A experiência do European Union Connect: uma nova abordagem para
mentoria em empresas nascentes
Douglas A. G. Vieira; Adriano Lisboa; Henrique Pereira; Mateus Brito; Gustavo L. Silva
Resumo
Este trabalho tem como objetivo descrever e propor um novo modelo de mentoria para
empresas inovadoras nascentes. Inspirado no programa de empreendedorismo da União
Européia, o EU Connect, um novo programa para startups e micro empresas inovadoras é
proposto. Inicialmente, foi identificado que existe uma lacuna educacional entre a cultura
startup e a tradicional cultura de gestão empresarial. Enquanto a primeiro se aplica de forma
eficiente na criação de novas empresas em ambientes de alto risco, a segunda se materializa
para a gestão e operação de empresas mais tradicionais e consolidadas. Esse trabalho irá
aprofundar nessa discussão culminando na proposta de um novo programa de
empreendedorismo chamado Innovation Backstage, que tem como objetivo preparar empresas
inovadoras para a transição de um pequeno para um médio negócio.
Abstract
This paper aims at proposing a novel mentoring strategy for startups, which is inspired by the
entrepreneurship program EU Connect, developed by the European Union. Firstly, it was
identified a lack of organized actions to fulfill the gap between the startup and traditional
business cultures. While the first one is focused in creating a company in a risky environment,
the second one is devoted to operating traditional consolidated organizations. Following the
contrasts of the aforementioned model, this works proposes a new entrepreneurship program
called Innovation Backstage, which targets at preparing growing innovative companies to the
transition from a small to a medium sized business.
Palavras-chave: lean startup, proposta de valor, mentoria, gestão
Autor: Douglas A. G. Vieira, Ph.D.
Doutor em Engenharia Elétrica
Instituição: ENACOM Handcrafted Technologies
Endereço: Rua Professor José Vieira de Mendonça, 770,
Parque Tecnológico (BH-TEC), Belo Horizonte, MG, 31310-260
Email: [email protected]
Autor: Henrique Pereira, MSc
Mestre em meio ambiente e desenvolvimento
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Autor: Gustavo L. Silva, MSc
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Introdução
É cada vez mais claro que a operação de empresas inovadoras deve ser baseada em conceitos
e técnicas customizadas para negócios com alto grau de incerteza. Nesse contexto, o
movimento chamado de Lean Startup tem cada vez ganho mais força [Eric2011]. Baseado no
modelo industrial japonês da produção enxuta [Womack1991], o movimento Lean Startup
considera que ciclos curtos entre construir, medir e aprender é uma forma eficaz de reduzir os
riscos em ambientes com grande incerteza.
Para empresas de software, a forma enxuta de pensar em geral vem acoplada ao
desenvolvimento ágil, que tem como um dos seus princípios o desenvolvimento e entrega
rápida de software visando a satisfação do cliente [Beck2001]. Outros trabalhos consagrados
para o desenvolvimento de novos produtos são as metodologias de canvas para Modelos de
Negócios [Osterwalder2010] e Design de Propostas de Valor [Osterwalder2014].
Do outro lado, os cursos mais tradicionais de administração de empresas, economia e afins,
preparam profissionais para a condução de empresas já consolidadas ou com elevado grau de
maturidade, e que podem, portanto, navegar em ambientes com menor incerteza.
O atual modelo de inovação para empresas nascentes, principalmente em países com capital
de risco abundante como os EUA, se baseia em grandes investimentos para transformar
empresas nascentes em grandes corporações. Nesse modelo, em geral, os investidores trazem
o modelo “tradicional” de gestão para completar o espírito inovador das empresas investidas.
Entretanto, em um ambiente onde o custo de capital é mais elevado, como o caso brasileiro,
os investidores tendem a ser mais avessos ao risco, preferindo apostar em empresas que
demonstrem capacidade de sucesso, sem necessariamente dar um salto de nascente para uma
grande empresa em um curto espaço de tempo. Nesse cenário, os investidores brasileiros
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buscam empresas com ideias inovadoras mas que demonstrem maturidade gerencial em seus
empreendedores, o que constitui uma barreira relevante para consolidar investimentos
frequentes no país. Certamente é desejo dos investidores um aumento da assertividade e do
volume de negócios identificados como aptos a receber investimentos.
Do lado do empreendedor, também podem ser identificadas barreiras que se materializam nas
seguintes dores: lacuna entre a cultura startup e de gestão de negócios; diferenças entre criar e
operar uma empresa; e, um certo medo do desconhecido que a alteração da estrutura da
empresa causa. Uma forma de amenizar esse problema é com a experiência prévia do
empreendedor em uma outra empresa, e um contato real com empreendedores mais maduros.
Esse contato real com empreendedores que já têm experiência em uma empresa operante é um
formato mais amplo que normalmente assume a forma de uma mentoria tradicional. Uma
mentoria tradicional se baseia na discussão de tópicos preestabelecidos, enquanto no formato
proposto por este trabalho essa dinâmica é complementada por tópicos nascidos diretamente
na operação da empresa. Adicionalmente, em geral, os mentores são pessoas com formação
mais voltadas para “negócio”, sendo normalmente provida por pessoas em cargos
equivalentes à direção executiva. Na vivência empresarial proposta, é aberta a possibilidade
de contato com pessoas de outros setores do negócio, cobrindo desde como escolhas
tecnológicas são realizadas, até como criar uma estrutura societária estável e saudável.
Adicionalmente, é muito comum que empresas inovadoras brasileiras nunca passem pelo
ciclo de investimento externo, galgando, dessa forma, um crescimento contínuo e orgânico ao
longo do tempo. Nesse cenário, o empreendedor tem que ser capaz de administrar uma
empresa que necessita combinar os conceitos tradicionais com os das empresas nascentes
inovadoras.
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Este trabalho propõe um novo programa de inovação que visa combater as dores de
investidores na busca de empreendedores maduros por meio da formação a partir da vivência
empresarial em uma empresa inovadora consolidada. A Fig. 1 mostra o Canvas de Proposta
de Valor [Osterwalder2014] para o programa que tem como proposta de valor fundamental a
formação de empreendedores mais maduros, impulsionando investimentos e criando bases
sólidas para a consolidação de um ecossistema de empresas inovadoras prontas para chegarem
ao mercado.
Embora o programa EU Connect [EU2015] seja fortemente baseado no ideia de networking,
observamos que os ganhos do programa podem ser maximizados extrapolando o conceito
para uma vivência empresarial, estudando de fato os bastidores (backstage) de uma empresa
de inovação em um estágio um pouco mais avançado que as empresas nascentes.
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Fig. 1: Canvas de Proposta de Valor do programa Innovation Backstage.
Desenvolvimento
Como pode ser visto na Fig. 1, no contexto de nosso interesse, os novos empreendedores têm
dois grandes desafios: transformar uma ideia em empresa; e se preparar para o investimento.
Entretanto, os investidores esperam, em geral, uma empresa com empreendedores com um
certo grau de maturidade para considerar o investimento. Normalmente, é comum o
empreendedor ter que demonstrar um histórico de sucesso gerencial antes que seja
considerado maduro para receber investimento externo. Assim, comumente, investidores
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buscam empreendedores que possuam uma ou mais empresas estabelecidas com capital
próprio.
Esse ciclo é muito maléfico para ambos os lados pois o empreendedor tem poucas chances de
ganhar experiência devido às restrições de capital, e os investidores não encontram empresas
ou empreendedores que consideram adequados para investimento. Nesse contexto, esse
trabalho propõe um programa de vivência empresarial para formação dos empreendedores
utilizando a gestão de uma empresa consolidada e o contato com uma ampla gama de
especialistas como um atalho para o amadurecimento empresarial. Como consequência direta,
extraído do modelo do EU Connect, será gerada uma conexão mais direta entre as empresas e
empreendedores, uma solução que pode ser comparada a um hotline.
Para os investidores, será gerada uma análise mais humanizada e completa do negócio e
empreendedor, ranqueando e definindo com mais clareza o perfil das pessoas envolvidas,
sendo um ambiente para preparação de empreendedores com potencial de investimento.
Na Fig. 2 é mostrado o modelo de negócios concebido para o desenvolvimento do programa.
Trata-se de uma ação sem fins lucrativos que conta como as empresas ENACOM
(www.enacom.com.br) e WayCarbon (www.waycarbon.com) como as primeiras a aderirem,
sendo parceiros chaves. As empresas se comprometeram a alocar horas de pessoal
especializado de diversas áreas para o programa.
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Fig. 2. Canvas do Modelo de negócios do Innovation Backstage.
Conclusão
Este trabalho apresentou uma discussão sobre a dificuldade de investimentos em startups
brasileiras devido à dificuldade em se amadurecer e preparar empreendedores. Embora seja
uma pequena lacuna, essa tem dificultado o atingimento de objetivos tanto dos investidores
quanto das empresas inovadoras.
O programa proposto visa apresentar um modelo que vai além de mentorias empresarias por
possuir uma dinâmica que estabelece um hotline entre empreendedores nascentes e empresas
consolidadas. Esse relacionamento se estabelece por uma vivência e integração em ambientes
de negócio reais e pela possibilidade de experiências nas múltiplas áreas que constituem a
gestão de um negócio como o marketing, o financeiro, as vendas e os recursos humanos.
Autor: Douglas A. G. Vieira, Ph.D.
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Referência bibliográficas
[Ries2011] Eric Ries, The Lean Startup: How Today's Entrepreneurs Use Continuous
Innovation to Create Radically Successful Businesses, Crown Business, 2011.
[Womack1991] James P. Womack, Daniel T. Jones, Daniel RoosThe Machine That Changed
the World: The Story of Lean Production, HarperCollins, 1991.
[Beck2001] Kent Beck et al.,Manifesto for Agile Software Development". Agile Alliance,
2001.
[Osterwalder2010] A. Osterwalder et al., Business Model Generation, Strategyzer, 2010.
[Osterwalder2014] A. Osterwalder et al., Value Proposition Design: How to Create Products
and Services Customers Want, Strategyzer, 2014.
[EU2015] European Union, EU Connect Progam, http://www.eubrazilconnect.com/, 2015.
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