Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Capítulo 11 Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social no concelho 319 320 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 321 Sumário Ao contrário dos restantes capítulos deste Diagnóstico, não é possível, no capítulo 11, elaborar uma síntese de avaliação estratégica, dada a configuração do mesmo. Por conseguinte, este capítulo serve para identificar, caracterizando-os, os principais grupos de maior vulnerabilidade à pobreza e exclusão social. São, por isso, abordados os menores em risco, os deficientes, as vítimas de violência doméstica, os idosos, os dependentes, os beneficiários de Rendimento Social de Inserção e as minorias ético-culturais. 322 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 323 Se tivermos em vista a consolidação de dinâmicas de inclusão social, a acção social será, porventura, a temática deste Diagnóstico que mais directamente se relaciona com as dinâmicas de pobreza e de exclusão. Não porque as outras áreas sejam de somenos importância, mas porque é através das instituições e iniciativas de intervenção social, dos equipamentos e das medidas existentes, que se combatem esses fenómenos sociais de forma tendencialmente mais directa, quer prestando ajuda em situações urgentes, quer tentando detectar as suas causas e erradicá-las. As trajectórias e estratégias em prol da coesão e inclusão social serão analisadas no capítulo temático seguinte. No presente capítulo tratamos de dar conta das categorias sociais mais vulneráveis à pobreza e à exclusão social, bem como das suas principais fragilidades. Iremos, pois, apresentar algumas dinâmicas sociais caracterizadoras do concelho do ponto de vista da multiplicidade de processos, actores e temáticas que recobrem a exclusão social. 11.1. Menores em risco Uma das problemáticas que mais desperta atenção nos técnicos de intervenção social do concelho de Santo Tirso remete-nos para os menores em risco; o inquérito efectuado às instituições de intervenção social mostra que 60% dos casos (15 inquiridos) em que obtivemos resposta inclui as crianças no âmago da vulnerabilidade à exclusão social1. A inexistência de dados desagregados alusivos aos menores acompanhados por processos judiciais impossibilita-nos de proceder a uma análise exaustiva de todas as situações e menores em risco acompanhados pelas entidades competentes. Estamos, outrossim, em condições de afirmar que, até Dezembro de 2003, estavam a ser acompanhados 118 menores em processo judicial, dentre os quais se contabilizam 46 que já tiveram processo na 1 Aos inquiridos foi colocada uma questão de resposta múltipla, na qual lhes foi pedido que indicassem, de uma lista de grupos sociais, quais os que estão particularmente expostos a situações de pobreza e exclusão social. A percentagem de casos de cada opção de resposta diz respeito, por isso, ao número de inquiridos que responderam a essa mesma opção, num total de 25 respostas válidas. 324 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Comissão de Protecção de Menores2/Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ). Uma análise mais pormenorizada dos processos instaurados e dos menores acompanhados pela CPCJ de Santo Tirso informa-nos que a CPCJ instaurou, em 2003, 86 processos, acompanhando um total de 111 menores. A figura 11.1. mostra que estamos a falar de valores nunca antes atingidos, contrariando a tendência que parecia instaurar-se no triénio 1999-2001, tal como já havia sucedido com a informação de 2002. A variação observada na figura, especialmente a partir de 2002, apesar de, segundo esta Comissão, ser reforçada pelo abandono escolar, sobressai ainda mais pelo facto de estarmos perante dados respeitantes ao concelho de Santo Tirso, o que não acontecia nos anos antecedentes, já que só a partir desta data é que foi constituída a CPCJ da Trofa, até então englobada na de Santo Tirso. Figura 11.1.: Processos e Menores acompanhados pela CPCJ no concelho de Santo Tirso, entre 1996 e 2003 (n.º) 111 120 93 100 82 81 80 20 47 30 49 76 62 56 60 40 86 69 47 48 34 21 0 1996 1997 1998 1999 Número de menores 2000 2001 2002 2003 Número de processos Fonte: CPCJ de Santo Tirso. O mapa 11.1. apresenta-nos as freguesias que em 2003 mais processos viram ser abertos na CPCJ: Vila das Aves (24 processos) e Santo Tirso (21 processos) – precisamente os dois principais centros urbanos do concelho. 2 Denominação que antecedeu a actual Comissão de Protecção de Crianças e Jovens. Diagnóstico Social – Santo Tirso Mapa 11.1.: Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 325 Número de processos instaurados pela CPCJ de Santo Tirso, por freguesia, em 2003 AVES LAMA PALMEIRA SEQUEIRÔ VILARINHO AREIAS S.MARTINHO CAMPO S.SALVADOR CAMPO REBORDÕES RORIZ BURGÃES SANTO TIRSO S.TOMÉ NEGRELOS S.MAMEDE NEGRELOS S.MIGUEL COUTO MONTE CORDOVA S.CRISTINA COUTO S.TIAGO CARREIRA GUIMAREI REFOJOS LAMELAS REGUENGA >9 6-8 ÁGUA LONGA AGRELA 3-5 0-2 Fonte: CPCJ de Santo Tirso. Os dados que conseguimos apurar na CPCJ, alusivos ao último triénio, permitem-nos também sublinhar algumas tendências. Uma delas tem a ver com o facto de Santo Tirso se ter mantido sempre no topo da escala, distanciando-se, sobremaneira, das restantes freguesias; outra tendência relaciona-se com o crescente aumento (significativo) de processos instaurados de menores residentes em Vila das Aves, com uma variação positiva anual que ronda os 100%; uma terceira e última tendência, embora sem o peso das duas anteriores, remete-nos para a freguesia de Rebordões, que tem igualmente visto o seu número de 326 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social processos instaurados aumentar ao longo dos anos e situa-se já, com 7 processos, no terceiro lugar dos territórios com maior probabilidade de risco. Em 2003 merecem ainda um destaque optimista as freguesias de Água Longa, Areias, Guimarei, Lama, Lamelas, Palmeira e S. Mamede de Negrelos, todas elas sem processos instaurados na CPCJ. Nos casos particulares de Lamelas e Palmeira é já mesmo o segundo ano consecutivo em que não se verifica qualquer problema que tenha sido alvo de sinalização e consequente instauro de processo. Atente-se, porém, no seguinte: tal facto não pode induzir-nos a cair no erro de afirmar que as freguesias mencionadas não têm problemas, mesmo considerando que essa seria a situação ideal; antes, parece-nos claro que as situações-problema existentes dentro dessas comunidades são resolvidas através de recursos locais ou obscurecidas pelas próprias pessoas e, em consequência, não chegam, sequer, ao conhecimento da CPCJ. Tal como já acontecia no ano de 2002, em 2003 a maior parte dos menores são do sexo masculino (65 – 58,6%), sendo, no entanto, mais considerável do que no ano anterior a distância verificada para o sexo feminino (46 – 41,4%). Todavia, se cruzarmos o sexo dos menores com a sua idade, verificamos algumas diferenças: apenas nos escalões «6-9 anos» e «18-20 anos» o sexo feminino se sobrepõe ao masculino, mas sem diferenças significativas. Pelo contrário, as crianças e jovens do sexo masculino são, usualmente, os mais acompanhados pela CPCJ de Santo Tirso, com especial destaque para aqueles cuja idade se compreende entre os 3 e os 5 anos e entre os 13 e os 15, já que é nestes dois casos que se vislumbram maiores diferenças relativamente ao sexo feminino (figura 11.2.). Parece-nos pertinente, ainda, referir que a proximidade da idade limite da escolaridade obrigatória, patente neste último escalão etário, poderá, por si só, gerar comportamentos de abandono escolar e, assim, contribuir para as estatísticas da Comissão. São 28 (26,2%) os menores acompanhados em 2003 que não completaram ainda o Primeiro Ciclo do Ensino Básico, a que se juntam 5 (4,7%) que se encontram no Ensino Pré-escolar. Destacam-se, ainda, os 21 (19,6%) que não concluíram o Segundo Ciclo e os 18 (16,8%) que possuem apenas o Terceiro Ciclo incompleto. Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 327 Neste cenário, apenas um menor (0,9%) adquiriu já o diploma da escolaridade obrigatória3. Figura 11.2.: Distribuição dos menores referentes aos processos instaurados pela CPCJ de Santo Tirso, segundo o sexo e a faixa etária, em 2003 25 23 20 14 15 10 10 9 8 10 9 8 7 5 5 6 1 1 0 0-2 anos 3-5 anos (16,2%) (9%) 6-9 anos (14,4%) 10-12 anos (16,2%) Feminino 13-15 anos 16-17 anos (33,4%) (9,9%) 18-20 anos (0,9%) Masculino Fonte: CPCJ de Santo Tirso. De uma forma geral, os dados demonstram, por parte dos jovens em causa, uma postura de resistência à alteração do rumo que a vida dos seus progenitores tomou; se obter um nível de escolaridade inferior ao dos seus pais é complicado, dado este ser nulo ou quase nulo, verifica-se, paralelamente, a inexistência de mobilidade social ascendente, já que, dentre os 53 progenitores que informaram a CPCJ, estamos a falar de níveis de escolaridade que rondam o Primeiro Ciclo (20 pessoas – 37,7%) e o Segundo Ciclo do Ensino Básico (14 – 26,4%), havendo lugar para 6 (11,3%) que não sabem ler nem escrever. Mais uma vez se repete o circuito de reprodução de desfasamento entre o “mundo” da escola e o “mundo” destes jovens. 3 Parece-nos útil esclarecer que possuir o diploma de escolaridade obrigatória não é o mesmo que possuir o certificado de escolaridade obrigatória. No primeiro caso, o indivíduo concluiu com sucesso o 9º ano de escolaridade; no segundo caso, o indivíduo completou nove anos de escolaridade obrigatória, independentemente de ter, ou não, concluído o 9º ano de escolaridade. 328 Diagnóstico Social – Santo Tirso Figura 11.3.: Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Nível de escolaridade mais elevado atingido pelos menores acompanhados pela CPCJ de Santo Tirso, em 2003 16,8% Figura 11.4.: Nível de escolaridade mais elevado atingido pelos pais dos menores acompanhados pela CPCJ de Santo Tirso, em 2003 0,9% 3,8% 3,8% 22,4% 11,3% 11,3% 5,7% 3,7% 4,7% 19,6% 26,4% 4,7% 37,7% 26,2% Sem escolaridade Pré-escolar Sem escolaridade Sabe ler e escrever 1º ciclo incompleto 1º ciclo completo 1º ciclo completo 2º ciclo completo 2º ciclo incompleto 2º ciclo completo 3º ciclo completo Secundário completo 3º ciclo incompleto 3º ciclo completo Ensino superior Fonte: CPCP de Santo Tirso. Se atentarmos Fonte: CPCP de Santo Tirso. nas problemáticas relacionadas com os processos instaurados (tabela 11.1.), obtemos o já referido reflexo dos níveis de escolaridade da população residente no concelho de Santo Tirso, já que tanto no sexo masculino (23 – 34,8%) como no sexo feminino (11 – 24,4%), a predominância vai para o abandono escolar, continuando a ser, portanto, a problemática que mais influencia o número de processos e menores acompanhados em 2003. É aqui, contudo, que se observa a maior diferença entre os dois sexos. Nas restantes problemáticas sinalizadas, a distribuição é mais ou menos equitativa. Assim, com idêntico significado nos rapazes (12 – 18,2%) e nas raparigas (11 – 24,4%), os casos de exposição a comportamentos desviantes são os que aparecem em segundo plano. Com quase tantos casos como na problemática anterior, também a negligência surge sem grandes diferenças entre ambos os sexos. Em relação a estas duas últimas problemáticas, parece-nos ainda pertinente referir que ambas constituem duas das principais preocupações mencionadas pelos agentes sociais que inquirimos (onde estão incluídas instituições que não trabalham com menores), o que é bem revelador da relação que o risco que correm as crianças e jovens do concelho tem com as respectivas famílias, sendo Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 329 importante, por isso, actuar também a esse nível, como forma de prevenir outras situações indesejadas. Tabela 11.1.: Problemáticas verificadas nos processos da CPCJ, segundo o sexo dos menores, no concelho de Santo Tirso, em 2003 Problemáticas Abandono……………………………………………………………… Sexo Masculino n % 4 6,1 N.º de Menores Sexo Feminino n % 1 2,2 Total n 5 % 4,5 Negligência……………………………………………………………. 12 18,2 10 22,2 22 19,8 Abandono escolar…………………………………………………… 23 34,8 11 24,4 34 30,6 Maus tratos físicos…………………………………………................ 6 9,1 6 13,3 12 10,8 Maus tratos psicológicos/abuso emocional…………….……… 6 9,1 5 11,1 11 9,9 Abuso sexual……………………………………………………...…… 2 3 1 2,2 3 2,7 Exploração do trabalho infantil………………………………...…. 1 1,5 0 - 1 0,9 Exposição a modelos de comportamento desviante……...… 12 18,2 11 24,4 23 20,7 Total 66 100,0 45 100,0 111 100,0 Fonte: CPCJ de Santo Tirso. Ainda no âmbito das problemáticas sinalizadas à CPCJ, mas desta feita comparando os dados expostos com os de 2002, detectamos, por um lado, um decréscimo do abandono (-54,5%) e do abandono escolar (-12,8%), o que, não sendo um decréscimo significativo em termos absolutos, nos permite encarar com optimismo o futuro dos jovens na actividade escolar4, e, por outro, um aumento significativo dos maus-tratos físicos (+1 100%), dos maus tratos psicológicos/abuso emocional (+266,7%) e da exposição a modelos de comportamento desviante (+109,1%), sendo estas, por isso, as problemáticas que mais atenção devem merecer por parte dos técnicos com responsabilidade de intervenção nesta área. 4 A este propósito vale a pena referir que um dos grandes desafios do PNAI – Plano Nacional de Acção para a Inclusão 2003-2005, tendo em conta os objectivos europeus que comummente foram definidos, passa por combater o abandono escolar precoce, visando atingir, até 2010, em termos de meta europeia, uma taxa média que não ultrapasse os 10%. 330 Diagnóstico Social – Santo Tirso Figura 11.5.: Problemáticas verificadas nos processos da CPCJ de Santo Tirso, segundo o sexo dos menores, entre 1998 e 2003a 45 40 36 35 39 37 34 29 29 30 22 25 20 15 010 3 23 19 18 22 11 10 5 Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 99 5 12 6 00 3 1 11 0000 3 11 4 11 4 1 3 7 5 00 000 1 5 5 1 0 000001 001000 0000 1998 1999 2000 2001 2002 Exposição a modelos de comportamentos desviantes Ingestão de bebidas alcoólicas Exploração do trabalho infantil Prática de facto qualificado como crime Exercício abusivo de autoridade Abuso sexual Maus tratos psicológicos/abuso emocional Maus tratos físicos Abandono escolar Negligência Abandono 0 2003 Fonte: CPCJ de Santo Tirso. a A leitura da figura deve ter em conta três factores. (i) Em primeiro lugar, os dados apresentados até 2001 incluem as situações sinalizadas nas freguesias do concelho da Trofa, já que só a partir deste ano é que este concelho constituiu a sua CPCJ. (ii) Em segundo lugar, a nomenclatura utilizada para as problemáticas sinalizadas até 2001 sofreu algumas alterações: a separação entre absentismo e abandono escolar deixou de ser feita e passou a falar-se apenas em abandono escolar; os maus-tratos físicos e psicológicos eram agrupados na mesma categoria, o que já não se verifica (os valores apresentados na figura entre 1998 e 2001, no que toca aos maus-tratos físicos, dizem, na verdade, respeito a maus-tratos físicos e psicológicos); as categorias que indicavam existir outras situações de perigo e outras condutas desviantes foram desdobradas em prostituição infantil, pornografia infantil, mendicidade, corrupção de menores e problemas de saúde. (iii) Em terceiro lugar, na sequência do que foi dito antes, é importante referir ainda que, em 1998, devem ser considerados 6 casos de absentismo escolar e 3 casos de outras situações de perigo; em 1999, devem ser considerados 6 casos de absentismo escolar, 5 casos de outras situações de perigo e 4 casos de outras condutas desviantes (prostituição, etc.); em 2000, devem ser considerados 11 casos de outras situações de perigo e 2 casos de outras condutas desviantes; em 2001, devem ser considerados 10 casos de outras situações de perigo e 3 casos de outras condutas desviantes. Aprofundando ainda mais o estudo sobre a realidade concelhia dos menores em risco acompanhados pela CPCJ, tendo em conta as medidas de promoção e protecção aplicadas em 2003, aquilo que se verifica é que a maior parte dessas medidas privilegia a permanência das crianças e/ou jovens na família biológica ou, quando tal não se afigura possível, a procura de alternativa na família alargada (figura 11.6.). Tais medidas vão de encontro, aliás, ao tipo de agregados com quem vivem os menores respeitantes aos processos instaurados no mesmo ano, já que, conforme podemos observar na figura 11.7., predomina a família biológica, logo seguida da família com relação de parentesco. Diagnóstico Social – Santo Tirso Figura 11.6.: Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Medidas de promoção e protecção aplicadas no ano de 2003 pela CPCJ de Santo Tirso 1 Figura 11.7.: Tipo de agregado com quem vivem os menores respeitantes aos processos instaurados pela CPCJ de Santo Tirso, em 2003 2 5 5,1% 15 2,6% 13 331 5,8% 17,4% 33,3% 60% 23 76,7% 66 Apoio junto dos progenitores Apoio junto de outros familiares Família biológica Apoio à criança/jovem Família com relação de parentesco Colocação institucional Em acolhimento institucional Fonte: CPCP de Santo Tirso. Fonte: CPCP de Santo Tirso. A informação prestada pela figura 11.7. permite-nos ainda asseverar que, em 2003, 5,8% dos menores foram colocados em instituição. Nesse sentido, não podemos olvidar a opinião dos técnicos responsáveis por esta problemática no concelho e que indicia a falta de recursos disponíveis para as emergências sinalizadas que implicam acolhimento institucional. Todavia, segundo o que pudemos apurar, a Comissão recorre à tão discutida e polémica institucionalização apenas quando se esgota toda a intervenção possível junto da família. A colocação institucional não pode ser vista como um “depósito” de crianças e jovens sem qualquer rectaguarda familiar ou como solução para a situação; deve, sim, ser encarada como um novo ponto de partida que proporcione às crianças e jovens a definição de um projecto de vida que passe quer pela integração numa nova família, quer pela preparação para a integração na vida activa. Deve, pois, ter-se em conta que as pessoas são bem concretas, tendo o seu próprio perfil, a sua história, as suas vulnerabilidades, os seus anseios e os seus desafios. Daí que as instituições devem ser dotadas de condições e meios capazes de responder às exigências de cada criança ou jovem na sua individualidade e não serem caracterizados como espaços frios, sem afectividade, que servem apenas de dormitórios e refeitórios. 332 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social De acordo com os dados da CPCJ, desde a sua criação e até ao fim de 2003, foi deliberada a colocação em acolhimento familiar de 59 menores, dos quais, actualmente, 57 (96,6%) se mantêm com a mesma medida, 1 (1,7%) foi encaminhado para a família biológica e 1 (1,7%) para adopção. Relativamente à medida de acolhimento institucional, foram 35 os casos em que a mesma foi aplicada. Após a intervenção e acompanhamento destas situações, tal como no caso da medida de acolhimento familiar, apenas foram encetadas novas respostas para 12 menores – 34,3% (8 – 22,9% – regressaram à família biológica, 2 – 5,7% – foram encaminhados para adopção e 2 – 5,7% – tiveram ainda outro tipo de resposta). Mantêm-se em acolhimento institucional 23 crianças ou jovens (65,7%). Deste quadro podemos aferir que, na maioria das situações que obrigam à retirada das crianças da família biológica, mesmo submetidas a uma intervenção e acompanhamento especializado, não se regista, por parte dessas famílias, um investimento na reeducação do modo de vida dos seus descendentes, de forma a reunir as condições que permitam o regresso das crianças a casa, o que justifica a baixa percentagem de situações em que o projecto de vida das crianças institucionalizadas passa pela sua reintegração na família biológica. Importa reforçar que a intervenção da CPCJ parte da premissa que considera a família enquanto núcleo fundamental do desenvolvimento psico-afectivo, social e físico das crianças e jovens, pelo que privilegia as medidas de promoção e protecção que as mantêm integradas no seu seio familiar. Vejamos, no mesmo âmbito, a informação disponibilizada pela Associação de Solidariedade e Acção Social de Santo Tirso (ASAS) – única instituição concelhia de carácter institucional no que respeita a esta problemática e parceira da CPCJ. Essa informação reporta-se aos seus equipamentos para crianças e jovens em situação de risco (Centros de Acolhimento Temporário – CAT), nomeadamente o CAT Renascer, com capacidade para 24 crianças dos 0 aos 6 anos de idade em duas modalidades de acolhimento – acolhimento temporário (20 lugares) e acolhimento de emergência (4 lugares) – e o CAT Raízes, com capacidade para 12 crianças dos 6 aos 12 anos de idade em duas modalidades de acolhimento – acolhimento temporário (10 lugares) e acolhimento de emergência (2 lugares). Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 333 A leitura da figura 11.8. merece um apontamento inicial: a intervenção da ASAS é levada a cabo, prioritariamente, no Concelho de Santo Tirso, onde está sediada, e só depois é que é feita intervenção ao nível de outros concelhos. Neste contexto, não será de estranhar que entre 1994 e 2003 se verifiquem quase sempre mais acolhimentos em Santo Tirso por comparação aos restantes concelhos em que a Instituição intervém. Por outras palavras, ter mais acolhimentos em Santo Tirso não é sinónimo de município mais problemático. Com poucas excepções, de resto, a variação observada durante o referido espaço de tempo em Santo Tirso acompanha a variação dos restantes concelhos. Destaca-se o ano de 1995, em que a redução do número de acolhimentos sofreu uma queda abrupta em ambas as unidades territoriais consideradas, e os anos de 2000 e 2001, em que o concelho de Santo Tirso volta a obter números reduzidos de acolhimento. Se cruzarmos esta informação com a evolução que o número de processos instaurados e menores acompanhados pela CPCJ tem sofrido desde a sua criação, podemos, hipoteticamente, considerar que sempre que se reduzem os acolhimentos institucionais estamos perante outro tipo de soluções, nas quais se enquadram, por exemplo, o encaminhamento para a família biológica, para família com relação de parentesco ou para adopção, casos em que as crianças ou jovens podem sentir de perto o apoio de uma família. Contudo, uma outra hipótese se pode levantar; a sobrelotação da unidade de acolhimento leva a que não seja fisicamente possível o acolhimento de qualquer outra criança ou jovem para além das que já se encontram na instituição. Esta hipótese não só vai de encontro à opinião dos técnicos que tivemos oportunidade de entrevistar, como também nos leva a considerar a necessidade de se criarem mais equipamentos de acolhimento no concelho. 334 Diagnóstico Social – Santo Tirso Figura 11.8..: Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Movimento de utentes da Unidade de Acolhimento Renascer, da ASAS, entre 1994 e 2003 – Acolhimentos 20 15 10 5 0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 Concelho de Santo Tirso 2000 2001 2002 2003 Outros concelhos Fonte: Associação de Solidariedade e Acção Social de Santo Tirso. No que respeita aos encaminhamentos efectuados pela mesma unidade de acompanhamento, atente-se, sobretudo, no predomínio dos menores encaminhados para adopção, sendo igualmente importante denotar a subida em flecha do número de menores que, de 2002 para 2003, foram encaminhados para a família biológica. A importância das crianças ou jovens em risco se sentirem no seio de um ambiente familiar, que referimos antes, está bem patente nestas variações, e segue de perto a política da CPCJ. Atente-se nos anos de 2000, 2001 e 2002. Neste triénio, a medida mais adoptada foi o encaminhamento para a outra unidade de acolhimento da Instituição, podendo constituir a confirmação da segunda hipótese que formulamos em cima: o baixo número de acolhimentos pode estar associado ao limite da capacidade da unidade, emergindo a necessidade de reencaminhamento para outra unidade. Diagnóstico Social – Santo Tirso Figura 11.9.: Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 335 Movimento de utentes da Unidade de Acolhimento Renascer, da ASAS, entre 1994 e 2003 – Encaminhamentos 15 10 5 0 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Família biológica Adopção Outra ASAS (U.A. Raízes) 2001 2002 2003 Outra instituição Fonte: Associação de Solidariedade e Acção Social de Santo Tirso. A sobrelotação de que falamos, acrescida da medida mais preconizada pela CPCJ, pode também estar na origem do elevado número de encaminhamentos das crianças ou jovens para a família biológica no ano de 2002, desta feita na unidade de acolhimento Raízes. Mais uma vez, o crescente número de processos instaurados e de menores acompanhados pela CPCJ contraria a tendência dos acolhimentos ao longo do tempo, já que em 2003 apenas foi efectuado um acolhimento de um menor do concelho de Santo Tirso e outro de outros concelhos. Todos os dados patenteiam, portanto, a necessidade de se criarem estruturas de apoio a este tipo de problemática. Tabela 11.2.: Movimentos de utentes da Unidade de Acolhimento Raízes, da ASAS, entre 2000 e 2003 Acolhimentos Concelho de Santo Tirso N % Outros concelhos N % Encaminhamentos Total N % Família biológica N % Outra N Total % N % 2000......................................................... 5 71,4 2 28,6 7 100,0 0 - 0 - 0 - 2001......................................................... 6 66,7 3 33,3 9 100,0 1 33,3 2 66,7 3 100,0 2002......................................................... 4 50,0 4 50,0 8 100,0 7 100,0 0 - 7 100,0 2003......................................................... 1 50,0 1 50,0 2 100,0 0 - 0 - - - 80,0 2a 20,0 10 100,0 Total......................................................... a 16 61,5 10 38,5 Um para família de acolhimento. Fonte: Associação de Solidariedade e Acção Social de Santo Tirso. 26 100,0 8 336 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Apontando o sentido da nossa análise para o perfil do contexto doméstico onde residem as crianças e jovens, e indo para além do tipo de família e das habilitações literárias dos pais nos menores acompanhados, estamos ainda em condições de informar alguns indicadores que atestam bem a possível relação entre este grupo de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social – menores em risco – e o meio familiar e envolvente em que se encontram inseridos. Dentre os 77 progenitores cuja condição perante o trabalho a CPCJ conseguiu apurar, não se pode negar que a maioria (47 – 61%) vive dos rendimentos de uma actividade profissional, mas não deixa de ser menos importante realçar que 14 (18,2%) recebem a pensão social – cujo valor, no momento em que redigimos este relatório, se situa nos €151,84 –, 10 (13%) vivem com a ajuda do Rendimento Social de Inserção, 2 (2,6%) não denunciam ter quaisquer rendimentos e 1 (1,3%) recebe o subsídio de desemprego. Ou seja, estamos perante 35,1% de pais de menores que auferem baixos ou nenhuns rendimentos e que, por isso, experienciam situações propícias à vulnerabilidade ao risco. Os principais eixos que caracterizam os menores em risco enquanto grupo vulnerável à pobreza e à exclusão social conduzem-nos a altos níveis de preocupação. A falta de instrução dos progenitores condiciona a intervenção dos responsáveis técnicos, não dando grandes possibilidades, por exemplo, à criação de condições de aposta na formação e prevenção, a não ser naquilo que concerne aos próprios menores, que não têm de seguir o mesmo rumo dos pais. O problema educacional, sempre presente quando se aborda qualquer problemática no nosso país, não pode ser solucionado a curto prazo. São precisas algumas gerações para que se consiga melhorar alguma coisa neste sentido. Neste caso, parece-nos claro que a aposta deverá ser feita no sentido de garantir as condições necessárias à protecção dos menores e à garantia de uma qualidade de vida que as próprias famílias não conseguem proporcionar. Não obstante, em nossa opinião, devem continuar a ser feitos esforços no sentido de melhorar uma parafernália de condições socio-económicas que alterem o sentido das fragilidades concelhias e, por que não, nacionais, sob pena de assistirmos a uma Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 337 eterna reprodução dos modelos vigentes e submissão do país à escala internacional. Voltaremos a reiterar este ponto de vista quando, mais à frente, neste capítulo, atentarmos no problema da violência doméstica. 11.2. População portadora de deficiência Outro grupo de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social são os deficientes, que consigo arrastam as respectivas famílias, as quais passam, muitas vezes, por dificuldades extremas, na tentativa de lhes proporcionar a qualidade de vida possível. A tabela 11.3. informa-nos relativamente ao número total de pessoas com deficiência em todos os concelhos do Vale do Ave, no ano de 2001. Através da sua leitura podemos asseverar que Santo Tirso é o segundo concelho onde esta problemática se manifesta com mais incidência (6,1% da população total) – apenas superado por Vieira do Minho (6,3%) – pelo que podemos afirmar que estamos perante um concelho com um número elevado de pessoas deficientes, no contexto do Ave. Tabela 11.3.: População residente com deficiência, no Vale do Ave, em 2001 Homens Mulheres Fafe.................................................................................................. 1404 1138 2542 Percentagem face à população total 4,8 Guimarães....................................................................................... 3952 3247 7199 4,5 Póvoa de Lanhoso.......................................................................... 541 502 1043 4,6 Vieira do Minho............................................................................... 522 412 934 6,3 Vila Nova de Famalicão............................................................... 3822 3095 6917 5,4 Vizela................................................................................................ 518 389 907 4,0 2397 1986 4383 6,1 970 781 1751 4,7 Santo Tirso....................................................................................... Trofa.................................................................................................. Total Fonte: INE (2003) – Recenseamentos gerais da população e da habitação: dados comparativos 1991-2001. CD ROM. Lisboa: INE. A tabela anterior apresenta, porém, o número total de deficientes de cada concelho, independentemente do grau de deficiência que possuem. Tal equivale a dizer que nos totais apresentados estão incluídas pessoas com baixos graus de deficiência, o que pode significar que essas mesmas pessoas estão em condições de viver o seu dia-a-dia com inteira normalidade, podendo, por isso, exercer uma 338 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social actividade profissional. Reportamo-nos, por exemplo, a pessoas com algumas dificuldades de visão ou audição, que não impedem a sua realização socioprofissional. Na tabela 11.4., pelo contrário, estão indicados valores que dizem respeito à soma dos indivíduos que têm mais de 80% de deficiência com os que têm um grau de deficiência total, ou seja, pessoas cujo grau de deficiência não lhes permite, efectivamente, viver uma vida igual à do mais comum dos seres humanos. Neste contexto, a situação do concelho de Santo Tirso torna-se menos gravosa, por comparação aos restantes municípios do Ave. Para além de Vieira do Minho, Póvoa do Lanhoso tem também um valor acima do observado em Santo Tirso (1,4%), que vê ainda os concelhos de Fafe e Vila Nova de Famalicão com percentagens muito próximas (1,3%). Tabela 11.4.: População residente com grau de deficiência superior a 80%, no Vale do Ave, em 2001 891 663 1554 Percentagem face à população total 1,3 Guimarães................................................................................ 2427 1821 4248 1,1 Póvoa de Lanhoso.................................................................. 362 338 700 1,5 Homens Fafe................................................................................................. Mulheres Total Vieira do Minho....................................................................... 352 219 571 1,5 Vila Nova de Famalicão....................................................... 2377 1666 4043 1,3 Vizela....................................................................................... 339 229 568 1,0 Santo Tirso............................................................................ 1381 1036 2417 1,4 620 386 1006 1,0 Trofa....................................................................................... Fonte: INE (2003) – Recenseamentos gerais da população e da habitação: dados comparativos 1991-2001. CD ROM. Lisboa: INE. Na fileira das comparações, podemos ainda atestar quais as diferenças de tipo de deficiência existentes entre os concelhos do Vale do Ave. Quando o grau de deficiência é total, o destaque vai, por um lado, para os deficientes auditivos, mentais e cerebrais. No primeiro caso, Santo Tirso apresenta-se como o concelho com o número relativo mais elevado, isto é, é o concelho que apresenta uma população com deficiência auditiva com mais peso face à respectiva população deficiente total. Nos segundo e terceiro casos, Santo Tirso assinala valores relativos inferiores à média regional. Por outro lado, na senda dos destaques estão os deficientes visuais e motores, que constituem os tipos de deficiência mais patentes Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 339 em todos os concelhos, sendo, pois, para este nível que os responsáveis técnicos deverão, prioritariamente, dirigir a intervenção. Figura 11.10.: População residente com grau de deficiência total, segundo o tipo de deficiência, no Vale do Ave, em 2001 Fafe Guimarães Póvoa do Lanhoso Vieira do Minho V. N. Famalicão Vizela Santo Tirso Trofa 0% 10% 20% Auditiva 30% Visual 40% 50% Motora 60% Mental 70% Cerebral 80% 90% 100% Outra Fonte: INE – XIV Recenseamento Geral da População, 2001. Uma análise mais atenta do contexto geográfico tirsense permite-nos detectar as diferenças entre os escalões etários pelos quais se distribui a população deficiente. Segundo os dados do INE, a deficiência visual afecta, sobretudo, as pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 74 anos – quase todas as faixas etárias –, enquanto que com deficiência motora predominam as pessoas com 35-79 anos de idade. Se considerarmos que a deficiência motora pode ser uma doença adquirida e não congénita, derivada, por exemplo, da precariedade das condições de higiene e de segurança no trabalho, parece-nos claro que o contexto laboral do Ave se afigura propício a tal situação, já que nele predomina a indústria têxtil, cujo trabalho com máquinas de elevada perigosidade é uma constante. Esta relação de causalidade ganha ainda mais consistência a partir da leitura da figura 11.10., no qual se comprova que a deficiência motora é uma das deficiências com maior impacto em todos os concelhos. Um estudo aprofundado das causas que estão subjacentes a cada um dos casos poderia ajudar a minimizar o problema. Aliás, a ambiguidade dos dados apresentados pelo INE quanto ao grau e tipo de deficiência, associada à ausência de dados que nos permitam localizar 340 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social espacialmente a população deficiente, são motivos suficientes para que se proceda, no concelho, a um levantamento exaustivo desta problemática, para que sobre ela seja possível intervir de forma concertada. Outro facto que é possível vislumbrar através da figura 11.11. remete-nos para o envelhecimento da deficiência. Qualquer que seja o tipo de deficiência, são as pessoas com mais de 65 anos de idade aquelas que mais são atingidas, havendo igualmente um peso significativo no escalão 40-54 anos. O progresso que a medicina tem vindo a desenvolver pode ser o principal responsável por este prolongamento, que garante às pessoas uma vida mais duradoura. As camadas mais jovens (15-24 anos e 25-39 anos) são também bastante atingidas pela deficiência visual. O aumento da escolaridade e a presença constante das tecnologias de informação na vida quotidiana destas pessoas podem estar na origem desta tendência. A representatividade destes escalões etários no contexto da deficiência do concelho diminui quando direccionamos a atenção para as deficiências auditiva, mental e cerebral. Figura 11.11.: População residente deficiente, segundo o tipo de deficiência, por escalões etários, no concelho de Santo Tirso, em 2001 (n.º) 0-14 anos 450 375 300 mais de 65 anos 225 15-24 anos 150 75 0 55-64 anos 25-39 anos 40-54 anos Deficiência auditiva Deficiência visual Deficiência motora Deficiência mental Paralisia cerebral Outra deficiência Fonte: INE – XIV Recenseamento Geral da População, 2001. Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 341 Mas a opacidade de que esta problemática muitas vezes se reveste impede os técnicos e as instituições de intervenção social de sinalizarem todos os casos existentes. Segundo o que pudemos apurar junto da Segurança Social, normalmente as situações conhecidas emergem de averiguações efectuadas no âmbito de outras medidas, como são disso exemplo o Rendimento Social de Inserção, o Subsídio ao Arrendamento da Câmara Municipal ou as averiguações/intervenções da CPCJ. Neste sentido, e para além dos dados já apresentados, estamos em condições de referir que são 44 as pessoas deficientes acompanhadas pela acção social do concelho, no final de 2003, número substancialmente inferior ao total de deficientes que residem em Santo Tirso, o que corrobora a opacidade supramencionada. Simultaneamente, a análise dos inquéritos por questionário informa-nos que estão a frequentar a única instituição do concelho voltada para esta problemática – CAID5 – 22 jovens deficientes em formação profissional e 8 em actividades ocupacionais, havendo lugar a uma lista de espera de 14 jovens para a formação profissional e 40 para as actividades ocupacionais. A estes acrescem 3 que são acompanhados por outra instituição, ainda que de forma pontual e indirecta, dada não ser essa a vocação da instituição a que nos referimos. Embora tenhamos optado por não apresentar esquematicamente neste Diagnóstico os dados do INE sobre a deficiência desagregados por freguesia, o panorama concelhio apresenta características que demonstram a necessidade de se construírem equipamentos de apoio a este grupo de vulnerabilidade noutras freguesias, sobretudo se tivermos em consideração a questão das acessibilidades que enformam o concelho. Quando a rede de acessibilidades constitui um entrave à deslocação de pessoas sem deficiência, o que se dirá em relação àquelas que nem sequer o conseguem fazer pelos seus próprios meios. Não podemos dissociar desta sugestão o facto de no concelho existir apenas uma instituição para a inserção socio-profissional de deficientes, já que nos parece ser insignificante face a um concelho que tem um dos maiores números de 5 A caracterização desta e de outras instituições irá ser abordada em pormenor no capítulo 12. 342 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social deficientes em todo o Vale do Ave. Face a este cenário, a solução poderá passar por dotar o concelho de estruturas capazes de dar respostas a todas as exigências que se impõem ou garantir a deslocação destas pessoas ao espaço institucional disponível. Para isso são igualmente necessárias acções de sensibilização junto das famílias dessas pessoas, no sentido de lhes fazer transparecer a importância que a integração das pessoas deficientes tem na construção do seu futuro. 11.3. Vítimas de violência doméstica A exemplo do que acontece com a deficiência, a problemática da violência doméstica reveste-se, também, de grande opacidade, quer no que respeita à existência de estatísticas que nos permitiriam elencar a tipologia das situações denunciadas, quer pela vergonha ou medo que as vítimas sentem na hora em que têm de orientar a sua postura para uma acusação às autoridades policiais ou judiciais. Esta é, pois, a realidade do concelho de Santo Tirso. Neste sentido, o método que nos pareceu mais adequado para a recolha de informação alusiva à violência doméstica passou pela realização de entrevistas a todos os técnicos que intervêm socialmente no concelho e que, de forma mais ou menos directa, actuam junto das famílias mais carenciadas, percepcionando, consequentemente, algumas das situações de violência doméstica que ocorrem nestes meios. Salvaguardam-se nesta exposição, desde já, todos os casos em que a violência doméstica ocorre nas famílias com melhor satus social, na medida em que essas famílias não são alvo de intervenção técnica. Ainda que já tenhamos feito referência às entrevistas que foram efectuadas para o estudo deste tema6, não é demais informar, neste espaço, que as afirmações que iremos proferir de seguida se baseiam nas dezanove entrevistas efectuadas, dezasseis das quais foram feitas através de um contacto telefónico e apenas três na presença dos entrevistados. O sexo feminino foi o único representado e, em termos profissionais, foram entrevistadas quinze assistentes 6 Vd. capítulo 1. Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 343 sociais, três psicólogas e uma educadora social, todas com conhecimentos de casos concretos de práticas de violência doméstica em famílias residentes no concelho de Santo Tirso. As entrevistas efectuadas permitem-nos tirar algumas ilações face à obscuridade da problemática, mesmo tendo presente que será necessário um estudo exaustivo para desvendar o dark side da violência doméstica e, assim, conseguir-se alguma conclusão7. Com efeito, e em primeiro lugar, o destaque vai para as características-tipo das vítimas da violência, que, maioritariamente, são do sexo feminino, desempregadas, com idades médias compreendidas entre os 25 e os 40 anos e com baixos níveis de escolaridade (habitualmente com a antiga 4ª classe). Trata-se de um perfil que em tudo se assemelha às típicas situações de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social. Embora esta seja uma informação de âmbito qualitativo, vale a pena aludir a alguns dados quantitativos do Relatório Violência Doméstica 2000, do Ministério da Administração Interna, como forma de enquadramento do conhecimento que as técnicas entrevistadas possuem. Assim, em 11 765 ocorrências criminais registadas pela PSP e pela GNR no contexto da violência doméstica, a quase totalidade das vítimas (84%) é do sexo feminino, ao passo que quase todos os suspeitos (89%) são do sexo masculino, indo de encontro às situações vivenciadas em Santo Tirso. 7 A Irmandade e Santa Casa da Misericórdia de Santo Tirso, após a criação da Casa Abrigo que presta apoio às vítimas de violência doméstica, encontra-se a efectuar um estudo que permitirá, precisamente, tirar algumas ilações. 344 Diagnóstico Social – Santo Tirso Figura 11.12.: Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social Sexo dos suspeitos das ocorrências criminais registadas pela PSP e pela GNR no contexto da violência doméstica, em Portugal, em 2000 Figura 11.13.: Sexo das vítimas das ocorrências criminais registadas pela PSP e pela GNR no contexto da violência doméstica, em Portugal, em 2000 11% 84% 16% 89% Masculino Feminino Masculino Feminino In: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres In: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (2000) – Portugal situação das mulheres 2001. Lisboa: Comissão (2000) – Portugal situação das mulheres 2001. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. p. 113. para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. p. 113. Mas este não é o único perfil traçado pelas agentes sociais. Foram-nos igualmente indicadas profissões com baixos níveis de qualificações ou de exigência literária, designadamente operários da indústria têxtil, empregadas de limpeza, operários da construção civil e domésticas, às quais acrescem os beneficiários de Rendimento Social de Inserção. Apontaram-nos, contudo, algumas excepções: há conhecimento de três casos cuja vítima é do sexo masculino e um caso em que a vítima possui o diploma de licenciada. Estas excepções vêm corroborar aquilo que dissemos no início deste tema: não são apenas as pessoas mais carenciadas ou com baixos índices culturais que passam por este problema; a diferença está na sua (in)visibilidade. O problema torna-se ainda mais penoso quando ouvimos as técnicas entrevistadas alegarem, em número bastante significativo, que as crianças também são alvo do mesmo tipo de práticas, embora o sejam, por vezes, indirectamente. Foram-nos referidos escalões etários que vão desde os 3 aos 15 anos, obviamente associados à prática de violência parental. Considerando que é desde bem cedo que deve ser definido o rumo que a vida de cada pessoa deve tomar, concordamos com as técnicas: para além de uma reformulação das medidas formais de combate à violência doméstica (que retomaremos adiante), e a Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 345 exemplo daquilo que parece ser o problema capital do nosso país, deve ser garantido aos menores outro tipo de cultura, distinto do que as leva a encarar a violência doméstica como uma prática normal, que estão habituados a ver desde muito novos e que, por conseguinte, tenderão a reproduzir com naturalidade. O segundo grande destaque vai para as práticas de violência exercidas. De acordo com as técnicas entrevistadas, o conflito centra-se quase sempre em redor do casal. A violência conjugal foi, sem espaço para dúvidas, a mais referida; no entanto, esta prática pode estar associada, em alguns casos, à violência sexual. A recusa (normalmente) por parte da mulher em ter relações sexuais com o seu marido ou parceiro, que, por sua vez, não raras vezes tem subjacentes estados de alcoolismo intoleráveis, origina uma dupla violência: sexual e, por conexão, conjugal. A violência sexual, entendida enquanto acto isolado, é ainda menos visível do que as restantes práticas, por culpa de um inequívoco sentimento de vergonha por parte das vítimas. Ora, sendo este um tema de difícil tratamento, essa vergonha só agrava a dificuldade da intervenção preventiva ou assistencial dos técnicos, ao mesmo tempo que se percebe que, mais uma vez, o problema está na base: o nível cultural e educativo destas pessoas – patente no alcoolismo cultural – não permite uma maior abertura dos seus problemas à sociedade interveniente e, como tal, todas as suas dolorosas experiências acabam por se tornar numa prática diária de índole geracional. A violência parental foi a menos mencionada, justificando aquelas opiniões que revelaram que as crianças são atingidas indirectamente pelos desentendimentos dos pais. A violência educativa não nos foi referida, mostrando que o motivo de tais práticas nunca está associado a uma tentativa de proporcionar uma melhor educação aos seus descendentes, até mesmo porque, como foi demonstrado, os próprios pais não possuem o nível educacional desejado. Onde não se vislumbram grandes diferenças de opinião é nas formas de violência exercidas pelos agressores. Quando confrontamos as técnicas com esta 346 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social questão deparamo-nos com a proeminência da violência física mas a violência psicológica e a verbal obtiveram quase o mesmo número de citações. Nestes dois casos convém referir, porém, que por ser não-física a forma de violência exercida não deixa de ser gravosa. Pelo contrário. A agressão verbal ou psicológica pode ter consequências desastrosas na personalidade de cada vítima e deixar feridas incuráveis. As justificações encontradas para os casos conhecidos pelas diversas instituições do concelho passam, sobretudo, pelo alcoolismo. Foi esta a razão apontada pela quase totalidade das entrevistadas. Aliás, em entrevista a uma das técnicas da Divisão de Acção Social da Câmara Municipal de Santo Tirso, foi possível compreender que o alcoolismo é um problema cultural em determinados contextos familiares tirsenses, a par da violência doméstica. Não admira, pois, que o enraizamento cultural tenha sido considerado como uma das causas apontadas para a existência de violência doméstica. Outras causas são ainda de salientar. A instabilidade sócio-económica, associada ao desemprego, à precariedade de emprego e, concomitantemente, a baixos rendimentos surge imediatamente a seguir ao alcoolismo. O baixo nível cultural das pessoas que compõem os agregados onde se detectam situações de violência doméstica, os problemas de saúde dessas famílias (habitualmente de esquizofrenia ou de psiquiatria), a permanência do papel de submissão da mulher aliado ao sentimento de que quem manda em casa é o homem (até porque, muitas vezes, as mulheres dependem economicamente dos respectivos maridos/parceiros em consequência da actividade doméstica que mantêm ou da condição de desempregadas), a fraca personalidade e a toxicodependência, constituem-se, igualmente, como potenciais factores que estão na origem da prática de maus tratos. Em terceiro lugar, destaca-se a desadequação das medidas formais de combate à violência doméstica. Afiguram-se insipientes as opiniões contrárias. Insuficientes e burocráticas foram os adjectivos mais utilizados na qualificação de tais medidas. A excessiva burocratização leva mesmo a que muitas vítimas desistam do processo e tenham de voltar à rotina diária, em que têm de coabitar com o Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 347 agressor. Paralelamente, por todo o país “são escassas as estruturas de acolhimento para as mulheres vítimas de maus tratos. Apenas algumas instituições particulares acolhem mulheres nestas circunstâncias, mas são insuficientes para as necessidade”8. Santo Tirso não foge à regra. Perante o cenário traçado, constitui-se como último destaque o conjunto de medidas de intervenção técnica a considerar no domínio da violência doméstica. Parece-nos claro que estamos perante dois contextos diferenciados que podem (e devem) ser alvo de intervenções igualmente distintas, mas complementares. Por um lado, quando a vítima é já uma pessoa adulta, a medida poderá passar pelo apoio técnico direccionado para o acompanhamento psicossocial, numa tentativa de garantir à vítima que os seus direitos enquanto ser humano não mais serão violados. Deve procurar-se, então, que as respostas existentes sejam cada vez mais eficazes através de um reajustamento das políticas sociais e, por que não, de uma revisão das medidas que actualmente vigoram na Lei. Esta é, aliás, a opinião da maioria das técnicas que tivemos oportunidade de entrevistar. Por outro lado, quando o problema atinge crianças e jovens, para além das inevitáveis medidas que referimos no parágrafo anterior, parece-nos que é fulcral que haja prevenção e sensibilização. É extremamente importante que se mude a atitude dos descendentes de famílias problemáticas e que se transmita que a prática da violência doméstica, bem como o alcoolismo, não são «coisas» naturais nem culturais, como chega a ser encarada por todo o meio social envolvente. A retirada do agressor do lar pode ser vista pelos menores como uma forma de penalização pelos actos de que foi responsável e poderá, assim, ter um duplo resultado. Todavia, as autoridade policiais e judiciais não estão suficientemente sensibilizadas para este domínio e não procedem em conformidade. Os agressores, por seu lado, sabem que essa é a postura das autoridades e não cedem a eventuais pressões. Face ao exposto, parece-nos que para prevenir situações de violência doméstica torna-se premente agir nas dependências, criar melhores condições 8 Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres (2001) – Portugal situação das mulheres 2001. Lisboa: Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres. p. 110. 348 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social socio-económicas e habitacionais, ou seja, criar um conjunto de estruturas sociais sólidas capazes de erradicar o problema. Conscientes, porém, de que se trata de um problema que só poderá ser solucionado a médio-longo prazo, não queríamos deixar passar em claro que este é, igualmente, um problema para o qual urgem soluções concretas que permitam que as novas gerações possam usufruir dos seus direitos de exercício da cidadania. A redução de 153%, num espaço de dois anos, do número de casos de violência doméstica registados pelas autoridades policiais de Santo Tirso, como, de resto, vimos no sub-capítulo 9.2., pode ser um bom indício, ao que se junta a indicação do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social do Porto, segundo a qual Santo Tirso comporta um número de casos de violência doméstica consideravelmente inferior ao dos restantes concelhos do distrito. 11.4. População idosa A população idosa já foi alvo de apreciação neste Diagnóstico, quando referimos o envelhecimento populacional que tem vindo a atingir o concelho de Santo Tirso, de uma forma particular, e o país, de uma forma geral. Tal facto faz com que o problema social que afecta muitos idosos seja, certamente, um dos mais graves da sociedade portuguesa, levando, inclusive, a que hoje se ouçam muitos políticos falar em medidas de curto e médio prazo para melhorar o problema deste estrato social, que, cada vez mais, constitui uma parte significativa da população residente em Portugal. Já certificamos, no capítulo temático referente à estrutura demográfica do concelho, que, no espaço intercensitário, o topo da pirâmide etária da população tirsense envelheceu. Vimos, também, que mesmo as projecções mais optimistas do INE apontam para um envelhecimento demográfico nas próximas cinco décadas, em consequência de um previsto decréscimo populacional. Mas para além destas informações, no que respeita a Santo Tirso, e de acordo com os dados do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social do Porto, no final de 2001, podemos aferir que o concelho comportava 21 793 pensionistas (30,1% da população total Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 349 residente no concelho), dos quais 3 323 (15,2%) estão reformados por invalidez – uma vez mais presente a questão da deficiência envelhecida –, 12 993 (59,6%) por velhice e 5 477 (25,1%) recebem uma pensão de sobrevivência. A realidade tirsense acompanha de perto a realidade nacional, desde logo porque, sensivelmente, ¼ da população é pensionista (2 545 683 – 24,6% da população total) e porque os valores relativos assim o indicam: o maior número de pensionistas é-o por velhice (1 572 910 pessoas – 61,8%), seguidos dos que recebem a pensão de sobrevivência (616 615 pessoas – 24,2%) e dos que o são por invalidez (356 158 pessoas – 14%). Trata-se, portanto, de uma sociedade envelhecida que aponta para novos desafios em termos de intervenção social, tanto no país, de uma forma geral, como no concelho de Santo Tirso, em particular. Esses desafios devem ter em conta que o envelhecimento populacional se dá a três níveis: individual, populacional e activo. Individual, porque a esperança média de vida é cada vez maior e o progresso da medicina, já aqui mencionado, possibilita uma maior longevidade das pessoas; populacional, na medida em que existem cada vez mais pessoas adultas e idosas; activo, no sentido em que o início da vida activa é cada vez mais tardio e as reformas são cada vez mais precoces9. É inevitável que quando se fala em idosos se fale em solidão – sendo essa, de resto, a opinião da grande maioria dos nossos inquiridos (80% dos casos – 12 respostas), já que consideram o isolamento como a segunda problemática que mais afecta as pessoas da terceira idade, apenas superada pelos problemas de saúde (86,7% dos casos – 13 respostas) e igualada pelas dificuldades económicas que estão associadas às baixas pensões10. Referimo-nos não só à organização da sociedade actual, onde predomina a família nuclear em detrimento da família alargada, o que leva a que seja cada vez mais difícil juntar mais do que duas 9 Cf. Alfredo Bruto da Costa (2001) – Exclusões sociais. Cadernos Democráticos. N.º 2. Lisboa: Gradiva. p. 86. 10 Aos inquiridos foi colocada uma questão de resposta múltipla, na qual lhes foi pedido que indicassem, de uma lista de possíveis problemáticas, quais as que afectam as pessoas da terceira idade. A percentagem de casos de cada opção de resposta diz respeito, por isso, ao número de inquiridos que responderam a essa mesma opção, num total de 15 respostas válidas. 350 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social gerações numa só habitação e, portanto, não haja lugar para as gerações mais velhas, mas também à ausência de um papel a desempenhar na vida social, na medida em que tudo o que envolve a população idosa é feito apenas em prol deles mesmos e não da sua integração social com pessoas de outras idades. Atente-se, por exemplo, nos passeios para idosos, nas colónias de férias para idosos, no turismo para idosos, nos centros de dia para idosos e nos lares de idosos; todas situações em que se contribui para que as pessoas mais velhas convivam apenas entre si, o que, se, por um lado, pode minimizar a solidão que os atinge, contribui, por outro lado, para a sua guetização11. Colocar pessoas em lares ou em centros de dia pode ter o mesmo efeito que realojar as pessoas mais carenciadas em habitação social, normalmente em locais estrategicamente pensados para as afastar o mais possível do resto da sociedade. Não queremos com isto negar a importância que os lares ou os centros de dia para idosos, bem como as iniciativas que para eles são realizadas, têm na resolução de alguns problemas. No entanto, são acções como a que a Câmara Municipal de Santo Tirso realizou recentemente – um dia de encontro e convívio entre pessoas idosas e a respectiva família (em toda a sua extensão) – que poderão impulsionar a integração social dos mais velhos em toda a vida social. Importa que a família assuma o papel que teve outrora e que possa, dessa forma, reduzir a componente institucional que tem vindo a incrementar-se em todas as medidas efectuadas. Sabemos que as dificuldades são imensas, tal é o estilo de vida que os casais têm hoje em dia, onde o exercício de uma profissão assume um papel fulcral e impossibilita, muitas vezes, que pais e filhos possam conviver diariamente e onde, habitualmente, o idoso não tem lugar; no entanto, queremos chamar a atenção para a necessidade de redireccionar as políticas com os idosos para medidas de matriz familiar e comunitária, em vez de uma crescente segregação. Aliás, a vertente tridimensional do envelhecimento de que falamos atrás impossibilita-nos de encarar este estrato populacional enquanto grupo residual, já que, para além 11 Alfredo Bruto da Costa – Op. Cit. p. 87-88. Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 351 de serem cada vez mais, confirma-se que a velhice é cada vez menos definida pela idade das pessoas e mais pelas suas capacidades pessoais. Resta-nos indicar, neste espaço, que na abordagem dos inquiridos relativamente aos principais grupos vulneráveis à exclusão social, os idosos pensionistas agregam a maior percentagem de casos (64% – 16 respostas)12, sendo bem ilustrativo da importância que as acções de dinamização do isolamento que os atinge e de melhoria das respectivas reformas podem ter padrões na repercussões de qualidade de vida e bem-estar mais elevados. 11.5. As dependências: o álcool e a droga De difícil caracterização quantitativa, na medida em que não existem dados concretos que nos permitam apontar o número de pessoas e/ou famílias atingidas por ambas as dependências (tal como acontece com os casos de violência doméstica), praticamente toda a informação que conseguimos obter sobre estes grupos de vulnerabilidade foi de cariz qualitativo. A excepção faz-se ao número toxicodependentes sinalizados no ficheiro geral da acção social do concelho de Santo Tirso, que totalizam 51 indivíduos, segundo a Equipa de Acção Social de Santo Tirso do Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social do Porto. No âmbito da toxicodependência, mediante a realização de entrevistas a técnicos de intervenção social que acompanham algumas das famílias carenciadas do concelho, podemos aferir que este é um problema que atinge pessoas de todas as freguesias, embora seja particularmente visível em Santo Tirso, Vila das Aves e S. Martinho do Campo. Veja-se, a este propósito, o comentário de um jovem da freguesia de Agrela com quem tivemos oportunidade de conversar 12 Aos inquiridos foi colocada uma questão de resposta múltipla, na qual lhes foi pedido que indicassem, de uma lista de grupos sociais, quais os que estão particularmente expostos a situações de pobreza e exclusão social. A percentagem de casos de cada opção de resposta diz respeito, por isso, ao número de inquiridos que responderam a essa mesma opção, num total de 25 respostas válidas. 352 Diagnóstico Social – Santo Tirso durante um focus-group: “A Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social droga existe mais na cidade. Na freguesia não, porque as pessoas conhecem-se bem e isso dificulta o consumo e o tráfico”. Atente-se, igualmente, no facto de serem nas duas primeiras freguesias que se situam as Escolas de Ensino Secundário. Em S. Martinho do Campo funciona também a Escola Básica Integrada, que proporciona diversos níveis de ensino até ao 3º Ciclo do Ensino Básico. Este apontamento serve para demonstrar que o meio escolar, especialmente no que concerne às suas proximidades, pode constituir-se como potencial ponto de partida para novos encaminhamentos. A tendência para a existência de consumo e tráfico de droga – que, pelo conhecimento de alguns técnicos, usualmente se centra na heroína – na cidade, nos locais mais urbanizados e perto das escolas, foi referida por alguns dos jovens estudantes que participaram nos focus-group que realizamos, em resultado da sua percepção diária. A toxicodependência é, muitas vezes, a última saída para todo um conjunto de disfuncionamentos familiares. A desestruturação da família, associada a problemas de insuficiência económica, a problemas de (baixo) nível cultural, a problemas de desemprego, etc., faz com que a droga seja encarada como «o» caminho possível. Visível pelos «arrumadores» que podemos ver nos parques e noutros locais de estacionamento, a toxicodependência tem parca visibilidade quando nos reportamos aos familiares das pessoas atingidas, quer porque têm vergonha de o reconhecer, tentando encobrir, quer porque se recusam a dar novas oportunidades para o que julgam já não haver solução. Esta postura acaba por prejudicar o papel dos técnicos e dos projectos existentes, pois a inserção socioprofissional dessas pessoas terá de passar, primariamente, pela própria família. Não podemos exigir que as entidades empregadoras aceitem estes indivíduos de forma pacífica quando é a própria família a rejeitá-los. Mais uma vez o problema do nível cultural e educacional das pessoas não permite que se abram novos horizontes e se perspectivem outros rumos para além da dependência absoluta das instituições. Quem também presencia de perto esta problemática são os Presidentes de Junta de Freguesia e os Párocos do concelho. De acordo com a percepção destes Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 353 agentes sociais, a toxicodependência surge, em doze freguesias, como um dos principais problemas locais. Para além das já mencionadas freguesias de Santo Tirso, Vila das Aves e S. Martinho do Campo, observam-se consumos de droga nas freguesias de Areias, Burgães, Lama, Lamelas, Rebordões, Roriz, Santo Tirso, S. Mamede de Negrelos, S. Tiago da Carreira e Sequeirô. Embora possamos admitir que se tratam de pequenos focos, importa, do mesmo modo, erradicá-los. Conseguimos também apurar, através das referidas entrevistas a técnicos de intervenção social, que quase todas as famílias que solicitam o apoio da acção social são atingidas pelos alcoolismo. Tratam-se de famílias onde as pessoas possuem hábitos de tendência marcadamente alcoólica desde a infância e que fazem do alcoolismo um forma cultural de estar na vida, atingindo igualmente as mulheres, embora haja, neste caso, uma menor visibilidade. Não admira, pois, que o alcoolismo atinja 18 (56,3%) dos 32 progenitores de crianças e jovens com processo instaurado na CPCJ, não esquecendo que podem existir outras situações cuja obscuridade não permite contabilizá-las. Será pois, porventura, nesse facto que reside o problema; tratando-se de uma questão cultural, aceite pelo meio social que envolve as famílias atingidas, as pessoas não estão sujeitas à pressão da comunidade para se tratarem. No entanto, apesar de se afigurar como um problema geracional de tendência reprodutiva, na opinião dos técnicos que entrevistamos, nota-se, actualmente, uma maior preocupação dos pais com os filhos, numa tentativa de os desviar dos seus próprios hábitos. Tal como acontece com a toxicodependência, a opinião expressa pelos técnicos acerca do alcoolismo é corroborada pela opinião de alguns dos Presidentes de Junta e Párocos que tivemos a oportunidade de entrevistar. De facto, em nove das vinte e quatro freguesias o alcoolismo foi apontado como um dos principais problemas da comunidade local. Para além dos principais pólos urbanos (o bairro de Vila das Aves, a título ilustrativo, é um dos exemplos no concelho onde o alcoolismo surge como um dos principais problemas aí 354 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social existentes13), e com a excepção de Roriz, estamo-nos a referir a um conjunto de freguesias cujas fronteiras estão interligadas: Burgães, Lamelas, Monte Córdova, Refojos, Reguenga e S. Tiago da Carreira. Tal não invalida, porém, que as restantes freguesias tenham famílias igualmente problemáticas. O alcoolismo é uma dependência transversal a todo o concelho; a diferença reside no grau de relevância que cada pessoa atribui ao fenómeno enquanto problema que atinge, efectivamente, as populações. 11.6. Outros grupos de risco A vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social não se esgota nos grupos que expusemos atrás. O problema global da pobreza atormenta outros estratos sociais, como são disso exemplo os beneficiários de Rendimento Social de Inserção e as minorias étnico-culturais. Todavia, a insuficiência de dados justificou a nossa opção em agrupar num único subponto todos estes grupos, pelo que passamos a abordar, em traços gerais, cada um deles. 11.6.1. Os beneficiários do Rendimento Social de Inserção Embora com a designação actual de Rendimento Social de Inserção (RSI), a informação que obtivemos é, na sua totalidade, referente ao anterior Rendimento 13 Cf. Humberto Valentim, coord. (2000) – Caracterização socio-económica dos moradores do Bairro de Vila das Aves em Santo Tirso. Policopiado. Lisboa: Instituto de Gestão e Alienação do Património Habitacional do Estado. Pode ainda dizer-se que, de acordo com Luís Fernandes, “a imagem do bairro (...) determina grandemente as relações [deste] com a cidade: quando é construída em torno de factos considerados negativos (...) o estigma a que este espaço fica sujeito potencia a sua ruptura com a cidade normativa, a homogeneização dos habitantes sob a etiqueta negativa, a perda da auto-estima colectiva e o consequente agravamento da situação” (Luís Fernandes (1998) – O sítio das drogas: etnografia das drogas numa periferia urbana. Lisboa: Editorial Notícias. p. 75. O parêntesis recto é nosso), pelo que se compreende que o Bairro de Vila das Aves seja um dos locais mais problemáticos do concelho, quer no que toca ao alcoolismo, quer no que diz respeito à toxicodependência. Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 355 Mínimo Garantido (RMG), pelo que é essa linha de orientação que aqui adoptamos, quando o que se pretende é caracterizar os seus beneficiários. Não constitui novidade a indicação de que o RMG foi concebido para apoiar as pessoas que se situam no limiar da pobreza e que, por essa razão, não conseguem fazer face às condições mínimas de sobrevivência dos respectivos agregados familiares. As condições socio-económicas dessas famílias são, consequentemente, deficitárias, destacando-se os problemas de saúde (onde se incluem, também, os do foro psicológico e psiquiátrico), os problemas de dependências (alcoólicas e/ou tóxicas), os problemas habitacionais (geralmente são pessoas que não possuem condições condignas), os problemas educacionais (associados a ciclos geracionais de baixa escolaridade e de uma cultura de vida que tende a «normalizar» as débeis vivências familiares quotidianas) e os problemas de (des)emprego (que, para além do factor económico, afecta também a própria identidade e a relação com o meio social envolvente). A exemplo do que acontece com outras problemáticas, o enquadramento lógico do RMG passaria pela apreciação de dados que nos permitissem estabelecer um eixo de comparação ao longo dos últimos anos e até com outros municípios. A inexistência de informação disponível, porém, impede-nos de efectuar tal análise. Os dados concedidos pelo Centro Distrital de Solidariedade e Segurança Social, no entanto, permitem-nos estabelecer uma comparação relativamente ao último triénio, no que respeita ao número de agregados familiares residentes no concelho de Santo Tirso que beneficiam do RMG. Com efeito, em 2001 esse total era de 293, em 2002 de 337 (+15%) e em 2003 de 372 (+10,4%). Esta variação positiva, embora de tendência decrescente, poderá estar fortemente associada ao aumento do desemprego que se tem verificado nos últimos anos. De facto, seis anos após a criação da medida é importante perceber por que razão continuam a existir inúmeros pedidos de RMG, na medida em que é já um período de tempo suficiente para todas as famílias carenciadas terem requerido o apoio da medida. Mas nem só o desemprego pode estar na origem desta situação; a crescente monoparentalidade (marcada, em grande parte, por gravidez indesejada), os ciclos de conjugalidade negativos (frequentemente marcados por práticas de 356 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social violência doméstica), a viuvez ou o abandono podem também fazer com que as pessoas recorram ao RMG como forma de melhorar as suas condições de vida. Repete-se a necessidade de preconizar junto das populações desfavorecidas, especialmente junto dos mais jovens, uma formação de base capaz de garantir um futuro com as mínimas condições de sobrevivência e independente de subsídios sociais. 11.6.2. Minorias étnico-culturais Até finais da década de 60, Portugal era, essencialmente, um país de emigração. Porém, desde os primeiros anos da década de 70, especialmente após a descolonização que sucedeu a Revolução de Abril de 1974, o nosso país passou a ser também um país de imigração. Esta situação é potenciadora de sentimentos racistas e xenófobos que levam a encarar os imigrantes como rivais indesejáveis. Em vez de uma sociedade intercultural, onde as diferentes culturas interagem mutuamente e se abrem ao diálogo e ao conhecimento recíproco, temos hoje uma sociedade que, graças à massificação da imigração, vê nos imigrantes mais um problema a resolver em termos de empregabilidade, uma vez que estamos a falar de pessoas que aceitam trabalhar com salários inferiores ao mínimo nacional e que, por conseguinte, enfraquecem o poder de reivindicação salarial da comunidade local14. A realidade de Santo Tirso contempla também a imigração. Como já pudemos constatar no capítulo 3 deste Diagnóstico, em 2001 viviam no concelho 472 pessoas de nacionalidade estrangeira, de acordo com a informação do INE. Tivemos, igualmente, oportunidade de aferir que a preponderância vai para as nacionalidades francesa e alemã, bem como para a ucraniana, esta última não considerada nos dados do XIV Recenseamento Geral da População. Até à presente data não existem registos de comportamento racistas ou xenófobos por 14 Alfredo Bruto da Costa, Op. Cit. p. 69. Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social 357 parte dos tirsenses, que demonstram, assim, ser portadores de uma boa capacidade hospitaleira. Este posicionamento da comunidade local face a pessoas provenientes do exterior do concelho é também visível na atitude tida perante a comunidade cigana que há cerca de três décadas se instalou em Santo Tirso. A aceitação por parte da população e das autoridades locais levou, pois, a uma progressiva sedentarização, originando uma fácil inserção no meio envolvente. De acordo com a informação prestada pela Câmara Municipal, o número de ciganos a residir no concelho aumentou, desde 1995, em cerca de 60%, passando de 115 pessoas – correspondentes a 33 agregados familiares – para 184 pessoas – correspondentes a 49 agregados –, em 2003. Estes valores tendem a aumentar nos próximos anos, uma vez que se trata de uma comunidade bastante jovem (mais de 75% das pessoas tem idade inferior a 30 anos), cujos valores culturais se traduzem numa alta taxa de fertilidade e na ocorrência de casamento precoce. Tais dados não invalidam a persistência de algumas representações negativas por parte da população local acerca da comunidade cigana, associadas a marginalidade, criminalidade e tráfico/consumo de drogas. Essas representações não levam, contudo, à existência de problemas entre a vizinhança passíveis de serem aqui assinalados. Paralelamente, quando confrontada com diferentes problemas, a comunidade cigana recorre às instituições competentes, facto que indicia a sua crescente inserção na sociedade. Aliás, todo o trabalho que tem sido desenvolvido junto daquela comunidade tem sido norteado pelo princípio da igualdade, por forma a que os mesmo venham a ser respeitados como cidadãos de pleno direito. No âmbito da caracterização da comunidade cigana residente em Santo Tirso, realojada em 2000 pela Câmara Municipal em habitação social (já que até aí viviam em barracas sem as condições mínimas de habitabilidade), podemos ainda dizer que se tratam de pessoas com baixa escolaridade – os elementos do sexo feminino, por exemplo, não prosseguem os estudos para além do 4º ano do Ensino Básico porque os seus familiares consideram que é nessa idade que se inicia a 358 Diagnóstico Social – Santo Tirso Fragilidades sociais: grupos de vulnerabilidade à pobreza e à exclusão social preparação para o casamento e para as lides domésticas – e beneficiárias de RSI, o que, por si, só é suficiente para percebermos quão vulnerável é este grupo social. Em jeito de conclusão, podemos afirmar que a descrição que fizemos nos leva, necessariamente, à identificação de medidas concertadas que eliminem ou reduzam substancialmente os problemas observados. Sem ser nossa intenção desvalorizar as medidas de natureza redistributiva, tais medidas parecem-nos insuficientes para o objectivo a que a sociedade portuguesa, em geral, e a Rede Social, de forma específica, se propõem quando fazem alusão ao combate à pobreza e à exclusão social. Pode mesmo chegar-se à perda de identidade por parte dos excluídos e o que é desejável passa precisamente pelo contrário: pela reabilitação humana e social, por uma distribuição primária de poder, pela autosuficiência.