Relato de Experiência: elaboração e implantação do Manual de Diluição e
Administração de Medicamentos Injetáveis em Pediatria e UTI neonatal
Hospital Materno Infantil Santa Catarina – Criciúma
Farmacêutica Maria Helena Peruch
1. Objetivo geral
Padronizar a diluição de medicamentos injetáveis no Hospital Materno Infantil Santa
Catarina (HMISC - Criciúma- SC) e garantir a segurança dos pacientes durante a
administração.
2. Objetivos específicos
- Colaborar com o trabalho da Equipe de Enfermagem através da elaboração de um
instrumento prático de consulta para diluição de medicamentos para pediatria e UTI
neonatal;
- Reduzir significativamente os custos da Instituição relacionados com a compra de
medicamentos injetáveis;
- Diminuir o desperdício de medicamentos em condições de serem reutilizados,
através da padronização da estabilidade de cada medicamento;
- Assegurar a segurança do paciente pediátrico através da fixação de concentrações
máximas e tempo para administração de cada medicamento.
- Padronizar todas as etapas do trabalho da Equipe de Enfermagem, no tocante à
administração de medicamentos injetáveis;
3. Problemática e Justificativas
Os antibióticos acondicionados em frascos-ampola eram utilizados no HMISC
apenas para uma dose e, em seguida, descartados. O desperdício gerado com esta
prática fez da elaboração do Manual de Diluição e Administração de
Medicamentos Injetáveis em Pediatria e UTI neonatal uma questão emergencial
para a instituição. Ainda com relação ao aspecto econômico, o reaproveitamento de
medicamentos acondicionados em frascos multidoses, torna-se uma prática comum e
desejável para Hospitais Pediátricos já que a dose utilizada para estes pacientes é
muito pequena em relação às apresentações disponíveis dos medicamentos.
A concentração máxima para administração de cada fármaco também não era
estabelecida, e este é um critério fundamental na administração de injetáveis para
pacientes pediátricos e neonatais. Este aspecto influencia diretamente a segurança do
paciente e a qualidade do serviço prestado, uma vez que soluções muito concentradas
podem provocar flebites e perdas de acessos venosos, expondo a criança a um maior
número de injeções, necessidade de novos acessos venosos e maior risco de infecção
hospitalar.
Ademais, a possibilidade de padronizar todas as etapas da administração de
injetáveis por todas as equipes de enfermagem dos diferentes turnos de trabalho,
representa uma segurança tanto para o paciente quanto para os próprios profissionais
da assistência, ainda mais considerando a rotatividade observada nas Instituições de
Saúde.
4. Descrição da Experiência
A farmácia iniciou uma revisão na literatura, buscando informações seguras de
todos os medicamentos injetáveis padronizados no HMISC. Com a colaboração dos
Enfermeiros da UTI neonatal, Pediatria e Pronto Socorro e a importante experiência
prática destes profissionais consultados, pode-se fixar padrões adaptados à
necessidade de nossos pacientes, dentro do preconizado nas fontes consultadas.
Assim, o volume e o líquido usado para diluição e rediluição, a concentração máxima
de administração, a estabilidade e incompatibilidades físico-químicas entre os
fármacos foram estabelecidas.
A partir deste consenso foi elaborado o Manual de Diluição e Administração
de Medicamentos Injetáveis em Pediatria e UTI neonatal na forma de um
documento prático e de fácil consulta para ser usado em toda aplicação de injetável na
Instituição.
Após esta fase de confecção, o Manual foi posto em consulta para que todos
pudessem participar ativamente do processo de elaboração e para que as dúvidas
geradas fossem sanadas.
Antes da implantação do novo processo de trabalho gerado com a reutilização
de medicamentos, foram adotadas medidas educativas direcionadas à equipe de
enfermagem. Os profissionais receberam treinamentos promovidos pela coordenação
de enfermagem e da farmácia. Nestas capacitações, além da apresentação do Manual
e da realização de cálculos de diluição e rediluição, foram expostos os fatores que
influenciam a contaminação dos frascos- ampola como, por exemplo, características
da agulha ou outro dispositivo de punção usado para remover a dose, número de
perfurações na borracha e a técnica asséptica utilizada profissional de enfermagem.
A equipe pode se conscientizar de que a reutilização de medicamentos seria uma
prática legal e viável, já que as diretrizes do Centers for Disease Control and
Prevention – CDC para prevenção de infecções relacionadas a acesso vascular
informam que o risco extrínseco de contaminação de frascos dose múltipla é
mínimo, desde que os procedimentos corretos sejam adotados.
Assim, para garantir a estabilidade fisico-química e microbiológica e o
reaproveitamento de medicamentos conforme preconizado pelo Manual, acataram-se
mudanças importantes como, por exemplo, a utilização exclusiva de agulhas de calibre
0,8 mm para a perfuração da tampa de borracha dos frasco-ampolas e o número
máximo
de
quatro
perfurações
na
borracha
para
retirada
das
doses.
Após o período de adaptação, o manual foi amplamente aceito pela equipe de
enfermagem que o utiliza diariamente na rotina de administração de medicamentos
injetáveis.
5. Resultados
Observou-se muito nitidamente a redução de gastos com desperdício de
medicamentos. Um exemplo simples pode dar a ideia da economia gerada: o uso de
vancomicina de 8/8 horas para tratamento de sepse em um paciente da UTI neonatal,
com previsão de 14 dias de utilização.
Antes da utilização do manual eram usados 42 frascos do medicamento para
este tratamento, e após o manual, com o reaproveitamento dos medicamentos dentro
do período de estabilidade adotado e seguindo o número máximo de quatro
perfurações por frasco, são utilizados 14 frascos de vancomicina, o que gera uma
economia de 66,67% para este tratamento.
Os técnicos de enfermagem, profissionais envolvidos diretamente com a
administração de medicamentos, acolheram a nova rotina e foram fortemente
influenciados pelas mudanças nos processos de trabalho propostas pelo manual. Por
exemplo, após a reconstituição dos medicamentos, eles passaram a ser identificados
com etiqueta padronizada desenvolvida pela farmácia, a qual continha todas as
informações necessárias para que o frasco fosse reutilizado com segurança pela
próxima equipe de assistência.
Figuras 1 e 2: Acondicionamento de medicamentos em frasco-ampola na geladeira da
Pediatria: após reconstituição e retirada da primeira dose, os frascos são identificados
com etiqueta padronizada pela farmácia e guardados pelo período de estabilidade
constante no manual conforme condições preconizadas.
Para além das vantagens econômicas, um outro importante resultado
observado foi a padronização da concentração máxima de administração de cada
medicamento, o que é um benefício tanto para a Instituição quanto para o paciente
pediátrico.
Por fim, a nova prática aumenta a segurança durante a administração do
medicamento parenteral, uma vez que as incompatibilidades podem ser evitadas.
Apesar de se evitar a administração de medicamentos em horários próximos, isso nem
sempre é possível na prática, considerando a realidade da poli medicação dos
pacientes da UTI e da dificuldade de acessos venosos nestes pacientes.
6. Desafios e perspectivas
Elaboração de um manual em formato menor, um “manual de bolso” para a
consulta individual dos técnicos de enfermagem, já que toda a administração de
medicamentos parenterais na instituição segue o preconizado pelo documento.
Um grande desafio será a informatização e passagem do Manual de Diluição
para o sistema usado pelo Hospital. O objetivo é que as informações de diluição,
rediluição e administração de cada fármaco sejam impressas automaticamente na
prescrição de cada paciente, calculadas proporcionalmente em relação à dose
prescrita pelo médico e à concentração máxima de cada medicamento. Para isso será
indispensável um trabalho conjunto da farmácia com o setor de Tecnologia da
Informação, o qual precisa ser acessível e receptivo às necessidades da Instituição.
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