Código de Ética
CFM, AMB e SBC discutem
o novo documento,
a convite da SBHCI
Congresso
abril a junho de 2010
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No 2
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Ano XIII
Publicação trimestral da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista
2010
Belo Horizonte sediará o
evento que também terá
transmissão pela internet
1
palavra do presidente
Reconhecimento crescente
S
eis meses se passaram desde que tomamos posse da Presidência da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista (SBHCI) e
já temos algumas alegrias que desejamos
compartilhar. Uma delas é perceber que nossa Sociedade tem reconhecimento crescente entre colegas de outras especialidades no
País e de entidades internacionais, em cujos
eventos temos participado. Entendemos que
não é resultado apenas do trabalho desta
Diretoria, mas sim do investimento e do esforço na produção de conhecimento científico que nossos colegas hemodinamicistas
vêm fazendo nos últimos anos em todos os
lugares onde atuam. O reconhecimento não
vem em palavras, mas em resultados, como
pudemos presenciar em maio, em São Paulo
(SP), quando demos início à edição 2010 do
Programa de Educação Continuada (PEC).
O evento realizado durante o XXXI Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) foi bastante
prestigiado e o auditório de 500 lugares foi
pequeno para a plateia muito participativa.
Tamanho interesse resulta da dedicação e
da preocupação dos cardiologistas intervencionistas em manter nosso programa aliado
ao firme objetivo de levar conhecimento
científico para todo o Brasil. O evento na
SOCESP foi apenas o primeiro e outras edições do PEC foram realizadas em congressos de Londrina (PR) e Brasília (DF). Em
Porto Alegre (RS), a convite do Conselho
Regional de Medicina do Rio Grande do Sul
(CREMERS), participamos de um evento
inédito, em que a SBHCI apresentou aos
médicos da capital gaúcha os grandes avanços e a importância dos stents farmacológi-
2
cos. No próximo semestre, estaremos em
pelo menos um evento científico no Nordeste
e em outro no Centro-Oeste, em Fortaleza
(CE) e Goiânia (GO), onde já projetamos
sucesso semelhante ao encontrado no Sul e
no Sudeste.
A SBHCI segue em sua importante missão como promotora do conhecimento. Para
citar alguns exemplos, temos registradas em
nosso portal as coberturas, realizadas ao
vivo, de dois dos maiores congressos científicos da atualidade: o American College of
Cardiology, realizado em Atlanta (Estados
Unidos), e o EuroPCR, que aconteceu em
Paris (França). Os colegas que estiveram
nos congressos e dedicaram seu tempo
à produção de textos e resumos sobre as
palestras de maior destaque estão de parabéns. A atuação desses profissionais tem
elevado o conceito de nossa Sociedade, não
apenas no Brasil como também entre os organizadores dos eventos internacionais. Nossa missão é manter esse nível de excelência
e tornar nosso portal ainda mais dinâmico.
O Portal da SBHCI tem sido visto como
referência na prestação de serviços e informações aos associados e demais interessados em nossa especialidade. Porém, é nossa
intenção que esse espaço virtual seja ainda
mais dinâmico. Além das newsletters, das
notícias e dos casos publicados regularmente, implantamos o twitter da SBHCI, a exemplo do que já ocorre nas grandes sociedades
médicas de todo o mundo. Trata-se de um
eficiente e rápido sistema de publicação de
notícias curtíssimas que temos usado para
divulgar os eventos dos quais participamos
e indicar links de sites parceiros e de notícias
pertinentes aos associados.
Temos dedicado especial atenção e
apoio à Revista Brasileira de Cardiologia
Invasiva (RBCI), buscando seu crescimento, valorização e profissionalização. Está
sendo elaborado um programa de incentivo à produção científica e propagação do
conhecimento científico, um dos principais
destaques deste primeiro semestre de nossa gestão. É importante que mais artigos
originais sejam elaborados e publicados em
nossa RBCI, difundindo o conhecimento e o
trabalho realizado por nossos associados em
todos os pontos do País. Disponibilizamos
para nossos colegas o suporte da PGS/
Medical Statistics, uma das mais respeitadas
empresas de bioestatística e pesquisa clínica
em nosso meio, para dar suporte aos sócios
da SBHCI, sem custos, na elaboração de
artigos a serem publicados na RBCI.
Após mais de três décadas de crescimento nossa Sociedade encontra-se fortalecida
e respeitada, contando hoje com mil associados, resultado de muito trabalho, dedicação e persistência de todos, em uma área
de atuação que permanece em contínuo
desenvolvimento. O crescimento científico
foi um dos principais temas das últimas semanas, o que nos leva diretamente ao XXXII
Congresso da SBHCI, que será realizado
em Belo Horizonte (MG), de 22 a 24 de
julho. A Comissão Organizadora do evento
definiu a participação de 11 convidados internacionais e uma programação científica
de altíssimo nível. Teremos 15 casos ao vivo
de centros nacionais e também transmissões
internacionais. Mais que a simples revisão
dos estudos clínicos atuais, as sessões vão
discutir as recomendações no cuidado dos
pacientes com doenças coronária, endovascular e estrutural, enfatizando as controvérsias e os temas ainda em discussão. Já está
tudo preparado e o maior êxito do congresso
será a efetiva participação dos colegas intervencionistas. Aguardamos todos vocês em
Belo Horizonte, para que, juntos, possamos
fazer desse um evento de grande sucesso,
expressando o progresso e a pujança da cardiologia intervencionista brasileira.
Em tempo, parabenizo Jadelson Andrade
(BA), recém-eleito presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) para a
gestão 2012-2013. Estendo minhas congratulações aos colegas hemodinamicistas
que terão participação ativa nesse período:
Luiz Alberto Mattos (SP), ex-presidente da
SBHCI; Alexandre Schaan de Quadros
(RS), atual diretor de Comunicação da nossa Sociedade; e Antônio Carlos de Camargo
Carvalho (SP), nosso diretor de Educação
Médica Continuada.
Um forte abraço.
Maurício de Rezende Barbosa
Presidente da SBHCI
índice
PEC-SOCESP
Academia Fluminense de Medicina
Simpósio Internacional IC-FUC
Hospital TotalCor & Cleveland Clinic
Congresso SOCERGS 2010
Simpósio Norte-Nordeste
Apoio Estatístico
CREMERS
Pará
giro pelo brasil
12Desbravando o coração da Amazônia
Oscar Mendiz
Internas
5 Promovendo, produzindo e divulgando conteúdo
6 Momento solene
6Evento pioneiro
7A clínica, a intervenção e a cirurgia
8Avanço do conhecimento
8 A caminho de Fortaleza
9 Qualidade no planejamento estratégico
10 Conselho Regional de Medicina do RS
discute os stents farmacológicos
solaci
14Espírito científico
XXXII Congresso da sbhci
16 Compartilhando conhecimento
Philipp Bonhoeffer
Ted Feldman
18 Simplicidade e carisma
SBC
Novo Código de Ética Médica
atualização científica
24O congresso minimalista
Eleições
25
Pleito encerrado
panorama
26 Um novo código para um novo tempo
Washington Stecanela Cerqueira
EUROPCR 2010
22Tratamento percutâneo das doenças valvulares em foco
ACC 2010
entrevista
bate-bola
32 Coração valente
opinião
34Novo Código de Ética Médica: grande passo
Agenda
35 Confira os próximos eventos
Hemodinamicistas discutem os stents
farmacológicos em evento no CREMERS
Comissão Nacional de Revisão do
Código de Ética Médica
Washington, do São Paulo, fala sobre a vida
de atleta após a implantação dos stents
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Programação
8h - 8h15 Abertura/APRESENTAÇÃO: Valter Furlan
Institucional TotalCor - Cleveland Clinic
8h15 - 8h45 Miniconferência/MODERAÇÃO: Marcos Valério Resende
Estado da Arte no Diagnóstico por Imagem em Cardiologia
APRESENTAÇÃO: James Thomas
8h45 - 9h45 Hot Topics 1/MODERAÇÃO: Otávio Gebara e Luciana Baptista
• Aterosclerose: É Possível sua Regressão?/APRESENTAÇÃO: Carlos Serrano
• Terapia do HDL: É o Próximo Passo no Tratamento
da Aterosclerose?/APRESENTAÇÃO: Raul Dias dos Santos
• Tomografia com Múltiplos Detectores no Diagnóstico da DAC:
Atingimos a Maturidade?/APRESENTAÇÃO: Carlos Eduardo Rochitte
9h45 - 10h Discussão
10h - 10h30 Miniconferência/MODERAÇÃO: Noedir Stolf
Novos Horizontes na Cirurgia Cardíaca (Cirurgia Robótica,
Cirurgia Minimamente Invasiva nas Doenças Valvares, Alternativas
ao Transplante na ICC, Cirurgia Conservadora das Doenças
das Válvulas Cardíacas)/APRESENTAÇÃO: Tomislav Mihaljevic
10h30 - 11h Coffee break
11h - 11h45 Hot Topics 2/MODERAÇÃO: Paulo Chaccur e Luiz Puig
• Terapia de Ressincronização Ventricular:
Quem se Beneficia?/APRESENTAÇÃO: Martino Martinelli Filho
• Fibrilação Atrial: Estado da Arte do Manuseio Clínico
e Intervencionista/APRESENTAÇÃO: Maurício Scanavacca
• Tratamento Atual da Estenose Aórtica/APRESENTAÇÃO: Tomislav Mihaljevic
11h45 - 12h Discussão
12h - 12h30 Miniconferência/MODERAÇÃO: Expedito Ribeiro
• Cardiologia Intervencionista na Síndrome Coronariana Aguda
com e sem Supra ST/APRESENTAÇÃO: Stephen Ellis
4
12h30 - 14h Almoço
14h - 15h20 Hot Topics 3/MODERAÇÃO: Antônio Cláudio do Amaral Baruzzi
• Tratamento da DAC Multiarterial e Lesão do Tronco da Coronária
Esquerda: Visão do Clínico/APRESENTAÇÃO: Áurea Jacob Chaves
• Tratamento da DAC Multiarterial e Lesão do Tronco da Coronária
Esquerda: Visão do Intervencionista/APRESENTAÇÃO: Expedito Ribeiro
• Tratamento da DAC Multiarterial e Lesão do Tronco da Coronária
Esquerda: Visão do Cirurgião/APRESENTAÇÃO: Tomislav Mihaljevic
• Impacto dos Stents Farmacológicos no Tratamento da DAC:
Quando e Por Que Indicar?/APRESENTAÇÃO: Stephen Ellis
15h20 - 15h30 Discussão.
15h30 - 16h Coffee break.
16h - 16h45 Hot Topics 4 - Visão de Futuro/
MODERAÇÃO: Marcelo Jamus Rodrigues e Ivo Richter
• No Diagnóstico por Imagens/APRESENTAÇÃO: James Thomas
• No Tratamento Percutâneo/APRESENTAÇÃO: Stephen Ellis
• Na Cirurgia Cardíaca/APRESENTAÇÃO: Tomislav Mihaljevic
16h45 - 18h Discussão de casos clínicos
Coordenador: Expedito Ribeiro.
Debatedores: Noedir Stolf, Otávio Gebara, Luiz Boro Puig, Antônio
Cláudio do Amaral Baruzzi, Áurea Chaves, Ivo Richter, José Carlos
Teixeira, André Spadaro, Marcos Rassi, Sandro Faig, Marcelo Jamus, Gil
Vicente, Francisco Souto, Paulo Chaccur, José Carlos Tavares, Kenji Nakiri,
Alexandre Pinto, Roger Godinho, Manoel Miranda, Leonardo de Carvalho,
Stevan Krieger Martins, Amanda Rodrigues, Veridiana Andrade, Giselle
de Paula Rodrigues, Marta de Andrade Reis, Eduardo Steglich, Fernanda
de Andrade Cardoso, Carlos Abreu Filho, Esteban Rivarola, Eliane Prates,
Victor Haddad, Carlos Ribeiro, Carla Gonçalves Rosa, Carolyne Matielo,
Enéas Rocco e Carlos Serrano.
notícias da sbhci
internas
PEC-SOCESP
Promovendo, produzindo
e divulgando conteúdo
A edição 2010 do Programa de Educação Continuada da SBHCI
teve início em São Paulo, com grande procura por parte do público
A
SBHCI deu início à edição
2010 do Programa de Educação Continuada (PEC). No
dia 1o de maio, foi realizado o primeiro
evento do ano durante o XXXI Congresso da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo.
Sob a coordenação de Maurício de
Rezende Barbosa (MG), presidente da
SBHCI, o evento foi dividido em três
etapas. Em cada uma delas, um médico
convidado apresentou um caso clínico
que foi colocado em discussão por um
cardiologista e um neurologista e debatido com o público. Na primeira etapa,
Marcelo Cantarelli (SP) apresentou
um caso sob o tema “Estado da Arte
da Revascularização Percutânea no
Paciente Multiarterial com Lesão de
Tronco”, que teve comentários de José
Ribamar Costa Jr. (SP) e Maurício de
Rezende Barbosa (MG). Carlos Augusto Cardoso Pedra (SP) apresentou, na
segunda etapa do evento, um caso clínico com enfoque no tema “Atualização
do Fechamento Percutâneo do Forame
Oval Patente”. Antonio Carlos Secches
(SP) e o neurologista Ayrton Roberto
Massaro (SP) debateram o caso e envolveram o público na discussão. Fábio Sândoli de Brito Jr. (SP) e Claudia
Maria Rodrigues Alves (SP) foram os
debatedores do terceiro caso clínico do
evento, apresentado por Lúcia Romero
Machado (SP).
Os eventos seguintes foram realizados em 5 de junho, durante o XXXVII
Congresso Paranaense de Cardiologia,
e em 10 de junho, no XVII Congresso
de Cardiologia de Brasília. Nas duas
ocasiões, a Diretoria da SBHCI aplicou
o mesmo formato de evento. Em Lon-
Da esquerda para a direita, Fábio Sândoli de Brito Jr. (SP), diretor científico; Marcelo Cantarelli (SP),
di­r etor administrativo; Claudia Maria Rodrigues Alves (SP), Antonio Carlos Carvalho (SP), diretor de
Educação Médica Continuada; Maurício de Rezende Barbosa (MG), presidente.
drina (PR), o evento teve coordenação
de Samuel Silva da Silva (PR) e os debatedores foram André Labrunie (RS),
Costantino Costantini (PR) e Raul
D’Aurea Mora Jr. (PR). Pedro Beraldo
(SP) apresentou o primeiro caso clínico, seguido pela palestra de Alexandre
Schaan de Quadros (RS), cujo tema
foi “Estado da Arte da Revascularização Percutânea em Pacientes Multiarteriais e com Lesão de Tronco de
Coronária Esquerda”. Carlos Augusto
Homem de Magalhães Campos (SP)
apresentou o segundo caso clínico
do evento, encerrado com a palestra
de Maurício de Rezende Barbosa. O
próximo PEC será realizado no dia 6
de agosto, durante o XXX Congresso
Norte-Nordeste e o XVI Congresso
Cearense de Cardiologia, que acontecerão em Fortaleza (CE).
5
internas
notícias da sbhci
academia fluminense de medicina
Momento solene
N
a presença de familiares, amigos e autoridades da área de Saúde do Rio de Janeiro, o cardiologista Leslie de Albuquerque Aloan
(RJ), diretor-geral do Hospital Federal dos Servidores do Estado,
tomou posse como acadêmico titular da Cadeira no 13, patronímica do professor Clementino Fraga, na Academia Fluminense de Medicina, em abril.
Sócio-fundador e, atualmente, remido da SBHCI, Aloan valoriza a importância do reconhecimento de uma comunidade científica a seu trabalho e
não esconde a honra de poder representar a cardiologia intervencionista
brasileira. “A SBHCI já ultrapassou as fronteiras, nacionais e internacionais,
em nossa especialidade, mas o espaço na Academia pode representar mais
um horizonte para a divulgação dos resultados científicos e conquistados
destas duas grandes entidades”, afirma.
Evento pioneiro
Simpósio Internacional de Terapia Valvular Percutânea do IC-fuc
O
Simpósio Internacional de
Terapia Valvular Percutânea
do Instituto de Cardiologia da
Fundação Universitária de Cardiologia
(IC-FUC), realizado em Porto Alegre
(RS), em maio, reuniu 219 participantes de todos os cantos do Brasil e teve
como ponto alto a participação de três
convidados internacionais falando sobre os novos avanços terapêuticos no
tratamento percutâneo das afecções
das válvulas aórtica, pulmonar e mitral.
Eberhard Grube, do Helios Heart
Center (Siegburg, Alemanha), fez uma
apresentação sobre o dispositivo da
válvula aórtica, o único comercialmente disponível para uso no Brasil. Para
Rogério Sarmento-Leite (RS), membro
da Comissão Executiva do Simpósio,
esse talvez seja o assunto que atraia
maior atenção e encha mais as salas
em todos os congressos no mundo. “O
grande benefício na questão da válvula
6
aórtica é poder trazer à comunidade de
cardiologistas, clínicos, cirurgiões e intervencionistas, novos avanços que já
estão disponíveis em nosso meio – no
Brasil já são mais de 100 casos implantados.” Sarmento-Leite destaca a
importância do dispositivo para os pacientes, já que se trata de uma alternativa clinicamente testada e eficaz, para
uma afecção extremamente grave que
outrora era tratada pela via cirúrgica.
“Nós sabemos que hoje muitos pacientes não têm condições de se submeter
a uma cirurgia clássica com abertura
do tórax, por ser mais arriscada”, afirma.
Philipp Bonhoeffer, chefe do Laboratório de Hemodinâmica do Great
Ormond Street Hospital for Children
(Londres, Inglaterra), falou sobre a
questão da válvula pulmonar e da válvula Melody, dispositivo que ele inventou e desenvolveu e que já tem o uso
clínico aprovado na Europa. No Brasil,
a previsão é de que seja liberado pela
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2011.
Scott Lim, da University of Virginia
(Charlottesville, Estados Unidos), destacou os dispositivos de clipes para fechar ou diminuir a insuficiência valvar
mitral. Nesse caso, ainda há uma distância das pesquisas clínicas que estão
sendo feitas na Europa e nos Estados
Unidos para a prática médica. Sarmento-Leite afirma que pouquíssimos
centros na Europa disponibilizam esse
dispositivo clinicamente para uso e que
ainda vai demorar um pouco para chegar ao Brasil, por ser, tecnicamente, de
difícil manuseio. “A curva de aprendizado é muito grande. Mesmo depois
de ser clinicamente liberado para uso e
comercializado, ainda vai demorar para
ser incorporado e fazer parte do nosso
dia a dia”, conclui.
hospital totalcor & cleveland clinic
A clínica,
a intervenção
e a cirurgia
D
e olho no sucesso do almoço de discussão de casos clínicos promovido
pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), que
contou com 530 participantes e com a presença de Michael Faux, da Cleveland Clinic (Cleveland, Estados Unidos), o Hospital TotalCor e a clínica americana preparam o Simpósio Internacional de Cardiologia, que será realizado em 20
de agosto, no auditório do Hotel Renaissance, em São Paulo (SP). De acordo com
Expedito Ribeiro (SP), membro da Comissão Científica do evento que já acontece
há três anos, serão discutidos temas relacionados a cardiologia clínica, cardiologia
intervencionista, cirurgia de revascularização miocárdica e arritmia. “O grande enfoque será a cardiologia intervencionista. Ao final, faremos uma grande discussão
de casos clínicos práticos e de mundo real”, afirma. O Simpósio terá a participação
de três profissionais da Cleveland Clinic: Stephen Ellis, especialista em intervenção
percutânea; James Thomas, da área de imagens; e o cirurgião cardíaco Tomislav
Mihaljevic. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo telefone (11) 30627508 ou pelo site www.simposiodecardiologia.com.br.
Expedito Ribeiro (SP) é membro da Comissão
Científica do Simpósio.
Agende-se
Data: 20 de agosto
Horário:8h00 às 18h00
Local: Auditório – Hotel Renaissance
Alameda Santos, 2233 – São Paulo, SP
Informações: www.simposiodecardiologia.com.br
7
internas
notícias da sbhci
Avanço do conhecimento
D
Congresso Gaúcho de Cardiologia: SOCERGS 2010
Alexandre do Canto Zago (RS), diretor de
Comunicações da SOCERGS.
e 5 a 7 de agosto, a Sociedade
de Cardiologia do Estado do Rio
Grande do Sul (SOCERGS) realizará seu tradicional congresso, em Gramado
(RS). Neste ano, o evento traz atualizações
e novos estudos nas áreas de cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, hipertensão
arterial sistêmica, arritmias e valvopatias. Entre os destaques estão implante e correção
percutânea de valvopatias, stents coronários
bioabsorvíveis, novos fármacos e técnicas
para o tratamento de arritmias cardíacas,
novos fármacos anticoagulantes e antiagregantes plaquetários, entre outros.
Estão programadas sessões de mesaredonda, atualização interativa, fóruns de
departamentos, sessões multidisciplinares
e discussão de casos clínicos com a participação de renomados convidados internacionais, entre eles Vladimir Dzavik (diretor de
cardiologia intervencionista do maior centro
de tratamento de doenças coronárias de
Toronto, Canadá), Enrique Gurfinkel (chefe
da Unidade Coronária do renomado hospital
da Fundação Favaloro, Argentina), e Rober-
to Peidro (chefe da Divisão de Prevenção
e Reabilitação Cardiovascular da Fundação
Favaloro, Argentina).
“A cardiologia no Rio Grande do Sul vem
evoluindo na mesma velocidade do avanço
do conhecimento na área. E a qualificação
e a constante atualização dos profissionais
gaúchos aliadas à disponibilização de recursos e modernos hospitais tornam o Estado
um centro de excelência mundial em cardiologia, onde o paciente gaúcho encontra todos os métodos de tratamento que necessita
com alto grau de eficiência e qualidade técnica”, afirma Alexandre do Canto Zago (RS),
diretor de Comunicações da SOCERGS.
Agende-se
Data: 5 a 7 de agosto
Local: Centro de Convenções
Serrano Resort
Av. das Hortênsias, 1480
Gramado, RS
Informações:
http://www.socergs.org.br/congresso
Simpósio norte-Nordeste
A caminho de Fortaleza
A
organização do Simpósio Norte-Nordeste de Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista
espera cerca de 150 participantes
para a quinta edição do evento, que
será realizada no dia 6 de agosto, juntamente com o XXX Congresso NorteNordeste de Cardiologia, em Fortaleza (CE). “A programação, focada no
conteúdo atento às principais questões
difíceis do dia a dia, está diversificada e abrangente, abordando todos os
campos práticos de atuação da intervenção em nossa região, mas nem por
isso será superficial”, afirma Nelson
Araújo (PE), presidente do Simpósio.
“Os diversos casos clínicos editados,
tão concorridos nos simpósios interna-
8
cionais, terão destaque nessa edição
e serão comentados por renomados
intervencionistas nacionais e internacionais, como J. Eduardo Sousa (SP)
e Eberhard Grube (Alemanha).” As inscrições podem ser feitas até o dia 27
de julho pelo website www.dinamicaeventos.com.br/cardiologia.
Agende-se
Data: 6 de agosto
Horário: 8h30 às 18h00
Local: Fábrica de Negócios – Hotel Praia
Centro – Av. Monsenhor Tabosa, 740 –
Praia de Iracema – Fortaleza, CE
Informações: www.dinamicaeventos.com.
br/cardiologia
Qualidade no
APOIO ESTATÍSTICO
planejamento estratégico
Projetos dos sócios
da SBHCI passam a
contar com suporte
técnico estatístico
da PGS
Paula Goldenstein Strassmann, presidente da PGS.
A
SBHCI disponibiliza gratuitamente aos sócios a consultoria de metodologia científica
e estatística para a redação de seus
artigos científicos, visando sua publicação na Revista Brasileira de Cardiologia Invasiva (RBCI). Para isso conta
conta com o apoio e suporte da PGS/
Medical Statistics, empresa que atua
no mercado brasileiro e internacional
com experiência em pesquisa clínica
do início ao fim de projetos, oferecendo apoio em todas as etapas desde o
planejamento estratégico à publicação
dos resultados.
A presidente da PGS, Paula Goldenstein Strassmann, afirma que, de
acordo com uma pesquisa que anali-
sou trabalhos publicados na área médica em periódicos de língua inglesa,
espanhola e portuguesa, métodos estatísticos mal planejados, tomados como
fatores definitivos, podem referendar
conclusões errôneas. “A pesquisa detectou que erros na escolha de testes
estatísticos, tamanho de amostra inadequado e escolha errada de programa estatístico são algumas das recorrências nos artigos”, afirma Paula.
Outra dificuldade é a perpetuação
do erro, sobretudo nos trabalhos que
retomam a pesquisa do ponto no qual
a anterior foi interrompida, ou repetem
a mesma fórmula de seguidas linhas
de pesquisa como garantia de acerto
na escolha das amostras. “O problema
quase sempre está no planejamento
pouco cuidadoso da metodologia, ou
seja, o seu desenho”, diz a especialista.
“Os cálculos estatísticos fazem parte
desse desenho e, portanto, precisam
ser planejados de forma adequada.”
Um trabalho de pesquisa precisa
partir de uma hipótese clara que se
pretende provar. A análise estatística
confirma esse êxito ou não. Dessa forma, o envolvimento do estatístico no
estudo permite minimizar os custos do
projeto através da definição adequada
do tamanho amostral, otimização da
coleta de dados e avaliação correta
dos resultados.
Para todos os sócios da SBHCI, a
PGS realiza um trabalho de apoio ao
planejamento estratégico, com ampla
participação na discussão e determinação dos objetivos primários e secundários, desenho do capítulo de estatística
no protocolo, análise de viabilidade desse desenho, cálculo e tamanho da amostra, bem como desenho da ficha clínica
e plano estatístico. “O objetivo de nossa
política de qualidade é garantir a satisfação dos clientes através da precisão dos
resultados e do alto grau de profissionalismo na execução de nossos serviços”,
afirma Paula. Para utilizar esse novo benefício, o interessado deverá entrar em
contato com a SBHCI através do e-mail
[email protected], encaminhando seu
trabalho para apreciação.
9
INTERNAS
NOTíCIAS DA SBHCI
CREMERS
Conselho Regional de Medicina do RS
discute os stents farmacológicos
Evento promovido no Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul
debateu sobre os stents farmacológicos como uma tecnologia que veio para ficar
Da esquerda para a direita, Gilberto Nunes (RS), Alexandre Schaan de Quadros (RS), Luiz Carlos Bodanese (RS), Maurício de Rezende
Barbosa (MG), Antônio Carlos Carvalho (SP), Alexandre do Canto Zago (RS), Marco Vugman Wains­tein (RS).
O
Conselho Regional de Medicina do
Rio Grande do Sul (CREMERS)
realizou o fórum “Novas Tecnologias em Saúde: Stents Farmacológicos”, em
7 de junho, em Porto Alegre (RS). Essa iniciativa, pioneira no âmbito de nossa especialidade, se inseriu em uma visão mais ampla do
CREMERS de promover a discussão de tópicos científicos com questões controversas
e com potenciais implicações para a atuação
do médico e questões éticas do exercício da
medicina. “Nós temos procurado promover
uma discussão mais ampla, envolvendo a
sociedade, para conhecer melhor os avanços
10
tecnológicos que têm gerado discussões”,
afirma Jéferson Piva (RS), coordenador das
Câmaras Técnicas do CREMERS.
Em março, o CREMERS promoveu o 1o
Fórum de Emergências Médicas. O evento,
também realizado em Porto Alegre, teve
a presença de cerca de 40 médicos, e foi
organizado pela Câmara Técnica de Cardiologia do CREMERS, coordenada por Luiz
Carlos Bodanese (RS). Alexandre Shaan de
Quadros (RS), diretor de Comunicação da
SBHCI, foi o coordenador do evento, que
contou com quatro palestras de 20 minutos e amplo espaço para discussão entre os
presentes. Antônio Carlos Carvalho (SP),
diretor de Educação Médica Continuada
da SBHCI, abriu o evento abordando o tópico “Indicações de stents farmacológicos”,
apresentando um panorama global da situação por meio de meta-análises e de ensaios
clínicos randomizados, sob o ponto de vista
clínico. Carvalho ainda tratou de casos nãofavoráveis à utilização de stents farmacológicos, comparou a evolução das diretrizes
europeias com as diretrizes da SBHCI e
avaliou os números de intervenções no Brasil, nos Estados Unidos e na América Latina.
Ao fim de sua apresentação, Carvalho trouxe
à tona a questão orçamentária, ainda muito
questionada principalmente pelo Sistema de
Saúde Suplementar.
Maurício de Rezende Barbosa (MG), presidente da SBHCI, foi o segundo convidado
a se apresentar, com a palestra “Os stents
farmacológicos têm efeito de classe?”. O
foco principal dessa apresentação estava
nas características técnicas da evolução dos
stents, que demonstrou, de maneira clara,
as diferenças acentuadas entre os diversos
modelos e plataformas de stents farmacológicos. No âmbito do evento, o objetivo dessa
apresentação foi reafirmar que a decisão sobre o tipo e o modelo do stent não pode ser
padronizada sem uma avaliação criteriosa do
médico, e considerando as características clínicas e angiográficas de cada caso. “É uma
tecnologia que continua a evoluir e a trazer
resultados cada vez mais positivos, porém
precisamos estimular, promover e participar
de discussões com os planos de saúde a fim
de reduzir algumas barreiras que nós, médicos e pacientes, temos encontrado”, afirma o
presidente da SBHCI.
A palestra proferida por Otávio Berwanger
(SP) abordou o tema “Implicações das relações de custo-efetividade no processo de
decisão clínica”. A custo-efetividade tem sido
considerada uma limitação das novas tecnologias em saúde, e os stents farmacológicos
não fogem à regra. Berwanger tratou justamente da relação entre evidências, análises
econômicas, implicações na prática clínica e
impacto orçamentário natural de toda nova
tecnologia. “Uma parte considerável das
novas tecnologias pode apresentar efetividade”, diz Berwanger, “mas também apresenta
maior custo até que os valores se equalizem
com o aumento do uso”. Em relação aos
stents farmacológicos, concluiu ser claro o
benefício clínico em termos de diminuição
de novas revascularizações, considerando
que existe forte sugestão de diminuição das
taxas de infarto agudo do miocárdio em alguns estudos e meta-análises.
A convite da organização do fórum, o
desembargador Jorge Perroni de Oliveira,
com o tema “Responsabilidade médica na
indicação de novos tratamentos”, abordou
a jurisprudência já firmada em relação ao
stent farmacológico e as responsabilidades
do médico no tratamento e na relação com
o paciente. De acordo com o desembargador, o dever de informar o paciente sobre
todas as possibilidades e riscos de tratamento é do médico, inclusive o de informar
sobre a possível negação de pagamento
Maurício de Rezende Barbosa (MG), presidente da SBHCI, falou sobre as características
técnicas dos stents farmacológicos.
Otávio Berwanger (SP) abordou o tema “Implicações das relações de
custo-efetividade no processo de decisão clínica”.
ou reembolso por parte das empresas do
sistema de saúde suplementar. “Temos
conhecimento de empresas que vêm provocando retaliações e ameaças de descredenciamento aos médicos sob a justificativa
dos altos custos de alguns tratamentos”, ele
afirma. “Por isso o médico deve estar munido de provas e documentos sob o risco
de também ser responsabilizado em um
possível processo.” Também ressaltou a
corresponsabilidade jurídica de diretores de
planos de saúde no caso de negativas de
tratamentos com comprovada eficácia.
Após as palestras, ainda houve espaço
para discussão interativa com a plateia sobre
todos os tópicos abordados. Gilberto Nunes
(RS), presidente da Sociedade Gaúcha de
Cardiologia, e Alexandre do Canto Zago
(RS), presidente do Departamento de Hemodinâmica do Rio Grande do Sul, também
estiveram presentes à mesa e contribuíram
com os debates. Eduardo Saadi (RS), presidente da Sociedade Gaúcha de Cirurgia
Cardiovascular, apresentou a visão do cirurgião. “Nossa intenção foi promover um encontro com pessoas da mais alta qualificação
para cobrir os aspectos atuais, polêmicos ou
contraditórios dessa nova tecnologia”, afirma
Quadros. “Penso que alcançamos nosso objetivo, e este evento poderá servir inclusive
de modelo para discutir e debater outras novas tecnologias em diferentes áreas da medicina. Um documento sumarizando as principais conclusões do evento e recomendações
do CREMERS está sendo elaborado pela
Câmara Técnica de Cardiologia.”
11
giro pelo brasil
pará
Desbravando
o coração da Amazônia
Promover a saúde em municípios que distam de 15 a 20 quilômetros um do outro é
fácil. O desafio é maior quando se trata de municípios como o de São Félix do Xingu,
a 2.080 quilômetros de Belém do Pará
[Heloisa Guimarães (PA), representante da Região Norte/Nordeste no Conselho Deliberativo da SBHCI]
A
extensão territorial da Amazônia sempre foi um desafio para
os gestores de saúde. A Região
Amazônica é a menos populosa do País
e, também, a mais extensa. Uma das dificuldades da região é levar serviços de
saúde a alguns municípios que têm rios
como ruas. Já pensou infartar no “céu”?
Céu é uma praia no arquipélago do Marajó, maior ilha fluviomarinha do mundo,
situada no Estado do Pará, sem hospital
de médio porte, situada a três horas de
barco da capital paraense.
Mesmo com todos esses desafios
pela frente, médicos continuam firmes
na busca de oportunidades para levar
tratamento adequado a vidas onde a
medicina tem difícil acesso. É assim
também com a hemodinâmica e a cardiologia intervencionista. Até a década
de 1960, o Estado do Pará não possuía
um serviço da especialidade que pudesse atender à demanda da população local. Hoje, a capital, Belém, conta com
dez serviços de hemodinâmica.
12
Foi um longo caminho até chegar onde
está. Segundo Heloisa Guimarães (PA),
representante da Região Norte/Nordeste no Conselho Deliberativo da SBHCI,
a história da hemodinâmica no Pará começou em 1965 com o cardiologista
Osvaldo Luiz Forte (PA) trabalhando em
um equipamento radiológico, adquirido
pela Faculdade de Medicina, que funcionava no Hospital da Santa Casa de Misericórdia do Pará. O aparelho obtinha três
radiografias por segundo e podia diagnosticar lesões valvares e congênitas.
Em 1970, o Hospital Adventista de
Belém adquiriu uma unidade mista, com
bom intensificador de imagem e fluoroscopia pulsátil. Aquele ano foi marcado
pela primeira cinecoronariografia realizada no norte do País, feita por Paulo Monteir (PA). Doze anos depois teve início
o serviço de hemodinâmica da Clínica
Lobo, ainda em mesa radiológica. Segundo informações da cardiologista Dilce Lea
Magno da Silva (PA), os primeiros exames ambulatoriais no Brasil foram feitos
lá. Como não havia leito de internação,
após o período de observação os pacientes eram liberados para seus domicílios.
O primeiro equipamento completo
de hemodinâmica foi instalado no Centro Cardiológico do Pará, em 1982,
quando passaram a integrar a equipe
os médicos Eduardo Costa (PA), Miria
Grunvald (PA) e Luiz Alberto Maneschy
(PA). A partir de julho de 1995, o Hospital Incor entrou na era da subtração
digital, com um equipamento Siemens
de última geração, tendo à frente Jacob
Gabbay (PA), Miria Grunvald e Heloisa
Guimarães. Em janeiro do ano seguinte,
foram feitos os primeiros implantes de
stents coronários no Pará.
Nos anos posteriores, os serviços
foram crescendo gradativamente, à medida que os profissionais se aperfeiçoavam e integravam as equipes locais: o
hospital público Ophir Loyola ampliou
o leque de serviços com exames diagnósticos e terapêuticos endovasculares;
Wilson Alfaia (PA) e Alex Albuquerque (PA)
Serviços no Estado do Pará
BELÉM
CCARDI – Centro Cardiológico
e Radiológico de Diagnóstico
e Intervenção Percutânea
Resp.: Wilson M. Cecim Coelho
Telefone: (91) 3230-4599
Centro Cardiológico do Pará
Resp.: Wilson A. de Oliveira
Telefone: (91) 3241-9000
Hospital Adventista de Belém
Resp.: Miria da Silva Grunvald
Site: www.hab.org.br
Telefone: (91) 3084-7080
Fundação Hospital de Clínicas
Gaspar Viana
Resp.: Ely Maria Neves de Sousa
Site: www.gasparvianna.pa.gov.br
Telefone: (91) 4005-2500
Hospital do Coração
Resp.: Alex de A. Silva
Telefone: (91) 3084-9018
inauguraram os serviços de hemodinâmica dos hospitais Saúde da Mulher e
Porto Dias; Marcos Reale (PA), Vinicius
Costa (MA), Basílio Pantoja (PA) e Ely
Neves (PA) integraram o campo de trabalho do Estado; a Fundação Hospital
de Clínicas Gaspar Viana tornou-se
centro de referência em cardiologia no
Pará; e a cardiopatia congênita intervencionista teve grande avanço com a
dedicação de Maneschy, que resultou
na aquisição de próteses e estrutura pediátrica adequadas.
Nesse período surgiu também o Centro Cardiológico e Radiológico de Diagnóstico e Intervenção Percutânea, sob
direção de Wilson Miguel Cecim Coelho (PA) e Arilson da Silva Rodrigues
(PA), e, mais recentemente, Cleiton da
Silva Ramos (PA). Em 2007, Costa foi
o pioneiro da valvoplastia mitral percutânea, tendo como primeiro desafio
uma paciente grávida de 24 semanas.
No mesmo ano, Jorge Hideki Hayashi
(PA) dava início a exames diagnósticos
Hospital Geral da Unimed
Resp.: Miria da Silva Grunvald
Site: www.unimed.com.br
Telefone: (91) 4009-5001
Hospital Guadalupe
Resp.: Luis Alberto R. Maneschy
Site: www.hospitalguadalupe.com.br
Telefone: (91) 4005-9877
SANTARÉM
Hospital Regional de Santarém
Resp.: Jorge Hideki Hayashi
Telefone: (93) 3064-1408
Hospital Ophir Loyola
Resp.: Heloisa Guimarães
Site: www.ophirloyola.pa.gov.br
Telefone: (91) 3342-1100
Hospital Porto Dias
Resp.: Wilson Alfaia de Oliveira
Site: www.hpd.com.br
Telefone: (91) 3084-3000
Hospital Saúde da Mulher
Resp.: Marcos Reale Serique
Site: www.sdmulher.com.br
Telefone: (91) 3181-7000
no primeiro serviço do interior do Estado, o Hospital Regional de Santarém.
Esse serviço abrange uma população
de mais de um milhão de habitantes,
vindos de 20 municípios banhados pelos afluentes do rio Amazonas.
Em junho do ano passado, o serviço de
hemodinâmica do Hospital Geral da Unimed Belém adquiriu um dos mais modernos aparelhos, o Allura Xper, contribuindo
com exames mais precisos na área de intervenção em congênitos, cerebrais e na
área vascular periférica.
Ao longo dos últimos anos houve uma
revolução no diagnóstico e tratamento
das doenças do coração de forma menos
invasiva. Grande parte dos serviços dá
preferência à utilização da via radial, em
busca de excelência nos resultados, com
menores índices de complicações vasculares e mais conforto ao paciente.
Para 2010, já está em fase de instalação o Centro de Pesquisas em Cardiologia da Amazônia, sob coordenação
de Heloisa Guimarães, com o objetivo
de monitorar o status da cardiologia
intervencionista na região, além de ter
registros atualizados e estudar as singularidades da população local. Novas
tecnologias estão em vias de ser incorporadas, como ultrassom intracoronário
e reserva de fluxo coronário, em busca
da excelência do resultado nos implantes de stents e sua mais adequada e
precisa indicação.
Por causa das grandes proporções
do Estado – com locais de difícil acesso –, uma das metas a curto e médio
prazos será o uso da telemedicina para
um diagnóstico cada vez mais preciso e
eficaz. Hoje, a logística do transporte de
pacientes ao centro de atendimento mais
próximo pode levar até 12 horas em barcos em determinados municípios. “É com
enorme expectativa que esperamos a finalização da rodovia Santarém-Cuiabá,
que vai interligar 34 municípios no sudoeste do Estado, para diminuir distâncias,
reduzindo também o sofrimento dos pacientes”, afirma Heloisa Guimarães.
13
solaci oscar mendiz
SOLACI 2010 em Bueno Aires
Oscar Mendiz, presidente do Congresso da Sociedade Latino-Americana de
Cardiologia Intervencionista (SOLACI), fala sobre o maior evento de hemodinâmica
da América Latina e comenta os planos para o futuro da especialidade na região
[Hélio Castello (SP), editor]
Buenos Aires, a capital da Argentina, receberá o XVI Congresso da SOLACI em agosto.
A
Sociedade
Latino-Americana
de Cardiologia Intervencionista
(SOLACI) está otimista com os
preparativos de seu XVI Congresso, que
acontecerá em agosto, em Buenos Aires
(Argentina). São esperados mais de três
mil participantes, a exemplo do sucesso do
evento do ano passado, realizado em conjunto com a SBHCI, no Rio de Janeiro (RJ). A
novidade deste ano é a quantidade recorde
do número de resumos enviados para serem
exibidos no hall de exposições – foram cerca
de 360 trabalhos submetidos para avaliação
da Comissão Científica. Os organizadores
do Congresso acreditam que isso pode ter
sido motivado pela possibilidade de os seis
melhores resumos serem publicados na EuroIntervention, a Jornada Oficial da EuroPCR e da Associação Europeia de Intervenções Percutâneas Vasculares.
O Congresso tem dezenas de convidados
internacionais confirmados, da América Latina e do resto do mundo, que prestigiarão
reuniões conjuntas com a TCT, EuroPCR e
Sociedade Espanhola de Cardiologia, além
das Sociedades Regionais de Cardiologia.
Outro destaque é o envio de cerca de 20
14
casos ao vivo em HD e em alguns casos editados, chamados de “live-in-box”, com sessões de imagens invasivas e não-invasivas,
assim como aquelas que tratam de temas já
abordados, tais como o tratamento de lesões
multiarteriais ou de tronco da coronária esquerda principal.
Em conversa com Oscar Mendiz (Argentina), presidente do Congresso, ele falou sobre a expectativa para esta edição e sobre o
desenvolvimento de nossa especialidade na
América Latina nos últimos anos.
Este será o XVI Congresso
da SOLACI. Como o senhor
analisa a evolução da cardiologia
intervencionista, nesse período de
mais de 15 anos, na América Latina?
Já avançamos muito na especialidade durante esses anos e a América Latina contribuiu
com uma parcela significativa desses desenvolvimentos, muitos deles feitos pelos nossos
colegas no Brasil. O Congresso da SOLACI
tem se profissionalizado e o evento está entre
os mais destacados do mundo. Hoje é mais
difícil restringir o número de pessoas que
querem vir do que alguém aceitar um convite.
Tudo isso fez com que aumentasse o nível
de qualidade científica do Congresso, que se
tornou uma opção interessante para aqueles
que não podem participar de eventos nos
Estados Unidos ou na Europa. O Congresso também se tornou uma oportunidade de
encontro para a discussão das evidências
científicas de acordo com o âmbito de nossas realidades.
Como a SOLACI pode atuar
para melhorar o acesso aos
procedimentos intervencionistas,
visto que em nossa região os
números são bem inferiores
aos dos países da Europa e da
América do Norte?
A difusão do conhecimento sempre ajuda a
melhorar a prática. A interface com outras especialidades da região irá resultar no aumento
do número de intervenções, para que os pacientes da América Latina possam ser tratados como na Europa ou nos Estados Unidos.
E como poderíamos diminuir
a heterogeneidade de acesso
que ocorre nos diferentes
países da região?
Difundir o conhecimento é o primeiro passo. Colaborar com a formação de colegas é
algo que a SOLACI já faz. Ainda me lembro
de médicos de outros países da América
Latina aperfeiçoando-se por meio de bolsas
de estudo em meu hospital, embora hoje
isso seja um pouco mais complexo. Mas
sou realista e entendo que a SOLACI pouco pode fazer para melhorar a saúde pública, a menos que as agências do governo
comecem a nos enxergar, juntamente com
as Sociedades Regionais.
Como é a atuação do Programa
Solidário da SOLACI?
O Programa Solidário (SOLSOLACI) está
começando a ser empregado, mas entendo
que seu valor seja mais simbólico que efetivo
na solução do déficit de assistência em nossa região. No entanto, esse valor simbólico é
muito importante e tem por objetivo chamar
a atenção das Sociedades Regionais e das
autoridades para que criem políticas para
ajudar os mais necessitados. A SOLACI
nunca poderá pagar a dívida de uma falta de
assistência médica adequada para milhões
de pessoas na América Latina, mas pode ser
um veículo para o diálogo entre autoridades
de saúde, hospitais e potenciais patrocinadores de programas sociais.
Quais são os pontos mais relevantes
do novo Planejamento Estratégico
da SOLACI?
Ter uma visão abrangente, global e integrada de todas as estruturas da Sociedade e,
por sua vez, ter a possibilidade de rever os
processos e proporcionar maior profissionalismo e maior eficiência a sua estrutura, uma
vez que o crescimento acelerado geralmente
traz algumas crises que nos fazem repensar
a atividade diária e olhar para o futuro.
O senhor acredita que seria
importante fortalecer o espírito
científico na região e capacitá-la
para receber ou iniciar estudos
multicêntricos?
Acredito que é algo que vai acontecer inevitavelmente, mas a participação em estudos
multicêntricos, como meros centros de recrutamento de pacientes, está muito longe
de ser o objetivo de qualquer instituição ou
sociedade científica médica.
Seria bom que a SOLACI pudesse, algum
dia, vir a ser um veículo promotor e executor
de trabalhos científicos grandes ou pequenos, que refletissem ideias de membros de
uma Sociedade de destaque na América Latina, lar de Favaloro, Palmaz, Parodi e muitos
outros, cujo brilho transcende em muito qualquer estudo multicêntrico.
No entanto, isso não é se colocar contra os
estudos, mas apenas afirmar que esse não é
o objetivo final e que sua forma de execução
deve ser revista. Por exemplo, em meu hospital, os acordos financeiros são assinados
pelas autoridades da instituição, abaixo apenas da regulamentação das leis da Argentina, e os representantes dos patrocinadores
devem dar crédito a sua representação legal.
Muitos médicos dispostos a participar não se
preocupam com esses detalhes, que podem
trazer-lhes problemas na busca de um benefício que poucos tiveram no campo científico
e, menos ainda, no campo econômico.
Todos os pesquisadores, se você os chama
assim, deveriam ter acesso a um banco de
dados. É inexplicável que poucos tenham direito a esse acesso. Acredito também que,
embora o Food and Drug Administration
(FDA) tenha solicitado os estudos, nós estamos testemunhando a fase final da existência
de registros multicêntricos sem fiscalização
externa. A falta de monitoração em toda a população, a falta de continuidade dos pacientes incluídos e a diferença dos participantes
sempre deixam um rastro de dúvida sobre o
valor dessas informações.
Economicamente, como nossa
região poderá se adaptar ao
crescente avanço tecnológico da
área e seu incremento de custeio?
Se as autoridades aceitarem dialogar com as
Sociedades, em todas as áreas da medicina, as diretrizes locais poderiam ser feitas de
modo a permitir o uso racional dos recursos.
Os pacientes se beneficiariam e os médicos
estariam protegidos, visto que não estariam
pressionados a limitar os recursos a métodos
coercitivos e não-científicos.
Admito que não se pode colocar uma válvula
por cateterismo em um senhor de 90 anos
de idade com expectativa de vida inferior a
um ano, a menos que a Sociedade tenha
maturidade e as regras necessárias para poder dizer: “Podemos fazer, mas você ou sua
família terão de pagar”. Com esse dinheiro,
poderão ser realizadas muitas angioplastias
primárias que salvarão mais vidas. Por outro lado, o médico tem a obrigação moral, e
entendo que legal, de informar quais as melhores opções para aquela doença, dando
ao paciente a opção de decidir. Por exemplo, alguns seguros de saúde reembolsam
o montante fixo correspondente ao valor de
um stent, o que obriga indiretamente o médico a restringir o benefício a alguns pacientes.
Qual sua projeção quanto
ao caminho que será percorrido
pela SOLACI nos próximos cinco
ou dez anos?
A SOLACI ainda sofrerá todas as crises
que o crescimento e a juventude costumam trazer. É uma Sociedade muito jovem
e muitos membros ainda não têm ideia do
que é pertencer a ela, e isso é compreensível. No entanto, o esforço dedicado daqueles que a fundaram e de muitos de nós,
que humildemente tratamos de colaborar,
não será em vão. Nossos filhos e os filhos
de nossos filhos terão uma Sociedade forte e que será um exemplo, se entendermos
que a América Latina, apesar de suas diferenças, é uma grande nação e que representa uma força em potencial, apesar de
sua juventude, nos planos tanto científico
como cultural e econômico.
15
XXXII Congresso da SBHCI
Compartilhando
conhecimento
Expominas, em Belo Horizonte (MG), receberá
o XXXII Congresso da SBHCI
S
O Congresso da SBHCI 2010,
que será realizado no centro
de convenção Expominas,
em Belo Horizonte (MG),
nos dias 22, 23 e 24 de julho,
está pronto para entrar
para a história
16
erão mais de mil congressistas, 49
expositores, 193 trabalhos de temas
livres inscritos, mais de 60 horas
de aulas e há expectativa de que, durante o
evento, a Sociedade ultrapasse o total de mil
associados. Para que os números exprimam
tamanha grandeza, foi necessário construir
um programa científico comparável ao de
qualquer congresso internacional. Diversos
nomes foram sondados, analisados e 11
deles confirmaram presença no evento. Entre as participações internacionais previstas
estão Martin Leon, dos Estados Unidos, que
fará sua apresentação ao vivo via satélite, assim como o espanhol Eulogio Garcia. “As novidades da cardiologia intervencionista terão
grande destaque, como o tratamento percutâneo das valvopatias e os novos stents, mas,
é certo, não nos esquecemos de abordar os
tópicos relevantes da nossa prática médica
do dia a dia”, afirma Fábio Sândoli de Brito Jr.
(SP), diretor científico da SBHCI.
Além do foco na programação científica,
a coordenação do Congresso pretende renovar e reduzir as filas de credenciamento
que geralmente são formadas no primeiro
dia do evento. Todos os pré-inscritos receberão em casa suas credenciais, enviadas
pelo correio. Dessa forma, a chegada ao Expominas será mais tranquila, sem correria e
com início pontual às 8h30 para a abertura
oficial intitulada “Avaliação da Segurança dos
Stents Farmacológicos”, que será ministrada
pelo cardiologista suíço Stephan Windecker,
seguida pela transmissão de um caso ao vivo
diretamente de Madri (Espanha). Para atender também àqueles que porventura não puderem participar, mas desejam ter acesso ao
conteúdo do Congresso, serão promovidas
transmissões em tempo real pelo Portal da
SBHCI na internet (www.sbhci.org.br).
O encerramento do Congresso acontecerá no sábado, com apresentação de quatro
casos ao vivo: dois dirigidos à área de congênitos, abordando fibrodisplasia ossificante
progressiva e trazendo à discussão uma mis-
celânea de casos interessantes; um caso
tratará de tronco de coronária esquerda; e
o último caso, que encerrará o Congresso em conferência via satélite, discutirá o
tema “O Laboratório de Hemodinâmica
do Futuro”. “Será um grande congresso,
mas, ao mesmo tempo, pequeno, denso,
distribuído em apenas duas salas para cardiopatias adquiridas, uma para cardiopatias congênitas e outra para enfermeiros e
técnicos”, afirma Sândoli.
De acordo com Marcos Marino (MG),
presidente do Congresso, a edição deste
ano terá o privilégio de ser realizada na ca-
pital mineira em um período do ano propício para passeios turísticos e culturais. “Teremos como novidade um happy hour no
primeiro dia do Congresso, após o término
das atividades científicas, com o famoso
Festival da Comida de Boteco de BH e
show musical com Lô Borges – cantor e
compositor do grupo Clube da Esquina”,
informa Marino. Para ajudar o congressista
a desfrutar melhor de Belo Horizonte, será
distribuída uma edição especial do Jornal
da SBHCI, criada exclusivamente para o
evento. A publicação trará informações exclusivas sobre o programa científico, perfil
dos palestrantes e um guia de cultura, lazer e turismo de Belo Horizonte e de algumas cidades históricas de Minas Gerais.
“Certamente será um momento marcante
de nossa Sociedade, com elevado nível
científico e de muita confraternização entre amigos, instituições médicas e nossos
parceiros da indústria”, afirma Maurício de
Rezende Barbosa, presidente da SBHCI.
“Para nós, mineiros, será uma honra e
uma imensa alegria.”
17
entrevista
Philipp Bonhoeffer
Simplicidade
e carisma
O cardiologista alemão é conhecido como uma das pessoas mais brilhantes na
área médica dos últimos tempos e derruba o estereótipo da sisudez germânica
[João Luiz Manica (RS), Editor]
Sempre simpático e atencioso,
Philipp Bonhoeffer rouba a cena
ao discutir as tecnologias
que ajudou a desenvolver ao longo de
sua brilhante carreira.
P
hilipp Bonhoeffer é, atualmente,
chefe do Laboratório de Hemodinâmica do Great Ormond Street
Hospital, em Londres (Inglaterra). Estudou
medicina em Milão (Itália) e se especializou em cardiologia na Universidade de
Pádua (Itália). Desde o início de sua carreira, sempre demonstrou interesse no
desenvolvimento da cardiologia pediátrica
em países em desenvolvimento, especificamente no Leste Africano. Idealizador
do sistema de rápida troca para dilatação
de válvula mitral, conhecido como sistema MultiTrack, em 2000 desenvolveu a
primeira válvula de implante percutâneo
para tratamento de regurgitação pulmonar,
18
dando início ao desenvolvimento de novas
tecnologias para o implante percutâneo de
válvulas cardíacas.
Como foi a decisão de estudar
medicina? E por que optou pela
formação na Itália?
Na verdade, sempre me interessei por
música. Minha família é composta de músicos e, quando jovem, eu pretendia ser
fabricante de violinos. Como não possuía
habilidades suficientes para tal, então decidi estudar medicina. Porém, na Alemanha,
para se estudar medicina, você precisa ter
boas notas durante a escola, o que eu não
tinha. Consequentemente, não atingi uma
colocação suficiente que me permitisse ingressar na faculdade. A partir daí, procurei
outras possibilidades de estudar medicina
em algum local da Europa e então fui para
a Itália. Acabei chegando a Bergamo e, por
completa coincidência, comecei a trabalhar
como babysitter dos filhos de Lucio Parenzan, sem saber que ele já era um dos
grandes cirurgiões cardíacos pediátricos
da Itália na época. Certo dia, quando já me
interessava por cardiologia pediátrica durante a faculdade, teci alguns comentários
sobre a cirurgia de Jatene e ele, a partir daí,
espantado que um estudante de medicina
soubesse de algo tão específico, me apoiou
durante toda minha formação como cardio-
logista e intervencionista na área de cardiopatias congênitas.
Como foi o desenvolvimento do
sistema MultiTrack para dilatação
de estenose mitral?
Junto com Lucio Parenzan, desde o começo da década de 1990, estive envolvido
em projetos no Quênia para diagnóstico e
tratamento de cardiopatias congênitas. O
que me deixava muito frustrado é que fazíamos o diagnóstico com o ecocardiograma
e os pacientes achavam, após os exames,
que estavam curados. Passamos então a
desenvolver a intervenção nas cardiopatias congênitas a partir de procedimentos
baratos e treinamento de médicos locais.
Em decorrência das dificuldades financeiras, os primeiros casos tratados foram de
valvoplastia pulmonar e um dos primeiros
pacientes foi um paciente adulto, em estado
grave de insuficiência cardíaca, com edema
generalizado, que não caminhava há muito
tempo. Ele chegou ao laboratório, fizemos a
valvoplastia pulmonar e o paciente acabou
saindo do hospital caminhando. Além disso, a alta incidência de doença reumática e
o alto preço do tratamento percutâneo da
estenose mitral com as tecnologias existentes na época (balão Inoue) me levaram a
desenvolver, juntamente com Allen Tower,
da Numed (Nova Iorque, Estados Unidos),
um sistema rápido e barato de realizar valvoplastia mitral percutânea, que chamamos
de MultiTrack.
Que diferenças culturais você
salientaria em relação ao povo
africano, após todos esses anos de
convivência?
Com certeza existem diferenças culturais entre os povos da África se comparados com os europeus, por exemplo.
Na África, a religião é algo muito forte,
e quando as coisas vão bem, tudo bem;
entretanto, se não vão bem, eles acreditam muito que isso seja o caminho traça-
Philipp Bonhoeffer e Emmanuelle Baldini, spalla da Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo, em dueto informal.
do por Deus. Duas experiências me marcaram muito. Ambos os pacientes foram
submetidos a procedimentos cirúrgicos
relativamente simples, porém evoluíram
desfavoravelmente e acabaram falecendo. Em resumo, eram dois pacientes
que morreram de maneira inesperada.
No primeiro caso, quando fui falar com
os pais sobre esse acontecimento inesperado, foi inacreditável o sentimento
de gratidão que eles transmitiram a mim
por ter participado da luta contra a morte de seu filho. Eu não conseguia acreditar naquela reação imediata ao recebimento da notícia, mas eles não paravam
de agradecer a mim e ao cirurgião por
termos sido parceiros na luta pela sobrevivência do filho deles, mas essa era
a vontade de Deus, e nada poderia ser
feito de modo a mudar a vontade divina.
E isso aconteceu novamente logo após
esse episódio com outra família. Então
percebi que as pessoas de lá reagem de
uma maneira muito diferente em razão
de suas crenças, ao invés de manifestarem um sentimento de frustração comumente encontrado em nossa sociedade.
Enfim, ninguém quer que desfechos
ruins acometam seus filhos, porém me
parece que na África, em geral, as pessoas possuem soluções melhores para
combater esse tipo de problema.
Ninguém quer que desfechos ruins acometam seus filhos,
porém me parece que na África, em geral, as pessoas possuem
soluções melhores para combater esse tipo de problema.
19
entrevista
Philipp Bonhoeffer
Como foi o desenvolvimento da
válvula Melody?
É interessante porque fazia pouco tempo
tinha implantado, juntamente com Lee Benson (Toronto, Canadá), um stent recoberto
para oclusão de fenestração de conduto
de Fontan. A partir daí, pensei que se era
possível implantar um stent coberto de
PTF-e por que não seria possível implantar uma válvula junto com o stent? Então,
novamente em parceira com Allen Tower,
desenvolvemos em um “laboratório” criado
em sua fazenda uma válvula de tecido venoso de jugular bovina suturada a um stent
que foi então testada experimentalmente
com sucesso. Em 2000, a primeira válvula
cardíaca implantável através de cateterismo
cardíaco foi utilizada em uma criança de 12
anos de idade em Paris (França). O desenvolvimento dessa tecnologia abriu caminho
para o desenvolvimento de válvulas de implante percutâneo em posição aórtica. O
mais interessante é que eu achava que essa
ideia era absolutamente inédita, o que me
motivou bastante a desenvolvê-la. Entretanto, descobri, posteriormente, que o implante
percutâneo de válvulas cardíacas havia sido
tentado previamente nos anos 70, se não
me engano, porém a ideia foi abandonada
pouco tempo depois por insucesso da técnica. Provavelmente se eu soubesse dessa
tentativa prévia não teria ido tão longe...
Quais são as principais indicações
para o implante da válvula Melody?
A válvula Melody foi desenvolvida basicamente para ser implantada em condutos,
para prolongar a vida útil de condutos implantados cirurgicamente na via de saída
do ventrículo direito, ou seja, retardar a
necessidade de nova intervenção cirúrgica.
Entretanto, já está sendo testado experimentalmente o implante da válvula Melody
em pacientes portadores de condutos com
patch cirúrgico asssociado e, menos frequente, após correção cirúrgica de tetralogia de Fallot com estenose residual e vias
de saída aneurismáticas.
Qual é a duração estimada dessa
válvula?
No momento é impossível prever a duração exata dessa válvula biológica implantada percutaneamente; entretanto, o
primeiro caso está completando o décimo aniversário sem sinais de calcificação
ou deterioração da função valvar. Não se
sabe ao certo o porquê, mas a evolução
parece melhor que a de homoenxertos
biológicos cirurgicamente implantados,
sem a deposição de cálcio que leva à necessidade de reintervenção.
Você tem ideia de quantos
pacientes podem se beneficiar
dessa tecnologia inovadora?
Essa é uma questão muito complexa, pois
se a válvula foi inicialmente desenvolvida
para ser implantada em condutos cirúrgicos, então depende do número de pessoas
portadoras de condutos, o que depende
também do tipo de cirurgia realizada nos diferentes países e da condição socioeconômica de cada país. Isso dificulta muito a realização de tais estimativas. Eu pessoalmente
acho que todos os pacientes portadores de
condutos cirúrgicos de tamanho definitivo
em algum momento de sua vida necessitarão de implante percutâneo de stent valvado. Nas condições econômicas atuais,
estima-se que entre mil e dois mil pacientes
por ano são beneficiados por essa técnica.
Atualmente, a válvula Melody está
disponível em todo o mundo?
Ainda não. Existem algumas regiões em
que o stent valvado ainda não está disponível. A Medtronic colocou o dispositivo no
mercado; entretanto, felizmente há bastante
cuidado para que sua utilização ocorra da
maneira mais segura possível, independentemente do país em que esteja sendo implantado. Isso significa que há um programa
educacional para o implante dos stents val-
Da esquerda para a direita, João Luiz Manica (RS), Philipp Bonhoeffer (Alemanha), Raul Rossi (RS) e Tzvi
Bacaltchuk (RS) durante evento no Rio Grande do Sul.
20
vados que compreende profissionais específicos para a orientação durante a curva de
aprendizado. Embora ainda não tenhamos
profissionais capazes de realizar um programa de treinamento na América do Sul,
estou certo de que a Medtronic terá esses
profissionais assim que for possível. Com
certeza, esse treinamento ocorrerá em centros em que haja um volume mínimo de casos anuais para que a curva de aprendizado
seja sempre ascendente.
Em que projeto você se encontra
mais envolvido atualmente?
O projeto de stents valvados para a via
de saída do ventrículo direito ainda não
está no fim, pois há muitos pacientes com
regurgitação pulmonar sem condutos previamente implantados e a mortalidade desses pacientes com insuficiência pulmonar
grave é bastante alta e ligada a dilatação
do ventrículo direito e arritmias. Então, a
ideia é produzir dispositivos valvados que
possam ser utilizados também em pacientes que não possuem condutos cirúrgicos
e com vias de saída aneurismáticas, não
necessariamente estenóticas. A diferença
básica desses dispositivos para os atuais é
que são autoexpansíveis. E tendo em vista a
grande variabilidade anatômica desses pacientes, a ideia é produzir alguns modelos
diferentes que possam ser escolhidos no
momento do implante de acordo com cada
paciente, pois seria praticamente impossível
desenvolvê-los de maneira individual. Tivemos a oportunidade de utilizar esse dispositivo de segunda geração em um paciente
com insuficiência pulmonar grave com contraindicação para procedimento cirúrgico
por causa do alto risco. Esse paciente recebeu o dispositivo em janeiro de 2009 e
apresentou melhora significativa do quadro
clínico. Em resumo, acho que estamos no
começo de uma caminhada em relação aos
implantes valvares. Desenvolvemos os dispositivos de primeira geração e, atualmente,
pessoas em diversos lugares do mundo estão trabalhando para produzir novos dispositivos cada vez melhores, tanto em relação
à pulmonar quanto à aorta, e espero que
tenham sucesso.
Há 135 anos contribuindo
com a saúde, o bem-estar
e a tecnologia.
take-a-coffee.com
Eu pessoalmente acho que todos os pacientes portadores de
condutos cirúrgicos de tamanho definitivo em algum momento de sua
vida necessitarão de implante percutâneo de stent valvado.
Bransist Safire HC9 Slender
Heart Speed 10F
São Paulo (11) 2134.1688 • Rio de Janeiro (21) 2556.5171
Bahia (71) 3233.4176 • Rio Grande do Sul (51) 3225.9106
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21
EUROPCR 2010 ENTREVISTA COM TED FELDMAN
Tratamento percutâneo das
doenças valvulares em foco
Ted Feldman comenta o tratamento percutâneo das doenças
valvulares e fala sobre o estudo EVEREST II
[Daniel Chamié (SP) e Carlos Augusto Campos (MG), coeditores do Portal da SBHCI]
S
ob o forte calor da primavera em
Paris (França), o EuroPCR 2010
bateu o recorde de participantes
desde sua primeira edição: 13.109 pessoas reuniram-se, entre os dias 25 e 28
de maio, para discutir e debater sobre as
últimas técnicas, atualizações, descobertas e novas opções de tratamento para as
doenças cardiovasculares.
Um dos focos de discussão foram as
comparações entre diferentes plataformas de stents farmacológicos, bem como
análises mais abrangentes dos stents
farmacológicos de segunda geração.
Outro destaque foram os mais recentes
registros sobre implante valvar aórtico
percutâneo de diversos países europeus,
que teve lugar em uma concorrida sessão
plenária na arena principal do congresso.
Foram apresentadas as experiências
dos países europeus em que o programa
de implante valvar aórtico percutâneo se
encontra mais avançado. A abordagem
atual incluiu grandes amostras de pacientes, com foco nas taxas de sucesso do
procedimento, na ocorrência de eventos
intra-hospitalares e a longo prazo, bem
como na comparação (indireta) entre diferentes dispositivos e vias de acesso.
Em uma conversa exclusiva e informal
com Daniel Chamié (SP) e Carlos Augusto Campos (MG), Ted Feldman, inves-
tigador principal do estudo EVEREST II e
diretor do Laboratório de Hemodinâmica
e Cardiologia Intervencionista da Divisão
de Cardiologia do Evanston Hospital (Illinois, Estados Undios), falou sobre a utilização do dispositivo MitraClip para tratamento percutâneo da insuficiência mitral e
também teceu alguns comentários acerca
do programa de implante valvar aórtico
percutâneo, assunto amplamente apresentado e debatido durante o evento.
O que os resultados do EVEREST II
não mostraram? O que está por trás
dos números?
Nesse estudo, tive a oportunidade de acom-
EuroPCR 2010 foi marcado pela
apresentação das experiências dos
países europeus em relação ao programa
de implante valvular aórtico percutâneo.
22
panhar pacientes com insuficiências mitrais
graves e acentuada disfunção ventricular,
com importante limitação funcional e alto risco para cirurgia. Muitos apresentavam dispneia grave para atividades triviais. No estudo
EVEREST II, pudemos observar a grande
melhora clínica e da qualidade de vida de
muitos desses pacientes após a plastia mitral percutânea com o dispositivo MitraClip
para correção da insuficiência mitral. Neste momento, me recordo de um paciente
específico com grave insuficiência mitral e
hipertensão pulmonar acentuada (pressão
sistólica da artéria pulmonar em torno de
75 mmHg), altamente sintomático, que mal
conseguia se alimentar por conta de intensa
dispneia ao comer. No momento do procedimento notamos significativa queda da pressão pulmonar (para cerca de 50 mmHg),
com redução progressiva chegando a mais
ou menos 35 mmHg no sexto mês de seguimento, acompanhada de expressiva melhora
da classe funcional e da qualidade de vida.
Observamos também que, apesar de alguns
pacientes permanecerem com insuficiência
mitral 3+, a melhora sintomática persistia.
Dessa forma, acredito que os pacientes mais
graves e sintomáticos são aqueles que podem apresentar benefícios mais exuberantes
com esse tratamento.
O senhor apresentou uma
subanálise do estudo EVEREST
II, estratificando os resultados do
emprego do MitraClip de acordo
com a etiologia da insuficiência
mitral: degenerativa vs. funcional.
Em ambos os cenários os
resultados foram favoráveis.
Percebemos que a etiologia
reumática, bastante frequente em
nosso País, não foi investigada.
Existe alguma razão para isso?
Quando fazemos a plicatura dos folhetos
mitrais com o clipe, em geral obtemos
redução da área valvar de até um terço
em relação a seu diâmetro inicial. No estudo EVEREST II, uma área valvar inicial
menor que 4 cm² foi critério de exclusão.
Com frequência, o paciente portador de
insuficiência mitral reumática apresenta
insuficiência valvar sem dilatação do anel
ou mesmo com redução de seu diâmetro.
Dessa forma, a utilização do clipe poderia
acentuar ainda mais essa redução do anel,
gerando algum grau de estenose. A etiologia reumática foi critério de exclusão no
O norte-americano Ted Feldman debateu sobre o programa de implante valvar aórtico percutâneo.
EVEREST II. Além disso, esses pacientes
costumam ter acometimento dos folhetos
valvares e sistema de sustentação subvalvar, que com frequência se encontram
acentuadamente espessados.
Foram apresentados resultados
de grandes registros abordando o
implante valvar percutâneo aórtico
(TAVI) em pacientes de alto risco
cirúrgico. Já temos um grande
número de pacientes tratados, com
resultados agudos e de médio prazo
favoráveis para uma população de
risco bastante elevado. O senhor
acha que é chegado o momento
de ampliar as indicações para
pacientes de menor risco?
Acredito que ainda não seja o momento. Algumas perguntas ainda não foram
respondidas. Temos observado que em
alguns casos a prótese valvar apresenta bom comportamento até o quinto
ano e, a partir daí, rápida degeneração
até o sétimo ano. Em alguns casos,
podemos tratar a disfunção protética
com implante de nova prótese (valvein-valve). Os pacientes tratados com
TAVI atualmente são, de maneira geral,
idosos e com múltiplas comorbidades.
Com isso, tendem a ter sobrevida limitada, independentemente da valvopatia
aórtica. Dados de evolução muito tardia
ainda não estão disponíveis. Em geral,
os pacientes falecem antes mesmo que
se possa notar sinais de degeneração
da prótese. Em pacientes mais jovens
e de menor risco, em quem esperamos
maior sobrevida, poderíamos acompanhar a história natural da durabilidade
das próteses percutâneas. No entanto,
seria possível a realização de múltiplos
implantes para o tratamento de disfunções sucessivas?
Na maioria dos registros de TAVI
foram apresentadas comparações
indiretas entre as próteses
Corevalve e Edwards Sapien. Foi
uma constante a maior necessidade
de implante de marca-passo nos
pacientes que receberam a
Corevalve. O senhor acha que isso
pode ser um limitante para o futuro
desse dispositivo?
Não podemos dizer isso. Apesar de ser
um evento indesejável, ainda temos muito o que descobrir. Os preditores ainda
não foram completamente identificados.
Não tenho resposta para esta pergunta.
Acredito que os pacientes mais graves e
sintomáticos são aqueles que podem apresentar
benefícios mais exuberantes.
23
atualização científica
ACC 2010
O congresso minimalista
Ao contrário de outras edições, o Congresso provou que menos é mais,
já que a introdução de novas drogas, o aumento de doses e as estratégias
agressivas de tratamento não foram efetivos em muitos estudos
[Alexandre Schaan de Quadros (RS), diretor de Comunicação, e Áurea Jacob Chaves (SP), editora da RBCI]
P
ela quarta vez consecutiva, a
SBHCI conferiu de perto as novidades do 59o Congresso Científico
Anual do American College of Cardiology
(ACC.10), realizado no mês de março, em
Atlanta, nos Estados Unidos. O tempo chuvoso e o frio de menos de 10ºC não foram
suficientes para espantar os mais de dois mil
congressistas que participaram do evento.
Nesse congresso anual, um dos maiores
– para não dizer o maior – eventos científicos da cardiologia mundial, são debatidas
muitas questões importantes, e novas descobertas, drogas e estratégias de tratamento
são anunciadas em primeira mão, colaborando para aprimorar nossa prática. A cardiologia tem avançado muito rapidamente
nos últimos anos, e a introdução de diversas
terapias diminuiu a mortalidade e os eventos
recorrentes em diversos cenários clínicos.
Tendo em vista esse conceito, a expectativa
em torno da edição de 2010 desse congresso não poderia ser diferente.
Entretanto, ao contrário dos anos anteriores, o ACC.10 demonstrou que menos
é mais. Os discursos apresentados indicaram que a introdução de novas drogas, o
aumento de doses e as estratégias agres-
sivas de tratamento não foram efetivos em
muitos estudos, e em alguns casos foram
até mesmo deletérios.
Durante as sessões, ficou comprovado,
pelos estudos ACCORD BP e INVEST, que
o controle agressivo da hipertensão arterial
sistêmica não deve ser realizado em pacientes diabéticos de alto risco cardiovascular. O
estudo RACE II não provou nenhum benefício do controle estrito da frequência cardíaca
em pacientes com fibrilação atrial crônica. E
o estudo ACCORD não evidenciou vantagens da associação de fenofibrato à estatina
em diabéticos de alto risco.
Entre outras análises apresentadas na grade da programação científica, verificamos
que o estudo NAVIGATOR não demonstrou
benefício da nateglinida e do valsartan para
diminuição de eventos em pacientes diabéticos, embora o valsartan tenha diminuído
a incidência de diabetes melito. E o estudo
CILON, que analisou o benefício da adição
do cilostazol à terapia antiplaquetária usual
na prevenção de eventos vasculares isquêmicos após angioplastia com stent farmacológico, também não foi positivo.
Ficou evidente também que o estudo
DES-LATE não corroborou o uso do clopi-
dogrel após 12 meses da realização de intervenções coronárias percutâneas, e, segundo
o estudo SORT OUT III, o stent de segunda
geração com zotarolimus foi inferior ao de
primeira geração com sirolimus.
A questão que fica é: será que devemos
considerar todos esses estudos negativos
como um fracasso do Congresso e do modelo de ciência conduzido atualmente? A
resposta é não, justamente porque a condução desses estudos e o teste dessas várias
hipóteses pelo método científico adequado
dão mais segurança aos cardiologistas intervencionistas para a tomada de decisão na
prática clínica diária.
Muitos desses resultados devem ser encarados com base na antiga máxima da ética
médica Primum non nocere, ensinada nos
bancos escolares por nossos antigos e sábios professores. Na dúvida da efetividade
de um novo tratamento ou na incerteza entre um tratamento mais ou menos invasivo,
o ideal é optar por aquele com menor risco
e maior conforto para o paciente, seja pensando em usar determinada medicação por
mais ou menos tempo, com dose mais alta
ou mais baixa, seja para indicar um tratamento invasivo ou não, percutâneo ou cirúrgico.
A cidade de Atlanta, nos Estados Unidos,
recebeu o congresso anual do Amercian
College of Cardiology.
24
eleições
Pleito encerrado
A
A Sociedade Brasileira de Cardiologia divulga resultado
da eleição para a gestão 2012-2013. A nova Diretoria
contará com o trabalho de três hemodinamicistas
eleição para a Presidência da Sociedade Brasileira de Cardiologia
(SBC), gestão 2012-2013, chegou ao fim. No dia 18 de junho, o resultado
foi divulgado pelo site da entidade, apontando Jadelson Andrade (BA) como presidente
da Sociedade. A notícia é especialmente relevante para a SBHCI, porque, na equipe de
Andrade, estarão três hemodinamicistas da
nossa Sociedade: Luiz Alberto Mattos (SP),
ex-presidente da SBHCI, será diretor científico da próxima gestão; Alexandre Schaan de
Quadros (RS), atual diretor de Comunicação da nossa entidade, será o coordenador
do Conselho de Registros; e Antônio Carlos
de Camargo Carvalho (SP), diretor de Educação Médica Continuada da SBHCI.
A eleição deste ano teve número expressivo e recorde de votantes, sendo 48% superior à eleição anterior. De acordo com a
Comissão Eleitoral e de Ética Profissional da
SBC, 3.026 cardiologistas participaram do
pleito para o segundo turno.
Confiança baseada em Evidências
Stent Coronário com Biolimus A9
e Polímero Absor vível
T romb
b ose Intrr asten
nt
%
20
SPE
SEB
9
9,9
10,0
10,7
0%
1
0%
0%
8,5 8,0
NOBORI
6,6
Reestenose
TSA
TTA
%
SEE
18,8
17,0
14,2
NOBORI
10
SES
SEP
SEZ
24,6
23,0
BA9 com PLA é licenciado pela Biosensors International Group Ltd. para TERUMO CORPORATION
Reestenoss e e RLA
A
RLA
0,4%
0,3%
0,2%
0,3%
SES
SEP
0,5%
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0,7%
SPE
NOBORI
•Pequenos
Pequenos Vasoss
sbc
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1,1%
SEB
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2.211 pacientes
Perda Tardia
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1
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SES
SEP
SEZ
SPE
SEB
0%
0,24*
SEE
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0%
1,0%
1,0%
0,9%
0%
0%
0,8%
SEP
SEZ
SPE
SEB
SEE
0,6%
*p<0,05 para SEZ, SPE.
SEB - Stent Eluidor de Biolimus A9
SES - Stent Eluidor de Sirolimus
SEP - Stent Eluidor de Paclitaxel
SEZ - Stent Eluidor de Zotarolimus
SEE - Stent Eluidor de Everolimus
SPE - Stent com Células Progenitoras Endoteliais
TSA
TTA
0,5%
0,4%
NOBORI
0,27*
0,2%
NOBORI
•Diabéticos
1.481 pacientes, 2.507 lesões
TSA - Trombose Subaguda
TTA - Trombose Tardia Angiográfica
gráfica
ã Al
RLA - Revascularização da Lesão-Alvo.
Fonte: TCT 2009 - Nakamura, S. New Tokyo Hospital Registry from 2002 to 2007.
Dados em Arquivo
www.terumo.com.br
25
panorama
Novo Código de Ética Médica
Um novo código
para um novo tempo
Reunião da Comissão Nacional de Revisão do Código de Ética Médica, que aprovou as alterações
do documento em sessão na sede do Conselho Federal de Medicina, em Brasília (DF).
O novo Código de Ética Médica trata, entre outros temas, dos direitos dos médicos,
da responsabilidade profissional, da relação com pacientes e familiares, da relação
entre médicos, do sigilo profissional e da pesquisa médica
[Luciana Constant Daher (GO), editora]
26
A
pós dois anos de ampla consulta pública, no mês de abril
entrou em vigor o novo Código de Ética Médica (CEM), aprovado
entre conselheiros federais e regionais
de medicina, membros de sindicatos
e sociedades de especialidades, além
de representantes de várias entidades
médicas. São normas que elevam a relação entre médico e paciente a outro
patamar e respondem, prontamente,
aos dilemas impostos pela evolução da
tecnologia e das relações sociais.
O novo Código de Ética preserva a
essência do código anterior, em vigor
desde 1988, mesmo ano em que foi
publicada a Constituição Federal. Ao
longo das duas últimas décadas não
foram poucas as novas questões éticas colocadas pela evolução dos conhecimentos e das práticas no campo
da medicina. Além de considerar as
mudanças sociais, jurídicas e científicas, o novo Código levou em conta
os atuais códigos de ética médica de
outros países, e considerou elementos
de jurisprudência, posicionamentos
que já integram pareceres, decisões e
resoluções da Justiça, das Comissões
de Ética locais às resoluções éticas do
Conselho Federal de Medicina (CFM)
e Conselhos Regionais.
Foram revistos artigos polêmicos,
que versavam sobre delicados princípios fundamentais da medicina (a
prestação de serviços que contrariam
os avisos da consciência do médico, o
sigilo sobre atos profissionais e a proteção aos sujeitos de pesquisa). Também foram abordadas a responsabilidade profissional e as ações vedadas
(danos por ação ou omissão, abandono de plantão, flagrante ilegibilidade
caligráfica nas receitas, atestados e
laudos, descumprimento de legislação
sobre transplante de órgãos ou tecidos
e modificação genética).
Porém nem tudo mudou. Mantiveram-se os princípios tradicionais que
regem a prática médica, desde o juramento de Hipócrates: a honestidade e a
dedicação do médico, e sua obrigação
de preservar a vida, de não prejudicar
os doentes, mas sim respeitar seus interesses, sua privacidade e a confidencialidade. O paciente é um dos mais
beneficiados com a mudança. Um dos
Roberto Luiz d’Ávila (RJ), presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM).
objetivos mais claros do novo Código
é tornar a relação médico-paciente
mais transparente, participativa e comprometida, uma vez que o paciente irá
naturalmente comprometer-se mais,
participando das decisões.
Outro ponto mantido é a dupla finalidade do conjunto de deveres médicos,
que supõe a autonomia da prática profissional e também sua regulação. O
CEM serve de referência para a atuação judicante dos Conselhos de Medicina ao mesmo tempo em que é o guia
dos médicos em sua prática cotidiana a
serviço dos pacientes.
Para promover essa atualização do
documento, a Comissão Nacional e
as comissões regionais de Revisão
do Código de Ética Médica – integradas por representantes do Ministério
Público, Poder Judiciário, Sociedade
Brasileira de Bioética (SBB), Federação Nacional dos Médicos (Fenam) e
Associação Médica Brasileira (AMB)
– fizeram uma minuciosa avaliação de
2.575 sugestões de alteração encaminhadas por médicos e entidades organizadas, entre 2007 e 2009. Dessa
forma, foram criados os parâmetros do
que se sugere ser uma ação médica
responsável e ética.
Para o CFM, o desafio está posto
aos 350 mil médicos brasileiros em
atividade, além de 50 mil estudantes
de escolas de medicina que se aproximam da conclusão de seus cursos. “É
preciso estudar o que mudou, incorporar essa nova realidade à rotina e informar aos companheiros de trabalho
as diretrizes que inserem os profissionais no século 21”, afirma Desiré Carlos Callegari (SP), primeiro secretário
do CFM e presidente da Sociedade
de Anestesiologia do Estado de São
Paulo. “Seremos cobrados por isso e
temos de dar a resposta. Neste momento, precisamos mostrar mais uma
vez que os médicos brasileiros estão
prontos para servir, orientar, cuidar e
tratar com ética e responsabilidade.”
Opinião do Conselho Federal
de Medicina
Roberto Luiz d’Ávila (SC),
presidente do CFM
Todas as profissões estão submetidas ao controle da conduta moral de
quem as exerce, com base em código
de comportamento ético-profissional e
mecanismos de fiscalização. São re-
27
panorama
Novo Código de Ética Médica
Para o Conselho Federal de Medicina, o desafio está posto
aos 350 mil médicos brasileiros em atividade,
além de 50 mil estudantes de escolas de medicina.
gras que explicitam direitos e deveres.
Assim, num tempo em que o cidadão
tem cada vez mais acesso à informação e consciência das possibilidades
legais de questionar o que lhe é oferecido, o novo Código de Ética Médica exige da sociedade o compromisso
com a qualificação do ensino médico.
Mais de duas décadas após a versão
anterior – da época em que os planos
de saúde ainda não eram regulamentados –, o novo documento se enquadra
num universo onde o modelo assistencial brasileiro se confirma com uma
das mais importantes políticas sociais
do mundo, mesmo com fragilidades
que exigem reflexão sobre seu futuro.
Acreditamos que o novo Código oferecido pelos médicos à sociedade estimula esse debate. Previsões otimistas
indicam que o Brasil caminha para em
breve consolidar seu espaço entre as
grandes potências mundiais. No entanto, inexiste uma discussão profunda e
real sobre como esse novo contexto
será tratado pela assistência em saúde. Se, por um lado, garantimos a atualização das regras da ética médica,
por outro queremos uma resposta que
garanta o financiamento adequado ao
Sistema Único de Saúde (SUS), uma
política de recursos humanos para o
setor atenta às necessidades das diferentes categorias e da população e,
sobretudo, uma análise que considere
a convivência harmoniosa entre público e privado na prestação dos serviços
de saúde.
Enfim, temos um novo Código, mas
não uma nova ética. Contamos agora com um instrumento atualizado, de
olhar agudo para os dilemas da atuali-
Aldemir Humberto Soares (SP), secretário-geral da Associação Médica Brasileira (AMB).
28
dade. Certamente, os médicos estarão
atentos para realizar os ajustes percebidos como fundamentais, garantindo,
assim, que a medicina brasileira continue a avançar lado a lado com a justiça
e a ética.
Opinião da Associação
Médica Brasileira
Aldemir Humberto Soares (SP),
secretário-geral da AMB
O antigo Código de Ética Médica foi finalizado em 1988. Em vinte
anos, a medicina mudou muito. Sendo
assim, precisávamos de uma atualização, que abrangesse os importantes
avanços obtidos pela medicina nos
últimos anos. Uma das principais novidades trazidas pelo novo Código é
conferir ao doente autonomia para
decidir sobre seu tratamento, destacando o direito à informação sobre a
própria saúde e às decisões sobre o
tratamento, sempre em parceria com
o médico. Aqui entram os importantes
conhecimentos da medicina paliativa.
Outro ponto é a recomendação de que
os médicos não devem se submeter
à pressão de hospitais e clínicas para
atender maior número de pacientes
por jornada. Outra mudança diz respeito à medicina de reprodução. O
novo Código proíbe a criação de embriões para pesquisa e a escolha do
sexo do bebê nas clínicas de reprodução assistida. Vale dizer que, para
os que entendem a importância da
medicina e do Código de Ética Médica como indicação da boa conduta
amparada pela ética, é suficiente a leitura do atual texto, sem necessidade
de preparação complementar. A AMB
espera maior conscientização dos médicos brasileiros sobre a necessidade
de dedicar maior tempo ao bem-estar
dos pacientes.
Destaques do novo Código de Ética Médica
REMUNERAÇÃO PROFISSIONAL
É proibido remunerar por paciente encaminhado
“Oferecer ou aceitar remuneração ou vantagens por paciente encaminhado ou recebido, bem como por atendimentos não
prestados.” (Cap. 8, Art. 59). Este princípio já constava das Diretrizes de Qualidade Profissional da SBHCI desde 2008.
RELAÇÕES COM FARMÁCIAS
O médico não pode ter relação com comércio e farmácia
“Exercer a profissão com interação ou
dependência de farmácia, indústria farmacêutica, óptica ou qualquer organização destinada à fabricação, manipulação,
promoção ou comercialização de produtos de prescrição médica, qualquer que
seja sua natureza.” (Cap. 8, Art. 68). “É
vedado ao médico exercer simultaneamente a Medicina e a Farmácia ou obter vantagem pelo encaminhamento de
procedimentos, pela comercialização de
medicamentos, órteses, próteses ou implantes de qualquer natureza, cuja compra decorra de influência direta em virtude de sua atividade profissional”. (Cap.
8, Art. 69). Essas práticas prejudiciais
também estão descritas nas Diretrizes de
Qualidade Profissional da SBHCI como
prejudiciais à atuação médica.
ABANDONO DE PACIENTE
O médico não pode abandonar o paciente
“É vedado ao médico abandonar paciente sob seus cuidados.” (Cap. 5, Art. 36)
§ 1o: “Ocorrendo fatos que, a seu critério, prejudiquem o bom relacionamento
com o paciente ou o pleno desempenho
profissional, o médico tem o direito de
renunciar ao atendimento, desde que
comunique previamente ao paciente ou a
seu representante legal, assegurando-se
da continuidade dos cuidados e fornecendo todas as informações necessárias
ao médico que lhe suceder.”
ANÚNCIOS PROFISSIONAIS
É obrigatório incluir o número do
CRM em anúncios
“É vedado ao médico deixar de incluir,
em anúncios profissionais de qualquer
ordem, o seu número de inscrição
no Conselho Regional de Medicina.”
(Cap.12, Art. 118) Parágrafo único:
“Nos anúncios de estabelecimentos
de saúde devem constar o nome e o
número de registro, no Conselho Regional de Medicina, do diretor técnico.”
APOIO À CATEGORIA
O médico deve apoiar os movimentos
da categoria
“O médico será solidário com os movimentos de defesa da dignidade profissional, seja por remuneração digna
e justa seja por condições de trabalho
compatíveis com o exercício ético-profissional da Medicina e seu aprimoramento
técnico-científico.” (Cap. 1, XV)
CONDIÇÕES DE TRABALHO
O médico pode recusar a exercer a medicina em locais inadequados
“É direito do médico recusar-se a exercer
sua profissão em instituição pública ou
privada onde as condições de trabalho
não sejam dignas ou possam prejudicar
a própria saúde ou a do paciente, bem
como a dos demais profissionais. Nesse
caso, comunicará imediatamente sua decisão à comissão de ética e ao Conselho
Regional de Medicina.” (Cap. 2, IV)
CONFLITO DE INTERESSES
O médico é obrigado a declarar conflitos
de interesses
“É vedado ao médico deixar de zelar,
quando docente ou autor de publicações científicas, pela veracidade,
clareza e imparcialidade das informações apresentadas, bem como deixar
de declarar relações com a indústria
de medicamentos, órteses, próteses,
equipamentos, implantes de qualquer
natureza e outras que possam configurar conflitos de interesses, ainda
que em potencial.” (Cap. 12, Art. 109)
“É vedado ao médico anunciar títulos
científicos que não possa comprovar e
especialidade ou área de atuação para
a qual não esteja qualificado e registrado no Conselho Regional de Medicina.”
(Cap. 12, Art. 109)
CONSENTIMENTO ESCLARECIDO
O paciente precisa dar o consentimento
“É vedado ao médico deixar de obter
consentimento do paciente ou de seu
representante legal após esclarecê-lo
sobre o procedimento a ser realizado,
salvo em caso de risco iminente de
morte.” (Cap. 4, Art. 22)
DIREITO DE ESCOLHA
O médico deve aceitar as escolhas
dos pacientes
“No processo de tomada de decisões
profissionais, de acordo com seus ditames de consciência e as previsões
legais, o médico aceitará as escolhas
de seus pacientes, relativas aos procedimentos diagnósticos e terapêuticos por
eles expressos, desde que adequadas
ao caso e cientificamente reconhecidas.”
(Cap. 1, XXI)
LIMITAÇÃO DE TRATAMENTO
Nada pode limitar o médico em definir o
tratamento
“Nenhuma disposição estatutária ou regimental de hospital ou de instituição,
pública ou privada, limitará a escolha,
pelo médico, dos meios cientificamente
reconhecidos a serem praticados para o
estabelecimento do diagnóstico e da execução do tratamento, salvo quando em
benefício do paciente.” (Cap. 1, XVI)
RESPONSABILIDADE
A responsabilidade médica é pessoal e
não pode ser presumida
“É vedado ao médico causar dano ao
paciente, por ação ou omissão, caracterizável como imperícia, imprudência ou negligência.” (Cap. 3, Art. 1o)
Parágrafo único: “A responsabilidade
médica é sempre pessoal e não pode
ser presumida.”
SEGUNDA OPINIÃO
O paciente tem direito a uma segunda opinião e a ser encaminhado a outro médico
“É vedado ao médico opor-se à realização
de junta médica ou segunda opinião solicitada pelo paciente ou por seu representante legal.” (Cap. 5, Art. 39) “É vedado
ao médico deixar de encaminhar o paciente que lhe foi enviado para procedimento
especializado de volta ao médico assistente e, na ocasião, fornecer-lhe as devidas
informações sobre o ocorrido no período
em que por ele se responsabilizou.” (Cap.
7, Art. 53) “É vedado ao médico desrespeitar a prescrição ou o tratamento de
paciente, determinados por outro médico,
mesmo quando em função de chefia ou
de auditoria, salvo em situação de indiscutível benefício para o paciente, devendo
comunicar imediatamente o fato ao médico responsável.” (Cap. 7, Art. 52)
29
panorama
Novo Código de Ética Médica
Opinião da Sociedade Brasileira
de Cardiologia
Fábio Sândoli de Brito (SP), diretor
de Qualidade Assistencial da SBC
O novo Código de Ética é um normalizador da conduta dos médicos que
se modernizou. Fala sobre transplantes
e células-tronco, entre outros assuntos
atuais, que, evidentemente, o código
antigo não menciona. É importante
dizer que a ética médica está no profissional, e não no código. O médico
aprende a ser ético desde a escola, por
meio da educação dos pais, da vida
que ele leva na faculdade e, depois, na
profissão. O médico não ético também
depende de toda essa informação, e
não é o código que vai mudar isso.
Um ponto interessante do Código é
a menção que caracteriza como falta
de ética a prática de procedimentos
desnecessários. Um exemplo de problema de ética discutível é a solicitação
exagerada de exames – costume generalizado nos atendimentos dos planos
de saúde, que pedem exames de A a
Z. Costumo dizer que é a high tech no
touch (alta tecnologia sem toque), em
que o profissional mal examina o paciente. Seria ético se os médicos voltassem a conversar, examinar, usar o
estetoscópio, e isso não está acontecendo na medicina moderna. A SBC
possui uma Diretoria de Qualidade Assistencial, que visa a melhorar o atendimento ao paciente. A base é seguir as
diretrizes, normas aprovadas por especialistas sobre o que é bom para o paciente. Embora não esteja explícito no
Código, quando se fala em não praticar
procedimentos desnecessários, obviamente as diretrizes não estão sendo
seguidas. Somente implantaremos um
stent quando for preciso; colocaremos
um marca-passo quando necessário;
pediremos exames complexos quando
forem essenciais ao tratamento. Devemos olhar hoje a ética médica como
Fábio Sândoli de Brito (SP), diretor de Qualidade Assistencial
da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
uma maior dedicação do médico ao
paciente como pessoa. Devemos tratar
pessoas, e não exames. E lutar pelo tripé da qualidade assistencial: o título de
especialista que qualifica o médico, as
diretrizes que classificam o que o médico está fazendo e a qualificação dos
serviços que fazem os exames.
Opinião da Sociedade Brasileira
de Hemodinâmica e Cardiologia
Intervencionista
Maurício de Rezende Barbosa (MG),
presidente da SBHCI
Entre as transformações do mundo
moderno que testemunhamos nas últimas
décadas, destacam-se o desenvolvimento da informação rápida através dos novos meios de comunicação e os grandes
avanços na medicina. A cardiologia inter-
vencionista protagonizou um rápido progresso, consolidando a intervenção percutânea com stents como a modalidade
predominante de tratamento da doença
obstrutiva coronária. Neste período de
grandes mudanças vigorou o Código de
Ética de 1988, que é um bom documento, mas foi necessária sua atualização,
ajustando-o às mudanças dos últimos 22
anos. É importante que o Código seja
estudado e conhecido e que tenha, principalmente, suas premissas praticadas. O
novo texto destaca a importância da participação dos pacientes e familiares no processo de tomadas das decisões durante
o tratamento médico, observando sempre
as práticas reconhecidas cientificamente.
Esse entendimento é sem dúvida o caminho adequado para melhores resultados
clínicos, minimizando os problemas e lití-
O médico não ético também depende de toda essa informação, e
não é o código que vai mudar isso.
Fábio Sândoli de Brito, diretor de Qualidade Assistencial da SBC
30
gios. O novo código reza que é vedado ao
médico oferecer ou aceitar remuneração
por paciente encaminhado, assim como é
vedado exercer a profissão com interação
ou dependência de farmácia ou indústria,
aspectos já contemplados na Diretriz de
Qualidade Profissional da SBHCI publicada em 2008. Afirma o Código de Ética
que são direitos do médico indicar o procedimento adequado a seu paciente e estabelecer seus honorários de forma digna
e justa. O novo texto, atual e objetivo, fala
ainda sobre direitos humanos e relação
com pacientes e familiares, destaca a
importância dos documentos médicos e
orienta a prática do ensino e a pesquisa.
O Código deve ser estudado minuciosamente e incorporado a nossa prática clínica diária, visando à constante evolução
na relação entre o médico e o paciente,
implementando constantemente os resultados da cardiologia intervencionista.
Maurício de Rezende Barbosa (MG),
presidente da SBHCI.
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sistema melhora o cruzamento da lesão e oferece
uma navegabilidade aprimorada. PRO-Kinetic Energy
é revestido com PROBIO®, revestimento passivo que:
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Diminui a agregação plaquetária
Melhora a endotelização sendo, portanto,
hemo e biocompatível
A combinação destes fatores se traduz em sucesso no
procedimento e no tratamento do paciente.
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31
bate-bola Washington stecanela cerqueira
Coração valente
Sete anos após receber o implante de três stents, o jogador de futebol
Washington é um exemplo de superação dentro e fora dos gramados
N
o mundo do futebol, é comum
que jogadores oscilem entre
bons e maus momentos. O
problema é quando algo que acontece
fora das quatro linhas pode vir a prejudicar a carreira do atleta. A história
de Washington Stecanela Cerqueira é
um dos casos que contraria as estatísticas. Força de vontade e disciplina
representam a volta por cima do jo-
32
gador, que recebeu o diagnóstico de
doença cardíaca em plena atividade.
Em 1996, Washington descobriu
que tinha diabetes e chegou a pensar
que não poderia mais jogar. Foi obrigado a mudar radicalmente sua rotina,
ter sua dieta controlada por nutricionistas, monitorar constantemente a
glicose e realizar aplicações diárias
de insulina. Seis anos depois, quando
defendia o clube Fenerbahce, na Turquia, o jogador começou a apresentar
angina, e um cateterismo demonstrou
a presença de cardiopatia isquêmica
com estenose de 90% em uma das
artérias coronárias. Foi submetido às
pressas a uma angioplastia coronariana na cidade de Istambul, quando
recebeu seu primeiro stent.
A recuperação ia bem, mas a rela-
ção com o clube turco não, e foi logo
afastado do time. “Foi um momento
delicado, mas também um período de
aprendizado”, conta Washington. “Estava em um país que não era o meu
e tive de superar as dificuldades que
apareceram”, afirma, lembrando que
não recebeu apoio do clube, que deixou de pagar seu salário. Voltou ao
Brasil e, numa bateria de exames seis
meses depois do tratamento, um grupo de cardiologistas intervencionistas,
liderado por Costantino Costantini
(PR), demonstrou reestenose no stent
previamente implantado, e progressão
da doença em outro vaso. Naquele momento, o chão de Washington
desmoronou. “Fiquei assustado e só
pensava na família. Passei a estudar o
meu problema e a ter acompanhamento médico constante”, conta.
Em 2003, o jogador recebeu dois
novos stents, dessa vez recobertos
com rapamicina. Após passar por
uma série de novos testes que apresentaram resultados animadores, foi
finalmente liberado para a prática do
esporte.
Em 2004, Washington voltou a
jogar pelo Clube Atlético Paranaense, onde recebeu o apelido de “Coração Valente” por comemorar cada
gol marcado batendo a mão direita
no peito. “Foi uma volta triunfal e sou
grato demais a esse clube. A torcida me abraçou e lá tive a certeza de
que minha carreira ainda tinha muito
que percorrer”, conta. Ele tinha razão.
Desde então vem apresentando um
desempenho invejável.
Conquistou títulos por equipe e pessoais. Foi recordista do Campeonato
Brasileiro em 2004, com 34 gols (o
maior número de conclusões da his-
tória em um único torneio); recebeu
os prêmios Bola de Prata e Chuteira
de Ouro da Revista Placar no mesmo
ano; foi artilheiro do campeonato japonês em 2006; foi o maior goleador do Mundial de Clubes em 2007;
e conquistou novamente a artilharia
do Brasileirão e a Bola de Prata em
2008. Casado e pai de duas filhas,
Washington atribui suas vitórias, dentro e fora de campo, a sua família e a
Deus. “Esses são os principais alicerces da minha vida”, diz.
Em ano de Copa do Mundo, o assunto “seleção” não poderia ficar de
fora. Washington vestiu a amarelinha
por dez jogos entre 2001 e 2002. “A
Seleção Brasileira sempre conta com
uma grande variedade de atacantes
para convocar. Tive minha chance,
poderia ter outras depois, mas não
vou ficar lamentando”, diz o jogador.
“Cada treinador tem suas preferências
e já vimos grandes craques não terem
oportunidade de jogar pelo Brasil.”
Hoje Washington encara a situação
como uma oportunidade de viver mesmo tendo a doença. “Hoje me sinto
perfeitamente saudável e afirmo que
tenho até menos riscos que os outros
jogadores, pois estou sempre monitorando meu corpo e realizando exames
quase que semanais”, diz o atleta. “Já
faz parte do meu cotidiano, como almoçar ou tomar banho.”
Desde dezembro de 2008, Washington defende o São Paulo Futebol
Clube. “Gostaria de atuar mais. Acho
que o jogador que está satisfeito por
ficar no banco deve procurar outra
profissão”, diz o artilheiro do clube
paulista. “Vou continuar trabalhando
forte e sei que meu momento novamente vai chegar.”
Hoje me sinto perfeitamente saudável
e afirmo que tenho até menos riscos
que os outros jogadores.
33
opinião
Novo Código de Ética
Médica: grande passo
A práxis médica é regida por códigos de conduta e o Código de Hamurabi
foi o primeiro código regulamentador conhecido da atividade médica
[Luciana Constant Daher (GO), editora]
S
éculo da tecnologia. Assim foi chamado o século XX, quando, especialmente em sua segunda metade, a humanidade adquiriu conhecimentos como jamais
observado em toda a história. Já o século XXI
registrou, na primeira década, o surgimento
de um arsenal diagnóstico e terapêutico considerável nas áreas de imagens e terapias
gênicas, entre inúmeras outras. A influência
da ciência e das descobertas tecnológicas
na medicina teve impacto profundo na prática médica, com um número crescente de
desafios éticos, entre eles o de como distribuir igualitariamente as conquistas médicotecnológicas num país com uma distribuição
de renda tão desigual como o Brasil.
Hamurabi (1728-1686 a.C.), o soberano que mais se destacou na Mesopotâmia,
elaborou o primeiro código regulamentador
da atividade médica de que se tem notícia.
Conhecido como Código de Hamurabi, consistia na verdade de um conjunto de leis e
punições destinadas a toda a sociedade babilônica de então. Coube a Hipócrates (Cós,
460–Tessália, 377 a.C.), médico da Antiga
34
Grécia e considerado por muitos uma das figuras mais importantes da história da saúde,
frequentemente considerado “pai da medicina”, o abandono do misticismo e a introdução
da racionalidade na medicina, criticando, entretanto, o racionalismo a priori da filosofia.
Assim, para compreensão da doença, o único caminho era o exame do corpo de cada
homem no seu caráter mais singular, pura
aplicação da razão associada ao humanismo.
Na atual época de avanços tecnológicos
inimagináveis, não há como esquecer a importância do diálogo permanente entre tecnologia e ética. Tecnologia e humanismo não
são incompatíveis; ao contrário, somam-se à
promoção da melhoria da qualidade de vida.
Para atender às demandas dessa atual e
complexa sociedade, entrou em vigor, em
abril de 2010, o novo Código de Ética Médica. Ele contempla com regras mais claras
a prática médica diante dos avanços tecnológicos da última década, privilegiando inequivocamente a relação médico-paciente. O
documento reforça o caráter profundamente
humano dessa relação e dá ênfase à autono-
mia do paciente, colocando-o como coautor
de seu tratamento, ao contrário do que propunha o princípio hipocrático, quando os pacientes eram meros destinatários das condutas médicas, uma clara relação paternalista
que não é mais aceita pela sociedade atual.
O novo código se tornou mais abrangente
não somente por tratar do ato médico diante
do paciente, mas por estender suas normas
à gestão em saúde, ao ensino médico e à
pesquisa. Pela primeira vez são abordadas
questões sensíveis como manipulação genética, impondo restrições explícitas a seu uso
indevido, sexagem ou eugenia.
No campo das pesquisas científicas, além
do consentimento obrigatório do paciente
para participar dessas pesquisas, especifica
a necessidade da declaração de conflito de
interesses na relação do médico com a indústria farmacêutica e/ou fabricante de equipamentos. Esse é um inestimável avanço na
garantia de isenção e transparência na pesquisa, fundamental para essa relação personalíssima que é a relação médico-paciente.
Medicina não é uma atividade comercial, e
não deve pairar nenhuma sombra sobre a
isenção de uma proposta terapêutica.
Há muito a ser conquistado nas questões de políticas públicas, como melhoria
da infraestrutura e remuneração justa dos
profissionais da saúde, mas um grande
passo foi dado para que a sociedade se
mobilize na reivindicação de seu direito incontestável à saúde.
São três os princípios clássicos de toda
ação médica: beneficência, justiça e autonomia. Gostaria de destacar dois desses princípios para reflexão: justiça e autonomia. Se a
justiça consiste no dever de aplicar o melhor
tratamento possível a todos os pacientes e
a autonomia consiste na liberdade de atuar
sem imposições ou coações, como exercêlas dignamente com as crescentes restrições
das operadoras de saúde?
9 a 12
XXXI Congresso Português de Cardiologia
Chicago, Estados Unidos
www.picsymposium.com/
22 a 24
XXXII Congresso da SBHCI
Belo Horizonte, MG
www.sbhci.org.br
setembro
julho
agenda
11 a 13
XVI Congresso SOLACI – Sociedad
Latinoamericana de Cardiologia Intervencionista
XX Congresso CACI – Colegio Argentino de
Cardiologia Intervencionista
Bueno Aires, Argentina
www.solaci2010.com
28 a 1o/9
ESC Congress 2010 – Sociedade
Europeia de Cardiologia
Estocolmo, Suécia
www.escardio.org
outubro
novembro
6
PEC-CE
XXX Congresso Norte-Nordeste de Cardiologia
e XVI Congresso Cearense de Cardiologia
Fortaleza, CE
www.sbhci.org.br
20 a 23
Reunião Científica Anual Socime 2010
San Luis Potosi, México
www.socime.com.mx
22 e 23
Curso Avançado em Aterotrombose
Diagnóstico e Tratamento
Porto Alegre, RS
www.caat2010.com.br
29 e 30
4rd Imaging & Physiology Summit 2010
Seul, Coreia do Sul
www.imaging-physiology.com
dezembro
agosto
5a7
XXX Congresso Norte-Nordeste de Cardiologia
XVI Congresso Cearense de Cardiologia
Fortaleza, CE
www.snnehci.org.br
25 a 29
65o Congresso Brasileiro de Cardiologia
Belo Horizonte, MG
congresso.cardiol.br/65
2a6
CIRSE 2010 – Cardiovascular and Interventional
Radiological Society of Europe
Valencia, Espanha
www.cirse.org
4a7
27o Congresso de Cardiologia da SOCERJ –
Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, RJ
www.socerj.org.br
5a7
SOCERGS 2010 – Congresso de Cardiologia
do Rio Grande do Sul
Gramado, RS
www.socergs.org.br
21
TCT 2010 – Transcatheter Cardiovascular Therapeutics
Washington, DC, Estados Unidos
www.tctconferece.com
13 a 17
AHA 2010 – American Heart Association
Scientific Sessions
Illinois, Estados Unidos
scientificsessions.americanheart.org
3e4
Endovascular Summit 2010
Sidney, Austrália
www.endovascularsummit.net
5a7
ICI 2010 – Innovations in Cardiovascular
Interventions
Tel-Aviv, Israel
www.icimeeting.com
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA
E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
Gestão 2010-2011
Presidente: Maurício de Rezende Barbosa (MG)
Diretor Administrativo: Marcelo José de Carvalho Cantarelli (SP)
Diretor Financeiro: Fernando Stucchi Devito (SP)
Diretor Científico: Fábio Sândoli de Brito Jr. (SP)
Diretor de Comunicação: Alexandre Schaan de Quadros (RS)
Diretor de Qualidade Profissional: Adriano Dias Dourado Oliveira (BA)
Diretor de Educação Médica Continuada: Antônio Carlos de Camargo Carvalho (SP)
Diretor de Intervenções Extracardíacas: Marco Vugman Wainstein (RS)
Diretor de Intervenções em Cardiopatias Congênitas: Francisco José Araújo Chamié de Queiróz (RJ)
Editores do Jornal da SBHCI: Flávio Oliveira (PE), Hélio Castello (SP), João Luiz Manica (RS) e Luciana Constant Daher (GO)
www.sbhci.org.br
Rua Beira Rio, 45 – cjs. 71 e 74 – Vila Olímpia
São Paulo, SP – CEP 04548-050
Fone: (11) 3849-5034
Jornal da SBHCI é uma publicação trimestral da Sociedade Brasileira de
Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista – SBHCI. Os textos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não refletem necessariamente a opinião da SBHCI.
Edição e jornalista resp.: André Ciasca, mtb 31.963
Reportagem: Carla Ciasca
Projeto gráfico e direção de arte: Manoela Tourinho
Revisão: CEV - Casa Editorial Ventura
Edição de Fotos: Gislene Simonetti
Tiragem: 9.500 exemplares
Impressão: Ipsis
www.take-a-coffee.com
Fone: (11) 3571.5353
Skype: take.a.coffee
35
take-a-coffee.com
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HEMODINÂMICA
E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA
36
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