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ANÁLISE DO PERFIL IMUNOLÓGICO E VIRAL DAS GESTANTES HIV/AIDS
ATENDIDAS NO HOSPITAL MATERNO INFANTIL E NO HOSPITAL ANUAR
AUAD EM GOIÂNIA-GOIÁS, ENTRE OS ANOS DE 2003 E 2005.
Raffaella Silva Pinheiro1,4; Renata Félix De Moura2,4 & Keila Correia de Alcântara3,4.
1.
Bolsista PBIC/UEG
2.
Voluntária PVIC/UEG
3.
Orientadora e pesquisadora
4.
Curso de Farmácia – Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas - UEG
RESUMO
Muitas mulheres não têm acesso ao pré- natal e não são testadas para o HIV durante a
gestação. Como conseqüência, muitas crianças são infectadas pelo HIV através da
transmissão vertical. No estudo objetivou-se: avaliar os perfis imunológico e viral das
gestantes HIV/aids atendidas na rede pública de saúde de Goiânia entre 2003 e 2005.
Realizou-se uma análise retrospectiva dos prontuários médicos das gestantes inclusas no
estudo. Entre as 157 gestantes HIV/aids analisadas, a via sexual foi a categoria de exposição
predominante (40%) e a mediana de idade foi de 25 anos. Até o momento do parto,
aproximadamente 50% eram assintomáticas e fizeram o diagnóstico de infecção por HIV no
pré-natal e 91,8% fez o uso de terapia anti-retroviral. A mediana da carga viral foi de 1.639
cópias/mL e dos níveis de linfócitos TCD4 em torno de 400 céls./mL (p>0,05). Mais de 805
das gestantes receberam profilaxia para transmissão vertical do HIV. O diagnóstico da
infecção por HIV no início da gestação assegurou à maioria das gestantes o acesso à
profilaxia para transmissão vertical, o que ajudou a manter boas conc entrações de LT CD4 + e
carga viral baixa, contribuindo assim, para minimizar os riscos de transmissão vertical
oferecidos por estes fatores maternos.
Palavras-chave: HIV; gestantes; imunologia; carga viral.
INTRODUÇÃO
Atualmente, quase metade da população infectada pelo HIV é composta por mulheres
(UNAIDS, 2005).
A expansão dos casos de aids entre mulheres tem sido observada,
principalmente, onde o contato heterossexual é a principal via de transmissão. O processo de
heterossexualização da epidemia aumenta a prevalência de casos de aids entre mulheres em
idade fértil principalmente, aquelas de baixo nível sócio-econômico. As estimativas são de
que, aproximadamente, 180.000 mulheres em idade fértil estão infectadas (BRASIL, 2004 a).
No Brasil desde 1996, o Ministério da Saúde recomenda e disponibiliza a terapia antiretroviral tanto às gestantes infectadas como aos recém-nascidos expostos ao HIV objetivando
reduzir a carga viral materna e conseqüentemente, menor exposição do feto ao vírus
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(BRASIL, 2004 b). Os procedimentos no momento do parto e a quimioprofilaxia do recémnascido são recomendados conforme o esquema preconizado pelo PACTG076 (Connor et al.,
1994).
O conhecimento mais detalhado sobre o perfil imunológico e viral das gestantes
HIV/aids atendidas na rede pública de saúde regional e sobre a implementação das normas
preconizadas pelo Ministério da Saúde para prevenção da transmissão vertical do HIV às
gestantes HIV/aids se faz necessário, para que medidas possam ser tomadas visando garantir a
um número cada vez maior de mulheres o acesso ao pré- natal e tratamento adequado para
evitar a infecção perinatal pelo HIV.
MATERIAL E MÉTODOS
O grupo populacional selecionado para estudo foram gestantes HIV/aids e seus recémnascidos atendidos nos hospitais Materno Infantil e Anuar Auad entre os anos de 2003 e 2005.
Os prontuários dos pacientes foram selecionados por ordem cronológica a partir de janeiro de
2003.
Os dados coletados foram analisados estatisticamente através do programa Epi Info
versão 6.04 onde foram realizadas estatísticas descritivas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A precocidade de início do relacionamento sexual entre as mulheres é uma realidade já
confirmada pelos dados epidemiológicos brasileiros (BRASIL, 2004 c). No presente estudo,
mais de 60% das 157 gestantes HIV/aids analisadas tinham idade inferior a 27 anos. Segundo
pesquisa de Szwarcwald et al (2004), o nível de conhecimento das formas de transmissão do
HIV entre os mais jovens (15-24 anos) é muito menor quando comparado com pessoas com
mais de 25 anos de idade.
No Brasil, a infecção por HIV ocorre principalmente em mulheres maiores de 13 anos,
sendo o contato sexual uma das principais formas de transmissão. No presente estudo foi
verificado que cerca de 50% das gestantes foram infectadas sexualmente pelo vírus e mais de
30% relataram desconhecer a situação do parceiro sexual. Nos relacionamentos
heterossexuais, as mulheres em sua maioria, tendem a manter relações exclusivas com seus
parceiros, porém ao acreditarem na exclusividade como parceiras sexuais estas não vêem nos
seus parceiros um risco para infecção pelo HIV (PRAÇA; LATORRE, 2003).
O diagnóstico da infecção por HIV no início da gestação assegura um maior controle
da infecção materna e, consequentemente, os melhores resultados de profilaxia de transmissão
vertical desse vírus, considerando que em cerca de 65% dos casos de gestantes HIV, a
transmissão do vírus ocorre no período próximo ao parto ou durante o mesmo. Por esses
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motivos, o teste anti-HIV deve ser oferecido a todas as gestantes, independente de sua
situação de risco para HIV, tão logo ela inicie seu pré-natal (CAVALCANTE et al, 2004). O
presente estudo constatou uma cobertura de pré-natal em 94,9% das gestantes HIV/aids
(Tabela 1).
A idade gestacional de início de uso dos medicamentos variou de 2 a 38 semanas e,
dentre as pacientes analisadas, 52 (33,1%) já faziam o tratamento antes da gestação por
apresentarem caso confirmado de aids. Treze pacientes, sendo 10 sintomáticas (aids) não
realizaram a terapia anti-retroviral. Um dos motivos referentes à não-utilização da terapia
anti-retroviral foi o diagnóstico tardio da doença, sendo evidenciadas falhas na detecção
precoce da infecção pelo HIV, a disponibilidade insuficiente de exames na rede, e as
dificuldades para obter o resultado após a solicitação do teste, comprovando as deficiências
do sistema de saúde nacional, mesmo tendo grandes avanços nos últimos anos (SOUZA
JUNIOR et al., 2002).
A maioria (40,1%) das gestantes submetidas à terapia anti-retroviral fez a profilaxia
por mais de 26 semanas e o esquema terapêutico mais utilizado foi a associação de ITRN/
ITRNN (em 36,3% das gestantes), como AZT+3TC+NEVIRAPINA (em 34,4%), seguida da
dupla terapia ITRN/IP (em 29,2%), como AZT+3TC+NELFINAVIR (em 25,4%). O
Ministério da Saúd e afirma que o uso da terapia anti-retroviral potente reduz drasticamente a
ocorrência de processos oportunistas, devido a recuperação parcial da função imunológica
pelo organismo (BRASIL,2000).
Quanto maior a carga viral materna e menor os níveis de linfócitos T CD4 e razão
CD4/CD8, maior o risco para a transmissão vertical do HIV (GILL et al., 2002). Neste estudo,
a mediana da carga viral materna foi de 1.639 cópias/mL e dos níveis de linfócitos T CD4
em torno de 400 céls./mL (Figura 1). A avaliação do perfil imunológico e da carga viral
destas gestantes pode ser considerada, portanto, apenas como boa indicadora da eficácia da
resposta à terapia e profilaxia antiretroviral, uma vez que não temos dados referentes à
sorologia das crianças nascidas destas mulheres.
A taxa de transmissão vertical do HIV, sem qualquer intervenção, varia em diferentes
áreas do mundo, situando-se em torno de 20%. Diversos estudos publicados na literatura
médica demonstram a redução da transmissão vertical do HIV para níveis ent re zero e 2%,
com o uso de anti- retrovirais combinados com a cesariana eletiva (BRASIL, 2004 b).
No Brasil, embora as intervenções para evitar transmissão vertical do HIV estejam
disponíveis para todas as gestantes infectadas pelo HIV e seus filhos, as dificuldades da rede
em prover diagnóstico laboratorial da infecção pelo HIV, a cobertura insuficiente das
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mulheres testadas no pré- natal e a qualidade do pré-natal, ainda está aquém do desejáve. No
entanto, nos últimos anos, a incidência de casos de aids em crianças vem decrescendo
progressivamente em nosso país (CAVALCANTE et al, 2004). A porcentagem de mulheres
que receberam todo o protocolo para evitar a transmissão vertical do HIV fo i superior a 90%.
Apesar das dificuldades de se implementar as recomendações do protocolo ACTG
076, 10 anos após a sua publicação, verificou-se um grande progresso no que se diz respeito à
diminuição dos índices de transmissão vertical, o que confirma o sucesso na implementação
de tal protocolo (Tabela 2).
Tabela 1. Categoria de exposição e condição clínica das gestantes HIV/aids (n =157).
CARACTERÍSTICAS GERAIS
Categoria de Exposição
Sexual
Múltiplos parceiros
Transfusão de sangue/derivados
UDI
ND*
Condição clínica
Assintomá tica
Sintomática
ND*
Data do Diagnóstico
Antes do pré-natal
Durante o pré-natal
Antes do parto
Depois do parto
n
%
67
43
5
8
34
42,0
27,4
3,2
5,1
21,6
93
62
2
59,2
39,5
1,3
72
76
5
4
45,8
48,5
3,2
2,5
*ND = Não Disponível
Tabela 2. Avaliação da implementação do PACTG 076 às gestantes analisadas (n =157).
PACTG 076
n
%
Tipo de Parto
Cesário
128
81,6
Natural
25
15,9
ND*
4
2,5
Uso de AZT-Endovenoso durante
o parto
Sim
143
91,1
Não
11
7,0
ND*
3
1,9
Uso de ARV pelo recém-nascido
Sim
150
95,5
Não
5
3,2
ND*
2
1,3
Motivo da não profilaxia do
recém-nascido
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Filho Natimorto
Não se aplica
ND*
ND*: Não Disponível
5
150
2
3,2
95,5
1,3
Carga Viral (cópias/mL)
Razão CD4/CD8
2000
0,6
1500
0,58
1000
0,56
CV
CD4/CD8
0,54
500
0,52
0
0,5
Aids (n=50)
HIV (n=73)
Aids (n= 30)
HIV( n=51)
Figura 1. Perfil imunológico e viral das gestantes sintomáticas (aids) e assintomáticas (HIV).
CONCLUSÃO
A análise dos 157 prontuários das gestantes HIV/aids atendidas pelo HMI/SUS e
acompanhadas pelo HDT-HAA em Goiânia – Goiás, no período de 2003 a 2005, demonstrou
se tratar de um grupo de mulheres jove ns, com idade média de 25 anos que fizeram o
diagnóstico da infecção por HIV no início da gestação o que, provavelmente, assegurou maior
controle da infecção materna, através da introdução da profilaxia com antiretrovirais. Além
disso, aproximadamente 95% das gestantes HIV/aids tiveram acesso às formas de profilaxia
para transmissão materno- fetal do HIV demonstrando que a implantação do PACTG 076 no
Brasil, orientando os profissionais da saúde a iniciar precocemente a profilaxia de transmissão
vertical do HIV durante o pré-natal e parto, além dos cuidados com o neonato pós-parto é um
fator importante na diminuição da transmissão vertical.
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