Variabilidade espacial dos índices de clorofila em folhas de cacaueiro por interpoladores estatísticos e determinísticos Danielle Inácio Alves1, Samuel de Assis Silva2, Julião Soares de Souza Lima2 1 Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, Espírito Santo, Brasil, [email protected] 2 Departamento de Engenharia Rural, Universidade Federal do Espírito Santo, Alegre, Espírito Santo, Brasil, [email protected], [email protected] RESUMO A utilização de sensores do tipo clorofilômetro é um método alternativo, utilizado para a avaliação da nutrição nitrogenada em plantas. O objetivo desse trabalho foi comparar métodos de interpolação estatísticos (Krigagem ordinária) e determinísticos (Inverso do quadrado da distância) na estimativa de índices de clorofila em folhas de cacau. O estudo foi desenvolvido em uma lavoura experimental de cacau localizada no município de Ilhéus/Bahia, no Centro de Pesquisa do Cacau da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPEC/CEPLAC, em uma grade regular com 120 pontos amostrais. Os dados foram coletados, nos meses de Março, Abril e Maio, em quatro folhas por planta sendo uma em cada um dos quadrantes da copa. Em cada folha foram realizadas duas leituras, uma na parte adaxial e a outra abaxial da folha, utilizando um clorofilômetro portátil. Em seguida, foi calculado teor médio de clorofila para cada ponto amostral. A performance dos interpoladores foi obtida e comparada usando o critério do erro médio. As observações foram espacialmente dependentes. O IDW (Inverso do quadrado da distância) apresentou maior erro médio na estimativa dos dados, entretanto sua diferença em relação à KRIG (Kirgagem ordinária) foi pequena. A Krigagem foi capaz de reproduzir, de forma mais exata, a estrutura de distribuição do fenômeno no espaço, enquanto para o IDW o mapa evidência uma descontinuidade espacial inexistente. PALAVRAS-CHAVE: Agricultura de Precisão, Geoestatística, Métodos de interpolação, Sensor de clorofila. ABSTRACT The use of chlorophyll sensors is a alternative method used to evaluate the nitrogen nutrition in plants. The aim of this study was to compare interpolation methods - statistic (ordinary kriging) and deterministic (Inverse distance squared) - in the estimation of chlorophyll contents in cocoa leaves. The study was developed in a experimental area, cultivated with cocoa, located at in the municipality of Ilhéus / Bahia, at the Cocoa Research Center of the Executive Committee of the Cocoa Farming Plan - CEPEC / CEPLAC. The data were colected in a regular grid with 120 sampling points, in the months of March, April and May in four leaves per plant one in each quadrant of the canopy. In each sheet were two readings, one at the adaxial part and the other abaxial leaf, using a chlorophyll. It was then calculated average chlorophyll content for each sample point. The performance of interpolators was obtained and compared using the average error criterion. The observations were spatially dependent. The IDW (inverse distance squared) showed higher average error in estimating data, though its difference from KRIG (ordinary Kirgagem) was small. The Kriging was able to play, more accurately, the phenomenon of the distribution structure in space, while for IDW map evidence a non-existent spatial discontinuity. KEYWORDS: Precision Agriculture, Geostatistics, Interpolation methods, Chlorophyll sensor. INTRODUÇÃO O cacaueiro (Theobroma cacao L.), espécie tropical perene que pertence à família Malvaceae (BARTLEY, 2005), possui grande importância para o Brasil, pois é utilizado na fabricação de chocolate e manteiga de cacau. Além disso, sua polpa pode ser utilizada para extrair o mel de cacau, do qual pode-se obter produtos como vinho, vinagre e geléia (SOUZA; DIAS, 2001). Os principais produtores mundiais de cacau são Costa do Marfim e Gana, sendo o continente africano responsável por cerca de 70% da produção mundial de cacau em 2012. O Brasil, em 2012, era o quinto maior produtor mundial de cacau, mas em 2014 passou para a sétima posição (CONAB, 2014). No Brasil, o principal estado produtor de cacau é a Bahia, responsável por aproximadamente 60% da produção nacional (MÜLLER, 2012). Para um bom crescimento, desenvolvimento e produção do cacaueiro é necessário que as plantas estejam bem nutridas. O nitrogênio é um elemento essencial para as plantas e é requerido em grandes quantidades (TAIZ; ZEIGER, 2013). Segundo Dantas et al. (2012), o nitrogênio é o nutriente mais exportado pelo cacaueiro e a sua capacidade fotossintética é dependente da disponibilidade do mesmo. A folha é o órgão da planta que melhor reflete seu estado nutricional (CHEPOTE et al., 2005). As leituras realizadas pelo clorofilômetro permitem estimar a concentração de N nas folhas das plantas através do índice de clorofila na folha, sendo este um método barato e rápido (KLOOSTER et al., 2012; SANT’ANA et al., 2010). A aplicação do clorofilômetro tem sido estudada para diversas culturas como milho (ZOTARELLI et al., 2003), café (GODOY et al., 2008), andiroba e camarú (FELSEMBURGH; TRIBUZY, 2012) e cacau (DANTAS et al., 2012). O conhecimento detalhado da variabilidade espacial dos nutrientes minerais pode possibilitar a otimização das aplicações de fertilizantes nas culturas, proporcionando a diminuição de custos e redução dos impactos ambientais causados pelo excesso destes nutrientes aplicados nas áreas (SILVA et al., 2009). Além disso, propicia que em áreas com solos mais pobres sejam corrigidos aos níveis desejados de nutrientes, melhorando o sistema de tomada de decisão em todas as etapas de manejo das culturas. Segundo Silva et al. (2008), inúmeros métodos de interpolação, com diversos níveis de complexidade, estão disponíveis na literatura para mapear a variabilidade espacial dos atributos de solo e de planta. O processo de interpolação nada mais é do que, a partir de uma amostragem, realizar inferências sobre a população, ou seja, sobre todos os pontos mesmo aqueles não amostrados (ARAÚJO, 2004). Os métodos de interpolação mais utilizados em agricultura de precisão são o Inverso do quadrado da distância (IDW) e a Krigagem (MUELLER et al., 2004). Em alguns trabalhos, a Krigagem tem apresentado melhores resultados que o IDW (COELHO et al., 2009; VILLATORO et al., 2008; WARRICK et al., 1988), já em outros o IDW tem sido melhor (GOTWAY; HARTFORD, 1996; GUEDES et al., 2012). Entretanto Silva et al. (2008) e Souza et al. (2010), estudando atributos do solo, encontraram um diferença pequena entre os dois métodos. Objetivou-se com este trabalho comparar os métodos de interpolação estatístico (Krigagem ordinária) e determinístico (Inverso do Quadrado da Distância) na estimativa da variabilidade espacial do índice de clorofila em plantas de cacau. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado em uma lavoura experimental de cacau localizada no município de Ilhéus/Bahia, no Centro de Pesquisa do Cacau da Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira – CEPEC/CEPLAC. O clima da região é, conforme classificação de Koppen, do tipo AF tropical-úmido com médias de precipitação anual de 2.000 mm ou mais podendo chegar a 2.400 mm, com chuvas bem distribuídas ao longo do ano, sendo o verão o período de maior precipitação. O experimento foi conduzido em uma área de cabruca de aproximadamente 5.900 m2, com espaçamento de 3,00 x 1,50 m. Os cacaueiros foram produzidos por via seminal através de 31 cruzamentos, tendo 11 anos de implantação da lavoura. O solo da área é do tipo Nitossolo Háplico Eutroférico Saprolítico. Durante a coleta de dados não houve nenhum tipo de adubação, sendo a última adubação realizada no ano anterior ao estudo. O experimento foi conduzido montando-se uma grade regular com 120 pontos amostrais, compreendendo oito fileiras com 15 plantas em cada fileira. Foram amostradas quatro folhas por planta, uma em cada um dos quadrantes da copa. Em cada folha foram realizadas duas leituras, uma na parte adaxial e a outra na parte abaxial da folha, do índice de clorofila do tecido vegetal utilizando um clorofilômetro portátil, modelo CFL 1030 da FALKER. As coletas de dados foram realizadas em três medições em um período de 90 dias espaçadas no tempo em 30 dias e foi realizada a média das três medições. As medições foram realizadas entre 8:30 e 11:00 horas, sendo realizadas calibrações antes da realização das leituras, conforme recomendações do fabricante. As leituras foram realizadas a 6,0 mm da margem do limbo, marcada pelo regulador de profundidade do aparelho. As folhas utilizadas para a realização das leituras, folhas diagnósticas, localizam-se no 3° nó a partir do ápice de um ramo recém-amadurecido sem lançamentos. Os resultados encontrados foram submetidos a uma análise descritiva e exploratória. Verificou-se também, a normalidade dos dados através do teste de Kolmogorov-Smirnov, a 5% de probabilidade. Em seguida os dados foram submetidos à análise geoestatística para quantificar a dependência espacial e temporal do índice foliar de clorofila, através do ajuste de modelos teóricos aos variogramas experimentais estimados pela equação 1: (1) onde N (h) é o número de pares de valores medidos Z (xi), Z (xi +h), separado pela distância h, se a variável for escalar. Na análise geoestatística testou-se os modelos teóricos para ajuste: esférico, exponencial, gaussiano, linear sem patamar e efeito pepita puro. A escolha do modelo seguiu os critérios da soma dos quadrados do resíduo (SQR) e o maior coeficiente de determinação (R2). O ajuste dos dados a partir do semivariograma possibilitou definir os seguintes parâmetros: efeito pepita (C0), patamar (C0+C) e alcance (a) e o índice de dependência espacial (IDE). O IDE é calculado pela relação [C/(C0+C)], conforme critérios estabelecidos por Zimbarck (2001), e assume os seguintes intervalos: fraco para valores de IDE < 25 %; moderado entre 25 – 75 % e forte para IDE > 75 %. Para estimar valores de Índice de Clorofila em locais não amostrados e confeccionar os mapas, utilizou-se de dois métodos de interpolação, a saber: Krigagem ordinária (KRIG), que é um método geostatístico, que se utiliza de um estimador linear não-viciado com mínima variância e leva em consideração a estrutura de variabilidade encontrada para o atributo sendo definido pela seguinte equação 2: (2) em que Z (xi, xi + h) é o estimador para um ponto (xi, xi + h) da região e são os pesos usados na estimativa. O outro método utilizado foi o inverso do quadrado da distância (IDW) que é um interpolador determinístico univariado de médias ponderadas, dado pela seguinte equação 3: (3) em que: Xp é atributo interpolado; Xi é valor do atributo do i-ésimo ponto de amostragem; di é a distância euclidiana entre o i-ésimo ponto de vizinhança e o ponto amostrado; e n o número de amostras. A análise geoestastística e os métodos de interpolação foram realizados no software GS+, bem como a confecção dos mapas e a estatística descritiva. Os erros dos interpoladores foram calculados e comparados com base nos valores do erro médio, segundo Dirks et al. (1998) e Mello et al. (2003), conforme equação 4: (4) em que: VR é o valor da variável real; VP é o valor da variável estimada; e é erro da i-ésima observação (%); em é o valor do erro médio (%) e n é o valor de situações avaliadas. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na análise descritiva é possível perceber que a média do índice de clorofila na folha (ICF) foi de 70,2. Souza et al. (2011), obtiveram valores semelhantes para plantas cítricas para o mesmo período. O coeficiente de simetria foi próximo à zero, o que indica simetria na distribuição dos dados, demonstrando que o índice de clorofila no estudo aproxima-se de uma distribuição normal. Isso pode ser confirmado pelo CV, que para o ICF médio foi de 7,77, indicando baixa variação dos dados. De acordo com a classificação de Warrick e Nielsen (1980) o ICF teve baixa variação (CV<12). Godoy et al. (2008), estudando plantas de café, também encontraram baixa variação para o ICF. Tabela 1- Estatística descritiva para o índice de clorofila na folha de cacau. Parâmetros Estatísticos Índice de clorofila Média 70,2 Mediana 70,98 Mínimo 53,19 Máximo 82,48 Desvio Padrão 4,99 Variância 24,93 Coef. Simetria -0,87 Coef. Curtose 1,79 C.V. (%)¹ 7,77 S.W² 0,9462* ¹ Coeficiente de variação; ² Valores de probabilidade de Shapiro; * - significativo ao nível de 5% de significância pelo teste Shapiro Wilk's; ns - não significativo ao nível de 5% de significância pelo teste Shapiro Wilk's. A análise geoestatística (Tabela 2) foi realizada para determinar e quantificar a variabilidade espacial do índice foliar de clorofila. Verificou-se que a dependência espacial foi moderada, conforme a classificação por Zimback (2001). O modelo que melhor se ajustou ao semivariograma experimental foi o esférico. Segundo Grego e Vieira (2005), o modelo esférico é o mais encontrado nas pesquisas que envolvem atributos do sistema solo-planta. O Coeficiente de determinação (R²) foi próximo à unidade, portanto, o modelo proposto é adequado para descrever a variável. Tabela 2- Parâmetros dos semivariogramas ajustados aos dados experimentais de clorofila total. Parâmetro Modelo C0 C0+C IDE (%) A R2 Clorofila total Esférico 10 27 62,9 60 0,961 RSS 2 10,4 Co- efeito pepita; Co+C- patamar; IDE – Índice de dependência espacial; a - alcance; R - coeficiente de determinação; RSS - soma de quadrados de erros. O valor de alcance encontrado foi de 60 m. O alcance é a distância correspondente a zona de influência ou dependência espacial de uma amostra, marcando o valor de distância a partir do qual as amostras tornam-se independentes (ANDRADE, 2002). Portanto, a distância entre pontos não deve ser menor que o alcance. Na Tabela 3 estão os resultados obtidos para os critérios de comparação do erro médio entre métodos de interpolação. Tabela 3- Valores de erro médio para interpoladores usados na distribuição espacial. Interpoladores KRIG IDW Erro Médio 4,19 4,41 KRIG= Krigagem ordinária; IDW= Inverso do Quadrado da Distância. O menor valor de erro médio para os interpoladores foi obtido para KRIG, mas a diferença entre os métodos foi pequena. Resultados semelhantes foram observados por Silva et al. (2008) que também não encontraram diferença significativa nos valores interpolados pelos métodos IDW e KRIG. Segundo esses autores, a Krigagem ordinária é um interpolador ótimo, pois é um estimador exato e não tendencioso, isto é, se o ponto a ser estimado for igual ao ponto amostrado, o valor estimado deverá ser o mesmo, contribuindo assim para sua maior precisão na estimativa quando comparada com outros métodos. Figura 1- Mapas temáticos para índice de clorofila, interpolado por krigagem (KRIG) e inverso do quadrado da distância (IDW). Independente do método de interpolação, observa-se nos mapas temáticos (Figura 1) que o índice de clorofila foi maior nas partes centrais da área, enquanto que os menores índices são observados nas extremidades, principalmente no lado esquerdo. Através dos mapas gerados há a possibilidade de estabelecimento de zonas específicas de manejo de nitrogênio na área, com base nos valores no índice de clorofila, uma vez que a escala de índices de clorofila foi bem representativo. De acordo com Hardin et al. (2012), o índice de clorofila da folha é uma medida indireta capaz de diagnosticar o estado de N na folha para várias culturas agrícolas. A maior diferença observada na comparação visual dos mapas pode estar relacionado ao fato da KRIG ser um estimador não-viciado e com variância mínima que considera a estrutura de variabilidade dos dados amostrais, enquanto que IDW é um interpolador univariado de médias ponderadas, que atribui aos pontos pesos fracionários, porém com soma igual a um. A variabilidade espacial do índice de clorofila foi baixa, por isso, a diferença dos erros médios entre os interpoladores não é tão evidente, entretanto, quando analisamos os mapas é possível inferir que o IDW apresenta uma descontinuidade espacial que não é característico dos dados apresentado, enquanto que a Krigagem reproduz, de forma mais precisa, a estrutura de distribuição do fenômeno no espaço. CONCLUSÕES Apesar de ambos os métodos de interpolação terem apresentado boa precisão para estimativa do índice de clorofila em locais não amostrados e com baixos erros médios, a Krigagem foi o método que propiciou os menores erros de interpolação dos parâmetros e foi capaz de reproduzir, de forma mais exata, a estrutura de distribuição do fenômeno no espaço, enquanto que o IDW apresentou descontinuidade espacial. AGRADECIMENTOS Ao CNPq pelo apoio financeiro para execução da proposta. À Ceplac pela cessão da área de estudo. REFERÊNCIAS ANDRADE, A. R. S. Aplicação da Teoria fractal e da geoestatística na estimativa da condutividade hidráulica saturada e do espaçamento entre drenos. 2002. 181 f. Tese (Doutorado em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 2002. ARAÚJO, J. C. Determinação de zonas de manejo e estimativa da produtividade de culturas de grãos por meio de videografia aérea digital multiespectral. 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