Título : PROGRAMA DE HUMANIZAÇÃO NA ASSISTÊNCIA HOSPITALAR DO
HOSPITAL DAS CLÍNICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS.
Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
Área temática: Saúde
Introdução:
O Programa reúne todos os projetos relacionados com o movimento de humanizar a
assistência hospitalar, que abrangem desde a definição de políticas de humanização até
programas específicos para pacientes atendidos no complexo hospitalar, a saber:
•
“ABRAÇARTE: humanização do atendimento à criança hospitalizada”;
•
“Programa intedisciplinar de atenção domiciliar - HC no domicílio”;
•
“CATHIVAR - Humanização do atendimento a pacientes extremamente graves”;
•
“Projeto Brinquedoteca Hospitalar “Nosso Cantinho”;
•
"Proposta de Ampliação e Reestruturação do Espaço Lúdico-Socializante”
Objetivo:
Agregar e apoiar a continuidade dos diferentes projetos desenvolvidos no Hospital das
Clínicas da UFMG, e possibilitar reflexão e promoção do fortalecimento contínuo desta
política de humanização na assistência hospitalar.
Autores:
Para realização deste trabalho no Hospital foi constituída uma Comissão Interdisciplinar
coordenada por PENIDO, Rita de Cássia e composta por: MATA, Cléa, GORETTI,
Dione, GUIMARÃES, Fátima, SANTOS, Maria do Rosário, ASSUNÇÃO, Mônica,
BAMBIRRA, Nídia, MATOS, Renata, SILVA, Rita de Cássia e GUIMARÃES, Wilma .
Metodologia:
Levantamento das iniciativas já existentes, promovendo a integração das mesmas;
Realização de Oficinas e Seminários;
Elaboração das diretrizes para sistematização do Programa;
Divulgação do Programa na comunidade hospitalar e demais fóruns.
Projeto 1: “ABRAÇARTE: humanização do atendimento à criança hospitalizada”
Autores: alunos e professores: CAMPOS, Flávia Alves, SILVA, Flávia Miranda,
SANTOS, Guilherme C. Messias, ATHAYDE, Guilherme R. Sant’Anna, BASTOS,
Gustavo B. Pires, BORGES, Jordane, MOTA, Joaquim Antonio César, NEHMY, Rosa
M. Quadros. E-mail: [email protected]: Faculdade de Medicina /Hospital das
Clínicas da UFMG
O projeto de pesquisa/ensino/extensão ABRAÇARTE, em execução desde agosto de
2001, resulta de parceria entre os departamentos de Medicina Preventiva e Social e de
Pediatria, e do Hospital das Clínicas da UFMG. Surgiu de demandas de alunos do
segundo período do curso médico, garantindo seu envolvimento criativo e compromisso
com as atividades. A referência mais geral é o movimento de humanização do
atendimento ao paciente internado, considerando que o ambiente hospitalar pode ser
suavizado pela introdução de situações de interação social mais amenas e próximas do
cotidiano das crianças, combinando aportes da clínica e das ciências sociais.
Sendo assim, o projeto apresenta como objetivo a pesquisa dos condicionantes sociais
que atravessam a relação entre o paciente pediátrico, seus familiares e o ambiente
hospitalar e desenvolver atividades que contribuam para a re-humanização das relações
sociais nesse cenário. Busca incentivar reflexões que complementem e extrapolem a
abordagem organicista-tecnicista da saúde-doença, introduzindo o aluno em vivências
com pacientes internados na perspectiva de cuidados integrais ao paciente. Procura
contribuir para o ensino médico como experiência de inserção precoce nos serviços e para
os movimentos sociais relacionados a cuidados para pacientes pediátricos.
São realizadas pesquisas de caráter qualitativo sobre o atendimento prestado durante a
internação através de entrevistas com crianças e acompanhantes no Pronto Atendimento
do HC, e desenvolve atividades lúdicas (participação em festas do hospital, visitas
periódicas com brincadeiras) para as crianças internadas na enfermaria pediátrica.
Resultados da pesquisa servem também de suporte para a definição de ações e de
avaliação das atividades.
A pesquisa está em fase de análise de dados. Resultados preliminares indicaram que um
dos desejos das crianças era o de desenhar e colorir, levando à criação da primeira revista
em quadrinhos para colorir da série sobre o corpo humano, enfocando o funcionamento
do coração. Foram realizadas atividades lúdicas de acordo com o cronograma do hospital
e visitas agendadas para as brincadeiras. O sorriso das crianças e o carinho dos
profissionais do hospital têm funcionado como incentivo aos participantes do projeto. O
projeto tem tido repercussão positiva junto aos alunos de Medicina, tendo enquanto meta
se relacionar mais estreitamente com outras áreas de conhecimento como artes e terapia
ocupacional.
Projeto 2: “Programa intedisciplinar de atenção domiciliar - HC no domicílio”
Autores: SILVA, Dorotéia Fernandes, NUNES, Amália Augusta, VIEIRA, Ana Geisa,
CUNHA, Cristina Pinto, GONZÁLEZ, Cristiane Oliveira, EDUARDO, Daisy Salomão,
SILVA, Geraldo Augusto, CASTRO, José Roberto Siqueira, MATOS, Juliana Paula,
SILVA, Maria Fátima Seixas Souza, OLIVEIRA, Patrícia Marques, SANTOS, Simone
Ferreira, NUNES, Vânia Maria Fernandes. E-Mail:____________________________
O Programa foi criado a partir de uma proposta do serviço social em 1998, que naquele
momento tinha como preocupação um atendimento mais humanizado aos clientes,
principalmente aqueles fora de possibilidades terapêuticas. Após estudos de experiências
de atenção domiciliar, discussões institucionais e formação de equipe interprofissional,
iniciou-se o trabalho prático em fevereiro de 2002. O programa se caracteriza pelo
atendimento no ambiente domiciliar, beneficiando clientes portadores de doenças graves
e crônicas, com dificuldades de deambulação, portadores de incapacidade temporárias ou
permanentes e clientes fora de possibilidades terapêuticas. Essa modalidade de atenção,
pressupõe questões fundamentais como: equipe interdisciplinar, familiar e/ou cuidador
com disponibilidade e responsabilidade pelos cuidados no lar, residência com condições
adequadas e retaguarda hospitalar incluindo pronto atendimento.
O programa tem como objetivo ampliar as ações de saúde de um hospital público
universitário, através do estabelecimento da atenção domiciliar, buscando adequar o
atendimento a real necessidade do cliente em um conceito amplo de saúde, investindo no
sujeito inserido no seu meio familiar e social, priorizando a sua singularidade.
O programa se desenvolve através de reuniões semanais para discussão dos casos e
estabelecimento de condutas quinzenais para atividades científicas; visitas domiciliares
por equipe interdisciplinar para atendimento e ou avaliação; realização de cursos para
cuidadores; coleta de material para exames.
De fevereiro de 2000 a agosto de 2002, foram encaminhados ao programa 36 pacientes.
17 foram admitidos, desses 3 receberam alta, 5 faleceram e 9 estão em atendimento. Não
existem profissionais com dedicação exclusiva, os profissionais disponibilizam em média
5 horas de sua carga horária de trabalho na instituição para as atividades do programa. O
programa conta, no momento, com alunos de pós graduação, de enfermagem e de
medicina, cumprindo a missão institucional, integrando atividades assistenciais às de
ensino e pesquisa.
Temos constatado a institucionalização progressiva do programa. A avaliação é positiva
pelos clientes/cuidadores/familiares, equipe e instituição. Quanto às dificuldades
surgidas, podemos apontar a prática da interdisciplinaridade; de profissionalização das
ações e questões políticas e financeiras de uma instituição que prioriza atendimento a
clientes do Sistema Único de Saúde.
Projeto 3: “CATHIVAR - Humanização do atendimento a pacientes extremamente
graves”
Autores: alunos e professores: DRUMOND, Thaís Costa.; OLIVEIRA, Bruno
L.M.Oliveira; PISOLER, Lucas Timm; NEHMY, Rosa M. Quadros, SILVEIRA, José C.
Bruno; DAMAZIO, Luciana Oliveira; MARX, Raquel Taroni.; TORRES, Rejane A.
Bueno.
E-mail: [email protected] : Faculdade de Medicina da Universidade Federal de
Minas Gerais
O projeto de pesquisa/extensão/ensino CATHIVAR está sendo desenvolvido por alunos
da graduação de medicina sob orientação de professores dos departamentos de Clínica
Médica e de Medicina Preventiva e Social. Tem como objeto de estudo a atenção a
pacientes em estágio terminal. O marco teórico procura combinar perspectivas das
ciências sociais e da clínica. Isso porque o estágio terminal da doença é uma situação
complexa que ultrapassa o limite do simplesmente biológico. Do ponto de vista do
paciente há necessidade de inclusão de todas as dimensões da sua subjetividade –
psíquicas, familiares, culturais e sociais –, o que é mais grave quando se trata de pessoas
carentes.
O projeto tem como objetivo compreender as representações sociais dos pacientes frente
à expectativa da morte e analisar experiência de cuidados alternativos ao modelo médico
dominante, contribuindo para alterar a visão essencialmente tecnicista e para o
movimento de re-humanização da atenção a pacientes terminais.
É realizada pesquisa através de estudo de caso na Clínica Nossa Senhora da Conceição,
especializada em atendimento a pacientes pobres, portadores de câncer e AIDS,
inspirando-se no modelo “hospice”. São utilizadas as técnicas de entrevista e de
observação participante para a coleta de dados. Os pacientes são acompanhados
semanalmente e os alunos participam de eventos promovidos pela clínica e por grupos
solidários aos pacientes.
Observamos que resultados preliminares mostram que os pacientes percebem a morte
sem falar diretamente sobre ela. Sentem sinais físicos da fraqueza e sinais emitidos por
familiares e pelas pessoas que deles tratam. Oscilam entre estados de negação e de
aceitação, mantendo tênue esperança na reversão do quadro. Parecem conformados com o
estágio atual, mas revelam incompreensão sobre o que lhes aconteceu. Alegam, por
vezes, terem sido mal informados sobre os procedimentos médicos a que se submeteram.
A clínica procura evitar rituais usuais de um hospital: no ambiente (presença de cores e
de locais de relaxamento; a possibilidade de transitar pelo espaço da clínica) e pela
presença constante de pessoas (da equipe de cuidados e de parentes). Os pacientes
sentem-se mais confortáveis na clínica do que em casa ou no hospital. O projeto tem
chamado a atenção da academia e dos serviços e espera-se que contribua para mudanças
na formação médica e sirva como um exemplo de inserção de alunos da graduação nos
serviços.
Projeto 4: “Projeto Brinquedoteca Hospitalar “Nosso Cantinho”
Autoras: este projeto foi elaborado pelas terapêutas ocupacionais CHAVES, Patrícia
Campos
e
GOMES,
Maria
do
Carmo
[email protected] e [email protected]
de
Souza
Mota
Avelar.
E-Mail:
O projeto visa oferecer a possibilidade de brincar, livremente, podendo a criança dirigir a
atividade, criar inventar, transformar, construir e se expressar. Oferecendo a oportunidade
de escolha, busca resgatar a experiência e o exercício da autonomia possibilitando,
consequentemente, o crescimento pessoal e a aquisição de atitudes de responsabilidade.
Contribui para a integração social das crianças e possibilita, pelo brincar espontâneo, a
expressão de sua realidade interna. O projeto tem também, como objetivo, investir no
aperfeiçoamento técnico de toda a equipe.
A Brinquedoteca Hospitalar “Nosso Cantinho” é um projeto desenvolvido pelo Serviço
de Terapia Ocupacional do HC/UFMG. Funciona desde 1991, inicialmente só para
empréstimos de brinquedos e atualmente, além do empréstimos, caracteriza-se como um
espaço exclusivo onde, principalmente a criança internada, mas também acompanhantes e
a equipe, podem brincar livre, espontânea e criativamente.
Brincar é a função básica da criança. É brincando que ela explora, descobre, aprende,
apreende o mundo a sua volta. Numa situação de internação hospitalar, toda a rotina de
vida da criança é modificada, o que inclui também o brincar e a motivação inerente a
todas as crianças. Sendo assim, quando se objetiva resgatar a saúde e a melhora na
qualidade de vida, enfoque principal do trabalho pretendido pela Terapia Ocupacional da
Unidade de Internação Pediátrica, a brinquedoteca apresenta-se como uma proposta rica
em recursos, que vem atender a demanda da clientela, que hoje caracteriza-se por
crianças internadas em estado clínico agudo e/ou grave.
O projeto funciona de 2º à 6º feira, em espaço próprio dentro da Unidade de Internação
Pediátrica, num período de cerca de 4/h diárias, de forma a possibilitar o acesso das
crianças ao espaço lúdico, oferecido em diferentes momentos e por tempo determinado
pela vontade destas, sem intervir no tratamento clínico oferecido.
Atuam no projeto uma estagiária bolsista e duas voluntárias do curso de graduação em
Terapia Ocupacional, supervisionadas pelas duas profissionais do setor que atuam no
projeto.
Foram atendidas, no período de janeiro à julho de 2002, 676 crianças, sendo realizados
1427 empréstimos e 739 participações ativas no espaço da brinquedoteca. Em 83 dias e
332 horas de trabalho foram alcançadas cerca de 20 crianças/dia, acompanhadas no
exercício ativo do brincar, processo fundamental em seu desenvolvimento como ser
humano, sujeito de sua própria história.
Projeto 5: "Proposta de Ampliação e Reestruturação do Espaço Lúdico-Socializante "
Autora: o projeto foi idealizado e é coordenado pela terapeuta ocupacional
GUIMARÃES, Wilma. E-Mail: [email protected]. Serviço de Terapia Ocupacional –
HC/UFMG
O projeto Espaço Lúdico, tem como especificidade o uso de atividades de diferentes
naturezas para a realização de ações de prevenção, tratamento, cura e reabilitação. A
Terapia Ocupacional no Hospital das Clínicas – UFMG (unidades de internação e
ambulatórios) sempre utilizou os brinquedos, jogos (adaptados ou não) e livros, além de
outros materiais para trabalhos manuais, como recursos terapêuticos, com objetivos
específicos variados, nos atendimentos aos pacientes internados ou não – crianças,
adolescentes e adultos.
Em 1993, percebeu-se uma demanda espontânea crescente de adolescentes e adultos
hospitalizados que procuravam o Setor de Terapia Ocupacional solicitando "somente algo
para passar o tempo mais depressa...", "alguma coisa para distrair..., para brincar junto
com o colega da enfermaria", "para descontrair, relaxar". Desde então, buscou-se a
estruturação do "Espaço Lúdico-Socializante" e a progressiva ampliação dos recursos
físicos, materiais e humanos já existentes, por meio de campanhas periódicas no
HC/UFMG e na comunidade, bem como a transformação do mesmo em Projeto de
Extensão Universitária, a partir do primeiro semestre de 2002. O projeto é executado por
3 terapeutas ocupacionais do HC e 2 estagiárias bolsistas do curso de graduação em
Terapia Ocupacional da UFMG.
O projeto tem como objetivos prover os grupos e indivíduos de espaço físico, materiais,
equipamentos adequados ao ambiente hospitalar e pessoal disponível, para usar de forma
criativa/construtiva o seu período de hospitalização/tratamento; estimular a realização de
atividades lúdicas, de leitura, audiovisuais (incluindo a criação de rede interna de TV) e
musicais, visando a descontração, relaxamento e redução do estresse gerado pela doença
e tratamento/ hospitalização, bem como promover encontros e trocas de experiências;
favorecer a exploração, conhecimento, domínio e compreensão dos espaços físicos e
rotinas e seu "ajustamento ao ambiente hospitalar"; promover atividades educativas,
principalmente voltadas à promoção, prevenção e recuperação da saúde. Basicamente,
são realizados empréstimos de livros, revistas, jogos, televisão, aparelhos de som e vídeo
game, com orientação do uso adequado, incluindo os cuidados quanto ao controle de
infecção hospitalar e estimulação para uma melhor interação social. Os pacientes são
recebidos, diariamente, no Espaço Lúdico-Socializante (9º andar, ala norte do
HC/UFMG), onde realizam atividades propostas no projeto, ou são atendidos nos leitos,
salas de quimioterapia e hemodiálise, conforme necessidades e possibilidades.
São realizados cerca de 1400 atendimentos/ano, com possibilidade de aumento desse
atendimento.
Conforme relatos de alguns pacientes, “senti que um novo mundo se abriu para mim no
hospital. Encontrei aqui um refúgio gostoso para poder me distrair e comunicar com
novas pessoas e me sentir mais gente...”
Conclusão geral:
Os projetos aqui descritos e agregados ao “Programa de Humanização na Assistência
Hospitalar do Hospital das Clínicas da UFMG” vêm evidenciar que humanizar o
ambiente hospitalar é resgatar o comportamento ético, articular o cuidado técnicocientifico, acolher o imprevisível, o diferente e o singular. Mais que isso, humanizar é
adotar uma prática em que profissionais e usuários considerem o conjunto dos aspectos
físicos, subjetivos e sociais, assumindo postura ética de respeito ao outro, de acolhimento
do desconhecido e de reconhecimento de limites. Humanizar é alcançar benefícios
mútuos para a saúde dos usuários, dos profissionais e da comunidade.
Referências bibliográficas:
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de
Humanização da assistência Hospitalar/Ministério da Saúde, Secretaria de assistência à Saúde. –
Brasília: Ministério da Saúde. 2001.
JACOB FILHO W.,CHIBA T, ANDRADE VA Assistência domiciliar em uma instituição de
ensino. Atheneu. São Paulo.2000.
DOUTORES DA ALEGRIA. O livro dos segundos socorros. São Paulo: Editora Panda, 2001.
GUIMARÃES, Wilma. A terapia Ocupacional nas Unidades de Internação do HC/UFMGHospital Geral e Universitário, In: Cadernos de Terapia Ocupacional. Belo Horizonte, GES.TO,
out. 1998, n.1, ano X. p.36-73.
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