AS CORRENTES DA ENGENHARIA NA CANOAGEM Projeto FEUP 2013/2014 1º Semestre Data de Entrega: 4 de Novembro de 2013 Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica Turma 1M8 Equipa 1M8_03 Supervisor: Ana Reis – DEMec – [email protected] Monitor: Marieta Rocha – [email protected] Coordenador MIEM: Teresa Duarte – [email protected] Coordenador Geral: Armando Sousa – [email protected] Membros da Equipa: Luís Carlos da Silva Lobo – [email protected] Carlos Daniel Pires Rodrigues – [email protected] Rodrigo Sá Morais Campos Costa – [email protected] João Pedro Duarte Galileu – [email protected] MIEM/FEUP Agradecimentos Todo este trabalho não teria sido realizado sem a colaboração de diversas pessoas. Portanto queremos reconhecê-las e dar os nossos sinceros agradecimentos, visto terem contribuído para que conseguíssemos alcançar o objetivo predefinido de forma gratificante. Primeiramente, agradecemos à professora da unidade curricular “Projeto FEUP” Ana Rosanete Lourenço Reis e supervisora do projeto, por toda a ajuda prestada, ensinamentos e dicas para a elaboração deste relatório. Da mesma forma, gostaríamos de gratificar a monitora Marieta de Sousa Rocha, que desde o início do projeto demonstrou empenho e disponibilidade para solucionar qualquer problema que surgisse durante a realização do projeto. Gostaríamos ainda de dar o nosso sincero agradecimento à aluna Fernanda Daemon, número 201305407 pela sua dedicação em nos ajudar voluntariamente, apesar de não fazer parte deste grupo. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 2 MIEM/FEUP Resumo O presente trabalho aborda o tema “As correntes da Engenharia na Canoagem”. É apresentado um resumo da história e evolução dos diversos tipos de canoas (competição, turismo, fitness, freestyle, entre outras). Neste trabalho, iremos ver que as canoas em estudo têm um formato diferenciado de modalidade para modalidade, sendo que umas são feitas para competição e outras apenas para lazer. No que diz respeito à estabilidade de uma canoa, estudaram-se as diferentes formas de casco da canoa (plano, redondo, arqueado e modificado em forma de V), relacionando-as com os respetivos fins. Foi dado foco a canoagem de competição, onde são apresentados os materiais que as constituem e os processos de fabrico das canoas, identificando-se as principais diferenças entre elas. São apresentadas as principais caraterísticas numa canoa de competição e os seus requisitos. Foi ainda abordado o tema “Canoa versus Kayak” em que se apresentam as suas diferenças e se relacionam essas características com a sua performance. Quando falamos sobre performance na canoagem necessitamos obrigatoriamente de recorrer à engenharia presente na sua construção, desde minimização das perdas de energia através da sua forma, os materiais que é constituída, até o tipo de impulso que os remos fazem no sentido de mover o kayak/canoa o mais rápido possível (no caso das provas de velocidade). Palavras-Chave Canoa Kayak Fabrico Materiais História 1M8_03 Partes Kevlar Casco Quilha Proa As correntes da engenharia na canoagem Engenharia Jogos olímpicos Lazer Competição 3 MIEM/FEUP Índice 1. Introdução.............................................................................................................................. 6 1.1. O que é a canoagem? ................................................................................................. 6 1.2. Canoagem vs. Remo ................................................................................................... 6 2. História e evolução .............................................................................................................. 7 2.1. Antes vs Agora ............................................................................................................. 8 2.2. Futuro ............................................................................................................................. 9 2.3. Curiosidades ................................................................................................................. 9 3. Modalidades ........................................................................................................................ 10 3.1. Freestyle ...................................................................................................................... 10 3.2. Kayak polo ................................................................................................................... 10 3.3. Kayak surf.................................................................................................................... 11 3.4. Waveski Surfing.......................................................................................................... 11 3.5. Longa distância .......................................................................................................... 12 3.6. Regatas em linha ....................................................................................................... 12 3.7. Slalom .......................................................................................................................... 12 3.8. Canoagem Polinésia ou Va’a ................................................................................... 13 3.9. Paracanoagem ........................................................................................................... 13 3.10. Canoagem Oceânica ............................................................................................... 14 3.11. Canoagem Rafting ................................................................................................... 14 3.12. Barco-Dragão ........................................................................................................... 15 3.13. Turismo de Aventura ............................................................................................... 15 4. Formas e partes de uma canoa ...................................................................................... 16 4.1. Diferentes partes de uma canoa comum................................................................ 16 4.2. Formas das canoas e suas relações com a estabilidade .................................... 17 4.3. Curiosidade ................................................................................................................. 18 5. Materiais usados no fabrico de canoas ....................................................................... 18 5.1. Alumínio ....................................................................................................................... 18 5.2. Madeira ........................................................................................................................ 19 5.3. Plástico ........................................................................................................................ 19 5.4. Compósitos ................................................................................................................. 23 5.4.1. Fibra de Vidro .......................................................................................................... 24 5.4.2. Carbono .................................................................................................................... 26 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 4 MIEM/FEUP 5.4.3. Kevlar ........................................................................................................................ 29 6. Os Kayaks ............................................................................................................................ 32 6.1. Kayak e Canoa (diferenças e semelhanças) ......................................................... 32 6.2. Introdução à performance dos kayaks .................................................................... 33 6.3. Caraterísticas gerais de um kayak .......................................................................... 33 6.4. Estabilidade vs. Performance................................................................................... 35 7. Conclusão ............................................................................................................................ 36 8. Referências bibliográficas............................................................................................... 37 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 5 MIEM/FEUP 1. Introdução 1.1. O que é a canoagem? A canoagem é um desporto náutico praticado em canoas ou kayaks. Desde a existência do Homem que foram criadas canoas para transporte, pesca e deslocação. Foi em 1936, que ela se tornou um desporto olímpico. Existem diferentes variantes da canoagem, como estilo livre, slalom, kayak polo, kayak surf, regatas em linha, entre outras. 1.2. Canoagem vs. Remo Apesar de ambos os desportos serem exercidos mundialmente por um número elevado de pessoas, ainda existem muitos que os confundem. É importante distinguir o remo da canoagem. A principal diferença está no uso de membros inferiores de forma mais intensiva na vertente de remo. Outra diferença é na canoagem o remo (objeto, e não o desporto) ser composto por duas pás, uma em cada ponta, nos kayaks, e nas canoas cada pessoa usar um remo com uma só pá, em lados alternados da embarcação. No remo não sucede o mesmo, pois cada pessoa usa dois remos com uma pá cada. A partir desta informação apercebemo-nos que o trabalho muscular exercido para cada modalidade é específico. Desporto Tipos Remos Remo Canoas Remos – 2 por atleta Kayaks Pagaia – 1 por atleta Canoas Remos – 1 por atleta Canoagem Características - Timoneiro (líder) no sentido da canoa - Remadores no sentido contrário - Esforço maioritariamente dorsal - Movimento de membros inferiores - Flutuam logo abaixo - Esforço da água maioritariamente - Deck abdominal semifechado - Bastante leves - Flutuam à - Remadores no superfície sentido da embarcação - Deck aberto [Tab.1] Diferenças entre o remo e a canoagem. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 6 MIEM/FEUP [Fig.1] Movimentação de um canoísta. [Fig.2] Músculos exercitados no remo. 2. História e evolução A história da canoagem é complexa e detalhada, pois envolve uma evolução em muitos aspetos. Entre estes estão o comprimento, o peso e a versatilidade. Desde os primórdios da civilização humana, que canoas e kayaks são usados por diversos povos, como meio para pesca, guerra ou apenas transporte. Ainda hoje, a canoagem move multidões de pessoas, tanto em termos de lazer como em competição. Nos primeiros tempos as canoas eram feitas de troncos de árvores que eram tornados ocos para que usados pudessem para ser acomodar pessoas. Foi na América do Norte que se iniciou a criação [Fig.3] Canoa feita a partir de troncos de árvores. de canoas semelhantes às dos dias de hoje. Estas eram construídas com casca de árvore de bétula (ou por vezes de cedro e olmo) assente numa estrutura de madeira. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 7 MIEM/FEUP O kayak (que significa “homem-barco” em inuíte) foi primeiramente usado na Gronelândia pelo povo nativo, neste caso, os esquimós. Por outro lado, estes possuíam na sua constituição ossos de baleia, pedaços de madeira e pele de animais (e gordura) no seu interior para o manter à prova de água. Após alguns séculos, os povos mais desenvolvidos começaram a usar este tipo de embarcações para outras atividades, que não as referidas anteriormente. A competição de canoagem é mundialmente conhecida e atualmente é também realizada nos Jogos Olímpicos. Tudo começou em 1866, quando foi formado um clube de canoagem em Londres, intitulado The Royal Canoe Club e proporcionou a primeira regata. Só em 1936 é que as competições de canoas tiveram lugar nos Jogos Olímpicos, ao longo dos anos estas foram-se adaptando à evolução das canoas em si, permitindo um aumento da qualidade destas. Existem dois tipos de canoas, os kayaks, que são normalmente usados por uma pessoa e são impulsionados através de um só remo com uma pá de cada lado. As canoas, são construídas com uma grande variedade de materiais, são mais longas que os kayaks e o seu peso depende dos materiais utilizados. Ao contrário dos kayaks, são para uso de duas pessoas, em que cada uma usa um remo com uma só pá para impulsionar a embarcação. [3] [17] [21] [22] 2.1. Antes vs Agora Não há muito tempo, tanto as canoas, como os kayaks eram criados por quem os iria utilizar, com os materiais disponíveis nas redondezas. Posteriormente, e com o aparecimento de diferentes materiais, tudo se tornou muito mais estandardizado e especializado na busca de cada vez melhores embarcações para cada situação, jogando com todas as variáveis que advêm deste desporto. “Hoje os kayaks e canoas modernos são construídos, na sua maioria, em resina de poliéster reforçada com fibra de vidro, ou resina epóxido com kevlar e/ou fibra de carbono, e ainda plástico injetado ou rotomoldado polietileno.” (Pedro Dias, Análise Estrutural de um Kayak de Competição). 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 8 MIEM/FEUP As empresas que produzem estes “pequenos barcos” trabalham com softwares avançados de forma a desenharem o melhor e mais especializado kayak possível para diferentes situações. Uma dessas empresas é portuguesa e chama-se NELO, são uma das maiores e melhores empresas do mundo neste ramo e já produziram mais de 30000 embarcações. [19] [20] [Fig.4] Praticantes de kayak nos Jogos Olímpicos 2004. 2.2. Futuro O futuro da canoagem é imprevisível como qualquer futuro nos dias de hoje, devido a todo o avanço tecnológico a que assistimos diariamente. Esperase que haja uma evolução bastante significativa, procurando aproximar a natureza, na busca de materiais mais inovadores (biomimicry), biodegradáveis e leves. Poderão existir rios criados artificialmente só para o uso de canoas ou canoas mais pequenas que nem se assemelhem às canoas de agora, mas que consigam realizar o seu trabalho de forma mais eficaz, sem alterar o prazer e função da própria embarcação. [18] 2.3. Curiosidades - Em 2005, foi descoberta em Kuahuqiao, no sul da China, uma canoa com 8000 anos; - A primeira fábrica de canoas conhecida foi criada pelos Franceses em Trois-Rivieres, no Quebec, por volta do ano 1750; 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 9 MIEM/FEUP - O ICF (International Canoe Fundation) foi formado em 1924 na Copenhaga, Dinamarca, na verdade, só passou a ser designado ICF em 1946, sendo que antes era o IRK (Internationale Repräsentantenschaft Kanusport); - Apesar de só ser ter sido considerada desporto olímpico em 1936, a canoagem surgiu como desporto de demonstraçã0 nos jogos olímpicos de 1924; - A Federação Portuguesa de Canoagem foi formada em 1979, só obtendo aprovação para ser membro da ICF em 1982, no Congresso de Belgrado. 3. Modalidades 3.1. Freestyle O freestyle é uma das mais recentes modalidades da canoagem. Apesar desta variante não integrar os Jogos Olímpicos, existem competições nacionais e internacionais reconhecidas pela Federação Internacional de Canoagem (ICF). Esta modalidade realiza-se em caiaques e canoas de plástico sem tamanho definido, e o seu objetivo é a execução de manobras e de movimentos rápidos com a embarcação numa onda ou no escoamento de um rio dentro do tempo de 40 segundos, para assim, conseguir uma pontuação baseada na variedade e quantidade de movimentos realizados na onda. Todas as manobras são pontuadas de acordo com tabelas estabelecidas. 3.2. Kayak polo O kayak polo é uma competição com bola entre duas equipas, cada uma com 5 jogadores que utilizam kayaks de polo para se movimentarem pela área de jogo e marcar golos contra o adversário, sendo disputada em rios, lagos ou piscinas. Hoje disputam-se campeonatos nacionais masculinos e femininos em quase todos os países da Europa, Austrália, Sudeste da Ásia e a África d o Sul, 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 10 MIEM/FEUP contudo, esta modalidade surgiu há aproximadamente 30 anos na Inglaterra quando jogadores da canoagem de descida de rios e slalom começaram a treinar as técnicas de remadas e controles de barco em piscinas durante o inverno e quando os rios estavam secos. [5] 3.3. Kayak surf O kayak surf surgiu através dos nadadores-salvadores da Austrália e da África do Sul que utilizavam os kayaks para se locomoverem no mar. Nesta modalidade da canoagem adotam-se as mesmas regras de pontuação do surf, com o objetivo de analisar a dificuldade da manobra executada pelo canoísta ao descer a onda. Esta variante da canoagem pratica-se nos clássicos modelos de kayak sit-in (fechados), que podem ser construídos de fibras ou até de carbono com quilhas, que permitem manobras excelentes no mar. 3.4. Waveski Surfing O waveski surfing entrou como modalidade no Circuito Nacional de Kayaksurf em 2010, contudo surgiu em 1962, na Austrália. Ele combina a prática de kayak com o desempenho do surf. Os waveskis são os modelos mais aproximados da prancha de surf, e tem a finalidade de manter uma flutuação e estabilidade maior na onda. Além disso, são resistentes, leves e possuem um assento, com pequenas quilhas, cintas de segurança e finca pés, permitindo que o praticante se mova para efetuar as manobras. As competições são realizadas como no surf, julgando-se as melhores performances e manobras dos surfistas em um período de 20 minutos. [7] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 11 MIEM/FEUP 3.5. Longa distância A modalidade Longa Distância abrange as Maratonas e o Kayak-Mar. É uma competição que envolve espírito de sacrifício, persistência, tenacidade e grande esforço físico por parte dos canoístas, e envolve remar grandes distâncias em águas calmas A Maratona é a variante que disputa-se com as mesmas embarcações das regatas em linha, apenas diferindo no facto de serem mais leves. As competições realizam-se em distâncias entre os 36 e os 21 km. Durante a prova, os canoístas podem atravessar rios com ou sem obstáculos e interrupções, represas, pedras e águas rasas, lagos, estuários, mar aberto, e são obrigados a realizar um ou mais trajetos em terra correndo com a embarcação na mão, percurso durante o qual aproveitam para se alimentar e hidratar. O Kayak Mar, apesar de ser a variante mais recente, já possui um campeonato nacional. Esta vertente da canoagem decorre no mar e/ou estuários, em embarcações específicas, com um ou dois lugares. 3.6. Regatas em linha Regatas em linha é a modalidade mais conhecida e é tida como a disciplina “rainha” da canoagem. A competição decorre habitualmente em canais, construídos artificialmente, com aproximadamente 2.000 metros de comprimento e 03 metros de profundidade, sendo todo o percurso delimitado, permitindo a montagem de nove pistas. Para esta modalidade, utilizam-se embarcações muito elegantes e rápidas, mas muito instáveis, denominadas de: Kayak (K1, K2 e K4) e Canoa (C1 C2 e C4): nas canoas apenas competem os homens. 3.7. Slalom A canoagem slalom é a modalidade mais difícil e espetacular em termos visuais. Nela, os remadores têm que navegar o kayak ou a canoa por entre as 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 12 MIEM/FEUP "portas" suspensas sobre o plano da água, sendo as de cor verde para remar a favor da correnteza e as de cor vermelha remar contra a correnteza, num percurso que varia de 250 a 400 metros. Vence a competição quem fizer o percurso em menos tempo, incluindo todas as penalidades resultantes da transposição incorreta das portas. As competições realizam-se para os homens em embarcações kayak monolugar (k1) e canoas mono e bilugar (C1 e C2). As mulheres competem apenas em embarcações Kayak monolugar. 3.8. Canoagem Polinésia ou Va’a A canoagem Polinésia, ou Va’a, tem origem nas Ilhas da Polinésia e Micronésia. Nesta modalidade, o respeito pelas tradições da Polinésia é fundamental. O desporto destaca o trabalho de equipa. A sincronia entre os remadores, a técnica da remada e potência permitem que a canoa chegue a atingir velocidades superiores a 24 km por hora em uma onda. A Federação Internacional de Va’a adotou a letra V e um número para caracterizar as categorias de canoa de acordo com o número de remadores. São elas: V1, V2, V3, V4, V6 e V12. No caso da V1 e V2 são nomenclaturas dadas às canoas tradicionais, sem leme. Já as que possuem leme, a nomenclatura tem o acréscimo da letra R (Rudder), uma pequena concessão para os ingleses que utilizam o leme em suas canoas. Sendo assim a nomenclatura fica V1R e V2R, contudo na maioria dos países, o leme não é usado. 3.9. Paracanoagem A Paracanoagem é a modalidade de canoagem bastante recente e que é executada por pessoas com deficiência (PCDs). Ela tem como objetivo o lazer ou a competição, e é um excelente desporto a ser praticado, já que dentro de um caiaque ocorre uma igualdade de possibilidades, visto que juntos todos têm iguais condições de liberdade para locomoção, sendo que o desempenho 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 13 MIEM/FEUP técnico e físico depende exclusivamente da própria pessoa, por isso, todos visam alcançar a maior autonomia possível. O praticante pode usar adaptações que auxiliem a sua pratica, sendo ela por segurança ou na melhora do seu rendimento. Estas adaptações podem ser nos barcos ou externas, ou seja, gestos, comunicação por sons especiais, etc. Esta variante da canoagem torna possível o acesso das pessoas com deficiência à prática desportiva, despertando o gosto pelos desportos e afastando assim o preconceito da sociedade para com o deficiente. [4] 3.10. Canoagem Oceânica A canoagem oceânica apresenta um elevado grau de dificuldade e tem como objetivo percorrer um percurso já definido em carta náutica, em águas marinhas, no menor tempo possível. São utilizadas embarcações específicas, devido às variadas condições que se pode encontrar ao decorrer da prova. [Fig.5] Praticante de canoagem oceânica. 3.11. Canoagem Rafting O Rafting é modalidade que implica a descida de rios em botes infláveis. Os integrantes da embarcação remam sob o comando de um instrutor, responsável pela orientação do grupo durante o percurso. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 14 MIEM/FEUP 3.12. Barco-Dragão Barco-Dragão é uma modalidade da canoagem inspirada nos costumes orientais. São competições realizadas em barcos-dragão, grandes canoas abertas decoradas com dragões de madeira na proa, e são disputadas por equipas de dez ou vinte remadores, além de um timoneiro e de outro componente que dita o ritmo do tambor. Vence a equipa que cumprir o percurso que normalmente varia de 500 a 1.000 metros, no menor tempo. 3.13. Turismo de Aventura Turismo e aventura é uma modalidade da canoagem que não se enquadra nos padrões de desporto de competição. O seu objetivo principal é a aproximação do homem com a natureza favorecendo a compreensão da sua grandiosidade e consequentemente o respeito a mesma, transformando-os em agentes multiplicadores dessa ação. Ao mesmo tempo, na sua prática, não despreza os benefícios gerados pela atividade desportiva, pois esta modalidade traz enormes benefícios ao sistema cardiopulmonar, requerendo dos praticantes que mantenham-se com um bom nível de aptidão física. Esta modalidade pode ser desenvolvida em diversos lugares, tais como rios, represas, lagos, mares e oceanos, sendo necessária a escolha da embarcação mais adequada para a situação a ser enfrentada. [6] [Fig.6] Praticantes de turismo de aventura. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 15 MIEM/FEUP 4. Formas e partes de uma canoa 4.1. Diferentes partes de uma canoa comum Casco1 - Superfície exterior da canoa que entra em contato com a água Quilha2 - Estrutura ao longo do casco, desde a proa até à popa Bordas3 - Vão desde a proa à popa e protegem os materiais da canoa Assentos4 - Fixos nas bordas, servem para o remador se sentar Proa - Parte da frente da canoa Popa - Parte de trás da canoa Deck plate5 - Desenhado para proteger o material e também funciona como pega. Thwarts6 - Pequenas barras fixas nas bordas da canoa para a mesma manter a forma (6) (5) (5) (4) (4) (3) (1) (2) [Fig.7] Constituição de uma canoa comum. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 16 MIEM/FEUP 4.2. Formas das canoas e suas relações com a estabilidade Os cascos das canoas podem ter vários formatos: planos, redondos, arqueados e modificados em forma de V. Isto acontece pois as canoas usadas, por exemplo para lazer, não têm as mesmas especificações que as canoas usadas para competição! O casco plano é sobretudo usado nas canoas recreativas, que podem ser usadas para a prática da pesca, e para passeios, por exemplo. Isto acontece pois, Plano Arqueado nessas atividades, é exigida à canoa uma grande estabilidade em condições mais calmas. São, precisamente, as canoas mais fáceis de usar no que à estabilidade diz respeito. Modificado em forma de V Redondo [Fig.8] Diferentes tipos de cascos. Quanto ao casco arqueado, este é usado nas canoas que são feitas para condições mais adversas, tais como vento forte e correntes. É o design ideal para quem compete em corridas nos rios pois ajuda a canoa a seguir uma linha reta enquanto desloca a água. Nos cascos arqueados, as paredes laterais da canoa são, sobretudo, planas e verticais. Por sua vez, ter um casco redondo vai fazer com que as paredes laterais da canoa sejam arredondadas, o que faz com que a largura máxima das paredes do casco seja maior do que a largura das bordas da canoa, adquirindo esta uma estabilidade reforçada. Esta caraterística faz ainda com que seja mais fácil remar, pois não é preciso afastar muito a pá das bordas da canoa. Por último, a quilha do barco, ou seja, a curvatura do casco, pode ter várias formas, sendo que duas delas são lisa e curva. Quanto mais curvada é a quilha, mais manobrável será a canoa, o que é ideal em condições adversas, em que há corrente, ondas ou outros objetos que têm de ser transpostos, ao passo que, quanto mais lisa for a quilha, mais área do casco estará em contato com a água, o que ajuda em viagens mais longas em linha reta. A estabilidade é também afetada pelo centro de gravidade do remador e pela carga na canoa. Se o assento for rebaixado, vai haver maior estabilidade, 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 17 MIEM/FEUP visto que o centro de gravidade fica mais baixo. Isto apenas deve ser feito se o remador continuar a ter uma posição confortável a remar. Se a carga estiver mal distribída pela canoa, a estabilidade vai ser afetada negativamente. Resumindo, conclui-se que existem muitos fatores que afetam a estabilidade de uma canoa. As caraterísticas da mesma, o tipo de carga, a distribuição desta pela canoa, são apenas alguns dos exemplos destes fatores.[12] [13] [14] [23] [24] 4.3. Curiosidade: Alguns homens com ombros largos (e que, por conseguinte, carregam muito peso acima da cintura) podem achar certos tipos de canoas particularmente instáveis, sendo que mulheres que carreguem muito do seu peso abaixo da cintura se sentem seguras nos mesmos barcos! [25] 5. Materiais usados no fabrico de canoas Atualmente existem diferentes tipos de canoas, destinadas às diferentes modalidades da canoagem. Para responder às exigências de cada uma, são utilizados diferentes tipos de materiais na sua construção. Assim, o material escolhido para o fabrico é aquele que permite aliar, de forma mais eficaz, as características pretendidas. 5.1. Alumínio As canoas fabricadas em alumínio são pretendidas pela sua durabilidade. corrosão, São resistentes requerem à pouca [Fig.9] Canoa em alumínio. manutenção e não se deterioram quando expostas ao sol. São indicadas para rios e lagos pois oferecem uma alta resistência a furos. Contudo são extremamente pesadas, fazendo delas lentas. Por outro lado são caras e barulhentas, e o seu brilho pode constituir um problema. Consoante as 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 18 MIEM/FEUP condições meteorológicas e devido à elevada condutividade térmica do alumínio são desconfortavelmente quentes ou frias. 5.2. Madeira A madeira é um material tradicional e tipicamente artesanal. O processo de lixar e esculpir usado para construir barcos de madeira oferece a oportunidade de personalização única. Embora difíceis de perfurar são pesadas e caras. Este tipo de canoas é normalmente mais atraentes do que as outras pela sua estética. 5.3. Plástico O plástico é popular no mercado da canoagem pois é leve, tranquilo e resistente. Canoas de plástico de alta qualidade são desejadas pois exigem pouca manutenção e têm todas as vantagens dos outros materiais. O peso varia com o modelo de construção, que, normalmente, é espuma rodeada pelo material plástico. Comparando-as com as de alumínio são menos resistentes. Já as de fibra de vidro têm aproximadamente o mesmo peso mas são menos duráveis. Estes barcos têm a desvantagem de serem caros. [47] Plásticos utilizados na produção de canoas: 1. Polietileno I. Polietileno termoformado; II. Polietileno em 3 camadas. 2. ABS-Acrilonitrila-Butadieno-Estireno I. Royalex. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 19 MIEM/FEUP 1 – Polietileno O polietileno tem sua cadeia constituída basicamente por carbono e hidrogênio e é um material translúcido, maleável e inflamável. É flexível, já que possui temperatura de transição vítrea bem abaixo das temperaturas ambiente usuais. Pode ser produzido com diferentes densidades e nas formas linear, ramificada ou reticulada, apresentando campos de aplicação comercial diversificados. É um termoplástico barato e de fácil processamento. [43] [Fig.10] Reação de polimerização que dá origem ao polietileno. Existem vários tipos de polietileno: Polietileno de baixa densidade (PEBD); Polietileno de alta densidade (PEAD); Polietileno linear de baixa densidade (PELBD); Polietileno de ultra baixa densidade (PEUBD); Polietileno de ultra alto peso molecular (PEUAPM) No fabrico de canoas o tipo de polietileno mais utilizado é o de alta densidade pois possui propriedades que o tornam o mais adequado para produção de canoas, visto ser rígido, resistente a tração e possuir moderada resistência ao impacto. [41] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 20 MIEM/FEUP PE de baixa densidade Radicais livres PE de alta densidade Coordenação 1000-3000 1-30 100-300 20-100 Ramificada Linear Densidade, g/cm3 0,93-0,94 0,94-0,97 Cristalinidade, % 50-60 Até 95 110-125 130-135 Tipo de PE Tipo de polimerização Pressão de polimerização (atm) Temperatura reacional, ºC Tipo de cadeia Tm, ºC [Tab.3] Comparação entre PEBD e PEAD. I – Polietileno termoformado O polietileno sofre um processo de termoformação (fig.13). Este processo consiste no aquecimento de uma folha de plástico até uma temperatura próxima do seu ponto de fusão seguido pela sua colocação num molde. O material, entrando em contacto com o molde arrefecido pela circulação de um fluido (geralmente água), vai arrefecer e fica com a forma que o molde lhe deu. No final procede se à abertura do molde e retira-se a peça. Este processo é vantajoso por se tratar de um processo barato relativamente aos outros processos, tanto no preço dos moldes como do restante equipamento. Estas canoas possuem apenas uma camada de polietileno de alta densidade que é diretamente retirado do processo de termoformação. As canoas feitas de polietileno termoformado têm como grande vantagem o facto de serem produzidas canoas de alta qualidade a um preço reduzido. O polietileno termoformado é um material com elevada durabilidade, resistente à abrasão, e é mais resistente que muitos materiais que são utilizados na produção de canoas mais complexas. [44] [45] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 21 MIEM/FEUP [Fig.11] Processo de termoformação. II – Polietileno em três camadas (Three Layer Polyethylene) Este material possui três camadas distintas que fornecem à canoa características especificas como uma elevada resistência, durabilidade e redução do relativamente às canoas em polietileno feitas apenas numa camada. O material possui três camadas distintas: uma camada linear exterior, um núcleo de espuma e uma camada interna. [Fig.12] Polietileno em três camadas. Este tipo de material é usado para produzir canoas através de um processo de rotomoldagem. A rotomoldagem é um processo industrial de transformação de termoplásticos. Pela rotação de um molde que possui o material dentro, vai se obter as canoas. [46] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 22 MIEM/FEUP 2 – ABS I – Royalex O Royalex é um material compósito também dividido por múltiplas camadas sendo a sua base o plástico ABS (Acrilonitrila-Butadieno-Estireno). É um material usado para a produção de canoas pois é bastante leve, muito resistente às radiações UV provenientes da luz solar, muito rígido e possui uma estrutura mais resistente do que a estrutura dos não compósitos como o polietileno. Contudo é um material muito mais caro comparativamente com o polietileno nas canoas por moldagem e rotomoldagem. Este material tem na sua composição várias camadas, sendo uma mistura de ABS, espuma de ABS e vinil reticulado que fornece resistência ao exterior da canoa. [42] [48] [Fig.13] Composição em camadas do Royalex. 5.4. Compósitos As canoas mais modernas são fabricadas em materiais compósitos. Estes materiais são constituídos por um reforço, que é constituído por fibras (elemento de reforço), dispersa numa matriz (resina), que se agregam físicoquimicamente após um processo de cura. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 23 MIEM/FEUP 5.4.1. Fibra de Vidro A fibra de vidro é o material mais utilizado no fabrico de canoas. Têm um custo baixo a moderado. A sua qualidade pode variar consoante três níveis de preços, que dependem da qualidade da fibra e da resina utilizadas. São leves e, embora perfuráveis por um golpe, resistem a uma quantidade moderada de pressão. A fibra de vidro é utilizada, por exemplo, para canoas de pesca. [10] [Fig.14] Canoa em fibra de vidro. Tipos Fibra de vidro é, como o nome indica, vidro em forma de fibra. Há cinco grandes tipos de fibra de vidro: “A-glass” (vidro alcalino), que tem boa resistência química, mas propriedades elétricas mais baixas. C-glass (vidro químico) que tem uma resistência química muito elevada. Eglass (vidro elétrico), que é um excelente isolante e resiste a ataques de água. S- [Fig.15] Fibra de vidro. Glass (vidro estrutural), que é otimizado para as propriedades mecânicas. D-glass (vidro dieléctrico), que tem as melhores propriedades eléctricas, mas não tem as boas propriedades mecânicas quando comparados com a fibra de vidro do tipo E e S. E-glass e Sglass são, de longe, os tipos mais comuns encontrados em compósitos. Estes tipos têm boas combinações de resistência química, propriedades mecânicas e propriedades de isolamento. Dos dois, o E-glass oferece a economia mais atrativa enquanto S-glass oferece um melhor desempenho mecânico. [31] [34] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 24 MIEM/FEUP Características gerais Em função da sua densidade das fibras de vidro (reforço) e das resinas, a fibra de vidro é um material leve, que oferece também boa resistência mecânica. Apresenta uma condutividade térmica baixa, o que constitui uma vantagem para a canoagem. É também um material com ampla flexibilidade, possibilitando a moldagem, sem emendas. Devido ao baixo coeficiente de dilatação térmica e à baixa absorção de água, as peças em fibra de vidro mantêm inalteradas as suas formas e dimensões em condições extremas de uso, nomeadamente em grandes variações de temperatura e humidade. Possui ainda uma boa resistência química, pelo que não enferruja e resiste a ambientes altamente agressivos aos materiais convencionais. A fibra de vidro pode ser laminada em moldes simples e baratos, o que possibilita a comercialização de peças grandes e complexas, com baixos volumes de produção. Mudanças no projecto são facilmente realizadas nos moldes de produção, dispensando a construção de moldes novos. É um material com a possibilidade de ser moldado na cor desejada, dispensando, deste modo, pintura de acabamento, tornando o custo deste capítulo baixo. Devido à resistência e à inercia química do material, também a manutenção apresenta um custo reduzido. É ainda um material possível de reciclar. Tendo em vista todas as características referidas, pode-se afirmar que a fibra de vidro é um bom material para a construção de canoas. Embora não seja o melhor dos materiais compósitos é o material mais utilizado no fabrico de canoas, apresentando um custo baixo a moderado. A sua qualidade pode variar consoante diferentes níveis de preços, que dependem da qualidade da fibra e da resina utilizadas. [4] [32] [33] Propriedades Gerais da fibra de vidro Densidade (g/cm3) Resistência à tração (MPa) Tensão de Cedência (MPa) Módulo de elasticidade (GPa) Condutividade térmica (W/m.K) 1.6-2.0 220 220 21 0,04 Coeficiente de dilatação térmica (10-6 m/m K) 30-40 [Tab.2] Propriedades Gerais da fibra de vidro. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 25 MIEM/FEUP 5.4.2. Carbono Fibras de carbono A fibra de carbono é composta por átomos de carbono que ligados formam uma longa cadeia. Algumas das características gerais destas fibras são a sua baixa densidade, excelentes propriedades de tensão, boa condução térmica e elétrica e resistência à deformação. Estas fibras são usadas de forma intensiva em compósitos. A estrutura atómica é semelhante à da grafite, e consiste em camadas de átomos de carbono dispostas num padrão hexagonal (figura 1). Conforme os processos de fabrico, os planos de camadas das fibras de carbono podem ser diferentes, como por exemplo, grafíticos ou com estrutura híbrida. [Fig.16] Estrutura de cristais de grafite e suas direções. As fibras de carbono são também muito frágeis. As suas camadas são formadas por fortes ligações covalentes e a sua agregação em camadas, como folhas de papel permite a fácil propagação de fendas na estrutura. Elas são muito fortes. Normalmente, apura-se o benefício da força de um material, relacionando-se a rigidez com o peso. A rigidez de um material é calculada em módulos de elasticidade. Os módulos das fibras de carbono são, geralmente, 20 msi (138 Gpa) e sua resistência máxima 500 ksi (3,5 Gpa). [2] [27] [28] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 26 MIEM/FEUP Características: - Força física, resistência específica, leve. - Bom amortecimento de vibrações, força e dureza. - Elevada estabilidade dimensional, baixo coeficiente de expansão térmica, baixa abrasão. - Condutividade elétrica. - Inerte a fatores biológicos e químicos. - Resistência à fadiga, auto lubrificação, alto amortecimento. - Propriedades eletromagnéticas. - Permeável a raios-x, elevada resistência à corrosão. [26] [29] [30] Propriedades Gerais das fibras de carbono Densidade (g/cm3) Tenacidade (KN/mm2) Alongamento na rutura Elasticidade Resistência à fricção Resistência ao calor 1,95 1,8-2,4 0,5% Fraca Boa Boa [Tab.4] Propriedades Gerais das fibras de carbono 1M8_03 [1] As correntes da engenharia na canoagem 27 MIEM/FEUP Comparação de propriedades de diferentes materiais 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 28 MIEM/FEUP 5.4.3. Kevlar O kevlar é utilizado numa parte limitada do mercado de canoa. É um material com alta resistência química e mecânica. É também o mais leve mas também o mais caro, uma vez que não está disponível em grande quantidade e que o mercado é compartilhado com o dos coletes à prova de bala. Este tipo de barco é indicado para águas calmas e é muito utilizado em canoagem de alta competição, nomeadamente em velocidade. [9] [11] [Fig.17] Canoa em kevlar. O kevlar é uma fibra sintética de para-aramida (fig.18) muito resistente e leve. Trata-se de um polímero resistente ao calor e sete vezes mais resistente que o aço por unidade de peso. O kevlar é usado na fabricação de cintos de segurança, cordas, construções aeronáuticas, velas, coletes à prova de bala, linhas de pesca, na fabricação de alguns modelos de raquetes de ténis, na composição de alguns pneus, etc. O tanque de combustível dos carros de Fórmula 1 é composto deste material, a fim de evitar que objetos pontiagudos perfurem os tanques numa eventual colisão. [37] [38] [39] [Fig.18] Disposição molecular do kevlar. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 29 MIEM/FEUP Características: Providencia propriedades força-peso proeminentes; Elevado módulo de elasticidade; Elevada resistência à tração; Baixa deformação; Baixo alongamento de rutura (~3.5%); Difícil de pintar. [40] [Fig.19] Kevlar. Processo de fabrico de uma canoa em kevlar Este material é muitas vezes ligado ao fabrico de coletes à prova de bala, mas, no caso das canoas, não é usada uma densidade tão grande como a dos coletes. Uma canoa de kevlar pesa, sensivelmente, metade de uma canoa de madeira ou de alumínio e praticamente não precisa de manutenção. As canoas são construídas com várias camadas do tecido de kevlar, coladas umas às outras para criar um material laminado sólido. Tudo começa com um molde em fibra de vidro (compósito que também abordamos neste relatório) do casco da canoa. O primeiro passo é passar resina no seu interior. Após este passo, é colocada [Fig.20] Molde em fibra de vidro. uma camada de tecido de kevlar no interior do molde e esta é ajustada contra as paredes do mesmo, sendo bem esfregada para expulsar qualquer bolha de ar. Depois é retirado o tecido em excesso. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 30 MIEM/FEUP Qualquer resina em excesso é retirada enquanto o tecido é esticado contra as paredes no molde. Este processo assegura que a camada fica bem forte e lisa. Este processo é depois repetido para uma segunda camada de kevlar, onde é usado um rolo de pintura para colar bem uma camada à outra e retirar qualquer excesso de resina. Quanto aos componentes estruturais, são colocados pedaços de espuma densa no “chão” da canoa, que são colados uns aos outros e ao casco. Alguns dos pedaços são aquecidos para serem dobrados e colocados nas paredes do casco, para fazerem as “costelas” da canoa. Depois da estrutura da canoa estar feita, é aplicada uma terceira camada de tecido de kevlar com a ajuda de um pressurizador a vácuo. Funciona como se envolvêssemos a canoa num saco plástico gigante e retirássemos todo o ar de lá de dentro. Ao fazê-lo, o saco vai empurrar as camadas umas contra as outras e, por sua vez, contra o molde. Este processo demora entre 8 a 10 horas a estar concluído. Com essa conclusão vem a extração da canoa do molde, [Fig.21] Produto final, canoa de kevlar. já com a forma pretendida. Depois de um controlo de qualidade, são finalmente colocadas as bordas, os assentos e todas as outras partes constituintes de uma canoa. [35] [36] 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 31 MIEM/FEUP 6. Os Kayaks Para falar sobre a performance na canoagem decidimos optar por explorar as provas de velocidade visto ser uma área mais interessante para falar sobre as características das embarcações e como é melhorada a sua performance para serem boas opções para competir em provas de velocidade 6.1. Kayak e Canoa (diferenças e semelhanças) Quando nos referimos a canoagem, existem duas áreas distintas que muitas vezes são confundidas: Kayaking (Kayak) e Canoeing (canoagem propriamente dita). O Kayak e a Canoagem são áreas muito similares tanto na estrutura dos barcos como na forma como é praticada. Neste relatório vamos apresentar as semelhanças e as diferenças técnicas entre kayaking e canoagem. No sentido mais técnico da canoagem, o kayak pode ser considerado um tipo de canoa no entanto, a actividade “canoagem” pode se referir a remar uma canoa ou um kayak. De facto, tanto a canoa como o kayak são embarcações geralmente muito leves que podem ser usadas em lagos, rios ou até no mar, ambas podem ter uma ou mais pessoas a remar e podem ser usadas para diversos fins. A definição exacta de quando se deve chamar a uma canoa de kayak não é bem clara e para distinguir vamos expor algumas das diferenças entre elas: Existem algumas divergencias entre os remos dos kayaks e das canoas. Nas canoas os remos possuem apenas uma pá e exige do atleta uma remada específica e complexa para que a canoa se mova em linha recta (visto que apenas se rema de um lado). Nos kayaks os remos têm duas pás e o remador impulsiona o kayak alternando entre os lados sem ter que fazer movimentos muito complexos. As canoas tipicamente flutuam na superfície, enquanto os kayaks têm uma estrutura que faz com que flutuem logo abaixo da água obrigando a água a afastar-se enquanto se movem. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 32 MIEM/FEUP Como o kayak flutua logo abaixo da superfície da água, necessita de ter um deck semi fechado (para evitar a entrada de água) onde o atleta se senta, ao contrario das canoas que possuem um deck aberto onde o atleta rema de joelhos ou sentado (nas provas de alta competição, normalmente de joelhos). Nas principais competições de canoagem existem provas de canoagem (C1,C2,…) e provas de kayak (K1,K2,…) mas em termos gerais normalmente as canoas são mais usadas para passeios visto que possibilitam o transporte de pessoas e suplementos, enquanto que os kayaks são usados também para recreação mas principalmente para provas por terem características que não possibilitam carregar um elevado numero de pessoas ou suplementos. [15] 6.2. Introdução à performance dos kayaks As provas de sprint na canoagem, consistem numa corrida em que os atletas competem num kayak ou numa canoa sozinhos ou em grupo contra outros atletas numa corrida, tentando fazer no menor tempo possível um determinado trajeto retilinto (num canal delimitado) para bater os adversários. Na canoagem, mais especificamente, nas provas de sprint, é necessário um elevado esforço físico do atleta aliado a embarcações fabricadas através de altas tecnologias baseadas em estudos que visam melhorar a performance do barco. O rendimento das canoas é diretamente influenciado por todas as suas componentes aliando-se à capacidade física do atleta. Neste desporto todas as perdas de energia são significativas e a qualidade da canoa pode muitas vezes ser a barreira entre o sucesso e o fracasso. Nesta parte vamos associar determinadas características com o seu papel na performance do kayak. [16] 6.3. Caraterísticas gerais de um kayak · Kayaks de corrida: São construídos visando a velocidade (provas de velocidade) ou no manuseamento em rápidos de rios (provas de slalom) 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 33 MIEM/FEUP · O casco é arqueado. · São produzidos geralmente para uma ou duas pessoas · O comprimento varia entre 4,5 e 5,5 metros · O peso aproxima-se dos 12 Kg · Kayaks de lazer: construídos a pensar no conforto e em longas viagens em oceanos, rios ou lagos. · O casco é arredondado · São produzidos para carregar um maior número de pessoas. · O comprimento varia entre os 6 e 7 metros · O peso aproxima-se dos 35 Kg Kayaks de corrida Quando falamos de performance recorremos imediatamente à engenharia dos kayaks. Esta engenharia passa pelos materiais utilizados, pela forma do kayak, e pelas componentes técnicas do kayak em si. Como já foi explicado anteriormente existem canoas e kayaks produzidos com diferentes tipos de materiais. O kevlar é, um dos materiais mais usados na produção de kayaks de competição pois é um material bastante leve e resistente. Este material oferece aos kayaks características quase ideais (em termos de peso, resistência mecânica e química) aos kayaks de competição, sendo por isso o mais utilizado nessa área. Contudo, existem outros materiais que são aliados ao kevlar que fornecem aos kayaks propriedades que este não oferece, visando melhorar a sua performance. Na construção em kevlar, existe uma placa de espuma numa forma de diamante imprensado entre folhas de kevlar na parte de trás da canoa para prevenir a sua deslocação quando o utilizador rema. Desta forma não é perdida energia pois essa parte do kayak é flexível. Isto significa que todo o esforço que o remador faz para mover o kayak é, efetivamente, para a sua deslocação, sendo a quantidade de energia que a canoa absorve reduzida. Quase toda a energia do remador é utilizada para mover a canoa, sendo as perdas muito reduzidas. Estas Canoas são tipicamente muito difíceis de mudar de direção 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 34 MIEM/FEUP pois todos os mecanismos que existem nos outros kayaks, não existem neste para evitar mudanças de direção causadas pelo vento ou perdas de velocidade. Os kayaks de velocidade têm também uma propriedade que faz contornar certos obstáculos. Estes kayaks tendem a "cortar" a onda em vez de subir e descer a mesma, fazendo reduzir a distância entre dois pontos (o kayak move-se sempre em linha reta). Por outro lado este sistema pode ser um problema no caso de a ondulação ser superior à altura do kayak. A forma arqueada do casco é também essencial para a melhoria do kayak. Esta forma permite que o kayak corte a linha da água reduzindo o atrito da mesma mas, ao mesmo tempo, impede o kayak de mudar de direção (o que pode ser considerada uma vantagem em provas de sprint!) [8] [Fig.22] Prova de K1 feminina, nos Jogos Olímpicos de Londres. 6.4. Estabilidade vs. Performance Os kayaks de alta competição são embarcações com níveis de estabilidade muito reduzidos. Tal facto deve se à fisiologia do kayak que de forma a aumentar a performance necessita de abdicar de certos componentes existentes noutro tipo de kayaks (a quilha por exemplo). 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 35 MIEM/FEUP 7. Conclusão A engenharia é uma ciência presente em muitos campos da nossa vida, e o desporto não é exceção. Com este trabalho, conseguimos perceber todas as vertentes envolvidas no planeamento e construção de uma canoa, seja ela para que modalidade for. Na construção das mesmas, é necessário terem-se em conta os fatores determinantes para uma boa performance e para a segurança dos utilizadores. Se queremos uma canoa para competição, por exemplo, é necessário perceber todas as condições com que nos deparámos e fazer o nosso melhor para as evitar, se estas forem adversas, ou para nos aproveitarmos das mesmas, se estas forem favoráveis. Os materiais são também importantes e são adaptados a cada canoa segundo a sua finalidade. Existem diversos tipos de materiais usados para a construção das canoas, mas um que se tem vindo a destacar devido à sua alta resistência química e mecânica, que permitem um melhor aproveitamento das qualidades do atleta e, por conseguinte, o levam a melhores resultados. Concluímos assim que o kevlar é o futuro no que diz respeito à construção de canoas, apesar de ainda ser um material bastante caro. De um modo geral, o Projeto FEUP foi uma atividade que permitiu uma preparação para o mundo da engenharia e um maior desenvolvimento das capacidades de apresentação de ideias e conhecimentos. 1M8_03 As correntes da engenharia na canoagem 36 MIEM/FEUP 8. Referências bibliográficas Bibliografia: [1] Donnet, Jean-Baptiste, and Roop Bansal. Carbon Fibers. New York: Marcel Dekker, Inc., 1990. [2] Huang, Xiaosong. 2009. "Fabrication and Properties of Carbon Fibers." 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