Relato de experiência: Cidadania em construção FARICELLI, Marilu (Colégio Humbodlt) BUTTLER, Daniella Barbosa (Colégio Humboldt / Centro Universitário SENAC) Palavras-chave: projeto de lei; cidadania; participação política Desde 2010, já é prática no Colégio Humboldt, desenvolvermos o Projeto Parlamento Jovem com os 8os anos. Trata-se de um trabalho interdisciplinar que acontece nessa série, desenvolvido nas disciplinas de Português e História. O trabalho visa desenvolver com os alunos práticas de cidadania, ao conhecer as etapas de produção de leis e perceber sua importância numa sociedade democrática. Neste trabalho indicamos anualmente um aluno para participar do concurso na Câmara Municipal, que envolve estudantes das escolas de toda a cidade de São Paulo. Com esse trabalho imaginamos dar passos na formação de competências sociais de nossos alunos, levando-os a refletir sobre possibilidades de participação política. Problema / Justificativa A escola é a instituição que mais responde aos anseios da sociedade. é seu papel formar os jovens que devem ter as competências necessárias para resolver suas necessidades no seu presente e nas próximas gerações. É assim que pensamos em novas formas de comunicação ao mesmo tempo em que analisamos as metáforas presentes nos poemas de Camões, ou que pensamos nas origens históricas das denominações “partido de direita e de esquerda” e discutimos em sala de aula as manifestações de rua combinadas por internet. E assistindo a manifestações desde junho de 2013, lendo os jornais diários, começamos a pensar na distância que existe entre a realidade de nossos alunos e suas possibilidades de pensar um mundo diferente, mais justo e humano. E nós?! Permanecemos ensinando que a Democracia é o governo de todos, que dá voz a todos, que responde às necessidades da maioria. Falamos tanto de política, e ela parece estar cada vez mais dissociada na vida particular de cada um. É essa problematização que orienta a experiência didática “Cidadania em construção”. Objetivos/esboço de fundamentação teórica: Com esse trabalho, objetivamos que o aluno: Identifique a função social da língua, ao ter um interlocutor real; Pratique / utilize a compreensão escritora e leitora a partir de atualidades; Pratique a argumentação em sala de aula, durante as discussões a partir de temas atuais; e perceba que podem interagir agora e não apenas no futuro; Exercite a exatidão dos temas, a precisão do mote; Marilu Faricelli é Mestre pela PUC / SP – Programa Educação, História, Política e Sociedade. Daniella Barbosa Buttler é Doutora pela PUC / SP – Línguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Reflita sobre participação política na atualidade, comparando–a com a participação dos franceses durante a Revolução de 1789; Identifique diferentes formas de participação política; Entenda a importância da elaboração de lei na sociedade atual; Identifique processo de elaboração e aprovação de leis na Constituição de 1988; Apresente, discuta e aprove projetos de leis; Simule um momento como vereador-mirim. Considerando que os objetivos constituem a finalidade de todo o processo, mais do que aprender a votar, a valorizar o sistema eletrônico das eleições, pretendemos desenvolver com nosso aluno uma nova forma de participação, de discussão e envolvimento com o que é público, que ultrapasse reinvindicação de benefícios individuais ou coletivos e passe a propor projeto de sociedade. Esperamos que os alunos construam algo a mais do que a participação no ritual eleitoral: Metodologia Inicialmente, na disciplina de Língua Portuguesa, os alunos pesquisam sobre a etimologia da palavra “projeto”. A partir desse conceito e do histórico da etimologia da palavra, os alunos pesquisam e discutem o desdobramento da palavra projeto: projeto social, projeto de vida, projeto científico, projeto acadêmico, projeto de lei. Discutem também a função de cada expressão. Neste momento, os alunos percebem a diferença dos gêneros. A partir da leitura de reportagens e notícias de jornais, os alunos escolhem em grupo o tema que lhes parece como mais relevante. Informam-se sobre o assunto para que se tornem aptos a elaborar um projeto de lei. Na disciplina de História, visitam então o site “plenarinho.gov.br” para coletar dados de como se faz uma lei e seu caminho até a aprovação. Familiarizam-se com termos como Constituição, plenário, comissões, Câmara de deputados, senadores, justificativas, projetos de lei. Organizam-se em partidos – divididos segundo temas (exemplo: partido da Cultura, da Habitação). O fundamental é que procurem, discutam formas de solucionar problemas , que debatam possibilidades, que identifiquem que é necessário saber muito um tema para conhecer o problema em toda sua complexidade. Nesse momento iniciam a redação de um projeto de lei. Dificuldade! O que é melhor fazer? Todos iriam concordar com essa lei? Quem pagaria sua execução? N. Bobbio já dizia que a apatia política dos cidadãos compromete o futuro da democracia. Qual será o papel da escola nesse processo? Como podemos educar para a democracia, para formar cidadãos que não simplesmente obedeçam, paguem seus impostos em dia, obedeçam leis, mas que se tornem cidadãos ativos, participantes, capazes de julgar e escolher? Projetos de lei são escritos e discutidos. Exercitamos então a defesa dos projetos. Resultado Marilu Faricelli é Mestre pela PUC / SP – Programa Educação, História, Política e Sociedade. Daniella Barbosa Buttler é Doutora pela PUC / SP – Línguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Os alunos são levados e organizados no Teatro da Escola para discussão e aprovação de melhores projetos de lei elaborados ao longo do ano em referência. Em alguns casos, é possível um aluno da escola, ser escolhido, uma vez por ano, para vivenciar um dia de vereador mirim na Câmara Municipal de São Paulo. Tivemos algumas experiências na Câmara Municipal, como citamos abaixo. A aluna Karina, em 2011, propôs que se formasse nas escolas cursos de primeiros socorros para as crianças atenderem irmãos mais novos numa situação de perigo. Em 2012, o aluno Paulo criou o projeto sobre semáforo com som para deficiente auditivo. Em 2014, Gabriel Tatto tratou de um possível projeto sobre usinas de compostagem para compactar lixo. Seu texto foi adotado pelo vereador de São Paulo, então na ocasião, Tatto (PT). Marina Sellmer em 2014, elaborou o projeto de lei sobre prevenção de doenças vindas do carrapato transmitidas pela capivara. A aluna propôs que capivaras e animais afins fossem retirados totalmente de ambientes urbanos. Esse projeto foi tão relevante que ainda que o trabalho não tenha sido indicado para seguir para a Câmara Municipal, um deputado federal abraçou a ideia e o tornou projeto de lei de verdade. Conclusão Formar para a prática cidadã é algo que necessita ultrapassar o lugar comum (formar cidadãos responsáveis”) e o discurso vazio (“formar cidadãos críticos”). Tornar-se cidadão é um aprendizado constante, que ultrapassa os muros escolares, depende do fazer/refletir/retomar constantes. Exercitamos política, participação, construção da vida pública. Não é possível estabelecer regras do que seja universal e atemporalmente cidadania. Essa experiência visa relatar uma possibilidade de ação, que embora limitada, pretende iniciar um debate. Bibliografia: PINSKY, JAIME; PINSKY, CARLA BASSANEZI(orgs). História da cidadania. 6 ed. São Paulo: Contexto, 2014 http://www.institutonorbertobobbio.org.br/ BENEVIDES, MARIA VICTORIA. Educação para democracia. 1996. São Paulo. Conferência no âmbito para professor titular em Sociologia da Educação na FEUSP. Disponível em www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/.Acesso em março/2015 www.plenarinho.gov.br CORTELLA, MARIO SÉRGIO. BARROS FILHO, CLÓVIS DE. Ética e vergonha na cara! – Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2014. (Coleção Papirus Debates). Marilu Faricelli é Mestre pela PUC / SP – Programa Educação, História, Política e Sociedade. Daniella Barbosa Buttler é Doutora pela PUC / SP – Línguística Aplicada e Estudos da Linguagem.