Nº 149
Taguatinga/DF, 10 de Março de 2011.
Evangelho de Lucas – Mateus, 4, 1-11
A Boa Nova em Nossas Vidas
Pe.Tininho
Queridos irmãos e queridas irmãs. Iniciamos na quarta-feira de
Cinzas o período da quaresma. Tempo propício para buscar nos converter à
Palavra de Deus e com isso nos colocarmos a serviço do Reino, que faz com
que a vida em abundância prometida a todos e todas seja de fato uma
realidade. Este período de 40 dias que antecede a celebração da paixão,
morte e ressurreição de Jesus, nos levará a experimentar em nossas vidas a
força que vem do alto e que nos torna homens e mulheres novos. A
exemplo do povo de Deus, que passou pelo deserto durante 40 anos, nós
também fazemos a caminhada rumo à libertação. Como o povo Hebreu
experimentou em Moisés a nova vida, nós, por meio de Jesus, começamos a
história de um povo novo guiado por um novo Moisés, Jesus.
Também neste período a Igreja convoca cada um dos fiéis a refletir
um tema de interesse de toda a comunidade. Neste ano é sugerido que nos
detenhamos sobre o tema da Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e a
Vida no Planeta”, tendo como lema: “A criação geme em dores de parto”
(Rm 8,22). Dedicarmo-nos a uma oração que não leva em conta nosso
planeta e sua realidade, pode ser uma oração descompromissada,
tornando-nos cegos e insensíveis à situação porque passa nossa casa
comum. E isso trará consequências para todos e para as futuras gerações,
que esperam de nós que sejamos cuidadores e cuidadoras da Mãe Terra.
Envoltos pela espiritualidade quaresmal, somos convidados a voltar o olhar
para o ato criador. Ao contemplar sua obra, Deus viu que tudo era bom (Gn
1, 31) e confiou a nós seus filhos e filhas o cuidado de toda criatura. “A
Campanha da Fraternidade desse ano vem para nos lembrar desse dom e
tarefa e nos alerta: ‘nossa mãe terra, ó Senhor, geme de dor noite e dia.
Será de parto essa dor ou simplesmente agonia? Vai depender só de nós’”
(Dom Dimas).
O Evangelho de São Mateus nos apresenta hoje, para nossa reflexão,
a realidade porque passam todas as pessoas que se deixam conduzir pelo
Evangelho. Jesus é o modelo, o exemplo a ser seguido diante de nossas
tentações. Tentações que são convites ao homem e à mulher a se
desfigurarem, pois somos criados a imagem e semelhança de Deus; nossa
vida é fruto do sopro divino do Criador. Mas somos tentados todos os dias a
abandonar o projeto de Deus, nos apresentado por Jesus, para assumirmos
o projeto do mundo que tem suas bases na corrupção, no poder
desenfreado, etc. “Mas entre vocês não deve ser assim”, nos diz Jesus.
Vamos às tentações. Na primeira o evangelista mostra à sua
comunidade que durante toda a vida Jesus foi tentado a reduzir a sua
missão e a salvação do homem e da mulher ao aumento da produção dos
bens materiais. Pois alguém pode ser rico, mas nunca experimentar a
felicidade. Ela será plenamente vivida quando buscarmos uma sociedade
não concentradora de bens e riquezas nas mãos de poucos. Os ricos, na sua
ganância, poderão viver o prazer, nunca a verdadeira felicidade, pois ela
será experimentada quando nos alimentarmos do outro pão, que é a
Palavra de Deus que nos torna homens e mulheres novos. Não se apresenta
também para nós, hoje, esta tentação? Nunca fomos atingidos pela ideia
que para ter uma vida bem sucedida, é suficiente possuir muitos bens?
A segunda tentação: a dos sinais. Quando o povo de Deus se
encontrava no deserto vivia pedindo de Javé provas de seu amor. Queriam
sempre saber se de fato Deus o amava. Pedia a água da rocha, o maná,
etc. Diferentemente desse povo, Jesus se recusa a pedir sinais. Ele não
precisa de provas para acreditar que o Pai o ama e que está
permanentemente ao seu lado. Nós somos todos os dias tentados a buscar
um sinal. Vejam que muitas de nossas orações não passam de buscar fazer
de Deus nosso funcionário. Se o milagre não acontece, eis que nossa fé
vacila, julgamos que Deus não nos ama, duvidamos até que ele exista. Não
podemos pedir a Deus que nos livre (na base de milagres) de todas as
dificuldades. Temos que lhe pedir, isto sim, que em qualquer situação,
agradável ou triste, nos dê a luz e a força para sairmos sempre vencedores,
isto é, mais amadurecidos, mais homens e mulheres.
A última tentação porque passou Jesus: a do poder, da adoração
àquilo que não é Deus. O povo de Deus no deserto, a certa altura, se cansa
do seu Deus e adora um bezerro de ouro: ídolo material, obra das mãos do
homem. Jesus não aceita inclinar-se diante de ídolo algum: não se deixa
seduzir pelo poder político, pelo dinheiro, pela força das armas, pela
amizade dos grandes desse mundo, pela ganância de sucesso. Ele ouve
sempre e somente a voz do Pai. Ao recusar a proposta do tentador, Jesus
nos mostra que ela é diabólica porque toda forma de autoridade que se
traduz em domínio, poder, prevaricação, opressão, imposição das próprias
idéias e da própria vontade, não respeita a liberdade do homem e da
mulher. Quem oferece essas coisas não é Deus, é Satanás. O Pai de Jesus
oferece a seus filhos e filhas somente serviço a prestar, com humildade, aos
irmãos e irmãs.
Queridos irmãos e queridas irmãs, nesse relato temos muito que
refletir nesse período tão importante para nossa caminhada de fé. Pois se
buscarmos, pelo menos tentar, experimentaremos a alegria do Ressuscitado
em nossas vidas, nos tornando homens e mulheres novos, construtores e
construtoras de um mundo reconciliado, quer conosco quer com nossa mãe
terra. Assim, na força do Ressuscitado, vivenciaremos e experimentaremos
o mundo novo. A mãe terra dará à luz a alegria e a felicidade para nós e
para as futuras gerações.
Rezemos então: Mestre, que tua Palavra e teu Espírito santo, neste
período quaresmal, nos levem a verdadeiramente nos convertermos, a fim
de que possamos celebrar tua paixão, morte e ressurreição, renascendo
para a vida plena. E que “vejamos que a criação geme em dores de parto,
para que possa renascer seguindo o vosso plano de amor, por meio da
nossa mudança de mentalidade e de atitudes” (Oração da CF-2011). Amém.
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