VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI GRAVIDEZ DE ALTO RISCO: A PERCEPÇÃO DAS GESTANTES ISOLINA DE LOURDES RIOS ASSIS 1 MATILDE MEIRE MIRANDA CADETE2 ROBERTA RIBEIRO RIOS3 1 Professora na Faculdade de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás (UCG). Mestre em Enfermagem pela UFMG. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Saúde e Sociedade (NEPSS). Endereço: Rua 220 nº 905 Setor Universitário Goiânia-Goiás CEP: 74603140. Fone: 062-39451343 /06296860339E-mail: [email protected] 2 Professora na Escola de Enfermagem da Faculdade Federal de Minas Gerais (UFMG). Doutora em Enfermagem. 3 Professora na Faculdade de Enfermagem da Universidade Católica de Goiás (UCG). Especialista em Enfermagem Obstétrica pela UCG. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 2 GRAVIDEZ DE ALTO RISCO: A PERCEPÇÃO DAS GESTANTES No estudo, objetivou-se compreender os sentimentos vividos pelas gestantes de alto risco, considerando ser esta uma das inquietações no cotidiano de nossa prática docente assistencial. Percorrer o caminho metodológico da pesquisa qualitativa com abordagem fenomenológica permitiu-nos a interação com 11 gestantes de alto risco internadas na maternidade do Hospital Materno Infantil de Goiânia, no período de janeiro a março de 2003. As entrevistas, realizadas com apoio na questão norteadora “Fale para mim o que é ser gestante de alto risco” possibilitaram a compreensão de algumas dimensões dessa vivência, abordadas na perspectiva de alguns pressupostos da fenomenologia existencial. A análise dos depoimentos, as vivências e as leituras realizadas desvelaram seis categorias temáticas, que são: internação abrupta, preocupar-se com, sintomas da gravidez de alto risco, medo do vir a acontecer, cuidando e sendo cuidada e ser diferente. Com base na compreensão deste fenômeno, vislumbram-se novas perspectivas para o cuidar/assistir a gestante para o docente da disciplina materno-infantil. É preciso estar atento ao que a gestante de alto risco revela. É necessário resgatar o humano que existe em cada uma para repensar como se dará a assistência necessária. Deste estudo, emerge a percepção de que pouca atenção e esclarecimento são dados às gestantes. É necessário escutá-las e acolhêlas de uma forma que possibilite a expressão dos seus sentimentos – preocupação, medo, angústia. Dessa reflexão, coloca-se em discussão o exercício profissional do enfermeiro como pessoa, ser de cuidado autêntico e com possibilidade de transcendência. Descritores: gravidez de risco, gestantes-percepção, enfermagem. ABSTRAC This study had as proposal to reveal the phenomenon of the feelings lived by the pregnant women of high risk, considering to be this one of my inquietudes in the daily of my practice educational assistencial. Using me of the referencial fenomenologic and to the light of the analytical existential of Martin Heidegger, I interviewed eleven pregnant of high risk in the period of January to March of 2003, that they were interned at the maternity of the Hospital Materno Infantil of Goiânia. The analysis of the depositions, my existences and the accomplished readings, they revealed six thematic categories: abrupt internment, to worry with, symptoms of the pregnancy of high risk, fear of coming to happen, taking care and being taken care, and to be different. Starting from the understanding of the phenomenon of the feelings lived by the pregnant women of high risk, I glimpse new perspectives for my to take care / to attend to the pregnant woman, while educational of the maternal-infantile discipline. It is necessary to be attentive to the that the pregnant woman of high risk reveals. It is necessary to rescue the human that it exists in each a, to rethink as he/she will feel the necessary attendance. Of this study, it emerges the perception that little attention and explanation feels to the pregnant woman. It is necessary to listen to them and to welcome them in a form that makes possible the expression of their feelings: concern, fear, anguish. Key words: pregnancy of risk, pregnates-perception, nursing. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 3 1 INTRODUÇÃO Minhas experiências no cotidiano do exercício da profissão de enfermeira assistencial por 13 anos em uma maternidade pública de pequeno porte no município de Goiânia, na assistência à saúde da mulher no ciclo grávido-puerperal e como docente em supervisão de estágio em maternidades de referência para alto risco fizeram-me perceber e identificar que, embora a gestação seja um processo fisiológico, e, por isso mesmo, sua evolução ocorra, na maioria das mulheres, sem intercorrências clínicas, há um número significativo de gestantes portadoras de préeclampsia e eclampsia, embora assistidas durante o pré-natal no sistema de saúde. Esses diagnósticos conferem-lhes „risco‟ durante sua gestação. Nos âmbitos internacional e nacional, as gestantes de risco representam de 10 a 20% do total das mulheres grávidas (ZAMPIERI, 1997, apud KEMP; HATMAKER, 1989). Estas gestantes apresentam maiores probabilidades de evolução desfavorável na gravidez, quer para o feto, quer para si, por estarem expostas aos fatores de risco, sociais, econômicos, demográficos, comportamentais, psicológicos, clínico-obstétricos ou por sofrerem de alguma patologia que surge ou se agrava durante a gestação. Na vigência dessas situações, deparei-me com gestantes que vivenciaram perdas em internações por pré-eclampsia e por incerteza do que possa ocorrer na gestação. Este „vivido‟ suscita em nós reflexões e indagações de como cuidar, de forma integral, dessas gestantes, considerando o que se tem produzido nesta área, conforme Zampieri (1997, p. 205): na enfermagem brasileira, a gestação de alto risco e suas intercorrências são pouco abordadas e, quando o são, normalmente, enfatizam a dimensão biológica, centrando-se nos riscos, privilegiando o modelo assistencial biologicista e curativo. Cabe referir que a política do Ministério da Saúde no sentido da promoção da maternidade segura visa garantir o pré-natal, humanizar o atendimento, além de desenvolver atenção especial à parcela de mulheres grávidas portadoras de doenças que se agravam com a gestação ou são desencadeadas nesse período, constituindo o grupo de gestantes de alto risco (BRASIL, 2000). A visão do processo saúde/doença, denominada Enfoque de Risco, fundamenta-se no fato de que nem todas as pessoas têm a mesma probabilidade de VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 4 adoecer ou de morrer, havendo entre elas diferenças bastante significativas, estabelecendo um gradiente também diferenciado de necessidades de cuidados. Nesse sentido, a política do Ministério da Saúde para o atendimento à mulher no ciclo grávido-puerperal fundamenta-se no princípio de que as necessidades das gestantes de baixo risco são resolvidas, de maneira geral, com procedimento simples no nível primário de assistência, enquanto o grupo de alto risco geralmente requer assistência mais especializada nos níveis secundário e terciário, com equipe de saúde e tecnologias sofisticadas. Acreditamos, outrossim, que todo o cuidar, incluindo, aí, as práticas educativas desenvolvidas com as gestantes de baixo risco, é fundamental também para as gestantes de alto risco, os seus familiares e as pessoas envolvidas neste processo. Zampieri (1997) afirma que a vivência da gestação de alto risco caracterizase por um processo extremamente complexo, dinâmico, subjetivo, diversificado, individual e social. É uma experiência única, que se estende ao companheiro, à família e à sociedade. Não é apenas um evento biológico. Pode gerar situações de crise que envolvem transformações fisiológicas, psicológicas, sociais, econômicas, culturais, espirituais e alterações de papéis, implicando a aceitação ou não da gravidez. Esses aspectos são inerentes também ao processo de gestação normal, mas se tornam uma experiência mais estressante em razão dos riscos a que estão submetidos o feto e a mãe, que interrompem o curso normal da gravidez e repercutem em todo o contexto familiar. É sabido que, em decorrência da hospitalização, podem ocorrer, por exemplo, mudanças no ritmo familiar pelo afastamento da mulher do seu domicílio, dos seus familiares, das atividades profissionais e domésticas e pelas adaptações da gestante às rotinas e hábitos instituídos em um novo ambiente. Assim, o repouso parcial ou total, adotado como conduta terapêutica para o tratamento das intercorrências na gravidez de alto risco, pode, por sua vez, gerar nas gestantes problemas psicológicos e emocionais. Em vista disso, o cuidado dispensado a elas deve ser o mais abrangente possível. De outra maneira, devido a toda complexidade que envolve a gestação de alto risco, não se deve reduzi-la apenas a seu aspecto biológico e ao tratamento das intercorrências, enfocando os VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 5 riscos e a sobrevivência do bebê. É essencial ter-se em mente que a mulher e os familiares também estão vivenciando o processo da gravidez e das crises a ele ligadas. Como atesta Zampieri (1997, p. 205), “não se pode esquecer que as gestantes e acompanhantes são seres humanos, que precisam ser compreendidos, informados e fortalecidos, para que, desta forma, possam tornar-se agentes deste processo”. Como mencionado, uma das atividades desenvolvidas no pré-natal por enfermeiros é o processo educativo, que tem como finalidade dar suporte às gestantes de riscos, diminuindo-lhes o estresse e a crise decorrentes das implicações da gestação, uma vez que, na medida em que facilita o enfrentamento das dificuldades, minimiza os efeitos da hospitalização, favorecendo o repouso e a diminuição de intercorrências que, porventura, possam acontecer, e orientando-as sobretudo em relação ao controle de sua pressão arterial, que é um dos principais sinais da pré-eclampsia. Neme (2000, p. 282) define a hipertensão gestacional como “o aparecimento da hipertensão em conseqüência da gravidez, e que acontece após 20 semanas de gestação”. A gestante que apresenta pressão arterial diastólica maior ou igual a 90mmHg associada a proteinúria maior ou igual a 300mg/urina de 24 horas e/ou presença de edema generalizado tem como diagnóstico a préeclampsia. Observando e vivenciando a assistência à saúde e o processo educativo desenvolvidos no pré-natal, relacionando-os com o evento da pré-eclampsia e eclampsia, inquietações foram emergindo deste „vivido‟ com relação aos sentimentos que a gestante desenvolve no que se refere aos transtornos e às incertezas que podem ocorrer durante a gestação. Na minha visão ainda unilateral, instauram-se medo, angústia e uma série de incertezas do vir-a-ser. E a gestante, o que sente? Que significado doa ao que lhe ocorre na existência cotidiana agora trilhada com proteinúria, edema, hipertensão, entre outros? De início, busquei, na literatura, respostas para essas inquietações, pouco encontrando. Vislumbei, no mestrado, a possibilidade de encontrar respostas para os seguintes questionamentos: - que sentimentos as gestantes vivenciam ao saber que sua gestação é de alto risco? Elas percebem os riscos que correm? VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 6 - o tempo, na consulta de pré-natal, gasto para o exame clínico e orientações é adequado para atender estas gestantes em toda sua especificidade? - o processo educativo vigente no atual programa do pré-natal de alto risco está contribuindo para as atitudes preventivas necessárias para a diminuição dos riscos e das intercorrências indesejadas para as gestantes? Assim, o estudo justifica-se pelo fato de que dará voz aos sujeitos gestantes de alto risco e, com base na compreensão do sentido e „vivido‟ expresso por elas, poder-se-á redirecionar as ações com a intenção de desenvolver um cuidado integral e autêntico, engendrado das especificidades, singularidades e pluralidades mencionadas pelas mulheres que realmente vivenciam o fenômeno em estudo. Por outro lado, até a presente data, são raros ou inexistentes trabalhos de enfermeiros concernente ao „vivido‟ e aos conhecimentos que estas gestantes têm dos riscos de sua gestação. Acreditamos, portanto, ser relevante realizar esta pesquisa com o objetivo de compreender os sentimentos vividos pelas gestantes de alto risco. 3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA 3.1 IDÉIAS BÁSICAS DA FENOMENOLOGIA Tendo em vista que este estudo busca compreender o „vivido‟ da gestante, como cliente de uma maternidade de alto risco, na sua própria visão, a pesquisa qualitativa foi considerada a melhor opção metodológica. Em primeiro lugar, porque ela possibilita uma maior proximidade dos sujeitos, um mergulho no seu mundo-vida e, em segundo, porque ela pressupõe um aprofundamento na realidade que não pode ser quantificada, um aprofundar-se no mundo dos significados, da subjetividade e da intencionalidade, das ações e relações humanas; um ir ao lado não perceptível do fenômeno que não se mostra pelas equações e estatísticas (TRIVIÑOS, 1987). Na abordagem qualitativa, optei pela trajetória fenomenológica porque esta modalidade de pesquisa não depende a priori de teorias explicativas, estando seu maior enfoque centrado na compreensão do que se deseja conhecer, pois, Para alcançar a compreensão do „vivido‟ da gestante de alto risco, buscou-se fundamentar as reflexões no pensamento de Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão discípulo de Edmund Husserl, que, buscando o sentido do ser, dedicou-se VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 7 ao estudo da existência humana em seu cotidiano, desenvolvendo uma analítica existencial, uma ontologia. Heidegger, em sua ontologia, afirma que o ser no mundo é o Ser-aí, ou Dasein, ou seja, o modo de Ser-no-mundo pelo qual todos os seus modos de ser são co-determinados. Para compreender o ser, é preciso entender que o homem não é findo; ele se constrói na historicidade de sua vida e no relacionamento com outros homens. Tendo o sentido do ser como diretriz, a investigação já se encontra inserida na questão fundamental da filosofia em geral, e o modo de tratar esta interrogativa é fenomenológico. A fenomenologia não é considerada por Heidegger um ponto de vista, nem uma corrente, pois, antes de tudo, diz um conceito de método. Destaca, ainda, que o termo fenomenologia “refere-se exclusivamente ao modo como se de-monstra e se trata o quê” deve ser tratado nesta ciência (SIMÕES, 2002). Para Heidegger (1998), a expressão fenomenologia diz “deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo”. Segundo Martins e Bicudo (1994, p. 23), [...] a pesquisa qualitativa busca uma compreensão particular daquilo que estuda [...] não se preocupa com generalizações, princípios e leis [...] o foco de sua atenção é centralizado no específico, no peculiar, na individualidade, almejando sempre a compreensão e não a explicação dos fenômenos estudados. [...] não se fazem análises prematuras ou construções explicativas a priori nas descrições dos fenômenos [...] as descrições se referem às experiências que os sujeitos viveram. Nelas estão a essência do que se busca conhecer e a intencionalidade do sujeito (MARTINS, BICUDO, 1994, p. 36). Demo, citado por Minayo (1996, p. 35), foi muito oportuno ao comparar o desvelar dos fenômenos sociais com a pintura, afirmando: “o que se pode ter dos fenômenos sociais, é menos um retrato e mais uma pintura [...]”. Esta exposição leva-nos a concordar com a autora acima citada, quando relata: [...] pintura nos inspira a idéia de uma projeção em que a realidade é captada em cores e matizes particulares, onde os objetos e as pessoas são reinterpretados e criados num processo de produção artística [...]. Nesta obra tanto o que é visível como as emoções e tudo se une para projetar a visão da realidade (MINAYO, 1996, p. 35). VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 8 Projetar o „vivido‟ das gestantes de alto risco, compreendendo-o, é a intenção, sabendo, de antemão, que à medida que torno claro uma faceta desta realidade outra permanece oculta, encoberta. É importante ressaltar que a compreensão e a interpretação do fenômeno não ocorrem de maneira isolada, mas em uma região de fenômenos co-percebidos, contando com o rigor do pesquisador. De acordo com Martins e Bicudo (1994, p. 19), [...] sujeito e fenômeno estão no mundo-vida juntos com outros sujeitos, copresenças que percebem fenômenos. A co-participação de sujeitos em experiências vividas em comum permite-lhes partilhar compreensões, interpretações, comunicações, desvendar discursos estabelecendo-se a esfera da intersubjetividade. A intersubjetividade é essencial em fenomenologia, pois a essência do fenômeno sempre emerge de atos de significação. Para o investigador fenomenológico, as coisas só podem ser olhadas atentivamente quando surgem na experiência da pessoa que as vê. Para Martins e Bicudo (1994), a trajetória fenomenológica é constituída por três momentos básicos: a descrição, a redução e a compreensão, que engloba a interpretação dos dados. O primeiro momento da investigação é a descrição fenomenológica, onde ocorre o encontro do pesquisador com o fenômeno por meio das descrições dos sujeitos que o vivenciam e constituem a matéria-prima para a análise. O pesquisador se defrontará com um conjunto de significados, procurando, nesse momento, ver o fenômeno com base em sua própria realidade, ou seja, a percepção do fenômeno se dará tal qual se manifesta no „vivido‟. O segundo momento diz respeito à redução fenomenológica, no qual o pesquisador busca a essência do fenômeno e a compreensão de como o sujeito vê a situação. Seu objetivo é determinar, relacionar e apontar, nas descrições, as partes consideradas essenciais e as que não o são. O investigador, ao mobilizar o seu próprio pensar, seleciona as partes dos discursos individuais que permitem que a essência do fenômeno se mostre. Ele se coloca no lugar dos sujeitos para refletir suas vivências descritas e, assim, atribuir-lhes significados (TRIVIÑOS, 1994). Neste momento, o pesquisador coloca o fenômeno estudado em suspensão, o que Husserl denominou de “epoché”, quer dizer, retirada de toda a crença, todos os pré-conceitos, teorias e explicações apriorísticas (FINI, 1997). VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 9 O terceiro momento da trajetória fenomenológica é o da compreensão dos dados, pois, muitas vezes, na linguagem, o sentido permanece oculto. É uma tentativa de explicitar o significado do que é essencial na descrição e na redução, envolvendo uma interpretação. O pesquisador está, assim, caminhando para o desocultamento do fenômeno investigado. A compreensão se torna possível quando o pesquisador obtém o conjunto de asserções significativas para ele, extraídas das experiências vividas pelo sujeito, e transforma-as em proposições que sustentam o que ele está buscando. Numa pesquisa qualitativa, é essencial que se estabeleça uma boa relação entre o sujeito e o pesquisador. Neste estudo, a fonte principal de informações foi a gestante de alto risco, que as me passará por meio da fala. A fala é a expressão maior do ser humano e é por intermédio dela que interagimos com o mundo. Assim, será utilizada a entrevista aberta para coletar tais informações, de modo a possibilitar a busca da essência do fenômeno mediante os relatos das gestantes envolvidas na pesquisa. Para Ludke e André (1986, p. 34), “a grande vantagem da entrevista sobre outras técnicas é que ela permite a captação imediata e corrente da informação desejada [...]”. E, na concepção de Carvalho (1987), a entrevista fundamentada em uma metodologia fenomenológica descarta modelos, projetos e valores últimos que possibilitam um saber “sobre” o informante, possibilitando um saber “do” informante. Reportando-me aos dizeres de Minayo (1996, p. 55), “a fenomenologia é considerada, dentro das Ciências Sociais, a sociologia da vida cotidiana”. Assim, o contato do pesquisador com o fenômeno dar-se-á à medida que o sujeito for descrevendo sua vivência e seu cotidiano. Conseqüentemente, o fenômeno irá sendo desvelado com diferentes significados. 3.2 CENÁRIO E SUJEITOS DO ESTUDO Os sujeitos deste estudo foram 11 gestantes internadas nas enfermarias destinadas às clientes de alto risco do Hospital Materno Infantil, instituição pública estadual que é referência para a gravidez de alto risco em Goiânia, no período de janeiro a março do ano de 2003, e que não apresentaram nenhum tipo de complicação que impedisse sua comunicação. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 10 A escolha da instituição deveu-se ao fato de ser ela um campo de prática para alunos da universidade e com o qual eu convivo há alguns anos como supervisora desses alunos. É importante ressaltar que, desde o início, o estudo pautou-se nas determinações da resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996), a qual discorre sobre os aspectos ético-legais dos trabalhos de investigação científica, tendo sido aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG.Os discursos foram colhidos após contato e agendamento individual com as gestantes que aceitaram participar do estudo. Foi-lhes entregue e explicado o termo de consentimento livre e esclarecido (Anexo II), deixando claro para elas que sua identidade seria preservada e que poderiam desistir de participar da pesquisa quando quisessem. Solicitei-lhes também o consentimento para gravar os discursos, o que foi prontamente aceito. Após os esclarecimentos necessários, as explicações detalhadas da pesquisa e a assinatura do termo de consentimento, pedi que relatassem a sua vivência como gestante de alto risco, a partir da seguinte questão norteadora: – Fale para mim o que é ser uma gestante de alto risco. Todas as pacientes abordadas consentiram em participar da pesquisa. As entrevistas foram realizadas em uma sala de reuniões, exceto uma, feita no leito de uma paciente com estado de saúde instável, que, apesar dessa condição, consentiu em ser entrevistada. Pedi para que a colega do outro leito e sua acompanhante aguardassem na sala de reuniões durante a entrevista, no que fui atendida. As entrevistas transcorreram em clima de segurança e tranqüilidade. A partir da questão norteadora, as entrevistadas ficaram livres para falar sobre o assunto, sem limite de tempo. Em alguns momentos, foram necessárias algumas intervenções. Quero registrar a satisfação que senti ao realizar essas entrevistas e no momento de transcrevê-las, em que foi possível revivê-las, já captando a sua essência. Sempre me preocupei com a gestante de alto risco, compartilhando com elas a grande ansiedade ante a sua gestação. Configurava-se ali, face a face, aberta para a escuta, absorvendo cada palavra, cada frase e cada sentido, o que vivenciam VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 11 enquanto gestantes com probabilidades de danos à própria saúde e a do bebê. Faziam eco para mim o que pensava e o que não pensava dessas mulheres. Ao realizar as entrevistas, procurei estabelecer uma relação de empatia com a gestante, um estar-com-o-outro. Para garantir o anonimato, ao omitir seus nomes verdadeiros, as gestantes foram „rebatizadas‟ com nomes de flores, na intenção de homenageá-las em sua beleza e força, como: Acácia, Azaléia, Begônia, Flamboyant, Jasmim, Lírio, Margarida, Orquídea, Rosa, Tulipa e Violeta. Na fenomenologia não existe, como nas ciências naturais, um critério que determine, antecipadamente, o número de pessoas participantes da pesquisa. Assim, as entrevistas foram coletadas de duas a três por dia, não simultaneamente, mas agendadas com horários distintos. Na décima primeira entrevista, percebi a ocorrência da saturação dos dados, permitindo o desocultamento de parte do fenômeno, considerando-se a proposta do estudo e confirmando a assertiva de Heidegger (1998, p. 38) ao dizer que “[...]o ser-com é partilhado no discurso [...] é através dele que a presença se pronuncia”. A partir daí, seguindo os passos propostos por Martins e Bicudo (1994), retirei as unidades de significado de cada discurso, lendo-as reiteradas vezes e obtendo o sentido contido nelas. Posteriormente, por convergência, essas unidades foram agrupadas, formando nove unidades temáticas, que são aqueles extratos que focalizam as diversas acepções sobre o fenômeno em estudo. Fiz nova incursão nessas unidades, as quais, após a segunda redução, deram origem a seis grandes categorias, sendo uma delas uma idiossincrasia. 6 Neste período, realizei, também, busca de literatura pertinente ao encontrado nos discursos e outros referenciais que pudessem sustentar sua análise compreensiva. 4 ANÁLISE COMPREENSIVA DOS DISCURSOS Na abordagem fenomenológica, não basta chegar junto à depoente e lançar a questão norteadora. É necessário que a depoente mostre-se „aberta para‟, que surja entre pesquisador e pesquisado a relação empática. Este é um momento de intensa reflexão e percepção do investigador diante de cada depoente, que o leva a um movimento também de singularidade. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 12 Heidegger (1998) nos fala que só nos fenômenos é possível conquistar o modo de encontro com o ser e suas estruturas. E, como ponto de partida das análises, deve-se o acesso aos fenômenos e à passagem pelos encobrimentos vigentes, o que exige uma segurança metódica particular. Cabe rever os dizeres de Critelli (1996) referentes aos dados coletados por instrumentos de registro, sejam entrevistas, visitas ou desenhos. Todos são válidos em uma investigação. Não se pode, entretanto, crer que, por si, sejam capazes de revelar a totalidade do buscado ou se transformarem no próprio buscado. 4.1 INTERNAÇÃO ABRUPTA 4.1.1 Internação Repentina O internar-se no hospital é um momento que pode gerar ambigüidade de sentimentos: felicidade porque chegou a hora do nascimento do filho, ou insegurança, medo e angústia porque não houve previsão e, às vezes, tempo para se preparar para o sair de casa, de perto dos familiares e adentrar o mundo hospitalar. Para muitas gestantes, a internação não planejada, precipitada, traz, ainda, transtornos no mundo do trabalho. Assim, as gestantes de alto risco não têm tempo para pensar, programar e organizar o cotidiano privado e o público. São lançadas, abruptamente, de um lugar para outro, ou seja, de uma consulta rotineira para a enfermaria do hospital. Algumas ficam internadas após o resultado de exames, após a aferição de sua pressão em uma consulta de pré-natal. Olivieri (1985), ao dizer que a doença provoca uma agressão, uma solução de continuidade entre o viver anterior e o presente, tornando o futuro incerto, faz-nos refletir sobre a internação abrupta, que não permite ao ser humano uma adaptação gradativa à facticidade e, portanto, a um preparo psicológico. Há reações da gestante ao ambiente desconhecido do hospital, que traz angústia por motivos diversos, até a ausência de informação pode causar problemas e reações imprevisíveis por parte dela. Ao ser internada, há sempre grande modificação no seu modo de viver e surgem carências antes inexistentes (OLIVIERI, 1985). As falas a seguir, mostram este vivido: É a primeira vez que eu tô ficando internada no meio de hospital devido a minha gravidez, devido ser de alto risco [...] (Acácia). VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 13 [...] agora, por exemplo, eu me internei antes de ontem... porque a doutora pediu para eu transferir o meu pré-natal pra cá, por ser de alto risco, então eu fui lá no meu médico, lá da Colina Azul, e pedi para ele trazer pra cá minha transferência. Aí, eu cheguei aqui e eles me deixaram internada... aí, eu tive que avisar minha família que eu não ia pra casa, eu ia ter que ficar internada já [...] (Begônia). [...] eu estava fazendo pré-natal normal, cheguei lá, internei no Sábado. Aí, eles falaram pra mim que eu tinha que vim pra cá, pra Goiânia [...] (Flamboyant). Essas palavras denunciam o não ser livre para decidir ou adiar o momento da internação – “tinha que” [...]–, ou seja, a clínica, o corpo biológico da gestante impõem, sem restrições, que ela seja internada imediatamente. Em muitas situações, o conhecimento que a gestante tem relativo a si, sendo de alto risco, não foi adquirido previamente ao desvelamento do diagnóstico. Ela tem uma bagagem ínfima de conhecimento, uma vez que não houve tempo para apreendê-lo, e o tempo cronológico exige tomada de decisão rápida e precisa, na maioria das vezes, pautada no aqui e agora, como apontam as unidades de significado a seguir: [...] mas eu fiquei sabendo que era de alto risco na Segunda-feira, porque minha pressão nunca tinha subido, foi a primeira vez, cheguei aqui e já fui internada [...] (Jasmim). [...] cheguei aqui, fui internada, já fiquei na triagem em observação. Três horas da tarde eu vim pro leito [...] (Violeta). [...] eu fiquei sabeno aqui mesmo, vim só pra fazer um exame, cheguei aqui o médico falou que tava com eclampsia... Só falou isso, não falou mais nada [...] (Margarida). Há que se pensar que, apesar da opção por se internar não ter sido pensada e planejada a priori, há contingências da vida que demandam atitudes imediatas. Instaura-se, assim, o agir rápido, o „ter que‟, independente da vontade e do desejo. Cabe lembrar que a liberdade, na concepção aristotélica, “é o princípio para escolher entre alternativas possíveis, realizando-se como decisão e ato voluntário”. O ser humano não é livre para escolher tudo, mas o é para fazer tudo quanto esteja de acordo com a sua capacidade de agir, graças ao conhecimento que possui acerca das circunstâncias em que vai agir (CHAUÍ, 2000, p. 360). Diante desses dizeres, apreende-se que as gestantes, ao tomarem conhecimento da premência de sua internação, tomam parte ativa da decisão médica, aceitando e compreendendo ser necessário hospitalizar-se. Afinal, é um VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 14 período, é um tempo cronológico e vivido ali, que a pressão alta ou a eclampsia impõem que assim o seja. É necessário refletir que a existência humana, o mundo e o presente formam um campo de condições e circunstâncias que não foram escolhidos por nós e em cujo interior nos movemos. Chauí (2000) afirma que há um passado, um presente e um futuro e, diante desse campo temporal, podem-se assumir duas atitudes: a ilusão de que se é livre para mudá-lo em qualquer direção que se desejar, ou a resignação de que nada se pode fazer. Sob esse aspecto, é fato que as gestantes de alto risco não escolheram “ser de alto risco” mas mostraram-se livres ao permanecerem internadas abruptamente, porque, na verdade, reconheceram ser possível, assim, mudar sua condição clínica para oferecer a si e ao filho maiores possibilidades de sentir-se e nascer bem. 4.1.2 Estar Longe da Família A linguagem verbal de muitas gestantes expressou, com intensidade, o desejo de voltar para casa, para junto de seus familiares, de suas atividades, para seu mundo privado, pois a internação foi abrupta e, às vezes, dolorosa para elas, porque foi cercada de incertezas, de reticências... não sabiam quando retornar ao lar e para próximo das pessoas com quem compartilham a própria existência: [...] é que a gente sai, longe da família, deixa a família longe, vem pra cá, não sei quando vou embora, não sei quando vou voltar [...] (Acácia). Marcon e Waidman (2003, p. 251) relatam “que a família pode ser vista como um ambiente seguro, aonde todos retornam para descansar e repor suas energias físicas ou mentais [...]” É na família, na maioria das vezes, que a pessoa se sente protegida, amparada, cuidada. É aí, na família, que, inicial e socialmente, acontecem a interação, o encontro intersubjetivo e significativo de pessoas que compartilham do mesmo mundo. Ser lançada no mundo hospitalar, sem aviso prévio, possibilita, talvez, encarar esse mundo como agressivo, impessoal, frio e inóspito. No entanto, com o decorrer dos dias, do ir-se habitando o mundo da enfermaria de gestantes, juntamente com a compreensão da necessidade da internação e tratamento, esse desejo imperativo de retorno à casa vai diminuindo gradativamente e a gestante acaba não desejando a VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 15 alta hospitalar até que tenha a certeza de que tudo esteja bem com ela e com o filho. Sente-se cuidada, mais orientada e tranqüila. [...] eu senti assim [...] querendo voltar pra casa, mas se eles acham que é melhor a gente ficar, tem que procurar ficar calma e vai dar tudo certo [...] (Begônia). [...] mas agora tô mais tranqüila devido meu filho, porque sei que meu filho tá bem, Graças a Deus. Isso é importante, né, a saúde do meu filho, ele tá bem (Acácia). [...] agora eu já estou melhor. O médico passou aqui e disse que vai tirar o nenê. Estou só com 36 semanas... eu não tinha problema nenhum, começou agora [...] (Margarida). De acordo com Tedesco (1999), a hospitalização pode ser considerada como o principal dos cuidados obstétricos dispensados à gestante de alto risco, mas, em razão de seu caráter intrinsecamente estressante, representa verdadeiro desafio adaptativo à grávida e à sua família, pois significa a conscientização da doença e de suas conseqüências. O conhecimento interiorizado com o passar dos dias e com as orientações recebidas, trazem à baila a importância do conhecer-se e ser sujeito na história de vida que é de cada uma. Assim, a internação passa a ser encarada e assumida como condição sine qua non para o existir do filho e de si. 4.2 PREOCUPAR-SE COM No imaginário das mães, durante a gravidez, elas se vêem diante de um bebê saudável, bonito e gordo. Ao ter a possibilidade da antecipação de seu parto, já se vêem diante de um bebê prematuro, de baixo peso, necessitando de cuidados especiais. Será cuidado por profissionais que elas não conhecem, alimentado por outros meios que não o seu seio materno. Surge a preocupação com a capacidade de manter vivo seu bebê, se conseguirão fazê-lo crescer e se desenvolver fisicamente. Muitas mães, especialmente nas primeiras noites, levantam para ver se o seu bebê está respirando, se está adormecido, se está bem. A mãe de um recémnascido prematuro passa noites separada de seu filho, preocupada com o modo que ele estará sendo cuidado. Se a mãe tem outros filhos, a preocupação dobra, pois, longe de casa, fica sem saber, ao certo, como e com quem está, pois a ela, mãe, foi dada toda a responsabilidade de cuidar dos filhos. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 16 Maldonado (1991) nos diz que essa responsabilidade atribui à mãe o papel de personagem central da família. As manifestações do crescimento saudável do filho, ao longo de seu desenvolvimento, aumentam a autoconfiança da mãe, que alcança o objetivo de sua existência. A maternidade é definida como a suprema capacidade criativa do ser humano e também conceituada como a relação da mãe e do filho, incluindo aspectos sociológicos, fisiológicos e afetivos. Se um filho está por nascer prematuro e outro, longe de seus cuidados, a mãe se preocupa. Freitas (2000) diz que o amor materno é a expressão afetiva direta da relação positiva com o filho, e sua principal característica é a ternura. Em relação às expectativas das gestantes nesta gravidez, muitas demonstraram preocupação com seus bebês, medo de nascerem mortos ou prematuros, com menos chances de sobreviver, o que nos faz crer que as gestantes imaginam como serão seus filhos e pensam que os poderão ter, mas não da forma como sonhavam: [...] eu tava tranqüila, trabalhando, aí, o dia que eu fiquei sabendo que era de alto risco, era pré-eclampsia, eu fiquei preocupada [...] (Acácia). [...] eu já fiquei preocupada, porque quando encaminha pra Goiânia, já é um caso mais de risco [...] (Flamboyant). [...] meu filho, por ser prematuro, ele tem menos chances de sobreviver [...] (Lírio). [...] minha primeira gravidez, é complicado, muito complicado, a gente passa o tempo todo de uma gravidez, invés de passar quieto sem preocupação, mas fazer o quê? (Orquídea). [...] e, às vezes, ele nascer com baixo peso... aí, a gente fica triste por causa disso [...] (Tulipa). A existência de outros filhos deixados em casa, às vezes sem ninguém para cuidar, cria na paciente uma preocupação a mais, sobretudo por sentir-se incapaz de desempenhar seu papel de mãe, o que aumenta suas ansiedades e preocupações com as responsabilidades maternas: [...] tá tudo bem, né, o nenê tá tudo bem, comigo também, tá tudo bem. Eu só preocupo com meu outro filho que tá em casa, eu tenho outro de quatro anos [...] (Begônia). Heidegger (1998, p. 173) mostra que a preocupação responde aos aspectos ontológicos do ser. Preocupação é ocupar-se, no sentido de instituição social. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 17 Entretanto, na maior parte das vezes, e antes de tudo, pode-se manter modos deficientes de preocupação: “ o ser por um outro, contra um outro, sem os outros, o passar ao lado do outro, o não sentir-se tocado pelos outros são modos possíveis de preocupação”. Esses modos caracterizam a indiferença e deficiência da convivência. Há, contudo, ainda, na concepção de Heidegger (1998) o modo positivo da preocupação. Esta não substitui o outro e não o coisifica. Ao contrário, ajuda o outro a tornar-se transparente para si mesmo e livre para o cuidado. A „preocupação‟ verbalizada pelas gestantes deste estudo aponta que ela se alicerça no desejo de uma convivência autêntica, de um cuidar que transcende o próprio cuidar, pois o estar bem do filho que vai nascer e do que ficou em casa é prioritário, entre as situações e nuances que podem acontecer. 4.3 SINTOMAS DA GRAVIDEZ DE ALTO RISCO Somos seres no mundo enquanto seres de presença e, assim, somos um corpo enquanto corpo vivido e não meramente um conjunto de órgãos de que a anatomia e a fisiologia falam e estudam. Este corpo-objeto distancia o homem do papel do corpo enquanto sujeito e de sua função perceptiva. Como bem atesta Merleau-Ponty (1999), a inerência do homem ao mundo se dá de maneira espontânea, na sua existência concreta, quando todos os seus sentidos estão abertos às diversas manifestações corporais. Trazendo para nossas gestantes essa concepção de corpo-sujeito, fenomenal e próprio, pode-se afirmar que seus corpos são a expressão primeira de que algo não está bem e precisa de ser compreendido. Esta expressividade corpórea anuncia a presença de sintomas significativos de um cuidado médico mais intensivo, criterioso e humano. Dessa forma, o corpo, que tanto pode sentir, como ser sentido, ver, como ser visto, não é apenas objeto nem apenas sujeito; ele se encontra nessa dualidade, e, para nós, profissionais da saúde, fica patente que os sintomas requisitam tratamento, medidas objetivas, e a mulher-gestante precisa de cuidado autêntico, de compartilhar seus medos, anseios e suas expectativas. Não são só a hipertensão, o edema e os escotomas que falam pelo corpo gestante, há todo um universo simbólico que circunda essa mulher que gesta com alto risco. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 18 4.3.1 Hipertensão: Sinal de Alarme A hipertensão é um dos sintomas da pré-eclampsia que mais apavora as gestantes, pois, em razão dela, outros sinais e sintomas vão aparecendo e se agravando durante a gestação. No início, a paciente apresenta um aumento da pressão arterial definida como pressão sistólica maior ou igual a 140mmHg e pressão diastólica maior ou igual a 90mmHg, acompanhada de proteinúria e de um súbito aumento de peso igual ou superior a 500g/semana, chamado de edema oculto, na definição de Rezende (2003). Com o agravamento dos sintomas, em virtude da irritabilidade do sistema nervoso central, a gestante apresenta cefaléia, escotomas, amaurose, antecedendo a instalação das convulsões. Em suas falas, elas evidenciaram esses sintomas como dando início à gravidade de sua gestação: [...] eu tenho problema de pressão alta [...] (Azaléia) [...] olha, sinto pressão alta, sinto problemas nas vistas, agora, por exemplo, nessa gravidez eu não tô sentindo ainda porque a minha pressão, eu cheguei aqui tava 17 por 13, mas na primeira gravidez chegou a ir 30 por 29 [...] (Begônia). [...] nessa agora, minha pressão aumentou, tava 20 por 12, aí eu tive que vir pra cá... lá não tinha condição, não tinha aparelho, não tinha como... se acaso o nenê nascesse, lá não tem UTI [...] (Flamboyant). [...] como diz o outro, só pressão alta demais, alterou mais foi pra mim, não pra ela, o risco não correu tanto... a minha sorte é que quando cheguei aqui, a pressão tava 18 por 8. Então tava muito alta [...] (Jasmim). [...] e aí, com isso, eu tenho... sou hipertensa e... com a gestação, principalmente depois do quinto mês, que não é a primeira vez, é que começa a complicar...a pressão sobe mais, eu entro em trabalho de parto, essas coisas [...] (Lírio). [...] porque minha pressão tem dia que tá lá em cima, outra hora tá lá embaixo [...] (Orquídea). O corpo-próprio vive a hipertensão e a transforma em significação, que é, essencialmente, comunicativa. Desse conhecimento, nasce o cuidar integral a ser prestado pela equipe de saúde. O cuidado requer conhecimento do outro ser. O cuidador deve ser capaz de entender as necessidades do outro e de responder a elas de forma adequada. Heidegger (1998) nos traz a noção de “cuidado autêntico”, entendido como o exercício do poder do ser, que necessita de cuidado para cuidar de si mesmo. O VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 19 cuidado autêntico não é uma forma de ensinar autocuidado, mas uma forma em que o cuidador, sutilmente, possibilita ao outro conhecer e utilizar suas próprias capacidades, sem criar dependência, que é muito comum nas situações de cuidado. Waldow (2001) cita Roach (1993) quando esta, defendendo o cuidar como uma forma de expressão de nossa humanidade, refere que ele é responsivo. Para ela, o cuidado, como uma resposta, afirma valores ontológicos pertinentes à natureza da coisa tal como a dignidade da vida, a preciosidade do ser humano. Outros Sinais/Sintomas da Gravidez de Alto Risco No que diz respeito à presença da cefaléia, as gestantes se referiram a uma forte dor de cabeça, bem como aos escotomas. Estes são definidos em Blakiston (1990) como uma região da visão ausente ou deprimida no campo visual, cercada por uma zona de visão normal ou menos deprimida. Das falas das gestantes, apreende-se que elas comparam os escotomas a pontos de luz, bolinhas vermelhas que apareciam em sua visão. Outras queixas apresentadas pelos sujeitos desta pesquisa se referem a “ficar sem enxergar” e ver “bolinhas vermelhas”. Blakiston (1990) define a amaurose parcial fugaz como a cegueira parcial associada a cefaléias, vertigens e escotomas. É, geralmente, brusca, transitória e rara. Os enunciados a seguir expressam esses sintomas: [...] aí, eu não tava enxergando praticamente nada, e inchada demais, foi só isso que eu senti [...] (Begônia). [...] eu fazia pré-natal direitinho... começou assim... as vistas começou a dar bolinhas vermelha, e os pés começou a latejar e... começou a atacar a dor de cabeça, aí, eu corri pra cá (Violeta). Prosseguindo, o corpo não é um todo fragmentado, com partes independentes entre si, mas uma unidade cujas partes se relacionam e cujas equivalências garantem o “ser corpo” (MERLEAU-PONTY, 1999). As gestantes, mesmo definindo a cefaléia e o enxergar quase nada, não conseguem isolar apenas essa parte do corpo como disfunção. É o corpo, como um todo, que está adoecido, é ele, como um todo, que fica embebido pela sensação de estar doente. No início da gestação, o edema oculto é o aumento subitâneo de peso igual ou superior a 500g/sem. É o sinal mais precoce da pré-eclampsia. Posteriormente, torna-se visível e é do tipo generalizado: engrossamento dos dedos VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 20 das mãos, face vultosa e abdome aumentado. É a anasarca, ou seja, edema generalizado. A gestante se acha estranha, identifica sinais e sintomas que não são esperados em uma gestação. Expressa uma estranheza em relação ao seu corpo, à sua gestação. Essa estranheza pode ser exemplificada com os depoimentos das gestantes que assim se expressaram: [...] na hora que eu cheguei aqui no hospital eu tava inchada demais, muito dormente, não sentia nada... mas o inchado ainda continua! Eu tava tão inchada que eu tava deformada, quase que eu ia estourar, e dor no corpo, eu acho que a pele esticou demais, né, as mãos nem fechavam, perdi até o tato [...] (Jasmim). [...] desde que eu fiquei grávida, já comecei a inchar, comecei a ter sintomas de uma gravidez de alto risco [...] (Lírio). [...] tava sentindo muita dor na barriga, nas costas... Quarta-feira, deu dor de cabeça, não tava muito forte não, mas fiquei tonta. Já tinha umas duas semanas que eu vinha inchando [...] (Margarida). [...] eu não tô sentindo muito bem, eu sinto durmência nas mãos, no rosto, tô inchando demais, sabe? Eu tava fazendo pré-natal e, aí, depois, senti uma dor muito forte no estômago e falta de ar (Tulipa). As gestantes explicitam aquilo que lhes é visível e sentido: a hipertensão e o edema. Algumas mencionam, ainda, os escotomas. Dessa forma, a proteinúria, tão essencial para o diagnóstico, não é verbalizada por algumas delas, porque não é percebida. Para Merleau-Ponty (1999), há equivalência intersensorial, que pode também ser chamada de “extensão afetiva” dos membros do nosso corpo, pois todos eles estão envolvidos e relacionam-se entre si por intermédio dessa equivalência. Ela garante a unidade corporal, por possibilitar uma comunicação entre os diferentes dados visuais, táteis e motores. Nesse sentido, nossas gestantes, com o corpopróprio, assimilaram, codificaram e relacionaram todas essas sensações. MEDO DO VIR A ACONTECER Uma forte perspectiva do fenômeno em pauta converge a partir do momento que a maioria das depoentes desvelou o medo de morrer e de perder o bebê. Há, explícita nas falas de todas elas, a compreensão de que a morte é dupla: da mãe ou do bebê ou de ambos. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 21 Em relação ao nascer e ao morrer, esses dois momentos têm sido tratados como exclusivos e merecido atenção diferente por parte do pessoal da área de saúde. O estudo da morte é particularmente difícil. Temos, contudo, que levar em consideração um fato incontestável: o homem morre! Jaspers (1993) afirma que nossa vida está posta entre dois parênteses: nascimento e morte. Só nós, humanos, temos consciência disso. Do nosso nascimento, não temos lembranças; não guardamos experiência do início de nossa vida, mas todos estamos destinados à morte, mesmo ignorando o momento que ela virá; ela é a maior de todas as certezas. Por sua própria natureza, o homem é mortal. Ele tem uma única história de sua vida na terra. A morte pertence à sua realidade histórica tanto quanto o nascimento. Para Haering (1984), quando dizemos que a morte faz parte da própria natureza do homem, isso não significa que ele experimente a morte como algo muito natural. É diante da morte que o enigma da existência humana se torna mais agudo. A consciência puramente vital desconhece a morte. Ignorando o momento que ela virá, procedemos como se nunca devesse chegar. Em verdade, vivendo, não acreditamos, realmente, na morte. Costumamos dizer que o que nasceu deve morrer. A ciência biológica não se contenta com isso. Seria interessante conhecer o porquê. O retardamento do processo de envelhecimento é um tema muito estudado, mas mesmo se prolongando artificialmente a vida, um dia a morte chega (JASPERS, 1993). Morte, no sentido muito amplo, ou melhor, no mais universal possível, significa “cessação do processo vital em um organismo vivo”. Na linguagem da biologia molecular, é a “dissolução da estruturação molecular necessária para o fenômeno da vida”. Uma definição muito comum da morte é a que diz que “a morte é a separação da alma e do corpo” (MONDIN, 1980, p. 301). A vida humana no corpo é uma vida rumo à morte. No meio de nossa vida, a morte é nossa vizinha. Para Haering (1984), o modo como encaramos a morte, a nossa própria e a dos outros, é um dado revelador da vida da pessoa e da qualidade de nossa sociedade e de nossa cultura. É um critério básico de como encaramos a verdade, já que esta inclui a verdade de que nossa vida se destina à morte. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 22 Apesar das variadas definições pautadas na visão de mundo e de contexto histórico e espacial de quem as fazem, tememos a morte, e esta nos provoca angústia e medo, seja a minha morte ou a morte de quem amamos. Podemos apreender nas falas das gestantes que o medo da morte é duplo: o medo de morrer e da morte do filho. 4.4.1 O Medo de Morrer Silenciar a morte, mesmo diante de um ser humano em estado terminal, é o comum entre as pessoas do mundo ocidental. As negações e os silêncios que rondam o processo de morrer fazem parte de uma cultura que é perpetuada independente do seu loco de acontecimento. Essa situação se inscreve, também, no mundo e para as pessoas que, dialeticamente, experienciam o nascer e o morrer: instituições de saúde e profissionais da saúde, especificamente de enfermagem. Se tal constatação é fato, ela fica mais evidente e acirrada quando se trata do ser humano doente. Mediante a linguagem corporal, os exames solicitados, as orientações fornecidas, a morte vai inculcando na mente e teimando em dizer que a hora está chegando e é intransferível. O homem torna-se consciente da sua sujeição à morte na angústia. O medo é uma coisa completamente diversa da angústia. Aquilo que temo é sempre certa coisa ou uma determinada pessoa. O que me ameaça como algo determinado, vindo de certa região do meu mundo, faz-me temer por mim mesmo. O motivo do medo, o „terrível‟, é sempre uma coisa do mundo, pertencente à espécie do disponível, do que se apresenta ou do que é-com. O danoso, como postula Heidegger (1998, p. 195), “enquanto ameaça não se acha ainda numa proximidade dominável, ele se aproxima [...]. Na aproximação cresce esse fato de poder, mas nem sempre chegar”. Apenas a pre-sença, ente em que está em jogo seu próprio ser, pode temer, pois abre o ente no conjunto dos seus perigos, no abandono a si mesmo. O que me angustia é inteiramente indeterminado. Todavia, o temor se transforma em horror quando aquilo que ameaça possui o caráter de algo totalmente não familiar. Isso significa que a presença, como ser-no-mundo, é sempre temerosa, e esta temerosidade se constitui como disposição essencial de toda pre-sença (HEIDEGGER, 1998). VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 23 Na angústia, desmorona todo o mundo em que me encontro envolvido. No temor, a ameaça é um ente intramundano, como, por exemplo, a doença. “O ameaçador não se encontra em lugar algum, porém já está sempre presente, tão próximo que sufoca a respiração” (HEIDEGGER,1998, p. 250). A morte, antes de tudo, é uma situação geral do mundo. É, pois, uma situação especificamente individual; é o “limite-que-sempre-retorna”, que atormenta o homem, que o rói no seu íntimo e não apenas constitui uma autoconsciência individual (MONDIN, 1980, p. 311). A morte dos outros eu posso pensar, crer, imaginar, mas a minha morte, no meu íntimo, há alguma coisa que não a considera necessária, que não a considera possível. Heidegger (1998) esclarece que a morte é um acontecimento que cada um deve enfrentar por conta própria. Ninguém pode substituir a morte de outro. Cada um pode “morrer por um outro”... mas esse morrer por um outro não pode nunca significar que ao outro seja substituída a sua morte. O pensar a morte carrega, em si, o medo do vir a acontecer, como mostram as falas das gestantes: [...] eu sei que eu tenho muito medo, né, medo de morrer [...] (Azaléia). [...] aí, eu já fiquei com medo, comecei a chorar, ligar pra todo mundo que eu ia morrer, que era pra cuidar da minha filha... e, aí, eu fiquei com esse medo [...] (Flamboyant). [...] ah! medo de morrer e não ter jeito de cuidar do nenê...ele ficar jogado, judiado [...] (Margarida). O medo da morte se assenta no medo de ser-com-o-outro de forma inautêntica. Não sendo mais, a possibilidade de o bebê ficar sob os cuidados apenas ônticos, do outro, traz angústia. Entra-se em pânico. Acionam-se os familiares. Buscam-se a certeza e a esperança de que, caso a morte ceife o seu existir, o filho ficará sob a responsabilidade de alguém que cuide, sem “judiar”. Destarte, a morte é universal à condição humana. Todos morrem: jovens e velhos, sábios e ignorantes, ateus e crentes, ricos e pobres, brancos e negros, homens e mulheres, sãos e doentes.A civilização ocidental tem dificuldades para aceitar a morte, e o medo desta se tornou parte relevante da configuração VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 24 psicológica humana. O onipresente medo da morte está entrelaçado nos principais conflitos psíquicos (FREITAS, 2000). 4.4.2 Medo de perder o filho Perder um ente querido é uma afronta, um abandono, uma ofensa, uma agressão à própria vida. Até mesmo certas fases da vida, como o envelhecimento e seus desafios, traduzem a dificuldade humana em assumir as perdas e a morte. Vivemos numa sociedade convencional, dirigida para a produtividade, onde não se fala na morte e se pensa nela o menos possível, aliás, a própria morte é inimaginável.O medo não circula sozinho e nem se mostra egoísta. Ele se presentifica porque se meu corpo fenece, falta ao meu filho o ser presença significativa, que alimenta, que cuida e que protege. É linguagem corrente que cabe à mulher-mãe cuidar da prole, é ela, especialmente, a que estabelece o vínculo afetivo, o apego entre ela e o filho tão essenciais para o desenvolvimento humano. Somente a mãe pode sustentar e compreender o sistema de expressão de seu filho. Para ela, constitui a conexão com a vida e a ampliação sucessiva de seus vínculos e de sua capacidade afetiva sobre o mundo externo real. Entende-se que o vínculo da mãe com o filho é determinado por uma gama de fatores, que pressupõe o recrudescimento das relações primitivas da mulher com sua genitora. O tema dos cuidados maternos transcende a psicologia, sendo um aspecto abordado na literatura (FREITAS, 2000). O vínculo materno com o filho não é algo mecânico. Mostra-se como uma entidade viva (WINNICOTT, 1999). Para Klauss, M. H.; Kennel e Klaus, P. H. (2000), a formação de um vínculo faz parte do desenvolvimento da criança desde a gravidez, nascimento, pós-parto e primeiros meses de vida. O vínculo dos pais com seus filhos não deve ser apenas o mais forte mas, também, a mais importante das ligações humanas. Embora os recém-nascidos sejam ativos e conscientes, eles não podem sobreviver por si, e os vínculos de quem os assistem, geralmente pai e mãe, são fundamentais para a sobrevivência e o desenvolvimento deles. O laço original entre pais e bebê é a principal fonte para todas as ligações subseqüentes deste, e é o relacionamento formativo no decorrer do qual a criança desenvolve um sentimento de si. A força e o caráter desse apego influenciarão, por toda a sua vida, a qualidade de todos os laços futuros com outras pessoas. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 25 Klauss, M. H.; Kennel e Klaus, P. H. (2000) reconhecem como indicadores de apego comportamentos tais como acariciar, beijar, aconchegar, prolongadas trocas de olhar, comportamentos que servem tanto para manter contato, como demonstrar afeição por determinada pessoa. Ter um filho é um desejo infantil muito intenso nos seres humanos, sobretudo nas mulheres.Esses autores consideram a formação de um vínculo como o apaixonar-se, mantendo um vínculo como se amando alguém. A ameaça da perda deste vínculo traz a ansiedade, e a perda real provoca pesar. A gestante que se vê, de repente, diante da ameaça de perder o seu filho, aquele ser com o qual ela já formou um vínculo, ou perder a sua própria vida, sofre com a preocupação e a angústia.As próximas falas sinalizam para esse pensar: [...] mas eu cheguei muito nervosa, muito assim... apavorada, eu pensei: vou perder meu nenê, ou então vou morrer e ela fica, né? Aí... mas... depois... vou pedir a Deus [...] (Jasmim). [...] eu senti medo de morrer, e de minha filha também [...] (Flamboyant). [...] eu sei que posso dar um eclampsi, eu posso morrer, posso... perder meu filho [...] (Lírio). [...] porque quando eu soube que eu tava com pré-eclampsi, aí eu fiquei muito triste, porque tenho medo de perder meu nenê [...] (Tulipa). [...] nossa, é terrível, você ficar imaginando que vai perder a criança... inda mais eu que tá de nove, né,... nove meses e três dias... nossa... eu fico morrendo de medo de perder [...] (Violeta). Boemer (1989), citando Heidegger, refere que é possível que se deixe de tratar a morte como oposição à vida, mas como parte inalienável da temporalidade de cada um de nós enquanto seres que somos, destinados à morte. E, porque a morte não nos permite fazer „projetos‟ e não possui a lógica do „deve ser‟, pensamos se é „justo uma pessoa morrer tão jovem‟. A morte do bebê provoca a incerteza, a não aceitação, a incompreensão, porque a criança que acabou de “nascer e já está indo de novo”. Fica a impressão de que ao velho é permitido morrer, que se aceita mais sua morte, porque talvez tenha realizado seus projetos. À criança, ao jovem, paira a injustiça de sua morte. É como se a morte tivesse que ser colocada somente no fim de uma existência. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 26 Entretanto, continua Boemer (1989), a morte não é o fim da vida humana no sentido de ser o fim de um caminho que pode ser alcançado ao término de um trajeto. Para Heidegger (1998), a existência não é dada ao homem como caminho bem arranjado no final do qual está a morte; mas a morte, como possibilidade, atravessa a sua existência e, a qualquer momento, pode surpreendê-lo. Desde seu nascimento, o homem „já‟ é suficientemente velho para morrer. Ressalta-se, portanto, que a morte para a mulher gerando vida é inconcebível para nós. Na ocorrência deste fato, são duas vidas que se vão e deixam marcas nos familiares e nos profissionais. A morte é o fim, como a vida é o começo de tudo e, para a gestante que está se preparando para dar vida a alguém, a morte do ser que lhe é mais caro, a privação de sua presença física, o sofrimento infindável que brota do „nunca mais‟ pode gerar angústia, tristeza e preocupação, como disseram algumas gestantes: [...] mas dá uma tristeza muito grande, dá muito medo na gente, principalmente com o nenê (Jasmim). [...] bom, é passá o tempo todo preocupada, com medo de perder o meu bebê, com medo de perder a minha vida (Orquídea). [...] mas é uma gravidez que traz muito problema, né... eu passo o tempo todo preocupada com medo de perder minha vida... perder... é ... meu filho (Orquídea). A preocupação, na concepção de Boff (1999), só surge quando a vida de alguém tem importância para nós. A personificação do filho, vivida a partir dos movimentos fetais, indica para a mãe que a vida pulsa dentro dela – a de um filho –, e ele se torna importante. O fato de pensar em perdê-lo gera angústia e sofrimento. Os sentimentos são a maneira como nos percebemos. São nossas reações ao mundo que nos circunda. São a maneira pela qual percebemos que estamos vivos. Viscott (1982) nos fala que sem sentimentos não há existência, não há vida. Nossos sentimentos resumem o que experimentamos e nos dizem se o que estamos experimentando é agradável, doloroso, ameaçador, triste ou alegre. Quando nos deparamos com um súbito temor, com uma possibilidade de perda de alguma coisa, de alguém, ou de nossa vida, nós entramos em contato com o nosso sentimento. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 27 Jaspers (1993), esclarece que o temor da agonia é temor de sofrimento físico. A agonia não se confunde com a morte. Todo sofrimento é experimentado por alguém que está vivo, e a morte escapa à experiência. O processo natural da agonia pode desenrolar-se sem sofrimento, pois há mortes instantâneas. Inteiramente diversa é a agonia diante da morte quando esta é concebida como estado que sucede à desaparição da vida. Todas as concepções acerca do estar morto são desprovidas de base. Do mais além não há qualquer experiência, nem se recebeu qualquer sinal. Jamais alguém retornou de entre os mortos. Daí decorre a idéia de que estar morto é não ser, de que a morte é o nada (JASPERS, 1993, p. 128). Sabemos que a nossa morte é certa. Por causa das características precedentes, ela parece assustadora e suscita horror, aversão e angústia no homem. Da morte, como estado, nada sabemos, mas sabemos que temos que viver aleatória e perigosamente, segundo as exigências mais altas que brotem de cada situação enfrentada. Ser uma gestante de alto risco é esse viver aleatória e perigosamente, já que a possibilidade de morrer a qualquer hora ou perder o seu filho foram os parâmetros utilizados por elas para avaliarem a sua vivência nesta gestação, como podemos sentir nas falas: [...] eu fiquei com medo de perder o nenê, porque eu morro de vontade de ter uma filha, quanto mais mulher, aí, eu fiquei com medo de perder ela [...] (Flamboyant). [...] eu só fiquei com medo de morrer, né, e deixar ela sozinha (Jasmim). [...] e são tantos riscos que fico até confusa, confunde a cabeça, dá um pouco de medo às vezes (Lírio). [...] ah! não sei não, acho que senti foi medo. Medo pra mim mesmo e pro nenê também. Medo sem explicação (Margarida). Medo e angústia, confiança e incerteza, sentir-se confusa e, ao mesmo tempo, ter clareza da facticidade vivida circundam o dia-a-dia dessas mulheres. O medo antropológico da morte que acompanha o ser humano desde os seus primórdios lança seus tentáculos sobre todos os setores do existir humano e encontra ancoragem num Ser supremo-Deus. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 28 As falas abaixo mostram a esperança e a confiança em Deus, destacando, assim, sua crença religiosa, que serve, muitas vezes, de apoio em sua atual gestação. [...] que Deus me dê forças e a todas que tem alto risco, e que eu não tenha tanto medo, vai dar certo (Lírio). [...] tenho medo... tenho e não tenho , porque a gente confia no Senhor. Em Deus. Medo de...alguma coisa acontecer... sei lá...vim a falecer, qualquer coisa (Rosa). [...] Se Deus quiser vai dar tudo certo [...] (Rosa). Não podemos perder de vista a questão da necessidade espiritual. A crença religiosa pode, muitas vezes, contribuir para o enfrentamento das dificuldades advindas da condição de risco gravídico. O profissional de saúde precisa estar atento quanto às necessidades religiosas da paciente, pois sabe-se que muitas pessoas, quando ficam doentes, voltam-se para a religião em busca de conforto. 4.5 CUIDANDO E SENDO CUIDADA A gravidez e a maternidade são acontecimentos biográficos de enorme importância e têm repercussões potencialmente transformadoras sobre a vida da mulher, do casal e da rede familiar e social. Cada pessoa faz um percurso vital como ser sociocultural e histórico, a partir do que realiza uma experiência existencial singular. A gravidez é, para a mulher, esta experiência singular. Em razão das grandes transformações físicas e psicológicas que acompanham a gestação, este período é muito vulnerável ao surgimento de diversos sentimentos de natureza oposta, às vezes contraditória. Nesse sentido, a gestação, ao mesmo tempo que atende as necessidades primitivas ligadas ao desejo de ser mãe, está sujeita a uma gama variada de medos, temores e inseguranças que, interligados a fatores externos, podem torná-la difícil, como se está acompanhando nas falas das gestantes. O sentir-se tranqüila, aliviada e segura passa a incorporar a idéia de que tudo agora vai fluir bem. Como se tornou necessária a reclusão para um ambiente em que terá a existência controlada e perscrutada, a hospitalização resgata a „normalidade‟ da vida da gestante e de seu bebê. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 29 4.5.1 O bem estar do nenê Após ser internada abruptamente, sem orientações adequadas sobre o seu real estado de saúde, a gestante fica preocupada e com medo da nova situação a ser vivida e enfrentada. Depois de se submeter aos vários tipos de exames, como a ultrassonografia, eco-dopplerfluxometria, cardiotocografia, amniocentese, sangue, urina, enfim, depois de ter sido avaliada por uma junta médica, cuidada e orientada por enfermeiras e esclarecida sobre os resultados de seus exames, a gestante de alto risco finalmente se tranqüiliza, como podemos sentir em suas falas: [...] mas agora tô mais tranqüila, devido meu filho, porque sei que meu filho tá bem, Graças a Deus (Acácia). [...] agora, eu já estou melhor. O médico passou aqui e disse que vai tirar o nenê. Estou só com 36 semanas [...] (Margarida). [...] tem que procurar ficar calma, né, e vai dar tudo certo (Begônia). [...] meu filho, por ser prematuro, ele tem menos chances de sobreviver (Lírio). O aparato tecnológico, diagnóstico e terapêutico, embora exerça uma forte impressão no imaginário do ser humano, não o faz por si só, mas acompanha os que dele se utilizam: o médico, em primeiro lugar, e a equipe de enfermagem. Dessa forma, após todos os exames sofisticados realizados e sob orientações claras, as gestantes quedam tranqüilas. Esse estado de tranqüilidade é oriundo da personificação do bebê que mexe, que está bem e vai nascer, mesmo que „tirado‟. Percebe-se, ainda, que as gestantes que expressavam temor pela vida de seus filhos e pela sua própria, mesmo estando mais tranqüilas, demonstraram um comportamento ambivalente diante da situação vivenciada, ora acreditando que tudo daria certo, ora perdendo as esperanças. Sabiam que, quanto mais tempo seu filho ficasse em seu ventre, mais chances de sobrevivência ele teria, menor possibilidade de comprometimentos. 4.5.2 O Cuidar dos Profissionais de Saúde A equipe de saúde procura dar à gestante de alto risco uma solução para as contradições da existência, ou seja, se o momento apresenta uma situação que requer tomada de decisão imediata, tudo e todos trabalham para o equacionamento deste fazer. Caso contrário, o fazer é postergado para outro momento. Contudo, a VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 30 gestante de alto risco tem um tempo vivido que não posterga decisões... a equipe de saúde, sobretudo os médicos e as enfermeiras, têm consciência de que a lógica da espera não funciona.Além do mais, o cuidado realizado, além de eficiente para promover/recuperar a saúde e o alívio da dor, deve ser constitutivo da pessoa como algo intrínseco e não exterior a ela. Waldow (2001) enfatiza que as ações da cuidadora deverão convergir para que o cuidado produza crescimento e transformações e que envolva verdadeiramente uma ação interativa. Olivieri (1985) diz que o profissional de saúde precisa compreender que o Ser-doente deseja sair da situação que vivencia e, para isto, espera muito da ação profissional.Aqui, ganham ressonância os dizeres de Boff (1999), ao afirmar que o cuidado é mais do que um simples ato, é uma atitude que, do ponto de vista existencial, integra a constituição ontológica do ser. Os próximos enunciados desvendaram o cuidado que médicos e enfermeiras dispensaram às gestantes: [...] Fui muito bem assistida com os médicos e as enfermeiras... e minha sorte disso tudo é que não rebentou a bolsa, não tive sangramento, não tive nada. E ela mexeu, mexe muito mesmo [...] (Jasmim). [...] Fui muito bem atendida, mas dá uma tristeza muito grande... depois que fiz a ultrassom, que vi ela batendo, o coraçãozinho mexendo, aí eu já... parece que a ansiedade, aquele nervoso passou [...] (Jasmim). [...] ela me deixou mais despreocupada, mas, mesmo assim, a gente fica preocupada, com medo de perder [...] (Orquídea). [...] Estou fazendo os exames, tô mais ou menos, não tô bem... assim... sob controle não, mas eu tô fazendo... tô caminhando [...] (Rosa). [...] e, às vezes, ele nascer com baixo peso... aí, a gente fica triste por causa disso... os médicos tá acompanhando, né?... se Deus quiser, vai dar tudo certo [...] (Tulipa). Na medida em que o médico e a enfermeira se colocam como co-presença, compartilham do viver da gestante de alto risco, compreendendo seu ser, ela consegue visualizar esse cuidado e o complementa, relatando situações que também desvelam seu compartilhar com o filho. A equipe de saúde sendo-com a VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 31 gestante, e esta com o bebê, permite-lhe sentir-se segura e confiante de que tudo vai dar certo. Essa maneira de ser com o outro no cuidado é denominada de solicitude. Para Heidegger (1998), a solicitude ou maneira de cuidar do outro, só se faz possível mediante a relação envolvente e significante, cujos ingredientes básicos são a consideração e a paciência com o outro. Destaca-se, ainda, que o cuidar dos doentes obriga a procurar a natureza constitutiva desse Ser que se situa, aí, num agora não escolhido da sua vida. “O doente é um Ser consciente, se interroga e, através da reflexão, transcende e pode chegar à consciência de si mesmo” (OLIVIERI, 1985, p. 29). Nesse espaço de cuidar, é imprescindível que o encontro relacional, intersubjetivo, pautado no diálogo franco, educativo e intencional seja estabelecido. Talento (1993), citando Watson (1993), acredita que o foco principal em enfermagem está nos fatores de cuidado, que devem ser vistos por uma perspectiva humanista, combinada com uma base de conhecimentos científicos. O cuidado é a essência da enfermagem e exige sensibilidade entre a enfermeira e a pessoa; a enfermeira é co-participante com a pessoa. A finalidade do cuidar em enfermagem, para Waldow (2001), é, prioritariamente, aliviar o sofrimento humano, manter a dignidade e facilitar meios para manejar com as crises e com as experiências do viver e do morrer. O processo do cuidar envolve crescimento, é intencional e seus objetivos são vários, dependendo do momento, da situação e da experiência. Dessa forma, o cuidado requer conhecimento do outro ser. O profissional de enfermagem deve ser capaz de entender as necessidades do outro e de respondêlas de forma que satisfaça a sua inquietação. Talento (1993) diz que Watson encara o cuidado como o atributo mais valioso que a enfermagem tem a oferecer para a humanidade; ainda assim, o cuidado, com o passar do tempo, recebeu menor ênfase do que outros aspectos da prática da enfermagem. Considerar a gestante é relacionar-se com ela, escutando-a, oferecendo-lhe condições para que se cuide e cuide do seu filho. Nesse sentido, a enfermeira, em especial, poderá ser-com a mulher, realizando com ética e estética sua função de VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 32 ser cuidador. Ter e ser paciente com a gestante é esperar, ponderar e aguardar as intercorrências e necessidades que poderão acontecer dentro do previsível ou imprevisível, colocando-a cônscia de tudo ao redor e respeitando-a como pessoa cidadã. A arte da enfermagem inclui a disponibilidade em receber o outro ser, em compreender sua experiência e em expressar isso, permitindo que o outro também expresse seus sentimentos. O cuidado pode ser considerado como expressão artística da enfermagem (WALDOW, 2001). 4.6 SER DIFERENTE Heidegger (1981), em suas análises da mundaneidade do mundo, manteve constantemente em perspectiva o fenômeno inteiro do ser-no-mundo. O homem como ser-no-mundo tem acesso ao significado do estar-sendo, e este é um ponto muito importante. O ser-aí (Dasein) é um ente que, em cada caso, sou eu mesmo; seu ser é, em cada caso, meu, isto é, cada ser humano tem suas características próprias.O mundo está doente, à morte, porque esqueceu o Ser, nos diz Olivieri (1985). É oportuno ressaltar que na época em que vivemos, de globalização, tecnologias cada vez mais sofisticadas, Internet, celulares, clonagens, a pessoa humana não é reverenciada como merece. Nesse sentido, o paradigma da modernidade vem fundamentando o ser e o fazer, determinando uma atitude do homem em relação ao mundo que o aproxima de certos valores e o afasta de outros. Isso pode significar „humanizar‟ ou „coisificar‟ o homem.No final do século passado e início deste, criou-se uma tendência geral em focalizar a doença desviando, assim, o pensamento do profissional de outras necessidades reais do doente que, na verdade, precisa ser encarado no seu todo, como um ser humano em uma situação diferente. Olivieri (1985) descreve que o “Ser-doente”, não é um Ser anormal; é um Ser que vivencia a doença, é um Ser diferente que, na maioria das vezes, não quer ser doente, não quer ser como está. É um Ser que se vê tolhido de sua liberdade e de seu autocontrole.Torna-se urgente sentir „o mundo do doente‟, o seu „tempo vivido‟, o Ser.O Ser tem também a característica de poder-se abrir para novos horizontes, como podemos sentir na fala desta gestante: VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 33 [...] É ser diferente. Um pouco diferente e especial ao mesmo tempo, porque eu acho que, de uma forma ou de outra, eu contribuo para que seja descoberta novas fórmulas para tratamento de uma gravidez de alto risco (Lírio). [...] mas ao mesmo tempo eu me sinto de uma forma ou de outra especial, porque eu contribuo de alguma forma... então eu acho que... uma gravidez, ser uma grávida de alto risco é ser diferente [...] (Lírio). A gestante, ao falar que ser gestante de alto risco é “ser diferente”, dá sentido à sua existência, ou seja, percebe-se sendo-no-mundo, recebendo atenção e cuidados especiais dos profissionais. Sente-se especial na medida em que contribui para estudos possibilitando a descoberta de novos tratamentos para a gestante de alto risco. Percebe-se sendo-com ao desejar que seu estado de saúde sirva para que, no futuro, as gestantes não passem por esse processo de doença pelo qual está passando. É por saber que sou diferente que eu apreendo o meu Ser e sei que sou eu. O saber vivido, sentido, que corresponde ao nosso “tempo vivido”, as nossas alegrias, angústias e sentimentos, única realidade que vivencia o nosso “Eu”, é experienciado como absolutamente verdadeiro (OLIVIERI, 1985). Pode-se atestar que essas unidades de significado idiossincrásicas encontram ressonância nos dizeres de Waldow e Lopes (1995, p. 22): O cuidar/cuidado é um modo de ser, uma atividade humana mútua de ajuda que promove crescimento e auto-realização e uma dimensão ética e moral. Também é uma forma de conhecer, ser e perceber. Envolve intuição, sensibilidade, desejo de paz e amor. É importante considerar que Lírio, intuitivamente, com muita sensibilidade, reconhece-se como um sujeito no mundo, coexistindo, cuidando e aberta aos outros... é “diferente” e “especial”, única, singular e plural. Da sua facticidade atual, pode originar algo que beneficie outras mulheres para que vivam com menos angústia uma gravidez de alto risco. É seu „desejo de paz e amor‟. Na sua singularidade, corrobora o pensar heideggeriano referente ao sercom-os-outros, que não significa o encontro de vários “eus” isolados. Os “outros”, para Heidegger (1998), não quer dizer o restante dos homens para além de mim. Os outros são aqueles dos quais, na maior parte das vezes, não nos distinguimos nós mesmos, entre os quais também nos encontramos. Ser-com-o-outro é condição ontológica do humano. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 34 Para Critelli (1996, p. 78), “[...] os outros não são aqueles com quem o indivíduo convive, nem aqueles que o completam; os outros „constituem-no‟. Sem o outro, o indivíduo não é [...]”.Pensando nas „outras‟ gestantes, Lírio coloca-se para além de si mesma e pensa científica e academicamente. Sendo de alto risco, não se perde na massificação das normas e rotinas, do cuidado predeterminado e padronizado para o pré-natal. Sendo „diferente‟ requisita um „olhar‟ e um „fazer‟ também diferentes. Essa reflexão gestada a partir do discurso de Lírio indica para que os profissionais de saúde, em especial os enfermeiros, sejam seres de cuidado autêntico, vendo a gestante como única, especial e diferente. O FENÔMENO DESVELADO: UM NOVO OLHAR Ao iniciar este trabalho, o objetivo era o de compreender os sentimentos vividos pelas gestantes de alto risco internadas na maternidade do Hospital Materno Infantil de Goiânia, as quais, a meu ver, chegavam ali assustadas, ansiosas, preocupadas e trazendo muitas dúvidas sobre o seu estado de saúde e o do seu bebê. Angustiava-me perceber que, na maioria das vezes, o enfoque dado ao tratamento e ao cuidado considerava a doença e não a pessoa doente. Seu sentir e seu pensar não eram considerados. Os profissionais de saúde preocupavam-se com exames a serem realizados, medicamentos a serem administrados, enfim, em cumprir rigorosamente às rotinas hospitalares. Em geral, quando se fala em cuidado, associa-se a idéia de execução de procedimentos em enfermagem, ou seja, técnicas e procedimentos nos pacientes. Considerando o cuidado como uma interação interpessoal e uma característica humana, devemos sempre ter presentes o respeito e o afeto para com a gestante internada em uma situação de alto risco. No meu estudo, muito do que encontrei já era esperado, mas algumas falas surpreenderam-me. No decorrer de minha experiência profissional, no dia-a-dia de uma enfermaria, em uma simples visita ao leito, numa conversa sem muito aprofundamento, escutava as dúvidas e os temores que acompanhavam as gestantes, mas não os vivia em plenitude. A compreensão do fenômeno só pôde se dar quando parei para ouvir as gestantes, e, em seguida, trabalhei, cuidadosamente, os seus discursos, conhecendo e aprofundando no mundo vivido de cada uma. VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 35 A decisão de compreender o „vivido‟ da gestante de alto risco a partir do sujeito que o vivencia deu-se pelo fato de não se ter encontrado na literatura específica de enfermagem trabalhos que abordassem este assunto. Ao realizar a revisão, encontrei um grande número de trabalhos sobre gestação de alto risco, pré-eclampsia e eclampsia, mas a abordagem sempre era biologicista, curativa, com estudos demonstrando efeitos de novas medicações e realização de exames com aparelhagem de última geração. Eram, a maioria, trabalhos médicos preocupados com o tratamento da patologia em si, pesquisas importantíssimas para as ciências médicas, mas sempre deixando de lado a „existência‟ do ser humano, do „ser-no-mundo‟, ou, segundo Heidegger (1981), “sendo-no-mundo”, que corresponde ao modo básico do ser humano existir, expondo detalhadamente seu significado. “Sendo-no-mundo” diz respeito às várias maneiras que o existir humano está possibilitado a viver. “Ser-no-mundo” é as múltiplas maneiras que o homem vive e pode viver, os vários modos como ele se relaciona e atua com os entes que encontra e a ele se apresentam (HEIDEGGER, 1981). “Ser-com” ou “sendo-com” é um constitutivo fundamental do “ser-aí” do existir humano. “Com”, que tem origem no latim cum e no grego syn, significa junto, algo ou alguém na presença do outro. Sem essa característica fundamental e genuína do ser humano, maneiras características de se relacionar e de viver, a vida humana não teria sentido para nós (HEIDEGGER, 1981).Trago à baila novamente este referencial teórico por acreditar que ele possa suscitar, nos leitores, como aconteceu comigo, reflexões que os levem a compreender, radicalmente, este ser-com-o-outro de forma própria e autêntica. Urge compreender que o mundo da gestante de alto risco se manifesta na interseção das experiências vividas e compartilhadas e que a subjetividade e intersubjetividade, em qualquer processo, são inseparáveis. Tentando desvelar o fenômeno gestação de alto risco, debrucei-me exaustivamente nos discursos das gestantes, deixando ver por si a riqueza destes conteúdos, que nos falam da preocupação de ser uma gestante de alto risco, que um dia está com a gravidez normal e no outro já sendo internada para ser tratada de uma patologia que, nem de longe, era esperada por ela; que chega ao hospital para uma simples consulta ou para submeter-se a algum exame, e fica internada, VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 36 deixando a família – algumas deixam o filho ainda pequeno –, sob os cuidados de terceiros, pois não tiveram tempo de se programar para a internação. Percebi, nas falas das gestantes, seus sentimentos em relação à sua corporeidade, pois, de repente vêem seu corpo ir edemaciando, vão ficando com as mãos e pés dormentes, sentem a pressão arterial aumentar, problemas nas vistas e dor de cabeça. Ficam apreensivas com o desenrolar de seu tratamento, sentem medo de morrer e de perder seu filho, ou têm a preocupação em morrer e deixar o filho para outros cuidarem, e ele ficar “jogado”, “judiado”. Algumas entendem a prematuridade, o risco que o filho corre em ser retirado de seu ventre agora, pois “está só com 36 semanas”. Outras choram diante dessa perspectiva, mas se tranqüilizam quando vê o “coraçãozinho mexendo”, quando se sentem “cuidadas pela equipe médica e de enfermagem”. Este estudo mostrou-me que cuidar das gestantes de alto risco é escutá-las, ter interesse e desvelo pelo seu „momento vivido‟. É tê-las como um ser humano na sua facticidade como doente que necessita de cuidado pessoal e especial. Assim, para compreender o „vivido‟ da gestante de alto risco, é preciso compreender que ser-no-mundo é ser-com-os-outros e isso inclui a característica fundamental de como me relaciono, atuo, sinto, penso e vivo com meus semelhantes, o ser humano.Emerge, deste estudo, o repensar a competência profissional, pois sendo docente, minha atuação não pode jamais ser a mesma acerca da formação acadêmica em seu todo. Urge, portanto, superar o paradigma da modernidade para o paradigma do cuidado. Urge transcender as dicotomias ensino técnico/ensino humanizado, cumprir tarefas/cuidar, estar com o outro/ser-com-o-outro. A formação acadêmica do profissional enfermeiro deve ter suas bases sustentadas na totalidade do ser humano. É preciso criar condições para que os alunos caminhem para além do fazer normatizado, factual. Que possam caminhar para o fazer ontológico. Fechando esta etapa deste estudo, comungo com Lírio e reafirmo que há necessidade de se continuar pesquisando e estudando outras facetas do fenômeno „gravidez de alto risco‟ porque, realmente, o conhecimento é inacabado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VI CONGRESSO BRASILEIRO DE ENFERMAGEM OBSTÉTRICA E NEONATAL Qualificação da Atenção e dos Recursos Humanos de Enfermagem em Saúde da Mulher e do Recém-nascido 24 à 26 de junho de 2009 Teresina-PI 37 ASSIS, Isolina de Lourdes Rios. Síndromes hipertensivas da gravidez em Goiânia: um desafio para o pré-natal. 2001. 41f. Monografia (Curso de Especialização em Obstetrícia) – Faculdade de Enfermagem, Universidade Federal de Goiás. BLAKISTON. Dicionário médico. 2. ed. São Paulo: Organização Andrei Editora, 1990 1169 p. BOEMER, Magali Roseira. A morte e o morrer. São Paulo: Cortez, 1989. 135 p. BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 1999. 200 p. BRASIL. Gestação de Alto Risco. 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