A PSICOLOGIA DO ESPORTE NO ESPORTE DE ALTO RENDIMENTO Francisco García Ucha Para alguns psicólogos e outros especialistas das Ciências do Esporte é comum pensar que a Psicologia do Esporte teve seu início na área do esporte de elite, o qual também denominamos Esporte de Alto Rendimento. Este modo de pensar provém da importância que cobra o esporte altamente competitivo com o estabelecimento dos Jogos Olímpicos Modernos, desde anos posteriores à Segunda Guerra Mundial até a atualidade. Em realidade, os primeiros estudos em Psicologia do Esporte começam, no esporte infantil e juvenil, nas escolas de educação média ou universidades. Em países como Estados Unidos, Rússia e Alemanha, em fins do século XIX, e também na antiga União Soviética por volta de 1920. É conveniente assinalar, como argumenta Balagué (2006): “Uma das primeiras aclarações que se há de fazer é que o esporte de alto rendimento é só uma das áreas de intervenção”. A autora propõe a seguinte definição dos objetivos da Psicologia do Esporte de Alto Rendimento: “proporcionar ferramentas e eliminar obstáculos para que os desportistas e treinadores consigam seu nível elevado”. A Psicologia do Esporte é, como toda ciência, um processo social e, portanto, o dever da sociedade influencia de forma determinante seu desenvolvimento, passando desde etapas progressivas até períodos regressivos e novamente progressivos. Por isso, o desenvolvimento do esporte influencia a intervenção das ciências do esporte e, entre elas, a psicologia esporte no alto rendimento. Separar o conhecimento exato e rigoroso mediante o qual se constrói uma disciplina científica das valorações e considerações ideológicas, fruto do processo social, constitui um erro técnico e metodológico que não permitiria clarificar a história e o futuro da ciência; por isso, todo avanço ou retrocesso depende de condições de ordem sociológica. O interesse pela Psicologia do Esporte, como sinalizamos anteriormente, começa pela inquietude de pedagogos, professores de Educação Física, treinadores e psicólogos, que advertem sobre a existência de contradições no processo da atividade física; a educação física e o esporte de tipo escolar e juvenil, por exemplo. Os primeiros aportes em referência ao nascimento da Psicologia do Esporte no leste europeu são atribuídos a P. Lesgaft, o qual na Rússia do princípio do século 20 (1901) descreveu os possíveis benefícios psicológicos da atividade física em crianças. Com o propósito de estabelecer-se uma ordem condutora das idéias que se expõe neste capítulo, estaremos referenciando, em primeiro lugar, o desenvolvimento da Psicologia do Esporte e sua irrupção no Esporte de Alto Rendimento na antiga União Soviética e, posteriormente, a trajetória seguida pelos EUA, bem como por Cuba. Considera-se que Lesgaft (1901) incorporou, de forma decisiva, a Psicologia à Educação Física. Sua obra de maior destaque foi “Guia da Educação Física da Idade Escolar”. No entanto, somente depois da Revolução de Outubro de 1917, é que são criados Institutos Especializados em Cultura Física e Esporte em Moscou e Leningrado (Petrogrado). Nestes institutos se retomou a idéia de Lesgaft, e Rudick (1974) e Puni (1973), entre os anos de 1925 e 1926, considerados os pais da Psicologia do Esporte soviética, começaram seus primeiros trabalhos no âmbito dos laboratórios voltados para a formação de professores de Educação Física e Esporte. Entre 1925 e 1930 começaram a aparecer as primeiras publicações de Psicologia do Esporte. Rudick (1973) apresentou “A influência do trabalho muscular no tempo de reação” e Puni (1974) seus ensaios “Em torno da influência das lições de Educação Física sobre o domínio de si mesmo”. Os primeiros trabalhos de Puni (1929) foram sobre a “Influência psicofisiológica do tênis de mesa” e o estudo da “Influência das competições sobre a psique dos esquiadores”. Puni, nos anos 30 do século 20, realizou todo um trabalho dirigido à fundamentação teórica e metodológica da Psicologia do Esporte sob a base de uma orientação marxista, cujo pilar fundamental seria o reconhecimento de que a psique do homem se manifesta e se desenvolve na atividade sob a influência de suas condições objetivas e subjetivas. A determinação destes princípios teóricos e metodológicos exerceu uma influência decisiva no desenvolvimento da Psicologia do Esporte soviética pois, a partir de então, passaram a ser estudadas as características específicas e condições objetivas da atividade desportiva, tanto nos seus aspectos comuns como no singular de cada modalidade esportiva. Seguindo esta direção, foram estudados também os problemas psicológicos relacionados com a preparação física, técnica e tática dos desportistas, assim como os aspectos relacionados com a competição desportiva. A atividade dos psicólogos do esporte se consolidou no esporte de alto rendimento depois da Segunda Guerra Mundial no período que abarca desde 1945 até 1957, com a aplicação de princípios metodológicos aplicados à área da aprendizagem motora, à personalidade e à preparação psicológica. A principal causa para o desenvolvimento das Ciências do Esporte, dentre elas a Psicologia do Esporte, é atribuída à “Guerra Fria”, dado o interesse de cada um dos dois sistemas vigentes, nessa época, em dominar cada uma das esferas da atividade humana. Na antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a Psicologia do Esporte se dedicou de maneira preponderante, a assegurar a preparação psicológica dos desportistas de alto rendimento para as competições, já que esta atividade científica se relacionava com os rendimentos esportivos na arena internacional, lugar de confrontação de ambos os sistemas sociais. Realizaram-se, após este propósito, tanto investigações teóricas como práticas e aplicações importantes dos resultados mais avançados da psicologia da época. A partir dos anos 60, o tema da preparação psicológica do desportista para as competições se intensificou, em função de uma observação sistemática das demandas psicológicas de cada modalidade esportiva e das necessidades específicas de cada desportista. Durante esse período foram realizadas cinco Conferências Nacionais dedicadas ao tema. Rudik (1968) assinala que na década compreendida pelos anos 60 foram objeto de estudo: a dinâmica do desenvolvimento das funções psicológicas no processo de treinamento e competições desportivas; bases psicológicas da preparação volitiva; preparação psicológica do desportista para a execução da ação em competição; a personalidade do desportista e a psicologia do esporte nas etapas escolar e juvenil. Uma influência importante no desenvolvimento da Psicologia do Esporte dentro do ângulo do alto rendimento adveio com as Olimpíadas da Cidade do México, em 1968. Disputadas a cerca de 2.400m acima do nível do mar, acarretaram na necessidade de numerosos estudos sobre como esta condição climática iria impactar no rendimento dos desportistas. Já nos anos 70 e 80 os psicólogos do esporte continuaram o aperfeiçoamento dos procedimentos da preparação psicológica dos atletas de alto rendimento, a seleção de talentos, a psicologia do esporte infantil e juvenil, a recuperação do desportista, aspectos da psicologia social no esporte e a formação do treinador como Mestre em Psicologia. Cruz Feliu (1990, 1991) argumenta que a Psicologia do Esporte na União Soviética (URSS) deu uma contribuição singular à metodologia das pesquisas e ao trabalho prático dos psicólogos do esporte, estabelecendo as bases para considerar o papel ativo da personalidade do desportista nas condições da atividade. Apesar do desenvolvimento das idéias acerca da preparação psicológica tanto por parte de Puni (1969), Rudik (1982), Rodionov (1983) e Gorbunov (1988) e outros psicólogos soviéticos, as concepções destes autores giram – com alguns matizes diferenciais – em torno da formação do estado de “predisposição psicológica” para a competição. Tudo isso tendo como ponto de partida para a obtenção deste estado psicológico o sistema que estrutura a preparação psicológica em três tipos básicos: geral, especial e direto. Cada um destes tipos de preparação psicológica exige tarefas de ordem diferente, ainda que encaminhadas à formação da predisposição psicológica e ao aperfeiçoamento das capacidades psicológicas que são premissas do rendimento. Assim, a preparação psicológica geral tem como propósito o aperfeiçoamento das capacidades psicológicas vinculadas à ação motriz, à garantia do suporte psicológico da técnica e da tática e à formação e desenvolvimento das qualidades volitivas e morais do desportista. A preparação psicológica especial se concentra no desenvolvimento da predisposição psicológica para a competição. A preparação psicológica direta para a execução imediata da ação tem como meta garantir o ótimo funcionamento dos processos de atenção do desportista e se subdivide em duas fases: a primeira dedicada à orientação da atenção e a segunda, a sua concentração. Difere substancialmente da preparação psicológica especial, fundamentalmente, por seu conteúdo e pelo tempo em que as mesmas se realizam. Em suma, a preparação psicológica resulta em um complicado processo em que se encontram envolvidos os processos, qualidades, propriedades e estados psicológicos da personalidade do desportista, com as características peculiares de cada tipo de esporte, de suas exigências e com as particularidades estruturais, organizacionais e funcionais dos períodos e etapas do processo do treinamento e competição. Uma visão tão ampla do trabalho da preparação psicológica do desportista para as competições requer um enfoque no sistema de sua abordagem por parte dos especialistas. No entanto, os autores soviéticos não esclareceram a forma de integrar os diferentes aspectos da preparação psicológica, dedicando desta maneira um enfoque total das potencialidades dos desportistas e que teve como categoria central a personalidade. Isto teve certas conseqüências para que se pudesse aproveitar os procedimentos e técnicas empregadas durante a preparação psicológica. Apesar da consistência teórica e metodológica da concepção desenvolvida pelos psicólogos soviéticos, já em meados dos anos 80 (oitenta) se podiam analisar algumas limitações em sua elaboração na prática. Neste período, García Ucha (1982) alertou que a formulação de vários tipos de preparação psicológica para as competições implicava na realização de muitas tarefas específicas, perdendo-se com freqüência, no marco destas atividades, os propósitos essenciais da preparação psicológica relativos à categoria personalidade do desportista. Da maneira em que se colocava a preparação psicológica esta ficava dirigida às estruturas da mente de forma separada. Por exemplo, se atendia ao aperfeiçoamento das bases psicológicas da atividade motriz, por outro lado aos fundamentos psicológicos da tática e também, em outro ângulo, à garantia da regulação das manifestações emocionais negativas antes da competição. A falta de um enfoque integral, em que a categoria personalidade resultava como chave, influía no próprio processo de diagnóstico do grau de preparação psicológica, formado exclusivamente por elementos psicológicos isolados. García Ucha (1982) enfatizou que tal fato se devia à ausência da aplicação do Princípio da Personalidade nos estudos e tarefas dos psicólogos do esporte soviéticos. Esta deficiência levou a uma visão “reducionista” da preparação psicológica do atleta para as competições de alto rendimento. O Princípio da Personalidade tem por essência colocar a personalidade como uma categoria integradora e central dentro do sistema de categorias psicológicas desde o ponto de vista teórico e metodológico. Os autores soviéticos, apesar de partirem do enfoque teórico e metodológico sócio-cultural desenvolvido de forma monumental por Vigotski em 1934 (1969) e muitos outros autores de orientação marxista, não tinham o foco de sua atenção na personalidade, antes, porém, na teoria da atividade desenvolvida por Leontiev (1978). No entanto, uma aproximação ao princípio da personalidade que expressa o propósito de adquirir uma compreensão integrada das funções reguladoras e criativas da personalidade, vista como um todo foi exposta por diferentes investigadores, dentre os quais se destacam: Shorojova ( 1980), D’Angelo Hernández (1989). O princípio, explicitado, propõe que todos os processos, propriedades e estados psíquicos se analisam como pertencentes a um indivíduo concreto e isso pressupõe que a personalidade se interprete não como um conjunto de processos, propriedades e estados psíquicos isolados, antes como elemento de determinada estrutura. Deste modo, por norma, os elementos da esfera de motivação, assim como de outras funções do indivíduo, constituem uma expressão fundamental da personalidade como unidade sistêmica. Ainda que não devamos ver o princípio de forma esquemática, se faz necessário enfatizar que o fato de realizar-se uma pesquisa, por exemplo, da motivação do desportista, deva ser aplicando o princípio da personalidade. Para tanto, é necessário que se leve em consideração sua dinâmica na regulação da personalidade, do contrário, dificilmente poderia expressar-se o enfoque da personalidade. O Princípio da Personalidade não significa qualquer estudo da personalidade, mas sim que, por meio dela e como em um todo, se conhecem seus elementos e os nexos destes elementos tanto entre si como também com a personalidade íntegra. Tal formulação resulta importante, uma vez que, destaca o caráter totalizador e integrador da personalidade, o que põe de manifesto a interação entre sistemas das distintas propriedades da personalidade como síntese de complexas estruturas. Assim, cada propriedade da personalidade é simultaneamente a expressão da inclinação, do caráter, necessidades, herança e atividade. O estudo daquelas unidades integrais como o é a orientação da personalidade, ao conter as relações entre diversas propriedades particulares, aponta para a compreensão mais ampla da personalidade e constitui uma via possível de aplicação do enfoque centrado na personalidade. Por exemplo, se são descritas as reações frente ao fracasso de um desportista, quando se refere à expressão destas reações pode-se, devido a sua intensidade, chegar a um estado denominado “afeto de inadequação”. Analisado sob ótica do Princípio da Personalidade, a reação emocional ante o fracasso pode ser explicada a partir de um complexo subsistema da personalidade, integrado pela orientação desta, autovalorização, insegurança, grau de aspiração e intensidade e conteúdo dos motivos vinculados ao esporte. Donde se conclui que orientar-se pelo Princípio da Personalidade implica levar em consideração o caráter integral e interno, psicológico, de determinados subsistemas reguladores das distintas expressões do homem. O Princípio da Personalidade chama a atenção sobre o caráter da relação entre as formações psicológicas integradoras complexas da personalidade e suas formações reguladoras. Para D’Angelo Hernández (1989) esta expressão do Princípio da Personalidade apresenta uma alternativa produtiva para sua aplicação na prática investigativa e para a compreensão totalizadora da subjetividade, que se distingue, ademais, pelo caráter aberto da investigação, pela possibilidade de descobrimento das formas de funcionamento e integração dos diferentes subsistemas de regulação. Em suma, o Princípio da Personalidade que se desenvolve dentro da própria Psicologia Geral Soviética, apesar de seu conhecimento e de sua exaltação pelos psicólogos do esporte soviéticos e de outros países do excampo socialista, na prática profissional não se apresentava em coerência com ele mesmo. Resulta evidente que, ao não se incluir o Princípio da Personalidade como fundamento integrador, se incorre em uma utilização metodológica incorreta dos meios e procedimentos tanto no diagnóstico como nas intervenções a realizar, sendo esta uma das causas que dão lugar a atividades e recomendações no esporte que são pouco eficazes na solução das diferentes alternativas que deve enfrentar o desportista. Para García Ucha (2000), um dos fatores de maior incidência para que ocorra este distanciamento e incongruências na Psicologia do Esporte Soviética se identifica com a imperfeita conexão entre os descobrimentos conseguidos pela psicologia soviética e sua assimilação por quem devem tê-los generalizado à prática profissional. Na antiga União Soviética a imensa maioria dos especialistas em Psicologia do Esporte não era de psicólogos e sim de professores de Educação Física ou treinadores que adquiriam o grau de mestre ou de doutores em Ciências Psicológicas nos Institutos de Cultura Física e Esporte, por isso não tinha uma compreensão exata e a ponderação adequada do Princípio da Personalidade e de outras elaborações da teoria psicológica soviética. Aqui aparece justamente um dos problemas estabelecidos acerca do caráter multidisciplinar das Ciências do Esporte o que nos leva a apontar sobre a necessidade de abarcar dentro da Psicologia do Esporte a aplicação do mais moderno e avançado da Psicologia, sem que tampouco nos apartemos de um conhecimento adequado do esporte. Assim, a nosso ver, o problema deve ser resolvido por meio da busca das regularidades que expliquem as propriedades da personalidade do desportista como sistema. É justo dizer que o fenômeno de especialistas não psicólogos, na área da Psicologia do Esporte, não somente ocorreu nos países ex-socialistas como igualmente em outras regiões do mundo, incluindo os Estados Unidos da América do Norte, Inglaterra e outros países onde, também, outros professores de Educação Física e treinadores receberam algum tipo de especialização em Psicologia. Em suma, é necessário destacar que qualquer atividade da preparação desportiva, seja técnica, tática, física ou psicológica não pode ser efetiva senão está baseada em uma concepção dirigida até a personalidade do desportista, sobretudo se sustentamos que a personalidade é o sistema regulador mais complexo e hierarquicamente superior da pessoa e que, neste sistema, se encontram os elementos sócio-culturais e históricos que, incluindo os ideais, valores, conhecimentos e capacidades, permitem precisamente a humanização do próprio esporte. A solução para o problema formulado constitui na elaboração de uma só tecnologia no processo da preparação psicológica para as competições, dirigido não ao estudo isolado de formações psicológicas, mas ao que facilitará um enfoque em um sistema cuja categoria integradora seja a personalidade. A complexidade para assumir o Princípio da Personalidade na prática científica ocupou um lugar especial no final dos anos 80 (oitenta) e início dos anos 90 (noventa). Apreciaram-se novas dificuldades não só na Psicologia do Esporte, mas também na própria Psicologia Geral. Um abismo entre as teorias e metodologias e os dogmas sociopolíticos vigentes nessa etapa na URSS levaram a Psicologia a um corredor que deu lugar a que esta se introduzisse em direção ao positivismo moderno com conseqüências epistemológicas muito negativas para o discurso teórico e para a prática da psicologia. A necessidade de demonstrar a natureza objetiva do psíquico e a objetividade do conhecimento se expressou na Teoria da Atividade em Psicologia... “cujo objeto de análise essencial não era a subjetividade, senão a atividade mesma, processo em que se configuravam os distintos elementos da subjetividade. Neste processo, a subjetividade perdia sua configuração integral e sua autonomia relativa, que ficavam fora da teoria das próprias ciências psicológicas”. González Rey (1997; 2000). Ao abandonar-se o estudo teórico da subjetividade deixou de se considerar o papel ativo do sujeito, o qual ficou minimizado ou completamente esquecido. Não obstante os apontamentos acerca dos defeitos e peripécias da Psicologia Soviética do Esporte, se pode concluir que ela deixa um forte legado, sem o qual é praticamente impossível encontrar algumas das verdades mais relevantes da Psicologia do Esporte de Alto Rendimento. Foram os especialistas em Psicologia do Esporte soviéticos que advertiram sobre a necessidade de vincular o trabalho do psicólogo às respostas dos desportistas no treinamento, ao considerar que para toda intervenção psicológica há a necessidade de se avaliar o grau de treinamento e preparação desportiva. A partir daí, se derivaram importantes conclusões sobre a relação mente-corpo, ao esclarecer algumas das regularidades da intervinculação entre a prática do exercício e sua influência nos processos cognitivos e afetivos do participante. Enfatizaram e levaram à pratica a concepção de que a preparação psicológica do desportista implica no crescimento espiritual e requer o desenvolvimento da vontade e dos valores morais e ideais do desportista, apontando até para a necessária formação educacional deste. Seguindo nesta exposição do desenvolvimento da Psicologia do Esporte nos Estados Unidos da América do Norte, encontramos um panorama simular ocorrido nos inícios da psicologia do esporte na Rússia e na antiga União Soviética. A história da Psicologia do Esporte nos EUA começa com uma das primeiras pesquisas na área, reportada por Triplett (1897) que estudou o rendimento dos ciclistas em condição de interação social e concluindo que a presença de outros competidores facilita ou estimula os rendimentos nos ciclistas. Também nos EUA, uma das figuras mais sobressalentes da Psicologia do Esporte foi, sem sombra de dúvidas, Coleman Griffith, o qual em 1918 começou a realizar observações informais sobre os fatores psicológicos implicados no atletismo, futebol americano e basquetebol, sobretudo no âmbito universitário. Nesse ano e na mesma universidade fundou o primeiro laboratório de Psicologia do Esporte, foi autor de dois livros, “Psicologia do Treinamento” (1926) e “Psicologia e Atletismo” (1928), sendo, além disso, psicólogo consultor da equipe de beisebol profissional do “Chicago White Sox”. A partir dos artigos publicados por Griffith pode-se distinguir três linhas principais de investigação: habilidades motrizes; aprendizagem; variações de personalidade. Lamentavelmente, como assinala Singer (1989), Griffith não teve seguidores durante o período em que trabalhou ativamente. Recordemos que grande parte do trabalho científico se realizava nas universidades, em muitos casos desvinculados da prática cotidiana do esporte de alto rendimento. Esta situação inicial continuou como uma característica da Psicologia do Esporte nos Estados Unidos, e os psicólogos do esporte se dividiram em dois grupos: psicólogos acadêmicos e psicólogos práticos. Psicologia do Esporte em laboratórios experimentais e Psicologia do Esporte de campo. Alguns estudiosos como Martens (1987) assinalam a necessidade de solucionar esta divisão, e nos congressos realizados por organizações nos EUA se tratou do tema, mas prevalecendo ainda a divisão entre acadêmicos e práticos. A nosso ver, as razões que sustentam essa divisão residem no fato de que uma das fontes de trabalho mais importantes e estáveis para os psicólogos do esporte nesse país se encontra nos departamentos de rendimento humano e esporte das universidades. Estas instituições exigem o cumprimento de projetos de pesquisa de cunho acadêmico e contam com uma boa base de financiamento para sua elaboração. É necessário destacar que, com o início da Segunda Guerra Mundial, a investigação sobre aprendizagem de destrezas motoras e as variações implicadas nelas recebeu um forte impulso nos EUA ainda que tenha tido que se adaptar às necessidades das forças armadas, em especial à seleção e treinamento de pilotos. Terminada a Segunda Guerra Mundial, Johnson (1949) publicou na revista Research Quarterly trabalhos que compreendiam estudos das emoções prévias às competições em jogadores de futebol e basquetebol e, nos anos 50, trabalhou em identificar os fatores de personalidades e suas relações com o esporte. Os trabalhos de Lawther, em 1951, na Universidade de Pensilvânia, deram origem ao livro “Psicologia do Treinamento” (Lawther, 1972), que foi treinador de basquete e contribuiu grandemente para o desenvolvimento acadêmico da Psicologia do Esporte em um momento propício para sua aplicação no Esporte de Alto Rendimento. Nos anos 60 se destaca a obra de Ogilvie (1966), que junto a Tutko publicou “O Atleta Problema e seu Manejo”. Os trabalhos de Ogilvie (1966, 1979, 2000) resultaram tão significativos que o consideram o pai da Psicologia do Esporte aplicada nos EUA. Tanto Ogilvie como Tutko e Cratty levaram à prática desportiva os conhecimentos necessários alcançados. Um dos mais prolíferos escritores na área da Psicologia do Esporte é Cratty (1967, 1968), com uma obra extensa sobre aprendizagem motora e Psicologia do Esporte. A nosso ver, um de seus livros mais clássicos na especialidade é “Psicologia da Atividade Física”. Seu trabalho repercutiu de forma significativa, contribuindo para o desenvolvimento da especialização em Psicologia do Esporte em diversas universidades no EUA. A importância da Olimpíada do México em 1968 também repercutiu no desenvolvimento de pesquisas, principalmente sobre o desempenho esportivo em condições de altitude e seus possíveis efeitos sobre a mente dos atletas. Outro fato de importância histórica se deu em 1978, a integração de psicólogos do esporte ao Comitê Olímpico dos EUA. Na década de 80 (oitenta) se incrementou de maneira extraordinária a produção cientifica por parte dos psicólogos norte-americanos nesta área do alto rendimento, além do fato de terem aparecido várias revistas especializadas em Psicologia do Esporte e associações de elevado prestigio internacional. Neste período começa o estudo das relações entre personalidade e atletas de alto rendimento, Scanlan (1978) estudou as características da ansiedade em desportistas e Landers e colaboradores (1986) estudaram as variáveis psicobiológicas de arqueiros. Para muitos, as Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, servem como ponto de referência para se falar de uma introdução relevante da Psicologia do Esporte no movimento desportivo olímpico. O emprego da Psicologia do Esporte pela antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, Alemanha Oriental, EUA, e outros países se manifestou pela ampla participação de psicólogos do esporte destes países nesta olimpíada. De maneira resumida podemos assinalar que as linhas de trabalho que caracterizam a Psicologia do Esporte nos EUA estão representadas nos seguintes temas: aprendizagem motora; personalidade e motivação; psicologia social e autocontrole emocional. Mas para se obter uma compreensão profunda da Psicologia do Esporte nos EUA, é necessário tomar como referência os trabalhos de Suinn (1980), Wiggins (1984), Mahoney; Suinn (1986) e Singer (1989). Nas obras destes autores se faz patente a grande diversidade de enfoques teóricos, às vezes, muito contraditórios e que levam a uma extensa produção científica caracterizada por seu fracionamento e parcialidade, com insuficiência na ordem metodológica. Neste sentido, é necessário um período de reflexão que valorize o publicado e se integre em um ato teórico que permita a generalização de resultados. Um capítulo entre os que se pode consultar que resume os estudos realizados neste setor pode ser visto em LeUnes; Nation (1989). É interessante também resenhar a trajetória da Psicologia do Esporte em Cuba, que em certo sentido, seguiu as mesmas tendências que em outros países antes assinalados. Um início dentro do campo da pesquisa e da docência como suporte da formação de professores de Educação Física e treinadores e sua posterior irrupção no Alto Rendimento. O surgimento da Psicologia do Esporte em Cuba ocorre na década de 60 do século 20. Fundou-se nesse período a Escola Superior de Educação Física Manuel Fajardo. Posteriormente, em 1972, no Instituto de Medicina do Esporte, foi criado um departamento de Psicologia do Esporte, cujo objetivo era continuar apoiando a preparação psicológica das equipes de alto rendimento. Os primeiros trabalhos foram publicados por Martinez; Russell (1968). Nessa época, e como resultado de cooperação entre Cuba e a URSS, receberam um conjunto de colaboradores especialistas em Psicologia do Esporte, dentre os quais se destacam entre os quais se destacaram Petrovich, Radchenko e Medviedev. O Departamento de Psicologia do Esporte, do Instituto de Medicina do Esporte, contou com um assessor soviético, Vladin Fechenko, de 1974 a 1975. Uma contribuição fundamental para o auge da psicologia do esporte em Cuba foi o próprio desenvolvimento do esporte cubano. Este começou a escalar uma categoria internacional graças aos programas de apoio executados pelo Governo Cubano, que, com isso, proporcionou uma ampla participação da população e assegurou as condições para o desenvolvimento do esporte de alto rendimento. Assim, a Psicologia do Esporte em Cuba emerge no empenho pelo desenvolvimento e consolidação do movimento desportivo cubano como uma força que contribuiu para assegurar o processo pedagógico e educativo dos desportistas e seus resultados no treinamento e competição. Um marco importante neste sentido é a participação de psicólogos no Campeonato Mundial de Boxe do ano de 1974 e, posteriormente, nos Jogos Pan-americanos e do Caribe do México, em 1975. Deste modo, pode-se afirmar que, um dos países com maior tradição na utilização de psicólogos do esporte no Esporte de Alto Rendimento é Cuba, desde as datas anteriormente descritas até a atualidade. Isso permitiu o desenvolvimento de um conjunto de linhas de pesquisa nesta área de aplicação que se relacionam da seguinte forma: Motivação e esporte; Autocontrole das emoções; Estresse; Processos cognitivos; Fatores psicossociais nas equipes desportivas; Psicofisiologia e esporte e Controle psicológico do treinamento. Dentre os êxitos das pesquisas realizadas se encontram: o achado das regularidades psicológicas de diferentes formações de motivação como a autovalorização, a orientação da personalidade e o grau de aspiração na regulação do comportamento em competições (García Ucha, 1988); a identificação de determinados moduladores da resposta de estresse do desportista durante a competição (González Carballido, 2000) e, o registro de variantes psicológicas mediadoras da resposta às cargas de treinamento (García Ucha, 2005). Em 1974 sai o Suplemento nº. 15 do Boletim Científico – Técnico INDER, Cuba –, sobre Psicologia do Esporte, por Carlos Martinó Sánchez e Colaboradores. É a primeira obra escrita ainda sem ser um livro e nela são abordados temas como: a análise do produto da atividade; dinâmica das funções psíquicas dos jogadores de basquete; a orientação da atenção na reação psicomotriz, dentre outros. O primeiro livro escrito em Cuba sobre Psicologia do Esporte foi elaborado por Dorta Sasco em 1984 e seu título é “Noções de Psicologia da Educação Física e o Esporte”, editado pela editora Pueblo y Educación, La Habana. Trata-se, sobretudo, de um resumo dos trabalhos essenciais dos autores soviéticos da época. Posteriormente, foram editados por Valdés Casal, Ucha, González Carballido, Matos, dentre outros, livros importantes para a área. Durante o II Congresso Internacional de Psicologia do Esporte, em Havana, Zaichowsky (1999) expôs que a Psicologia do Esporte de Alto Rendimento ocupava um pequeno espaço dentro da Psicologia do Esporte e assinalava que, no momento em que fazia esta afirmação, nos EUA provavelmente somente sete psicólogos se dedicavam ao Esporte de Alto Rendimento, uns dois psicólogos trabalhavam no Centro de Alto Rendimento de Madrid, talvez uns sete mais no CAR de Barcelona e uns seis psicólogos se revezavam no Centro Nacional de Alto Rendimento de Buenos Aires. É interessante que em Cuba – por razões historicamente excepcionais – se encontrava um número muito superior de psicólogos no Instituto de Medicina do Esporte. Em resumo, os primeiros trabalhos sistemáticos de Psicologia do Esporte se relacionam com o esporte escolar e universitário; a integridade da Psicologia do Esporte como ciência se assegura com a existência do problema formulado: identificar o suporte psicológico da atividade desportiva e aplicar os meios psicológicos para garantir e aperfeiçoar a atuação do participante na atividade física e no esporte e a cuja realização está orientada como ciência na busca teórica e metodológica; o problema fundamental da Psicologia do Esporte constitui não só seu eixo teórico e prático, bem como histórico em dependência do estado e do avanço da sociedade; o período da Guerra Fria acelerou o desenvolvimento da Psicologia do Esporte em ambos os sistemas sociais; os resultados metodológicos da Psicologia do Esporte em países desenvolvidos teve um caráter singular para sua institucionalização; apesar dos avanços realizados nestes países não se chegou a elaborar uma teoria psicológica específica para o homem que participa no esporte de alto rendimento. Para ser mais preciso, como argumenta Valdés Casal (1996, 2000), na curta história da Psicologia do Esporte se estabeleceram várias formas de exercer a profissão, mais influenciadas pelas correntes psicológicas de maior desenvolvimento do que pelas especificidades da atividade a qual se aplicam. De forma que fica faltando o desenvolvimento de um esquema referencial conceitual e a estruturação de suas relações por meio de teorias, hipóteses e axiomas que lhe sejam propostos. As investigações desenvolvidas pelo autor deste capítulo com atletas de alto rendimento partem das mesmas questões que durante anos os pesquisadores vêm tratando de esclarecer. Tais investigações podem ser descritas da seguinte maneira: 1. Há um perfil de personalidade do atleta de alto rendimento? 2. Existem características que predispõem alguns atletas para alcançar elevados rendimentos? J. Vasconcelos Raposo (2006) 3. Quais fatores sócio-culturais e motivacionais determinam o desenvolvimento das motivações para alcançar altos rendimentos? Salmela (2003) e J. Vasconcelos Raposo (2006). Morgan (1980) apresentou seu Perfil do Campeão em estudos realizados com atletas de alto rendimento, utilizando o teste POMS. O perfil, mais que uma prova de personalidade, trata de um instrumento que mede estado de ânimo na área da psicopatologia. Um sem número de pesquisas realizadas com atletas universitários foram efetuadas. Apesar das insuficiências assinaladas, produto das investigações realizadas, uma série de hipóteses foram confirmadas que permitiram predizer a tendência que seguem alguns dos fenômenos no esporte. Por exemplo, uma revisão da literatura sobre rendimento máximo indica que os desportistas vitoriosos tendem a ter altos graus de autoconfiança, estão mais orientados em seu foco de concentração na tarefa esportiva, têm uma menor tendência a se distraírem e exibem uma grande habilidade para dominar sua ansiedade. Além disso, se caracterizam como pessoas com um pensamento positivo sobre sua execução, determinação e compromisso se comparados com os desportistas que têm baixos rendimentos. Possuem, também, habilidades de percepção superiores García Ucha (2001). Estas características psicológicas, dependendo de certos atributos da personalidade do desportista, podem desenvolver-se por meio do treinamento psicológico apropriado. Foram êxitos da década de 90 em Psicologia do Esporte de Alto Rendimento: Ampliação o campo de investigação; Desenvolvimento de estudos interdisciplinares; Aplicação a todas as manifestações do esporte; Tarefas de campo; Introdução em outras áreas da atividade humana; Programas de formação acadêmica; Eventos científicos; Publicações e Internet. Não obstante, a Psicologia do Esporte no Alto Rendimento se encontra em um momento histórico de seu desenvolvimento em que, para avançar em um sentido progressivo, precisa vencer grandes desafios. 1. Não se chegou a um nível científico em que se conseguirá expor uma teoria geral que explique as regularidades psicológicas gerais que regem aqueles que participam de atividade física e esporte. 2. Faz-se necessário enfrentar as diretrizes negativas no esporte atual, tendentes a afastarem-se do Movimento Olímpico, à introdução da comercialização e do profissionalismo. Muitos cientistas no esporte estão, cada vez mais, a serviço de ganhos materiais do esporte do que em benefício da saúde, da qualidade de vida e da formação integral do homem por meio do esporte de alto rendimento. Os produtos das pesquisas são valiosos na medida em que possam ser convertidos em mercadorias. Vendem-se projetos, resultados, diagnósticos e o quanto mais possa influir no resultado desportivo como fim e não como meio da formação integral do homem. 3. A subordinação do político e do social à economia impôs uma ideologia mercantilista, neodarwinista, que aplica à sociedade os princípios da sobrevivência do mais apto ou do mais forte; a competitividade como paradigma se impõe na vida social e isto se reflete no esporte e leva a ameaçar os princípios éticos das ciências do esporte, da qual faz parte a Psicologia. Diante destes problemas os psicólogos do Esporte de Alto Rendimento têm grandes desafios para vencer, que englobam não só a preparação científica, mas, também, e de maneira especial, a preparação humanista, a qual coloca o homem como centro e propósito de toda a atividade. (Ucha, 2006): - a Psicologia do Esporte de Alto Rendimento, mediante as atividades científicas de suas organizações, chegou a expandi-se por todo o mundo, formando agrupamentos que possibilitam uma representação em cada continente; - a Psicologia do Esporte de Alto Rendimento, mesmo contando com um volume considerável de conhecimentos produzidos, ainda deixa pendente um sem número de problemas teóricos, metodológicos e práticos por resolver, dentre os quais se destacam a não exposição de uma teoria coerente e geral do papel das regularidades psicológicas na atividade física e do esporte; - é necessário o desenvolvimento de um enfoque multidisciplinar para que a Psicologia do Esporte obtenha sua plena instauração na atividade científica e nas aplicações práticas. Em suma: 1. É necessário assinalar que os êxitos da Psicologia do Esporte de Alto Rendimento não podem ser explicados exclusivamente pela própria atividade dos psicólogos ou de suas organizações senão, ademais, e de forma determinante, pelo desenvolvimento atual do esporte em todas as suas manifestações e no contexto social, econômico, cultural, político, e até por fatores de ordem geográfica, o que nos leva diretamente à necessidade de uma visão ecológica da Psicologia do Esporte. 2. Os processos de pesquisa em Psicologia do Esporte, entendidos como construção de conhecimento sobre as realidades sociais que lhe competem, têm que considerar o contexto no qual se desenvolvem e as condições que levam as pessoas a responderem aos desafios que este lhes apresenta. Os processos de investigação são condicionados por um contexto, mas é neste que encontram sua justificativa e pertinência, seu significado e legitimidade social. 3. A Psicologia do Esporte, por seu caráter social e humano como ramo das Ciências Psicológicas e por constituir uma Ciência Auxiliar do Esporte, deve ter como propósito o desenvolvimento harmonioso e integral da personalidade daqueles que praticam atividade física e esporte. 4. Requer incrementar a formação ideológica dos cientistas na área da Psicologia do Esporte de maneira especial no conhecimento do legado ético do movimento olímpico. 5. Necessita refletir acerca do esporte como função social. 6. Precisa alcançar o grau mais elevado de formação levando em consideração os avanços e êxitos científicos e tecnológicos da especialidade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTONELLI, F. (1994) Psicología del Deporte. Edit. Miñón. Barcelona. BALAGUÉ, G. (2006) Las mil caras de la psicología del deporte. VIII Congreso Sudamericano de Psicología deL Deporte Chile. BOZHOVICH, L. I. (1977). Estudio de la motivación de la conducta de los niños y adolescentes. Editorial Pueblo y Educación. Habana. P. 48. 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Miguel; Daniel Presoto; Cristina Akiko Ao analisarmos a história da trajetória acadêmico-científica das emoções, verificamos que, embora no final do século 19 tenham sido publicadas importantes obras discutindo sobre os processos emocionais (DARWIN, 1872; FREUD; BREUER, 1969; JAMES, 1890), a categoria emoção foi, de uma determinada maneira, preterida das explicações e relações dos seres humanos e dos processos sociais. Principalmente, entre 1930 e 1970 pode-se notar que existiu uma ênfase, quase que exclusiva, nas bases cognitivas da ação social. Fato este, que culminou com a repressão e com o suprimento da emoção, tornando-a um processo irracional e negativo. Com esta concepção sobre as emoções, afirmava-se que estas desorganizavam os processos sociais e os sistemas de ação, ocasionando o que Barbalet (1998) denominou de neutralidade afetiva. Somente no final da década de 70 começaram a surgir obras na área da Psicologia que davam o devido valor às emoções e sua importância para os processos sociais. Neste período, destaca-se, por exemplo, a mudança do foco dos estudos através do trabalho de Leventhal e Tomarken (1986), assim como na antropologia destacam-se os estudos de Briggs (1970) e Levy (1973), e na filosofia as obras de Neu (1977) e Solomon (1976). Preservando a relação entre emoções e seres humanos, Stocker e Hegeman (2002) afirmam que, vida, pensamento e ação de qualquer indivíduo estão envolvidos com as emoções e tais sentimentos emocionais e afetivos são de extrema importância para o conhecimento ético e moral, pois os valores pessoais estão relativa e intimamente ligados às emoções, sendo elas signos ou fontes de informação valorativa de fundamental importância. Esses autores defendem a idéia de que existem conexões estruturais importantes entre emoções e valores, sendo a primeira a própria essência do conhecimento avaliador. Sem as emoções, “[...] é impossível viver uma vida boa e humana [...]” (STOCKER; HEGEMAN, 2002, p. 29). Compreender o valor das emoções no que toca às ações dos indivíduos se faz necessário porque, conforme Schachtel (1984, p. 20): [...] Não há ação sem afeto; é certo que nem sempre ele é intenso, dramático, como numa ação de raiva impulsiva; mas freqüentemente surge como um estado de ânimo total, algumas vezes bastante distinto, outras vezes muito sutil e quase imperceptível, mas que, no entanto constitui o substrato essencial de toda a ação. Pressupomos que as emoções se manifestam e interferem no rendimento atlético, porque sabe-se que os estados emocionais são responsáveis pelo aparecimento de várias sensações e emoções e que essas acompanham e regulam as ações esportivas, contribuindo para o êxito ou para o fracasso no esporte. Portanto, faz-se necessário uma visão reflexiva sobre a importância das emoções sob a perspectiva psicossocial e esportiva. Emoções na perspectiva psicosocial Taylor e Wilson (2005) afirmam que as emoções são uma parte das experiências esportivas, tanto quanto, as condições físicas, as condições técnico/táticas, os equipamentos, o treinador e a equipe esportiva. Eles sugerem que as emoções são o principal determinante de como os atletas irão desempenhar-se nas competições, uma vez que, o impacto das emoções sobre a performance atlética é tão poderoso, que afeta cada aspecto de seu desempenho. No entanto, os autores relatam que, apesar da importância deste tópico, ele ainda é pouco explorado na Psicologia do Esporte: Durante o treinamento e competição, os atletas podem experienciar um amplo espectro de emoções que vai desde as emoções negativas, tais como frustração e desapontamento, até as emoções positivas, tais como excitamento e satisfação. Os relacionamentos dessas diversas emoções com a performance atlética são complexos e quase sempre intuitivos, uma vez que, essas conexões somente recentemente começaram a ser exploradas pela comunidade esportiva. (JONES et. all., 2005, p.66). Um dos mais conceituados psicólogos cognitivistas Richad Lazarus, afirma que tradicionalmente emoção é definida como uma reação psicofisiológica organizada em resposta ao relacionamento com o meio ambiente, mais freqüentemente, mas não sempre, inter-pessoal ou social. Esta reação consiste de respostas advindas de três níveis de análise, denominados, uma experiência introspectiva subjetiva (quase sempre referida como um afeto), ações abertas ou impulsos para agir, e modificações fisiológicas que fazem as emoções serem organísmicas. E acrescenta a importância das variáveis cognitivas e motivacionais, na estimulação e sustento de uma emoção. Portanto, o que media psicologicamente uma emoção é uma avaliação do significado pessoal, para o seu bem-estar, que a pessoa atribui para este relacionamento, assim, como falamos em emoção devemos sempre pensar no tripé, cognição, emoção e relação (LAZARUS, 2000). As vivências emocionais devem ser compreendidas como a reação de um conjunto complexo de fenômenos, com reações psicofisiológicas, interpessoais ou sociais, avaliadas pelos pensamentos causais (cognitivos) e motivacionais (SAMULSKI, 1995; RUDIK e CHERNIKOVA, 1988; LAZARUS, 2000). Para Bandeira (2002), o aspecto fenomenológico das emoções diz respeito à experiência motivacional do indivíduo, que vê sentido e significado para um episódio gerador de emoção, ou seja, interpreta e age de maneira subjetiva quando em uma determinada situação. Gutiérrez (2000) defende que as emoções primárias como ira, medo, amor, ódio, alegria, vergonha, orgulho, aflição e suas variações, manifestam-se com mais intensidade sob as reações corporais, ao passo que emoções mais sutis como os sentimentos morais, intelectuais e estáticos, a reação corporal é menos óbvia e menos intensa. O mesmo autor defende e adapta um modelo da teoria das emoções, de Willian James. (ver fig. 1). Objeto emocional Percepção do objeto Ativação simpática e somática Percepção de um estado emocional Inibição de condutas emocionais Facilitação de condutas emocionais Terminação de estados emocionais Figura 1. Modelo da teoria da emoção de Willian James (adaptado por Gutiérrez, 2000, p. 35). Podemos observar na fig.1, que o modelo da teoria da emoção proposta por Willian James e adaptado por Gutierrez (2000), foi baseado na objetividade, o que significa que, quando um indivíduo se encontra em uma determinada situação, esta serve de estímulo para desencadear uma emoção, que sempre é acompanhada de uma reação fisiológica. Esta emoção poderá influir como facilitadora ou inibidora na conduta do indivíduo. Este modelo explica ainda que cada indivíduo, vivência o momento, segundo sua própria percepção do meio. Segundo Rudik e Chernikova (1988), cada indivíduo possui um desenvolvimento emocional diferente dos outros que convivem com ele, visto que, inicialmente, todos nós possuímos mecanismos reflexos-condicionados das vivências emocionais do meio. Os autores defendem que, no desenvolvimento das emoções, se observam as seguintes regularidades (ver quadro 1). Quadro 1: Desenvolvimento das emoções (adaptado de Rudik e Chernikova, 1988, p.189). DESENVOLVIMENTO DAS EMOÇÕES a- Influência do modo de vida do homem: como caráter, interesses, necessidades, satisfações, inter-relações, etc. b- Influência das particularidades da atividade que incorpora o homem nos períodos de sua vida: a atividade é poderosa fonte de emoções, tanto positivas como negativas, pois, se convertem em fortes motivos para as O quadro 1 sugere uma regularidade no desenvolvimento das emoções, mas, cada indivíduo é um ser único, e como tal, tem uma vivência e percepção próprias, uma dinâmica emocional que pode quebrar esta seqüência regular, estabelecendo um padrão específico de seu desenvolvimento. Para Samulski (1995), a maioria das teorias sobre emoções coincide quando explicam que a emoção surge de uma avaliação das relações motivacionais da vivência do indivíduo com seus objetivos. Rudik e Chernikova (1988) completam e afirmam que esta avaliação ocorre de maneira subjetiva para cada situação, constituindo a base do desenvolvimento de sentimentos morais, estéticos e intelectuais. Segundo Parkinson (1996) e Lazarus (2000), as avaliações subjetivas ocorrem cognitivamente, o indivíduo possui a capacidade de reconhecer, elaborar e memorizar, cada uma das situações vivenciadas, pois interpreta segundo seu “self”, a emoção transmitida pelo outro. E, quando os estímulos cessam, a emoção desaparece ou modifica-se. Lazarus (2000) defende que o que media as emoções psicologicamente é uma avaliação que o indivíduo faz sobre o próprio bem estar com relação ao outro. O indivíduo transmite as emoções quando está no meio, e estas são percebidas pelos outros que interagem com ele, pois é impossível ignorar estas emoções, e, como conseqüência, participam direta ou indiretamente deste processo, sendo também por ele influenciado de maneira positiva ou negativa. Em concordância, Rudik e Chernikova (1988), e Parkinson (1996), defendem a idéia de que o indivíduo em relação com o meio apresenta diferentes reações emocionais, uma vez que, dificilmente ignora as reações emocionais dos outros, sofrendo influência destas, sobre as suas. Para Lazarus (2000), as vivências emocionais podem gerar um efeito positivo sobre a ação, resultando em alegria e bem estar, mas quando em situações adversas, pode ocorrer um efeito negativo sobre a ação, o que resulta, na maioria das vezes, em comportamentos de raiva e agressão. Explica ainda, que, devemos compreender o quanto é difícil avaliar uma emoção somente pelo aspecto positivo ou negativo, visto que, o indivíduo em contato com o meio, pode experienciar mais de uma emoção ao mesmo tempo, como por exemplo, a esperança que normalmente ocorre com a ansiedade de ser bem sucedido, portanto, o autor vai além desta compreensão simplista, e defende outras variáveis emocionais, que serão apresentadas no quadro 3. Baseados na visão de Lazarus, Cruz; Viana (1996) dizem “que as emoções devem ser compreendidas também pelo esquema geral do sistema e dos processos e variáveis das emoções” (p.190). Esta explicação está ilustrada no quadro 2. Quadro 2. Esquema geral do Sistema, processo e variáveis associadas e implicadas nas emoções (adaptado de LAZARUS; FOLKMAN, 1984; LAZARUS, 1991 por Cruz; Viana, 1996, p.190). PROCESSOS MEDIADORES VARIÁVEIS ANTECEDENTES CAUSAIS Variáveis da Personalidade Valores ou objetivos Crenças Características pessoais Variáveis Ambientais Exigências, recursos e limitações situacionais. Ambigüidade, iminência e importância da situação. (de prejuízo ou dano). MOMENTO Avaliação Primária Relevância motivacional Congruência motivacional Envolvimento do “ego” EFEITOS EMOCIONAIS IMEDIATOS EFEITOS A LONGO PRAZO Respostas psicofisiológicas Sentimentos e “afetos” positivos ou negativos Qualidade do resultado Comportamento e rendimento Saúde física/doença Moral (bem estar psicológico) Funcionamento social Avaliação Secundária Responsabilidad e Potencial de Conforto Expectativas futuras Reavaliação Cognitiva Confronto Centrado na resolução do problema Centrado na regulação emocional Para Lazarus & Folkman (1984) citados por Cruz e Viana (1996) no quadro 1, a importância de se considerar que nas relações do indivíduo quando estimulado por uma situação – com o meio, ocorrerá um efeito emocional, com exigências de adaptação para a situação. Como cada indivíduo é possuidor de valores e crenças, este, confronta-se com as exigências, recursos e limites existentes no ambiente, e só após uma avaliação, busca soluções para as emoções que foram desencadeadas. Damásio (2000); Weinberg e Gould (2001); Machado (2004) defendem que os indivíduos que se sobrecarregam de emoções negativas, podem experimentar raiva, medo, frustração, desespero, fúria, tristeza, tensão, nervosismo intenso, pânico, desespero, culpa, vergonha e embaraço. Estas emoções alteram o nível de atenção, concentração e, como conseqüência, modificam a coordenação motora. Ao passo que, ao vivenciar emoções positivas como, felicidade, alegria, satisfação, excitação, contentamento, os indivíduos podem manter boa atenção e concentração. Para Rudik e Chernikova (1988) as vivências emocionais, representam fenômenos psíquicos complexos, e ressaltam a importância de diferenciarmos os estados emocionais, isto porque, cada um possui particularidades específicas como, estados de ânimo, afetos, sentimentos. Para os autores, os estados de ânimo que podem derivar de situações agradáveis ou desagradáveis possuem particularidades distintas de intensidade, duração, e preparam o indivíduo à ação. Os afetos, por sua vez, são emoções manifestadas por alta intensidade. Já os sentimentos não representam o acontecimento em si, mas sim, o significado da interpretação de uma emoção sentida. Quando os sentimentos são “inferiores”, referem-se às manifestações biológicas do organismo como satisfações ou insatisfações das necessidades do indivíduo. Quando são sentimentos “superiores”, estão relacionados às satisfações ou insatisfações das necessidades do indivíduo com o meio. Thomas (1983) concorda com os autores e explica que as emoções, influenciam a ação dos indivíduos regulando sua ação, o que significa que, uma vez que o indivíduo vivenciou uma determinada situação, sua próxima ação, estará baseada nesta, como uma forma de repetir o mesmo estado, seja ele uma conseqüência positiva ou negativa. Lazarus (2000) defende ainda que as emoções vivenciadas nos relacionamentos sociais nos ajudam a compreender as diferenças emocionais entre os indivíduos, pois em um relacionamento, a emoção presente em um fato nunca é sentida da mesma maneira por ambos. Nossas emoções ocorrem segundo Parkinson (1996), Mendo e colaboradores. (2000), através das perspectivas do outro, na dimensão dos pequenos gestos ou padrões gestuais - como expressões faciais – e, é imitado pelo outro sem que haja uma comunicação direta da emoção vivida no momento, mas sim, como resposta ou ação que se repete mutuamente. Para os autores as expressões gestuais presentes nos comportamentos são naturais, ou seja, ocorrem automaticamente entre as pessoas sem que haja uma mensagem direta e, em situações sociais, os comportamentos são copiados, imitados automaticamente, contribuindo para a auto-percepção da emoção, expressa por manifestações corporais como, o rubor facial, tremor das mãos, etc. Mas, em muitos casos, o indivíduo faz uso de manifestações faciais para demonstrar, justamente, a avaliação emocional aos outros presentes, como demonstrações de raiva e desagrado. Baseados na análise das emoções sob a perspectiva social, o presente capítulo se refere também às emoções na perspectiva do esporte. Neste contexto, fica claro que o atleta não é uma máquina programada apenas para vivenciar de maneira isolada o momento da competição, é como um mecanismo biológico abastecido de conteúdos emocionais vivenciados em outras experiências, acionados inconscientemente durante a prática esportiva. O atleta experimenta nos diferentes momentos de sua prática esportiva uma ebulição destas emoções. Assim, para Lazarus (2000) no contexto esportivo deve-se compreender a importância das emoções e o papel destas no desempenho de um atleta, seja em situação de treinamento, pré-competição e/ou competição. EMOÇÕES NO ESPORTE Ucha (1998); Ikulayo (1990); Samulski (1995); Lazarus (2000) explicam que as emoções desempenham importante função de ativação, organização, orientação e controle de ações. Defendem que há uma forte relação entre o conteúdo qualitativo e a dimensão da intensidade da emoção com o rendimento. O conteúdo qualitativo é um atributo definido como afeto. Já a dimensão da intensidade está esboçada em cada categoria de emoção – como na intensidade ou experiência de raiva, ansiedade, etc. O esporte produz um elevado grau emocional e uma grande riqueza de processos emocionais. E como as emoções são reguladores da ação, seu desempenho poderá sofrer alterações fisiológicas, psicológicas e motoras. O atleta que, por exemplo, experiênciar alegria e satisfação, pode na próxima atuação ter a expectativa de repetição da mesma atuação, e quando esta, não se concretiza, pode sentir frustração e decepção (THOMAS, 1983; RIBEIRO, 2001; MACHADO, 2004). Hanin (2000) foi um dos estudiosos da Psicologia do Esporte que mais contribuiu para o entendimento das emoções no contexto esportivo. Entretanto, sua obra é inteiramente baseada em um modelo de Zonas Individuais de Funcionamento Otimizado (IZOF), procurando relacionar emoções e performance esportiva. Desta forma, as emoções passam a ser compreendidas como um importante aspecto do próprio indivíduo no esporte e ganha o peso de um fator crítico, ou seja, a melhora ou a piora do desempenho pessoal ou grupal. Entretanto, Machado (2006) afirma que o esporte é um meio onde se vivenciam as emoções com muita intensidade, despertando sentimentos, não só nos atletas, como também, nos espectadores, e estas emoções manifestadas podem vir a criar um ambiente acolhedor ou um ambiente muito adverso para todos. Hackfort e Schlattmann (1991) alertam que, devido às emoções regularem as ações, conseqüentemente, elas interferem significativamente no resultado das ações dos atletas, e, dependendo da interpretação (e percepção) de tal emoção, ou até mesmo, da intensidade com a qual é manifestada, a mesma pode assumir um sentido (sentimento) positivo ou negativo, influenciando, assim, na performance do indivíduo. O atleta, quando em situações de baixo rendimento experimenta nervosismo, inquietude, apatia mental, mau humor, e como conseqüência poderá influenciar sua atenção e concentração. E quando em situações de bom rendimento, pode ocorrer um estado ótimo de ativação, motivação, autoconfiança, otimismo, com a possibilidade de manter sua orientação para o êxito e para a alta capacidade para o controle psicomotor (BRANDÃO, 2000; SAMULSKI, 1995). De acordo com Beattie; Hardy; Woodman (2004), o atleta que acredita em si mesmo, vivencia emoções positivas, mantém foco nas metas estabelecidas e, age de maneira tranqüila e autoconfiante. Para Brandão; Rebustini; Agresta (2002) o atleta influenciado por emoções negativas, pode ter uma crença que o limita, e muitas vezes, se utiliza de frases negativas como, “não vou conseguir dar o meu melhor”, “eu não mereço ser campeão por que não sou bom o suficiente”, para justificar sua dificuldade com o momento. O quadro 4 apresenta algumas reações geradas pelas emoções negativas. Quadro 4 - Reações geradas pelas emoções negativas (BRANDÃO; REBUSTINI; AGRESTA, 2002). REAÇÕES NEGATIVAS - Distorção visual - Diminuição da flexibilidade mental - Sentimentos de confusão - Esquecimento dos detalhes - Aumento no número de pensamentos negativos - Menor capacidade de concentrar-se na atuação - Atenção inadequada às vivências internas - Diminuição da capacidade de tomada de decisão - Recorre a hábitos antigos inadequados - Aumento da tendência para precipitar-se na atuação Brandão; Rebustini; Agresta (2002) explicam que as reações geradas pelas emoções negativas listadas no quadro acima, podem provocar no atleta uma mudança de foco, e conseqüentemente, alteração do desempenho esportivo. Lazarus (2000) defende que mesmo, em condições de julgamento positivo, o atleta pode ter conseqüências negativas para a performance, por exemplo: o atleta pode sentir-se gratificado – feliz – com seu desempenho em uma partida, e decepcionar-se por não ter avaliado corretamente o risco ou o perigo de sofrer o revés na mesma partida. “A lição é que nós temos que ser cuidadosos em não deduzir que pensamento negativo é sempre prejudicial e pensamento positivo é sempre facilitador de desempenho” (p.237). Para Cratty (1984) classificar os esportes e suas variadas técnicas permite definir as tensões psicológicas e sociais inerentes à sua prática. E afirma que atletas com certas capacidades psicológicas como autoconfiança, tensão, ansiedade etc, e habilidades motoperceptivas podem responder de maneira mais eficiente, em tipos diversos de atuação, e que vários tipos de intervenções terão melhores resultados quando se utilizam destas técnicas que apresentam estas diferentes características. A intensidade na qual uma emoção pode ser manifestada é explicada por Fogiel (1986) pelo nível de ativação que envolve essa emoção, caracterizado como um estado complexo do organismo, que envolve e acompanha mudanças no corpo, nas expressões e, conseqüentemente, nas ações. Por isso, uma situação vivenciada por um atleta, dependendo da intensidade com que a emoção é aflorada, pode caracterizar um quadro normal ou anormal, que pode ou não chegar a comprometer as ações deste sujeito. E essa intensidade e, conseqüentemente, as mudanças do organismo, é que podem definir o que realmente está se passando com tal esportista. Lazarus (2000) agrupou as emoções em cinco categorias (p.232): a) emoções desagradáveis: raiva, inveja e ciúmes; b) emoções existenciais: medo, ansiedade, culpa e vergonha; c) emoções provocadas por condições de vida desfavoráveis: alívio, esperança, tristeza e depressão; d) emoções provocadas por condições de vida favoráveis: felicidade e amor e, e) emoções empáticas: gratidão e compaixão. Ainda para o autor, quinze emoções estão presentes no ambiente esportivo. Essas emoções estão descritas no quadro 3 a seguir. Quadro 3. Principais Emoções presentes no ambiente esportivo (adaptado de Lazarus, 2000, p. 234). PRINCIPAIS EMOÇÕES PRESENTES NO AMBIENTE ESPORTIVO Medo – um imediato concreto e esmagador perigo físico Ansiedade – ameaça a sua existência Preocupação – sentimentos de dúvidas e incertezas Raiva – uma ofensa dirigida contra mim Culpa – ter transgredido uma regra moral Vergonha – fracassar em uma meta pessoal Tristeza – ter vivenciado uma perda Inveja – desejar algo que outra pessoa tem Ciúme – culpar uma pessoa pela perda ou ameaça de perda do afeto de uma terceira pessoa Felicidade – fazer progressos razoáveis na direção da realização de uma meta Orgulho – crédito por ter alcançado algo valioso Alívio – uma condição que foi modificada para melhor Esperança – acreditar que o impossível é possível Amor – desejar ou participar de relação afetiva Gratidão – apreciação de um presente altruísta que traz benefícios pessoais Compaixão – movido pelo sofrimento do outro e desejo de ajudar Devido a importância que essas emoções têm para o rendimento esportivo de um atleta ou equipe, será apresentada a seguir, uma revisão da literatura sobre essas principais emoções. MEDO COMO EMOÇÃO Diversos estudos sobre o medo apontam que tal estado emocional é uma emoção básica, fundamental, presente em todas as idades, culturas, raças ou espécies (BARLOW, 2002; LEWIS; HAVILAND JONES, 2000; PLUTCHIK, 2003). O ser humano é o único mamífero que não nasce pronto para sobreviver por si mesmo, leva cerca de um ano inteiro para fazê-lo e cerca de sete anos para desenvolver seu intelecto, amadurecer seu cérebro e se tornar um ser diferenciado dos outros animais, pela evolução natural do seu córtex cerebral. E neste desenvolvimento, recebe muitas informações, acompanhadas de emoções, que dão um colorido diferente ao que aprendemos (BAUER, 2002) Ainda para Bauer (2002) as experiências emocionais positivas são armazenadas e incentivadas a se repetirem e, as experiências emocionais dolorosas tendem a ser guardadas de forma a não serem lembradas mas sim, recalcadas e substituídas por sentenças ou auto-comandos negativos, que predizem desgraças que o próprio indivíduo repete quase inconscientemente, como um lema negativo. A essa sentença a autora chama de crença limitante, com expressões emocionais de frustração, angústia, vergonha, desesperança, medo. De acordo com Damásio (2000), o medo é uma reação emocional inata, com sentimentos primitivos de autoproteção e sobrevivência. Os indivíduos apresentam, ao longo da vida, respostas programadas em relação aos estímulos que desencadeiam o estado emocional. A emoção medo, ao ser detectada no sistema límbico, mais precisamente na amígdala cerebral na infância e juventude e, posteriormente, através do córtex pré-frontal nos adultos, apresenta uma grande gama de respostas fisiológicas alteradas, acarretando uma interpretação defeituosa ou uma distorção da percepção, e, conseqüentemente, em uma estratégia de proteção. Para Frijda (1995) o medo é uma emoção que está relacionada com atitudes evitadoras e autoprotetoras. Baker (2001) também o considera como uma proteção automática do organismo, mas que passa a ser considerado negativo quando se intensifica e não possui nenhuma razão clara para existir. Gray (1978) defende a idéia de que o medo gera uma das três atitudes descritas a seguir: congelamento (ficamos absolutamente quietos e silenciosos), ímpeto ou luta (ao defrontar-se com uma punição ou ameaça de uma punição), ou aprender algo completamente novo que porá fim ao perigo ou lhe permitirá rejeitar a situação perigosa no futuro. Atualmente, se considera que os medos podem ampliar-se a outros estímulos semelhantes pelo processo de generalização, e podem, por sua vez, serem extintos através da exposição gradual de outros estímulos que poderão gerar tranqüilidade (MURRAY, 1978). Os estímulos geradores de emoções, para o mesmo autor, podem gerar alterações corporais interpretadas como emergência. Se este esforço se prolongar, a reação entra em um estágio de resistência com o corpo compensando este esforço por certo tempo até alcançar o estágio de exaustão. O esforço crônico produz um estágio de resistência que pode levar à doenças psicossomáticas (CANNON citado por MURRAY, 1978). Se o indivíduo estiver em uma situação emocional negativa, a reação emocional será diferenciada para luta ou fuga, gerando mudanças fisiológicas internas, mediada pelo sistema nervoso simpático e pelas glândulas endócrinas, através da liberação dos hormônios (adrenalina e noradrenalina). A emoção medo negativa, segundo LeCron (1966), é um reflexo que nasce dos condicionamentos passados, sendo que o pensamento negativo é um fator fundamental na geração destes temores. O consciente reconhece a existência e as causas do medo, vivenciado antecipadamente, reagindo fisicamente por meio de somatizações, como reações de autoproteção. Para o mesmo autor, o medo pode ser positivo, quando surge em função da prevenção da vida. A dificuldade que experimentamos ao nos depararmos com as idéias e sentimentos medrosos, para Hatfield citado por Damásio (2000) deve-se a algumas razões: MEDO DE SE EXPOR: medo de que, ao revelarmos como somos, nosso modo de ser, valores, crenças e medos, tornemo-nos visíveis, conheçam nossos preconceitos, o que fizemos e de que nos envergonhamos.Ou seja, descubram o que há de errado conosco; MEDO DO ABANDONO: medo de que as pessoas, ao nos conhecerem bem, possam nos abandonar; MEDO DOS ATAQUES DE RAIVA: medo de que algo que digamos a nosso respeito para outros possa ser usado contra nós mesmos; MEDO DA PERDA DE CONTROLE: medo de perder o autocontrole sobre os outros e sobre as situações; MEDO DOS PRÓPRIOS IMPULSOS AGRESSIVOS: medo de que, ao entrar em contato com nossas emoções, percamos o controle e tenham reações descontroladas. Como pôde ser observado, o medo é uma emoção que acompanha todos os indivíduos, nas diferentes instâncias de suas vidas. Pensando-se nestas características desta emoção, vejamos como se dá a manifestação do medo no esporte, e quais suas implicações para o desempenho dos atletas, desde a iniciação até o alto nível. MEDO NO ESPORTE O medo pode interferir nos mecanismos aprendidos, e necessários para a execução dos movimentos que são característicos de cada modalidade praticada, modificando assim a resposta do atleta no momento da competição. Chevallon (2003) defende que, os atletas recebem as mais variadas pressões do meio esportivo e, conseqüentemente, se fracassam, apresentam, à partir deste momento, uma pressão interna que contribuirá para mudanças em sua auto-imagem. O atleta que experimenta um fracasso e sente “o peso” da pressão externa e interna pode duvidar de suas capacidades, perder a confiança em si mesmo, desenvolver um sentimento de inferioridade, por vezes imaginária, e apresentar um comportamento medroso frente a uma nova competição. Ainda para Chevallon (2003) muitos atletas, para evitar os julgamentos das pessoas envolvidas em seu meio esportivo, costumam intensificar sua preparação antes da competição, podendo levar com isto a reação de fadiga física e psicológica e, como conseqüência, podem apresentar medo do fracasso e medo de decepcionar o técnico, os companheiros e sua família. O atleta medroso apresenta emoções fortes, e dificilmente externará estas reações emocionais para seu técnico, por medo de decepcioná-lo, e por medo também de admitir a própria fraqueza. Em nível consciente os atletas temem perder e com isso muitos acabam se orientando para o fracasso, como conseqüência de diversas causas, até mesmo pela associação das lembranças de punições e castigos efetuadas por seus pais no período da infância. Em outras situações, podemos encontrar também o atleta que tem medo de ganhar (medo do sucesso), que o leva a evitar a vitória por temer ser preterido no futuro, resultando no fracasso (CRATTY, 1984). Huang e Lynch (1992) explicam que o medo poderá propriciar ao atleta o ímpeto de competir, pois ao reconhecê-lo, o atleta vivencia ativação, interferindo positivamente no seu desempenho, mas, o medo poderá também ser um grande obstáculo à atuação esportiva, quando associado aos riscos da modalidade. Muitas vezes, os atletas possuem uma maneira de pensar irrealista, exagerada com relação às competições, avaliam que não treinaram o suficiente e apresentam como resultado o medo, que pode ser real ou imaginário. Estes julgamentos imaginários de incapacidade para enfrentar, com sucesso, determinadas competições ou adversários, valorizam em demasia as falhas, e os medos surgem como conseqüência. (CRUZ; VIANA, 1996). Conforme Hackfort e Scwenkmezger (1993), o medo é o resultado da insegurança do atleta, causada pela percepção de sua incapacidade em superar dificuldades e exigências do momento esportivo. Esse medo por antecipação será proporcional ao valor negativo atribuído pelo atleta às conseqüências, e acompanha o estado de ansiedade. Samulski (2002) compartilha da mesma visão, e ainda acrescenta que o medo será cada vez mais intenso, na medida em que, o desenvolvimento da ação é inseguro. Para Machado (1998) inúmeras situações podem gerar o medo, principalmente quando o atleta procura atingir determinados objetivos na ação esportiva que estão dentro de parâmetros de seu julgamento, provocando sentimentos de auto-avaliação e comparações entre o desempenho obtido e o esperado. Por fim, nesse momento, pode surgir o medo por antecipação, das conseqüências que podem vir a aparecer. Algumas conseqüências citadas pelo autor são: o fracasso, o vexame social e a contusão. Os estudos consensualmente sobre que tal o medo no sentimento esporte, (percepção atualmente, do medo) apontam acarreta conseqüências claramente prejudiciais para a aprendizagem e para o rendimento esportivo. Devido à tensão muscular gerada nos níveis motor e fisiológico, decorrente do medo, os indivíduos manifestam falta de precisão dos movimentos, falta de flexibilidade, maior predisposição à fadiga, transtornos de percepção, redução do campo visual e de atenção. Em situações de aprendizagem, reconhece-se que dois tipos de temores manifestam o medo: a insegurança física e a insegurança psicológica, de ordem cognitiva (MACHADO, 2006; ROFFÉ, 1999; SANTIAGO; GONZÁLEZ, 2002). Sobre a insegurança física, os mais diversificados atletas destacam que o medo da lesão é a mais comum, principalmente quando a dificuldade e o risco da tarefa são altos. O próprio medo da lesão (situação tida como antecipada à ação) pode contribuir para que a lesão ocorra de fato, sendo caracterizada como um círculo vicioso, pois o medo de lesionar-se gera tensão muscular, e essa tensão torna os movimentos rígidos e descoordenados, provocando a execução errada dos mesmos, podendo causar uma lesão. Segundo os autores, e também de acordo com Thomas (1982), os indivíduos que estão em fase de iniciação, independentemente da modalidade esportiva, se deparam com movimentos pouco habituais, podendo experimentar situações de perda de orientação espacial e perda de equilíbrio, causando uma insegurança que pode vir a produzir o medo antes, durante ou mesmo depois da execução de tais ações. O medo provocado por insegurança psicológica, de ordem cognitiva, o medo do fracasso pode ser manifestar por medo de ser avaliado negativamente, medo de fazer ridículo e medo da competição. O medo do fracasso é tido, na literatura, como um dos temores mais gerais na prática esportiva, podendo ter distintas causas, como falta de confiança nas próprias capacidades e habilidades, ou medo da repercussão do fracasso, como castigos, afastamento da equipe, punições, perda de patrocínio, entre outras. O medo de ser avaliado negativamente é justificado por Santiago e González (2002) pelo temor às críticas negativas que os indivíduos podem vir a receber, seja do professor, do técnico, dos pais ou dos companheiros. O medo de parecer ridículo também é considerado da mesma maneira, pelo temor de ser avaliado e julgado pelos outros. Roffé (1999) descreve uma espécie de circuito o modo como o medo pode ser instalado em uma situação específica, como em uma partida de futebol: o jogador arrisca, se equivoca, sente culpa (se arrepende), baixa sua auto-estima e autoconfiança, e todo este processo desencadeia o medo de arriscar pelo resto da partida. A manifestação do medo no esporte está associada à aparição de diversas causalidades, provocando, atreladamente, as seguintes conseqüências nos atletas: falta de decisão, inibição e determinados bloqueios em certas ações, transtornos na coordenação dos movimentos, fuga ou aversão (a competição ou jogo, ou uma situação específica, como não querer chutar um pênalti). Por fim, Roffé (1999) faz uma correlação do que denomina de variáveis psicológicas, estabelecendo que: quanto maior a ansiedade, menor a concentração; quanto maior a autoconfiança, menor a insegurança, a ansiedade, a hostilidade e maior decisão e capacidade de arriscar e maior controle dos medos; e quanto maior a auto-estima, menor o estado de ansiedade e maior o grau de autoconfiança. ANSIEDADE A ansiedade é um fenômeno presente em diversas situações do cotidiano, pode-se ficar ansioso antes de uma prova, antes de uma viagem de avião ou ainda ao dentista. No contexto esportivo, elevados níveis de ansiedade se tornam evidentes, por exemplo, quando atletas apresentam mãos frias e úmidas, aumento da freqüência cardíaca, aceleração da respiração, distúrbios gastrointestinais (necessidade de urinar freqüentemente, diarréia), sudorese, tremores, náuseas, enjôos, boca seca, incapacidade de concentrar-se, indisposição, dor de cabeça, aumento da tensão muscular ou dificuldade para dormir antes ou durante uma competição. Neste sentido, a compreensão dos antecedentes, a dinâmica e as conseqüências da ansiedade podem fornecer implicações práticas úteis no cenário esportivo. Por exemplo, se um técnico sabe do rendimento de seu atleta, com base no conhecimento prévio que possui acerca dos níveis de ansiedade, pode tentar manipular positivamente os traços ansiógenos deste. O QUE É ANSIEDADE? Spielberger (1966) define a ansiedade como reações emocionais a um estímulo percebido como perigoso e que resultam em uma combinação de sentimentos de tensão, apreensão e nervosismo, pensamentos de desprazer e mudanças fisiológicas. D’Urso e colaboradores (2002) reconhecem a ansiedade em experiências esportivas, relacionando-a a representações simbólicas¹, freqüentemente inconscientes, das experiências vividas, e que ao serem lembradas, podem levar o atleta a vivenciar as emoções de maneira positiva e ou negativa favorecendo ou inibindo a performance. Em outras palavras, uma mesma emoção pode ser benéfica para um atleta e maléfica para outro, dependendo do significado que o mesmo dá a ela (D’URSO e colaboradores, 2002). Segundo Lazarus (2000) em situações competitivas a ansiedade pode estar presente no desempenho, visto que, o atleta ao comparar seu desempenho com outros atletas pode sentir-se incapaz, ou por não possuir os recursos técnico-táticos, físicos e psicológicos necessários para enfrentá-lo. A ansiedade, para o autor, é compreendida como uma emoção de ameaça incerta, ou seja, quando valores e objetivos importantes são ameaçados. Neste caso, a ansiedade interfere de maneira negativa sobre a ação esportiva, mas, explica ainda, que a ansiedade pode também ocasionar efeito positivo sobre a performance, quando em situações pré-competitivas o atleta avalia que tem reais condições para um bom desempenho. De acordo com Lazarus (2000), Weinberg e Gould (2001), Bandeira (2002) a ansiedade é uma síndrome emocional que envolve stress, avaliação cognitiva de ameaça, ou mesmo, uma avaliação com componentes cognitivos e somáticos, associados a elementos simbólicos, que fazem parte da imaginação, e que podem resultar em sentimentos de nervosismo, preocupação e apreensão, associados à ativação ou a agitação do corpo. Enfim, tanto a ansiedade como o medo, são manifestações perturbadoras quando percebidas irracionalmente e quando causadas inapropriadamente, o que nos leva a compreender a importância de se encontrar as causas e as razões legítimas para a situação vivenciada (GAYLIN, 1979). Segundo Raglin (1992), a ansiedade envolve um processo dinâmico biopsicossocial que englobe 3 componentes: o estressor que significa uma ameaça física ou psíquica para o indivíduo; a percepção que diz respeito a análise que o indivíduo faz da situação de acordo com suas influências genéticas e suas experiências prévias e, avaliação do estressor, uma vez que o indivíduo perceba a situação como estressora, surgem reações emocionais, fisiológicas e comportamentais. Traço de ansiedade e estado de ansiedade A maior parte das pesquisas relacionadas à personalidade e esporte, antes de meados de 1970, utilizavam a abordagem de traço de personalidade, considerando uma unidade de personalidade relativamente estável com atribuições que exercem influência no comportamento das pessoas, minimizando a influência de fatores ambientais e situacionais (Martens, Vealey & Burton, 1990). No entanto, com o crescimento da psicologia comportamental, que considera a influência de fatores ambientais e situacionais do comportamento, surgiram pesquisas que privilegiam apenas os fatores ambientais, minimizando a influência do traço de personalidade. Segundo Martens, Vealey e Burton (1990) essas duas abordagens limitam a maior compreensão dos determinantes do comportamento humano. Por isso, surgiu uma terceira visão que é a abordagem interacionista, inicialmente proposta por Lewin (1975), segundo a qual, o comportamento é resultante de fatores de traço de personalidade e de influências ambientais/situacionais. A partir desta consideração, pesquisadores verificaram que traços de gerais de personalidade não eram adequados para predizer comportamentos e para melhor descrever o fenômeno da ansiedade, Spielberger (1966) propôs a divisão da ansiedade em duas medidas: o traço de ansiedade e o estado de ansiedade. O traço de ansiedade representa uma característica, uma propensão para sentir maior ou menor grau de ansiedade diante de diferentes situações, ou seja, é a disposição da personalidade de modo quase permanente. Enquanto o estado de ansiedade mostra as reações do indivíduo perante situações temporárias ou tensões situacionais, é observada em dado momento na vida do indivíduo. Assim, o estado de ansiedade reflete os processos psicológicos e fisiológicos, ao passo que o traço de ansiedade consiste em uma predisposição ou uma tendência da personalidade, relativamente permanente, para perceber determinadas situações ambientais como ameaçadoras ou estressoras que aumentam o estado de ansiedade. Ansiedade cognitiva e somática Em 1967, Liebert e Morris propuseram um modelo multidimensional para a ansiedade, considerando-a manifestada sob dois ângulos: o cognitivo e o somático. O cognitivo representa o componente mental da ansiedade, é causado por sensações de preocupação e medo de ser avaliado negativamente e o somático se refere aos aspectos fisiológicos da ansiedade, como aumento da freqüência cardíaca e respiratória, bem como da sudorese, tensão muscular, distúrbios gastrointestinais entre outros. Esta distinção permite melhor compreensão da relação entre ansiedade e desempenho e, também, para a utilização de técnicas de intervenção adequadas aos níveis de estado de ansiedade percebidos. Principais causas Segundo Weinberg e Gould (2001), as principais fontes de ansiedade podem ser divididas em fontes situacionais e pessoais. As fontes situacionais se referem a importância dada ao evento ou competição de forma geral. Segundo Machado (1998), quanto mais importante for o evento, maior será a probabilidade de o indivíduo exibir elevado nível de estado de ansiedade e, incerteza que cerca o resultado do evento. Quanto maior o grau de incerteza de uma pessoa em relação ao resultado ou a sentimentos e avaliações dos outros, maiores os níveis de estado de ansiedade. Ao passo que as fontes pessoais englobam duas disposições de personalidade e a disposição de ansiedade física e social: a primeira o traço de ansiedade é um fator de personalidade que predispõe uma pessoa a encarar uma competição como mais ou menos ameaçadora. Portanto, atletas com elevados níveis de traço de ansiedade tendem a perceber um maior número de situações como ameaçadoras; auto-estima também está relacionada à percepções de ameaça e às mudanças correspondentes no estado de ansiedade. Atletas com baixa auto-estima tendem a apresentar menos confiança e mais estados de ansiedade e, ansiedade física e social é uma predisposição da personalidade que reflete a tendência de uma pessoa ficar nervosa ou apreensiva quando seu corpo é avaliado. Outra fonte de ansiedade na situação competitiva apresentada por Davies e Armstrong (1989) são os técnicos e os pais. Segundo os autores, a ansiedade pode ser transmitida de pessoa para pessoa e, especialmente no caso da competição infantil, técnicos e pais que demonstram sua ansiedade através de determinados comportamentos como agitação excessiva, podem transmitir para a criança a sensação de que adultos não confiam nela e que há dúvida e apreensão, aumentando a ansiedade nas crianças. Efeitos da ansiedade no desempenho motor Weinberg e Gould (2001) apresentam duas explicações para o modo como a ativação aumentada influi no desempenho esportivo: tensão muscular intensa e dificuldades de coordenação: a ansiedade pode provocar aumento na tensão muscular, interferindo na coordenação e, por isso, pode ocorrer queda no desempenho; mudanças no nível de atenção e concentração: a ativação intensa pode causar estreitamento do campo de atenção de uma pessoa. Dessa forma, sinais relevantes não são detectados e podem influenciar negativamente o desempenho, principalmente em tarefas que requerem um foco externo amplo. Além disso, o aumento da ativação pode fazer com que indivíduos focalizem sua concentração em estímulos inadequados, tornando-os suscetíveis, afetando, por sua vez, a concentração ideal. Segundo Becker Junior (2000), níveis baixos de ansiedade podem resultar em falhas devido a demasiadas informações que chegam à consciência, níveis moderados parecem auxiliar os indivíduos a selecionar os estímulos que consideram importantes, e níveis elevados tendem a deteriorar a performance devido ao estreitamento da atenção, fazendo com que sinais relevantes não sejam detectados. Zona ótima de funcionamento Inicialmente, pesquisadores consideravam que a relação, entre os níveis de ansiedade e o desempenho esportivo, se comportavam na forma de um U– invertido, ou seja, o aumento do nível da ativação facilitaria o desempenho motor até certo ponto, seguido por um baixo rendimento, caso este nível continuasse a aumentar (Yerkes & Dodson, 1908). Para Magill (2000) outro aspecto de suma importância relacionado ao desempenho ótimo se refere à complexidade da tarefa. Tarefas de alta complexidade são mais bem desempenhadas com níveis baixos de ansiedade, ao passo que tarefas menos complexas exigem níveis mais elevados para o ótimo desempenho. Então, pode-se considerar que diferentes modalidades exigem níveis de ansiedade distintos para o ótimo desempenho. Para Oxendine (1970), níveis de ativação altos interferem em tarefas que requerem habilidades complexas, de controle muscular fino, coordenação e concentração, ao passo que tarefas motoras grossas, de resistência e velocidade parecem necessitar de níveis de ativação alta. Mas Hanin (2000) constatou que ocorrem desempenhos ótimos em um indivíduo sem que seu nível esteja necessariamente no ponto máximo do U– invertido e observou a existência de uma Zona Ótima de Funcionamento – ZOF. O que prediz a Zona Ótima de Funcionamento Individual – IZOF (Hanin, 2000) é que embora se possa considerar que diferentes níveis de ansiedade são exigidos dependendo da tarefa, observa-se que esses níveis variam também de pessoa para pessoa. Portanto, o que para determinado atleta pode significar um nível ideal e benéfico de ansiedade, para outro, esse mesmo nível pode ser elevado e prejudicar sua atuação. Nesse sentido, Cratty (1984) afirma que há diferenças individuais na capacidade de acomodação à tensão momentânea ou permanente, enquanto alguns são capazes de serem bem sucedidos, tornando-se mais fortes sob tensão esportiva, que pode ser momentânea ou prolongada; outros sucumbem sob muita pressão, apresentando tensão crônica. Giacobbi e Weinberg (2000) investigaram as respostas de diferentes subgrupos de atletas quanto aos seus traços de ansiedade, os resultados mostraram que os sujeitos com maior traço de ansiedade responderam a situações de estresse usando diferentes comportamentos em comparação com os sujeitos com menor traço de ansiedade, ou seja, embora possa-se considerar que diferentes níveis de ansiedade são exigidos em função da tarefa, observa-se que esses níveis variam também de indivíduo para indivíduo. Iizuka (2003) observou que jovens mesa-tenistas podem se desempenhar bem independentemente dos seus níveis de ansiedade, desde que estes adaptem suas características pessoais aos seus estilos de jogo. Por exemplo, um atleta com elevados níveis de ansiedade pode alcançar bons resultados com um estilo de jogo rápido, que demanda alta ativação, ao passo que um atleta com níveis baixos de ansiedade, talvez, se beneficie com um estilo mais lento, priorizando a regularidade de suas rebatidas. Iizuka (2003) conclui que, talvez, não haja níveis ideais de desempenho para o tênis de mesa, mas sim, para cada atleta. RAIVA Em todos os momentos, inclusive nos pré-competitivos as vivências emocionais de raiva dos atletas estão condicionadas pelos relacionamentos, Lazarus (2000) explica que tanto a ansiedade como a raiva, podem surgir nos momentos em que os atletas avaliam suas atitudes em relação à ação do outro. Para o mesmo autor, quando atletas experimentam raiva, ocorre um impulso poderoso de contra-atacar, com a finalidade de “ganhar”, e assim, elevar sua auto-estima, que pode ter ficado abalada, por uma necessidade de revidar uma ofensa. Em esportes competitivos, as ações geradoras de discussões, tais como o confronto com árbitros, torcida, técnico, ou adversários, podem ocasionar reação de raiva e fúria, mesmo em novos confrontos (LAZARUS, 2000). Para Spielberg (1999) citado por Vallance e colaboradores (2006) a raiva pode ser definida como uma resposta psicofisiológica composta de sentimentos que variam da intensidade leve da perturbação até o agravamento desta intensidade. A raiva é uma importante emoção a ser estudada no contexto esportivo, principalmente nos esportes coletivos, uma vez que, pode levar o atleta a machucar o adversário através de um comportamento agressivo (VALLANCE e colaboradores, 2006). Lazarus (2000) propõe que certos níveis de raiva, quando elevados, podem também provocar conseqüências motivacionais construtivas para os atletas que mobilizam energia extra ao árduo trabalho, em uma tentativa de reparar uma injustiça, ou mesmo, de provar a alguém que esta estava errada. Hannin (2000) concorda com esta teoria e explica que em um jogo de hóquei, um jogador ao ver a raiva de seu oponente, pode avaliar esta situação como perigosa e experiênciar medo, mas, se ao contrário, perceber que o seu oponente está vindo em sua direção para bater o taco no disco, poderá reavaliar a situação e experimentar alívio. Para Vallance e colaboradores (2006), a raiva foi estudada como traço e estado de raiva. O traço de raiva significa a tendência do atleta a vivenciar raiva em uma determinada situação relativamente estável, enquanto o estado de raiva refere-se ao nível de raiva de um atleta para um dado momento exigido e percebido como restrições e oportunidades. Em muitos momentos, a raiva pode conduzir ao sentimento de desprezo, dependendo da intensidade do relacionamento existente entre os indivíduos. Esta experiência, muitas vezes, indica a sensação de ser menos valorizado pelo outro, quando, por exemplo, não é mencionado em uma situação de vitória ou sucesso (GAYLIN, 1979). Ainda para o autor, o indivíduo que necessita se proteger da raiva nega-a, ao mesmo tempo, que nega também o sentimento de culpa. CULPA E VERGONHA Culpa e vergonha, são emoções relacionadas à necessidade de sobreviver em relações sociais, a padrões morais e ideais do ego². A culpa nos relacionamentos refere-se a uma transgressão moral. Para Gaylin (1979) a culpa é definida como “nada mais do que o problema que surge em nossa mente vindo da nossa consciência por termos feito o contrário do que verdadeiramente acreditamos ser nossa obrigação” (p.21). Para o autor o sentimento de culpa, relacionado à transgressão de alguma coisa proibida, e associado à punição, é confundido com duas emoções relacionadas, a vergonha e o medo de culpa. Em esportes competitivos, alguns atletas são mais vulneráveis a experimentar a culpa, por exemplo: se em um momento esportivo a competição é desigual com relação à idade dos atletas, um deles poderá experimentar a necessidade de ser solidário e com isto, vivenciar uma dificuldade de conter sua preocupação com o oponente e, como conseqüência, decrescer seu desempenho durante a competição, por sentir-se culpado por vencê-lo (LAZARUS, 2000). ²Ideais do ego: “em nosso inconsciente existe um ideal fundamental para o respeito próprio” (Gaylin ,1979, p. 06). O autor explica ainda que haja pouco espaço para a culpa em competição de atletas de alto rendimento, uma vez que, nenhuma piedade pode estar presente em qualquer competição de importância. A vergonha e a culpa segundo Gaylin (1979) servem para facilitar o comportamento humano de ser aceito socialmente, pois “ambas lidam com a transgressão e erros contra as normas de conduta e suportam os pilares da estrutura social” (p.29). A vergonha para o autor está relacionada às más condutas relativas ao passado, presente e futuro no que diz respeito à desonra e descrédito, “sentimos vergonha das coisas más, das coisas que acreditamos serem desagradáveis para nós mesmos ou para as pessoas com quem nos importamos” (p.29). Ainda para o autor, uma das características da vergonha é que ela é sentida com mais intensidade quando em grupo. Para Lazarus (2000) a vergonha pode desempenhar importante papel nos esportes competitivos, pois os atletas propensos a esta emoção, quando falham na competição, podem pensar que esta falha revela uma séria falha de caráter, e que todos – o grupo - irão perceber e se retrair, interferindo assim na performance. Os atletas querendo “esconder” a vergonha podem recusar a verdadeira analise do que aconteceu naquele momento. O autor explica ainda que a vergonha pode também levar o atleta a externalizar a culpa defensivamente, confundindo a real emoção e dirigindo para outro a culpa, – mas, tudo isto pode estar acontecendo inconscientemente. TRISTEZA E DEPRESSÃO A emoção depressão é acompanhada de falta de esperança, como também, de outras emoções como raiva, ansiedade, culpa, vergonha, e tristeza. É um estado emocional complexo, no qual, na medida em que a tristeza se torna mais profunda, a depressão se eleva, resultando para a pessoa envolvida, uma necessidade de acomodar a situação, aceitando-a ou conformando-se (Lazarus, 2000). Um estado de depressão pode ser acompanhado por uma inadequação pessoal, e indicar sentimentos de auto-valorização negativa, com dificuldades de se ajustar as condições esportivas, ocasionando no atleta um isolamento emocional e tristeza (HANIN, 2000). Para Ucha (1998) os atletas que vivenciam esta emoção, em geral, apresentam um estado reduzido de ânimo e alegria, perda de interesse, com inquietude e insegurança, e ficam mais susceptíveis aos estímulos ambientais, tais como não querer treinar, indisciplina e, até mesmo, desejo de abandonar o esporte. Explica ainda, que o atleta pode apresentar dúvidas quanto as suas metas esportivas, interpretando seus momentos de maneira pessimista. ESPERANÇA, ALÍVIO, FELICIDADE e ORGULHO. A esperança é uma emoção presente em situações, nas quais, o atleta procura a adaptação necessária para o momento que está vivenciando, principalmente, o competitivo, como também em situações de treinamento. O atleta que percebe o “impossível como possível”, não mede esforços para alcançá-lo. Neste momento sua vivência é de esperança, uma emoção, pouco estudada na literatura da Psicologia do Esporte. Apesar disso, Lazarus (2000) afirma que nos esportes competitivos, o atleta experimenta uma condição de acreditar sempre, pois, ao evitar sentimentos de desesperança, consegue manter o seu compromisso competitivo. O atleta que mantém esperança, mesmo quando, as coisas não vão bem, está fazendo uso de sua real capacidade, de fazer uso, de todos seus recursos internos. Já o alívio é a mais simples das emoções, e em esportes competitivos pode ter um efeito considerável sobre o desempenho pois, em muitas situações, o atleta que vivenciou tensão, ansiedade e preocupações, provavelmente, após o alívio, estará relaxado e em condições de vivenciar um jogo seguro e confortável, ou seja, com atenção e concentração suficientes. É importante considerar que o atleta relaxado demais, pode experimentar também o desânimo, supondo que o oponente seja mais fraco e não merecedor da sua devida atenção, o que poderá acarretar na perda do limiar entre concentração e relaxamento e, consequentemente, perder a partida. A felicidade pode ter dois significados, o primeiro refere-se ao bem estar geral ou, até mesmo, a satisfação do momento; o segundo trata a felicidade como uma emoção mais perceptível, ou seja, ocorre através de uma expressão mais intensa, com entusiasmo e bem estar. Este segundo significado, pode ser visto em situações vivenciadas pelos atletas, após o triunfo de uma competição difícil, de uma importante vitória. Aristóteles citado por Lazarus (2000) definiu a felicidade como a sensação em que se usa efetivamente, todas as forças físicas e mentais, e explicadas, como “um processo progressivo de metas em direção a um objetivo ou objetivos pelos quais nós estamos nos esforçando” (p.248). Orgulho, normalmente, está relacionado a um evento favorável que pode aumentar ou reduzir a sociabilidade, uma vez que o atleta que experimenta um excelente resultado se sente orgulhoso e sua auto-estima é aumentada. O orgulho pode, em alguns momentos, ser o fator motivador para justificar o esforço do atleta, em busca do sucesso e, em outros momentos, pode afetar negativamente seus relacionamentos. O orgulho e a felicidade podem estar associados em determinadas situações, embora possuam diferenças nas suas causas particulares. Assim, Lazarus (2000) conclui que estas emoções podem tornar o atleta um herói ou um pária, isto é, influenciar seu desempenho de maneira positiva ou negativa. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sempre que falamos em desempenho esportivo deve-se considerar que a relação entre as emoções e rendimento esportivo não pode ser tratada de forma simples, trata-se de um tema complexo e individualizado, e nenhuma variável por si só é suficiente para explicar uma emoção. Portanto, sua compreensão necessita de uma análise mais aprofundada, considerando-se uma combinação de variáveis dos inúmeros processos e fatores psicológicos interdependentes, dentre os quais, podemos citar as influências ambientais (sociais, políticas e econômicas), e inerentes ao indivíduo (personalidade, sistema de crenças, valores, moral), dentre outros (Cruz e Viana, 1996). A relação entre essas variáveis é que determinará a emoção vivenciada por determinado indivíduo, para determinada tarefa, em determinado momento. Além disso, observa-se a predominância de estudos sobre as emoções no contexto competitivo, de rendimento; talvez pelo fato do esporte de rendimento oferecer maior status ao pesquisador, e à cultura vigente privilegiar o esporte de medalhas olímpicas. No entanto, não se pode negar que o berço desta prática se dá no contexto escolar, ou seja, todos os atletas medalhistas olímpicos foram crianças e iniciantes um dia. Assim, há necessidade de mais estudos sobre as emoções no contexto do esporte de rendimento. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BANDEIRA, T. L. Identificação das causas subjetivas da ansiedade competitiva e das estratégias de superação de atletas de equipes adultas masculinas de basquetebol. Dissertação de Mestrado, Unicamp. Campinas. SP, 2002. BARBALET, J. M. Emoção, teoria social e estrutura social: uma abordagem macrossocial. Lisboa: Instituto Piaget, 1998. BAPTISTA, A.; CARVALHO, M.; LORY, F. O medo, a ansiedade e as suas perturbações. Centro de Estudos de Psicologia Cognitiva e da Aprendizagem. Centro de Aconselhamento para Estudantes. Departamento de Psicologia da Universidade Lusófona, 2004. BARLOW, D. H. Anxiety and its disorders. The nature and treatment of anxiety and panic. 2nd ed. New York: Guilford, 2002. BEATTIE, S. HARDY, L. WOODMAN, T. Precompetition Self-Confidence: The Role of the Self. Journal.of Sport & Exercise Psychology, 2004, 26, 427441. BECKER JUNIOR, B. 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