Janeiro
incorporaram a educação
socioemocional ao currículo
regular das escolas estaduais de
ensino integral de suas redes. No
Rio de Janeiro, uma parceria com
o Instituto Ayrton Senna tornou
viável o desenvolvimento do
programa Solução Educacional
para o Ensino Médio, que está
funcionando em 56 escolas. Em
São Paulo, uma aliança com a ONG
Vila da Educação possibilitou a
criação do programa Compasso,
criado a partir do americano
Second Step (segundo passo),
metodologia que existe há 20 anos.
O Compasso está em 17 escolas.
Socioemocional é um dos
nomes dados à pedagogia que
incorpora o desenvolvimento de
habilidades relacionadas a como
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cada um enxerga o mundo, se
relaciona e reage a ele. De acordo
com pesquisas, aquela história de
"eu nasci assim e nunca vou
mudar" é pura falta de informação.
A educação emocional defende que
habilidades de personalidade
podem
ser
aprendidas,
aprimoradas e redesenhadas. São
características
como
responsabilidade, colaboração,
criatividade,
autocontrole,
abertura ao novo e perseverança.
Não se trata de mudar a
personalidade das pessoas, mas de
equilibrar aspectos muito
acentuados, como timidez
excessiva ou impulsividade
excessiva, para que determinada
característica não sabote a vida
social, o potencial de aprendizado
e o bem-estar da pessoa.
Esses
aspectos
de
personalidade também são
chamados de conhecimento ou
habilidades não cognitivas, ou de
traços de caráter, ou pelo termo
soft skills, importado do inglês
(habilidades
suaves,
em
contraponto às hard skills,
habilidades
duras,
como
matemática, ciências e leitura).
Essas habilidades suaves são
tradicionalmente relegadas a
segundo plano, encaradas como
traço imutável da personalidade ou
responsabilidade da educação
familiar. Mas estudiosos do mundo
do trabalho têm afirmado já há
algum tempo que elas são as
competências mais apreciadas nos
profissionais, a ponto de serem
centrais para o que chamam de
"habilidades para o século XXI".
Num tempo em que o conteúdo
"duro" está tão disseminado, o que
faz diferença, dizem esses
estudiosos, é a forma de aplicálos. E isso exige habilidades
"suaves": saber ouvir, equilíbrio
emocional ante problemas,
resolução de conflitos.
Na educação, um marco para a
popularização dessa discussão
para além da academia foi o livro
Uma questão de caráter, de 2012,
em que o americano Paul Tough
reuniu
evidências
que
comprovavam a tese. Desde então,
estudos acurados complementaram
aquelas discussões. Agora, sabese não só que habilidades sociais
e emocionais importam, mas
também quanto elas fazem
diferença, na escola e na vida.
Essas descobertas impulsionaram
iniciativas no Brasil e no mundo
que colocam o ensino das
habilidades socioemocionais no
centro das estratégias de educação.
O Brasil já colhe resultados
positivos nos projetos que mantém,
o Japão anunciou que reformulará
toda a grade nacional de educação
para deixar 30% do currículo
dedicado ao ensino de habilidades
socioemocionais e a principal
avaliação de educação do mundo,
o Pisa (sigla em inglês para
Programa Internacional para
Avaliação de Estudantes),
incorporará, a partir deste ano,
aspectos socioemocionais às notas
de matemática, leitura e ciências.
Como preâmbulo ao novo
ranking do Pisa, que será revelado
em 2017, a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) elaborou um
levantamento inédito, que será
divulgado no fim do ano, ao qual
ÉPOCA teve acesso antecipado. O
documento mapeia as principais
iniciativas e os desafios globais
do ensino socioemocional. Foi
preparado com o apoio de grandes
estudiosos de várias disciplinas,
como o prêmio Nobel em
Economia James Heckman, uma
das primeiras vozes a defender a
influência benéfica dos cuidados
socioemocionais na primeira
infância.
Um dos estudos mais amplos,
feito com o programa americano
Perry School, mostrou que para
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cada dólar gasto em educação
emocional por aluno, o país ganha
US$ 7 em benefícios que se
estendem a outras pessoas, que
convivem com quem recebeu essa
educação. Isso porque aqueles que
aprenderam a lidar com suas
emoções ao longo da infância
tiraram
melhores
notas,
envolveram-se menos em conflitos
na escola e escaparam do mundo
do crime. "Quando se impede que
um número maior de jovens desista
da escola e deixe de ir para a
cadeia, criamos cidadãos
saudáveis, produtivos e criativos",
diz Richard D. Roberts,
pesquisador australiano e autor de
mais de dez livros sobre educação
socioemocional. "Não só os gastos
com saúde pública e serviços
sociais caem, como os ganhos
econômicos aumentam."
Outra conclusão comum das
pesquisas internacionais é que
habilidades geram habilidades. Ao
desenvolver ou aprimorar
características socioemocionais,
potencializa-se a capacidade de
aprendizado do aluno em várias
áreas. "É como uma bola de neve
montanha abaixo", diz Simone
André,
responsável
pelo
Superação, o primeiro programa
com elementos emocionais do
Instituto Ayrton Senna, formulado
há dez anos para ajudar alunos com
baixo desempenho escolar.
O Brasil deu uma contribuição
importante para o levantamento
global da OCDE. O Instituto Ayrton
Senna conduziu, em colaboração
com a organização, a maior
pesquisa já feita no Brasil sobre
habilidades socioemocionais, com
25 mil alunos da rede estadual do
Rio de Janeiro. A escola Chico
Anysio formará em dezembro a
primeira turma de ensino médio
que recebeu a educação
socioemocional desde o lu ano.
Isso possibilitou a comparação
entre os dois primeiros anos (a do
3U ano ainda será feita). Concluída
neste ano, a pesquisa mostra um
desempenho 30% superior, em
notas, dos alunos que estudaram
com a nova didática, tanto em
língua portuguesa quanto em
matemática, quando comparados a
alunos de escolas integrais com
currículo convencional. Se
comparados a alunos de escolas de
carga horária de meio período, as
notas dos que freqüentaram o
programa ocioemocional foram
65% superiores em língua
portuguesa e 60% em matemática.
Esses resultados confirmam o que
dados internacionais já apontaram:
trabalhar o lado emocional do
aluno dá mais resultado no
aprendizado de qualquer disciplina
do que dar aulas de reforço para
conteúdos específicos.
O estudo feito no Rio de Janeiro
também mostra que a educação
socioemocional pode ser um
importante instrumento para
promover a igualdade. O nível de
educação dos pais é determinante
para o bom desempenho do
estudante em atributos de
aprendizagem, como gostar de ler
e ir bem em matemática. No caso
do ensino socioemocional,
segundo o estudo, essa relação não
existe. Filhos de pais mais
instruídos não serão mais
responsáveis do que os filhos de
donas de casa sem escolaridade ou
de operários braçais. No Brasil,
foi possível avaliar que o nível
econômico da família também não
interfere no aprendizado de
habilidades emocionais e sociais.
Uma criança pobre aprende a
cooperar, cria responsabilidade e
treina assertividade tanto quanto
uma criança rica.
"Quando ajudamos um aluno a
desenvolver atributos que levam à
autonomia emocional e social,
diminuímos a distância que separa
ricos e pobres das boas
oportunidades", diz Dana McCoy,
pesquisadora da Universidade
Harvard, nos Estados Unidos,
especializada na relação entre
pobreza e educação. O
acompanhamento de alunos até sua
vida adulta concluiu que a
perseverança e a diligência
importam mais no sucesso de
alguém do que a facilidade com
conteúdos "duros". No longo
prazo, alunos com esses atributos
e notas medianas saíram-se
melhores em construir uma vida
saudável e produtiva do que
estudantes que dominavam as
disciplinas mais difíceis com
facilidade, mas que não possuíam
essas características.
Um estudo feito pela Escola de
Negócios da Universidade
Stanford com grandes empresas
mostrou que em mais de 65% dos
casos a decisão de contratação ou
promoção ocorreu porque o
candidato foi identificado com
atributos como comunicação,
colaboração, temperamento,
abertura ao novo e senso ético todos ligados às habilidades
emocionais. Somente cerca de
30% dos profissionais foram
contratados principalmente por
seus atributos técnicos.
14/09/15
Todo professor sabe da
importância de lidar com aspectos
emocionais dos alunos e de ajudálos a fazer o mesmo. De forma
geral, fazem isso no dia a dia, de
forma intuitiva, na base da
tentativa e erro. A eficácia
depende da experiência e da
paciência de cada professor. O
rastreamento e a avaliação dos
melhores métodos, como a OCDE
se propõe a fazer, ajudarão a
montar treinamentos sistematizados
para os professores, que são
peças-chave nesses programas. O
aluno não dependerá mais da sorte
por cair com um professor ou outro
para se desenvolver. "No Chico
Anysio (a escola ), estudamos o
que queremos ensinar e treinamos
como fazer isso", diz Ednês
Santos, professora de língua
portuguesa. "Costumo dizer que
nunca estudei tanto quanto agora
que dou aulas aqui."
Os nomes dos programas de
treinamento em habilidades
socioemocionais mudam, mas há
pontos em comum de como
trabalhar com os alunos. A OCDE
identificou três estratégias
consolidadas em vários lugares do
mundo, inclusive no Brasil. São
elas: perseguir objetivos, trabalhar
em equipe e reconhecer e lidar com
seus sentimentos.
Outro ponto considerado
essencial para o sucesso da
educação socioemocional na vida
dos estudantes é o envolvimento
das famílias. A adesão dos pais aos
valores que a escola quer
transmitir permite que o ensino
ultrapasse os muros da escola e
acelera a assimilação da criança.
Se na escola ela é incentivada a
dar sua opinião e esperar sua vez
para fazer isso, em casa a opinião
dela também deverá ser valorizada,
tanto quanto o fato de ela ser capaz
de respeitar sua vez de falar. Se
na escola o erro é tratado como
algo natural, que deve ser
assumido sem medo e encarado
com responsabilidade, em casa as
repreensões devem ocorrer no
sentido de chamar a criança para
a responsabilidade, e não para
gerar medo.
O programa Compasso, de São
Paulo, engloba lições de casa que
devem ser feitas pelos alunos junto
com adultos para tentar envolver
toda a família nas propostas da
escola. "Quando os pais passam a
reconhecer em casa atitudes que
viram no programa, essa adesão é
imediata", diz Ana Luiza
Colagrossi, uma das responsáveis
pelo desenvolvimento do
Compasso.
"E,
aí,
o
desenvolvimento da criança voa.
Ela se sente valorizada dentro e
fora da escola."
Maria Carolina, a mãe do
garoto Igor, conta que uma noite
correu para a cozinha ao ouvir o
som de louça quebrada. "Já estava
preparada para ver um jogando a
culpa no outro e para separar a
briga entre os três, quando o Igor
falou: "Fui eu, me desculpe"."
"Parece pouco?", pergunta
ela."Não é, não", responde
baixinho, enquanto esboça um
sorriso.
14/09/15
IDEIAS
Entrevista / Richard D. Roberts
"A educação emocional pode gerar uma revolução social" ::
O psicólogo e educador
australiano Richard D. Roberts
diz que o ensino das emoções
nas escolas pode proporcionar
ganhos econômicos e menos
gastos públicos
Flávia Yuri Oshima
É muito difícil pesquisar
qualquer assunto relacionado à
educação emocional, ao impacto
da personalidade na aprendizagem
e à inteligência afetiva sem
deparar com o nome do
australiano Richard D. Roberts.
Rich, como gosta de ser chamado
(inclusive em sua biografia
acadêmica), é autor de mais de
uma dúzia de livros e de mais de
150 estudos científicos sobre
personalidade e educação
emocional. É considerado um dos
maiores especialistas em análise
e avaliação de personalidade.
Doutor em filosofia e psicologia
pela Universidade de Sydney,
Roberts especializou-se em
avaliações internacionais de
educação tradicional, entre elas o
Pisa - Programa de Avaliação
Internacional de Estudantes, da
Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico
(OCDE). Fez isso "até o dia em
que as achei insuficientes", diz ele.
"Nenhuma nota individual é capaz
de olhar o estudante efetivamente."
Há 20 anos, dedica-se ao
desenvolvimento de análise e
avaliações emocionais e de
personalidade. Hoje, vive em
Nova York e dirige o Professional
Examination Service, entidade que
desenvolve avaliações para novos
modelos de educação.
Época - Por que ensinar os
estudantes a lidar com as
emoções é importante?
Richard Roberts - Há fortes
evidências de que trabalhar essas
habilidades traz resultados
positivos para os alunos no
aprendizado de vários tipos de
conteúdo e sobretudo na vida
social. Nos Estados Unidos, temos
pesquisas sérias que comprovam
que para cada dólar investido em
programas
de
educação
socioemocional há um retorno de
US$ 7 em benefícios para as
pessoas que convivem com quem
recebeu esse tipo de educação.
Pense no poder de revolução
social dessa pedagogia.
EPOCA - De que forma se dá
esse retorno?
Roberts - A probabilidade de o
estudante que recebeu esse tipo de
treinamento ir para a cadeia cai
drasticamente. O desempenho
escolar como um todo melhora
objetivamente. As taxas de evasão
também caem. Quando se impede
que um número maior de jovens
desista da escola e deixe de entrar
no mundo do crime, só para ficar
em dois exemplos, criamos
cidadãos saudáveis, produtivos e
criativos. Financeiramente, não só
os gastos com saúde pública e
serviços sociais caem, como os
ganhos econômicos aumentam. Há
mecanismos sofisticados que já
mediram esse tipo de retorno.
Época - A educação
socioemocional pode ser
aplicada independentemente da
cultura de um país?
Roberts - Sim. Ao falarmos de
habilidades socioemocionais,
falamos de traços de personalidade
e habilidades universais, como
perseverança, responsabilidade,
abertura ao novo, ansiedade e
amabilidade. Há cada vez mais
evidências de que os traços de
personalidade são importantes
para a educação e também para
outros aspectos da vida, como
sucesso no trabalho, e até para
predizer a expectativa de vida. A
relação é bastante lógica. Quem
tem um bom relacionamento com
as pessoas, foco e propósito vive
melhor. Não mudamos nossas
personalidades, mas podemos
adquirir
habilidades
que
equilibrem
aspectos
predominantes do nosso jeito de
ser que podem nos atrapalhar.
Quem é tímido ou muito passivo
pode aprender a se colocar de
forma saudável sem para isso se
tornar líder de torcida.
ÉPOCA - Há quem invista
14/09/15
anos de psicoterapia para chegar
a esse equilíbrio. Como se podem
trabalhar essas habilidades em
estudantes?
socioemocional. O importante é
entender como podemos usar essas
ferramentas para estimular os
aspectos importantes para cada um.
Roberts - Essa é a beleza dos
programas socioemocionais: eles
são muito simples. Primeiramente
porque crianças e jovens são
esponjas que assimilam e
incorporam rapidamente atitudes
que se mostram eficazes para eles.
Há exemplos simples, como
mostrar o caminho e incentivar a
criança a seguir por ele. Quando
algo nos incomoda, temos três
formas de lidar com esse
problema: evitar o fato, tentar lidar
(ou nos afogar) com nossas
emoções ou pensar em formas de
resolver o incômodo. O que é mais
eficaz comprovadamente? A
terceira opção. Ao mostrar isso ao
estudante e ao incentivá--lo a
pensar em formas de resolver seus
incômodos, nós os treinamos para
encarar o mundo dessa forma. O
ambiente escolar, com sua
diversidade de interação social e
os desafios de aprendizado, é rico
e propício para despertar o olhar
dessas crianças e estimular boas
práticas.
EPOCA - Hoje, nos Estados
Unidos, os pais passaram a dar
mais importância à educação das
emoções na escola?
ÉPOCA - Qual o papel da
tecnologia no ensino das
habilidades socioemocionais?
Ela é algo inexorável na
educação e na vida, mas também
pode contribuir para o
isolamento social dos alunos.
Roberts - Temos muito a ganhar
com a tecnologia. As ferramentas
mais usadas hoje são um chamado
para a colaboração, que é uma das
bases
do
aprendizado
Roberts - Esse é um
conhecimento que está sendo
disseminado. Há muitos livros hoje
em dia sobre o assunto. O livro do
escritor americano Paul Tough
(Uma questão de caráter, no título
em português) ficou entre os mais
vendidos do The New York Times.
Os pais estão mais ligados nesse
assunto.
ÉPOCA- Um estudo feito
neste ano nos Estados Unidos,
com mais de 6 mil professores,
afirma que mais de 60% dos
entrevistados não se sentem
preparados para lidar com
questões socioemocionais.
Dizem que não receberam
nenhum tipo de treinamento nem mesmo na universidade.
Como preparar os professores
para
lidar
com
essas
habilidades?
Roberts - Essa é uma questão
crítica. Há alguns anos, tínhamos
uma organização social diferente.
As mães ficavam em casa, perto
das crianças, enquanto os pais
trabalhavam. Hoje, a importância
da escola aumentou e,
consequentemente, a do professor.
Os professores têm também a
função de mostrar e desenvolver
comportamentos adequados nas
crianças. O que se pode fazer de
imediato é pensar em como
abordar os conteúdos formais para os quais os professores estão
bem preparados. Se os alunos
trabalham com uma história, vale
questioná-los sobre o que acham
certo ou errado, por que pensam
daquela forma, o que fariam
naquela circunstância. Pode-se
pensar em como fazer abordagens
que exijam reflexão do aluno.
ÉPOCA - Os Estados Unidos
construíram recentemente uma
base curricular comum para todo
o país. Isso é algo que está sendo
preparado no Brasil. As questões
socioemocionais
foram
abordadas na política americana
de educação?
Roberts - Não de forma
específica. Há alguma menção
como uma indicação. Agora, há
muitos Estados americanos
preocupados em sistematizar esse
tipo de ensino. O mundo está
acordando para isso agora. O
levantamento da OCDE, que é um
dos mais respeitados do mundo,
está investindo nessa questão
agora. Esse é um indicador
importante. Estamos progredindo.
Mesmo países como a Coreia
estão preocupados em deixar de
ser muito rígidos e dar mais
espaço para olhar o lado
emocional dos alunos. Fomos
procurados pelo ministro da
Educação da Coreia para ajudá-los
com isso.
EPOCA - Que países podem
ser considerados modelos de
ensino
de
habilidades
socioemocionais hoje?
14/09/15
Roberts - Acho que ainda não
temos uma resposta para isso,
infelizmente.
EPOCA - No Brasil, percebese um preconceito com as
escolas que optam por trabalhar
as emoções em relação às escolas
que oferecem o currículo
tradicional. Esse preconceito
também ocorre nos Estados
Unidos?
Roberts - Existe, sim, algum
preconceito por parte de quem
defende o ensino tradicional. A
maioria das inovações na forma de
ensinar e de avaliar vem das
escolas independentes. Há uma
ideia de que, ao se preocupar com
o conteúdo emocional, você estaria
roubando espaço do ensino
cognitivo. Mas, na verdade, ocorre
o contrário. Ao reforçar o ensino
emocional, potencializamos o
cognitivo.
EPOCA - Por que isso ocorre?
Roberts-Acho que essa resposta
exige uma análise complexa sobre
o tipo de país que queremos ser e
o que valorizamos numa
sociedade. Tradicionalmente,
seguimos a linha dos economistas.
Eles costumam observar o retorno
dos investimentos, a capacidade de
produção, o cumprimento das
regras. A economia ainda
determina muita coisa nas
políticas,
inclusive
nas
educacionais. É uma questão de
refletir sobre os valores que temos
e sobre os que queremos transmitir.
Quando
fizermos
isso,
perceberemos o tipo de mudança
que teremos de fazer. E aí, talvez,
a diferença entre tradicional e
alternativo na educação não faça
mais sentido.
O GLOBO
14/09/15
O PAÍS
Corte de R$ 20 bi nos gastos
as propostas de cortes e de aumento
de impostos serão apresentadas
antes aos presidentes do Senado,
Renan Calheiros ( PMDB- AL), e
da Câmara, Eduardo Cunha (
PMDB- RJ), e também ao vicepresidente Michel Temer, que está
em viagem oficial à Rússia e só
volta a Brasília no fim desta
semana.
— O governo assume a
responsabilidade de formular uma
proposta de melhoria da receita,
mas essa construção será feita em
conjunto com o Congresso —
afirmou um ministro de Dilma.
GABRIELA VALENTE,
JÚNIA GAMA E MARTHA
BECK
BRASÍLIA- Depois de passar
o fim de semana em reuniões para
tentar cobrir o deficit de R$ 30,5
bilhões no Orçamento, a
presidente Dilma Rousseff acertou
ontem com sua equipe econômica
um corte de R$ 20 bilhões nas
contas do governo, preservando
programas sociais. No encontro
com ministros da Junta
Orçamentária e secretários da área
econômica no Palácio da
Alvorada, Joaquim Levy (
Fazenda) apresentou a sugestão de
não conceder aumento algum aos
servidores públicos federais em
2016. Somente com essa medida,
o governo deixaria de gastar R$
15 bilhões, que é o valor previsto
no Orçamento de 2016 para pagar
os aumentos salariais. Esse número
pode ser superior se o governo
também decidir congelar, total ou
parcialmente,
as
novas
contratações no próximo ano, que
têm valor previsto de R$ 12
bilhões.
A expectativa de ministros
envolvidos nessas discussões é que
as iniciativas para cortes das
despesas
da
máquina
governamental sirvam como “um
marco para a austeridade
orçamentária”. Após sofrer duras
críticas do Congresso sobre a
condução das respostas ao deficit
orçamentário, Dilma decidiu que
Há, no entanto, uma divergência
entre os ministérios da Fazenda e
do Planejamento em relação ao
corte no reajuste de servidores.
Segundo parlamentares que
discutem com o ministro Nelson
Barbosa ( Planejamento) saídas
para cobrir o deficit, ele tem se
mostrado refratário à ideia de
“reajuste zero”. O ministro estaria
negociando acordos com as
diferentes categorias para oferecer
um reajuste mínimo. A avaliação
de
Barbosa,
segundo
interlocutores, é que seria
“politicamente inviável” não dar
aumento algum aos servidores.
FAZENDA INSISTE NA
VOLTA DA CPMF
Diversos cenários foram
apresentados à presidente na
14/09/15
reunião de ontem no Alvorada, que
durou cerca de três horas. Apesar
das exposições da cada ministro,
há clareza de que a palavra final
sobre a forma como se darão esses
cortes, inclusive o reajuste dos
servidores, será de Dilma.
Antes da reunião, o Ministério
da Fazenda preparou uma lista com
dez itens para levar a Dilma
propondo novas ações para
ampliar a arrecadação do governo
e reduzir os gastos. Entre as
medidas, estão insistir na recriação
da CMPF, o chamado imposto do
cheque, além de não conceder
aumento aos servidores federais
em 2016.
A proposta de recriar a CMPF
já foi duramente criticada por
integrantes da base do governo e
teria dificuldade de aprovação no
Congresso. Já a ideia de reavaliar
o reajuste para o funcionalismo
surgiu na Comissão Mista de
Orçamento. O relator da comissão,
deputado Ricardo Barros ( PPRS), passou a defender a proposta
diante do deficit no orçamento do
ano que vem.
O líder do PMDB na Câmara,
deputado Leonardo Picciani ( RJ),
defende que a decisão sobre o
reajuste seja linear para todos os
servidores, a exemplo do que
pretende Joaquim Levy.
— Não sei se reajuste zero,
mas vai ter que ter muito bom
senso na concessão de reajuste. Na
iniciativa privada, as pessoas estão
perdendo seus empregos. Os
servidores já têm estabilidade,
então não se pode, quando a
maioria está perdendo emprego,
querer reajustar seu salário. O
ideal é definir um caminho único
— afirmou Picciani.
O líder da Minoria na Câmara,
deputado Bruno Araújo ( PSDBPE), afirmou que lideranças da
oposição se reunirão amanhã para
discutir as propostas do governo
para cobrir o deficit, mas aponta a
necessidade de convergência entre
as soluções apresentadas por Levy
e Barbosa.
— Fica claro que continua a
haver pontos de vista diferentes na
condução econômica entre Levy e
Barbosa — diz o tucano.
Também estão na lista de ações
apresentadas pela equipe
econômica alteração na cobrança
do Imposto sobre Operações
Financeiras ( IOF), mudanças no
imposto de renda de pessoa
jurídica, na contribuição sobre a
folha e ainda no recolhimento do
FGTS. Essas medidas fazem parte
do arrocho nas contas que a
Fazenda defende para reequilibrar
as contas do governo. Já o
Planejamento prepara cortes no
orçamento dos demais ministérios
e a redução nos gastos com
empresas terceirizadas.
No sábado, ministros de
diversas áreas se reuniram com a
presidente no Alvorada para
discutir cortes em suas respectivas
pastas. Segundo participantes da
reunião, a tônica foi a apresentação
das prioridades de cada ministério
e das áreas e programas passíveis
de corte de gastos. A ideia é
anunciar em breve os cortes para
dar um sinal de “austeridade” com
as contas públicas.
O GLOBO
14/09/15
O PAÍS
CONTEXTO
Fazenda, Planejamento e as divergências
GABRIELA VALENTE
Ministros negam atrito, mas
disputam espaço há nove meses
Divergências entre os ministros
da Fazenda e do Planejamento não
são novidade no governo federal.
Joaquim Levy e Nelson Barbosa
disputam espaço em debates na
equipe econômica, principalmente
no que diz respeito a questões
fiscais, desde que assumiram suas
respectivas pastas, no início deste
ano.
A primeira grande derrota de
Levy foi o anúncio do
contingenciamento do orçamento
deste ano. Ele defendia um
bloqueio de R$ 70 bilhões a R$
80 bilhões. Para mostrar poder, o
corte anunciado pelo ministro do
Planejamento foi de R$ 69,9
bilhões. Os R$ 100 milhões a
menos causaram ainda mais
discórdia por não terem motivo
técnico. Foram apenas um sinal
claro para enfraquecer o ministro
da Fazenda.
Levy chegou ao governo com o
apoio de boa parte do mercado
financeiro e com um discurso bem
diferente de seu antecessor, Guido
Mantega. Nelson Barbosa era o
número dois de Mantega e
continuou a defender medidas
tomadas pelo ex- chefe, entre elas
a desoneração da folha de
pagamentos.
ATÉ NO FUTEBOL
Nos debates, Barbosa tinha o
apoio
do
núcleo
desenvolvimentista do governo: a
própria presidente Dilma Rousseff
e o ministro- chefe da Casa Civil,
Aloizio Mercadante. A lista de
divergências com Levy cresceu
nesses nove meses de segundo
mandato da presidente Dilma e
incluiu temas como a retirada do
status de ministro do presidente do
Banco Central, que tem a oposição
de Levy.
Os dois já deram declarações
para tentar minimizar o mal- estar.
Barbosa chegou a brincar que sua
principal rusga com Levy é “que
ele é Botafogo, e eu sou Vasco”. A
frase é sintomática: 2015 não é um
ano fácil para os dois times. Um
está na série B, depois de ter sido
rebaixado no ano passado. O outro
é o lanterna da série A.
O GLOBO
14/09/15
O PAÍS
Tarso: Outra política econômica
afastaria impeachment
Ex-presidente do PT vê risco
de Dilma não completar mandato
e diz que ajuste fiscal não pode
recair sobre pobres
Ex- presidente do PT,
escolhido para recuperar a imagem
do partido após o escândalo do
mensalão, Tarso Genro disse
ontem que se preocupa com a
possibilidade de a presidente
Dilma Rousseff não chegar ao fim
do mandato. E que um eventual
pedido de impeachment da
presidente “depende mais da
política que do Direito”.
— Tenho essa preocupação,
sim. Evidentemente, têm processos
legais que podem ser levados a
isso, e nós sabemos que a
interpretação de um pedido de
impedimento depende muito mais
da política do que do Direito —
disse Tarso, em entrevista ao
colunista do GLOBO Jorge Bastos
Moreno, no programa “Preto no
Branco”, do Canal Brasil.
Para o ex- governador do Rio
Grande do Sul e ex- ministro da
Justiça, Educação e Relações
Institucionais no governo Lula, a
única forma de afastar a
possibilidade de impeachment de
Dilma é mudar a política
econômica:
— O governo, para afastar a
criação de um bloco social capaz
de dar sustentação para o
impedimento, de um bloco
parlamentar, teria que mudar a
política econômica e monetária.
Teria que fazer um ajuste que não
se debruçasse sobre as costas dos
mais pobres.
Ao comentar o ajuste fiscal do
governo, personificado pelo
ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, Tarso disse que a
paternidade das medidas deve ser
atribuída ao governo.
— O ajuste que está aí não é do
Levy, é do governo — afirmou o
petista, sugerindo que o governo
tem duas opções para sair da crise:
uma solução “inovadora”, que
seria organizada pela esquerda, ou
“tomar medidas que todos os
governos tomam”: — Ou seja, não
gastar e transformar o problema em
uma crise de orçamento, que é uma
forma absolutamente medíocre de
responder a essas grandes
questões históricas.
O petista criticou ainda as
alianças do governo do PT. Ele
acredita que, no futuro, o partido
deve pensar em um novo sistema
de entendimento com aliados.
— Acho que o PMDB tem
obrigação de dar governabilidade
ao governo da presidenta Dilma.
Nós temos que defender seu
mandato e honrar a votação
popular. O PMDB tem obrigação
com isso, mas entendo que meu
partido deve pensar um novo
sistema de alianças, cuja
governabilidade não seja tão
pragmática e imediatista como
essas que se fizeram até agora em
todos os governos.
Para Tarso, a aliança do PT
com o PMDB chegou ao fim.
— Essa aliança já acabou —
disse o petista, acrescentando: —
O primeiro partido do governo
hoje é o PMDB.
Perguntado sobre quadros do
PT para concorrer à Presidência
em 2018, Tarso citou outros nomes
além de Lula, e disse que não seria
candidato.
— Há outros quadros de alta
respeitabilidade: ( Fernando)
Pimentel ( governador de MG), (
Jaques) Wagner ( ministro da
Defesa), ( Aloizio) Mercadante (
ministro da Casa Civil).
O GLOBO
14/09/15
SOCIEDADE
Prova da Uerj está próxima do modelo
do Enem, dizem estudantes
RAPHAEL KAPA raphael.
kapa@ oglobo. com. br
Professores também apontam
que exame ficou bem mais
interpretativo
“Vi uma prova mais parecida
com o Enem e muito diferente do
meu primeiro vestibular. A
sensação é de que o exame mudou
bastante” Gustavo Leitão
Estudante
Milhares de alunos realizaram
ontem a segunda prova do exame
de qualificação, na primeira fase
do Vestibular da Uerj. Porém, a
impressão era de que estavam
fazendo um outro exame: o Enem.
Como as questões exigiam mais
interpretação e menos decoreba,
professores e estudantes
evidenciaram que a prova estadual
se aproximou do modelo do exame
nacional.
— Vi uma prova mais parecida
com o Enem e muito diferente do
meu primeiro vestibular há cinco
anos. A sensação é de que o exame
mudou bastante — afirmou
Gustavo Leitão, de 23 anos, que
se formou em Letras mas agora
está tentando uma vaga no curso
de Jornalismo.
A sensação de Gustavo é
compartilhada pelo coordenador
de vestibular do colégio QI,
Renato Pellizzari.
— Impressiona que o exame de
qualificação se aproxime cada vez
mais do modelo de Enem, contudo
ainda há algumas questões mais
conteudistas. Uma delas foi a que
abordou a Revolução Cultural, na
China. Não tinha como responder
somente através da interpretação.
Mas, como um todo, a prova vem
chegando mais perto do modelo
adotado pelo Enem.
Da mesma forma que o exame
nacional cobra mais a habilidade
do aluno em interpretar gráficos e
textos, o exame da Uerj chamou a
atenção da estudante Ana Medeiros
por ter poucas questões que
exigissem conhecimento prévio do
estudante.
— Como no Enem, a prova de
Português e a parte de ( Ciências)
Humanas exigiram uma atenção
com os textos, mas dava para fazer
sem saber os conteúdos. Na parte
de Exatas, era um pouco diferente,
mas nada que surpreendesse.
Apesar disso, a estudante achou
a prova um pouco mais difícil do
que a primeira aplicada neste ano.
— Acho que, até pelas leituras,
achei a prova mais complicada de
fazer.
Para Pellizzari, o teste teve o
mesmo nível do anterior, mas os
alunos acreditam em um mito —
que para o professor não é real —
de que a segunda prova é mais fácil
do que a primeira.
— Sempre fica aquela
expectativa de que o segundo
exame é mais fácil. Mas nunca
senti isso. Na verdade, a diferença
nos conceitos de Ae B é muito
maior entre as provas porque o
aluno passa a ter mais tempo de
estudar. Não é por causa da
dificuldade da prova.
Ronaldo Ayres, professor de
Física do colégio Pensi, também
não viu muita diferença entre as
provas e afirma que os alunos não
tiveram grandes surpresas.
— O exame de qualificação
não aborda toda a ementa do ensino
médio. O que costuma cair é bem
previsível. Já na segunda fase, a
prova aborda mais conteúdos. O
aluno tem que pegar o edital e ver
o que ainda não estudou e se
planejar. Em Física, por exemplo,
matérias como Óptica e Ondas
caem na segunda fase e não na
primeira.
Gustavo Leitão, que já carrega
dois vestibulares nas costas,
acredita que vai tirar A, o conceito
máximo, na prova. Mas não
comemora e nem muda seu
planejamento de estudo para os
próximos meses.
— Não dá para só focar nas
específicas agora, porque ainda
tem o Enem, que cobra tudo.
Porém, se tirar A, isso dá um fôlego
para me dedicar mais.
As inscrições para a segunda
fase do Vestibular da Uerj
começam no dia 22 deste mês, e a
prova será no dia 29 de novembro.
Somente quem acertou mais de
40% no exame de qualificação
pode se inscrever.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
PODER
Ação publicitária em site de moda
custou R$ 301 mil à gestão tucana
ALEXANDRE ARAGÃO
DE SÃO PAULO
O governo de São Paulo,
comandado pelo tucano Geraldo
Alckmin, pagou R$ 301 mil à
empresa Lumi5, do empresário
Paulo Borges –que organiza a São
Paulo Fashion Week–, por três
postagens no Facebook, três no
Instagram, dois anúncios e um
banner no site FFW. A informação
é de documentos oficiais
consultados pela Folha.
O pagamento ocorreu em 5 de
dezembro de 2014, um mês após
o evento. Diz respeito à
publicação de fotos para divulgar
trabalhos de alunos de escolas
técnicas e do Centro Paula Souza.
A negociação foi intermediada
pela agência Lua, contratada por
meio de licitação, que recebeu um
comissionamento.
A título de comparação, o
mesmo governo pagou, numa data
próxima, R$ 292 mil por uma
propaganda de oito páginas na
revista "Exame", da Editora Abril.
E R$ 71 mil por um anúncio de
duas páginas na "Época", da
Editora Globo.
No caso do site FFW,
especializado em moda, os
anúncios foram chamados de
"publieditoriais" (propaganda que
imita reportagem), mas nenhum foi
identificado como publicidade. O
conteúdo foi determinado pelo
governo.
Um relatório da Lumi5 informa
que os dois anúncios tiveram,
juntos, 8.191 impressões (uma das
métricas utilizadas pelo mercado
publicitário na internet). As três
fotos no Instagram receberam
1.660 curtidas. E as postagens no
Facebook tiveram 23.311
visualizações. O banner foi
identificado como "superbanner
novembro". Em nota a empresa diz
que foi exibido durante seis meses
no site FFW.
A Folha teve acesso aos
documentos após um pedido feito
por meio da Lei de Acesso à
Informação.
OUTRO LADO
O governo paulista afirmou, por
meio de uma nota, que "a ação
planejada pela agência de
publicidade [Lua] não se resumiu
a veiculação na internet".
Segundo o governo, o valor
pago, R$ 301 mil, também incluiu
"intercâmbio entre alunos do
Centro Paula Souza que fazem
cursos ligados a moda e
profissionais do SPFW", apesar de
os documentos referentes ao
contrato mencionarem apenas as
postagens e os anúncios.
"Houve exposição do trabalho
dos estudantes no local do evento,
que conta sempre com ampla
cobertura dos veículos de
comunicação", finaliza a nota do
governo.
A empresa Lumi5 disse que os
valores "podem ser alterados,
dependendo da quantidade de
pacotes contratados, como é praxe
de mercado".
Afirmou ainda que o conteúdo
não foi identificado como
publicidade porque é "branded
content", jargão para quando um
anúncio é feito por um veículo de
notícias, como o site FFW.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
MUNDO
A crise, vista de Washington
CLÓVIS ROSSI
Situação brasileira é apenas
uma
"distração"
em
relacionamento que vive seus
melhores momentos
Vista de Washington, a crise
brasileira é tão confusa quanto é
para os brasileiros e acaba
funcionando como uma distração
para o desafio de produzir
resultados em uma relação
bilateral que está no melhor nível
em muitos anos, com ou sem crise.
Depois do esfriamento gerado
pelo episódio de espionagem, a
visita da presidente Dilma
Rousseff aos EUA, em junho,
levou o relacionamento a um ponto
mais "sofisticado", na avaliação
do Departamento de Estado.
Exemplo de sofisticação, entre
outros: dois acordos na sensível
área militar que permitirão a troca
de informações e avanços
tecnológicos entre os dois países.
A crise, como toda crise, abre
também oportunidades.
Na área de infraestrutura, o
Brasil tem explorado a
possibilidade
de
atrair
construtoras norte-americanas,
empresas que, até recentemente,
eram refratárias.
É razoável supor que as
dificuldades das grandes
empreiteiras
brasileiras,
enredadas na Lava Jato, tenham
aberto o caminho para congêneres
norte-americanas.
Poderiam entrar, por exemplo,
em consórcios com empresas
nacionais para a construção e
operação de aeroportos regionais.
Na área comercial, a que mais
facilmente permite medir avanços,
o ministro Armando Monteiro está
ansioso para colocar em prática a
promessa de Dilma de dobrar o
comércio com os EUA em dez
anos.
Os Estados Unidos já são o
maior destino para exportações
brasileiras de manufaturados,
obviamente as de maior valor
agregado, mas Monteiro explora
acordos em áreas que não
interfiram com tarifas, o que
exigiria negociações complexas e,
por isso, demoradas.
Washington e Brasília estão
explorando acordos em áreas como
regulação e redução da burocracia
alfandegária, que produzem
resultados mais rapidamente.
Há pouco, os dois países
reuniram especialistas de parte a
parte para discutir direitos
humanos,
tema
que
inevitavelmente subiu na agenda
ante a crise dos refugiados na
Europa e, mais recentemente, o
deslocamento forçado de
colombianos que moravam na
Venezuela.
A reunião é significativa não
apenas pelo tema em si,
naturalmente delicado, mas pelo
fato de que os Estados Unidos
incluem o Brasil em uma discussão
que tem abrangência global, não
apenas regional.
É a reafirmação, no detalhe, de
uma parceria estratégica, como os
dois
países
tratam
o
relacionamento bilateral.
Tão estratégica que os Estados
Unidos usam o caso brasileiro com
Cuba, ao apontar o Brasil como
exemplo de que é possível
promover avanços sociais na
democracia e com mecanismos de
mercado.
Outro ponto estratégico é o
papel dos estudantes brasileiros
enviados aos EUA no âmbito do
Ciências sem Fronteiras, hoje na
altura recorde de 33 mil.
Dizem
reitores
de
universidades norte-americanos
que os brasileiros energizam as
relações nos locais em que
estudam.
Ah, estão também sendo
convidados pelas corporações
norte-americanas
para
complementar os estudos com
estágios nas suas áreas de
especialização.
O risco, acho eu, é que, com a
crise, não queiram mais voltar. Aí,
sim, seria uma grave "distração"
no relacionamento.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
COTIDIANO
Disputas políticas, greves e cortes
paralisam Ministério da Educação
A assessores, ministro Renato
Janine Ribeiro tem reclamado de
interferências em seu trabalho
Volta de Mercadante à pasta
está em análise; chefe da Casa
Civil e Lula têm representantes de
confiança no Mec
GUSTAVO URIBE
FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
A greve nas universidades
federais, o corte de R$ 10,2
bilhões no orçamento e as disputas
políticas dificultam a gestão do
ministro da Educação, Renato
Janine Ribeiro, há cinco meses no
posto.
Além da possibilidade de ter
seu comando alterado na reforma
administrativa em estudo, a pasta
tornou-se palco de disputa por
espaço entre o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e o ministro
da Casa Civil, Aloizio Mercadante.
Em conversa com aliados,
segundo relatos à Folha, Janine
tem reclamado da falta de
autonomia e da influência da Casa
Civil. Segundo assessores, há
interferência de Mercadante em
temas como a paralisação de
docentes e o Ciência sem
Fronteiras.
O ministro nega ter criticado
Mercadante (leia texto abaixo),
mas as queixas foram confirmadas
por cinco interlocutores de Janine.
Mercadante deixou o MEC em
2014, mas manteve um aliado: o
secretário-executivo Luiz Cláudio
Costa, com quem despacha
semanalmente, segundo apurou a
reportagem. Ao mesmo tempo, ele
mantém entre seus auxiliares dois
ex-secretários do ministério.
Para marcar posição, Lula
indicou para a chefia de gabinete
de Janine um assessor próximo, o
ex-secretário-executivo
do
Ministério das Comunicações
Cezar Alvarez.
Dilma assumiu seu segundo
mandato sob o lema de construir
uma "Pátria Educadora". Janine
tomou posse na pasta em abril,
após a saída conturbada do exgovernador do Ceará Cid Gomes.
Professor de filosofia da USP, seu
nome teve o apoio do expresidente, insatisfeito com o
poder de Mercadante.
Com o agravamento da crise
política, no entanto, a presidente
Dilma Rousseff estuda tirar
Mercadante da Casa Civil, como
revelou a Folha na sexta (11).
Segundo ministros e assessores,
ela considera colocá-lo no lugar
de Janine.
Cid esteve à frente do MEC por
pouco mais de dois meses. Lançou
ideias como o Enem digital e a
capacitação de diretores de
escolas públicas.
A verba escassa freou as
medidas. A proposta piloto de um
Enem digital, apenas para
treineiros, deve ser adiada para o
próximo ano. Já um programa para
os diretores ainda não saiu do
papel.
EXPERIÊNCIA
Para críticos de Janine, falta
experiência na gestão pública e
empenho em acompanhar
programas da pasta. Eles avaliam
que o ministro não compôs equipe
própria –o secretariado é formado
principalmente por nomes que
estavam nas gestões anteriores.
No entanto, aliados alegam que
Janine é deixado em segundo
plano. Desde que assumiu, o
ministro teve três audiências com
a presidente. O antecessor, que
permaneceu pela metade do tempo,
foi recebido duas vezes.
Dilma, aliás, não se posicionou
publicamente sobre estudos do
ministro Mangabeira Unger
(Assuntos Estratégicos) na área da
educação, o que deixou Janine
desconfortável –ele não foi
consultado.
Mangabeira prepara documento
com mudanças no currículo da
educação. A construção de uma
base nacional comum é um dos
pontos do Plano Nacional de
Educação, acompanhado pelo
MEC.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
COTIDIANO
Cunha 'prende' em Brasília
aliado de ex-ministro
(FF E GU)
DE BRASÍLIA
Se hoje a rusga do MEC tem
como endereço o Palácio do
Planalto, na gestão de Cid Gomes
(Pros) o incômodo tinha outra
origem: o presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ).
O desentendimento teve início
quando Cid apontou a presença de
"achacadores" no Legislativo.
Convocado a se explicar, apontou
o dedo para Cunha e disse preferir
ser chamado de "mal-educado" a
"acusado de achaque", em
referência a suposto envolvimento
de Cunha em esquema de
corrupção.
No meio do tiroteio, estava o
secretário de Educação do Ceará,
Maurício Holanda, aliado de Cid
e servidor da Câmara dos
Deputados, cedido ao governo do
Estado.
A autorização para Holanda
permanecer afastado de Brasília
vencia em março, uma semana
depois da troca de acusações que
motivou a saída de Cid. Para
renová-la, era preciso a assinatura
de Cunha.
Resultado: Holanda teve que
pedir exoneração da função e
trocar Fortaleza por Brasília. Por
um mês, bateu ponto na capital
federal na função de analista
legislativo.
Congressistas do Ceará foram
acionados para convencer Cunha
a liberar o servidor por mais um
ano. Só no final de abril, a
autorização foi, enfim, concedida.
Procurados, Cunha e Holanda não
comentaram o caso.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
COTIDIANO
Pasta afirma que não há 'desentendimentos'
O Ministério da Educação nega
que haja qualquer divisão na pasta
ou desentendimentos com a Casa
Civil.
O ministro Renato Janine
Ribeiro disse à Folha jamais ter
reclamado ou feito críticas à
atuação de seu colega de
Esplanada em conversa com
pessoas próximas. "Nunca me
queixei do Mercadante, porque
não
há
motivo
de
desentendimento", afirma.
Em nota, o MEC disse que a
divisão na pasta "não existe" e que
a relação entre os dois ministérios
é "sólida".
Como exemplo disso, o
ministro Janine destaca que foi o
próprio Mercadante quem lhe
transmitiu a notícia da escolha de
seu nome pela presidente Dilma
Rousseff para assumir o
ministério.
NOMEAÇÕES
Segundo a pasta, Janine
manteve a equipe das gestões
anteriores porque "aprecia e confia
no trabalho dos secretários, não
vendo necessidade de mexer em
um time que age corretamente".
O MEC informou ainda que,
desde que assumiu, ele nomeou
dois secretários e três gestores.
A pasta faz referência aos
titulares da secretaria de Ensino
Superior, Jesualdo Farias (exreitor da universidade federal do
Ceará) e de Educação Continuada,
Alfabetização, Diversidade e
Inclusão, Paulo Nacif (ex-reitor da
universidade
federal
do
Recôncavo da Bahia).
Os gestores são Newton Lima
(ex-deputado federal do PT), Paulo
Rubem Santiago (ex-deputado
federal do PDT) e Carlos Nobre,
que
assumiu
a
Capes
(Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior)
após o comando de 12 anos de
Jorge Guimarães.
Na nota, o ministro ressalta
ainda que escolheu Cezar Alvarez
para a chefia de gabinete por
"competência".
"Ele tem experiência de gestão
como ex-secretário executivo do
Ministério das Comunicações e
conhecimento na área de
tecnologia e educação."
GREVE
Em relação à greve, Janine disse
acompanhar diariamente as
negociações "que vêm sendo feitas
pelos secretários designados a
dialogar e a buscar uma solução".
Segundo o filósofo, as três
audiências oficiais com a
presidente Dilma Rousseff se
somam ao contato constante que
mantém com a petista, como em
viagens para participar do Dialoga
Brasil.
O secretário-executivo Luiz
Cláudio Costa negou à reportagem
que despache semanalmente com
Mercadante. Procurada, a Casa
Civil não quis se pronunciar.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
COTIDIANO
Em greve, docentes das federais
pedem diálogo com Janine
DE BRASÍLIA
"Reflexão de Hegel: por que não
#DialogaJanine!?"
O questionamento, em tom irônico, é
feito por professores de universidades
federais, em greve desde o fim de maio.
Nas redes sociais, o principal
sindicato da categoria publicou charges
de filósofos, a exemplo de Janine,
lamentando a falta de interlocução com
o titular do MEC.
A pauta de reivindicações é debatida,
como em anos anteriores, com o
Ministério do Planejamento e a
Secretaria de Ensino Superior do MEC.
Mas os servidores se ressentem de ainda
não terem tido um encontro com Janine.
"É o primeiro ministro com quem não
tivemos reunião", diz Paulo Rizzo,
presidente do Andes (sindicado dos
docentes das instituições federais).
"[Janine] É professor universitário,
tinha que ter uma posição mais firme
diante dos cortes [de verbas]", afirma.
CORREIO BRAZILIENSE
14/09/15
POLÍTICA
NAS ENTRELINHAS
Nove meses em sete dias
Espera-se que, com nove
meses de atraso, Dilma Rousseff
finalmente aponte o rumo que o
governo adotará para tentar
atravessar a atual situação
por Ivan Iunes
[email protected]
A presidente Dilma Rousseff
inicia a semana pressionada pela
necessidade de conseguir, em sete
dias, ao menos apontar para as
soluções que foi incapaz de
fabricar desde o início do segundo
mandato, em janeiro. Ao vestir a
faixa presidencial para mais um
mandato, a petista sabia que, ao
menos no princípio da nova gestão,
teria de conduzir o governo com
um olho no retrovisor. A atenção
voltada ao passado seria crucial
para ao menos minimizar os erros
colecionados entre 2011 e 2014,
especialmente no ano eleitoral. A
rápida deterioração da economia
e a popularidade em queda livre,
no entanto, não foram refreados
pelo governo. E é por isso que a
presidente corre cada vez mais o
risco de ser a 12ª chefe de Estado
na América do Sul a deixar o cargo
antes do previsto, desde 1992.
Até aqui, em nove meses, o
Palácio, sob a batuta de Dilma,
especializou-se em lançar balões
de ensaio, mas não colocou em
prática nenhuma das ideias testadas
na mídia. Só de impostos, foram
várias hipóteses cogitadas, indo
desde a taxação de fortunas até a
ressurreição da Contribuição
Provisória sobre Movimentação
Financeira (CPMF) e o aumento da
gasolina. Em termos de cortes,
também falou-se muito, e houve até
uma redução elogiável nos gastos
discricionários do governo.
Insuficientes, no entanto, para
modificar o esfacelamento da
economia.
Quando assumiu pela primeira
vez o Planalto, há quase cinco
anos, Dilma prometeu colocar em
prática reformas estruturais,
necessárias para que o país
seguisse progredindo. Todo o
primeiro mandato foi perdido
nesse sentido. O que se vê agora é
que nenhum corte terá efeito
duradouro caso não existam
mudanças significativas para
corrigir o rombo corrente na
Previdência — de longe o maior
dos problemas. As reuniões a toque
de caixa realizadas no fim de
semana pela presidente com vários
ministros promete render, durante
a semana, uma penca de cortes,
incluindo em programas sociais
que são o carro-chefe do governo,
como Fies, Minha Casa Minha
Vida e Ciência sem Fronteiras. O
Bolsa Família deve ser preservado
por único motivo: uma tesourada
no programa significaria assumir
o fracasso da nova matriz
econômica posta em prática pelo
PT a partir de 2003.
Espera-se que, com nove meses
de atraso, Dilma Rousseff
finalmente aponte o rumo que o
governo adotará para tentar
atravessar a atual situação. Até
aqui, tudo o que foi discutido não
saiu do ponto da discussão. E,
muito por isso, a situação se
deteriorou com rapidez alarmante
e o tal rebaixamento na nota de
crédito pela Standard & Poors foi
consumado — depois de ter sido
evitado no início do ano. Caso siga
a política errática que caracterizou
o Planalto versão 2015, a petista
corre o risco de entrar para uma
estatística nefasta. Desde o
afastamento de Fernando Collor de
Mello, no Brasil, em 1992, a
América do Sul já deteve 11
presidentes apeados do poder antes
do tempo. Somente no Equador,
14/09/15
foram três: Abdalá Bucaran
(1997), Yamid Mahuad (2000) e
Lucio Gutierrez (2005). O
Paraguai defenestrou dois: Raúl
Cubas (1999) e Fernando Lugo
(2012). Assim como a Bolívia,
onde deixaram o poder Gonzalo
Sánchez de Losada (2003) e Carlos
Mesa (2005). O Peru, com Alberto
Fujimori (2000); a Venezuela, com
Carlos Pérez (1993); e a Argentina,
com Fernando de La Rúa (2001)
completam a lista.
Pedaladas
O exagero nas manobras fiscais
promovidas pelo governo Dilma
Rousseff no ano passado, aliado à
falta de aprovação de reformas
estruturantes, contribuíram muito
para que a economia chegasse em
2015 com um grau preocupante de
descontrole. A prática foi seguida
em diversos estados, como já
acontecera nas últimas eleições, e
alguns chegaram à beira da
bancarrota, sendo a situação mais
grave a do Rio Grande do Sul. A
principal constatação que se tem
com isso é que, de fato, a Lei de
Responsabilidade Fiscal precisa
de urgente atualização. Mais do que
isso, o Judiciário precisa encontrar
soluções para as amarras que a
burocracia judicial impõe ao
trâmite de processos contra
titulares de mandatos eletivos. É
inaceitável que um mero processo
por improbidade administrativa
passe uma década pulando de
tribunal em tribunal à mercê das
regras do foro privilegiado.
CORREIO BRAZILIENSE
14/09/15
OPINIÃO
Duas lições proveitosas
» PAULO NATHANAEL
PEREIRA DE SOUZA
Doutor em educação
Há
dois
exemplos
internacionais, repetidamente
citados entre especialistas da
importância da educação,
pertinentes a projetos de
desenvolvimento socioeconômico:
um, o Japão, no século 19; e outro,
a Coreia do Sul, no século 20.
Ambos
vieram
de
um
tradicionalismo retrógrado, que
não coadunava os procedimentos
com o crescimento urbano e
industrial da modernidade. Em
curto espaço de tempo, com as
mudanças infraestruturais feitas,
conseguiram ombrear-se com os
padrões de progresso dos países
ocidentais do primeiro mundo.
Estão, hoje, perfeitamente à
vontade na onda de mundialização
da economia, que marca a
passagem de ambos para o século
21.
Sobre o Japão já se falou
demais, tanto na literatura
econômica quanto na educacional,
nos últimos 100 anos. Quanto à
Coreia do Sul, nem tanto — razão
pela qual vamos dedicar estes
comentários à análise da conquista
de alguns dos seus atuais índices
macro. Para tanto, nos espelhamos
em duas obras recentes:
Preparando para o século 21, do
historiador Paul Kennedy (editora
Campos, Rio de Janeiro) e
Educação na Coreia (2003-2004),
editada pelo Ministério da
Educação e dos Recursos Humanos
daquela república e divulgada no
Brasil pela Univer/cidade, do Rio
de Janeiro. É claro que, com estes
comentários, não estamos
propondo a adoção das mesmas
soluções pelo Brasil, com o intuito
de
obviar
os
esforços
desenvolvimentistas, até porque
sempre fomos críticos severos da
importação de experiências
alienígenas com vistas à
implantação de reformas
educacionais no Brasil.
Cada povo com seu estilo e
seus problemas, sobretudo, no que
diz respeito às políticas sociais
elaboradas pelos respectivos
governos. O que se pretende é fixar
alguns parâmetros, que possam ser
úteis aos polices-makers e
educadores brasileiros, nos
esforços para tirar o nosso sistema
de ensino do pantanal em que se
meteu a pátria educadora. Nos
anos 1960, todos os índices
econômicos e sociais da Coreia do
Sul estavam abaixo dos do Brasil
e se igualavam aos de Gana. O
país, ocupado por décadas pelo
expansionismo japonês no
Extremo Oriente e castigado pela
devastadora guerra contra a
vizinha Coreia do Norte, nos anos
1950, encontrou meios para, a
partir do armistício de 1953, reunir
as forças vivas da nação e iniciar
a implantação do projeto,
destinado a torná-la, meio século
mais tarde, uma das mais prósperas
repúblicas do planeta.
A respeito disso, Paul Kennedy
escreveu, na citada obra, todo um
capítulo em que analisa os mais
importantes
fatores
que
asseguraram o sucesso dessa
política. Destaca ele questões
relativas ao planejamento
socioeconômico; à opção pela
indústria pesada e tecnologia de
ponta, com vistas à economia de
exportação; à poupança nacional,
com regras rigorosíssimas, e aos
investimentos governamentais em
setores
estratégicos,
infraestruturais e outros havidos
como prioritários; a ênfase à
educação, nas duas políticas
fundamentais e pétreas, a saber:
preferência absoluta pela
universalização da educação
básica de qualidade, estendida a
100% da população, e formação
universitária
voltada
de
preferência para as engenharias,
com milhares de estudantes
bolsistas enviados aos países do
Primeiro Mundo (em 1980, o
número de alunos de engenharia
que se formavam só nas instituições
coreanas era igual à soma do Reino
Unido, da Alemanha Ocidental e
da Suécia juntos). Para se ter uma
ideia dessa quantificação,
enquanto que o Brasil forma, neste
ano da graça de 2015, pouco mais
de 30 mil engenheiros, por lá
14/09/15
formam-se, anualmente, 10 vezes
mais.
funcionamento dos equipamentos
eletroeletrônicos.
As conquistas educacionais na
Coreia do Sul começam pela
educação básica (infantil,
fundamental e média) para todos
os indivíduos até 18 anos, com
qualidade e quase sempre em
tempo integral. Conforme
relatórios do ministério, incluídos
na obra citada, há um Plano Geral
de Educação para a Era da
Informação, que, desde 2000, vem
sendo rigorosamente executado.
Ele é destinado a construir a
infraestrutura para a educação no
século 21. O planejamento está
dividido em distribuição de
equipamentos para as escolas, por
um lado, e formação da rede de
computadores, seguida da
utilização da Internet, por outro. A
atualização tecnológica visa à
criação em toda a rede escolar do
ambiente que conduza a um ensino
que utilize a tecnologia da
informação e comunicação
efetivamente, bem como o
incremento da distribuição de
computadores às escolas, grande
velocidade de acesso à Internet,
adequada ao tamanho do
estabelecimento e ao bom
Para acelerar o processo
modelador da sociedade do
conhecimento do século 21,
concluiu-se o projeto de apoio ao
desenvolvimento e utilização de
programas de computador para
ensino e conteúdos educacionais de
qualidade. O Serviço Coreano de
Informação sobre Educação e
Pesquisa lidera os trabalhos de
desenvolvimento dos materiais
educativos em formato multimídia,
bem como dá suporte para
explicações sobre a tecnologia
digital. Ao mesmo tempo, os
professores são formados na
pesquisa e utilização das novas
tecnologias para assuntos
curriculares. Os próprios docentes
são estimulados a desenvolver e
produzir programas educativos de
qualidade para computadores,
como parte integrante do seu
trabalho didático-pedagógico em
sala de aula. Outros programas de
treinamento incluem o acréscimo
de um especialista em
informatização por escola, para dar
assistência permanente ao uso da
rede digital.
CORREIO BRAZILIENSE
14/09/15
CIDADES
CRISE NO GDF »
Pacote deve incluir suspensão de reajuste
O adiamento do acréscimo
concedido a 32 categorias é uma
das possibilidades mais cogitadas
entre as medidas a serem
anunciadas amanhã. Caso
contrário, o governo precisa de
R$ 2,2 bilhões para acabar o ano
em dia com empregados e
fornecedores
» MATHEUS TEIXEIRA
Rodrigo Rollemberg passou o
fim de semana reunido com
assessores para definir onde vai
cortar gastos
Após passar o sábado e o
domingo reunido com os auxiliares
mais próximos, o governador
Rodrigo Rollemberg (PSB) entra
em uma das semanas mais
importantes dos seus nove meses
de administração. O seu staff ainda
tem indefinições sobre o pacote de
medidas a ser anunciado amanhã.
A única certeza do núcleo central
do Palácio do Buriti é que somente
iniciativas muito duras serão
suficientes para sanar a crise
financeira e garantir o pagamento
em dia dos servidores e
fornecedores, até o fim do ano.
Como vem antecipando o Correio,
estuda-se desde aumento do preço
de passagem de ônibus e
restaurantes comunitários a
demissão de funcionários
públicos. Ontem, ganhou força a
tese de que a única saída possível
é suspender os reajustes salariais
— a maioria passa a valer em
setembro e deve ser paga no
próximo dia 5 (veja quadro
abaixo).
Isso pode acontecer porque, na
leitura de economistas do GDF, não
há corte de cargos comissionados
suficiente para o Executivo local
escapar de extrapolar o limite da
Lei de Responsabilidade Fiscal
(LRF). Só uma ampliação muito
significativa da receita — leia-se
aumento de impostos — permitiria
o GDF fechar o ano com os gastos
com pessoal dentro do parâmetro
permitido pela legislação. Por isso,
além de elevar tributos, adiar o
pagamento dos aumentos salariais
concedidos a 32 categorias é uma
das possibilidades mais cogitadas
internamente. O GDF calcula que,
com isso, economizaria R$ 460
milhões daqui para o fim do ano.
Somados a outros reajustes que
passaram a vigorar nos meses
anteriores, as negociações feitas
pela gestão passada elevaram em
R$ 855 milhões a previsão de
gastos com pessoal de 2015 e em
R$ 2 bilhões para 2016.
Caso o socialista não postergue
os acréscimos nos vencimentos
para evitar uma greve geral do
funcionalismo, como vêm
ameaçando sindicatos, ele precisa
de um incremento de R$ R$ 2,2
bilhões a fim de acabar o ano em
dia com empregados e
fornecedores do GDF. Fora a
preocupação com a falta de
dinheiro e os prováveis impactos
no cotidiano da cidade, encerrar o
ano além do limite da LRF pode
levar Rollemberg a ter as contas
do primeiro ano de governo
rejeitadas no Tribunal de Contas
do DF.
Comissionados
Mês passado, o governo já
havia anunciado um corte de 20%
no
número
de
cargos
comissionados. Amanhã, fora os
amargos remédios preparados pela
equipe econômica, também deve
ser oficializada a redução de
secretarias. Está em estudo a
quantidade ideal de pastas — as
atuais 24 pastas devem cair para
um número próximo de 15.
Setores com assuntos similares
devem passar a ter o mesmo chefe.
É o caso de Turismo, Esporte e
14/09/15
Cultura. Mulher, Igualdade Racial,
Direitos Humano, Crianças,
Adolescentes e Jovens podem
integrar a supersecretaria de
Justiça; Casa Civil e Relações
Institucionais podem ser fundidas.
Para fazer as mudanças, porém,
Rollemberg tem uma complicada
equação política a resolver. A
simples especulação de que os
cortes estão por vir causou um
alvoroço nos bastidores. Se as
mudanças citadas acima se
concretizarem, por exemplo,
Marcos Dantas e Jaime Recena
poderiam deixar o primeiro
escalão do Buriti. Difícil imaginar
o chefe do Executivo local abrir
mão de dois nomes mais fortes de
seu partido, o PSB — eles são
presidente e vice-presidente da
sigla, respectivamente.
14/09/15
CORREIO BRAZILIENSE
14/09/15
CIDADES
Cenário é pessimista
Os reajustes a 37 categorias
negociados pelo governo Agnelo
Queiroz (PT) fizeram da folha de
pagamento com pessoal do GDF a
grande vilã das contas da
administração
Rodrigo
Rollemberg. Os gastos com o
salário dos servidores saltaram de
R$ 5,7 bilhões em 2010 para R$
19,2 bilhões este ano. Na
avaliação de integrantes da equipe
econômica da atual gestão, a
elevação acima da inflação do
período tornou os aumentos
concedidos pela gestão petista e
aprovados
pela
Câmara
Legislativa, insustentáveis.
A secretária de Planejamento,
Leany Lemos, afirma que o
cenário esperado para o fim do ano
“não é otimista”. Ela, no entanto,
diz que a decisão política do
governo é priorizar os
vencimentos dos empregados do
Estado. “Temos nossa prioridade,
mas dependemos do fluxo de
entrada de recursos no caixa, e não
temos como alterar isso”, explica.
Segundo ela, todo mês o GDF
retém gastos para dar conta da
folha salarial. “Todo dia 25 a
Fazenda trava o sistema e não
pagamos mais nada. Fazemos um
colchão, como chamamos, a fim de
guardarmos verba suficiente para
depositar na conta dos servidores”,
diz.
Lemos recorda que houve
frustração na arrecadação de
tributos este ano, o que dificultou
ainda mais a vida de Rollemberg.
Ela também cita a crise nacional e
o nível de dependência que a
economia brasiliense tem do setor
público. “A gente sabe que quando
contemos gastos a economia gira
menos. É um ciclo de recessão.
Infelizmente, essa bola caiu no pé
do Rollemberg. Cairia no colo do
vencedor da eleição, de qualquer
um que se elegesse”, diz. Apesar
de todos os problemas, a secretária
demonstra otimismo: “Acredito
firmemente que, com medidas
corretas, muita disciplina e
algumas medidas impopulares, as
coisas vão se resolver no médio
prazo.”
DESTAKjornal (DF)
14/09/15
BRASÍLIA
Valor Econômico
14/09/15
BRASIL
Dilma terá que cortar programas sociais
Por Ribamar Oliveira | De
Brasília
Para ampliar o corte nas
despesas discricionárias previstas
na proposta orçamentária de 2016,
a presidente Dilma Rousseff terá
que aceitar reduzir as dotações
para três programas que lhe são
muito caros: o Minha Casa Minha
Vida (MCMV), o Bolsa Família e
a transposição do rio São
Francisco. Segundo fontes do
governo, esses foram os programas
que tiveram ampliação de
despesas em relação ao autorizado
para 2015, junto com uma reserva
alocada para aumentar os auxílios
alimentação e transporte dos
servidores públicos, como parte
da negociação em torno do reajuste
salarial para os próximos dois
anos.
Mesmo que a presidente aceite
cortar todo o acréscimo feito
nessas áreas, o governo só
conseguiria reduzir cerca de R$
11,5 bilhões, advertem os técnicos
- o que representa menos de 18%
do que o governo precisa para
cumprir a meta de superávit
primário de R$ 43,8 bilhões ou
0,7% do Produto Interno Bruto
(PIB) para todo o setor público em
2016.
Como a proposta orçamentária
da União para 2016 está com um
déficit de R$ 30,5 bilhões, o
governo precisa fazer um ajuste
nas contas equivalente a R$ 64,9
bilhões para garantir um superávit
primário de R$ 34,4 bilhões para
o governo central (que
compreende o Tesouro, a
Previdência e o Banco Central). A
estimativa é que os Estados e
municípios façam um superávit de
R$ 9,4 bilhões.
O espaço para cortar as
despesas discricionárias é
considerado muito pequeno pelos
técnicos oficiais. Assim, o governo
intensificou os estudos para
identificar gastos obrigatórios que
podem ser reduzidos. Entre as
possibilidades levantadas está a
adoção
de
medidas
administrativas para evitar fraudes
e exageros na concessão do
auxílio-doença, propostas para
aumentar a fiscalização na
concessão de aposentadorias por
invalidez, tornar mais restritivas as
concessões do seguro ao pescador
artesanal (seguro defeso) e
alterações nas regras de
concessões de benefícios aos
idosos e deficientes, no âmbito da
Lei Orgânica de Assistência Social
(LOAS). Muitas dessas mudanças
precisarão ser aprovadas pelo
Congresso e envolverão uma
difícil negociação política.
A proposta orçamentária para
2016 prevê que as despesas
discricionárias (aquelas que
podem ser cortadas pelo governo)
atingirão R$ 250,4 bilhões, contra
um limite de R$ 233,9 bilhões
fixado para este ano - o que
representa um aumento nominal de
7% e um aumento real muito
pequeno, em torno de 0,8%, o que
equivale a R$ 2 bilhões.
Em recente entrevista ao Valor,
Dilma alertou para o fato de que,
do
total
das
despesas
discricíonárias, R$ 135,3 bilhões
não podem ser contingenciados,
pois incluem gastos na área da
saúde e da educação, que têm pisos
constitucionais de despesa.
Sobrariam R$ 115,1 bilhões que
podem ser contingenciados.
O principal aumento feito pelo
governo
nas
despesas
discricionárias foi para o
Programa de Aceleração do
Crescimento (PAC), que teve o seu
limite de empenho elevado de R$
35,25 bilhões neste ano para R$
42,4 bilhões em 2016. O aumento
é explicado, quase inteiramente,
pelo programa MCMV, que têm
previsão de dotação em 2016 de
R$ 15,5 bilhões, ante um limite de
empenho de R$ 8,3 bilhões fixado
para este ano - acréscimo de R$
7,2 bilhões. Com os recursos, o
governo espera pagar todas as
operações já contratadas do
programa e realizar novas
contratações,
depois
do
lançamento da fase 3 do MCVM.
14/09/15
Houve um aumento de R$ 1,2
bilhão para a área de infraestrutura
hídrica, principalmente para o
programa de transposição do rio
São Francisco. O governo tem
estudo que aponta risco elevado de
desabastecimento de água em
Fortaleza em 2016. Por isso,
decidiu intensificar as obras da
transposição para levar água até o
açude Castanhão, que abastece a
região metropolitana da capital
cearense.
Para o Ministério do
Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, o governo
reservou uma dotação adicional de
R$ 1,35 bilhão. A ideia inicial é
utilizar esses recursos para
reajustar, no ano que vem, os
valores dos benefícios do
programa Bolsa Família, que
foram corroídos pela elevada
inflação deste ano.
O governo incluiu também na
proposta orçamentária de 2016
uma dotação de R$ 1,8 bilhão para
aumentar o auxílio alimentação e
o vale transporte dos servidores
públicos. Esse aumento dos
auxílios faz parte da negociação
feita em torno do reajuste salarial
dos próximos dois anos.
A proposta orçamentária prevê
ainda uma verba adicional de R$
792 milhões para a Secretaria de
Aviação Civil. O objetivo do
governo é usar esses recursos para
fazer uma reestruturação da
Infraero. O Ministério da Justiça
ganhou R$ 300 milhões para
garantir a segurança da Olimpíada
do Rio. O acréscimo de R$ 400
milhões na dotação para o
Ministério das Relações Exteriores
foi para compensar a subida do
dólar.
Os técnicos informam que há
espaço para cortes na previsão do
gasto com diárias. O governo já
anunciou que vai reduzir
ministérios
e
cargos
comissionados.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Mesmo em crise, USP é o primeiro
lugar no ranking universitário
Faculdades
particulares
ultrapassam escolas públicas em
alguns cursos
demissão voluntária. O cenário de
corte também afeta as instituições
federais.
faculdade, e facilitam o
acompanhamento, pela sociedade,
do ensino superior brasileiro.
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
A USP ampliou sua liderança
no RUF (Ranking Universitário
Folha), a mais ampla avaliação de
qualidade de instituições de
ensino superior do país, que chega
em 2015 à quarta edição.
Ainda na graduação, faculdades
privadas ultrapassaram grandes
universidades públicas em alguns
cursos.
As 192 universidades do país
são avaliadas em cinco aspectos:
pesquisa, ensino, inserção no
mercado,
inovação
e
internacionalização.
Primeira colocada no ranking
geral, como nos anos anteriores, a
instituição aumentou o número de
primeiras colocações nas 40 áreas
de graduação consideradas. Foi de
20 (em 2014) para 29.
A escola obteve o resultado
mesmo após adotar medidas para
diminuir o deficit, como suspender
contratações e aplicar programa de
A FGV-SP obteve o segundo
lugar em administração, à frente
das federais de Minas e do Rio. O
Insper subiu da 36ª para a 8ª
posição, na carreira com mais
calouros no país. A FGV-SP ficou
ainda entre as cinco melhores
escolas de economia.
A ESPM (Escola Superior de
Propaganda e Marketing)alcançou
o segundo lugar em propaganda; a
São Leopoldo Mandic, o 4º em
odontologia.
Esses e outros dados visam
ajudar o estudante a escolher sua
Em outra frente, estão
classificadas 2.391 instituições,
considerando as 40 carreiras com
mais calouros. Nesse grupo, a
moda entrou no lugar dos cursos
de filosofia.
Pela primeira vez, os resultados
podem ser comparados aos do ano
anterior, devido à manutenção da
metodologia, que inclui dados
oficiais e pesquisas de opinião
Datafolha. A inclusão de dados
sobre formados e extensão
universitária está em estudo e pode
ser incluída no forte.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Aprenda a usar os dados para
escolher sua universidade
Nas tabelas, é preciso comparar
as instituições de ensino por
grupos
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Se você se formou na faculdade
recentemente, responda rápido:
como você elegeu a sua instituição
de ensino? Caso sua escolha tenha
sido feita às cegas, não se assuste.
É isso que acontece com a maioria
das pessoas.
A escolha de uma profissão ou
de uma instituição de ensino podem
ser decisivas para toda a carreira.
Por
isso,
quanto
mais
embasamento, melhor.
Desde 2012, o RUF avalia as
instituições brasileiras de ensino
superior e reúne informações que
podem
ajudar
futuros
universitários a escolher sua
universidade. Mas é preciso
entender os dados.
Há dois tipo de classificações
diferentes no RUF. O ranking de
universidades avalia em cinco
quesitos as 192 instituições
brasileiras que fazem ensino,
pesquisa e extensão –95 privadas
e 97 públicas (veja infográfico).
Há também os rankings de
cursos, que listam universidades,
centros universitários e faculdades
em cada uma das 40 carreiras de
maior demanda no país, como
medicina, publicidade e direito.
Para analisar todas essas
informações é preciso olhar as
instituições em grupos.
No ranking de universidades,
por exemplo, vemos que a USP é a
melhor do país.
São igualmente boas as escolas
que estiverem no mesmo
"quadrante" da USP –no grupo das
25 melhores.
Há quatro nordestinas "padrão
USP": as federais de Pernambuco
(10º lugar), do Ceará (11º), da
Bahia (15º) e do Rio Grande do
Norte (25º).
Há, também, duas instituições
privadas no grupo da USP: as
pontifícias do Rio de Janeiro (19º
lugar) e do Rio Grande do Sul (20º
lugar).
As 95 universidades privadas
do país também podem ser
analisadas em grupos.
No quadrante da melhor privada
do país, a PUC-Rio, por exemplo,
encontramos uma série de
universidades católicas, o
Mackenzie (4ª melhor privada) e
a Universidade de Caxias do Sul
(5ª).
Uma universidade melhora de
um ano para outro no RUF quando
ela muda de quadrante. É o caso
da Universidade Estadual da
Paraíba, que saiu do 109º lugar em
2014 (3º quadrante) e passou para
93º lugar (2º quadrante), junto com
escolas como a Universidade
Federal do Triângulo Mineiro (53º
lugar).
CURSO POR CURSO
Se você já tem ideia da carreira
que vai seguir, vale analisar o
ranking do seu curso. Algumas
instituições podem ser referência
em áreas específicas, mas se
diluem se comparadas como um
"todo".
No RUF, vemos o exemplo da
federal de Viçosa: é a melhor do
país no curso de agronomia, mas
vai para 16º lugar no ranking de
universidades.
Situação semelhante acontece
na PUC-SP: a universidade tem o
3º melhor curso de direito no RUF,
só perdendo para a USP e para a
federal de Minas Gerais. Já no
ranking geral de universidades, a
PUC-SP vai para 53º lugar.
E se você tiver paciência, vá
além: no site do RUF você
consegue pesquisar a cidade de
cada instituição e pode conferir
informações detalhadas, como o
número de alunos de cada
universidade.
Essa informação é importante.
Há estudos sobre evasão escolar
que mostram que há estudantes que
não se dão bem em universidades
muito grandes; outros não
conseguem se manter estudando
muito longe de casa.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Verba curta prejudica até
as melhores escolas do país
Saem
construções
e
contratações,
entram
congelamentos e greves
manutenção e 47% da de
investimento (construções e
modernizações da estrutura).
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA DE SÃO PAULO
Até 2013, as universidades
brasileiras falavam em construir e
contratar. Em 2015, os termos
desapareceram do ensino superior
e foram substituídos por corte e
greves.
As federais de Minas e do Rio
tiveram dificuldades até de pagar
a conta de luz.
O desaquecimento da economia
fez com que as melhores
universidades do país segundo
RUF recebessem menos recursos
do que o esperado. Por serem
públicas, elas dependem do
repasse dos Estados ou da União.
Nas escolas paulistas (USP,
Unesp e Unicamp), a verba
transferida pelo governo estadual
ficou 10% menor do que o previsto
(até junho).
Contratações de professores
estão suspensas e há corte na
verba para manutenção.
Na USP, um plano de demissão
voluntária de técnicos no começo
deste ano levou a redução de
cerca de 5% na folha de
pagamento.
Nas instituições federais,
decreto presidencial de junho
congelou 10% da verba de
Greve iniciada há três meses
atinge as 41 universidades federais
que responderam à reportagem (em
algumas, docentes estão parados;
em outras, técnicos). Em 17
escolas, o primeiro semestre letivo
ainda não acabou.
Há reivindicação de reajuste
salarial, via revisão da carreira,
mas também por melhoria nas
condição de trabalho.
QUAL O EFEITO?
Dirigentes universitários e
pesquisadores entrevistados pela
Folha dizem que a situação
orçamentária atrapalha a vida das
instituições no curto prazo, mas
ainda não têm potencial para
causar queda na qualidade do
ensino e da pesquisa no médio
prazo.
Essa queda só ocorrerá se as
restrições se prolongarem por
alguns anos, afirmam.
"Recursos humanos são a base
para qualquer ambiente de ensino
e pesquisa. E nosso pessoal segue
bem qualificado, com doutorado",
diz o secretário-executivo da
Andifes (entidade que representa
os reitores das federais), Gustavo
Balduíno.
Ex-presidente do CNPq (órgão
federal de fomento à pesquisa),
Glaucius Oliva lembra que, antes
do corte orçamentário, as
universidades viveram fase de
compra de equipamentos e reforma
de laboratórios. "Precisamos nos
adaptar e otimizar esses recursos
nos próximos anos."
O reitor da USP, Marco Antonio
Zago, afirma que as medidas de
contenção de despesas foram
escolhidas
"para
não
comprometerem as atividades-fim
da universidade".
Os cortes na escola começaram
ano passado, antes das demais,
devido ao crescimento do gasto
com folha de pagamento. À época,
chegou a consumir 106% do que a
escola recebe do governo.
"Tomamos medidas que
tomaríamos em casa", afirmou a
vice-reitora da Unesp, Marilza
Vieira Cunha Rudge. "Estamos
apagando a luz, reduzindo o uso de
água. No prédio da reitoria,
colocamos borrachinha nas
torneiras [para economizar água]."
14/09/15
EXEMPLOS DA CRISE
Para a representante da Unesp,
"é no momento de crise que as
pessoas têm mais ideias
interessantes".
Ela cita como exemplo a
diminuição de gastos com viagens.
Videoconferências passaram as ser
usadas em reuniões e até em bancas
de doutorados. (SABINE
RIGHETTI,
FÁBIO
TAKAHASHI,
CLÁUDIO
GOLDBERG RABIN E WALTER
PORTO)
-
UFRJ
Universidade Federal do Rio
de JaneiroParalisação durou três
meses, teve participação de
alunos e terminou em agosto. O
1º semestre não acabou em alguns
cursos
UFERSA
Universidade Federal Rural do
SemiáridoGreve teve início em
maio e atinge 100% dos cursos
de graduação. As aulas do 1º
semestre ainda não foram
concluídas
USP
Universidade
de
São
PauloPrograma de demissão
voluntária para técnicos cortou
1.400 funcionários no começo
deste ano; grandes obras estão
suspensas
UFSC
Universidade Federal de Santa
CatarinaFuncionários parados
desde junho. Aulas foram mantidas,
mas biblioteca e restaurante
universitário estão prejudicados
UFG
Universidade Federal de
GoiásGreve começou com
paralisação dos funcionários, em
maio; docentes aderiram ao
movimento em agosto
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Unifesp tem pior queda
entre primeiras da lista
Em fase de expansão,
universidade perde 12 posições e
informa que prioridade, agora, é
consolidar cursos novos
DHIEGO MAIA
DE SÃO PAULO
A Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo) foi a
instituição que mais perdeu
posições entre as 25 melhores
nesta edição do RUF.
Do 12º lugar, em 2014, caiu
para 22º no ranking deste ano (com
192 universidades).
A maior queda ocorreu na
avaliação do mercado de trabalho,
que é baseada em pesquisa com
empregadores. A escola foi da 52ª
para a 102ª colocação, o que
mostra que a Unifesp não tem sido
lembrada pelo mercado.
Mas há uma ponderação: a
universidade é a única entre as
melhores com menos de 10 mil
alunos. Nesse indicador, o
tamanho importa, pois quanto mais
pessoas forma, maior é a
relevância da instituição para as
empresas.
A universidade também sofreu
retração em outros dois aspectos:
pesquisa (um posto) e inovação
(nove). Em ensino (14ª) e
internacionalização (10ª), ela se
manteve.
Nos últimos quatro anos, a
Unifesp, até então conhecida por
cursos da área da saúde, fez a
maior expansão de sua história.
Criou seis campi e o número de
cursos saltou de 20 para 51,
incluindo administração e
engenharia.
Se, por um lado, a escola passou
a atender mais estudantes, por
outro enfrenta problemas
estruturais. As greves de alunos
pedindo melhores condições de
ensino são uma evidência disso.
"Ela pagou preço por ter
crescido sem planejamento",
afirma Antonio Carlos Lopes, exdiretor da Escola Paulista de
Medicina,
unidade
mais
tradicional da Unifesp.
Lopes cita como exemplos os
campi de Osasco e Guarulhos, que
funcionam em prédios alugados e
ainda não tiveram suas obras
concluídas.
Mayra Guanaes, 25, cursa
letras, em Guarulhos. Ela reclama
que a biblioteca da unidade tem
número insuficiente de livros.
"Demoro muito para fazer as
pesquisas."
Uma aluna de 23 anos que está
no último ano de medicina (e pede
anonimato) afirma que há
professores que preferem
pesquisar e colocam pósgraduandos e técnicos para darem
aulas.
A pró-reitora de graduação da
Unifesp, Maria Angélica Pedra
Minhoto, reconhece os problemas
provocados
"pela
rápida
expansão". Mas, segundo ela, a
universidade se planejou para dar
conta desse crescimento, ao
contratar mais professores.
"Cerca de 95% dos docentes
têm doutorado, quadro difícil de
ser visto nas demais federais",
afirma.
Minhoto diz ainda que a
prioridade, agora, é "fortalecer os
cursos existentes, colocando em
operação as obras dos novos
campi."
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Escolas temem que o novo teto
salarial provoque êxodo de cérebros
Decisão do Supremo obriga corte
em salário de professores
experientes
REINALDO JOSÉ LOPES
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA, DE SÃO CARLOS (SP)
USP, Unesp e Unicamp vivem
momentos de tensão. O salário de
parte dos professores deve ser
cortado nos próximos meses, depois
de o Supremo Tribunal Federal
deixar clara a aplicação do teto
salarial para o funcionalismo.
Até então, havia dúvidas do que
considerar no salário do servidor
para o cálculo desse limite salarial.
A remuneração de um
funcionário estadual não pode
ultrapassar vencimentos do
governador: Geraldo Alckmin
(PSDB) ganha R$ 21,6 mil.
No
entendimento
das
universidades, os benefícios
conquistados antes de 2003 não
deveriam ser considerados nos
salários dos servidores para o cálculo
do teto. O Supremo, porém,
contrariou esse entendimento. Disse
que tudo deve ser computado.
Assim, só na USP, cerca de 7%
dos servidores devem passar a
ganhar menos devido à decisão. Em
geral, são os mais experientes da
escola.
As universidades, que aguardam
os últimos trâmites legais para iniciar
os cortes na folha de pagamento,
dizem que podem perder parte dos
melhores professores.
Em artigo publicado mês passado
na Folha, chamado "O Começo do
Fim", o reitor da Unicamp, José
Tadeu Jorge, disse que há grande
risco de haver migração de docentes
para as federais, onde o teto é maior
(R$ 34 mil).
Para os servidores federais, o
limite considera o salário de ministro
do Supremo.
DÚVIDA
Dados
levantados
pela
reportagem, porém, relativizaram a
possibilidade de migração docente
para federais.
A Folha analisou o caso
emblemático dos campi em São
Carlos (interior de SP), um da USP
e outro de uma federal, a UFSCar.
Usando dados públicos do
governo federal e da USP, a
reportagem comparou os salários
brutos de todos os professores do
Instituto de Física de São Carlos, da
USP, e dos docentes do
departamento de física da UFSCar.
Não há grande diferença entre as
médias salariais. A maioria recebe
entre R$ 11 mil e R$ 15 mil mensais.
Nenhum dos 48 membros do
departamento da federal chega a
receber o teto do funcionalismo
paulista.
Comparando dois pesquisadores
com tempo parecido de carreira,
categoria similar (professor
associado) e a mesma área geral de
pesquisa (nanotecnologia) das duas
instituições, a USP se sai melhor
novamente: paga R$ 17 mil ao seu
docente, contra R$ 15 mil no caso
da UFSCar.
Entre os docentes titulares
(máximo da categoria), na UFSCar
os salários variam entre R$ 17 mil e
R$ 19 mil. Na USP, entre R$ 14 mil
e R$ 30 mil (esses últimos são os
que serão afetados pelo corte).
O físico Fernando Fernandes
Paiva, professor do instituto da USP
desde 2012, diz que a discussão
sobre as possíveis vantagens das
instituições federais é controversa.
"Pouca gente vai priorizar um
número lá no fim da carreira para
decidir se vai prestar concurso numa
federal."
Um ponto importante, para Paiva,
é a infraestrutura oferecida e o
ambiente de pesquisa em cada
instituição.
"Quando você se estabelece,
ganha seu espaço e cria infraestrutura
para fazer suas pesquisas, é quase
loucura abrir mão disso por conta
de um teto que pode ou não vir no
fim da carreira", afirmou.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Estudante típico das 10 melhores
está distante da média brasileira
Maioria dos alunos é branca e
oriunda de escolas particulares
WALTER PORTO
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
O aluno típico das melhores
universidades é branco, de classe
média e fez o ensino médio na rede
privada.
A informação vem da
compilação
dos
dados
socioeconômicos dos calouros de
7 das 10 universidades mais bem
colocadas no RUF 2015.
Todas foram procuradas pela
Folha. Apenas as federais do Rio
de Janeiro, Rio Grande do Sul e
Pernambuco não repassaram as
informações sobre os estudantes.
O perfil dos alunos nessas
instituições de ponta destoa do
perfil da população brasileira. Nas
melhores universidades, 27% dos
alunos são pretos ou pardos. A
média da população é de 51%,
segundo o Censo do IBGE (2010).
Pouco mais de 40% dos
estudantes vieram do ensino médio
público, rede que atende a 87%
dos alunos do país.
Apenas na Universidade
Federal
do
Paraná
há
predominância de calouros vindos
da rede pública: são 58% do total.
A escola reserva 40% dos postos
para esse público, por sistema de
cotas.
O recorte econômico mostra
que a renda familiar mais frequente
entre os estudantes é de dois a dez
salários mínimos, faixa o que os
coloca, segundo critérios do
Centro de Políticas Sociais da
FGV-SP, próximos à classe C.
Pesquisa Datafolha de 2013
mostrou que 66% das famílias
brasileiras ganham até três salários
mínimos. A taxa de alunos na faixa
de renda mais baixa das dez
melhores universidades alcança
15%.
Coordenador do grupo de
estudos sobre ensino superior na
Unicamp, o professor Renato
Pedrosa afirma que a desigualdade
no sistema de ensino começa ainda
na educação básica. "Terminar o
ensino médio já é um filtro. O
ensino superior acumula essa
exclusão."
AS
PRIMEIRAS
RANKING
UNIVERSIDADES
1 USP
DO
DE
2 UFRJ
3 UFMG
4 Unicamp
5 UFRGS
6Unesp
7 UFSC
8 UFPR
9 UnB
10UFPE
É BRANCO
Maioria declara ser da cor
branca em todas as universidades,
exceto na UFMG, em que são 47%;
só na UnB a taxa de pretos alcança
10%
CLASSE C
Todas as universidades têm
maioria de estudantes na faixa de
renda de 2 a 10 salários mínimos;
a UnB tem 20% de alunos com
mais de 20 salários mínimos, e a
USP tem 13%.
ESTUDOU EM ESCOLA
PAGA
Egressos de escola particular
predominam em todas as
instituições, menos na federal do
Paraná; na USP e na Unicamp, são
66%
É HOMEM
Dentro das dez melhores, os
homens são 54%, contra 49% na
média nacional
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Instituições estão investindo
em professores com doutorado
Escolas em Santarém (PA) e no
Cariri (CE) são as que mais
avançaram na formação do seu
corpo docente
CLÁUDIO GOLDBERG
RABIN
GIULIANA MIRANDA
DE SÃO PAULO
Universidades de todo o país
têm contratado mais professores
com doutorado: desde a primeira
edição do RUF, em 2012, até esta,
a participação de doutores no total
aumentou de 43% para 48%.
O percentual de professores
com doutorado e mestrado no
quadro docente da instituição é um
dos indicadores contabilizados no
ranking.
Nesta edição de 2015,
universidades que melhoraram
significativamente a formação de
seus professores também
avançaram na classificação geral
do ranking.
A Ufopa (Universidade Federal
do Oeste do Pará), em Santarém,
foi uma das que mais subiu no
quesito sobre formação de
professores, saltando 54 posições.
No ranking geral, a escola subiu
da 167ª para a 134ª posição.
lembra que uma causa da melhoria
na qualificação de professores é o
aumento da fiscalização, pelo
Ministério da Educação, da lei que
obriga a universidade a ter um
terço do corpo docente com
mestrado ou doutorado.
A reitora da Ufopa, Raimunda
Monteiro, diz que tem sido
fundamental a parceria com outras
instituições, como a Unicamp
(Universidade Estadual de
Campinas), por exemplo, para a
formação de seus professores.
O maior rigor começou em
2006. "Professores que não tinham
o título passaram a exercer outras
funções na universidade", diz
César. Ao mesmo tempo, novos
docentes já chegam bem formados.
No critério do perfil de
professores, a Universidade
Regional do Cariri, no Ceará, foi
a segunda que mais avançou. O
reitor, José Patrício Pereira Melo,
afirma que os concursos públicos
realizados buscam filtrar pelos
títulos os futuros docentes.
FISCALIZAÇÃO
Lácio César, que comanda a
Universidade Santa Úrsula, no Rio,
A Unoeste (Universidade do
Oeste Paulista), de Presidente
Prudente, informa que oferece
subsídios para cursos e horário de
trabalho flexível aos professores
que decidem investir na sua
formação.
Já na Universidade Estadual do
Rio de Janeiro, o plano de carreira
docente é atrelado à titulação do
profissional, e não apenas ao seu
tempo de trabalho.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
ANÁLISE
Artigo científico 'blockbuster'
catapulta notas de universidades
Trabalho com mais de 900
autores fez escolas mineiras
subirem no ranking
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
FÁBIO TAKAHASHI
DE SÃO PAULO
Um único artigo científico
catapultou as universidades
federais mineiras de São João del
Rei e de Juiz de Fora para
primeiras posições em quesitos do
RUF que avaliam a qualidade da
pesquisa
acadêmica
nas
instituições de ensino.
Em expediente controverso na
ciência mundial, o trabalho –um
estudo na área de física publicado
no periódico "Physics Letters B"
em 2012– foi assinado por mais
de 900 pesquisadores, de vários
países –incluindo o Brasil.
O trabalho foi um dos que
retratou a observação da partícula
bóson Higgs, considerada uma das
descobertas do século e que ajuda
a entender formação do universo.
Para se ter uma ideia do que
significam 900 autores, o "Physics
Letters B" teve uma média de três
autores por artigo em 2012. Há
estudos recentes com a assinatura
de mais de 5 mil nomes.
Dentre as mais de 900
assinaturas no estudo, onze são de
pesquisadores brasileiros, da USP,
UFRJ (federal do Rio) e das duas
federais mineiras.
A experiência ocorreu no maior
acelerador de partículas do mundo,
na Suíça.
A controvérsia ocorre porque
há pesquisadores num trabalho
assim que têm papel lateral na
descoberta, mas recebem
praticamente o mesmo crédito que
os líderes.
Um desses louros é a citação do
artigo em outros trabalhos
acadêmicos, uma das principais
formas de medir o impacto de uma
pesquisa.
A quantidade de citações é
considerada no RUF para avaliar
as universidades. No quesito que
mede especificamente o número de
citações por docente, por exemplo,
a federal de São João del Rei
subiu do 32º lugar em 2014 para o
1º lugar no país.
Já a de Juiz de Fora foi de 44º
lugar para o 4º posto no mesmo
quesito.
Isso aconteceu porque o artigo
sobre o bóson de Higgs é uma
espécie de "blockbuster": foi
citado 1.039 vezes somente em
novos estudos publicados somente
em 2013.
Em universidades como a USP
ou a UFRJ, que publicam muitos
estudos por ano, as citações
recebidas em cada artigo ficam
diluídas.
Já em São João del Rei, de
menor porte (que tem quase um
quarto do tamanho da USP), o
estudo foi suficiente para, sozinho,
dobrar a quantidade de citações
recebidas pela escola em 2013.
O levantamento dos dados de
impacto foi feito pelo pesquisador
em ciência da informação Estêvão
Gamba, consultor do RUF.
ALTA ENERGIA
A física Maria Aline Barros do
Vale está entre os brasileiros que
assinam o estudo –figura sozinha
na federal de São João del Rei.
Com doutorado pela UFRJ, ela
inaugurou, em 2002, a área de
estudos em física de altas energias
na escola mineira. Hoje, coordena
14/09/15
a pós-graduação em física na
universidade de Minas.
Do Vale conta que já esteve no
acelerado de partículas na Suíça
algumas vezes –nos tempos em que
o dinheiro para viagens
internacionais científicas era mais
farto.
A participação dela no estudo
publicado foi mais focada em
física teórica –do Vale pesquisa
outra partícula, ainda não
observada, o bóson de gauge.
"Cada pesquisador presta um
serviço diferente", diz. "Há
cientista, por exemplo, que ajuda
a desenvolver um software que
analisa os dados coletados pelo
acelerador."
Para George Matsas, do
Instituto de Física Teórica da
Unesp, investimentos bilionários
como do acelerador de partículas
gigante exigem milhares de
pessoas.
"Mas estamos surfando em onda
que não é nossa. Esses estudos não
são liderados por brasileiros", diz
Matsas.
O físico Leandro Tessler, da
Unicamp, concorda: "Uma coisa é
colaborar como uma via de duas
mãos, em que há interesse mútuo
na cooperação. Outra é o que vem
ocorrendo com muitas instituições
brasileiras, em que você manda
especialistas, paga a conta e acha
que avançou."
"A distorção [no impacto das
universidades por causa desse
artigo] não deve ser usada para
desvalorizar participação de
cientistas do Brasil", afirma Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretorcientífico da Fapesp (agência
paulista de fomento à ciência).
Dados de impacto, no entanto,
devem ser analisados com cautela
para "filtrar efeitos espúrios", diz
Cruz.
Para do Vale, o trabalho tem
rendido frutos. Segundo ela, graças
à sua participação no estudo, um
dos seus ex-alunos de mestrado
conseguiu uma oportunidade para
desenvolver parte da sua pesquisa
de doutorado no acelerador da
Suíça.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
ANÁLISE
Universidade Precisa ser livre
para poder abrir mão da pesquisa
HÉLIO SCHWARTSMAN
COLUNISTA DA FOLHA
"Uma coisa é uma coisa, outra
coisa é outra coisa", diz a
sabedoria
popular.
E,
frequentemente, quando tentamos
transformar o um em outro sem
que as condições estejam dadas,
acabamos produzindo confusões,
quando não criamos quimeras.
Com o ensino superior não é
diferente. O artigo 207 da
Constituição
reza:
"As
universidades gozam de autonomia
didático-científica, administrativa
e de gestão financeira e
patrimonial, e obedecerão ao
princípio de indissociabilidade
entre ensino, pesquisa e extensão".
Temos aqui várias ficções
constitucionais, mas é na última
delas que eu gostaria de me
concentrar. O que quer dizer
indissociabilidade entre ensino,
pesquisa e extensão?
Para simplificar um pouco,
tiremos a extensão dessa equação
–é forçoso reconhecer que essa é
uma atividade lateral na
universidade.
Isso nos deixa com ensino e
pesquisa. Eles devem ser mesmo
tratados como indissociáveis? O
consenso dizia que as duas
atividades são tão complementares
e sinérgicas que é justamente sua
confluência num único espaço o
que diferencia universidades de
outras instituições educacionais ou
científicas.
Professores que pesquisam, diz
o raciocínio, tendem a estar na
vanguarda de suas áreas e
conseguem passar antes e com
muito mais entusiasmo o resultado
de suas experiências aos
estudantes.
Parece bom mesmo. Mas esse
efeito é real? Herbert W. Marsh
(hoje em Oxford) e John Hattie
(Universidade de Melbourne), em
artigo de 2002, mostram que as
coisas podem ser complicadas.
As tentativas de medir o
fenômeno resultaram num quadro
ambíguo, com algumas revisões
sistemáticas.
Em geral, o vínculo virtuoso
entre pesquisa e ensino não
apareceu de forma robusta.
Apareceu um pouco mais forte nas
humanidades e nas ciências
sociais, mas não nas ciências
naturais.
Marsh e Hattie levantam uma
série de argumentos racionais que
já apareceram na literatura para
sustentar que a relação entre
pesquisa e ensino é neutra ou
mesmo
antagônica
(a
personalidade ideal do bom
professor é diferente da do bom
pesquisador).
Embora a questão ainda não
esteja
decidida,
parece
relativamente seguro afirmar que
a indissociabilidade entre pesquisa
e ensino não é o Santo Graal da
vida universitária como se
pensava.
Assim,
a
exigência
constitucional soa mais como
extemporaneidade. À época que a
Carta foi aprovada, não havia
razão para duvidar de que o mantra
da inseparabilidade não estivesse
certo.
Hoje, porém, o marco legal
funciona mais como uma trava do
que como incentivo.
Instituições com muita vocação
para o ensino e nenhuma para a
ciência básica precisam fingir que
fazem pesquisa para se adequarem
às regras. E não fingem muito bem.
Os dados brutos do RUF mostram
que apenas 10% das universidades
brasileiras publicam mais de um
trabalho por docente a cada dois
anos.
A engambelação tem custo. Ela
desvia recursos, pessoal e energias
para algo que não está no seu
DNA.
Parece
mais
racional
desburocratizar exigências,
deixando que cada instituição
encontre o caminho que mais lhe
convém. O Brasil precisa melhorar
tanto seu ensino superior como sua
pesquisa.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Sudeste perde participação no
total investido em pesquisa
Sul foi a região que mais
aumentou os gastos em ciência de
2012 a 2015
SABINE RIGHETTI
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
A fatia da região Sudeste no
bolo de dinheiro investido em
ciência no país diminui desde a
primeira edição do RUF,
publicada em 2012.
A participação do Sudeste no
total arrecadado para atividades
científicas caiu de 65% (na edição
de 2012 do RUF, com dados de
2010) para 59% (nesta edição de
2015, dados de 2013).
A quantidade de dinheiro que
cada universidade consegue para
suas pesquisas é um dos
indicadores do RUF que medem a
atividade acadêmica das
instituições.
Esses dados são coletados nas
agências de fomento federais à
ciência –como a Capes (com foco
na pós-graduação) e CNPq (que
prioriza a pesquisa)– e nas
fundações estaduais de amparo à
pesquisa.
O
maior
crescimento
proporcional de recursos para
pesquisa foi na região Sul.
recursos para universidades de
regiões em desenvolvimento.
No RUF 2012, as 46
universidades da região tinham
14% do bolo financeiro. Nesta
edição de 2015, a fatia aumentou
para 18% do total.
Desde 2001, Norte, Nordeste e
Centro-Oeste
recebem
obrigatoriamente 30% dos
recursos federais para ciência.
Juntos, Norte, Nordeste e
Centro-Oeste subiram de 21% do
total
arrecadado
pelas
universidades para 23%.
Para a economista Maria
Beatriz
Bonacelli,
do
departamento de política científica
e tecnológica da Unicamp, a
mudança na distribuição dos
recursos para ciência pode estar
relacionada à criação e a
consolidação de universidades
federais pelo país.
Fato: dez das 14 universidades
federais criadas nos últimos dez
anos estão no Norte, Nordeste e
Centro-Oeste. "Isso pode explicar
a queda de recursos do Sudeste."
Glaucius Oliva, que presidiu o
CNPq de 2011 a 2015, afirma que
a mudança na distribuição do
dinheiro pode, também, ser
resultado de uma política antiga
que estabeleceu cota mínima de
"No começo, era preciso fazer
um certo esforço para atingir a
meta, porque alguns projetos das
regiões em desenvolvimento não
eram tão competitivos", afirma.
Com mais dinheiro, os grupos
de pesquisa dessas regiões se
fortaleceram.
"Mais recentemente, alguns
editais
[chamadas
de
financiamento para projetos de
pesquisa] chegaram a ter mais de
30% para as regiões em
desenvolvimento", diz.
Hoje, de acordo com Oliva, há
grupos de pesquisa nordestinos que
competem em igualdade com as
universidades paulistas –caso da
área de física da Universidade
Federal de Pernambuco.
"Agora, é importante dar um
passo além, e analisar também as
desigualdades inter-regionais",
afirma ele.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Moda derruba filosofia entre
as graduações mais procuradas
Carreira entra na avaliação do
ranking, que considera os 40 com
mais calouros
PEDRO DINIZ
ENVIADO ESPECIAL A
FORTALEZA
Entre a primeira citação em
aula de desenho industrial na hoje
Uerj (estadual do Rio), em 1962,
até a marca atual de quase 150
cursos cadastrados pelo MEC
(Ministério da Educação), a moda
conseguiu romper preconceitos e
a carência de profissionais.
Essa trajetória fez com que a
área fosse, pela primeira vez,
analisada no RUF.
O ranking analisa 40 áreas com
mais ingressantes em cada ano. Em
2013, referência para esta edição,
moda passou filosofia nesse
quesito.
A demanda por profissionais
de moda é o principal fator,
segundo os professores ouvidos
pela reportagem, para a procura
por graduações e cursos
tecnológicos da área. A indústria
do vestuário no Brasil já
representa cerca de 10% do PIB
industrial.
Coordenador do bacharelado
em filosofia da USP, Homero
Santiago entende que a entrada de
moda e a saída de filosofia do
grupo de mais procuradas ocorre
mais pela consolidação da
primeira.
Segundo ele, o ápice da procura
por filosofia ocorreu há alguns
anos, quando a matéria passou a
ser obrigatória no ensino médio.
"Já moda, como carreira
relativamente nova, está se
firmando."
AS MELHORES
A lista das escolas mais bem
colocadas em moda inclui nomes
tradicionais do ensino da costura,
como a paulistana Faculdade Santa
Marcelina (4ª), e surpresas, como
Uniasselvi (15ª), em Brusque (SC),
e a Universidade Federal do Ceará
(2ª).
Elas estão situadas em
importantes polos têxteis e, em
geral, inauguraram cursos a pedido
do empresariado.
É o caso do curso da
Universidade Estadual de
Londrina (PR), implantado em
1997 e terceiro colocado no RUF.
"Reconhecemos as demandas
locais para adaptar o currículo",
diz a professora Patrícia de Mello
Souza.
Ela integrou a comissão do
MEC que avaliava cursos com
foco no vestuário. Em 2006, a
pasta definiu que a espinha dorsal
dessas graduações fosse o design.
POLÊMICA
A decisão causa controvérsia.
Ao incluir moda no escopo do
design –e não separados– grades
curriculares e cargas horárias de
cada disciplina ficaram muito
heterogêneas entre as escolas.
"Moda é design, é um produto
e deve ser tratado como tal na
academia", defende Souza, exmembro da comissão do MEC.
Para
Eloize
Navalon,
coordenadora do curso de design
de moda da Universidade Anhembi
Morumbi (primeiro no RUF), a
inexistência de denominação clara
impossibilita a "criação de
diretrizes claras para a grade do
curso".
"Há cursos que combinam
marketing com design. Isso causa
confusão nos alunos e desvia o
bacharelado da função de
aprofundar o conhecimento em
cada área", diz.
14/09/15
Hoje, mestrandos e doutorandos
têm de guiar suas linhas de
pesquisa em moda dentro de outras
áreas, como design e comunicação.
Para a diretora da Associação
Brasileira de Estudos e Pesquisas
em Moda, Katia Castilho, o
interesse pela produção científica
de moda no país tem crescido, mas
ainda enfrenta resistências.
"Há muita procura por cursos
técnicos de vestuário. Os alunos
deixam de pensar moda, porque
para muitos é mais bacana fazer
desfile do que pesquisa", diz.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
Curso para estilista no Ceará vai de
'puxadinho' a vice-campeão
(PD)
ENVIADO ESPECIAL A
FORTALEZA
Sentados no laboratório de
desenho da Universidade Federal
do Ceará (UFC), em Fortaleza, os
alunos do bacharelado em design
de moda da instituição, com idades
entre 18 e 24 anos, falavam à
Folha sobe as agruras de estudar
no segundo melhor curso de moda
do país, segundo o RUF.
"Muitos alunos de outros
departamentos acham que é um
curso de patricinha. Ainda há
preconceito", diz a estudante
Jennifer Mello, 19. "Temos sempre
de mostrar às pessoas que não
vivemos numa bolha", afirma
Deyvison Freitas, 20.
Apesar dos desabafos, já houve
tempos piores. A graduação
começou em 1993 com uma
estrutura de puxadinho no
departamento de economia
doméstica.
Agora, com 305 alunos
matriculados, abocanhou boa parte
dos R$ 15 milhões destinados a
nova reforma do Instituto de
Cultura e Arte da UFC, onde está
instalado.
"Hoje somos protagonistas do
ensino de moda no Ceará, mas no
começo nenhum departamento
queria abrir as portas para o curso.
Foi um processo de identificar as
demandas de alunos e adaptá-las
à estrutura disponível", diz o vicereitor da universidade, Custódio de
Almeida. "Agora o curso tem um
dos corpos docentes mais
estabilizados", afirma.
Quase todos os professores são
ex-alunos do curso, o primeiro de
moda do Estado, que fizeram
mestrado e doutorado fora do país.
O curso de design de moda da
universidade, enviou neste ano 16
bolsistas para o exterior através do
programa Ciência Sem Fronteiras.
Apoiados por uma indústria
confeccionista pujante, os alunos,
como na maioria dos cursos de
moda no país, sonham em ser
estilistas.
"Percebemos que é importante
olhar para fora. O mercado é
enorme aqui, ainda que existam
muitas confecções de fundo de
quintal, e no curso você vai
descobrindo que o campo de
atuação não se resume à criação
de roupas", diz a bolsista Kaline
Pereira, 23. Modelista e designer
de estampas estão entre as
carreiras possíveis para quem
estuda moda.
FOLHA DE SÃO PAULO
14/09/15
ESPECIAL
ANÁLISE
A escola particular se fortalece,
mas pública agoniza
ROGÉRIO MENEGHINI
ESTÊVÃO GAMBA
ESPECIAL PARA A FOLHA
A atual crise universitária nos
faz considerar o que, dos
resultados do RUF, podemos
prever para o futuro próximo.
O RUF deste ano ranqueou 192
universidades: 95 privadas e 97
públicas. A primeira consideração
tem a ver com os recursos
captados para pesquisa junto a
agências de fomento federais
(CNPq e Capes) e fundações de
amparo à pesquisa estaduais
(FAPs).
No ranking deste ano, que tem
como base os dados de 2013,
vimos que as universidades
arrecadaram mais de R$ 4 bilhões
para pesquisa.
Desse total, 8,1% couberam às
particulares. Parece pouco, mas é
importante destacar que, desde a
primeira edição do RUF, em 2012,
com dados de 2010, o total
arrecadado para pesquisa por
essas universidades cresceu 92%,
ante 42% nas públicas.
Do total de publicações
científicas, 8,3% cabem às
universidades privadas, sendo que
30 delas são responsáveis por
71% dos trabalhos acadêmicos
contabilizados nesta edição do
RUF (ou 7.466 artigos científicos).
Não resta dúvida de que tem
havido aumento significativo na
performance das particulares.
Já o prestígio das instituições
públicas
não
pode
ser
generalizado: apenas uma elite de
cerca de 20 delas se destaca com
ao menos uma publicação por
docente no período de dois anos.
Grande parte das demais são
universidades criadas nos anos
mais recentes e atuam de forma
precária, do ponto de vista de
condições materiais e de
qualificação do corpo docente.
Nos tempos mais recentes a
qualificação das públicas tende a
se deteriorar, com greves
prolongadas e fragilidade
financeira.
É muito provável que estejamos
caminhando para situação similar
àquela que nos anos 1960-1970
ocorreu com os colégios públicos,
que passaram de escolas de elite a
instituições pobres estruturalmente
e desprovidas de corpo docente
qualificado.
Nos próximos anos, é provável
que as famílias de classe média e
alta procurem universidades ou
outras instituições de curso
superior com corpo docente bem
qualificados e bem pago e
infraestruturas de qualidade. É
ainda provável que a maioria
destas instituições seja privada.
A partir dos resultados do
ranking é de se esperar que
algumas destas instituições
procurem ter parte do corpo
docente que se dedica à pesquisa
(os recursos são públicos e essa
atividade pode trazer prestígio à
instituição).
Outras vão se dedicar apenas ao
ensino, buscando um corpo
docente de qualidade.
Universidade sem pesquisa
científica seria criação brasileira,
já que não existe em nenhum outro
lugar. O MEC, por sua vez, teria
que desqualificá-las como tais ou
criar nova nomenclatura, como a
de "universidade de ensino".
O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15
NOTAS & INFORMAÇÕES
Dilma, pedalada e eleição
Na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do
Senado, o procurador do Ministério Público no
Tribunal de Contas da União (TCU), Julio Marcelo
de Oliveira, relatou que a presidente Dilma Rousseff
usou “pedaladas fiscais” para ter vantagem na
reeleição de 2014. Ele e outros técnicos foram ao
Senado justificar a decisão do TCU de não aprovar
as contas e pedir explicações ao governo por atos
que, no período eleitoral, violaram a Lei de
Responsabilidade Fiscal, que “estabelece normas de
finanças públicas voltadas para a responsabilidade
na gestão fiscal”.
O procurador observou que a lei proíbe gastos
públicos feitos em ano de eleições sem a sua
correspondente cobertura orçamentária, porque um
de seus objetivos é acabar com a “farra” do uso do
erário, que, antes de sua vigência, ocorria no período
causando grandes danos à sociedade.
Na análise das contas do governo federal no ano
da reeleição de Dilma, os técnicos constataram dolo,
conforme o procurador. Para ele, a culpa da presidente
“grita nos autos” ante a constatação de que até agosto
de 2014 seu governo aumentou despesas e garantiu
que faria um superávit fiscal de R$ 80 bilhões.
Somente depois das eleições, com os votos contados
e a vitória assegurada, o eleitor foi informado de que,
na verdade, havia um déficit previsto de R$ 20
bilhões. “Essa mudança de panorama de agosto para
outubro, na opinião do Ministério Público, caracteriza
um dolo evidente de manifestar uma situação fiscal
irreal no período pré-eleitoral e só trazer a realidade
após o período eleitoral”, ele afirmou.
Oliveira disse, ainda, que “o governo deixou livres
para execução despesas não obrigatórias, que teria
de cortar (devido à queda na arrecadação). O que
ocorre em 2014 é que o governo federal aumenta
programas não obrigatórios que têm forte impacto
eleitoral”. A essa informação, o procurador do TCU
acrescentou fatos comprovados por números. Ele
contou que foi aumentado demais o custo do programa
chamado Fundo de Investimento Estudantil (Fies), por
meio do qual o governo financia estudantes
regularmente matriculados em cursos superiores
presenciais não gratuitos e com avaliação positiva
nos processos conduzidos pelo Ministério da
Educação (MEC).
O desembolso que anteriormente era de R$ 5
bilhões por ano passou a ser de R$ 12 bilhões no ano
em que a eleição foi disputada. De acordo com
técnicos do TCU, isso só foi possível com o recurso
às “pedaladas”, truque que consiste em não cobrir
recursos sacados de bancos oficiais para pagar
despesas não previstas. E isso também é proibido
pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Em nome de seus colegas técnicos, o procurador
também relatou aos senadores presentes à sessão da
CAE que o governo sabia desde o começo do ano
que não teria recursos suficientes para financiar seus
programas e deixou para fazer os cortes necessários
das despesas depois das eleições. “Até agosto, o
governo não se comportou de maneira coerente com
a realidade. Viveu uma fantasia. Após a eleição, veio
a realidade”, disse ele.
Na sessão, o procurador contestou a argumentação
governista, apresentada pelo senador Fernando
Bezerra (PSB-PE), de que o uso de bancos públicos
para pagar despesas é prática antiga. Segundo
Oliveira, nunca antes governo algum deixou de cobrir
diariamente saldos com bancos públicos por um ano
inteiro, como aconteceu em 2014. E o líder do governo
na Casa, José Pimentel (PT-CE), alegou que
irregularidades idênticas cometidas em 2012 e 2013
foram referendadas pelo TCU. O procurador lhe
respondeu que o fato de não ter contestado ilícitos
anteriores não exime o TCU de fiscalizar as contas
de 2014.
Se para bom entendedor meia palavra basta, os
técnicos do TCU levaram ao Senado palavras e
números que desnudam o uso de recursos públicos,
obtidos de forma irregular, para dar vantagem à
candidata à reeleição durante o pleito. Se isso for
aceito pelos membros do TCU e pelos congressistas,
o impeachment de Dilma deixa de ser impossível.
O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15
METRÓPOLE
Viagens de colégios organizam desejo de
estudar no exterior
14/09/15
O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15
METRÓPOLE
14/09/15
O ESTADO DE S. PAULO 14/09/15
METRÓPOLE
Desinteresse no Brasil entre
elite tem motivo profissional
14/09/15
16/09/15
BRASIL
Os sem-bolsa
Quase 800 000 famílias já
foram cortadas, neste ano, da
lista do principal programa
social do governo. Junto com os
sem-casa e os sem-Pronatec, elas
formam um novo contingente de
desvalidos: o daqueles de quem
o Estado, silenciosamente,
começa a tirar o que deu
PIETER
ZALIS,
SEMIÁRIDO do Nordeste
do
Primeiro, chega a "cartinha".
Com carimbo do Ministério do
Desenvolvimento Social, ela pede
ao beneficiário do Bolsa Família
que se apresente na prefeitura da
cidade para agendar a visita de um
assistente social à sua casa. A
partir desse momento, o dinheiro
do programa já para de entrar na
conta da família. Semanas depois,
o assistente social toca a
campainha. Prancheta, caneta e
almofadinha de carimbo na mão
(para os casos em que o
beneficiado não sabe escrever),
ele faz perguntas sobre cada
morador da casa: quem estuda,
quem trabalha, quanto ganha. Caso
note a presença de uma moto, de
uma TV de LED ou de qualquer
elemento que destoe do cenário de
pobreza obrigatório, indaga
quando a família adquiriu o bem e
com que recursos. Encerrada a
entrevista, pede ao beneficiário
que assine o formulário preenchido
e encaminha o papel à prefeitura.
Feito isso, o resultado é quase
sempre o mesmo: adeus, Bolsa
Família. Poucos dos que recebem
a visita do assistente social
conseguem manter o benefício.
Sem anúncio nem alarde, o
governo federal começou a passar
a tesoura nos programas sociais.
O Bolsa Família, carro-chefe da
administração petista, sofreu neste
ano o mais profundo corte desde
que foi criado, há onze anos.
Apenas no primeiro semestre de
2015, 782 313 famílias deixaram
de receber o benefício.
Para diminuir os custos do
programa sem admitir sua redução,
o governo passou a promover um
pente-fino silencioso entre os
cadastrados. Desde maio, vem
cruzando seus dados com
informações do INSS e do
Departamento Nacional de
Trânsito (Denatran), por exemplo.
O objetivo é identificar quem
possui bens incompatíveis com o
teto de renda permitido aos
participantes do programa (até 154
reais por membro da família, o que
torna difícil a compra de um carro,
por exemplo) ou está acumulando
benefícios indevidamente. Os que
já recebem a aposentadoria rural
de um salário mínimo não podem
ganhar Bolsa Família. Também
estão impedidos de integrar o
programa pescadores que recebem
o seguro-defeso — pago durante o
período de procriação dos peixes.
Esse veto surgiu de uma portaria
criada pelo governo federal em
março deste ano. Desde então, em
cidades do Nordeste que vivem da
pesca, como Saubara, na Bahia, a
queda no número de beneficiários
do Bolsa Família foi de quase
70%.
"Antes, o Ministério do
Desenvolvimento Social enviava
no máximo 200 famílias para a
averiguação por ano", afirma
Anderson Guilherme Araújo,
coordenador do Bolsa Família, em
Pombal, no interior da Paraíba.
"Agora, só até agosto, já temos
mais de 900 para checar." Em
Jardim de Piranhas, no sertão do
Rio Grande do Norte, a demanda
de averiguação — 600 famílias —
foi tão alta para o padrão local que
a prefeitura foi obrigada a
contratar reforços para ajudar a
única assistente social na visita às
casas.
Além de excluir os duplamente
beneficiados, o governo passou a
cobrar o cumprimento de
exigências para as quais sempre fez
vista grossa. A obrigação de
manter os filhos na escola, com
uma frequência mínima de 85%,
por exemplo, sempre esteve em
vigor, mas mesmo as famílias que
desprezavam a regra recebiam o
dinheiro. Agora, começam a ter o
benefício cortado. Alguns ex-
16/09/15
beneficiários afirmam que nem
sequer foram informados sobre os
motivos que levaram à sua
exclusão do programa.
No Nordeste, os cortes no Bolsa
Família já podem ser sentidos na
mesa. Na região onde está mais da
metade das famílias cadastradas no
programa, os gastos com
supermercado, comida e bebida
tiveram uma queda muito maior do
que no restante do país. Os dados
mais recentes mostram que em
junho, na comparação com maio,
a redução desse tipo de gasto foi
de 7,8% no Ceará, 6,2% em
Pernambuco e 5,1% na Bahia. No
Brasil, no ano inteiro, a queda foi
de 1,8%. A inflação também fez a
sua parte. O Bolsa Família não é
reajustado desde junho do ano
passado. Isso significa que, nesses
quinze meses, o benefício sofreu
uma corrosão de 10,25% — uma
família que ganha 300 reais por
mês perdeu o equivalente a 31
reais em poder de compra.
Os cortes no programa
produziram ainda outro efeito:
tiraram do sofá muita gente que
tinha deixado de trabalhar. Do
último trimestre do ano passado
para o segundo trimestre deste ano,
o número de "trabalhadores
familiares auxiliares" — que
ajudam informalmente em
pequenos negócios de parentes ou
amigos — cresceu três vezes mais
no Nordeste do que no restante do
Brasil, de acordo com os dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, do IBGE.
O aperto no Bolsa Família é
apenas o aspecto menos visível de
um grande arrocho que o governo
federal vem promovendo nos
programas sociais nos últimos
meses. No Minha Casa, Minha
Vida, apenas 7415 novas unidades
foram contratadas na Faixa 1
(dedicada às famílias mais pobres,
com renda de até 1600 reais
mensais), comparadas a 89 946 no
último semestre do ano passado.
O corte, em dinheiro, foi de 5,6
bilhões de reais. Para o ano que
vem, a tesoura será de outros 4,4
bilhões de reais. Já o Minha Casa
Melhor, de oferta de crédito para
a compra de móveis e
eletrodomésticos, virou poeira. O
Pronatec — o programa de
capacitação para emprego técnico
— perdeu 60% das vagas. Em
cidades do sertão onde no ano
passado havia mais de dez cursos,
neste ano há apenas um, quando
muito. No ano que vem, o corte
planejado é de 60% do orçamento.
Com a maior retração da economia
brasileira nos últimos 25 anos,
perderão todos os brasileiros. De
quem não tem quase nada, no
entanto, o pouco que agora se tira
muda tudo — e muito: é a diferença
entre ir para a cama e dormir ou
ficar acordado na madrugada de
barriga vazia.
16/09/15
16/09/15
Ensino
Desinteresse
Por falta de inscrições, a Fundação
Getúlio Vargas do Rio de Janeiro
cancelou o início do MBA em Relações
Governamentais – nome bonito da
atividade de lobby, profissão ainda não
regulamentada no Brasil. As aulas teriam
início no sábado 12. Não se sabe se
pesou a desilusão com a carreira ou os
R$ 27,8 mil cobrados pela FGV. Em
Brasília o curso vai bem, obrigado, mas
o curso de pós-graduação previsto para
começar em São Paulo, dia 29, ainda não
atingiu o mínimo de matrículas
considerado ideal.
RICARDO BOECHAT
16/09/15
ECOMONIA & NEGÓCIOS
Aulas de extensão universitária
Quer turbinar o currículo? Fazer um curso livre em
uma universidade pode ser uma boa opção
por
Ludmilla
Amaral
([email protected])
A crise econômica e o aumento
do desemprego tornaram a
concorrência no mercado de
trabalho ainda maior. Para
conseguir uma colocação, só há
uma alternativa viável: estar bem
preparado. Uma das melhores
maneiras de turbinar o currículo é
se inscrever em um curso de
extensão universitária. Há muitas
opcões disponíveis e com preços
que atendem a todos os bolsos. “O
objetivo desses cursos é oferecer
ferramentas para que a pessoa
possa se desenvolver”, diz Gerson
Leite, coordenador de Pesquisa e
Extensão da Universidade
Mackenzie. Em geral, os cursos de
extensão têm a vantagem de ser
mais baratos e durar menos do que
a pós-graduação. “Frequentar esse
tipo de aula demonstra que o
profissional é pró-ativo, dedicado
e disciplinado”, afirma Ricardo
Ribas, gerente-executivo da Page
Personnel, empresa especializada
na área de Recursos Humanos.
Conheça a seguir qual é o curso
indicado para seu perfil e o que
você deve considerar antes de
fazer a escolha.
16/09/15
O BRASIL QUE CONSTRÓI
Educação & Cultura
O Brasil que constrói: educação e cultura
Na segunda edição especial da
série "O Brasil que constrói",
conheça
cinco
projetos
desenvolvidos e apoiados pela
iniciativa privada que impactam na
sociedade
BRADESCO: Há quase 60
anos, o banco investe em 40
escolas pelo Brasil. Acima,
desenho de Bruno Ribeiro, 16
anos, de Bagé (RS), aluno da
primeira série do ensino médio da
Fundação
Conheça as empresas que,
mesmo com a crise, continuam
investindo e estão transformando
o Brasil:
Bolsa de talentos
Com um projeto de longo prazo,
a BM&F Bovespa mantém o mais
bem-sucedido clube de atletismo
do Brasil e ainda ajuda centenas
de jovens de áreas carentes de São
Paulo
Lemann, um bilionário na
educação
Com quatro projetos que
movimentam o ensino, empresário
criou a Fundação que leva seu
nome para massificar o
aprendizado com tecnologia e
inovação para salas de aula da rede
pública
Muito além da sala de aula
Programa da Odebrecht Óleo e
Gás promove o uso das escolas
nos finais de semana e após as
aulas, em oficinas ligadas ao
esporte, lazer e cultura. A ideia
forma cidadãos mais conscientes,
ocupa lugares públicos, aproxima
as pessoas e traz mais segurança
Integração nacional pela
cultura
Com R$ 12 milhões por ano,
programa do Itaú Cultural apoia
projetos inovadores, descobre
talentos e traça um novo perfil da
produção artística brasileira
Investimento com retorno
garantido
Há 60 anos, o fundador Amador
Aguiar colocou a educação como
missão do Bradesco. Nesse
período, mais de 1,64 milhão de
crianças e adolescentes passaram
pelas escolas mantidas pela
Fundação
16/09/15
O BRASIL QUE CONSTRÓI
Educação & Cultura
Bolsa de talentos
Com um projeto de longo prazo, a BM&F Bovespa mantém o mais bem-sucedido clube
de atletismo do Brasil e ainda ajuda centenas de jovens de áreas carentes de São Paulo
Lucas
Bessel
([email protected])
No dia 10 de julho, quando a
festa de abertura dos Jogos PanAmericanos de Toronto, no
Canadá, teve início, as
dependências do centro de
treinamentos do Clube de
Atletismo BM&FBovespa, em
São Caetano do Sul, região
metropolitana de São Paulo,
estavam bem menos cheias do que
o normal. Não que faltasse
interesse
de
esportistas,
treinadores e outros funcionários
do local em assistir à competição.
Longe disso. Acontece que, dos 88
corredores homens e mulheres que
representarão o Brasil nessa
modalidade, 29 eram do
BM&FBovespa. O mais bemsucedido clube de atletismo do
País tem tudo para manter esse
domínio na Olimpíada de 2016, no
Rio de Janeiro, num claro exemplo
de como o investimento privado
de longo prazo pode ajudar a
modificar o esporte nacional e,
com ele, as vidas de centenas de
pessoas.
JOVEM PROMESSA:
Izabela Rodrigues da Silva foi
descoberta no projeto social
apoiado pelo clube da Bolsa
No plantel do BM&F Bovespa
estão atletas já renomados, como
a campeã mundial do salto com
vara Fabiana Murer – que acaba
de conquistar a medalha de prata
no Mundial de Pequim, igualando
a sua melhor marca da carreira
(4,90 m) –, o bicampeão da
maratona de Nova York Marílson
Gomes dos Santos e a recordista
sul-americana dos 100 metros
rasos Ana Cláudia Lemos, que,
apesar de ter se lesionado no Pan,
é esperança de grandes resultados
no ano que vem. Outro atleta
consagrado é o bicampeão mundial
indoor do salto em distância Mauro
Vinícius “Duda” Coelho. Mas a
equipe também é pródiga em
revelar talentos, como o
arremessador de peso Darlan
Romani, que em maio obteve uma
das dez melhores marcas do mundo
e despontou como promessa para
2016. Todos os esportistas são
contratados em regime CLT, têm
suporte de equipes técnicas e
médicas e estrutura de primeiro
mundo no centro de treinamentos
de São Caetano do Sul, inaugurado
em
2012,
que
recebeu
investimentos de R$ 20 milhões.
“Era impossível imaginar uma
estrutura assim no Brasil há alguns
anos”, afirma o fundista Marílson.
Na estrutura da corporação, o
clube está sob os cuidados da
diretoria de sustentabilidade e do
Instituto BM&F Bovespa,
responsável por coordenar os
projetos de investimento social da
companhia. Por esse motivo, a
verba destinada ao esporte não se
limita ao alto rendimento. Três
centros para categorias de base –
em São Caetano, Campinas e na
capital paulista – também recebem
apoio da BM&F Bovespa. Nesses
locais, que atendem centenas de
crianças e adolescentes carentes
diariamente, o foco sai do
resultado esportivo e passa à
cidadania, à educação e à
transformação social. “Todas
essas iniciativas acontecem em
parceria com instituições locais
porque, nessa etapa, é importante
que os jovens mantenham o laço
familiar”, explica Sonia Favaretto,
diretora de sustentabilidade do
BM&F Bovespa e superintendente
do Instituto. Aqueles que
demonstram maior potencial para
o atletismo ainda recebem uma
bolsa mensal, com valores que
vão de R$ 250 a R$ 500, além de
auxílios de custo para transporte e
alimentação.
APOSTA DE OURO:
A velocista Ana Cláudia Lemos
é recordista sul-americana dos
100m e 200m
16/09/15
A campeã mundial juvenil no
lançamento de disco Izabela
Rodrigues da Silva, 19 anos, é um
exemplo de que esse investimento
também é capaz de formar grandes
atletas. Ela começou a treinar no
Instituto Elisângela Maria Adriano,
um dos núcleos de formação do
clube de atletismo. Ao se destacar
em jogos escolares, ela chamou a
atenção dos treinadores da
BM&FBovespa e passou a integrar
a equipe no ano passado. As
medalhas e troféus em grandes
competições são resultado de
apostas de longo prazo. “Talentos
não surgem do nada”, diz o diretortécnico do clube, Sergio Coutinho.
“É preciso evitar um erro muito
comum no atletismo brasileiro que
é pular etapas.” As primeiras
iniciativas da então BM&F de São
Paulo na área aconteceram na
década de 1980, com o Prêmio
Ouro Olímpico, que premiou com
barras de ouro os atletas vitoriosos
na Olimpíada de Seul-1988. Em
1990, a bolsa fez uma parceria
com a Federação Paulista de
Atletismo para incentivar novos
esportistas. Em 2000, o programa
já contava com 25 atletas, entre
eles nomes de peso como o
medalhista de bronze na maratona
da Olimpíada de Atenas, Vanderlei
Cordeiro de Lima, e a campeã
olímpica do salto em distância
Maurren Maggi. A partir daí, a
ideia era criar uma estrutura para
permitir o desenvolvimento e
aperfeiçoamento do atleta. O
primeiro passo foi absorver a
Funilense, agremiação de São
Paulo que era protagonista no
atletismo. O Clube BM&F – nome
que mudaria para BM&F Bovespa
em 2008, após a fusão com a Bolsa
de Valores de São Paulo, a
Bovespa – começou a competir em
2002. Atualmente, a Bolsa investe
cerca de R$ 6 milhões por ano no
atletismo. Outros R$ 4 milhões vêm
de parceiros e patrocinadores.
Assim, ela espera poder medir
resultados não só em medalhas mas
na formação de cidadãos.
Foto: Pedro Dias, Agência Luz
16/09/15
O BRASIL QUE CONSTRÓI
Educação & Cultura
Lemann, um bilionário na educação
Com quatro projetos que movimentam o ensino, empresário criou a Fundação
que leva seu nome para massificar o aprendizado com
tecnologia e inovação para salas de aula da rede pública
Mariana Barboza
O nome de Jorge Paulo Lemann
é lembrado pelas agressivas
tacadas no mundo dos negócios.
Nos últimos anos, o 3G Capital,
seu fundo de investimento em
sociedade com Marcel Telles e
Beto Sicupira, criou a Ab-InBev,
empresa que controla 15% do
mercado global de cervejas, com
as marcas Budweiser, Stella
Artois, Brahma, entre outras,
adquiriu a rede de fast food Burger
King e se associou ao
megainvestidor americano Warren
Buffett para comprar a Kraft Foods
e a Heinz e formar o terceiro maior
conglomerado do setor de
alimentos dos Estados Unidos e o
quinto em escala mundial. Com
uma fortuna estimada em US$ 22,1
bilhões, o homem mais rico do
Brasil e um dos 30 maiores do
mundo ainda tem um sonho: ser
lembrado pelo seu papel de
educador.
GAROTA, EU VOU PRA
CALIFÓRNIA:
Jorge Paulo Lemann (acima) em
sala de aula e seu núcleo de
estudos
direcionado
aos
problemas do Brasil, na
Universidade Stanford (abaixo)
é um centro que ajuda as pessoas
a voarem mais alto e a contribuir
com o País.”
Aos 76 anos, Lemann é um
exemplo de empresário que tem
participação
ativa
na
transformação social. A educação
não está na sua lista de negócios
lucrativos, mas ele não se importa.
É com o ensino que Lemann espera
colher seu melhor fruto. Seus
quatro projetos movimentam o
ensino básico, fundamental,
vestibular, graduação, pósgraduação e novas metodologias
de ensino. A Fundação Estudar,
criada em 1991 com seus sócios
Telles e Sicupira, custeia bolsas
de graduação e pós-graduação; a
Fundação Lemann testa novas
tecnologias para melhorar em
massa a qualidade da educação; a
Gera Venture foi criada para
investir em startups voltadas à
educação; e o Lemann Center é um
núcleo de estudos em Stanford, na
Califórnia, voltado às pesquisas
sobre alguns dos principais
problemas do Brasil. “As pessoas
apareciam no escritório e eu dava
bolsas. Devo ter dado umas 500
bolsas e não tinha mais noção de
quem estava ajudando”, disse
Lemann, em evento promovido
pela consultoria Falconi, há dois
anos. “A Fundação Estudar surgiu
para organizar esse trabalho e hoje
A Estudar marca o início de sua
atuação no universo da educação,
mas é a fundação que leva seu
nome a responsável pela grande
transformação. Criada em 2002
com recursos da família, a
Fundação Lemann atua na melhoria
da qualidade da educação
brasileira
com
projetos
inovadores. Só no ano passado, as
atividades da instituição atingiram
quatro milhões de pessoas (em 25
anos a Estudar financiou menos de
mil bolsistas). Para Lemann, é
pouco. Nos próximos três anos, ele
quer que esse número chegue a 30
milhões. Como presidente do
Conselho da Fundação, Lemann
acompanha o trabalho de perto.
Participa de reuniões e eventos, e
de todo o planejamento estratégico.
“Temos um acompanhamento de
projetos muito profissional, com
metas, gerenciamento de
resultados, além de uma equipe
bem escolhida e muito motivada”,
diz a diretora de projetos Camila
Pereira.
A organização se empenha,
entre várias ações, em desenvolver
plataformas de ensino à distância
e aplicativos para conectar pais e
professores, em capacitar docentes
para publicarem suas aulas no
YouTube e ganharem visibilidade,
16/09/15
em apoiar empreendedores e em
fazer parcerias com sites que
oferecem cursos. A exigência é que
sejam sempre gratuitos, online e
disponíveis para todo o mundo.
Com a plataforma Khan Academy,
a Fundação Lemann traduziu para
o português as lições de
matemática do professor
americano Salman Khan e colocou
ao alcance de mais de 50 mil
alunos de escolas públicas em 44
redes municipais. O uso da
tecnologia nas salas de aula é visto
como um apoio fundamental para
a personalização do aprendizado
– o conceito é que cada aluno
aprende num ritmo e de um jeito
diferente. A plataforma ajuda os
professores a lidarem com a
heterogeneidade das turmas. Assim
como ferramentas como Facebook,
Netflix e Google, que guardam um
perfil do usuário, a Khan Academy
aprende com o comportamento do
aluno. “A plataforma sugere novos
desafios a partir de erros, acertos
e da maneira como ele resolve os
exercícios”, afirma Camila. O
professor acompanha a turma em
tempo real, identifica as
dificuldades e adapta seus
métodos.
Mas o uso da tecnologia na sala
de aula tem uma barreira. As
escolas precisam ter internet banda
larga com acesso sem fio. Esse
ainda é o gargalo que impede a
adoção desses recursos em larga
escala. Por isso, a Fundação
Lemann precisa colocar em prática
uma outra estratégia, a de
influenciar as políticas públicas.
Os encontros com secretários
estaduais
de
educação,
parlamentares, ministros e
diretores de agências regulatórias
são frequentes.
Se a massificação com a
qualidade de ensino der resultado,
os alunos podem sonhar em ser
futuros líderes, com apoio da
própria Fundação. O Lemann
Fellowship distribui bolsas de pósgraduação em universidades
americanas como Harvard,
Stanford e Yale para quem quiser
dedicar a carreira a resolver
problemas sociais no Brasil seja
no setor público, privado ou no
terceiro setor. Ricardo Terra é um
deles. Formado em Medicina pela
Universidade de São Paulo, ele foi
para Harvard, em 2012, graças ao
programa. Hoje é um dos
coordenadores do Instituto do
Câncer de São Paulo e impacta
diariamente a vida de centenas de
pessoas. Lemann costuma repetir
que sonhar grande ou pequeno tem
o mesmo preço. Na educação, ele
segue firme a sua lição.
16/09/15
O BRASIL QUE CONSTRÓI
Educação & Cultura
Muito além da sala de aula
Programa da Odebrecht Óleo e Gás promove o uso das escolas nos finais de semana e
após as aulas, em oficinas ligadas ao esporte, lazer e cultura. A ideia forma cidadãos
mais conscientes, ocupa lugares públicos, aproxima as pessoas e traz mais segurança
Rodrigo Caetano
A educação é a base para o
crescimento econômico. Mas não
é somente a escola a responsável
pela formação de bons cidadãos
e, consequentemente, bons
profissionais. O engajamento em
atividades extracurriculares
aumenta o escopo de aprendizado
dos jovens e ajuda na ampliação
do entendimento sobre o papel de
cada um na sociedade. Além disso,
o uso das escolas nos finais de
semana e após o horário das aulas
ocupa os espaços públicos,
trazendo mais segurança ao seu
entorno. Essas são algumas das
recomendações da Unesco para a
formatação de uma metodologia
de desenvolvimento educacional
eficiente, sustentável e de longo
prazo. Foi a partir desse ponto de
partida que a Odebrecht Óleo e
Gás, braço para o setor de petróleo
do grupo Odebrecht, desenvolveu
o
seu
Programa
de
Responsabilidade Social na
cidade de Macaé, no Rio de
Janeiro, considerada a capital
nacional do petróleo. O ponto
central do projeto está na parceria
com as escolas municipais para
implantação, gestão, avaliação e
execução de oficinas e atividades
ligadas ao esporte, educação e
qualificação profissional, no qual
as diretoras têm um papel
fundamental para inserção das
ações da política pública
municipal de educação e na
mobilização das comunidades
envolvidas. “O objetivo é gerar
mais
conhecimento
e,
consequentemente,
maior
engajamento social por parte dos
jovens”, afirma Marco Aurélio
Fonseca,
diretor
de
sustentabilidade da Odebrecht
Óleo e Gás. “Trata-se de um
projeto que envolve toda a
comunidade. Isso o torna
sustentável, pois não depende,
exclusivamente, da atuação de um
patrocinador.”
VIDA DE CAMPEÕES: Desde
2007, a Odebrecht Óleo e Gás, em
parceria com a prefeitura de
Macaé, desenvolve atividades
esportivas e culturais nas escolas
O programa começou a ser
colocado em prática em 2007, em
parceria com a prefeitura da
cidade carioca. Inicialmente,
foram identificadas pessoas nas
comunidades com algum tipo de
talento, seja artístico, profissional
ou esportivo, para ministrar as
aulas nas oficinas. Funcionários da
Odebrecht foram mobilizados para
atuar no apoio, no treinamento e
na oferta da expertise para a
implantação do programa nas
escolas.
Mais
de
400
colaboradores da empresa
participam do programa. Cursos de
inglês, artesanato, ginástica, entre
outras atividades socioeducativas,
passaram a ser oferecidos em
quatro escolas. “Não são
atividades ligadas diretamente ao
nosso negócio, mas, indiretamente,
traz resultados para a empresa,
pois, no futuro, teremos melhores
profissionais”, afirma Fonseca.
Com o tempo, novos talentos foram
identificados nas comunidades e o
escopo de atividades cresceu.
Atualmente, são oferecidas
oficinas de robótica, dança e, até,
jiu-jítsu.
Pelas contas da Odebrecht, mais
de 20 mil pessoas, considerando
os jovens e suas famílias, já foram
impactadas pelo programa. Tratase de um número considerável,
levando em conta que a população
de Macaé é de, aproximadamente,
195 mil pessoas. A estudante
Eduarda Santos, de 16 anos, é uma
das adolescentes que vivenciaram
uma grande mudança de vida,
16/09/15
graças ao projeto. Ela frequenta,
desde o ano passado, as oficinas
de jiu-jítsu. “As aulas vão além da
luta no tatame”, afirma Eduarda.
“Aqui, aprendemos a pensar no
futuro e em ter um bom emprego.”
Para a estudante, o clima de
amizade e companheirismo entre
instrutores e alunos ajuda na
motivação. Essa realidade é
levada, também, para dentro de
casa. “Adotei uma postura mais
respeitosa com meus pais”, diz
Eduarda. Já para Dheferson dos
Reis, de 18 anos, os frutos de ter
participado do programa já estão
sendo colhidos. Ex-aluno de
atletismo e do Caia na Rede,
iniciativa de inclusão digital que
faz parte do projeto, ele conseguiu
ingressar no Programa Jovem
Aprendiz, da própria Odebrecht, e
acabou efetivado. Atualmente, faz
um curso técnico em segurança do
trabalho e pretende retornar ao
programa como voluntário. “Eu
era muito jovem quando comecei,
tinha 14 anos, e, graças às oficinas,
enxerguei possibilidades de
crescimento
pessoal
e
profissional”, afirma Reis.
“Ninguém é tão bom que não
precisa de ajuda. Um dia quero
estar capacitado para ser
voluntário e ajudar outras
pessoas.”
A violência, no entanto, segue
sendo um grande obstáculo para o
crescimento do programa. Em
2011, por exemplo, mudanças nas
lideranças das facções criminosas
que atuam no Rio de Janeiro
aumentaram muito o risco para os
voluntários da Odebrecht, que
tiveram de interromper a sua
participação. Para não cancelar o
programa, a empresa decidiu
reestruturá-lo, dando mais ênfase
às necessidades locais e se
aproximando das lideranças
comunitárias. Em 2012 foi
introduzido um novo modelo que
conferia maior autonomia aos
responsáveis pelas ações na
comunidade, além de ampliar o
número de jovens atendidos. A
mobilização da sociedade foi
muito grande, segundo Fonseca.
“Tornar
as
ações
de
sustentabilidade independentes é
fundamental”, afirma o diretor.
“Não seria um projeto eficiente se
dependesse de nós para sempre e
não pudesse ganhar vida própria.”
Fotos: Geraldo Pestalozzi
16/09/15
O BRASIL QUE CONSTRÓI
Educação & Cultura
Integração nacional pela cultura
Com R$ 12 milhões por ano, programa do Itaú Cultural apoia projetos inovadores,
descobre talentos e traça um novo perfil da produção artística brasileira
Ana
Weiss
([email protected])
P E R F O R M A N C E
RECONHECIDA:
A artista paraense Berna Reale
teve o seu primeiro trabalho
apoiado pelo Itaú, em São Paulo,
em 2012
A paraense Berna Reale era
funcionária do Instituto de
Medicina Legal de Belém quando
decidiu que tentaria pela última
vez se inscrever no projeto Rumos,
do Itaú Cultural. Criadora de
performances provocativas que
tratam
em
linguagem
contemporânea da violência contra
a mulher, ela não conseguia
espaço no meio artístico. “Se você
é paraense, o mundo espera que
você faça cerâmica, pinte jangada
ou no máximo mostre fotografias
da população ribeirinha, que é o
que o mundo pensa que resume o
que é a região Norte brasileira”,
conta a artista, que representou o
Brasil na Bienal de Veneza deste
ano, o maior e mais importante
evento de arte contemporânea do
mundo.
O projeto Rumos foi criado em
1997, momento em que a cultura
brasileira crescia estimulada pelas
políticas de incentivo fiscal. A
primeira meta do programa foi
incentivar a produção artística
brasileira realizada fora o circuito
Rio-São Paulo. Berna Reale teve
a primeira grande mostra de seu
trabalho montada pelo Itaú em São
Paulo, em 2012, tornando-se a
partir de então uma referência
internacional de performance (seu
apelido nos grandes centros de arte
é Marina Abramovic do Pará). A
história da artista – uma entre mais
de 1,3 mil contemplados pelo
programa – é uma amostra de que
a etapa descentralizadora
funcionou. Na edição mais recente,
das 15 mil inscrições recebidas
pelo Itaú Cultural, 2,6 mil eram do
Nordeste, 8 mil do Sudeste e 1,8
mil do Sul.
Sem recorrer aos descontos
fiscais que poderia, o Itaú Cultural
hoje investe cerca de R$ 12
milhões em cada seleção anual, em
uma forma de patrocínio que varia
de acordo com a proposta. A
escolha é feita por uma comissão
composta por gerentes de área da
instituição e representantes da
sociedade convidados, todos
profissionais ligados à cultura. Na
sede do Instituto, na avenida
Paulista, em São Paulo, o público
pode conhecer os cem projetos
contemplados este ano, em mostras
abertas ao público e lançamentos
que acompanham a realização.
Entre eles, um livro em que Nuno
Ramos, um dos maiores artistas
plásticos brasileiros, escreve
sobre o seu processo criativo, e
outro, que mostra o colorido
movimento gastronômico realizado
pelas comunidades da favela da
Maré, do Rio de Janeiro. “A ideia
é mesmo aproximar a expressão de
grandes ícones e gente
desconhecida”, diz Eduardo Saron,
diretor do Itaú Cultural.
Um salto recente do programa
custou muito pouco e multiplicou
os beneficiados a mudança do
formulário
de
inscrição.
“Percebemos que os artistas e
produtores estavam formatando
seus projetos para se encaixar
melhor no edital. Muitas
peculiaridades ficavam de fora de
uma proposta para que ela pudesse
ser enquadrada nos formulários”,
conta Saron. Hoje, para se
inscrever no Rumos, o interessado
precisa apenas responder a um
questionário. “Isso permite, ao
mesmo tempo, avaliar os projetos
e mapear as áreas que estão
melhor desenvolvidas e as que
16/09/15
precisam de mais estímulo. Assim,
além de aproximar o artista ou
produtor sem experiência com
editais, também conseguimos saber
quais linguagens estão crescendo
ou diminuindo. Usamos essa
informação para traçar os demais
projetos do Itaú Cultural.” Se neste
ano o Brasil foi representado na
Bienal de Veneza por uma artista
que usa o corpo nu em instalações
a céu aberto é porque o Itaú
Cultural soube por meio do Rumos
que, ao contrário do que se
pensava, nem só de cerâmica e
personagens ribeirinhos se faz arte
no Norte do País.
16/09/15
O BRASIL QUE CONSTRÓI
Educação & Cultura
Investimento com retorno garantido
Há 60 anos, o fundador Amador Aguiar colocou a educação como missão
do Bradesco. Nesse período, mais de 1,64 milhão de crianças e
adolescentes passaram pelas escolas mantidas pela Fundação
Márcio Kroehn
LIVRO DE OURO
Em quase 60 anos, 1,64 milhão
de pessoas passaram pelas escolas
do Bradesco
Desde 2013, as 40 escolas
mantidas pela Fundação Bradesco,
braço de filantropia do banco,
estão sendo reformadas e
ampliadas. O investimento de R$
220 milhões é calculado em tempo
de sala de aula. As novas estruturas
irão acrescentar uma hora ao
tempo dedicado aos estudos.
Parece pouco, mas essa adição
será suficiente para aumentar o
conteúdo das disciplinas e exigir
mais dedicação dos alunos. O
Bradesco é um banco obcecado
com educação de qualidade.
Desde a sua fundação, o banqueiro
Amador Aguiar imprimiu essa
marca na instituição financeira ao
dizer que era preciso criar acesso
à educação gratuita e de qualidade
para formar crianças, jovens e
adultos. A Fundação Bradesco,
criada em 1956, trabalha para ser
a diferença na vida de milhares de
pessoas – mais de 1,64 milhão de
estudantes, da educação infantil à
formação técnica, passaram por
cursos integrais ou eventuais.
“Nosso papel é mostrar para os
alunos que a escola é o local onde
eles podem sonhar e fazer a
diferença para o País do futuro”,
diz a diretora Denise Aguiar, neta
do fundador.
Quando o Bradesco começou a
investir em educação, as melhores
escolas públicas eram ocupadas
pelos filhos de famílias ricas. A
massificação do ensino gratuito só
aconteceu, de fato, em meados dos
anos 1970, mas a quantidade
derrubou a qualidade. Para a
Fundação Bradesco, a excelência
no ensino é inegociável, por isso
ela tem o controle de todo o
projeto. Ao contrário de fundações
que fazem a captação de recursos
e entregam o desenvolvimento do
programa para um terceiro, a
Fundação compra os imóveis,
contrata os professores, paga todos
os funcionários e cuida da gestão,
administração e conteúdo das
escolas. O modelo da Fundação
Bradesco passou a ser estudado e
copiado. Por influência de seu
bem-sucedido plano de atuação, a
educação é, hoje, o principal
investimento social privado do
País. Estudo realizado pela ONG
Comunitas, criada pela educadora
Ruth Cardoso, mostra que 40% dos
recursos financeiros estavam
direcionados a projetos do setor.
“É um orgulho passar nossa
experiência e conhecimento para
outras empresas”, diz Denise.
SALAS MODERNIZADAS:
Há dois anos, as escolas
mantidas pelo Bradesco estão
sendo reformadas e ampliadas
O sonho de Amador Aguiar foi
cumprido: ele queria ter uma
escola em cada Estado. Mas o
maior desafio do Bradesco nunca
foi a ampliação do projeto. A
permanência do aluno na escola,
cumprindo as aulas propostas e
alcançando a formatura continua
sendo o grande obstáculo. Denise
explica que a percepção para a
evasão é a falta de crença do
cidadão de que é possível ter
escola gratuita de qualidade. A
Fundação Bradesco banca
material, uniforme e estrutura.
Mesmo assim, há evasão pela
desconfiança sobre um projeto de
uma fundação privada. A maneira
de evitar o abandono é
incentivando a reclamação. “Se o
aluno não estiver gostando, ele tem
de falar e pedir solução”, diz
Denise. “Só assim vamos entender
o que temos de mudar para ele não
desistir.”
Um dos dilemas atuais é o uso
de tecnologia. A Fundação
16/09/15
Bradesco informatizou toda a
gestão da educação. Isso
possibilita controlar a frequência
de alunos em sala, quais aulas os
professores ensinaram no dia e
como está o desempenho da classe.
Mas, manter a mesma qualidade do
mundo analógico com o digital tem
sido desafiador. Há lousas digitais
disponíveis, mas não são todos
professores que sabem utilizá-la.
Os recursos tecnológicos são
dominados pelos alunos, mas os
professores resistem em mergulhar
nessa nova Era. “Os nativos
digitais são os alunos. Há uma
dificuldade dos professores
entenderem o funcionamento
dessas novas tecnologias”, diz
Denise. Para unir esses dois
mundos, a Fundação tem
incentivado a apresentação de
trabalhos em ferramentas digitais.
O ensino a distância é um
complemento
das
aulas
presenciais. A Fundação Bradesco
acredita que o mais importante
investimento ainda é em
conhecimento.
O GLOBO
13/09/15
SOCIEDADE
‘Há uma crise de atenção’
BRUNO ALFANO*
da realidade” e que “o problema é
como utilizar”.
Para pensador polonês
Zygmunt Bauman, internet dificulta
a lida diária com a realidade
“Concentrar-se e se dedicar por
um longo tempo é uma questão
muito importante. Somos cada vez
menos capazes de fazer isso da
forma correta” “Não há como
voltar à situação em que o
professor é a única fonte, o único
guia” Zygmunt Bauman Sociólogo
polonês
No encontro Educação 360, o
sociólogo polonês Zygmunt
Bauman afirmou que o uso da
internet leva à informação
fragmentada e gera crise de
atenção.
Para
construir
conhecimento, disse, é preciso
trabalhar a paciência. Uma busca
no Google com os termos “O que
é modernidade líquida?” rende
187 mil resultados em 0,34
segundo. São, todos eles,
“fragmentos de conhecimento”, na
visão do sociólogo polonês
Zygmunt Bauman, que discursou
ontem para um auditório lotado na
Escola Sesc de Ensino Médio
durante o encontro internacional
Educação 360, realizado pelos
jornais O GLOBO e “Extra” em
parceria com a prefeitura do Rio
e o Sesc, com apoio da T V Globo
e do Canal Futura. O filósofo
defende que “não vamos nos livrar
Desafio. Para Bauman, para se
construir conhecimento sólido é
preciso apostar em atenção,
paciência e perseverança, que a
web não incentiva
— A educação é vítima da
modernidade líquida, que é um
conceito meu. O pensamento está
sendo
influenciado
pela
tecnologia. Há uma crise de
atenção, por exemplo. Concentrarse e se dedicar por um longo tempo
é uma questão muito importante.
Somos cada vez menos capazes de
fazer isso da forma correta —
disse o pensador. — Isso se aplica
aos jovens, em grande parte. Os
professores reclamam porque eles
não conseguem lidar com isso. Até
mesmo um artigo que você peça
para a próxima aula eles não
conseguem ler. Buscam citações,
passagens, pedaços.
Como o próprio Bauman
mencionou, a modernidade líquida
— definida nos resultados do
Google como a época em que
vivemos, caracterizada por
“volatilidade” , “incerteza” e
“insegurança” — norteou as obras
do filósofo; ele escreveu cerca de
30 livros apenas em torno dessa
maneira de enxergar a
contemporaneidade.
— Não há como contestar que
a internet nos trouxe grandes
vantagens. A facilidade de acesso
à informação, a facilidade com que
podemos ignorar as distâncias...
Lembro-me de que, quando era
jovem, passava muito tempo na
biblioteca tentando ler cem livros
para encontrar um pedacinho de
informação de que precisava.
Agora, basta pedir para o Google.
Em décimos de segundo ele dá
milhares de respostas. Um
problema foi eliminado: nós não
precisamos passar horas na
biblioteca. Mas há um novo
problema. Como vou compreender
essas milhares de respostas? —
questionou Bauman, logo
recorrendo à Grécia Antiga para
para continuar. — Só agora, idoso,
consegui entender Sócrates: “Só
sei que nada sei”.
Há ainda, na visão de Bauman,
outras crises que chegam com a
internet e precisam ser superadas.
O filósofo defende que vivemos
com cada vez menos paciência,
pela quantidade de informação que
recebemos ao mesmo tempo. E,
quando não temos isso, o resultado
é a irritação.
— Se demoramos mais de um
13/09/15
minuto para acessar a internet
quando ligamos o computador,
ficamos furiosos. Um minuto só!
Nosso limiar de paciência
diminuiu. As informações mais
bem-sucedidas, que têm mais
probabilidade
de
serem
consumidas, são apenas pedaços
— diz o polonês. — Outra coisa é
a persistência. Conseguir algo
contém em si um número de
fracassos que faz com que você
perca tempo e tenha que recomeçar
do zero. E isso é muito
complicado. Não é fácil manter
essa persistência nesse ambiente
com tanto ruído e tantas
informações que fluem ao mesmo
tempo de todos os lados.
Todo esse novo cenário,
explicou o pensador à plateia de
educadores, desafia e transforma
a posição secular do docente. Para
Bauman, “não há como voltar à
situação em que o professor é o
único conhecedor, a única fonte, o
único guia”. E dá caminhos:
— Não há como conceber a
sociedade do futuro sem
tecnologia. Então, se não pode
vencê-la, una-se a ela. Tente
contrabalancear o impacto
negativo, como a crise da atenção,
da persistência e de paciência. É
preciso ter determinadas
qualidades se você deseja
construir conhecimento e não só
agregá-lo: paciência, atenção e a
habilidade de ocupar esse local
estável, sólido, no mundo que está
em constante movimento. É preciso
trabalhar a capacidade de se
manter focado.
EDUCAÇÃO DESIGUAL
Hoje, de acordo com o filósofo,
a educação reproduz privilégios
em vez de aperfeiçoar a sociedade.
Ele lembra que, nos EUA, 70% dos
alunos na universidade vêm das
classes mais altas, enquanto só 3%
são das camadas de renda mais
baixa. Segundo Bauman, essa é
“uma forma de reafirmar a
desigualdade social”, tema do
livro “A riqueza de poucos
favorece a todos nós?”, o mais
recente lançamento (no mês
passado) do escritor no Brasil.
— Uma das tarefas da
educação é conferir a todas as
pessoas que tenham talento a
possibilidade de adquirir
conhecimento para que isso acabe
tendo um uso criativo para a
sociedade. Mas esse objetivo não
está sendo perseguido em muitos
lugares. Na Grã-Bretanha, os
preços, em vez de diminuírem para
as pessoas com menos dinheiro,
vão subindo. E cada vez menos
pais têm a possibilidade de
economizar a quantia necessária
para seus filhos cursarem a
universidade.
O problema, segundo Bauman,
é que a educação está pressionada
pela política e pelos interesses
corporativos. E isso, explica ele,
se reflete na mente do estudante.
O polonês critica o fato de os
alunos escolherem a área de
estudos baseados “no fato de se
vão conseguir emprego ou não”.
— Se você quer conhecimentos
especializados, que são as
condições para um bom emprego,
precisa estudar quatro ou cinco
anos, e isso requer muito esforço.
Mas, se você está sendo guiado
pelo atual estado de coisas, tudo
vai mudar nesse tempo de estudo.
E você vai perceber que não vai
conseguir encontrar um uso
rentável para o tipo de
qualificação e habilidade que
adquiriu nesses anos de trabalho
árduo na faculdade — argumenta.
Mesmo após toda essa lista de
desafios, a mensagem que o dono
de uma das mais influentes mentes
no mundo deixou para o auditório
na noite de ontem foi de pura
esperança:
— Educar, senhoras e senhores,
é fazer um investimento nos
próximos cem anos.
O GLOBO
13/09/15
SOCIEDADE
Jiang Xueqin: ‘Ensino é experiência emocional’
EDUARDO VANINI
Foco excessivo em exames
eliminaria individualidade e
criatividade
Quando Jiang Xueqin ainda
estava na escola, uma professora
lhe disse que apostava em seu
potencial. Isso nunca saiu da
cabeça dele e virou, mais adiante,
um dos principais motivadores de
seu empenho em aprender. Acabou
aprovado com bolsa na
Universidade de Yale, uma das
mais tradicionais dos Estados
Unidos. E, ao refletir sobre o
impacto das palavras da
professora em sua vida, Xuequin
concluiu que não tinha escolha:
Novo enfoque. Para Xueqin,
incentivar o pensamento crítico é
fundamental
— O benefício da educação me
inspirou. Não queria me tornar um
advogado para ganhar dinheiro.
Por isso escolhi a área pedagógica
e voltei à China, onde hoje minha
meta é inspirar os estudantes.
Escritor e professor, Xueqin
formou-se em Literatura Inglesa e
é um dos maiores estudiosos do
sistema de ensino chinês. Ele criou
um programa de estudos a partir
de duas das escolas mais
prestigiadas na China para levar
aos alunos valores pouco
destacados no cenário educacional
atual, como cidadania e
pensamento crítico. Segundo ele,
o país já mostrou que é bom em
disciplinas e habilidades
tradicionais, como a matemática,
mas agora precisa iniciar uma
cruzada em busca da criatividade.
Nas últimas edições do
Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (Pisa), por
exemplo, Xangai liderou o ranking
de avaliados. Para o especialista,
isso foi possível em função de
alguns fatores cruciais, como a
forte ênfase na formação
continuada dos docentes. Eles
ficam 14 horas em sala de aula e
cumprem outras 20 horas de
atividades, como encontros
colaborativos
para
o
aperfeiçoamento do ensino.
— O governo de Xangai está
comprometido com a igualdade,
para que nenhuma criança fique
para trás durante o processo de
aprendizagem. Para se ter uma
ideia, os melhores professores são
destacados para as piores escolas
— acrescentou.
Soma-se à lista um fator
cultural: de acordo com Xueqin, os
chineses não acreditam em talento.
Para eles, um bom desempenho
depende de trabalho árduo. Hoje,
boa parte dessa dedicação se
desdobra em função das
avaliações, incluindo o vestibular.
E é aí que está o problema:
— Quando há esse foco na
avaliação,
elimina-se
a
diversidade, a individualidade e a
criatividade. Também se fomenta
uma cultura da “cola” e se mata o
amor pela aprendizagem.
Xueqin entende que os alunos
precisam de uma grande reforma
que introduza mais competências
socioemocionais nas escolas.
Assim, ele tem proposto
experiências com dois focos:
— Um deles é o poder do
pensamento global. Acho que o
futuro da China está justamente em
passar esse valor aos alunos, para
que tenham mais consciência. Mas
também é muito importante o
engajamento crítico.
PAPEL DOS PAIS
O educador tem conseguido
bons resultados nessa direção
através de intercâmbios e
programas em que alunos
vivenciam experiências práticas,
como atuar em alguma causa social
fora do país.
— É importante tornar a
aprendizagem cada vez mais
aberta — defende.
13/09/15
O papel dos pais nessa cruzada
é vital. Segundo o especialista,
pesquisas comprovam que
crianças incentivadas em casa e
com famílias mais estáveis têm
mais segurança emocional, o que
potencializa o aprendizado.
— O foco, portanto, não pode
ser em educar apenas as crianças.
É preciso formar uma rede de pais
capazes de colaborar entre si e
criar centros comunitários para
que eles possam se encontrar.
Além disso, é preciso prestar
muita atenção para usar
corretamente a tecnologia no
processo. Para Xueqin, mal
empregada, ela pode atrapalhar.
— O ensino é uma experiência
emocional. O professor precisa
fazer com que seus alunos amem o
conhecimento e isso exige tempo
e intimidade. A tecnologia, muitas
vezes, distancia docentes de
estudantes.
O GLOBO
13/09/15
SOCIEDADE
Professores precisam de mais
qualificação e prática em sala
EDRO ZUAZO*
sociedade@ oglobo.com. br (*)
Do “Extra”
Para especialistas, formação
docente está em estado de alerta
“É como se, na falta do médico,
contratássemos um enfermeiro
para fazer a cirurgia. Fazemos isso
todo dia no campo da educação”.
A frase da pedagoga e
pesquisadora Paula Louzano não
foi proferida como uma
provocação isolada, mas um alerta
para a urgência de se repensar o
processo de formação de docentes
no Brasil. O tema foi debatido
ontem, no encontro internacional
Educação 360, na mesa “O
professor de que precisamos.
Como formá- lo, hoje e amanhã”.
No mesmo debate, Beatriz
Cardoso, diretora executiva do
Laboratório de Educação, chamou
a atenção para o papel do docente.
A mediação ficou por conta de
Paulo de Camargo, jornalista
especializado em educação.
— Embora a maioria dos
professores tenha formação
superior, um quarto deles não tem
formação na disciplina que
leciona. Quando a gente olha
especificamente para a área de
exatas, esse número é ainda maior.
Isso mostra o pouco cuidado que
há. Professores dão aula sem ter
sido formados para aquilo. Duvido
que a sociedade brasileira
aceitaria da mesma maneira se
tentássemos fazer isso na área
médica — afirmou Paula,
baseando-se numa pesquisa feita
pela USP com professores do
segundo segmento do ensino
fundamental.
Refletindo sobre a formação
ideal de professores, a educadora
citou quatro pilares: residência
pedagógica, análise de ensino e
aprendizagem, estudos de caso e
pesquisas sobre a prática docente.
— As pesquisas têm mostrado
que uma educação de qualidade só
se constrói quando a formação do
professor é centrada na prática.
Hoje, o educador é jogado na sala
de aula sem passar pela
experiência de ser professor. A
formação desse profissional, que
atua de maneira prática, deveria
ser muito similar à de um médico.
Isso é uma questão de política
pública — disse Paula.
SABER COMO PROVOCAR
O APRENDIZADO
Beatriz Cardoso ressaltou que
a linguagem é a base de toda
aprendizagem. Para ela, assim
como os óculos ampliam a visão,
a linguagem amplia o pensamento.
— Não se trata apenas de criar
escolas e oferecer bibliotecas. O
acesso não garante a apropriação.
O divisor de águas é saber como
provocar, quais são as práticas
interativas adequadas, como criar
condições para uso e produção de
linguagem, enfim, entender melhor
o papel do professor e da escola
— explicou.
Ao fazer uma análise sobre o
Pacto Nacional pela Alfabetização
na Idade Certa, programa do
governo federal instituído em
2013, Beatriz criticou o fato de a
formação de docentes ter ficado a
cargo das universidades parceiras,
isoladamente.
— Um programa desse tamanho
tem que criar mecanismos de
acompanhamento, de discussão
permanente, num trabalho
formativo que os professores
precisam continuar recebendo.
Tem que dar suporte para que eles
sejam capazes de produzir —
explicou.
O fortalecimento das estruturas
públicas é um dos grandes
desafios, segundo Beatriz, para a
melhoria da educação. E ela não
parou por aí. Assim como Paula,
destacou a importância da
profissionalização, além da
participação das famílias e da
comunidade no processo
educacional.
O GLOBO
13/09/15
SOCIEDADE
Estímulo à reflexão e à filosofia na sala de aula
RAPHAEL KAPA
Para especialistas, é preciso
vencer a ‘superficialidade’ típica
da era digital
A
tecnologia
invadiu
silenciosamente a sala de aula mas
causou um tremendo barulho. Com
ela, também chegaram os
questionamentos. Com um mundo
cada vez mais conectado e com
mais plataformas digitais
disponíveis para alunos e
docentes, os professores Zeca de
Mello, da Coppe-UFRJ e da FGV,
e Nelson Pretto, da UFBA,
debateram sobre ética, educação
e tecnologia durante o seminário
internacional Educação 360. A
mesa foi mediada pelo curador do
evento, Antonio Simão Neto.
Uma pergunta permeou todo o
debate: com tanta informação
disponível
em
variadas
plataformas, como ensinar?
— É necessário uma nova
atitude perante o mundo. Temos
que vencer a grande tentação da
“superficialidade”. Para enfrentar
isso, é preciso lucidez crítica.
Desenvolver a filosofia, uma
criticidade, que a gente ainda não
aprende na escola — afirmou
Mello.
Os palestrantes concordaram
que a nova geração tem mais
acesso à informação, domínio que
era quase exclusivo da escola.
Porém, Nelson Pretto expôs que
não se pode ser saudosista e
acreditar que uma geração possui
competências melhores que a
outra.
— Zuenir Ventura escreveu uma
vez que “essa geração só tem
reflexo, não tem reflexão”.
Verdade. Mas, e aí? Vamos
trabalhar. Vamos agora ficar
comparando? O desafio, então, é
desenvolver mais reflexão. A
questão é: como faço política
pública para que a criação seja o
centro?
O ritmo acelerado da sociedade
atual também foi bastante
discutido. Mello, que já foi padre
por mais de dez anos, mencionou
uma série de teóricos que indicam
pontos negativos na aceleração
social. Citando frequentemente o
pensador Harmut Rosa, disse que
é preciso um despertar a
criticidade desde os bancos
escolares até o auge da vida
empresarial.
— A gente cria palavras novas
para exprimir coisas que não
podem ser exprimidas. “Tempo de
qualidade com os filhos”, como se
isso pudesse ser medido em um
tempo. Livros como “Mil e um
vinhos que a pessoa tem que
beber”: imagine a angústia da
pessoa... Mil coisas para ver, mil
lugares para visitar. Uma angústia.
DA REPRODUÇÃO
À PRODUÇÃO
Pretto disse que a atual lógica
de ensino é pautada na reprodução
de conteúdo e que isso é fácil de
mensurar em avaliações, mas não
pode ser considerado como um
sistema de ensino adequado. Para
ele, o grande passo seria sair da
condição de reprodução para a de
produção na sala de aula. Quanto
à interação entre tecnologia,
educação e ética, a questão é
distinguir o uso da tecnologia:
fugindo de “grandes corporações
e se aproximando de uma lógica
mais artesanal”:
— Computador e internet não
são ferramentas. Temos que
entender como elementos de
produção, de linguagem, ou vamos
reduzi- los a equipamentos
pedagógicos.
FOLHA DE SÃO PAULO
13/09/15
PODER
Tribunal do Rio começa a
pagar auxílio-educação
Dependentes de magistrados
de 8 aos 24 anos têm subsídio de
R$ 953,47
desembargador no Rio é de R$
30.471,08.
benefício. Cada um receberá um
auxílio-educação de R$ 953,47.
"A perda de poder aquisitivo
não conhece rubrica, vitimando a
todos indistintamente. O auxílio
serve como estímulo", afirmou o
desembargador Luiz Fernando
Ribeiro de Carvalho, presidente do
TJ do Rio, ao justificar o pedido
do benefício, em maio, à Alerj
(Assembleia Legislativa).
Os benefícios para educação,
alimentação e moradia vêm sendo
tema de discussão no plenário do
CNJ (Conselho Nacional de
Justiça). Há um projeto para
incluí-los na Lei Orgânica da
Magistratura, que rege a atuação
de juízes, desembargadores e
ministros de tribunais superiores.
O Tribunal de Justiça do Rio
iniciou, na terça (8), o pagamento
de um auxílio-educação a
funcionários que tenham filhos
entre 8 e 24 anos.
Para juristas e magistrados
ouvidos pela Folha, o auxílio,
chamado de "penduricalho",
garante um aumento nos
vencimentos da categoria no Rio.
Diferentemente dos tribunais de
outros Estados, que têm a verba
sob gestão dos governadores e
recebem percentuais para seus
gastos, o TJ do Rio tem um fundo
próprio.
Com a medida, passam a ser
sete os benefícios concedidos a
juízes e desembargadores lotados
no tribunal mais rico do país.
O dinheiro para o pagamento do
auxílio sai do Fundo Especial do
TJ. Até a sexta (11), a arrecadação
do fundo chegava a R$ 1 bilhão. O
impacto do novo benefício no
orçamento do tribunal será de R$
130 milhões em 2016, segundo o
próprio TJ.
Desembargadores e juízes
passam a ter sete benefícios;
tribunal do Rio é o mais rico do
país e tem fundo próprio
MARCO
MARTINS
DO RIO
ANTÔNIO
Da adoção ao funeral, os
magistrados têm garantido o
auxílio com dinheiro público. Isso
sem contar diárias por viagens,
além de gratificação por exercer
funções nas eleições ou dirigir
fóruns. O salário base de um
Até o momento, 359
dependentes de magistrados
estavam inscritos para obter o
"O dinheiro do fundo se destina
a melhorias na Justiça e não à
educação de filhos de magistrados.
Os juízes ficam inventando
penduricalhos que servem apenas
para aumentar nosso desgaste
diante da sociedade", disse o
desembargador Siro Darlan,
contrário ao pagamento do
benefício.
FOLHA DE SÃO PAULO
13/09/15
OUTRO LADO
Presidente do TJ do Rio
diz que medida estimula
DO RIO
O presidente do Tribunal de
Justiça do Rio, o desembargador
Luiz Fernando Ribeiro de
Carvalho, não concedeu entrevista
à Folha, apesar do pedido feito
pela reportagem.
Quando a Alerj (Assembleia
Legislativa) do Rio aprovou o
pedido de pagamento de auxílioeducação a magistrados, em maio,
o desembargador falou que a
medida "vai influir positivamente
no estímulo aos magistrados e
servidores".
O benefício começou a ser
pago na terça-feira (8).
O desembargador Carvalho
disse, no momento da aprovação
pelos deputados estaduais, que "a
perda de poder aquisitivo não
conhece rubrica, vitimando a todos
indistintamente".
Na ocasião, o desembargador
também defendeu a concessão do
benefício porque, segundo ele, os
magistrados passaram quatro anos
sem reajuste salarial.
"Houve um congelamento. O
benefício seria um mecanismo de
compensação", afirmou, no último
dia 27 de maio, em entrevista à
rádio CBN
PODER
FOLHA DE SÃO PAULO
13/09/15
MERCADO
Inadimplência nas escolas de
São Paulo já chega a 13,70%
Dado médio de julho supera o
de 2009, pós-crise global
THÂMARA KAORU
DO "AGORA"
A inadimplência em escolas
particulares de São Paulo de
educação infantil, ensino
fundamental e médio voltou aos
níveis da crise econômica de
2009.
Segundo dados do Sieeesp
(sindicato das escolas do Estado),
em julho, o índice médio que mede
a falta de pagamentos dos pais
estava em 13,70% na cidade de
São Paulo. No mesmo período do
ano passado, era 8,35%.
Em julho de 2009, o indicador
foi 13,40%. Em setembro daquele
ano, 14,30%.
No Estado de São Paulo, a
inadimplência em julho foi de
8,37%, ante 7,31% no mesmo mês
de 2014.
Segundo Benjamin Ribeiro da
Silva, presidente do sindicato,
além da crise, o aumento do
desemprego fez a inadimplência
subir.
O QUE FAZER
A orientação é que os pais
procurem as escolas para negociar.
Essa também é a recomendação de
Maria Inês Dolci, coordenadora
institucional da Proteste.
Os pais não podem ser
incluídos em listas de cadastro
negativo –ou seja, se forem
procurar vagas em outras escolas,
estas não podem exigir atestado de
quitação da instituição anterior. A
escola anterior também não pode
reter documentos que impeçam o
aluno de ser transferido.
Dolci lembra que a instituição
não pode impedir o aluno de
participar das atividades escolares
e ele não pode sofrer
constrangimentos por causa da
dívida.
Para Fátima Lemos, assessora
técnica do Procon-SP, a escola tem,
porém, a opção de não renovar a
matrícula.
FOLHA DE SÃO PAULO
13/09/15
COTIDIANO
Unesp vai monitorar nota de
aluno para evitar abusos
Universidade
constatou
ligação entre queda de
rendimento e uso de álcool
Especialista defende a
medida; mães estão de acordo,
mas pedem que escola invista
mais em conscientização
ESTÊVÃO BERTONI
DE SÃO PAULO
A partir do próximo semestre,
os mais de 37 mil alunos da Unesp
passarão por uma malha fina. O
sistema que armazena as notas dos
estudantes
irá
alertar
coordenadores dos 134 cursos
sobre quedas de rendimento
acadêmico.
O monitoramento é parte de um
pacote de medidas que a reitoria
adotou para inibir casos de
violência e abuso.
A ideia surgiu, segundo a vicereitora da Unesp, Marilza Rudge,
depois que uma sindicância
constatou que os alunos
hospitalizados em fevereiro deste
ano após uma competição com
vodca em Bauru (a 329 km de São
Paulo) já registravam queda no
desempenho acadêmico.
Na ocasião, o estudante de
engenharia elétrica Humberto
Moura Fonseca, 23, morreu
intoxicado após ingerir mais de 25
doses da bebida. Outros seis foram
internados.
"Um desses meninos era
excelente no primeiro ano, mas foi
caindo progressivamente de
rendimento até ficar muito fraco",
diz Rudge.
Por isso, a universidade, que
não divulga as notas dos estudantes
envolvidos no caso, criou uma
ferramenta para reconhecer as
oscilações.
Quando
avisados,
os
coordenadores terão de identificar
a origem do problema.
"No geral, quando um estudante
se envolve com álcool, ele perde
o interesse no curso. A ideia é
detectar antes um evento drástico
como o de Bauru", conta o
professor de engenharia elétrica
Laurence Colvara, pró-reitor de
graduação da Unesp.
Se o problema for o álcool, o
aluno será aconselhado a procurar
ajuda em serviços da própria
universidade.
Para o psiquiatra Arthur Guerra
de Andrade, professor associado
da USP e titular da Faculdade de
Medicina do ABC, a iniciativa é
"inteligente" e "ousada", mas, por
si só, não é suficiente.
"Na universidade, muitos
estudantes se envolvem com
diversas novidades, como o álcool.
E há situações em que o grupo
promove festas com consumo
13/09/15
intenso de bebida. Para quem tem
alguma ansiedade, frustração ou
não está bem no curso, o álcool
serve como uma muleta", afirma.
deveria conscientizar os estudantes
sobre os riscos das festas, para que
tivessem receio e cuidado com o
álcool.
Ele defende maior ingerência
das universidades sobre as festas.
"Não é só o estudante com o
rendimento ruim que vai buscar no
álcool uma escapada para as
angústias."
"Muitas
tragédias
já
aconteceram, não foi só a com o
meu filho, e as universidades não
conseguem acabar com esses
abusos", afirma.
'RISCOS DAS FESTAS'
A professora de enfermagem
Josely Pinto de Moura, mãe de
Humberto, diz que o filho estava
se saindo bem na faculdade, não
costumava ir a grandes festas e foi
levado a beber pela "força do
grupo".
Mesmo assim, ela diz achar a
proposta válida. "O fato de o
professor ser alertado é importante
para ele ver o que está acontecendo
com o aluno."
Para Josely, a universidade
A bibliotecária Fátima Alves,
mãe da aluna Gabriela Alves, que
foi internada após a competição,
diz que sua filha também não teve
problemas com os estudos. Ela
defende um trabalho de
conscientização que envolva todo
o ambiente acadêmico. "O
problema não é só do aluno, é de
toda a universidade."
A Unesp diz ter organizado
oficinas virtuais e workshops
sobre álcool e drogas, além de ter
capacitado os vice-diretores das
unidades para lidar com casos de
abusos.
O ESTADO DE S. PAULO 13/09/15
POLÍTICA
Planalto paralisa mote do 2º mandato
RAFAEL MORAES MOURA O ESTADO DE S. PAULO
'Pátria Educadora’, lema da
nova gestão de Dilma, permanece
engavetado em meio a disputa
política e perde espaço para
plano nacional do MEC
Brasília - O Palácio do Planalto
decidiu manter engavetado o
projeto “Pátria Educadora”, mote
do segundo mandato da presidente
Dilma Rousseff, que até hoje não
saiu do papel. O plano, lançado
no discurso de posse da presidente,
foi elaborado pelo ministro da
Secretaria
de
Assuntos
Estratégicos (SAE), Mangabeira
Unger, e prevê metas na área
educacional. Mas uma disputa de
protagonismo político entre
Mangabeira e o ministro da
Educação, Renato Janine Ribeiro,
na prática inviabilizou sua
implementação.
O governo decidiu que o Plano
Nacional de Educação (PNE) será
a principal bandeira na área de
ensino, esvaziando as investidas de
Mangabeira na área. Diante disso,
o titular da SAE cogita pedir
desoneração do cargo porque,
além de ver o “Pátria Educadora”
enfraquecido, sua pasta deve
perder em breve o status de
ministério
na
reforma
administrativa.
O “rebaixamento” do programa
da SAE envolveu um cálculo
político do governo. Seguindo
orientação do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, Dilma definiu
que o PNE, de fato, continuará
sendo a principal bandeira do
governo na área educacional. O
gesto, ao mesmo tempo, prestigia
Janine Ribeiro, contém a ambição
de Mangabeira de avançar sobre
temas educacionais e atende aos
movimentos sociais ligados ao PT
– que rejeitavam ter uma figura
filiada ao PMDB e próxima ao
vice-presidente Michel Temer à
frente de um plano na área.
A base educacional petista
defende uma destinação de 10% do
PIB para a educação em dez anos
– uma das metas mais ambiciosas
do PNE. Atualmente, o
investimento em educação é de
6,2%.
Bastidores. A queda de braço
entre a SAE e a equipe do
Ministério da Educação (MEC)
teve início quando a presidente
pediu a Mangabeira um “plano de
concepção” envolvendo o lema do
governo. O andamento do projeto,
porém, desagradou ao governo.
“Autoritário” e “megalomaníaco”
são alguns dos adjetivos usados
pela cúpula do Planalto para
descrever a atuação de
Mangabeira à frente da pasta. A
avaliação é de que Mangabeira
tentou se cacifar para assumir o
MEC, após a saída de Cid Gomes
(PDT).
13/09/15
Os problemas se agravaram
quando o peemedebista decidiu
incluir no plano uma proposta de
diretrizes curriculares para a Base
Nacional Comum da Educação,
que define o que se espera que
alunos aprendam em cada etapa da
educação básica. Para auxiliares
da presidente, Mangabeira
extrapolou as suas funções, ao
atropelar uma discussão que já
ocorria no âmbito do MEC. “Quem
apresenta proposta de educação é
o MEC. Será o ministro da
Educação quem apresentará
qualquer proposta de educação”,
disse um ministro sob a condição
de anonimato.
mesmo por auxiliares diretos da
presidente Dilma Rousseff. “Isso
é sinal de que não tem programa
algum para a educação, não é?”,
ironizou um outro ministro.
Em meio a especulações sobre
o destino da SAE, que deve ser
incorporada ao Ministério do
Planejamento, o futuro do “Pátria
Educadora” é desconhecido até
Considerado a Carta Magna da
educação, o PNE, sancionado sem
vetos pela presidente em junho de
2014, estabelece as diretrizes das
políticas públicas na área para os
Reação. Em resposta ao Estado,
Renato Janine Ribeiro disse que a
contribuição de Mangabeira Unger
é “importante como todas as
outras”. “A educação é sim
prioritária na pátria educadora. A
ideia é que existe educação na
parte do MEC, que está
substanciada no Plano Nacional da
Educação, mas há inúmeros outros
aspectos que também são
educação.”
próximos dez anos. Entre as metas
estão a erradicação do
analfabetismo, a oferta de
educação em tempo integral em no
mínimo 50% das escolas públicas
e a elevação de pós-graduandos de
modo a atingir a titulação anual de
60 mil mestres e 25 mil doutores.
Já as propostas do plano de
Mangabeira, estão vinculadas a
quatro campos: a organização da
cooperação federativa na
educação; a reorientação do
currículo e da maneira de ensinar
e de aprender; a qualificação de
diretores e de professores e o
aproveitamento de novas
tecnologias.
Procurado pela reportagem, o
ministro Mangabeira Unger não se
manifestou.
CORREIO BRAZILIENSE
13/09/15
OPINIÃO
O ajuste fiscal do Estado elefante
» SACHA CALMON
Advogado, coordenador da
especialização em direito
tributário das Faculdades Milton
Campos, ex-professor titular da
UFMG e da UFRJ
A
jogada
pueril
do
irrecuperável ministro do
Planejamento de encostar na
parede o Congresso Nacional,
enviando-lhe o orçamento de 2016
com um rombo de R$ 30 milhões,
produziu dois resultados. O
primeiro, a repulsa do Congresso
em assumir o ônus de colmatar a
lacuna. O segundo, o rebaixamento
de dois graus da agência de risco
Standard & Poors, pondo-nos no
nível especulativo. Quem aplicar
fica ciente de que corre risco,
implicando remuneração mais
robusta (juros maiores).
O fato mostra quão bisonha é a
equipe palaciana e a ignorância do
ministro de Planejamento, membro
do governo até 2013 e, portanto,
contaminado pela incompetência
governativa do PT. Agora, a nação
começa a debater em profundidade
o que fazer para cobrir o buraco
orçamentário. A presidente disse
que não há mais o que cortar. O
ministro Levy cogita aumentar
impostos. O Congresso recusa-se
a fazê-lo. O povo repudia o
aumento da carga tributária, hoje
em torno de 36% do PIB em
processo de encolhimento
(recessão).
O ministro Levy, ao regressar
do G20, na Turquia, declarou que
o IR das pessoas físicas é dos mais
baixos do mundo. Não está correto.
Primeiro, porque os países
desenvolvidos têm renda per
capita entre 4 a 6 vezes maior do
que a brasileira — cerca de 11 mil
dólares. Em segundo lugar, porque
são países de grande igualdade
social (maior base tributável). Em
terceiro lugar, porque, entre eles,
os retornos em educação, saúde,
segurança e mobilidade urbana são
infinitamente
melhores,
justificando alíquotas de até 45%
em uns poucos países. Quanto aos
países em desenvolvimento, os
Brics e as nações americanas, o
nosso imposto de renda das
pessoas físicas é o maior de todos.
Comparados aos níveis de renda
dos EUA, o nosso é 10% maior.
Uma pessoa lá com renda contada
em dólares equivalentes a reais
paga a alíquota mínima; aqui, paga
a máxima, só para exemplificar.
Passemos aos impostos
cobrados sobre as vendas e os
faturamentos das empresas, mas
repassados ao consumo de bens e
serviços adquiridos pelo povo em
geral, os impropriamente
chamados impostos indiretos, e
que encarecem substancialmente
os bens e serviços vendáveis. A
situação aqui é ainda pior. Lá fora,
variam de 8% a 21%. Aqui, não
será exagero dizer que, na média,
perfazem 42% dos preços
praticados. Se a pessoa compra,
digamos, um par de sapatos,
certamente uns 40% do preço são
impostos (IPI, ICMS, PIS, Cofins,
ISS, taxas et caterva).
A sociedade brasileira já está,
inclusive as famílias mais
modestas, altamente tributada.
Mais que isso, o contrato de
trabalho formal quase dobra a
remuneração do trabalhador. A
burocracia fiscal para vender,
contratar, importar e exportar
impõe um mundo de obrigações
acessórias (custo brasil tributário).
Finalmente, em quadra recessiva,
qualquer aumento de impostos gera
uma das duas consequências ou
mesmo as duas a um só tempo:
diminui o poder de compra da
população e aumenta o custo dos
bens e serviços (o tributo assim
como os salários são custos).
Assim sendo, resta ao governo
central cortar os próprios gastos
(viagens, cartões corporativos,
gratificações), reduzir em 80% os
cargos em comissão, extinguir pelo
menos 20 ministérios. Depois
disso, vender ativos do governo,
como prédios inúteis (e das
estatais). E privatizar o que puder
(portos, aeroportos, ferrovias,
estradas, usinas elétricas só para
exemplificar). Vale a pena trazer
o dinheiro que esta lá fora sem
cobrar imposto algum. Basta pagar
13/09/15
15% do valor repatriado. Do modo
como estão desenhados os ônus do
reingresso, o programa será um
fracasso. Quem precisa de
recursos deve fazer concessões.
No Orçamento de 2016, o
governo dispõe de R$ 215 bilhões
de despesas discricionárias, ou
seja, não obrigatórias. Então, que
diminua o valor das BolsasFamília, reduza o Minha Casa,
Minha Vida,” o Pronatec, o Fies,
em 40%. Se fizer isso o governo
não apenas cobre o rombo de 30
bilhões como faz um superavit
primário ainda que pequeno, queira
ou não o PT é o Sr Barbosão. O
povo deve sair as ruas e obrigar
Dilma a largar a indecisão que a
paralisa. Não ao aumento da carga
tributária e sim à redução do
Estado-elefante. A presidente
precisa saber que o povo
brasileiro se dispõe a ajudar, desde
que a verdade seja-lhe dita. Foi
por mentir que a sua aprovação
veio ao rés do chão.
A situação é gravíssima, a exigir
sacrifícios. O governo deve dar o
exemplo e cortar na carne. O Brasil
está acima da presidencial
popularidade. Chegou a hora da
“mea-culpa” e da verdade. Resta
saber se a Chefe de Estado está à
altura de suas responsabilidades.
Pode até doer olhar para o chão e
ver a própria ideologia lá jogada
como um traste velho, mas é a
solução, caso contrário, o poder
lhe sairá das mãos. Quem criou o
problema o resolve ou então
renuncia.
CORREIO BRAZILIENSE
13/09/15
CIDADES
EDUCAÇÃO »
Enem para estudar em Portugal
O Instituto Politécnico do Porto
se une a outras quatro instituições
portuguesas e passa a aceitar nota
do Exame Nacional do Ensino
Médio para ingresso de alunos
brasileiros. Se aprovado,
estudante
desembolsará
mensalidade média de R$ 900
» Isabela Bonfim
Especial para o Correio
Estudantes do IPP na biblioteca
da instituição, no Porto
Boas notícias para quem deseja
fazer faculdade em Portugal. O
Instituto Politécnico do Porto
(IPP) é a quinta instituição daquele
país (veja quadro) a aceitar o
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) como prova de ingresso
para alunos brasileiros na
graduação. O acordo foi firmado
com o Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), na última
semana, e os alunos já podem se
inscrever na seleção, que começa
em 25 de setembro. Para a
inscrição, o candidato deve
submeter o resultado do Enem
realizado a partir de 2010.
O aluno brasileiro que deseja
concorrer a uma vaga no IPP
participa do concurso especial
para estudantes internacionais.
Este ano, serão oferecidas 274
vagas. As inscrições se encerram
em 10 de outubro — 15 dias antes
das provas do Enem 2015. Por essa
razão, o instituto negocia a
realização de outra fase, com data
mais adequada para aqueles que
ainda não fizeram o exame. Não
se trata de intercâmbio; os
aprovados vão poder cursar toda
a faculdade na instituição
portuguesa.
Na avaliação do presidente do
Inep, Chico Soares, este é mais um
passo na expansão do Enem. “O
exame, que proporciona muitos
acessos à educação superior no
Brasil, aos poucos, também está
abrindo boas oportunidades de
estudo em Portugal.” Para Carlos
Ramos, vice-presidente do IPP, o
uso dos resultados do Enem vai
facilitar a seleção de alunos
brasileiros. “O exame permite
fazer um melhor acompanhamento
da trajetória desses estudantes. O
IPP tem o Brasil como prioridade
no
seu
projeto
de
internacionalização, daí que seja
importantíssimo esse acordo com
o Inep.”
Anna Luiza Espindola, 21 anos,
estuda gestão da tecnologia da
informação e acabou de voltar do
intercâmbio para o IPP. Ela
conseguiu a vaga por meio de um
acordo de cooperação entre o
instituto português e a instituição
em que estuda no Brasil. Antes de
ser aceita, ela participou de duas
seleções e concorda que o uso do
Enem vai facilitar o ingresso de
alunos brasileiros. “A candidatura
na faculdade lá fora é diferente.
Por isso, o Enem é um ótimo
indicador do desempenho do aluno
no ensino médio”, avalia.
O IPP é a maior instituição
politécnica de Portugal e conta
com 18.500 estudantes distribuídos
nas cidades do Porto, Matosinhos,
Póvoa de Varzim, Vila do Conde,
Vila Nova de Gaia e Felgueiras. É
composto de sete escolas, nas
quais são ministrados cursos
superiores nas áreas de engenharia,
contabilidade, administração,
turismo, estudos industriais,
tecnologia, educação, música,
artes cênicas e saúde.
Apesar de ser uma instituição
pública, o ensino em Portugal não
é gratuito, como no Brasil. Os
estudantes brasileiros devem
desembolsar uma taxa anual entre
• 1.500 e 2.250 euros, de acordo
com a área de conhecimento. Com
as recorrentes altas do euro, a
mensalidade estaria próxima a R$
900. Para Anna, o valor é caro. “A
taxa para estrangeiros está alta, por
isso a decisão deve levar em conta
13/09/15
o quanto a pessoa quer investir no
ensino.” Mas ela também cita
algumas vantagens. “A biblioteca
é atualizada, tem ótima
infraestrutura e tive contato com
alunos de outros lugares do mundo,
o que não é comum aqui.”
Leandro Turon, 22, estuda
administração e também teve
oportunidade de fazer intercâmbio
no IPP. Para ele, o que mais
chamou a atenção foi a existência
de aulas ministradas em inglês.
“Realizei uma disciplina chamada
inglês aplicado à contabilidade e
foi muito enriquecedora, porque
treinamos o vocabulário para
situações específicas da nossa
carreira.” Ele indica o instituto,
principalmente, para os alunos com
intensão de construir uma carreira
internacional. “O IPP dará uma
ótima formação e diversas
oportunidades de crescimento,
inclusive de fazer intercâmbio em
outros países da Europa.”
Programe-se
Confira as instituições que
aceitam o Enem em Portugal
Universidade de Coimbra
Universidade de Algarve
Instituto Politécnico de Leiria
(IPL)
Instituto Politécnico de Beja
(IPBeja)
Instituto Politécnico do Porto
(IPP)
Matrículas no IPP
Período: 25 de setembro a 10
de outubro
Site: www.ipp.pt
Anuidade: 1.500 a 2.250 euros
CORREIO BRAZILIENSE
13/09/15
CIDADES
Festa para reforçar os laços afetivos
» Camila de Magalhães
Pais, avós, tios e crianças
aproveitaram a Festa da Família,
ontem
Não há um jeito certo para ser
família, cada uma tem a sua forma,
e o que vale é o amor. Foi com
essa mensagem que o Centro
Olímpico e Paralímpico de Riacho
Fundo I recebeu na manhã de
ontem centenas de pessoas num
momento pensado para estreitar os
laços afetivos e incentivar o bemestar e a qualidade de vida, a Festa
da Família. O evento, que será
realizado hoje na unidade de
Samambaia e no próximo fim de
semana em Ceilândia (Parque da
Vaquejada) e São Sebastião, foi
uma ideia da Fundação Assis
Chateaubriand para trazer aos
Centros Olímpicos pessoas
importantes na vida dos alunos. A
iniciativa é feita em conjunto com
a Secretaria do Esporte e Lazer do
Distrito Federal.
A programação teve jogos de
futebol, corrida de revezamento,
aulão de hidroginástica, oficinas
de pipa, dobradura de papel e
pintura. Ao final, houve um
piquenique. Na avaliação da
assistente social da Fundação
Assis Chateaubriand Cleide de
Vasconcelos Lima, são inúmeros
os benefícios de aproximar os
entes queridos no dia a dia de
crianças e jovens. “Muitas famílias
hoje estão perdendo o vínculo por
não conviverem tanto. Esse contato
é muito importante para a
socialização e a construção de
valores. Só com educação teremos
um futuro melhor para as nossas
crianças.”
Para João Eustáquio Barros,
representante da Secretaria do
Esporte e Lazer do DF, esse resgate
de valores é muito válido num
ambiente esportivo. “Você vê o
interesse das pessoas em se
aproximar. É gratificante saber que
se está fazendo a diferença na vida
delas, prevalecendo a família e o
esporte”, ressaltou.
CORREIO BRAZILIENSE
CORREIO VALORIZA
PROJETO EDUCACIONAL
O Correio Braziliense busca
valorizar e retratar em suas
reportagens a importância de um
ensino de excelência desde a
primeira infância. Para abordar o
tema com mais profundidade, o
jornal apresenta o Projeto Correio
Escola. A ideia é unir à Agenda
da Educação, coluna mensal que
aborda as principais notícias do
ensino no DF, os tradicionais
suplementos educacionais do
Correio: Escolha a escola do seu
filho e Volta às aulas.
O primeiro suplemento do
Projeto Correio Escola será
veiculado em 3 de outubro e
promete auxiliar os pais na escolha
do colégio dos filhos. O caderno
abordará os critérios, os cuidados
na hora de fechar o contrato, itens
de segurança e outros pontos
importantes para a matrícula. Vale
lembrar que esta é uma excelente
oportunidade para anunciantes e
agências participarem dos
projetos, expondo marcas e
produtos para um público
qualificado.
O
segundo
suplemento, que trata da volta às
aulas, está previsto para janeiro de
2016.
13/09/15
CIDADES - MARCAS
& NEGÓCIOS
Canal on-line
Também haverá a ampliação
para a plataforma web por meio
de um canal disponibilizado no Eu,
Estudante, um dos mais completos
sites de educação da capital. O
canal, que terá destaque na home
da página, estará em vigência entre
outubro de 2015 e janeiro de 2016,
com
reportagens,
dicas,
informações e conteúdos.
Pensando em facilitar a
identificação dos produtos do
projeto, todos os suplementos e
postagens relacionados serão
acompanhados de um selo
especial, criado pela Editoria de
Arte. Trata-se de mais uma
iniciativa do Correio direcionada
para o DF. Dar importância à
educação é valorizar o futuro do
país e, por meio de iniciativas
como o Projeto Correio Escola, o
jornal busca contribuir com as
discussões, promovendo o debate
de temas importantes.
O GLOBO
12/09/15
O PAÍS
'Economia evoluiu de maneira
imprevisível', diz defesa de Dilma
Governo alega ao TCU que
repetiu expediente usado desde
2001
Evandro Éboli
BRASÍLIA
O governo entregou ontem ao
Tribunal de Contas da União
(TCU) mais mil páginas de defesa
no processo sobre supostas
irregularidades nas contas de 2014
da presidente Dilma Rousseff. Ao
apresentar o material, o ministro
da Advocacia Geral da União
(TCU), Luis Inácio Adams, disse
que o governo não tinha como
prever a crise econômica que o
país enfrenta.
- O que gerou a realidade não
foi uma decisão governamental,
mas uma realidade econômica, um
elemento exógeno. O governo
procurou construir soluções de
reduzir despesas. Tiveram
decisões difíceis que alcançaram
programas sociais. Agora, a
realidade econômica evoluiu de
uma maneira imprevisível para
todos os analistas - disse Adams.
"Não há violação da LRF"
Segundo ele, "ninguém
projetava um impacto na redução
de commodities, de aumento do
dólar, de mudança no quadro
econômico do jeito que aconteceu
no final de 2014".
- Foi essa realidade que gerou
a necessidade de mudança de meta
que foi acatada pelo Congresso, e
em 31 de dezembro o governo
atendeu à lei - disse o advogadogeral, numa referência à aprovação
pelo Congresso do projeto enviado
pelo governo que derrubou a meta
fiscal para 2014.
Um dos principais argumentos
da defesa da presidente é dizer que
o governo não inovou ao autorizar
gastos antes da aprovação do
Congresso. Segundo a AGU, a
prática já tinha ocorrido no
passado, e foi reconhecida pelo
TCU e aprovada também pelo
Congresso. A AGU citou como
exemplo a repetição desse
expediente em 2001, durante o
governo Fernando Henrique
Cardoso (PSDB), quando, segundo
a defesa, foram baixados cerca de
cem decretos de concessão de
créditos sem prévia aprovação do
Congresso.
- Não há violação da LRF (Lei
de Responsabilidade Fiscal). Em
2001, o governo adotou mais de
cem decretos de mudanças de
abertura de crédito. O governo
(Dilma) reproduziu prática que
vinha sendo admitida pelo TCU, e
que foi aprovada pelo Congresso.
Não há como dizer que há
violação. Há uma jurisprudência.
Não foi irregular naquela época,
por que seria agora? - questionou
Adams.
O prazo para apresentar a
defesa do governo terminou ontem.
Somados aos 13 pontos
questionados pelo TCU que
envolvem as "pedaladas fiscais",
são 15 os itens que exigiram a
defesa do governo no TCU.
Adams rebateu argumento do
MP junto ao TCU de que o governo
exorbitou nos gastos num ano
eleitoral. E deu como exemplo
cortes feitos no programa Bolsa
Família em 2014.
- A acusação do procurador de
que foram operações realizadas
com fins eleitorais não procedem
pelo seguinte exemplo. O governo
adotou várias medidas de
contenção na área social. A mais
significativa foi a revisão
cadastral do Bolsa Família, que
retirou mais de dois milhões de
famílias do programa. Uma
economia de mais de R$ 5 bilhões.
Em pleno processo eleitoral disse o ministro.
A defesa de Dilma, no
calhamaço entregue ontem ao TCU,
citou a questão da segurança
jurídica e insinuou que pode
recorrer ao Supremo Tribunal
Federal (STF) caso as contas
sejam rejeitadas. "Constata-se,
assim, que, caso o TCU adote, em
relação ao exercício de 2014,
posicionamento diverso do
adotado em exercícios passados,
estará indo de encontro com os
12/09/15
postulados da segurança jurídica,
da boa-fé objetiva e da proteção
da confiança, enquanto expressões
do Estado Democrático de Direito,
na medida em que, como já
externado nestes autos à Corte de
Contas, interfere diretamente na
certeza do direito e na estabilidade
das relações jurídicas."
O documento com a defesa foi
entregue por Adams ao presidente
do TCU, Aroldo Cedraz, e ao
relator das contas de Dilma,
Augusto Nardes. O relator disse
não ter ainda prazo para levar as
contas ao plenário. Sobre eventual
risco de impeachment de Dilma
caso suas contas sejam rejeitas
pelo TCU, Adams diz não ver
cabimento nessa possibilidade.
- Não tem cabimento essa
pretensão por parte de alguns
atores políticos. Não é sustentável
juridicamente.
O GLOBO
12/09/15
SOCIEDADE
Uma base para o ensino
Ministro diz que documento
com orientações para escolas
apostará na regionalização
RAPHAEL KAPA
Interdisciplinar e com muita
regionalização. Foram estas as
primeiras pistas que o ministro da
Educação, Renato Janine Ribeiro,
revelou sobre o rascunho da Base
Nacional Comum (BNC),
documento com orientações
curriculares para as 190 mil
escolas brasileiras. O esboço do
governo deverá ser enviado no
próximo dia 16 ao Conselho
Nacional de Educação (CNE). Ele
abordou o assunto durante sua
palestra, ontem, no encontro
Educação 360, realizado pelos
jornais OGLOBO e "Extra", em
parceria com a prefeitura do Rio
e o Sesc, e com apoio da TV
Globo e do Canal Futura. — A
Base Nacional Comum vai
fortalecer a estrutura de
componentes curriculares. Quando
o professor de geografia abordar
bacias hidrográficas, por exemplo,
poderá relacionar com sertão, que
poderá ser utilizado pelo professor
de literatura ao trabalhar o livro
"Vidas Secas" — exemplificou
Janine, no auditório da Escola Sesc
do Ensino Médio, em Jacarepaguá.
O objetivo do documento é
determinar, pela primeira vez, de
forma clara e precisa, o que se
espera que o aluno aprenda em
cada nível de ensino. Estima-se
que essa base representará algo em
torno de 60% do conteúdo que as
escolas deverão passar aos
estudantes . Hoje, o ministério
estipula apenas parâmetros de
ensino. A regionalização terá um
papel importante no documento .
— Há certas disciplinas que talvez
tenham mais de 60% de conteúdos
específicos . É, provavelmente , o
caso da matemática. Já
compreendemos isso. Mas, com
certeza, história, geografia,
português e biologia devem
valorizar os conteúdos regionais
— disse Janine. Ao ser
questionado se o Enem, exame
anual e nacional de acesso ao
ensino superior , seria modificado
por conta das alterações previstas
na Base Nacional Comum, Janine
afirmou que é cedo para dizer: —
O Enem pode ser mudado. Ele é
um exame que serve muito bem
para o que queremos e tem um
resultado muito bom, mas pode ser
mudado. Isso é um processo. Só
pode ser feito depois desse
primeiro passo, que é a Base
Nacional Comum.
O ministro também demonstrou
que estas mudanças podem
impactar o Ensino Médio,
principal gargalo da educação
pública. — Estamos estudando
itinerários mais personalizados,
mas isso deve ser feito com
cuidado porque o aluno tem que ter
um básico. Ele tem que sair do
Ensino Médio com a certeza de que
vai alcançar um certo patamar . A
interdisciplinaridade
e
regionalização previstas foram
consideradas um avanço pela
secretária municipal de Educação
do Rio, Helena Bonemy. — Só de
ter uma Base Nacional Comum já
é um avanço. Acho que fomos
modelo porque o Rio já tem um
currículo formado com base nas
diretrizes curriculares do MEC.
Ter um olhar voltado para
regionalização é muito importante
porque é no local que acontecem
as
coisas,
e
com
a
interdisciplinaridade podemos
interpretar melhor.
Ernesto Vogel, professor de
Educação da UnB, que
acompanhou a conferência de
Janine, também elogiou o projeto.
—É muito importante que se deixe
claro o que cada aluno ter á de
habilidades e competências
quando sair de um determinado
segmento. Isto é uma escolha,
também, política. Por isso, a fala
do ministro , mostrando que haverá
in ter disciplinaridade , é esperada
e importante . Já ele ter dito que
busca a regionalização mostra um
posicionamento que rompe com a
atual centralização — afirmou.
A necessidade da valorização
da educação também foi uma
preocupação demonstrada por
Janine, que comparou como os
efeitos do ensino são difíceis de
12/09/15
serem vistos, se comparados com
os de outras áreas, como a de
saúde: —Enquanto uma pessoa tem
plena noção de que está doente ,
ninguém tem sintoma de que está
ignorante . Não dói no pé. Ninguém
vai conversar com professores
para dizer que está passando mal
por burrice. Além disso, a cada
geração se sabe mais . Os nossos
filhos sabem mais do que nós
todos. No final, somos todos
ignorantes em alguma coisa. O
problema é não saber qual é nossa
ignorância.
FALTA
DE
COMPROMETIMENTO DE
ALUNOS
Outro tema abordado durante a
conferência foi a desigualdade
social e a necessidade que
estudantes de instituições públicas
valorizem aquilo que a sociedade
proporcionou a eles: — Temos
estudantes que se beneficiam de um
ensino superior público e gratuito
e não se sentem comprometidos
com a sociedade. Dessa forma, não
tem retorno para a sociedade. Nos
Estados Unidos, não é assim, não.
Para entrar em Harvard, é
valorizado se o aluno faz trabalho
social. Durante a palestra, que teve
um momento dedicado a perguntas
mediadas pelo colunista Antônio
Gois, Janine reforçou a
importância da ética. Professor
titular desta respectiva cadeira na
Universidade de São Paulo, o
ministro disse que a ética deverá
ser incluída na formação
educacional.
O GLOBO
12/09/15
SOCIEDADE
‘Pensar e resolver problemas não é mais
suficiente’, diz educadora finlandesa
EDUARDO VANINI
Referência em ensino, país
propõe foco em criatividade e
multidisciplinaridade
Referência no mundo inteiro
por seu modelo educacional, a
Finlândia se prepara para uma
série de mudanças profundas em
seu sistema escolar. Pode soar
estranho para uma nação que há
anos aparece bem em avaliações
internacionais — já ocupou a
primeira posição no ranking dos
65 países avaliados no Programa
Internacional de Avaliação de
Alunos (Pisa) diversas vezes —,
mas a coordenadora de educação
de Helsinque, a capital do país,
Marjo Kyllönen, veio ao Brasil
mostrar que em time que está
ganhando se mexe, sim.
Horizonte. Marjo Kyllönen na
palestra: ‘Estamos olhando para o
futuro’
— Estamos olhando para o
futuro, tentando descobrir quais
são as novas competências
necessárias. Estamos no limite de
uma era, e isso está alterando
nossos procedimentos — disse ela,
na conferência que abriu a edição
deste ano do seminário
internacional Educação 360.
INCENTIVO À
COLABORAÇÃO
À frente do projeto "Escola do
Futuro", que propõe uma
restruturação do ensino pautada em
conceitos
como
multidisciplinaridade
e
protagonismo dos alunos, já
adotados em algumas escolas de
Helsinque, Marjo apresentou
algumas das novas competências
que serão reforçadas no país. É o
caso da colaboração, que incentiva
os estudantes a serem socialmente
mais responsáveis pelos outros, e
do pensamento crítico, cujo mote
é capacitá-los para lidar com a
variedade de informações.
— Pensar e resolver problemas
não é mais suficiente. Hoje,
qualquer pessoa pode acessar e
mudar uma informação. E ainda
agimos com se o professor
guardasse o cálice sagrado do
conhecimento — criticou.
A educadora contou que há um
grande foco na criatividade, com
crianças e jovens sendo
encorajados a pensar diferente, e
na transdisciplinaridade, mas sem
negligenciar o conteúdo de
matérias tradicionais:
— Tudo isso faz com que a
gente reescreva a narrativa das
nossas escolas. Os alunos precisam
saber como aquilo que aprendem
está conectado com sua vida
cotidiana.
Para alcançar essa nova
concepção de ensino, o país tem
mobilizado pais, professores e
alunos para refletirem sobre a nova
cultura das escolas. E isso trouxe
à tona várias demandas das novas
gerações, como estudar em
ambientes externos, ter contato
com atividades práticas e fazer uso
intenso da tecnologia.
Chegar a esse ideal exige que
os professores saiam da zona de
conforto, o que pode assustar. Por
isso, as ideias vêm sendo
implementadas aos poucos no
país:
— Introduzimos, por exemplo,
o projeto escola pop-up, em que
pais ou alunos ensinam algum
talento. Essa inversão de papéis
foi muito interessante ao
proporcionar um rompimento com
a forma tradicional de ensinar.
Os resultados têm sido
animadores. Marjo garante que
quem experimenta essa nova
“narrativa”, não quer voltar atrás:
— Queremos ser um país onde
todos amam aprender. Acho que
em dois anos isso será realidade.
O GLOBO
12/09/15
SOCIEDADE
Novos papéis para a escola moderna
ANA CAROLINA SOUZA*
Especialistas discutiram as
competências socioemocionais
necessárias para o século XXI
Nota alta em português,
matemática, geografia... Mas quem
disse que isso garante um futuro
promissor ao aluno? Ontem, no
encontro internacional Educação
360, uma realização O GLOBO e
“Extra”, em parceria com a
prefeitura do Rio e o Sesc, e com
apoio da TV Globo e do Canal
Futura, a função da escola na vida
dos estudantes no século XXI foi
tema da mesa de debate “Novos
alunos, velhos alunos? E o papel
das
competências
socioemocionais”, com Mozart
Ramos Neves, atual diretor de
Articulação e Inovação do Instituto
Ayrton Senna e secretário de
Educação de Pernambuco entre
2004 e 2006, e Luiz Carlos de
Freitas, professor da Faculdade de
Educação da Unicamp e autor de
sete livros, com mediação do
jornalista Antônio Gois, colunista
do
jornal
“O
Globo”
especializado em Educação.
Mesa plenária. Debate sobre a
mudança no perfil do aluno reuniu
Mozart Neves e Luiz Carlos de
Freitas com mediação do
jornalista Antônio Gois
Cada convidado teve 20 minutos
para manifestar suas ideias. Freitas
começou propondo uma mudança:
— Vamos pensar em velhos
alunos, novos estudantes. Pode
parecer bobagem, mas não é. É
fundamental entender que temos um
novo aluno em uma velha escola,
que não muda sua estrutura, sua
organização, sua gestão, seus
métodos de aprender e de ensinar.
Para Freitas, as novas formas
de comunicação quebram o
monopólio da escola. Se antes a
única porta de entrada do aluno
para a vida era o professor, hoje
as coisas estão bem diferentes.
— Escola não é um prédio. É
uma relação. Temos que olhar para
a escola e para as relações que têm
ali dentro indagando quais são as
velhas funções da escola que nós
queremos que ela pare de cumprir
e quais são as novas funções
sociais que queremos que ela
apresente — propôs.
A ligação de exclusão e
subordinação entre aluno e
professor, segundo ele, já não
funciona mais. E também não
adianta encher de tecnologia
porque o jovem continuará isolado.
— O professor tem que seguir
protocolos de ensino, usar
apostilas, jogos, dvds... As coisas
estão definidas. Viram para ele e
dizem: “É isso que você tem que
fazer”. Esses protocolos têm suas
funções, é claro, causam a paralisia
do professor.
Mozart reconheceu que o tema
da mesa de debate é relativamente
novo e usou como exemplo o
Colégio Estadual Chico Anysio
(Ceca), uma escola pública de
referência na qual está sendo
desenvolvida uma proposta
curricular inovadora, criada pelo
Instituto Ayrton Senna para o
ensino médio em tempo integral.
Segundo o professor, o Ceca vem
apresentando resultados superiores
a outros colégios da rede pública
na prova estadual Saerjinho
(processo de avaliação bimestral
do processo de ensino e
aprendizagem nas escolas).
— O desafio hoje é como
oferecer uma escola que caiba na
vida do aluno. As crianças e jovens
do século XXI merecem uma
educação do século XXI —
afirmou ele, que criticou o excesso
de exercícios em sala, repetições
e testes:
— Eles podem até apresentar
bons resultados, mas não é o que o
aluno precisa para a vida —
acredita.
Para Mozart, essa nova visão
para a escola não implica em
deixar de lado as habilidades
cognitivas, mas investir nas
chamadas
habilidades
socioemocionais. Ou melhor:
habilidades para a vida.
— Estudos mostram que
quando essas habilidades são
potencializadas no projeto
pedagógico, há melhoria da
aprendizagem, do clima de paz nas
escolas e do desenvolvimento
futuro de nossas crianças em
termos pessoais e sociais —
explica.
O GLOBO
12/09/15
SOCIEDADE
Desinteresse dos jovens é mito
Lendas e fatos sobre o ensino
foram apresentados e debatidos na
mesa especial da TV Globo
“Escola púbica é de pobre”, “o
jovem não dá valor à educação” e
“as novas tecnologias atrapalham
os estudos”. A mesa especial da
TV Globo “Educação: mitos e
fatos” foi dedicada a destrinchar
essas ideias.
Mediados pelo jornalista e
apresentador Pedro Bial, a diretora
de escola da rede municipal
carioca Eliane Ferreira, o
jornalista e escritor Fernando
Gabeira, o integrante do coletivo
Educ-ação André Gravatá, e o
professor da UFF e fundador do
observatório das favelas, Jailson
de Souza e Silva discutiram por
cerca de uma hora sobre temas
como ensino público, tecnologia
e o possível desinteresse dos
jovens pela escola, apontado por
várias pessoas em vídeo exibido
no telão — ideia prontamente
combatida pelos participantes.
— Constatar que isso é verdade
seria um desastre — afirmou
Eliane.
Para Gravatá, cabe à escola se
questionar se está interessada nos
jovens:
— Muitas vezes, a escola é
colocada como uma estrutura
pronta diante do jovem, na qual ele
tem que entrar. Mas não reflete
sobre as necessidades e interesses
dele.
Já Gabeira rebateu as dúvidas
sobre tecnologia:
— A tecnologia nos permite
avançar muito, só será prejudicial
se acharmos que é a única saída
para os problemas.
O GLOBO
12/09/15
SOCIEDADE
Inovação e transformação à vista
Projeto do MEC vai mapear e
ampliar iniciativas criativas em
território nacional
Como implementar a tão
sonhada inovação? Para Helena
Singer, assessora especial do
ministro da Educação Renato
Janine Ribeiro, e Cesar Nunes,
pesquisador da Unicamp e
especialista em desenvolvimento
e avaliação da criatividade, a
receita tem ingredientes como
discussão e construção coletiva,
autonomia para a comunidade
acadêmica, e vontade real de pôr
novas técnicas em prática.
Para
agilizar
essa
transformação, a educadora conta
com um projeto lançado na semana
passada pelo Ministério da
Educação (MEC) e do qual Helena
é uma das coordenadoras. O
“Inovação e Criatividade na
Educação Básica” pretende
mapear iniciativas inovadoras no
Brasil e ampliar seu impacto no
território nacional.
A tarefa, porém, não é simples.
De acordo com Cesar Nunes, é
preciso ter vontade real de
implementar mudanças:
— Se queremos criatividade,
temos de abrir espaço para que as
atividades sejam criativas. E saber
que vai levar tempo.
Inovação e criatividade sim,
mas com conteúdos regulares,
segundo Helena.
— Uma instituição inovadora e
criativa deve fornecer instrumentos
para o aluno enfrentar o Enem.
Mas, de forma nenhuma, a
preparação para uma prova deve
levar 14 anos — criticou.
O ESTADO DE S. PAULO 12/09/15
ECONOMIA
Empresas de educação devem assumir
risco de crédito para compensar Fies
12/09/15
CORREIO BRAZILIENSE
12/09/15
ECONOMIA
CONSUMIDOR »
Calote nas escolas chega a 19%
Número de famílias que não
conseguem pagar mensalidades
dispara por causa da crise
econômica e da alta dos preços
CELIA PERRONE
A inadimplência nas escolas
particulares avançou de forma
expressiva em 2015. No ano
passado, 8% das famílias não
conseguiam pagar as mensalidades
escolares. Em agosto último, esse
número passou para 19%. É o que
aponta o Serviço Central de
Proteção ao Crédito (SCPC). O
dado faz parte de uma pesquisa
maior, que mostra que caiu 5,9%,
no mês passado, ante julho, a
quantidade de pessoas que
conseguiram sair do cadastro
negativo. Os motivos desse
cenário preocupante são a
recessão, o aumento do
desemprego, a inflação alta e os
salários defasados.
O advogado Luís Cláudio
Megiorin,
presidente
da
Associação de Pais e Alunos do
Distrito Federal (ASPA- DF),
aponta outra razão para o aumento
da inadimplência. “Os reajustes
são abusivos”, disse ele.
“Ultrapassaram 50% nos últimos
cinco anos. A margem de lucro das
escolas no país fica entre 40% e
60%”, garantiu.
Para Megiorin, a falta de
fiscalização é o principal motivo
de os reajustes extrapolarem a
capacidade de pagamento dos pais.
“Neste ano, já registramos a
intenção das escolas de
aumentarem as mensalidades em
20%. Os pais precisam se
empoderar da Lei 9.860/99, que
lhes garante acesso à planilha de
custos dos estabelecimentos —–
uma verdadeira caixa preta.
Mesmo sendo esclarecidos, eles
não exercem a fiscalização, que
deveria ser feita pelo Estado, mas
foi jogada pelo Congresso no colo
da população”, disse.
De acordo com a ASPA, o
Distrito Federal conta com 482
escolas privadas e, segundo
Megiorin, o número vai continuar
crescendo porque não param de
chegar propostas de fundos de
investimentos que querem entrar
no setor da educação. “Como
Brasília tem a maior renda per
capita do país, os lucros aqui são
exorbitantes. No ano passado, um
fundo de Cingapura comprou uma
das melhores instituições da
capital.”
Megiorin já acionou o
Ministério Público, o Procon-DF
e o Prodecon e espera resposta do
deputado federal Raimundo
Ribeiro (PSDB-DF) para que seja
marcada uma audiência pública
para discutir os aumentos.
Custos
O presidente do Sindicato das
Escolas Particulares do Distrito
Federal, Álvaro Domingues, alega
que, em sua maioria, os
estabelecimentos aplicaram
reajustes de 8% a 10%. Ele
argumenta que os aumentos de
custo foram muitos.
“Cerca de 50% do impacto nas
mensalidades vem da folha de
pagamentos. O piso salarial foi
reajustado em 10% e o custo da
hora-aula do professor aumentou
6%, mais 2% de ganho real. Além
disso, tem a alta da eletricidade em
cerca de 48%, água, mais 30%,
aluguel próximo da inflação, além
de equipamentos de informática,
que precisam de manutenção e têm
peças com preços indexados ao
dólar, que subiu mais de 40%”,
salientou Domingues.
Professor de educação
financeira da Fundação Getulio
Vargas (FGV-SP), o economista
Fabio Gallo diz que o aumento de
custos não foi tão grande a ponto
de as mensalidades terem que subir
20%. “A pessoa que está
conseguindo pagar as parcelas
hoje em dia é um herói”, afirma.
“Suponhamos que os custos de uma
escola tenham aumentado 10%,
soma-se a isso 9% de inflação.
Resumo da ópera: ficou 19% mais
caro. É uma situação muito difícil
para o consumidor”, lamentou.
CORREIO BRAZILIENSE
12/09/15
OPINIÃO
O Enem e o DF
» ROGÉRIO VIANNA
Analista de ciência e
tecnologia do MCT aposentado
Semana passada, o ministro da
Educação, Renato Janine,
divulgou e comentou os resultados
do Enem 2014, tendo apresentado
uma planilha produzida pelo Inep
com detalhes sobre a participação
de 15.640 escolas e 1.370.520
alunos (a seleção foi justificada
por razões de relevância
estatística). No DF, a planilha
aponta 183 escolas e 27.009
alunos. O que se pode inferir
desses dados? Como vai o DF? E
como se compara a outras
unidades da Federação? Para
estudar melhor essas questões
,construímos um pequeno sistema
de visualização baseado na
planilha oficial, que o leitor pode
encontrar em www.inicio.com.br.
Este artigo procura colocar
algumas dessas indagações.
Quase todos os dias, a mídia
divulga fatos sobre a educação
brasileira e aqui, no DF. As
notícias são quase sempre ruins e
a precariedade da formação
educacional de nossos jovens,
principalmente no setor público, é
fato notório há muito tempo. Por
exemplo,
o
Índice
de
Desenvolvimento Humano (IDH),
da Unesco, mostra que o pior
indicador brasileiro e no DF está
na educação. Os dados do Inep
corroboram essa visão pessimista
ou traz alguns alentos?
Infelizmente, eles comprovam
claramente essa calamidade
nacional. A própria entrevista do
senhor ministro revelou sua
preocupação e seu desânimo,
afinal, das 27 unidades da
Federação, apenas seis tiveram
médias estaduais acima da média
nacional: em 21 estados, as médias
foram menores do que a nacional
— além do baixo rendimento
escolar, o Brasil continua
profundamente desigual.
Vejamos alguns números do
Inep/Enem-2014 e a situação do
DF. Em Brasília, parece haver
entre nós a impressão de que nosso
nível educacional se destaca no
Brasil, será verdade? Das 100
melhores escolas do Brasil,
aferidas pela média das notas em
matemática, redação, leitura,
ciências e humanas, apenas 3 são
do DF (todas privadas, e a primeira
está na 29ª posição). O Piauí tem
6, o Ceará, 8. Na nota de
matemática, é ainda pior: o DF tem
apenas 2 escolas entre as 100
primeiras (também privadas); o
Piauí, 5; o Ceará, 7: e Pernambuco,
6.
Pela média, não há uma única
escola pública do DF (federal ou
distrital) entre as 100 primeiras
escolas públicas do Brasil. A
melhor escola pública do DF está
na 111ª posição e no 1.196º lugar
no ranking geral brasileiro. Você
sabia disso? Pesquise na planilha
ou no sistema e descubra outras
calamidades como essas. Fato
alentador é que não temos, no DF,
escola entre as 100 piores do
Brasil. Nossa pior escola está na
posição 13.185 das 15.640 (quase
lá).
Também podemos analisar os
fatores que influenciam nesses
péssimos indicadores do Brasil e
do DF. Por exemplo, haverá
correlação entre o nível
socieconômico dos alunos e sua
média no Enem? Se houver, então
nosso problema será ainda maior,
pois os mais pobres estarão
recebendo educação ainda pior, e
o quadro geral de precariedade na
educação nacional tenderá a se
manter no futuro e o fosso social
também.
Vejamos: como um todo, no
Brasil, há correlação apreciável
12/09/15
entre esses dois fatores,
especialmente na escolas médias
e grandes (mais de 60 alunos).
Essa péssima notícia se aplica
igualmente às escolas públicas e
privadas? Sim, a correlação é
menor nas escolas privadas do que
nas públicas, mas existe —
correlação positiva significa que,
quando uma variável cresce, a
outra tende a crescer, correlação
negativa significa que quando uma
varável cresce a outra tende a
diminuir.
E no DF? O que se observa é
que nas escolas privadas em geral
não há essa correlação, mas, nas
escolas públicas, ela existe.
Claramente, há nas escolas
grandes, com mais de 90 alunos —
são 69 delas no DF, com 13.224
pobres alunos. Aí, está o segundo
drama. Em geral nossas escolas
não conseguem obter bons
resultados dos alunos, mas os de
nível socioconômico mais baixo
são ainda mais penalizados. Mas
já sabíamos disso, não é? Mais:
será que nível dos nossos
professores influenciam esses
péssimos indicadores? Parece que,
em certa medida, sim. No Brasil,
como um todo, particularmente nas
escolas grandes, os dados mostram
certa correlação entre o nível do
professor e a média das notas dos
alunos no Enem. E também nas
escolas privadas. O mesmo se
repete no DF. Mas aqui quase só
nas escolas públicas, embora em
nível de correlação moderado, a
ensejar melhores análises. Pode
parecer natural que, quanto menor
o nível do professor, menor o
rendimento do aluno, mas também
se pode pensar o contrário: é
preciso melhores professores para
se produzir melhores alunos.
Como a correlação encontrada
não chega a ser determinante,
alguns podem concluir de forma
diferente: essa correlação não
existiria ou não seria expressiva.
Nesse caso, a conclusão talvez
seja ainda pior, pois não
importaria a qualidade do
professor, os alunos ainda não
teriam bom desempenho. Os
fatores
extraescolares
responderiam por notas baixas.
Então, a doença não seria apenas
do sistema escolar, mas de toda a
sociedade. Pessoalmente, me
parece haver um pouco de cada
fator. Aí está! Estamos mal. Já
sabíamos. Mas os novos dados nos
mostram quantitativamente a triste
situação da educação de nível
médio no Brasil e no DF. O que
fazer?
CORREIO BRAZILIENSE
12/09/15
CIDADES
CRIME »
UnB apura denúncia de racismo contra índios
PALOMA SUERTEGARAY
O espaço conhecido como
Maloca, na Universidade de
Brasília, foi palco da discussão na
quarta-feira
Uma denúncia de racismo
contra estudantes indígenas da
Universidade de Brasília (UnB)
resultou no afastamento de uma
servidora da instituição ontem.
Segundo relato dos alunos, a
coordenadora administrativa do
Centro
de
Convivência
Multicultural dos Povos Indígenas
da UnB — conhecido como
Maloca —, Adriana Rosa, os teria
tratado com desrespeito, ao dizer,
na semana passada, que o espaço
era “mal utilizado” e “que os
negros são mais educados que os
índios, que não merecem esse
lugar”. Os estudantes publicaram
uma nota de repúdio contra a
funcionária nas redes sociais e
chegaram a ocupar a Maloca, na
quarta-feira, quando aconteceu um
desentendimento entre os jovens e
a mulher. A polícia precisou ser
acionada. Depois do ocorrido,
Rosa entregou o cargo e está
afastada da UnB. O Decanato de
Assuntos Comunitários (DAC) da
universidade abriu sindicância
para apurar os fatos.
A aluna de enfermagem
Rayanne Cristine Máximo França,
23 anos, integrante do Coletivo de
Estudantes Indígenas da UnB,
relata que Rosa estaria envolvida
em mais de um episódio de
preconceito. “No início do ano,
quando ela se apresentou para nós,
em uma sala de aula, chegou a me
falar que eu não parecia indígena,
por ser tão branca”, descreve. “Na
semana passada, uma colega
contou que a coordenadora teria
dito que estava insatisfeita com os
estudantes indígenas, que seriam
apenas um gasto para o poder
público”, completa. O caso mais
recente levou os integrantes do
coletivo a ocuparem a Maloca para
pedir a Rosa que se explicasse. Ela
se negou e chamou a polícia,
alegando que os alunos a
mantinham em cárcere privado.
Depois do desentendimento, os
estudantes registraram ocorrência
na 5ª Delegacia de Polícia por
agressão, já que alegam que Rosa
teria agredido uma aluna com uma
chave. A servidora também fez
boletim de ocorrência contra os
jovens, justificando que eles a
teriam ameaçado. Ao Correio, a
coordenadora desmentiu os fatos.
“Não foi do jeito que os alunos
contam. Saí da Maloca
acompanhada pela polícia para
que eles não me agredissem. Eles
querem que a gente aceite toda a
cultura deles, sendo que são
pessoas que estão há muitos anos
na universidade e acham que temos
de nos adaptar ao que eles
querem.” O reitor da UnB, Ivan
Camargo, informou que o caso
será investigado. “Ainda não
temos uma confirmação do que
realmente aconteceu, mas o
episódio será apurado.”
CORREIO BRAZILIENSE
12/09/15
CIDADES
ENEM »
A internet como aliada
Estudantes trocam a sala de
aula por cursinhos on-line para
reduzir custos e tempo de estudo
na preparação para o Exame
Nacional do Ensino Médio. Sites
oferecem videoaulas e exercícios,
mas, muitas vezes, não conseguem
tirar as dúvidas dos candidatos
» Isabela Bonfim
Especial para o Correio
Victor Ferreira usa o curso online como complemento às
disciplinas a que assiste na escola
pública: professores do colégio o
ajudam
Assim como muitos estudantes,
Victor Ferreira, 17 anos, concilia
as aulas da escola com uma
preparação intensa para o Exame
Nacional do Ensino Médio
(Enem). Mas ele não precisa se
deslocar todos os dias até o curso,
porque faz o preparatório on-line.
“Eu optei por esse método
justamente porque não tinha tempo
para o cursinho. Eu trabalhava, e
precisava de algo prático e
rápido”, explica. Os sites
oferecem videoaulas e exercícios
para quem quer se preparar para
os vestibulares. Flexibilidade e
preço já atraíram mais de meio
milhão de estudantes.
Os sites cobrem o conteúdo
exigido no edital do Enem por
meio de videoaulas curtas, com
duração de 5 a 15 minutos. Para
praticar, os alunos podem fazer os
exercícios relacionados a cada
módulo e assistir às correções em
vídeo. Só parte do conteúdo está
disponível gratuitamente. Para ter
acesso ao pacote completo, é
preciso ser assinante. “O preço é
mais em conta que o cursinho
presencial”, diz. Victor optou pelo
pacote semestral, de R$ 89,90. Um
curso preparatório em Brasília
custa, em média, R$ 2.500 por
semestre.
Outra vantagem é a
flexibilidade, já que o aluno
assiste aos vídeos quando for mais
conveniente. Mas, para que as
aulas on-line funcionem como um
curso preparatório, é preciso
disciplina. Victor, por exemplo,
organizou a grade de estudos com
auxílio dos professores da escola.
Com o objetivo de passar no curso
de direito na Universidade de
Brasília (UnB), ele estuda cinco
horas por dia. Duas são
exclusivamente por meio da
plataforma na internet. “Tudo
depende do aluno. Se ele não
quiser, não vai conseguir desfrutar
do conteúdo do site.”
Marco Aurélio Andrade, 51
anos, também se prepara on-line.
Ele usa o site Me Salva! e acredita
que o método funciona. “Eu gosto
do formato da aula. Você só vê a
mão e escuta a voz da pessoa, isso
ajuda a se concentrar melhor.” Ele,
que está se aposentando agora da
Polícia Militar, já é aluno de
educação física na UnB, mas quer
realizar o sonho de estudar
medicina. Também já foi aprovado
em outros vestibulares e prefere se
preparar sozinho. Para ele, a
vantagem do curso on-line é a
rapidez. “Uma videoaula de
poucos minutos, às vezes, cobre o
conteúdo de um capítulo do livro.
Como falta pouco tempo para o
Enem, essa agilidade é
fundamental.”
Metodologia
Para que o aprendizado seja
mais fácil, os conteúdos são
divididos em módulos bem
específicos e de maneira
progressiva. “O primeiro módulo
de matemática é sobre operações
básicas. É para o aluno que
realmente não sabe nada. Aos
poucos, ele evolui para módulos
mais avançados, com nível de
vestibular”, diz Vinicius Neves,
diretor de conteúdo do Stoodi.
Segundo ele, os professores dão
aulas em cursinhos e escolas de
São Paulo e já estão acostumados
com a preparação para o Enem.
12/09/15
Davis Posso, professor de
biologia, explica que precisou
fazer adaptações nas aulas
presenciais para o formato on-line.
“Uma aula de 50 minutos na escola
é fragmentada em dois ou três
vídeos. A duração curta é
importante para manter a
concentração do aluno.” Em
compensação, ele conta que é
possível inserir elementos
interativos mais facilmente do que
em sala. Para o professor, a maior
dificuldade é acompanhar o
progresso do aluno. “Observar a
evolução do estudante na sala de
aula é algo imediato, mas, no
ambiente virtual, é um desafio.”
Um dos pontos que as plataformas
ainda não cobrem completamente
é a solução de dúvidas. Victor
conta que, quando não entende
algo, recorre aos professores da
escola.
Diretor do Me Salva!, Miguel
Andorffy conta que a plataforma
não nasceu com o intuito de ser
exatamente um cursinho on-line.
“Nosso objetivo é ser o melhor
amigo do aluno e ajudá-lo a fazer
a própria gestão do aprendizado.”
Ciente de que muitos usam o site
como curso preparatório, a equipe
tem se organizado para oferecer
serviços mais especializados. Na
reta final para o Enem, a
plataforma vai disponibilizar,
gratuitamente, oito aulões de
revisão e uma maratona de
simulados.
Quanto custa?
Stoodi
Conteúdo: 2 mil aulas, 3,5 mil exercícios, resumos teóricos.
Grátis: primeira aula de cada módulo, provas e gabaritos de
vestibulares e Enem.
Assinantes: aulas mais avançadas dos módulos, exercícios e correção
em vídeo.
Pacotes: mensal: R$ 19,90; semestral: R$ 89,90 e anual: R$ 149,90.
Endereço: www.stoodi.com.br
Me Salva!
Conteúdo: 2,6 mil aulas e 6,4 mil exercícios.
Grátis: revisão para o Enem e maratona de simulados — mais da
metade do conteúdo do site é de acesso livre
Assinantes: revisões e cursos preparatórios exclusivos
Pacotes: mensal: R$ 40; semestral: R$ 192 e anual: R$ 336
Endereço: www.mesalva.com
JORNAL DE BRASÍLIA
12/09/15
POLÍTICA
JORNAL DE BRASÍLIA
12/09/15
CIDADES
Vila Planalto
Situação provisório se arrasta há 2 anos
12/09/15
CLÁUDIO HUMBERTO
12/09/15
DIÁRIODOPODER.COM.BR
PÁTRIA...
A Universidade Federal do
Paraná abriu vagas para “todos os
beneficiários do Programa
Nacional de Educação na Reforma
Agrária” se inscreverem a uma das
60 vagas para o curso de Direito.
... EDUCADORA
Se sobra dinheiro para
financiamento de estudo dos semterra, falta para o Ministério da
Educação. Com a crise financeira,
o governo cortou R$ 1 bilhão no
orçamento do seu ministério “mais
importante”.
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