PERFIL EPIDEMIOLÓGICO DOS PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA CARDÍACA NO HOSPITAL SANTA GENOVEVA EM GOIÂNIA Ludmilla Bizinoto Ferreira, Mara Olívia Viegas de cirurgia cardíaca. A coleta de dados foi RESUMO realizada de julho a setembro de 2004, O presente estudo tem como objetivo determinar o perfil epidemiológico dos pacientes cardiopatas cirúrgicos diariamente. Foram excluídos do estudo os pacientes menores de dezoito anos de idade. Os adultos atendidos no Hospital Santa Genoveva em Goiânia. É um estudo prospectivo qualiquantitativo, no qual foi utilizado um questionário contendo itens relativos ao pré- resultados mostraram maior predominância do sexo masculino, maior número de internações pelo SUS, idade média de 52,18 ± 14,31 e uma porcentagem de óbito de 9,09%. Palavras operatório, intra-operatório e pós-operatório chaves: estudo epidemiológico, cirurgia cardíaca. miocárdio, entre outros. Populações de INTRODUÇÃO diferentes faixas etárias podem necessitar da A cirurgia cardíaca é um mesma, dependendo da patologia que venha procedimento invasivo de alto risco, que tem apresentar, como alvo um órgão vital, o coração, dessa acompanhado de doenças pré-existentes. As forma, os pacientes que se submetem a essa podendo doenças estar ou cardiovasculares não no cirurgia necessitam de um cuidado maior por início do século XX eram responsáveis por parte de toda a equipe multiprofissional menos de 10% dos óbitos em todo o mundo, durante o pós-operatório, pois a forma de mas ao final desse mesmo século, esse grupo abordagem é que irá contribuir para a de obtenção de resultados satisfatórios ou não, aproximadamente, 50% dos óbitos nos resultando no aumento ou declínio da taxa países desenvolvidos e 25% nos países em de morbi- mortalidade. desenvolvimento. São estimados 25 milhões doenças foi o responsável por, As cirurgias cardíacas podem vir a de óbitos em 2020, sendo que a maior causa ser realizadas para a correção de valvopatias, de morte será as doenças isquêmicas do cardiopatias congênitas, revascularização do 1 coração, superando os casos de doenças 1 a 69 anos a prevalência do diabete melito é de 17,4% 4 . infecciosas . No Brasil, 32,6% dos óbitos com A insuficiência cardíaca hoje é causa confirmada estão relacionados às reconhecida como um problema crescente e 1 importante de saúde pública. Fatores como a Existem diversos fatores de risco que industrialização e a urbanização implicaram podem contribuir para o surgimento de uma mudanças na dieta alimentar, aumento do doença cardiovascular, entre eles podemos tabagismo, sedentarismo e obesidade. A citar: idade avançada, sexo masculino, conseqüência natural desse processo é o hipertensão arterial sistêmica, tabagismo, desenvolvimento da hipertensão arterial, níveis séricos elevados das lipoproteínas de diabete e doença das artérias coronárias, baixa densidade (LDL-colesterol), níveis sendo a insuficiência cardíaca a via final séricos baixos das lipoproteínas de alta dessas e de outras doenças. Estima-se que densidade 6,4 milhões de brasileiros sofram de doenças cardiovasculares . (HDL-colesterol) e diabete melito 2 . insuficiência cardíaca 5 . O risco de doença cardiovascular em 2 fumantes é de duas a quatro vezes maior . valvopatias A hipertensão arterial é um dos fatores de risco fundamental desenvolvimento o reumática é 6 resultado da cardiopatia , mais precisamente da febre reumática. doenças A febre reumática trata-se de uma brasileiros complicação auto- imune de infecção da mostram uma prevalência entre 12% e 35% orofaringe por um estreptococus em um em diferentes regiões 3 . hospedeiro suscetível entre 6 e 15 anos de cardiovasculares. de para Em nosso meio, grande parte das Estudos O diabete melito é uma doença crônica freqüente e estima-se um aumento idade 7. É uma doença de distribuição da sua prevalência de aproximadamente 30% universal tendo incidência e prevalência até o final da próxima década, segundo a variáveis. Nos EUA a incidência tem Organização Mundial de Saúde (OMS) 4 . diminuído e isso se deve a uma melhor No Brasil estima-se existirem 5 qualidade de vida, melhor conhecimento da milhões de diabéticos. Na faixa etária de 60 doença, melhores serviços de saúde e o advento de antibióticos. Em contrapartida, a 2 incidência nos países em desenvolvimento não apresenta este perfil animador. A dissecção da aorta trata-se da Na delaminação da sua parede. Caso não seja América Latina a prevalência da doença em tratada, apesar de ser rara, consiste numa escolares é de 1 a 17 por cada 1.000 doença com alto índice de mortalidade. Sua 7 habitantes . incidência foi estimada em 5 a 29 O número de cirurgias cardíacas de casos/milhão de população/ano. Em muitos etiologia reumática realizadas em hospitais casos, a dissecção da aorta está associada, públicos do Brasil está em torno de 8.000 entre outros fatores, à hipertensão arterial. 7 cirurgias por ano . A congênitas Apenas uma pequena porcentagem dos incidência varia das com a cardiopatias metodologia utilizada 8 . pacientes não tem nenhuma condição 12 associada . O pós-operatório em cirurgia A comunicação interatrial (CIA) cardíaca caracteriza-se por um período como lesão isolada representa 7% de todas crítico e delicado, com a possibilidade de as anomalias congênitas do coração e tem surgimento de complicações, das quais grande predomínio no sexo feminino, cerca podemos citar as pulmonares, digestivas, 9 de dois terços . A constitui neurológicas, renais, cardíacas e infecciosas. coarctação uma aórtica das (CoAo) O Hospital Santa Genoveva é malformações considerado referência na prestação desse cardiovasculares mais freqüentes, fazendo tipo de procedimento, contando com três parte de 5 a 8% das cardiopatias em geral, equipes médicas, equipes de fisioterapia, ocupando, segundo muitas estatísticas, o 6º enfermagem, nutrição e psicologia. Portanto, ou 7º lugar entre os defeitos existentes 10 . faz-se necessário a realização de um trabalho O aneurisma da aorta abdominal é que investigue o perfil da população nele causado por um processo degenerativo não atendida para melhor compreender os fatores específico considerado que interferem na evolução da mesma e dos melhorar a assistência prestada por parte das (comumente aterosclerótico) em 95% casos. Raramente são de outras etiologias como: sífilis, trauma, inflamatório, micótico e síndrome de Marfan 11 . equipes. O presente estudo tem como objetivo determinar o perfil dos pacientes cardiopatas 3 cirúrgicos adultos atendidos no Hospital Santa Genoveva em Goiânia. • GRUPO I: Pacientes que fizeram cirurgia para troca e/ou plastia valvar (troca de valva aórtica - TVA, troca de valva mitral - TVM e TVA + TVM); MATERIAL E MÉTODOS • GRUPO II: Pacientes que fizeram Por meio de uma análise prospectiva revascularização do miocárdio (RM) de prontuários, foram pesquisados dados de associada ou não a aneurismectomia de 66 pacientes, no período pré-determinado de ventrículo esquerdo (VE); • GRUPO III: Pacientes que fizeram julho a setembro de 2004, no Hospital Santa Genoveva em Goiânia. Foi um estudo troca valvar e RM; observacional do tipo quali-quantitativo, • GRUPO IV: Pacientes submetidos a avaliado por meio de uma ficha individual cirurgia cardíaca para correção de dissecção contendo os fatores precedentes à cirurgia de aorta (DA) ou correção de aneurisma da (antecedentes aorta abdominal (AAA). familiares, cirúrgicos, doenças características antecedentes • Grupo V: Pacientes submetidos a pré-existentes), individuais do paciente (idade, sexo, hábitos de vida em geral), itens cirurgia cardíaca de outra natureza (correção de coarctação aórtica, correção de CIA). Foram excluídos do estudo pacientes que foram analisados no intra-operatório (tipo de procedimento cirúrgico, tempo de menores de dezoito anos. circulação extracorpórea - CEC, tempo O projeto foi aprovado pelo Comitê cirúrgico e possíveis intercorrências) e no de Ética e Pesquisa da Universidade Católica pós-operatório de Goiás. mecânica, (tempo tempo de sob ventilação UTI/internação, complicações existentes, alta/óbito). Os dados estatisticamente foram através do RESULTADOS analisados programa Microsoft Excel Xp. No período de julho a setembro de 2004, 66 pacientes cardiopatas foram Os pacientes desse estudo foram submetidos à cirurgia cardíaca. A faixa divididos em 5 grupos para critério de etária variou de 19 a 82 anos de idade análise dos dados: (média de 52,18 ± 14,31), dos quais 51,52% eram do sexo masculino. O SUS 4 correspondeu a 68,18% dos atendimentos. Os dados obtidos para os cinco As principais cirurgias realizadas foram para grupos são apresentados sob a forma de troca de valva cardíaca (56,06%) seguida dados pela operatórios, dados intra-operatório e dados revascularização do miocárdio (31,82%). de identificação, dados pré- pós-operatório. Os dados de identificação No mês de julho foram realizadas 22 dos cinco grupos encontram-se na tabela I. cirurgias, em agosto 16 cirurgias e em setembro 28 cirurgias cardíacas. Tabela I - Identificação Sexo Masculino Feminino Idade Atendimento Convênio SUS Particular Naturalidade Goiás Outro estado Não relatado Número de pacientes Troca Valvar (TV) 40,54% 59,46% 46,00 ± 12,42 24,32% 75,68% 0,00% 54,05% 40,54% 5,41% 37 Revascularização do Miocárdio (RM) 76,19% 23,81% 63,76 ± 9,66 42,86% 52,38% 4,76% 33,33% 52,38% 14,29% 21 TV + RM DA ou AAA 33,33% 66,66% 62,33 ± 8,62 33,33% 66,67% 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 03 50,00% 50,00% 54,00 ± 18,38 50,00% 50,00% 0,00% 50,00% 50,00% 0,00% 02 Outras cirurgias 33,33% 66,67% 36,00 ± 6,24 0,00% 100,00% 0,00% 33,33% 66,67% 0,00% 03 Os dados referentes ao pré-operatório dos cinco grupos encontram-se na tabela II. Tabela II – Pré -Operatório Tabagismo Sedentarismo Dislipidemia H.A.S Disfunção renal Pneumopatia Diabete melito Sim/já foi Não Não relatado Sim Não Não relatado Sim Não Não sabe/não relatado Sim Não Não sabe/não relatado Sim Não Não sabe/não relatado Sim Não Não sabe/não relatado Sim Troca Valvar (TV) 27,03% 56,76% 16,22% 24,32% 56,76% 18,92% 5,41% 56,76% 37,84% 16,22% 54,05% 29,73% 0,00% 75,68% 24,32% 5,41% 78,38% 16,22% 2,70% Revascularização do Miocárdio (RM) 33,33% 38,10% 28,57% 23,81% 47,62% 28,57% 42,86% 14,29% 42,86% 38,10% 33,33% 28,57% 4,76% 66,67% 28,57% 4,76% 66,67% 28,57% 19,05% TV + RM DA ou AAA Outras cirurgias 33,33% 66,67% 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 0,00% 100,00% 0,00% 33,33% 33,33% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 33,33% 100,00 0,00 0,00 50,00 50,00 0,00 50,00 0,00 50,00 10,00 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00 0,00 100,00 0,00 50,00 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 33,33% 33,33% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 0,00% 5 Outras doenças prévias Antec. cirúrgicos cardíacos Antecedentes familiares Não Não sabe/não relatado Sim Não Não relatado Sim Não Não relatado Sim Não Não sabe/não relatado 72,97% 24,32% 56,76% 27,03% 16,22% 21,62% 62,16% 16,22% 40,54% 18,92% 40,54% 47,62% 33,33% 38,10% 33,33% 28,57% 9,52% 61,90% 28,57% 52,38% 9,52% 38,10% 33,33% 33,33% 66,67% 33,33% 0,00% 33,33% 66,67% 0,00% 66,67% 0,00% 33,33% 50,00 0,00 50,00 50,00 0,00 50,00 50,00 0,00 50,00 50,00 0,00 66,67% 33,33% 66,67% 0,00% 33,33% 0,00% 66,67% 33,33% 33,33% 33,33% 33,33% Os dados referentes ao intra-operatório dos cinco grupos encontram-se na tabela III. Tabela III – Intra -Operatório Tempo CEC * Tempo cirúrgico * Intercorrências Troca Valvar (TV) 01:09 ± 00:39 03:21 ± 01:16 0,00% Revascularização do Miocárdio (RM) 01:16 ± 00:26 03:22 ± 01:08 0,00% TV + RM 01:11 ± 00:10 03:30 ± 01:19 0,00% DA ou AAA Outras cirurgias 01:25 00:39 ± 00:12 04:15 ± 00:21 02:00 ± 00:30 0,00% 0,00% Os dados referentes ao pós-operatório dos cinco grupos encontram-se na tabela IV. Tabela IV – Pós-Operatório Tempo sob VM * Tempo UTI ** Tempo enfermaria ** Complicações Traqueostomia Óbito Troca Valvar (TV) 13:01 ± 11:11 2,33 ± 0,86 5,17 ± 1,38 5,41% 0,00% 5,41% Revascularização do Miocárdio (RM) 12:15 ± 04:07 2,24 ± 0,94 4,65 ± 2,18 9,52% 0,00% 19,05% TV + RM 11:40 ± 06:22 3,67 ± 1,53 4,33 ± 2,08 0,00% 0,00% 0,00% DA ou AAA Outras cirurgias 12:05 ± 02:56 10:00 ± 00:51 2,50 ± 0,71 2,00 ± 0,00 5,00 ± 1,41 4,33 ± 1,15 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% 0,00% * valores em horas ** valores em dias Diagnóstico Pré-Operatório do Grupo I: 18% 32% 20% 30% DLM + DLA + DLMA Ins. Valvar Estenose Mitral Outros 6 DLM: Dupla Lesão Mitral DLA: Dupla Lesão Aórtica DLMA: Dup la Lesão Mitro-aórtica Dos trinta e sete pacientes desse DISCUSSÃO grupo apenas quatro relataram ter febre Os maiores grupos foram o grupo I e o grupo II, com 37 pacientes e 21 pacientes, conhecida Grupo I O grupo I é constituído por trinta e sete pacientes, sendo que 59,46% são do sexo feminino. O atendimento pelo SUS teve o maior índice, representando 75,68% das cirurgias realizadas para correção valvar. O particulares quanto não aos houve atendimentos nenhum nesse período. Em relação à naturalidade, 54,05% são naturais do estado de Goiás. Particularmente, a estenose mitral é uma seqüela da febre reumática, acometendo em maior número as mulheres 13 . E nesse com estenose mitral e que foram submetidos tabagismo, sedentarismo, hip ertensão arterial, valvopatias, dislipidemia, disfunção renal, pneumopatia e diabete melito. Mas por outro lado pode haver relação com antecedentes pois 40,54% dos pacientes relataram ter casos de problemas cardíacos na família. A maior parte dos pacientes, 62,16%, nunca tinha se submetido a uma cirurgia cardíaca. Um total de 56,76% relatou ter outra doença prévia, que não seja cardíaca, incluindo as doenças neurológicas, endócrinas. Um a troca valvar, seis eram mulheres. De uma maneira geral, os pacientes com valvopatias evoluem assintomáticos até 13 , apresentado nesse estudo uma média de idade de 46,00 ± 12,42. das ortopédicas, gastro- intestinais, pulmonares e estudo verificou-se que dos oito pacientes a quarta ou quinta décadas de vida etiologia verificou-se que não houve relação com o familiares, segundo lugar é ocupado pelos convênios, e valvopatias tem dado lugar a outras causas em virtude da mudança de hábitos 6 . Pela respectivamente. 24,32%, reumática. Mas a etiologia reumática das tempo de circulação extracorpórea maio r que 2 horas evolui para um tempo maior sob ventilação mecânica, pois a CEC é um dos principais fatores que retarda o desmame em cirurgia cardíaca, devido ao importante distúrbio fisiológico 7 causado pela resposta ao de revascularização do miocárdio (RM) . Foi constatado que associada ou não a aneurismectomia de o tempo médio de CEC correspondeu a ventrículo esquerdo (VE), sendo este o 01:09 ± 00:39, e o tempo sob ventilação segundo maior grupo. Apenas um paciente mecânica de 13:01 ± 11:11; valores dados foi em horas. miocárdio associada a aneurismectomia de circuito extracorpóreo 14 inflamatória O tempo médio de cirurgia foi de submetido a revascularização do ventrículo esquerdo (VE). 03:21 ± 01:16 (valor dado em horas) não Nos havendo nenhuma intercorrência no intra- aproximadamente operatório e nem necessidade, no pós- indivíduos por ano é submetido à cirurgia operatório de realizar a traqueostomia. para RM 1 . O tempo médio de UTI foi de 2,33 ± foi 5,17 ± 1,38; valores dados em dias. predominância pacientes evoluíram 1 em Unidos cada 1.000 A idade média apresentada no grupo 0,86 e o tempo médio de enfermaria foi de Dois Estados de 63,76 ± do 9,66, sexo com maior masculino, com correspondendo a 76,19%. Estudos relatam complicações no pós-operatório, sendo essas uma maior relação de pacientes do sexo complicações do tipo cardíaca e pulmonar. A masculino submetidos a cirurgia de RM, mas paciente que evoluiu com complicação essa tendência vem se modificando na cardíaca foi a óbito no sexto dia pós- atualidade 15 . operatório e de acordo com o prontuário Quanto à naturalidade observou-se analisado, a causa foi por insuficiência que 52,38% dos pacientes eram de outro cardíaca congestiva e choque cardiogênico. estado. O índice de óbito nas cirurgias para No Brasil, a RM pelo atendimento do troca valvar foi de 5,41%, esse valor refere- SUS totalizou 1.465 em 2001, sofrendo um se a dois pacientes, sendo que o segundo foi acréscimo de 27% em relação a 1996 (1.157 a óbito ainda na UTI logo após a cirurgia atendimentos) 1 . cardíaca. A causa do óbito não foi relatada no prontuário. O presente estudo não mostrou diferenças significativas entre os Grupo II atendimentos pelo SUS (52,38%) em relação O grupo II é composto por vinte e um aos convênios (42,86%). Houve apenas um pacientes que foram submetidos a cirurgia 8 atendimento particular, responsável por 4,76% dos atendimentos. insuficiência renal e da doença arterial periférica. Essa condição responde por Os dados colhidos no pré-operatório grande parte das mostraram uma pequena porcentagem de cardiovasculares pacientes com disfunção renal, 4,76%, sendo 3 morbi- mortalidades nos países industrializados . que essa porcentagem é igual à encontrada Somente 9,52% dos pacientes já nos pacientes com pneumopatia. Dados estes haviam sido submetidos anteriormente à com pouca ou nenhuma significância. Em cirurgia cardíaca, e os dados relacionados às relação aos antecedentes familiares, houve doenças prévias foram de 38,10%, com uma prevalência alta presente em cerca de maior 52,38% de ortopédicas. O diagnóstico pré-operatório de doença insuficiência coronariana correspondeu a coronariana se mostra um importante fator 95,24% dos casos. Somente um paciente dos antecedentes pacientes. familiares O relato de 15 de risco cardiovascular . predominância associada 33,33% e a dislipidemia taxa de 42,86%. O esquerdo. juntamente doenças teve diagnóstico de insuficiência coronariana O tabagismo apresentou taxa de tabagismo das com a aneurisma de ventrículo a O intra-operatório não apresentou hipercolesterolemia e a hipertensão arterial nenhuma intercorrência, apesar do tempo sistêmica, é o maior fator de risco para cirúrgico ter sido de 03:22 ± 01:08. O tempo doença aterosclerótica coronária, sendo que de CEC apresentou uma média de 01:16 ± a probabilidade de ocorrer um evento 00:26; valores dados em horas. coronariano é de 40% em 10 anos 2 . Apenas 23,81% dos pacientes relatou ser sedentário. O diabete melito esteve presente em A CEC utilizada na RM é considerada um procedimento padrão para o tratamento cirúrgico da insuficiência coronariana, pois apresenta ótimas condições 19,05% dos casos, e a HAS apresentou taxa de segurança e reprodutibilidade dos de 38,10%. Na atualidade a HAS tem sua resultados. No entanto, a mesma contribui de importância como um dos principais fatores forma decisiva para as complicações pós- de risco para o desenvolvimento arterial de operatórias e falência de múltiplos órgãos 16 . doença coronariana, do acidente vascular O tempo de VM foi de 12:15 ± encefálico, da insuficiência cardíaca, da 04:07; valor dado em horas. Não houve 9 necessidade de realizar traqueostomia em disfunção renal ou dislipidemia. Apenas um nenhum paciente. paciente era tabagista. A prevalência de complicações pós- Quanto a HAS somente um paciente operatórias foi relevante, 9,52%, sendo que relatou ser hipertenso, e também apenas um os dois casos que apresentaram foram de diz ser diabético. origem cardíaca. Em relação aos antecedentes O tempo de UTI fo i de 2,24 ± 0,94 e familiares, dois pacientes disseram ter na o tempo de enfermaria foi de 4,65 ± 2,18; família pessoas com problemas cardíacos, e valores dados em dias. o mesmo número de pacientes relatou ter O número de óbitos foi considerável, outra doença prévia. 19,05%, correspondendo a quatro pacientes. O tempo médio de CEC foi de 01:11 Grupo III ± 00:10 e o tempo médio de cirurgia foi de Esse grupo é composto por três 03:30 ± 01:19, valores dados em horas. Não pacientes, sendo dois do sexo feminino. A houve relatos de intercorrências no intra- idade méd ia é de 62,33 ± 8,62. Dos três operatório. pacientes, dois são de Goiás e dois foram O tempo médio sob VM foi de 11:40 atendidos pelo SUS. Houve apenas um ± 06:22, valor dado em horas. Nesse grupo atendimento por convênio. não houve complicações pós-operatórias São pacientes que realizaram a nem a realização de traqueostomia. cirurgia cardíaca para troca valvar e RM. O tempo médio de UTI foi de 3,67 ± Dois pacientes fizeram troca de valva aórtica 1,53 e o de enfermaria foi de 4,33 ± 2,08, (TVA) e RM e o outro fez RM, plastia de valores dados em dias. valva mitral e aneurismectomia de ventrículo esquerdo. A porcentagem de óbito foi de 0,00%. Uma paciente estava sendo Grupo IV submetida à segunda troca valvar, e os O grupo IV é composto por dois demais não realizaram cirurgia cardíaca pacientes que foram submetidos à cirurgia anteriormente. para correção de dissecção da aorta ou Nenhum sedentário, ter paciente alguma relatou ser pneumopatia, correção de aneurisma da aorta abdominal. O primeiro paciente tinha 41 anos de idade, era tabagista, sedentário, hipertenso e 10 com antecedentes familiares de doença O tempo médio de UTI foi de 2,50 ± cardíaca. Em várias ocasiões, a hipertensão 0,71 e o de enfermaria foi de 5,00 ± 1,41, arterial pode estar associada a dissecção da valores dados em dias. aorta, correspondendo de 70 a 90% dos casos 12 . Nesse caso podemos perceber que o Não ocorreu nenhum óbito nesse grupo. paciente possuía esse fator de risco para a Grupo V doença da aorta. O grupo V é constituído por três O segundo paciente tinha 67 anos de pacientes que realizaram cirurgia cardíaca de idade, já havia sido submetida à cirurgia outra natureza, ou seja, cirurgias diferentes cardíaca anteriormente, daquelas já mencionadas. diabética, hipertensa era apresentava É um grupo que realizou a cirurgia tratamento cardíaca para correção de alguma cardiopatia convencional do aneurisma abdominal tem congênita, sendo composto em sua maior alta taxa de morbi- mortalidade, pois na parte por pacientes do sexo feminino maioria dos casos, os pacientes são de faixa (66,67%), e com idade média de 36,00 ± etária alta e apresentam outras doenças, 6,24. Verificamos que 66,67% dos pacientes como a doença isquêmica do coração, as são naturais de outros estados e todos foram doenças prévias da aorta, doença pulmonar atendidos pelo SUS. hipercolesterolemia. e tabagista, O obstrutiva crônica ou disfunção renal 17 . Foram realizadas duas cirurgias para O tempo de CEC foi de 01:25, valor correção de comunicação interatrial (CIA) e relativo a um paciente, pois não foi uma para correção de coarctação aórtica. registrado no prontuário o tempo de CEC do As anomalias congênitas, incluindo outro paciente. O tempo médio cirúrgico foi as cardiopatias congênitas, podem ser de 04:15 ± 00:21, valores dados em horas. decorrentes de alterações endógenas, ou seja, Não houve relatos de intercorrê ncias no alterações intra-operatório. exógenas representadas por teratógenos O tempo médio sob VM foi de 12:05 genéticas; de alterações externos, como as irradiações ou ação de ± 02:56, valor dado em horas. Nesse grupo infecções não houve complicações pós-operatórias embriogênese 8 . nem a realização de traqueostomia. ou viróticas no período da Estudos que relatam a recorrência familiar de CIA são relativamente poucos, e 11 nesse estudo não houve relação de CIA com tempo sob VM foi de 10:00 ± 00:51, e como antecedentes familiares. foi um tempo curto não houve necessidade Ainda em relação a CIA apenas um paciente é portador de outra doença prévia e de realizar nenhuma traqueostomia. Esses valores são dados em horas. ao mesmo tempo de HAS. Em relação ao Nenhum paciente no apresentou outro paciente não foi relatado nenhum fator intercorrências intra-operatório do questionário pré-operatório. complicações no pós-operatório. nem Nesse estudo foi visto que a idade O tempo de UTI foi de 2,00 ± 0,00 e média dos pacientes que se submeteram a o de enfermaria de 4,33 ± 1,15; valores cirurgia cardíaca para correção de CIA foi de dados em dias. 35,00 ± 8,49. Apesar Não ocorreu nenhum óbito nesse da cirurgia ser um grupo. procedimento seguro apresenta mortalidade de 0,5-2% nas melhores séries 18 , mas nesse período não ocorreu nenhum óbito. cardiovasculares observou-se que o grupo I apresentou um alto número de pacientes sedentários e o A coarctação aórtica é uma das malformações Após a análise de todos os grupos maior tempo sob ventilação mecânica. mais O grupo II apresentou o maior freqüentes e pode se apresentar como lesão percentual isolada ou associada a outras anomalias. quantidade de pacientes com antecedentes Tem predomínio no sexo masculino numa familiares de problemas cardíacos e a maior proporção de 2 a 3:1 10 . No nosso estudo o único paciente que realizou cirurgia para porcentagem de tabagistas, de uma óbitos maior (19,05%), correspondendo a quatro pacientes. correção de CoAo era do sexo masculino. A hipertensão arterial e a Esse paciente apresenta outra doença prévia dislipidemia tiveram destaque no grupo II, e e tem antecedente familiar de problema esse mesmo grupo apresentou um tempo de cardíaco. Quanto aos outros critérios do pré- CEC superior aos demais. operatório o paciente não apresenta nenhum deles. O grupo III apresentou, proporcionalmente, um maior número de Considerando o grupo como um pacientes diabéticos. O tempo cirúrgico e o todo, o tempo de CEC foi de 00:39 ± 00:12 e tempo de UTI também se destacaram nesse o tempo cirúrgico de 02:00 ± 00:30. O grupo. 12 Observou-se que o tempo de CEC próprio paciente no pós-operatório, algumas não teve relação com o tempo sob ventilação vezes não foi possível pelo fato do mesmo mecânica. ter ido a óbito ou por não saber responder à pergunta. CONCLUSÃO REFERÊNCIAS Considerando o objetivo deste estudo, pode-se concluir que foi possível 1. Almeida FF, Barreto SM, Couto BRGM, traçar parcialmente o perfil epidemiológico Starling dos pacientes submetidos à cirurgia cardíaca Mortalidade Hospitalar e de Complicações no Hospital Santa Genoveva em Goiânia, Per-Operatórias Graves em Cirurgia de pois seria necessário um tempo e uma Revascularização do Miocárdio. Arquivo amostra maior para que se obtivesse o perfil Brasileiro de Cardiologia 2003; 80(1): 41- real dos mesmos. Além disso, seria de 50. grande importância a inclusão CEF. Fatores Preditores da nos prontuários de todos os dados necessários. 2. Armaganijan D, Batlouni M. Impacto dos Verificou-se que a idade média do Fatores de Risco Tradicionais. Revista da grupo foi de 52,18 ± 14,31, com maior Sociedade de Cardiologia do Estado de São predominância do sexo masculino e mais Paulo 2000 Nov/Dez; 10(6): 686-693. atendimentos pelo SUS. O número de óbitos foi relativamente significante, 3. Brandão AP, Brandão AA, Magalhães correspondendo a seis pacientes. Os fatores MEC, de risco nem sempre tiveram relação com o Hipertensão Arterial. Revista da Sociedade diagnóstico pré-operatório. de Cardiologia do Estado de São Paulo 2003 O presente estudo tem as suas Pozzan R. Epidemiologia da Jan/Fev; 13(1): 7-19. limitações por ser uma análise de prontuário, sendo que muitas informações não foram 4. Lerario AC. Diabete Melito: Aspectos possíveis de serem colhidas pela ausência de Epidemiológicos. Revista da Sociedade de registro. Cardiologia do Estado de São Paulo 1998 Alguns dados que deveriam ter sido Set/Out; 8(5): 885-891. colhidos por meio da ficha individual com o 13 5. Neto JMR. A Dimensão do Problema da 11. Silva JCCB. Aneurisma da Aorta Insuficiência Cardíaca do Brasil e do Abdominal. Mundo. ilustrado Revista da Sociedade de Cirurgia 2004. Disponível Cardiologia do Estado de São Paulo 2004 www.bapbaptista.com>. Jan/Fev; 14(1): 1-10. 02.12.2004. 6. Regenga MM. Fisioterapia Vascular: em guia <http:/ Acesso dia em 12. Gutierrez PS, Pereira MAA, Oliveira Cardiologia: Da U.T.I. à Reabilitação. 1ª ed. RCM, Stolf NAG, Higuchi ML. Níveis de São Paulo (SP): Roca; 2000. Hormônios Tireoideanos em Pacientes com Dissecção Aórtica. Comparação com 7. Weksler C. Febre Reumática. Revista da Controles e Correlação com a Porcentage m Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Área da Camada Média Composta por de Janeiro 2001 Jul/Set; 14(3). Depósitos Mixóides. Arquivo Brasileiro de Cardiologia 2004; 82(2): 129-133. 8. Ferreira C, Farah LMS, Povoa RM, Filho BL, Costa A, Filho CF. Recorrência de 13. Spina GS, Sampaio RO, Grinberg M. O Comunicação Interatrial em Três Gerações. Seguimento Clínico de Portadores de Arquivo Brasileiro de Cardiologia 1999; Valvopatias. Revista da Sociedade de 73(2): 211-214. Cardiologia do Estado de São Paulo 2001 Jan/Fev; 11(1): 66-71. 9. Fontes VF, Pedra CAC. Fechamento Percutâneo da Comunicação Interatrial. 14. Nozawa E, Kobayashi E, Matsumoto Arquivo Brasileiro de Cardiologia 2002 Set; ME, Feltrim MIZ, Carmona MJC, Júnior 79(3): 319-322. JOCA. Avaliação de Fatores que Influenciam no Desmame de Pacientes em 10. Ebaid M, Afiune JY. Coarctação de Ventilação Aorta. Cirurgia Cardíaca. Arquivo Brasileiro de Do Complicações Diagnóstico Simples Imprevisíveis. às Arquivo Mecânica Prolongada Após Cardiologia 2003; 80(3): 301-305. Brasileiro de Cardiologia 1998; 71(5): 647648. 15. Conti RAS, Solimene MC, Luz PL, Benjó AM, Neto PAL, Ramires JAF. 14 Comparação entre Homens e Mulheres Jovens com Infarto Agudo do Miocárdio. Arquivo Brasileiro de Cardiologia 2002; 79(5): 510-517. 16. Pinheiro BB, Fagundes WV, Ramos MC, Azevedo VLB, Silva JM. Revascularização do Miocárdio sem Circulação Extracorpórea em Pacientes Multiarteriais: experiência de 250 casos. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular 2002 Jul/Set; 17(3): 242-247. 17. Palma JH, Sampaio AM, Miranda F, Alves CMR, Souza JAM, Buffolo E. Uma Mudança no Tratamento dos Aneurismas da Aorta Abdominal. Arquivo Brasileiro de Cardiologia 2003; 81(5): 518-521. 18. Pedra CAC, Pedra SRFF, Fontes VF. Comunicação Interatrial do Tipo Ostium Secundum. Do tratamento Cirúrgico ao Percutâneo e os Dinossauros do Futuro. Arquivo Brasileiro de Cardiologia 2003; 80(6): 650-655. 15