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INOVAÇÃO E COMPETITIVIDADE: O CONTRIBUTO DAS BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS
INNOVATION AND COMPETITIVENESS: THE CONTRIBUTION OF UNIVERSITY
LIBRARIES
Maíra Prado da Silva
Rosangela Formentini Caldas
Resumo: Compreende-se a inovação determinante nos índices de competitividade e
desenvolvimento dos países. As universidades apresentam-se como promotoras de inovação
diante de seu papel de produção do conhecimento. O estudo propõem analisar serviços e
produtos gerados pelas bibliotecas das universidades públicas do Estado de São Paulo
enquanto inovação, promovendo o desenvolvimento nacional. Utilizou-se estudos de caso
múltiplos com abordagem quantiqualitativa. Observa-se nos produtos e serviços a falta de
indicadores que demonstre a ação dessas unidades no crescimento de pesquisa e tecnologia.
Existe ainda a necessidade de estudos em Capital humano. Conclui-se que as bibliotecas
universitárias deveriam prover maior acesso a projetos de inovação, auxiliando o crescimento
dos índices de desenvolvimento do país e por isso necessitam de investimentos para novos
produtos.
Palavras-chave: Inovação. Biblioteca Universitária. Serviço de Informação. Produto de
Informação. Indicadores de Desenvolvimento.
Abstract: It is understood the crucial innovation in competitiveness indices and developing
countries. Universities present themselves as promoters of innovation before its role in
knowledge production. The study designed to analyze services and products generated by the
libraries of the public universities of the State of São Paulo innovation while promoting
national development. The methodology consists of multiple case studies with quantitativequalitative approach. It was noticed of products and services the lack of indicators that
demonstrate the action of these units in the growth of research and technology. There is also a
need for studies in Human Capital. It is concluded that university libraries should provide
greater access to innovation projects, helping the growth rates of country’s development and
therefore need investment in new products.
Keywords: Innovation.
Development Indicator.
University Library. Information Services. Information Product.
1 INTRODUÇÃO
A competitividade das nações é um assunto proeminente quando se trata de verificar o
nível de desenvolvimento dos países. Investimentos têm sido realizados em países de forte
impacto a fatores como: Cultura, incentivo governamental para políticas públicas, recursos
naturais, educação, inovação e tecnologia. Assim, índices de referência internacional, como o
de Competitividade Global (ICG) publicado pela World Economic Forum (WEF) são gerados
a fim de analisar a competitividade entre os países, .
O ICG propõem doze pilares de competitividade, divididos em três grupos. O terceiro
grupo denominado de “Inovação em Economia” possui o objetivo de analisar os locais
disponíveis para pesquisa especializadas e serviços de treinamento, formação continuada de
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colaboradores, qualidade dos institutos de pesquisa científica, colaboração em pesquisa e
desenvolvimento (P&D) entre Universidade - indústria.
Nesse sentido, as universidades são reconhecidas por integrarem o Sistema Nacional
de Inovação do país, buscando proporcionar um ambiente propício para a economia do
conhecimento (PAIS, 2007). A contribuição da universidade pode ser verificada através da
geração de pesquisas com enfoques inovativos e contribuição social (SBRAGIA, et al., 2006).
Portanto, compreende-se que as universidades são focos para a produção de inovação e
tecnologia no Brasil.
O Estado de São Paulo acumula o maior PIB nacional sendo o mais rico
economicamente, segundo os dados do IBGE (2013). Tal situação se reflete nos rankings
internacionais das melhores universidades do mundo, colocando a frente as universidades
públicas do Estado de São Paulo como aponta QS World University Ranking e The World
University Ranking.
Entende-se que o forte avanço em inovação no contexto das universidades públicas do
Estado, possui sua referência no suporte oferecido pelas bibliotecas institucionais. A
biblioteca universitária se firma como um órgão de apoio informacional permitindo suporte as
atividades de ensino, pesquisa e extensão, gerando conhecimento (MIRANDA, 2007). São
facilitadoras na busca informacional e se remetem além das coleções físicas, proporcionando
acesso a informação por meio de sistemas e recursos on-line, e também por meio do
desenvolvimento de seu próprio conteúdo digital (FERET, 2011).
Portanto, o objetivo da pesquisa compreende analisar os serviços e produtos gerados
pelas bibliotecas das universidades públicas do Estado de São Paulo enquanto promotoras de
inovação e desenvolvimento nacional. Para isso, foram criados descritores de Inovação que
capacitassem o destaque específico da unidade informacional como referência de
competitividade. A metodologia possui abordagem quanti-qualitativa no método do estudo de
caso múltiplos que engloba as bibliotecas das universidades em destaque junto ao The World
University Ranking e QS World University Ranking.
2 COMPETITIVIDADE, INOVAÇÃO E CAPITAL HUMANO
A prosperidade de um país, segundo Porter (1999) constitui-se por meio do esforço
criativo humano e da capacidade de suas indústrias desenvolverem contínuas inovação. As
instituições mantém vantagem em relação a outras devido as pressões e desafios superados.
Estudos comprometidos com os elementos geradores de competitividade são
importantes para verificar o desenvolvimento de produtos e processos advindos de melhores
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práticas para atender as necessidades dos consumidores. A observação dos fatores de
excelência são imprescindíveis para melhores desempenhos institucionais.
A geração de inovação leva a uma posição de dominância competitiva e os novos
produtos de inovação servem como um fator-chave para o desenvolvimento da organização. A
capacidade de uma organização para a continua geração de inovação é considerada principal
fonte para a sustentabilidade da vantagem competitiva (QUINTANE et al., 2011). Além do
mais, o poder público compreende a inovação como um meio para alcançar o
desenvolvimento econômico e social. A inovação exige investimentos tanto com foco de
desenvolvimentos de novos produtos, serviços ou de capital humano.
O capital humano resulta em inovação (STEWARD, 1998) e pode ser observado em
habilidades, conhecimentos, criatividade, capacidade de resolução de problemas, liderança e
comprometimento funcional. Os indivíduos representam um importante recursos estratégico
para a organização, pois empregam seus conhecimentos e habilidades para negociações,
expansão de mercado, produção e oferta de serviços e produtos para os clientes (SARSUR,
2003). O Capital humano potencializa a produtividade e rapidez no execução das metas
institucionais.
2.1 Serviços e Produtos de Informação
O serviço de informação tem como objetivo garantir que a informação esteja a
disposição para acesso e torna-se evidente que o mesmo deve contar com investimentos em
capital humano a fim de identificar fontes relevantes e com políticas que permitam melhor
acesso a informação (ROZADOS, 2004).
O atendimento a demanda é o serviço desenvolvido com o intento de suprir as
necessidades informacionais dos usuários, antes mesmo de se tornarem demandas explícitas
de informação. Em relação aos produtos de informação, eles podem ser considerados como
estruturas informacionais resultantes de serviços. A principal diferença entre serviços e
produtos consiste na tangibilidade do produto (BORGES, 2007).
Segundo Rowley (2002), o produto apresenta um modelo em três níveis que compõem
partes complexas de bens, serviços e informações, são eles: O produto principal que realmente
se encontra com as necessidades do consumidor, ou seja, o produto principal é sempre a
informação; o produto real consiste no que é entregue ao usuário e; o produto aumentado
inclui quaisquer outros recursos que constituem parte integrante do produto e que agregam
valor para a troca.
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Organizações do mesmo segmento
compartilham o mesmo núcleo de produto
principal, diferenciam-se em função do produto real. Em muitos mercados aos quais a
oportunidade para a inovação é limitado, a diferenciação pode ser feita em função do produto
aumentado (ROWLEY, 2002).
Algumas observações devem ser pontuadas em relação aos serviços e produtos de
informação, como: a oportunidade é fator imprescindível para a oferta de serviços e produtos;
a quantidade não é sinônimo de qualidade; a informação solicitada pelo usuário pode ser
devidamente especificada para sua necessidade; as necessidades de informação se modificam
com o tempo; os serviços serão julgados com base na pertinência do usuário; o acervo local
normalmente não é suficiente para a demanda informacional e o acesso a informação deve
clara e concisa (BORGES, 2007).
3 METODOLOGIA
Diante do objetivo proposto, a pesquisa classifica-se como estudo de casos múltiplos
de caráter descritivo com abordagem quanti-qualitativa. Para tanto, investigou-se os sistemas
de bibliotecas da USP, UNICAMP e UNESP por alcançarem posições de destaque em
rankings internacional e por estarem no estado de São Paulo que concentra o maior PIB do
país, sendo identificado os produtos e serviços apresentados no website das bibliotecas.
Assim, acredita-se que estudar os serviços e produtos de informação dessas universidades
possibilitará melhores observações para o alcance da inovação, desenvolvimento e
competitividade do país.
4 ANÁLISE DE DADOS
Verificou-se o total de sete serviços de informação existentes nas bibliotecas,
conforme apresentado no gráfico1. De acordo com as tipologias dos serviços apresentadas
por Rowley (2002), elas são majoritariamente serviços de antecipação a demanda, ou seja,
quando solicitados pelo usuários os serviços se encontram disponíveis para o uso efetivo.
Observa-se que os mesmos ocorrem principalmente no serviço de referência, pois diante da
indagação do usuário, o capital humano precisa levantar e preparar as informações solicitadas.
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GRÁFICO 1: Serviços e Produtos das Bibliotecas Universitárias
Fonte: Elaborado pelas autoras
De maneira explícita, não foram identificados nenhum termo descritivo ao serviços de
referência, mas existem atividades que conjuntamente são indicativas. Como apresenta
Grogan (2001) existem diferentes categorias de consultas apresentadas no setor de referência,
como a de caráter administrativo e de orientação espacial, consulta sobre autor e título e
consulta de localização de material. As bibliotecas apresentaram orientação sobre pesquisa,
normas da ABNT e treinamento para o acesso as Bases de Dados.
Foi possível identificar, que uma das bibliotecas disponibiliza ferramentas
tecnológicas, tais como computadores e rede virtual privada que permitem aos usuários o
acesso dos serviços locais. Não foi identificado nenhum produto desenvolvido pela biblioteca.
A compreensão que envolve as diferenças principais entre serviços e produtos na
literatura está na tangibilidade, conforme aponta Fitzsimmons e Fitzsimmons (2010). No
entanto, compreende-se que a divergência apresenta-se na entrada da informação como
matéria-prima, passando por um processamento exercido pelo capital humano, que resultará
na saída de um novo produto, que poderá apresentar-se em suporte físico ou virtual. Assim, a
questão central da caracterização do produto é a transformação da informação por meio de um
processamento, independente se há a presença de um suporte, formato, processo de
transferência, ou seja, se não houver uma mudança no caráter
da matéria-prima (a
informação) não constitui-se um produto.
As redes sociais tem sido amplamente utilizadas entre as bibliotecas como um recursos
de informação, no entanto, apenas uma das bibliotecas evidencia o uso dessas ferramentas
como serviço que disponibiliza a informação. Questiona-se o uso dessas ferramentas como
fator inovativo. A inovação pode estar em um contexto de ideias percebidas para as pessoas
envolvidas.
2153
5 CONCLUSÕES
Constata-se que as bibliotecas universitárias possuem suas atividades voltadas para a
prestação de serviço não sendo observado nenhum produto de informação. Ademais, não
identificou-se serviços ofertados pelas biblioteca que respaldassem ações voltadas para a
inovação. O IBGE aponta que a taxa de Inovação do Estado é de 54.2% enquanto que o Brasil
possui 57% (INDICADORES..., 2011). Acredita-se que se houver uma equipe e formação do
capital humano adequado para construir produtos de informação, proporcionará condições
propícias para respaldar uma maior geração de inovação e competividade na perspectiva
organizacional.
O Brasil é pouco favorável para o ambiente competitivo, necessitamos de estudos para
gerar indicadores em prol da melhoria da gestão pública uma vez que os mesmos auxiliam a
entender o efetivo direcionamento de recursos e investimentos (SENNES, 2014). A criação de
indicadores que mensurem dados aos quais a biblioteca universitária tenha participação direta
no crescimento da ciência e tecnologia do País poderiam destacar as universidades enquanto
projeção de índices internacionais na área de inovação e tecnologia.
Todavia, a disposição de recursos informacionais contribuem intensamente para a
construção do conhecimento dos usuários, o que gera o desenvolvimento das inovações no
âmbito das universidades.
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