SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA A N O 1 | N º 0 1 | V OL . 0 1 | M A R ÇO 2 0 1 4 Editorial Uma revista de saúde que já nasce em evolução. Atualização do tema Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST. Relato de caso Acidente vascular cerebral isquêmico secundário à vasculopatia do sistema nervoso central pelo vírus herpes varicela-zoster. Resumo de artigo Fatores relacionados à infecção no tratamento das fraturas expostas. Tumor de células epitelioides perivasculares (PEComa) maligno de retroperitônio. ISSN 2357-7908 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL AQUI A INOVAÇÃO SEGUE A PASSOS FIRMES. Uma nova referência em Ortopedia, Reumatologia e Reabilitação Cárdio Pulmonar. Na Bahia, o Hospital Santa Izabel oferece o que há de mais atual em medicina osteoarticular e reabilitação cárdio pulmonar. A unidade MOVER conta com atendimento acolhedor, equipe médica multidisciplinar, alta tecnologia e a credibilidade de uma instituição com 464 anos de tradição e qualidade em serviços de saúde. Especialidades • • • • • • Ortopedia Reumatologia Cardiologia Angiologia Clínica da Dor Clínica Médica Fisioterapia Osteomioarticular • • • Eletrotermoterapia Cinesioterapia Laserterapia Serviços • • • • Consultas Médicas Doppler MAPA Reabilitação Cárdio Pulmonar Outros serviços • • • • Marcação de Consultas: 71 2203-8800 Telefone Geral: 71 3237-3720 Av. Adhemar de Barros, 70, Ondina, Salvador-BA Terapia Biológica em Reumatologia Bloqueio Analgésico Densitometria Óssea Ecocardiograma • • • • Eletrocardiograma Teste Ergométrico Cinesioterapia Raios-X Responsável técnico: Dr. Ricardo Madureira CREMEB 12793 • • RPG Terapia Manual REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SUPERVISORES DOS PROGRAMAS DE RESIDÊNCIA MÉDICA 1. ANESTESIOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Jedson Nascimento dos Santos 10. MEDICINA INTENSIVA Supervisor: Prof. Dr. Edson Marques Filho 2. CANCEROLOGIA CLÍNICA Supervisor: Prof. Dr. Dálvaro de Oliveira Castro Júnior 11. NEONATOLOGIA (Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto) Supervisora: Prof a. Dra. Rosana Pellegrini Pessoa 3. CARDIOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Gilson Soares Feitosa 4. CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Supervisora: Prof a. Dra. Anabel Góes Costa 5. CLÍNICA MÉDICA Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho 6. CIRURGIA GERAL Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire 7. CIRURGIA DO APARELHO DIGESTÓRIO Supervisor: Prof. Dr. André Ney Menezes Freire 8. GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA (Maternidade Prof. José Maria de Magalhães Netto) Supervisor: Prof. Dr. Rone Peterson Cerqueira Oliveira 12. NEUROLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Pedro Antônio Pereira de Jesus 13. ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Rogério Meira Barros 14. OTORRINOLARINGOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Nilvano Alves de Andrade 15. PNEUMOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Jamocyr Moura Marinho 16. REUMATOLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Mittermayer Barreto Santiago 17. UROLOGIA Supervisor: Prof. Dr. Luiz Eduardo Café 9. HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA Supervisor: Prof. Dr. José Carlos Raimundo Brito COEDITORES DA REVISTA DE SAÚDE DO HSI ANESTESIOLOGIA Jedson Nascimento dos Santos HEMODINÂMICA E CARDIOLOGIA INTERVENCIONISTA José Carlos Raimundo Brito ÁREA MULTIPROFISSIONAL Patrícia Alcântara Doval de Carvalho Viana MEDICINA INTENSIVA Edson Marques Filho CANCEROLOGIA CLÍNICA Dálvaro Castro Júnior NEONATOLOGIA Rosana Pellegrini Pessoa CARDIOLOGIA Gilson Soares Feitosa NEUROLOGIA Davidson França Pereira CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA Anabel Góes ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA Marcos Antônio Almeida CIRURGIA GERAL André Ney Menezes Freire OTORRINOLARINGOLOGIA Nilvano Alves Andrade CIRURGIA DO APARELHO DIGESTIVO André Ney Menezes Freire PNEUMOLOGIA Jamocyr Moura Marinho CLÍNICA MÉDICA Alina Coutinho Rodrigues Feitosa REUMATOLOGIA Mittermayer Barreto Santiago GINECOLOGIA E OBSTETRÍCIA Rone Peterson Cerqueira Oliveira UROLOGIA Luiz Eduardo Café REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|3 CONSELHO EDITORIAL EDITOR-CHEFE Gilson Soares Feitosa Hospital Santa Izabel - Santa Casa de Misericórdia da Bahia Adriano Santana Fonseca Adriano Dias Dourado Oliveira Adson Roberto Santos Neves Alex Guedes Alina Coutinho Rodrigues Feitosa Ana Lúcia Ribeiro de Freitas Anabel Góes Costa André Ney Menezes Freire Angele Azevedo Alves Mattoso Anita Perpétua Carvalho Rocha de Castro Antônio Carlos de Sales Nery Antônio Fernando Borba Fróes Júnior Antônio Moraes de Azevedo Júnior Aline Nunes de Araújo Gomes Alinne de Souza Bernardes Reis Augusto José Gonçalves de Almeida Áurea Angélica Paste Bruno Aguiar Cristiane Magalhães de Oliveira de Carvalho Cristiane de Brito Magalhães Cristiane Abbhusen Lima Castelo Branco Dálvaro Oliveira de Castro Júnior Daniela Barros Darci Malaquias de Oliveira Barbosa Daniel Santana Farias Daniele Leal Braga da Silva David Greco Varela Edson Marques Silva Filho Elves Anderson Pires Maciel Fábio Luís de Jesus Soares Flávio Robert Sant’ana Fleury Ferreira Neto Gilson Soares Feitosa - Filho Giovanna Lúcia Oliveira Bonina Costa Guilhardo Fontes Ribeiro Gustavo Almeida Fortunato Heitor Ghissoni de Carvalho Humberto Ferraz França de Oliveira Iana Conceição da Silva Ilana D´Andrade Souza Jamary Oliveira Filho Jamile Seixas Fukuda Jamocyr Moura Marinho Jayme Fagundes dos Santos Filho Jeany de Oliveira Barreto Jedson dos Santos Nascimento Joberto Pinheiro Sena Joel Alves Pinho Filho Jorge Bastos Freitas Júnior Jorge Eduardo de Schoucair Jambeiro José Alves Rocha Filho Lais Matos Rebouças Matos Lígia Beatriz Wanke de Azevedo Liliana D’Almeida Galrão Lívia Maria Quirino da Silva Andrade Luciane Souza Coutinho Luís Fernando Pinto Jonhson Luiz Eduardo Fonteles Ritt Marcos Vinícius Santos Andrade Maria do Socorro Albuquerque Miranda Maria Lúcia Duarte Matheus Tannus dos Santos Maura Alice Santos Romeo Melba Moura Lobo Moreira Nilzo Augusto Mendes Ribeiro Paulo José Bastos Barbosa Pedro Antônio Pereira de Jesus Pepita Bacelar Borges Patrícia Falcão Pitombo Rajaná Regina Moura Itaparica Reinaldo da Silva Santos Júnior Renato Ribeiro Gonçalves Ricardo Eloy Pereira Rogério Meira Barros Rone Peterson Cerqueira Oliveira Rosalvo Abreu Silva Rosana Pellegrini Sandra Oliveira Silva Sérgio Tadeu Lima Fortunato Pereira Sheldon Perrone de Menezes Ubirajara de Oliveira Barroso Júnior Viviane Sampaio Boaventura Oliveira Yuri de Araújo Tappareli REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 4 EXPEDIENTE SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Provedor Roberto Albuquerque Sá Menezes Vice-Provedor Luiz Fernando Studart Ramos de Queiroz Escrivão Renato Augusto Ribeiro Novis Tesoureira Ana Elisa Ribeiro Novis Hospital Santa Izabel Superintendente de Saúde Eduardo Queiroz Diretor de Ensino e Pesquisa Gilson Soares Feitosa Diretor Técnico-Assistencial Ricardo Madureira Diretora Administrativa e de Mercado Mônica Bezerra EXPEDIENTE Ag editora Ana Lúcia Martins Caroline de Carvalho Consultoria científica Silvana Pereira Membro da Associação Brasileira de Editores Científicos REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 5 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SUMÁRIO Editorial Provedor Editorial Editor 7 8 Atualização de tema Cardiologia 9 Atualização de tema Reumatologia 15 Atualização de tema Endocrinologia 20 Resumo de artigo do HSI Ortopedia 31 Resumo de artigo do HSI Cardiologia 32 Resumo de artigo do HSI Cirurgia Geral 34 Relato de caso Neurologia 38 Relato de caso Medicina Intensiva 41 44 Relato de caso Oncologia Artigo multiprofissional – Fisioterapia 48 Protocolo de atendimento 52 Eventos fixos 59 Instruções aos autores 60 EDITORIAL – PROVEDOR Uma revista de saúde que já nasce em evolução O Hospital Santa Izabel (HSI) completou no final do ano passado 120 anos de atividades ininterruptas no seu atual endereço no Largo de Nazaré, onde proporciona qualidade em saúde, conforto e bem-estar aos pacientes e desempenha grande variedade de ações assistenciais e de ensino e pesquisa, que muito contribuem para o progresso da saúde na Bahia. Nesta secular trajetória de contribuição com o progresso da ciência na Bahia, que remonta ao primitivo Hospital da Caridade, fundado por Thomé de Souza, em 1549, abrigou a primeira Escola de Medicina do Brasil, sediou a primeira transfusão de sangue da Bahia em 1915 e a primeira reunião da Liga Bahiana Contra o Câncer, em 1936. Hoje, certificado pelos ministérios da Educação e da Saúde como Hospital de Ensino, desenvolve de forma planejada atividades de pesquisa e é um dos principais centros formadores de saúde na Bahia, com 105 vagas anuais de residência médica, 270 de estágio e 200 de internato, além de convênio com sete instituições de ensino superior. As atividades de assistência, ensino e pesquisa fazem parte da rotina do nosso hospital. Estão em curso na instituição mais de quatro dezenas de protocolos de pesquisa que, em sua maioria, são estudos multicêntricos internacionais e nacionais. Queremos, no entanto, fazer ainda mais. Muito mais. Por isso, passo a passo, estamos expandindo nossas atividades com planejamento, perseverança e o envolvimento do corpo multiprofissional da instituição. É nesse contexto de expansão contínua que agora apresentamos com grande satisfação a publicação da Revista de Saúde do Hospital Santa Izabel. Tal iniciativa, responsavelmente gestada por uma equipe de competentes profissionais, habilmente liderada pelo Dr. Gilson Soares Feitosa, Diretor de Ensino e Pesquisa do HSI, certamente contribuirá na geração de novas descobertas e soluções eficientes, criativas e inovadoras à prática de uma assistência médica qualificada, resolutiva e sintonizada com o bem-estar da população. Por fim, desejo sucesso a essa publicação, que já nasce em processo de evolução, e reafirmo o compromisso da Santa Casa de Misericórdia da Bahia de contribuir na construção de um ambiente de inquietação intelectual, que agregue um número cada vez maior de profissionais interessados na área e favoreça a expansão do número de estudos e pesquisas realizados no hospital. Boa leitura a todos! Roberto Sá Menezes Provedor REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 7 EDITORIAL O lançamento da revista de saúde do Hospital Santa Izabel Autor: Gilson Soares Feitosa* “Entendida como um conjunto de conhecimentos acerca de parcelas maiores ou menores do todo universal, obtidos através da observação, da experimentação e/ou da elaboração mental, a ciência é um edifício do coletivo, cujos alicerces se perdem nos confins do tempo, mesmo para lá do gênero humano. Pedra sobre pedra, o seu fio condutor sempre foi e será a comunicação. Sem comunicação, o conhecimento científico não avança. Morre com quem o cria.” Prof. Carvalho, catedrático da Faculdade de Ciências de Lisboa. A Revista de Saúde do Hospital Santa Izabel é criada com o propósito de apresentar aos presentes, assim como deixar como legado para as gerações futuras o conhecimento da ciência da saúde como entendido pelos que vivem o cotidiano atual da nossa instituição, por meio de artigos de revisão contemporânea de aspectos nosológicos, ou pela conveniente documentação de artigos originais produzidos pela comunidade científica do HSI e publicados em revistas indexadas em bases nacionais e internacionais, ou pelo relato de casos especiais vivenciados em nosso hospital. Tratando-se ser, como é o caso, o Hospital Santa Izabel, um Hospital de Ensino reconhecido pelo Ministério da Saúde e pelo Ministério da Educação, é mister que se assim o faça, com participação editorial de todos os que compõem a comissão de residência médica e de residência multiprofissional da saúde do HSI e colaboração de todos os que aqui atuam e geram conhecimento. O projeto da criação da Revista de Saúde do Hospital Santa Izabel vem sendo acalentado há muitos anos. Tendo em vista sua projetada importância, planejou-se sua implantação de maneira muito cuidadosa, com a clara compreensão de que seu propósito é de ser perene, regular, confiável e acreditada por todos. Muitos têm sido os periódicos que pecam em sua execução pela falta de uma cuidadosa observação dos preceitos que possibilitam atingir os propósitos grandiosos que os originam. Assim se tornam inconstantes, irregulares, desacreditados e de curta sobrevivência. A concepção da Revista de Saúde do Hospital Santa Izabel é antiga, tendo-se esperado pelo momento certo em que se constituísse uma adequada massa crítica de conhecimento científico instalada entre nós, envolvendo vários setores que fazem pulsar o nosso hospital. Constatou-se a criação de serviços com protocolos elaborados e executados à máxima perfeição possível. Garan- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA tiu-se assim a prática assistencial, base fundamental das ações de saúde, que fornecessem ao HSI uma credibilidade interna e externa de excelência. Avançou-se no campo formador de médicos e de outros profissionais da saúde em bases sólidas e reputáveis. Todo o projeto foi apresentado, aprovado e incentivado pelo corpo diretivo do HSI e da alta gestão da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, de quem o Hospital Santa Izabel é parte indissolúvel. Agora, mãos à obra! Vamos traduzir em material impresso toda a energia contagiante que se irradia no dia a dia das atividades do nosso hospital, nessa amálgama de semblantes sérios, compenetrados, mas também solícitos, sorridentes, corteses, que se veem em nossos corredores, enfermarias, centros cirúrgicos, centros de apoio diagnóstico e terapêutico, numa profusão de ações que se complementam em prol do paciente. O Hospital Santa Izabel se transformou no desenrolar de sua longa existência num complexo nosocomial de grande espectro de atuação, atendendo a todas as exigências de complexidade que o nosso momento atual impõe. Sua incessante procura de qualidade e humanismo tem atraído profissionais de grande estirpe em todas as áreas de atendimento à saúde e particularmente no setor médico tem sido capaz de gerar e renovar seus quadros. Todo esse conjunto necessariamente condiciona à formação de aparelho formador de conhecimento e sua conveniente aplicação, no que se traduz pelo número de comunicações, trabalhos e ações institucionais que repercutem extramuros. A Revista de Saúde do Hospital Santa Izabel procurará documentar essas ações. * Editor RSHSI Endereço para correspondência: [email protected] 2014|8 Brito et al. Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 09-14 Atualização em Cardiologia Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST José Carlos Brito; Gilson S. Feitosa-Filho; Gilson Soares Feitosa Descritores: Reperfusão Miocárdica. Infarto do miocárdio. Key Words: Myocardial Reperfusion. Myocardial Infarction. Considerações gerais O infarto agudo do miocárdio com supradesnível de segmento ST (IAMCSST) é resultante habitualmente de uma oclusão completa e aguda de artéria coronária, caracteristicamente com trombo formado rico em fibrina e plaquetas, sobre uma placa ateromatosa previamente instável. Trata-se de uma das emergências mais frequentes, com alta letalidade e onde medidas rápidas precisam ser adotadas para salvar músculo cardíaco e a própria vida do paciente. De acordo com estimativas do Ministério da Saúde, no Brasil, anualmente ocorrem cerca de 300 mil casos de infarto agudo do miocárdio, causando 80 mil mortes. Dentre esses, segundo o Registro de Síndrome Coronária Aguda da Sociedade Brasileira de Cardiologia, 53,8% são de IAMCSST. Comumente os pacientes com IAMCSST são identificados pela queixa de dor precordial suspeita de angina, associada ou não a outras manifestações e ECG, mostrando uma elevação persistente do segmento ST acima de 1mm em duas derivações contíguas, salvo V2 e V3, onde habitualmente aceita-se acima de 1,5 a 2mm para os sexos feminino e masculino, respectivamente. Alternativamente, em casos de dor suspeita e a apresentação eletrocardiográfica de um bloqueio completo de ramo esquerdo novo ou supostamente novo deve em sala de emergência ser suficiente para tratar o paciente com IAMCSST, sem aplicação de critérios eletrocardiográficos adicionais. É universalmente aceito que a probabilidade de morte após IAMCSST é diretamente proporcional ao grau de disfunção ventricular esquerda determinada REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA pela extensão da necrose miocárdica. É também consensual que o restabelecimento da patência arterial limita a área de necrose e isso é tão mais benéfico quanto mais precoce for a reperfusão. A decisão da estratégia de reperfusão escolhida é influenciada, dentre outros critérios, pelo tempo de atendimento em cada caso. Encontra-se bem estabelecido que os pacientes com IAMCSST, com sintomas inferiores a 12 horas, são candidatos à reperfusão química ou mecânica, embora algumas considerações específicas mereçam ser feitas sobre os diversos componentes deste tempo de atendimento Trombolíticos versus desobstrução mecânica O estudo GISSI demonstrou, pela primeira vez, redução de mortalidade no IAMCSST com a administração de estreptoquinase por via endovenosa, igualando-se em resultados à prática inicial da administração intracoronária, o que obviamente enfrentava limitações pela necessidade de laboratório de hemodinâmica1. Posteriormente, o estudo PAMI demonstrou a efetividade da angioplastia coronária com cateter-balão na abertura mecânica da artéria responsável pelo infarto, prática que ganhou a expressão de angioplastia primária, cujos resultados tornaram-se ainda mais consistentes com o advento do stent, demonstrado no estudo PAMI – STENT 2,3. Ensaios recentes demonstram que a utilização de stents farmacológicos de segunda geração para tratamento de pacientes com IAMCSST, submetidos à in- 2014|9 Brito et al. Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 09-14 tervenção coronária percutânea primária (ICPP), reduz significativamente as taxas de nova revascularização do vaso alvo e da trombose tardia, quando comparados com os stents convencionais4. Assim, o restabelecimento do fluxo na artéria responsável pelo infarto, seja através de fibrinolíticos ou ICPP, está associado à redução da área de necrose e mortalidade, benefícios que são mais significativos quando utilizados mais precocemente. Comparada com a fibrinólise, e se realizada em tempo ideal, a ICPP é a terapia de escolha, alcançando elevadas taxas de reperfusão (superior a 90%), com Figura 1 - Metanálise de trombolítico versus angioplastia primária em IAMCSST significativo menor risco de hemorragia intracraniana, e benefícios na redução de mortalidade5,6,7. A importância da qualidade do atendimento para os melhores resultados na reperfusão Embora oferecendo, nitidamente, resultados superiores aos da trombólise, a ICCP apresenta reconhecidas limitações, necessitando laboratório de hemodinâmica disponível com programa de angioplastia primária (funcionamento 24 horas, equipe experiente e reduzido tempo porta-balão). Retardos no atendimento a pacientes com IAMCSST têm implicações e impacto negativo na mortalidade. O tempo total entre o início dos sintomas e a REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA realização da ICPP, chamado de retardo do tratamento, tem os seguintes componentes: - Retardo do paciente - É o tempo entre o início dos sintomas e a chamada do sistema médico de atendimento de emergência. - Retardo do sistema pré-hospitalar – Para pacientes encaminhados para um centro de ICCP, é o tempo entre a chamada do sistema de atendimento de emergência e a chegada ao centro de ICPP. Inclui o diagnóstico e o transporte direto para o centro terciário com ICCP e também o tempo total entre o atendimento inicial em centro de saúde sem ICPP e a transferência para um centro terciário. - Tempo porta-balão – É o tempo entre a chegada ao centro com ICPP e a desobstrução da artéria relacionada com o infarto (mais apropriadamente a recanalização 2014|10 Brito et al. Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 09-14 com a corda-guia). A tendência atual é de se denominar tempo-dispositivo, já que nem todos se utilizam do balão e quase todos terminam por colocação de stent. - Retardo do sistema – É o tempo total do sistema pré-hospitalar acrescido do tempo porta-balão (P-B). No melhor cenário, o paciente com sintomas tem acesso rapidamente a um hospital com programa de angioplastia primária, diretamente ou através do serviço móvel de atendimento de emergência, com tempo previsto entre o primeiro contato médico no hospital e a recanalização arterial (tempo P-B) de 90 minutos. Em diferentes registros, o tempo entre o início dos sintomas e a apresentação hospitalar é de ≥ 4 horas em 50% dos casos. O retardo é maior em mulheres, idosos, baixa condição socioeconômica e naqueles cujos sintomas ocorrem entre as 18 h e 06 h. Retardo no tempo P-B está relacionado a horários de atendimento e dias da semana, observando-se maior mortalidade hospitalar naqueles atendidos fora dos horários habituais de funcionamento do centro de ICPP e nos finais de semana8. Para pacientes com IAMCSST diagnosticados com ECG pré-hospitalar, que são transportados para centro com ICPP, um caminho para encurtar o tempo de reperfusão é levar o paciente diretamente para o laboratório de hemodinâmica, não passando pelo setor de emergência. A eficácia dessa estratégia foi analisada em estudo envolvendo 12.158 pacientes com IAMCSST, 10,5% dos quais não passaram pelo setor de emergência do hospital. O tempo do primeiro contato médico e a reperfusão mecânica foi mais curto nesses indivíduos comparado com aqueles que passaram pelo setor de emergência (68 vs 88 minutos; p< 0,0001) e uma tendência a menor mortalidade (2,7% vs 4,1%; OR ajustado 0,69, 95% IC 0,45-1,03). Duas recomendações estão contidas nessa estratégia: o paciente estar hemodinamicamente estável e ser recebido por médico capacitado para atendimento de pacientes críticos9. O tempo P-B guarda relação direta com a mortalidade hospitalar. Pacientes atendidos com tempo P-B > 90 minutos têm significativo aumento da mortalidade, comparado com o tempo P-B ≤ 90 minutos. Em relato analisando 29.222 pacientes com IAMCSST, tratados entre 1999-2002, dentro das primeiras seis horas de apresentação, observou-se relação direta entre elevação do tempo P-B e a mortalidade hospitalar (3,0%, 4,2%, 5,7% e 7,4% para o tempo P-B ≤ REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 90 minutos, 91 a 120 minutos, 121 a 150 minutos, e > 150 minutos respectivamente)10. Em avaliação sistemática envolvendo 1.440 pacientes com IAMCSST no período de 2006 a 2007 em Quebec, Canadá, o tempo P-B excedeu 90 minutos em 68%; morte, readmissão por infarto ou insuficiência cardíaca ocorreu em 13,6% em 1 ano. Mortalidade em 30 dias e 1 ano foi significativamente menor naqueles com o tempo P-B < 90 minutos, comparado com o tempo P-B mais elevado (3,4% vs 6,1%; OR 1,87, 95% IC 1,02-3,41 e 5,5% vs 9,1%; OR 1,71, 95% IC 1,06-2,76, respectivamente11. Na análise de 4.548 pacientes dos estudos CADILLAC e HORIZONS-AMI, o tempo P-B ≤ 90 minutos foi associado a taxas de mortalidade significativamente mais baixas em 1 ano, comparado com retardos maiores (3,1% vs 4,3% ; HR 0,72, 95% IC 0,52-0,99)12. Entretanto, a despeito da evidência de que o tempo P-B > 90 minutos está associado ao aumento de mortalidade, a redução do tempo aquém dessa meta não parece interferir significativamente nos resultados, sugerindo que outros retardos são importantes no contexto do atendimento ao paciente com IAMCSST. Essa constatação foi observada em mais de 100 mil pacientes levantados no United States Cath PCI Registry e National Cardiovascular Data Registry entre julho de 2005 e junho de 2009, cuja média de tempo P-B caiu de 83 minutos para 67 minutos, comparando-se os primeiros meses com os últimos doze meses: a despeito dessa significativa redução do tempo P-B não houve diferença significativa na mortalidade hospitalar (5,0% vs 4,7; p=0,34)13. O tempo P-B representa apenas um dos componentes do atendimento ao paciente com IAMCSST. Para pacientes atendidos primeiramente em hospitais sem facilidades de hemodinâmica o retardo do sistema tem múltiplos componentes com impacto negativo na mortalidade. A associação entre retardos no sistema de atendimento e mortalidade foi avaliada em estudo envolvendo 6.209 pacientes com IAMCSST, atendidos entre 2002 e 2006 pelo sistema público, em Western Denmark, Austrália. Aproximadamente, um terço dos pacientes foi triado para centros com ICPP e dois terços foram admitidos em centros primários e posteriormente transferidos para centros de ICPP. Nesse subgrupo, para retardos no atendimento de 0 a 60 minutos, 61 a 120 minutos, 121 a 180 minutos e 181 a 360 minutos, 2014|11 Brito et al. Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 09-14 a mortalidade com seguimento médio de 3,4 anos foi 15,4%, 23,3%, 28,1% e 30,8%, respectivamente13. Os piores resultados são observados em pacientes atendidos inicialmente em hospitais ou centros sem facilidades de hemodinâmica. Atrasos ocorrem mais frequentemente no setor de emergência do hospital primário e esperando o transporte e menos no hospital com ICPP. Esse tempo entre o atendimento no primeiro hospital e o encaminhamento para o centro com ICPP, conhecido como door-in to door-out (DIDO) time, deve ser menor que 30 minutos, de acordo com o ACC/AHA Clinical Performance Measures for Acute Myocardialinfarction, publicado em 200814. A relação entre o DIDO time e resultados foi avaliada em estudo em 15.000 pacientes com IAMCSST, que inicialmente foram atendidos em centro primários e foram subsequentemente transferidos para hospitais com programas de ICPP, participantes do Acute Coronary Treatment and Intervention Outcomes Network (ACTION) entre 2007 e 2010. Os critérios de exclusão foram: terapia fibrinolítica prévia, necessidade de ICP de resgate ou estratégia fármaco-invasiva. Observou-se os seguintes resultados: O DIDO time médio foi de 68 minutos, com somente 11% dos pacientes, alcançando DIDO time menor que 30 minutos. Preditores de DIDO time prolongado foram: idade avançada, sexo feminino, apresentação em horário fora da rotina (das 17 horas às 8 horas do dia seguinte) e atendimento em setores não emergenciais no primeiro hospital. Pacientes com DIDO time menor que 30 minutos tiveram tempo P-B significativamente menor (85 vs 127 minutos) e mortalidade hospitalar mais baixa ( 2,7 vs 5,9%)15,16. As diretrizes do American College of Cardiology Foundation/American Heart Association (2013), para manuseio de pacientes com IAMCSST, recomendam: 1) para pacientes que procuram ou são levados para hospitais sem facilidades de ICPP, o tempo entre o primeiro contato médico e a recanalização arterial deve ser de 120 minutos ou menos; 2) para pacientes que são encaminhados diretamente para centros com facilidades de ICPP, o tempo P-B é de 90 minutos ou menos (classe 1, nível de evidência A)14. Combinação de estratégias: trombólise e intervenção coronária percutânea primária (ICPP) REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Nos primórdios da terapêutica de reperfusão no infarto do miocárdio, quando o procedimento de infusão do trombolítico era por via intracoronária, pensou-se em aproveitar o ensejo do cateterismo e na complementação da trombólise com a angioplastia imediata. Os resultados foram piores do que os obtidos apenas com a trombólise. Essa observação afastou por muito tempo a ideia de se proceder com os dois procedimentos de forma complementar, exceto em casos selecionados de resgate por falha no uso do trombolítico. Na década passada, surgiram novos estudos testando a hipótese de sinergismo entre os dois métodos de reperfusão, estratégia conhecida como fármaco-invasiva. O estudo ASSENT – PCI comparou de forma randomizada ICPP imediatamente após fibrinólise, com ICPP padrão. Observou-se significante maior incidência de morte e AVC no grupo que realizou ICCP imediatamente após fibrinólise comparado com ICPP padrão (6,0% vs 3,0%; p=0,001 / 1,8% vs 0%; p<0,0001, respectivamente)17. O estudo TRANSFER-AMI randomizou 1.004 pacientes para estratégia fármaco-invasiva precoce, onde após o uso de fibrinolítico os pacientes eram transferidos imediatamente para centros com ICP e submetidos a cateterismo e ICP dentro de 6 horas, independentemente do estado de reperfusão, comparado com o tratamento padrão indicando angioplastia de resgate naqueles com falha de reperfusão e cateterismo eletivo e ICP após 24 horas. O desfecho primário composto (30 dias) de morte, reinfarto, ICC, isquemia recorrente severa e choque foi significativamente menor no grupo tratado pela estratégia fármaco-invasiva precoce, comparado com o tratamento padrão (10,6% vs 16,6%; p=0,0013)18. No mais recente deles, o estudo STREAM randomizou 1.892 pacientes com IAMCSST atendidos dentro de 3 horas do início dos sintomas e impossibilidade de realização de ICPP dentro de 1 hora, para a estratégia de fibrinólise seguida de coronariografia e ICP entre 6 e 24 horas, naqueles com critérios de sucesso na reperfusão (angioplastia de resgate imediata naqueles com insucesso), comparada com ICPP padrão. Não houve diferença significativa no desfecho primário composto de morte de todas as causas, insuficiência cardíaca congestiva, choque e novo infarto (12,4 % vs 14,3 %, respectivamente)19. 2014|12 Brito et al. Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 09-14 Conclusões 1. Pacientes com IAMCSST atendidos em hospitais com facilidades de ICP devem ser tratados por ICPP dentro da meta de 90 minutos do primeiro contato médico (Classe I, Nível de Evidência A). 2. Pacientes com IAMCSST atendidos em hospitais sem facilidades de ICP e que não podem ser transferidos em até 90 minutos do primeiro contato médico devem ser tratados por fibrinolíticos (Classe I, Nível de Evidência A). 3. O estudo STREAM sugere que, na impossibilidade de realização de ICPP dentro da primeira hora, a estratégia fármaco-invasiva com angiografia e ICP entre 6 e 24 horas, pode ter resultado semelhante ao da ICPP. in acute myocardial infarction: in-hospital and 30 day results of PAMI Stent Pilot Trial. J Am Coll Cardiol. 1998;31(1):23-30. 4. Perisic Z, Jagic N, Koolen J, Mavronasiou E, Ostojic M, Richard G, et al. Drug eluting stents whit biodegradable polymers in acute myocardial infarction. EuroPCR Paris, may 2011. 6. Weaver WD et al. Comparison of Primary Coronary Angioplasty and Intravenous Thrombolytic Therapy for Acute Myocardial Infarction: a quantitative review.JAMA. 1997;278:2093-2098. 7. Keeley EC, Boura JA, Grines CL. Primary angioplasty versus intravenous t hrombolytic therapy for acute myocardial infarction: a quantitative review of 23 randomised trials. Lancet. 2003;361(9351):13-20. Tal observação traz consigo valiosas implicações dadas às dificuldades concretas de aplicação da angioplastia no mundo real, já que poucos são os centros, como é o caso do Hospital Santa Izabel, que dispõe de recursos instalados para a realização da ICPP. 8. Magid DJ, Wang Y, Herrin J, McNamara RL, Bradley EH, Curtis JP, et al. Relationship between time of day, day of week, timeliness of reperfusion, and in-hospital mortality for patients with acute ST-segment elevation myocardial infarction. JAMA. 2005; 294(7):803-12. Por outro lado o transporte em tempo hábil para centros com a capacidade da ICPP nem sempre é realizável. 9. Vermeulen RP, Jaarsma T, Hanenburg FGA, Nannenberg JW, Jessurun GAJ, Zijlstra F. Prehospital diagnosis in STEMI patients treated by primary PCI: the key to rapid reperfusion. Neth Heart J. 2008;16(1):5-9. Surge assim, como uma enorme expectativa, a possibilidade da terapêutica fármaco-invasiva para tratamento do IAMCSST para os centros desprovidos da condição de realização de ICPP, porém habilitados ao uso conveniente do trombolítico e transporte para realização de cinecoronariografia entre 6 e 24h após o tratamento farmacológico. Referências 1. Gruppo Italiano per lo Studio dela Streptochinasine del infarto Miocardico (GISSI). Effectiveness of intravenous thrombolytic treatment in acute miocardial infarction. Lancet. 1986;1:397-401. 2. Grines CL, Browne KF, Marco J, et al. A Comparison of Immediate Angioplasty With Thrombolytic Therapy for Acute Miocardial Infarction. N Engl J Med. 1993;328:673-679. 3. Stone GW, Brodie BR, Griffin JJ,Morice MC, Costantini C, Goar FG, et al. A prospective, multicenter study of the safety and feasibility of primary stenting REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 10. MaNamara R, Wang Y, Herrin J, Curtis JP, Bradley EH, Magid DJ, et al. Effect of Door-to-Balloon time on Mortality in Patients with STEMI. J Am Coll Cardiol. 2006;47(11):2180-2186. 11. Lambert L, Brown K, Segal E, Brophy J, Rodes-Cabau J, Bogaty P. Association between timelines of reperfusion therapy and clinical outcomes in ST-elevation myocardial infarction. JAMA. 2010;303(21):21482155. 12. Brodie BR, Gersh BJ, Stuckey T, Witzenbichler B, Guagliumi G, Peruga JZ, et al. When is door-to-balloon time critical? Analysis from the HORIZONS-AMI (Harmonizing Outcomes with Revascularization and Stents in Acute Myocardial Infarction) and CADILLAC (Controlled Abciximab and Device Investigation to Lower Late Angioplasty Complications) trials. J Am Coll Cardiol. 2010;56(5):407-413. 13. Terkelsen CJ, Sorensen TJ, Maeng M,Jensen LO, Tilsted HH, Trautner S, et al. System Delay and Mortality Among Patients With STEMI Treated With Primary Percutaneous Coronary Intervention. JAMA. 2010;304(7):763-771. 2014|13 Brito et al. Estratégias de reperfusão no infarto do miocárdio com supra do segmento ST Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 09-14 14. O’Gara PT, Kushner FG, Chair V, Ascheim DD, Casey Jr DE, Chung MK, et al. 2013 ACCF/AHA Guideline for the Management of ST – Elevation Myocardial Infarction: a Report of the American College of Cardiology Foundation/American Heart Association Task Force on Practice Guidelines. Circulation. 2013;127:362-425. 15. Diercks DB, Kontos MC, Chen AY, Pollack CV Jr, Wiviott SD, Rumsfeld JS, et al. Utilization and Impact of Pre-Hospital Eletrocardiograms for Patients With Acute ST-Segment Elevation Myocardial Infarction. J Am Coll Cardiol. 2009; 53(2):161-6. 16. Wang TY, Brahmajee K. Nallamothu BK, Krumholz HM, Li S, Roe MT, et al. Association of Door-In to Door-Out Time With Reperfusion Delays and Outcomes Among Patients Transferred for Primary Percutaneous Coronary Intervention. JAMA. 2011;305(24):25402547. 17. 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Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 15-19 Atualização em Reumatologia Artropatia de Jaccoud: Da Febre Reumática ao Lúpus Mittermayer B. Santiago 1 RESUMO A Artropatia de Jaccoud (AJ) é caracterizada pela presença de deformidades similares àquelas classicamente vistas na artrite reumatoide (AR), tais como “pescoço de cisne”, desvio cubital, Z do polegar, dentre outras, mas que caracteristicamente são passíveis de correção à movimentação passiva. Também diferente do que ocorre na AR, na AJ as articulações deformadas geralmente não apresentam erosões à radiografia simples. A primeira descrição dessa artropatia ocorreu há mais de um século em um paciente com febre reumática (FR) e logo depois algumas séries foram publicadas em pacientes com FR e posteriormente em pacientes com lúpus eritematosos sistêmico (LES). Como a FR tem se tornado rara, atualmente a AJ é vista quase que exclusivamente em LES. Tanto na FR quanto no LES, a prevalência dessa complicação gira em torno de 5%. Na AJ reconhece-se a presença de sinovite e tenossinovite nas articulações acometidas, mas, a despeito de muitos esforços, ainda não há um mecanismo etiopatogênico conhecido para o desenvolvimento dessa complicação. Do mesmo modo, pouco se sabe sobre a melhor intervenção terapêutica. Um estudo recentemente desenvolvido no nosso serviço demonstrou um nível sérico maior de interleucina 6 em paciente lúpicos com AJ, comparado com aqueles sem AJ, abrindo-se, assim, em teoria, uma perspectiva terapêutica para tais pacientes com o eventual uso de moléculas biológicas inibidoras dessa citocina. Descritores: Lúpus vulgar. Febre reumática. Artropatia de Jaccoud. Key Words: Lupus Vulgaris. Rheumatic Fever. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA INTRODUÇÃO A primeira descrição de uma artropatia deformante, secundária à febre reumática (FR), foi feita pelo médico François-Sigismond Jaccoud, em 18691. Por essa razão, tal complicação ficou conhecida como “Artropatia de Jaccoud” (AJ). Logo ficou constatado que essa não era uma complicação articular específica da FR, sendo descrita em outras doenças, particularmente em lúpus eritematoso sistêmico (LES)2. Em ambas as doenças calcula-se que a prevalência de AJ seja em torno de 5%3. Uma vez que atualmente a FR tem se tornado rara, a maioria dos casos de AJ vista no presente momento está associada ao LES, embora casos isolados dessa artropatia tenham sido descritos nas mais variadas condições, incluindo síndrome de Sjogren4, dermatomiosite5, esclerodermia6, sarcoidose7, infecção pelo HIV8 e até mesmo na ausência de doença associada, numa forma curiosa vista no idoso e denominada de AJ da senescência9. ASPECTOS CLÍNICOS DA AJ Uma vez que as deformidades articulares vistas na AJ lembram bastante aquelas da artrite reumatóide (AR), é de primordial importância a identificação dessa condição, para que sejam evitados diagnóstico e tratamento inadequados. Assim, as deformidades mais comuns da AJ são vistas nas mãos, como o desvio ulnar, o pescoço de cisne, o “z” do polegar, embora outras articulações possam ser envolvidas, como os joelhos, ombros e as articulações dos pés10. A característica clínica que classicamente diferencia a AJ das deformidades da AR é a sua “reversibilidade”, ou seja, as articulações voltam à sua posição normal à movimentação 2014|15 Santiago, MB. Artropatia de Jaccoud: Da Febre Reumática ao Lúpus Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 15-19 passiva. Porém, o termo “reversível” para designar a AJ, embora muito utilizado na literatura, parece inadequado, pois, uma vez essa complicação instalada, não volta mais ao normal. Daí, parece mais adequado o uso da expressão “redutível” à movimentação passiva. Por outro lado, em casos de AJ de longa evolução e com avançado grau de fibrose das partes moles, como bainha de tendões e cápsulas, além da atrofia muscular e contratura pelo desuso, pode haver uma importante limitação dessas articulações deformadas, impedindo a sua completa movimentação, mesmo passivamente, sendo responsável por uma piora considerável na qualidade de vida do paciente3. Um aspecto bastante curioso na AJ é que não necessariamente existe uma relação direta entre a agressividade da artrite e o desenvolvimento dessa complicação. Isso é particularmente visto em AJ associada à FR, onde muitos pacientes têm dificuldade de lembrar a existência prévia de artrite naqueles sítios onde apresentam as deformidades, que geralmente são as mãos. Nesse contexto, como explicar a presença de AJ nas mãos dos pacientes com FR, quando essa doença geralmente acomete as grandes articulações? Recentemente, uma revisão sistemática sugeriu que a AJ seria um fator predisponente para o desenvolvimento de ruptura espontânea de tendões em pacientes com LES11. De fato, embora essa seja uma complicação rara em LES, dos 55 casos descritos, 16 tinham AJ concomitante (29%). O racional para isso é a demonstração de presença frequente de tenossinovite em AJ e assim um potencial para enfraquecimento dos tendões e posterior ruptura. Embora existam alguns estudos em LES associando a presença da AJ com o tempo de doença12, isso é matéria de controvérsia, pois apenas uma minoria de pacientes com LES pode desenvolver JA a despeito de longa duração da doença. eixo das articulações metacarpo-falangeanas, quando avaliadas por um goniômetro14. Posteriormente, van Vugt et al. propuseram uma classificação alternativa das deformidades de mãos em pacientes com LES: aqueles pacientes com “artropatia deformante”, segundo a definição de Alarcon-Segóvia, eram então classificados como portadores de artropatia erosiva ou não erosiva, baseados na presença ou não de erosões ao exame radiológico. O subgrupo com artropatia não erosiva era subclassificado como AJ definitiva ou artropatia deformante discreta15. Mais recentemente desenvolvemos uma proposta de critérios de classificação para AJ, tomando como base a definição de Bywaters, mas acrescentando outros dados16: 1) Deformidades articulares típicas, tais como pescoço de cisne, subluxação do polegar, desvio ulnar, casa de botão, genu recurvatum, hálux valgo e pés chatos, que são corrigíveis em uma posição passiva. 2) Presença ou antecedentes de inflamação articular nas articulações deformadas, independentemente de sua intensidade ou etiologia (FR, LES etc). 3) Ausência de deformidades semelhantes em outros membros saudáveis da mesma família. 4) Não erosão em radiografias simples, independentemente da constatação de erosões na ressonância magnética (RM) ou exame de ultrassom de alta performance. A razão pela qual os itens 2 e 3 foram incluídos é a constatação de deformidades reversíveis em mãos de alguns indivíduos sem nenhuma doença associada, como uma característica fenotípica individual. Por vezes, os outros membros da mesma família podem ter tais deformidades. Nestes casos, geralmente as outras articulações não são acometidas. À PROCURA DE CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO MECANISMOS ETIOPATOGÊNICOS AINDA NÃO DEFINIDOS A primeira classificação de AJ foi realizada por Bywaters, se referindo a pacientes com FR. Esses critérios incluíam a história de FR, deformidades reversíveis, ausência de erosões ao raio x e negatividade do fator reumatoide13. De longa data é conhecido que as deformidades vistas na AJ são secundárias a anormalidades dos tecidos moles como frouxidão dos ligamentos e cápsula articular e desequilíbrio muscular. Há também sinovite menos agressiva que na AR e tenossinovite. No que se refere a LES, Alarcon-Segovia et al, propuseram a definição de “artropatia deformante de mãos” considerando apenas a presença de desvio do O papel da hipermobilidade articular na predisposição para o desenvolvimento da AJ tem sido motivo de controvérsia com estudos mostrando uma associação REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|16 Santiago, MB. Artropatia de Jaccoud: Da Febre Reumática ao Lúpus Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 15-19 positiva17 e estudos não encontrando uma maior hipermobilidade articular nessa condição18. Outro mecanismo ainda menos convincente seria a presença de hiperparatiroidismo secundário à insuficiência renal, que levaria à frouxidão ligamentar e tendínea por estimular a produção de colagenase19. No entanto, isto não parece ser justificar à artropatia, pois a maioria dos pacientes com AJ não tem insuficiência renal. Recentemente apresentamos no “4th Latin American Congress on Autoimmunity” os resultados de uma pesquisa desenvolvida no nosso serviço, em parceria com o Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal da Bahia: pacientes com diagnóstico de LES foram divididos em dois grupos, um com AJ (n=18) e um grupo controle sem AJ (n=62). Foram testados a velocidade de sedimentação de hemácias, proteína C-reativa (PCR), níveis de C3 e C4, anticorpos antinucleares, anticorpos anti-DNA e os níveis séricos de IL-2, IL-6, IL-10, IL-21, IL-22 e TNF-α. Os níveis séricos de TNF-α IL-2, IL-10, IL-21 e IL-22 não foram significativamente diferentes entre os dois grupos (p > 0,05 ), mas o nível de IL-6 foi maior no grupo com AJ (p< 0,001 ). Embora esses resultados preliminares não permitam estabelecer uma conexão direta entre a IL-6 e o desenvolvimento de AJ, eles lançam a ideia de que são necessários novos estudos para explorar o potencial benefício do bloqueio da IL-6 nessa complicação clínica20. CARACTERÍSTICAS RADIOLÓGICAS DA AJ Caracteristicamente, a radiografia simples de articulações na AJ revela deformidades e subluxações, sem as erosões clássicas vistas em pacientes com AR. No entanto, através da utilização de métodos de imagem mais refinados, como RM e ultrassom de alta resolução, é possível se observar pequenas erosões. Em um estudo realizado no nosso meio, 20 pacientes com LES e AJ (19 mulheres e um homem) foram estudados por RM e um total de 300 articulações foram avaliadas. Nesse estudo, algum grau de sinovite foi observada em 67,3%, tenossinovite em 38,5% e em dezesseis de 300 articulações analisadas (5,3%) foram vistas pequenas áreas de erosão21. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA MANUSEIO DA AJ Uma vez instaladas as deformidades da AJ, poucas são as opções terapêuticas. O uso de órteses e a realização de fisioterapia não têm mostrado resultados satisfatórios na nossa experiência. Estamos realizando um estudo piloto com a utilização de bandagem elástica, na tentativa de melhorar a função articular, com resultados preliminares aparentemente satisfatórios. Diferente do que ocorre na AR, há muito pouca experiência quanto à realização de cirurgia através do realinhamento dos tendões para a correção das deformidades da AJ. Nos poucos casos que acompanhamos, os resultados foram frustrantes. Assim, em teoria, parece que a melhor estratégia seria identificar aqueles pacientes com potencial para o desenvolvimento da AJ através de marcadores genéticos ou perfil de citocinas, e assim intervir precocemente e de maneira mais agressiva antes do desenvolvimento das deformidades. PERSPECTIVAS Tomando como base a informação de que a deficiência de tenascina está associada à síndrome de Ehlers–Danlos22, que é uma condição hereditária associada à hipermobilidade articular, desenvolvemos um projeto de pesquisa para estudar se há um menor nível sérico dessa proteína e se ocorreria mutação do seu gene em pacientes com AJ. Outro projeto de pesquisa a ser desenvolvido é a avaliação do valor da quimiocina CX-CL13 como marcador de atividade articular em pacientes com AJ. O racional para tal estudo é a observação de uma associação dos níveis séricos dessa quimiocina com o grau de sinovite em pacientes com AR, quando avaliados por ultrassonografia. AJ COMO LINHA DE PESQUISA NA BAHIA Nos últimos anos temos nos interessado pelo estudo da AJ, particularmente em pacientes com LES, definindo o perfil clínico e as suas eventuais associações, propondo critérios de classificação e buscando entender os mecanismos etiopatogênicos que podem ajudar a definir uma estratégia terapêutica efetiva no futuro, como pode ser verificado na nossa extensa lista de publicações sobre o tema. 2014|17 Santiago, MB. Artropatia de Jaccoud: Da Febre Reumática ao Lúpus Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 15-19 REFERÊNCIAS 1. Jaccoud FS. Sur une forme de rhumatisme chronique: lecions de clinique medicale faites a l’Hopital de la Charite. Paris: Delahaye; 1869. p. 598-616. 2. Manthorpe R, Bendixen G, Schioler H, Viderbaek A. Jaccoud’s syndrome. A nosographic entity associated with systemic lupus erythematosus. The Journal of rheumatology 1980;7(2):169-77. Epub 1980/03/01. 3. Santiago MB, Galvao V. 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Magnetic resonance imaging of Jaccoud’s arthropathy in systemic lupus 2014|18 Santiago, MB. Artropatia de Jaccoud: Da Febre Reumática ao Lúpus Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 15-19 erythematosus. Joint, bone, spine : revue du rhumatisme. 2010;77(3):241-5. Epub 2010/04/02. 22. Callewaert B, Malfait F, Loeys B, De Paepe A. Ehlers-Danlos syndromes and Marfan syndrome. Best practice & research Clinical rheumatology 2008;22(1):165-89. Epub 2008/03/11. 1- Serviço de Reumatologia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|19 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 Atualização em Endocrinologia Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Alina Coutinho Rodrigues Feitosa RESUMO Durante a gravidez, importantes modificações metabólicas preparam a mulher para a gestação e a amamentação e proveem energia e ambiente para sustentação e desenvolvimento da unidade fetoplacentária. Alterações na composição corpórea e no metabolismo de carboidratos e lípides podem provocar aumento nas concentrações de triglicérides, colesterol e frações e resultam na hiperlipidemia gestacional fisiológica. Quando as concentrações de triglicérides e colesterol ultrapassam o percentil 95 para idade materna e gestacional é denominado dislipidemia e podem haver complicações materno-fetais. A dislipidemia está associada a hipertensão, obesidade, diabetes e aumenta o risco de parto pré-termo, neonatos grandes para a idade gestacional, hipertensão induzida pela gestação e pré-eclâmpsia. Apesar de a avaliação do perfil lipídico ser de fácil realização por exame laboratorial de baixo custo, a dislipidemia na gestação é frequentemente negligenciada. A falta de diretrizes que indiquem a forma de rastreamento é, possivelmente, uma das explicações. Descritores: Transtornos do Metabolismo dos Lipídeos. Dislipidemias. Gravidez. Key Words: Lipid Metabolism Disorders. Dyslipidemias. Pregnancy. INTRODUÇÃO O metabolismo lipídico é complexo e envolve diversos órgãos e sistemas. A síntese, circulação, modifica- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA ção e depuração de lipoproteínas alteram-se conforme o estado alimentar, tipo de dieta, composição corpórea, hormônios, citocinas, patologias, idade e gênero. No homem e na mulher não gestante esses sistemas complexos se complementam e interagem a partir de substratos lipídicos e proteínas de transferência de lípides, produzindo as lipoproteínas quilomícrons, LDL, HDL e VLDL, que realizam trocas entre si, e os tecidos desempenhando essencial papel na síntese de membranas, depósitos energéticos, transporte reverso de colesterol e síntese hormonal. Na gestação, o processo fica ainda mais dinâmico, pois a unidade fetoplacentária, em crescimento, promove, na mãe, modificações sistêmicas mediadas por hormônios placentários e ovarianos, citocinas, fatores de crescimento e alterações na sensibilidade à insulina que resultam em alterações em vários órgãos, modificando o perfil lipídico na gestação. A hiperlipidemia é fisiológica e as concentrações de colesterol total e triglicérides podem aumentar em 25 a 50% e em até 400%, respectivamente1,2,3,4,5,6. Define-se, no entanto, como portadora de dislipidemia, a gestante que tem elevação acima do percentil 95 de colesterol e triglicerídios, considerando-se o trimestre1. Valores de referência por trimestre são usados para caracterizar a dislipidemia na gestação1,7. A dislipidemia é condição clínica importante na gestação, pois está associada a fatores de risco como hipertensão, obesidade8 e diabetes9 e aumenta o risco de complicações maternas e fetais, como hipertensão induzida pela gestação, parto pré-termo, neonatos grandes para a idade gestacional10 e pré-eclâmpsia9,10. Apesar de a avaliação do perfil lipídico ser de fácil realização por exame laboratorial de baixo custo, a dislipidemia na gestação é frequentemente negligenciada, 2014|20 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 devido, possivelmente, à falta de diretrizes que indiquem a forma de rastreamento desta morbidade; pelo desconhecimento por parte da equipe de atendimento do impacto da dislipidemia na gestação e no concepto e pela ausência de valores de referência brasileiros que estabeleçam os pontos de corte definidores de dislipidemia na gestação. METABOLISMO LIPÍDICO E A RELAÇÃO COM OS HORMÔNIOS MATERNO-PLACENTÁRIOS E UNIDADE FETAL As modificações no metabolismo lipídico durante a gravidez são mediadas por hormônios e citocinas que influenciam nas concentrações e composição de lípides e lipoproteínas. De forma didática, a gestação pode ser dividida, metabolicamente, em duas fases: “anabólica” e “catabólica”11. A fase “anabólica” ocorre no início da gravidez e é caracterizada pela hiperfagia com aumento do peso e gordura corporais e lento crescimento fetal. A fase “catabólica” inicia-se, aproximadamente, na metade do segundo trimestre. É caracterizada por um rápido crescimento fetal, sustentado pela mobilização das reservas adiposas da mãe e desvio de glicose e outros substratos energéticos da mãe para o feto11. Na fase anabólica, ocorre aumento progressivo dos hormônios estrógenos (E) e progesterona (PG), que, desde o início da gestação, promovem alterações no metabolismo energético por agir no pâncreas, nos depósitos gordurosos, no fígado, nas proteínas de transferências de lípides e nas enzimas do metabolismo lipídico. Os hormônios E e a PG estimulam a hipertrofia e hiperplasia das células beta pancreáticas, resultando em aumento nas concentrações de insulina em jejum e pós-prandial12. Nesta fase há aumento da sensibilidade periférica à insulina com melhora na captação de glicose nos tecidos adiposo e muscular13. Este aumento relativo na sensibilidade à insulina mantém o combustível energético para os músculos e tecido adiposo13, estimula a atividade da lipase lipoproteica (LLP) no tecido adiposo14 e diminui a atividade da LLP placentária15. O estrógeno reduz a atividade da lipase hepática16 e aumenta a síntese das VLDL ricas em triglicérides pelo fígado17. Os resultados metabólicos desta primeira fase são: a) aumento na captação de glicose nos tecidos periféricos com redução da glicemia na mãe18; b) aumento das HDL2, ricas em triglicérides, devido à redução da atividade da lipase hepá- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA tica19; c) hidrólise de triglicérides nas partículas LDL, devido ao aumento da atividade da LLP; d) aumento da lipogênese, devido à maior disponibilidade de ácidos graxos livres para o tecido proveniente da hidrólise das lipoproteínas em ácidos graxos livres e glicerol pela LLP; e) aumento da síntese de VLDL no fígado pelos hormônios estrógenos16. O primeiro trimestre e a primeira metade do segundo trimestre são denominados de fase “anabólica” materna, devido ao aumento nos depósitos energéticos da mãe. Durante a fase “catabólica”, o desenvolvimento fetal é acelerado em razão da maior disponibilidade energética neste período, pois haverá utilização das reservas lipídicas maternas e desvio de glicose do eixo materno para o fetal. É o denominado “anabolismo facilitado”20, que garante substrato para o desenvolvimento fetal. A partir da metade do segundo trimestre, elevação progressiva nos hormônios E, PG, somatotrofina coriônica humana (SCH), prolactina (PRL), cortisol (F) e glucagon (G) promovem inúmeras alterações metabólicas. Os E induzem a síntese de VLDLs e HDLs, aumentando as concentrações a partir da 8ª e 12ª semanas, respectivamente. Devido à hiperplasia e hipertrofia de células beta pancreáticas, a insulinemia na gestante está cerca de duas vezes mais elevada que em não grávidas21, porém ocorre aumento da resistência à insulina22. Os mecanismos que explicam a progressiva RI ainda não estão totalmente esclarecidos, porém importante contribuição é atribuída aos hormônios PG, SCH, F, PRL e ao TNF-alfa23,24,25, que são responsáveis por causar defeitos na ligação da insulina ao seu receptor (PG e F) e na sinalização pós-ligação (PG, SCH, F e PRL)24. O TNF-alfa eleva-se progressivamente apresentando pico em fase tardia da gestação e é um fator preditor independente para o desenvolvimento de RI25. A RI é progressiva e pode ser tão intensa quanto a encontrada em portadores de diabetes mellitus do tipo 218,26. A RI induz as várias alterações metabólicas: a) no tecido adiposo há aumento da lipólise, com liberação de ácidos graxos e glicerol, o que serve como substrato para síntese de VLDLs hepáticas e fornece combustível alternativo para o consumo materno através da beta oxidação de gorduras e formação de cetonas27, poupando carboidratos e aminoácidos para o feto23; b) no fígado há aumento de produção hepática de glicose por gliconeogênese28 e formação de cetonas a partir da beta oxidação de gordura; c) o aumento da atividade da enzima de transferência de ésteres de colesterol 2014|21 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 (CETP) promove enriquecimento das partículas LDL, VLDL e HDL com triglicérides29 . As ações anti-insulínicas dos hormônios PG, SCH, F, PRL em tecidos periféricos e fígado resultam em aumento da RI periférica e desvio de glicose e substrato energético alternativo para o crescimento da unidade fetoplacentária. As proteínas de transferências de lípides e enzimas do metabolismo lipídico nesta fase têm ações variáveis, a depender do estado alimentar da mãe30, se em jejum ou pós-prandial, e também a depender do trimestre da gestação, resultando em expressivo impacto no metabolismo lipídico. Durante o jejum materno prolongado, a atividade da LLP hepática aumenta, promovendo, através da beta oxidação de ácidos graxos, a síntese de corpos cetônicos, beta-hidroxibutirato e acetoacetato, que são utilizados como fonte alternativa de energia para o feto, quando o suprimento de glicose é baixo23. No estado pós-prandial (estado alimentado) há redução da atividade da LLP no tecido adiposo e no fígado, que resulta em redução da depuração de triglicérides com aumento dos TG na circulação. O fígado torna-se aceptor de TG circulantes, utlizando-os como substratos para cetogênese30. Há aumento da atividade da LLP placentária, que promove a captação preferencial dos triglicérides e ácidos graxos livres pela placenta e mama23. No terceiro trimestre, a atividade da LLP diminui, devido a RI, e a captação do glicerol e ácidos graxos pelo tecido adiposo diminuem, sobrevindo a atividade lipolítica. Este catabolismo do tecido adiposo é acentuado pela RI nesta fase. O aumento na concentração de ácidos graxos e glicerol na circulação é usado, no fígado, para a síntese de triglicérides; o glicerol pode ser usado para a síntese de glicose, via gliconeogênese; e os ácidos graxos livres, para a beta oxidação e cetogênese. Essas alterações metabólicas garantem suprimento e combustível fetal em condições no estado pós-alimentar e, principalmente, no jejum materno31. O resultado das diversas modificações hormonais no metabolismo lipídico da gestante fica evidente nas concentrações de lípides e lipoproteínas que variam no curso da gestação. O nadir do colesterol total, LDL e triglicérides ocorre por volta da oitava semana9,32. A diminuição dos lípides e lipoproteínas neste período é devido à utilização do colesterol pela placenta para síntese de esteróides e dos ácidos graxos, para a oxidação placentária e formação de membranas. No segundo e terceiro trimestres, o colesterol total, LDLc, HDLc, VLDLc e TG elevam-se progressivamente, com pico no terceiro trimestre, alcançando elevações REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA de até 50% no colesterol e até 400% nos triglicérides1,2,3,4,5,6,9,32. Além das modificações quantitativas, a qualidade das lipoproteínas e lípides séricos maternos também está alterada, pois há o enriquecimento das partículas LDL e HDL com triglicérides no primeiro e no segundo trimestres. PREVALÊNCIA DE DISLIPIDEMIA E FATORES DE RISCO Não é conhecida a prevalência da dislipidemia em gestantes brasileiras. Em mulheres brasileiras não gestantes, com mediana de idade de 35 ± 10 anos, acima, a prevalência estimada de hipercolesterolemia é de 42%33. Durante a gravidez, no entanto, alguns fatores estão relacionados à dislipidemia durante a gestação: História prévia e familiar de dislipidemia História materna de dislipidemia prévia à gestação ou de tratamento para esta condição aumenta a chance de desenvolvimento de elevação severa nos lípides maternos. Em portadoras de dislipidemia familiar, como hipercolesterolemia primária monogênica ou hipertrigliceridemia familiar, é esperada elevação extrema das concentrações de colesterol e triglicérides34 e maior magnitude da elevação35. Obesidade A obesidade na gestação pode ser pré-gestacional ou acontecer durante a gestação, por excessivo ganho de peso. Cerca de 52,3% das gestantes excedem o ganho recomendado36, especialmente aquelas com sobrepeso e obesidade pré-gestacional. Obesidade está associada a comorbidades metabólicas como, dislipidemia em não grávidas e durante a gestação; obesas têm concentrações de triglicérides 37% mais elevadas e de HDL 10% menores que as não obesas8. Diabetes gestacional e pré-gestacional A concentração de triglicérides em portadoras de diabetes gestacional é mais elevada que as sem diabetes37,38,39 e encontra-se com mais frequencia a hipertrigliceridemia40. Em portadoras de diabetes pré-gestacional, em uso de insulina, menores concentrações de colesterol são encontradas durante a gestação41. 2014|22 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 IMPORTÂNCIA DA DISLIPIDEMIA NA GESTAÇÃO: ASSOCIAÇÃO COM COMORBIDADES E COMPLICAÇÕES Elevação das concentrações de lípides na gestação pode ser prejudicial para a mãe e para o feto. A consequência da ausência de diagnóstico e atraso no tratamento específico da dislipidemia pode ser fatal. As alterações lipídicas na gestação podem associar-se a morbidades com variados graus de severidade, como a pancreatite aguda42, pré-eclâmpsia43, macrossomia, parto pré-termo44, aterosclerose e reprogramação genética fetal, comprometendo a genitora e o concepto. Complicações associadas à dislipidemia na gestação: Pancreatite A hipertrigliceridemia está presente em mais de 50% dos casos de pancreatite na gestação 42 e não é conhecida, até o momento, se a hipertrigliceridemia é um epifenômeno ou tem relação direta causal com o evento. A pancreatite aguda é caracterizada por inflamação do pâncreas, podendo haver destruição tecidual e necrose e é acompanhada de significativo comprometimento sistêmico. A incidência da pancreatite na gravidez varia de 1 para 1.000 a 10.000 nascimentos e acompanha-se de elevada mortalidade materna (20%) e fetal (21%)45. O risco de pancreatite é diretamente proporcional à elevação dos triglicérides e torna-se mais elevado quando as concentrações estão acima de 1000mg/dl45. Pré-eclâmpsia A hiperlipidemia da gestação está associada ao desenvolvimento de pré-eclâmpsia (PE)43,46. Elevação dos triglicérides, LDL e redução do HDL relacionam-se ao desenvolvimento de PE, podendo predizer esta morbidade no início do segundo trimestre. Mulheres que desenvolvem PE têm concentrações 10,4% e 13,6% maiores de LDL e TG e 7% menores de HDL. Colesterol total maior que 205mg/dl e TG maior que 133mg/dl na 13ª semana de gestação associou-se a aumento de risco em 3,6 e 4,15 vezes de desenvolver PE em um estudo46. Parto pretermo Colesterol elevado, LDL e triglicérides moderadamente elevados na metade da gestação estão associados com o aumento de risco de parto prematuro44. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Macrossomia fetal Macrossomia fetal é definida como peso maior que 4000g em fetos a termo ou o percentil de peso acima de 90% para a idade gestacional. A macrossomia fetal está relacionada a risco materno de parto cesário, lacerações genitais, hemorragia pós-parto, rutura uterina e risco fetal traumático, como distocia de ombro e risco metabólico, como obesidade, intolerância glicose, síndrome metabólica e aterogênese47. Os triglicérides mensurados no terceiro trimestre estão positivamente associados com peso ao nascer e neonatos grandes para a idade gestacional em gestantes sem diabetes gestacional1, as com rastreamento positivo para diabetes gestacional1,39 e as portadoras de DMG1,48. Aterosclerose fetal Estudos têm demonstrado forte correlação entre número e tamanho de lesões ateroscleróticas em artérias fetais humanas com as concentrações de colesterol maternas49,50. O impacto da dislipidemia materna no desenvolvimento de lesões no feto acontece mesmo em situações de dislipidemia transitória na gestação, embora em menor intensidade que em gestantes com dislipidemia prévia à gravidez50. A hipercolesterolemia materna durante a gestação também está relacionada ao desenvolvimento e progressão das lesões ateroscleróticas na infância51. O estudo FELIC52 analisou segmentos da aorta de 156 crianças normocolesterolêmicas entre 1 e 13 anos, observando relação positiva entre a exposição fetal à hipercolesterolemia materna e maior incidência de lesões ateroscleróticas durante a infância e progressão mais rápida dessas lesões após o nascimento, mesmo em condições de normocolesterolemia pós-natal52. Reprogramação fetal O ambiente ao qual o feto está exposto tem papel fundamental em seu desenvolvimento53. A influência do ambiente intrauterino no organismo fetal ocorre devido a enorme plasticidade dos tecidos fetais durante o período de diferenciação e crescimento. A teoria da reprogramação fetal ou reprogramação epigenética53 defende que adaptações endócrinas, metabólicas e alterações genéticas no feto, decorrentes de estímulos intrauterinos permanecerão no indivíduo por toda a vida. 2014|23 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 A exposição de fetos à hipercolesterolemia materna, mesmo que transitória, está associada à maior chance de desenvolvimento de aterogênese no feto50,52,54 e na infância52. A evidência de que a hipercolesterolemia materna é capaz de aumentar a susceptibilidade à aterosclerose na vida adulta tem sido demonstrada em modelos experimentais com animais54. Ainda não está bem estabelecido se a exposição à dislipidemia na vida intrauterina é capaz de determinar, no ser humano, alterações definitivas (efeito epigenético), que predisporão à aterosclerose futura por modificações gênicas no sistema vascular. Entretanto, a exposição às elevadas concentrações de colesterol durante a gestação parece reprogramar o controle da homeostase do colesterol no fígado dos fetos, levando a hipercolesterolemia nos adultos nascidos de mães hipercolesterolêmicas55. DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO O diagnóstico da dislipidemia na gestação é feito por meio da avaliação do perfil lipídico após jejum, de 12 horas. Não há consenso sobre o rastreamento desta patologia em grávidas. Algumas associações médicas orientam sobre a importância da avaliação do perfil lipídico durante a gestação no segundo e no terceiro trimestre, em grupos com maior risco de desenvolvimento de dislipidemia, como as portadoras de diabetes pré-gestacional e gestacional, obesas, aquelas com excessivo ganho de peso na gestação e as com história prévia ou história familiar de dislipidemia. A utilização de tabelas com distribuição normal de lípides por trimestre é essencial para definir a dislipidemia na gestação e possibilitar a instituição do tratamento, se necessário. Não há evidências para tratar a hiperlipidemia fisiológica da gestação. As raras condições familiares e genéticas, em geral, podem cursar com dislipidemias severas e exigem abordagem especial. Os tratamentos existentes baseam-se em evidências provenientes de relatos e séries de casos, revisões e opiniões de especialistas. Recomenda-se que o tratamento da dislipidemia na gestante seja feito por equipe multidisciplinar, composta por nutricionista, endocrinologista e obstetra56. A terapia inclui a dieta com restrição de gorduras e carboidratos, controle do ganho de peso, ácidos graxos ômega 3, colesevelam e, em situações especiais, fibratos, heparina, insulina e procedimentos de plasmaREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA férese (vide tabela 1). O tratamento a ser instituído irá depender do tipo da dislipidemia, da severidade e de eventuais complicações concomitantes. A hipertrigliceridemia pode ser ameaçadora à vida materna e fetal por complicações agudas e exige uma abordagem específica. Já os efeitos da hipercolesterolemia durante a gravidez são mais sutis e necessitam ser explorados em estudos longitudinais em coortes de portadoras de hipercolesterolemia familiar. Tem sido sugerido que a hiperlipidemia materna pode induzir à aterosclerose aguda das artérias espirais útero-placentárias que, em conjunto com a hipercoagulabilidade, podem resultar em trombose local e infartos placentários, levando à insuficiência placentária e subsequente comprometimento fetal57. Controle do peso O Instituto de Medicina (IOM) recomenda que o ganho de peso seja baseado no índice de massa corpórea (IMC) pré-gestacional (PG). Em mulheres com IMC-PG baixo recomenda-se ganho de 16 a 18kg; naquelas com IMC-PG normal, entre 11,5 e 16kg; naquelas com sobrepeso PG, entre 7 e 11,5kg, e nas portadores de obesidade PG, entre 5 a 9kg58. Essas recomendações, no entanto, não foram delineadas especificamente para portadoras de doenças metabólicas, como o diabetes e a dislipidemia, sendo que, no caso do diabetes, o menor ganho de peso pode ser benéfico59. Na ausência de orientações específicas para a dislipidemia, é recomendável que o controle de peso seja rigoroso, visto que resistência à insulina, induzida pela obesidade, contribui para a piora do perfil lipídico. Embora existam evidências, em mulheres portadoras de diabetes mellitus gestacional e do tipo 2, que o ganho inferior ao limite mínimo recomendado pelo IOM resulte em melhor controle metabólico59, peso fetal mais proporcional e menos morbidade perinatal60, não há estudos delineados especificamente para avaliar o ganho de peso ideal para portadoras de dislipidemia. O sustrato fisiopatológico de aumento de resistência à insulina é semelhante no diabetes e é possível que a restrição de ganho de peso seja benéfica. Uma opção é utilizar como meta de ganho de peso, durante toda a gestação, o limite inferior estabelecido pelo IOM. Dieta Dietoterapia é a base do tratamento. A dieta DASH, que enfatiza o consumo de vegetais, frutas, grãos in2014|24 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 tegrais, produtos com pouca gordura (low-fat), frango, peixe, legumes e nozes e limita o consumo de doces, bebidas adocicadas e carnes vermelhas, é capaz de reduzir o LDL61. Em situações de hipercolesterolemia, sobretudo familiar, mulheres afetadas devem ser estimuladas a seguir dieta restrita em colesterol, pois restrição severa (“livre de colesterol”, ou seja, <50mg/dia) e moderada (<300mg/dia) promove redução das concentrações de LDL62. Dieta com importante restrição de gordura, definida como quantidade de gordura alimentar abaixo de 20% é a principal intervenção no manejo clínico da gestante com dislipidemia, especialmente a hipertrigliceridemia severa56. Em situações graves como hipertrigliceridemia familiar ou complicadas por pancreatite, desfechos de sucesso têm sido reportados com dietas isocalóricas com menos de 20% de calorias em gorduras (56g/dia)63, dieta com menos de 10% de gorduras (10 a 15g/dia) e terapia nutricional intravenosa64, jejum de 2 a 4 dias com fluidos intravenosos associado à nutrição parenteral65, obtendo reduções rápidas e significativas das concentrações de triglicérides em até mais de 50%. É importante também restringir os carboidratos por via oral, visto que promovem maior aumento nas concentrações de triglicérides que os carboidratos intravenosos66. A quantidade de calorias diárias deve ser cuidadosamente e individualmente calculada para evitar excessiva perda de peso. Dietas com cerca de 1.200 kcal são seguras na gestação67 e capazes de reduzir triglicérides68. Internação hospitalar pode ser considerada para iniciar, garantir a adesão e o aprendizado da dieta rigorosa e deve ser considerada quando as concentrações de triglicérides excedem 1.700mg/dl56 para otimização e abordagem multidisciplinar rápida, tentando evitar complicações agudas graves, como pancreatite. Suplementos nutricionais Dietas pobres em gorduras podem levar à deficiência de ácidos graxos essenciais. A reposição pode ser necessária, utilizando-se triglicérides de cadeia média (TCM) e ácidos graxos ômega 3. TCM são transportados diretamente para o fígado, via circulação portal, evitando a incorporação em quilomícrons e no tecido adiposo, e são especialmente úteis na hipertrigliceriREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA demia por deficiência ou comprometimento da atividade da LLP. Os ácidos graxos ômega 3 contêm ácido eicosapentanoico e docosahexaenoico e são capazes de down-regular genes da lipogênese hepática, up-regular genes que estimulam a oxidação de ácidos graxos no fígado e no músculo esquelético69 e estimular a LLP70, promovendo redução de triglicérides em 25 a 30%71, com doses de 3g/dia. Fibratos A utilização na gravidez aparece em relatos de casos de mulheres com hipertrigliceridemia familiar severa56. Foram usados gemfibrozil e fenofibrato com resultados variáveis. Em estudos com animais, o gemfibrozil não aumentou anomalias congênitas72 e nos casos relatados não houve anomalias fetais. Niacina Há um relato de caso com o uso de 500mg quatro vezes ao dia (dose farmacológica de 2 a 3 g/dia) em paciente com hipertrigliceridemia familiar sem descrição de efeitos adversos71, embora estudos em animais tenham mostrado associação com teratogênese73. Heparina A heparina é capaz de agudamente liberar a LLP endotelial, resultando em rápida redução das concentrações de triglicérides. Entretanto, o efeito é transitório, com depleção da LLP com o uso crônico e retorno das concentrações de triglicérides para os valores prévios. Paradoxalmente pode ser até responsável por elevação posterior dos triglicérides. Devido à eficácia questionável, riscos associados ao uso não relacionado à trombose, a utilização da heparina não pode ser recomendada como parte do tratamento da hipertrigliceridemia severa da gestação71. Insulina A insulina estimula a atividade da LLP no tecido adiposo e inibe a lipólise tecidual. Quando usada em hipertrigliceridemia severa associada à hiperglicemia descompensada, pode haver redução rápida e dramática das concentrações de triglicérides. Na ausência de hiperglicemia, a insulinoterapia não pode ser recomendada como tratamento. 2014|25 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 Colesevelam É uma resina sequestrante de ácidos biliares (SAB) que não passa para a circulação sistêmica e pode ser usada em gestantes para tratamento da hipercolesterolemia. É categoria B na gestação. Relatos de casos de gestantes com hipercolesterolemia familiar demonstram que o uso do colesevelam durante a gravidez minimiza a elevação do LDL, em comparação com o grupo que não faz uso (68 vs 185mg/dl)74. A dose utilizada foi de 3 tabletes de 625mg, duas vezes ao dia, e o efeito colateral foi a obstipação. A colestiramina também é um SAB e não passa para a circulação sistêmica.Também pode ser usado na gestação74 e a dose é de 16 a 24g/dia. Os SAB reduzem o LDL em cerca de 15% (fora da gestação), porém podem estimular a síntese de partículas ricas em triglicérides, devendo ser evitados em hipertrigliceridemia, especialmente quando acima de 400mg/dl, pelo risco de pancreatite. Estatinas Estudos experimentais em animais são controversos em relação à teratogenicidade das estatinas com malformações esqueléticas associadas à atorvastatina, lovastatina, cerivastatina e fluvastatina75, embora estudos observacionais em mulheres expostas a estatinas na gestação não demonstraram maior taxa de malformações e mau desfechos fetais em relação ao esperado. Não são atualmente aceitas para tratamento da hipercolesterolemia na gestação. Plasmaférese A terapia de troca de plasma tem sido descrita como alternativa para tratamento de pancreatite induzida por hipertrigliceridemia em relatos de casos71. Promove queda aguda das concentrações de triglicérides, entretanto tem duração limitada e tratamentos repetidos são necessários. Tabela 1 - Medicações hipolipemiantes e categoria gestacional Medicação Estatinas Fibratos Ezetimiba Ácido nicotínico Colestiramina Colesevelam Categoria X C C C C B Categorias: X – estudos em humanos ou animais têm demonstrado anomalias fetais. Os riscos claramente se sobrepõem aos benefícios; C – estudos em animais têm mostrado efeitos adversos e não há estudos adequados e bem controlados em humanos, mas os potenciais benefícios podem garantir o uso da medicação na gravidez, apesar dos riscos; B – estudos em animais não mostram risco para o feto e não há estudos adequados e bem controlados em humanos. CONCLUSÃO Apesar de a avaliação do perfil lipídico ser de fácil realização e de baixo custo, a dislipidemia na gestação é frequentemente negligenciada, devido, possivelmente, à falta de diretrizes que indiquem a forma de rastreamento e pelo desconhecimento, por parte da equipe de assistência do impacto da dislipidemia na gestante e concepto. É preciso estar atento para considerar o rastreamento em populações de risco, como portadoras de dislipidemia prévia e história familiar e nas portadoras de doenças metabólicas que cursem com resistência à insulina, como obesidade e diabetes. A identificação precoce de casos auxilia na instituição de terapêutica adequada, com restrição de gorduras e controle do ganho de peso. Monitoração das concentrações de lípides, especialmente dos triglicérides, no segundo e terceiro trimestres, deve ser feita em casos selecionados e tratamento com ácidos graxos ômega 3 e outras medicações pode ser necessário. O plano pré-concepcional é uma forma de evitar complicações nas portadoras de dislipidemia familiar e estas devem ser orientadas a suspender a estatina por 2 a 3 meses antes das tentativas de engravidar. Devem ser estimuladas a aderir às recomendações dietéticas com rigor, praticar atividade física e engravidar com peso normal. Devem ser alertadas sobre os possíveis riscos materno-fetais e ser acompanhadas por equipe multidisciplinar durante a gestação. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|26 Feitosa, ACR. Metabolismo lipídico e dislipidemia na gestação: um desafio para o clínico. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 20-30 REFERÊNCIAS 1. Knopp RH, Bergelin RO, Wahl PW, Walden CE, Chapman M, Irvine S. Population-based lipoprotein lipid reference values for pregnant women compared to nonpregnant women classified by sex hormone usage. Am J Obstet Gynecol 1982;143:626-37. 2. Boyd EM. The Lipemia of Pregnancy. J Clin Invest 1934;13:347-63. 3. Peters JP, Heinemann M, Man EB. The lipids of serum in pregnancy. J Clin Invest 1951;30:388-94. 4. Montelongo A, Lasuncion MA, Pallardo LF, Herrera E. Longitudinal study of plasma lipoproteins and hormones during pregnancy in normal and diabetic women. Diabetes 1992;41:1651-9. 5. 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Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 31 Artigo Publicado – Ortopedia Fatores relacionados à infecção no tratamento das fraturas expostas. Marcos Almeida Matos 1, Rogério Meira Barros 1, Flávio Robert Santana 1. Artigo original publicado Matos MA, Catro-Filho RN, Silva BVP. Risk factors associated with infection in tibial open fractures. Revista Facultad de Ciencias Medicas. 2013;70(1):14-18. Resumo (versão em português) Introdução: O tratamento das fraturas expostas continua sendo um dos mais importantes temas da traumatologia moderna, as controvérsias mais importantes se referem aos métodos utilizados para impedir a mais temível complicação desta injúria, que é a sobreposição de infecção. Objetivo: O objetivo deste estudo é identificar fatores de risco associados à infecção no tratamento ortopédico das fraturas expostas da tíbia. Pacientes e Métodos: Realizou-se estudo retrospectivo que incluiu todos os pacientes submetidos ao tratamento cirúrgico de fraturas expostas da tíbia, atendidos no hospital, no período de março a outubro de 2009. Foram excluídos pacientes abaixo de oito anos e aqueles que apresentavam doença sistêmica. Os dados sociodemográficos e clínicos dos pacientes foram coletados e permitiram dividi-los em dois grupos, de acordo com o desfecho principal: o grupo 1 foi composto por pacientes que evoluíram sem infecção, enquanto que o grupo 2 foi composto pelos pacientes que apresentaram este desfecho. Os dois grupos foram avaliados e comparados em busca da identificação de fatores de risco para infecção. Resultados: Foram estudados 50 pacientes no total, sendo que a taxa global de infecção foi de 28%, com CI95%=15.540.5 (14 pacientes). Quando comparamos os grupos 1 e 2, os fatores de risco significativamente associados à infecção foram local onde ocorreu o trauma (OR 3.78; CI95%=1.4-5.5; p=0.02), e atraso no início do tratamento cirúrgico superior a 12 horas (OR 3.4; CI95%=1.4-20.8; p=0.03); As fraturas classificadas como Gustilo I, II e IIIA tiveram risco menor de infecção do que aquelas classificadas como Gustilo IIIB e IIIC (OR 4.32; CI95%=1.3-19.1; p=0.01); As lesões de partes moles classificadas como Tscherne III e IV (consideradas graves) tiveram maior risco de infecção e este fator foi o que mais contribuiu para o desfecho REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA (OR 8.07; CI95%=2.4-47.1; p<0.00). Conclusões: Nosso estudo confirma trabalhos prévios que relacionam infecção à classificação de Gustillo, há também uma associação com as fraturas com origem no interior do estado. Contudo, os dados mais importantes do nosso estudo são a relação encontrada entre infecção e lesão de partes moles, assim como também a relação com atraso no tratamento cirúrgico maior que 12 horas. Descritores: Fratura Exposta. Infecção. Tratamento. Trauma. Key Words: Open Fracture. Infection. Treatment. Trauma. COMENTÁRIOS: O artigo aborda um dos mais importantes e controversos temas da ortopedia atual. Há na literatura dúvidas se o tempo que o paciente leva para realizar o procedimento cirúrgico teria realmente influência na infecção pós-traumática. A despeito de haver consenso com relação ao papel da classificação de gravidade da fratura, segundo Gustillo, quase nenhum trabalho aborda a questão da gravidade das lesões de partes moles. Desta forma, o artigo é pioneiro em creditar como fatores principais associados à infecção o grau de lesão de partes moles e o tempo de exposição até o tratamento. A partir deste estudo, abre-se caminho para trabalhos que visem construir escores que ajudem o ortopedista a predizer e prevenir infecção neste tipo de trauma, especialmente no atendimento inicial de indivíduos com fraturas expostas. 1- Serviço de Ortopedia do HSI Endereço para correspondência: [email protected] 2014|31 Feitosa et al. Terapia celular em cardiomiopatia chagásica Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 32-33 Artigo Publicado – Cardiologia Terapia Celular em Cardiomiopatia Chagásica Gilson Soares Feitosa 1, Fábio Vilas-Boas 1, Joel Alves Pinho-Filho 1, Augusto José Gonçalves Almeida 1, Marcus Vinicius Andrade 1, Adriano DouradoOliveira 1, Heitor G. Carvalho. 1 Artigo Original Publicado Santos RR, Rassi S, Feitosa G, OT, Rassi A, Jr, Cunha AB, et al. Cell Therapy in Chagas Cardiomyopathy (Chagas Arm of the Multicenter Randomized Trial of Cell Therapy in Cardiopathies Study): A Multicenter Randomized Trial. Circulation. 2012;125:2454-2461. Descritores: Cardiomiopatias. Cardiomiopatia Chagásica. Células-Tronco. Terapia Tecidual. Key Words: Cardiomyopathies. Chagas cardiomyopathy. Stem cells. Tissue therapy. Introdução Estudos prévios sugerem que transplante autólogo de células mononucleares, derivadas de medula óssea (TACMMO) para as coronárias, melhoram função cardíaca em portadores de miocardiopatia crônica chagásica. Relatamos aqui os resultados do primeiro estudo radomizado de TACMMO em miocardiopatia chagásica crônica. a 4,5) para placebo, (p<0,519); aos 12 meses, 3,5 (1,5 a 5,5) para TACCMO e 3,7 (1,5 a 6,0) para placebo (p<0,850). Também não houve mudança significativa em volumes sistólico e diastólico de ventrículo esquerdo, NYHA, questionário de Minnesota de qualidade de vida, concentração de peptídio natriurético tipo B ou teste da caminhada de 6 minutos. Conclusão Métodos e resultados Pacientes com idade de 10 a 75 anos, portadores de miocardiopatia crônica chagásica, classe funcional da NYHA II a IV, fração de ejeção (FE) de ventrículo esquerdo menor que 35% e sob tratamento clínico otimizado, forma randomizados para injeção intracoronária de células mononucleares de medula óssea autólogas versus placebo. O objetivo primário do estudo foi verificar a diferença da FE em 6 e 12 meses entre os dois grupos. A análise foi por intenção de tratar e com poder de detecção de diferença absoluta em FE de 5%. Foram estudados 234 pacientes entre julho 2005 e outubro 2009. Dois pacientes abandonaram o estudo e houve violação do protocolo em 49 casos. Dos restantes 183 pacientes, 93 no grupo placebo e 90 no grupo TACMMO tinham idade média de 52,4 anos (50,8 a 54,0 anos) e FE de 26,1% (25,1 a 27,1%) no início do estudo. A mediana de células injetadas foi de 2,20x108 (1,40 a 3,50x108) células. Mudanças da FE não diferiram significantemente entre os grupos: aos 6 meses, 3,0 (1,3 a 4,8) para o TACMMO e 2,5 (0,6 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA TACMMO não demonstrou aumento de FE ou de qualidade de vida em portadores de miocardiopatia chagásica crônica. Comentários Este trabalho, publicado em Circulation, é um estudo multicêntrico nacional envolvendo instituições brasileiras de renome, tais como o Hospital São Rafael, Salvador (R.R.d.S., M.B.P.S.); Hospital das Clínicas de Goiânia, Goiânia (S.R.); Hospital Santa Izabel, Salvador (G.F.); Instituto de Moléstias Cardiovasculares, São José do Rio Preto (O.T.G.); Hospital do Coração Anis Rassi, Goiânia (A.R.); Instituto Nacional de Cardiologia, Rio de Janeiro (A.B.d.C., B.R.T., A.C.C.d.C.); Hospital Sírio-Libanês, São Paulo (V.B.d.C.); Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba (L.C.G.-S.); e ProntoSocorro Cardiológico de Pernambuco, Recife (W.d.O.). Neste estudo, o Hospital Santa Izabel cumpriu o papel de centro âncora para o projeto. Aqui se realizou o primeiro caso humano em doença de Chagas1 e tam2014|32 Feitosa et al. Terapia celular em cardiomiopatia chagásica Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 32-33 bém se realizou o estudo da primeira série de casos nessa condição2. O procedimento foi precedido por observações experimentais em ratos infecctados com cepa colombiana de T. Cruzi, limpando o quadro infeccioso e reduzindo a fibrose3. Da mesma forma, a observação inicial em série de casos alentadora em sugerir benefícios do procedimento, melhorando a qualidade de vida e apontando para tendência de melhora da FE. Ainda assim foi o entendimento nosso de que a correta interpretação de resultados de uma nova intervenção exige uma clara e inquestionável demonstração de eficácia comparada ao uso de placebo. Os estudos em série apenas poderiam sugerir tal fato, além de demonstrar a segurança do procedimento. Porém, a real eficácia somente poderia ser confirmada se o procedimento fosse submetido a um processo de randomização, de preferência numa comparação duplo-cega contra placebo. Essa é a maneira de se evitarem vieses que fogem ao alcance da melhor intenção dos investigadores, como por exemplo o uso mais judicioso das medicações, da dieta e do abuso de álcool, por exemplo, que poderia afetar por si só os resultados em série, quando a comparação é feita do comportamento dos mesmos indivídous antes e depois do procedimento. Referências 1- Vilas-Boas F, Feitosa GS, Soares MBP, Pinho-Filho JA, Mota A, Almeida AJG,et al. Bone Marrow Cell Transplantation to the Myocardium of a Patient with Heart Failure Due to Chagas’ Disease. Arq Bras Cardiol. 2004;82:185-7. 2- Vilas-Boas F, Feitosa GS, Soares MBP, Mota A, Pinho-Filho JA, Almeida AJG,et al. Early results of bone marrow cell transplantation to the myocardium of patients with heart failure due to Chagas disease. Arq Bras Cardiol. 2006;87:159-166. 3- Soares MBP, Lima RS, Rocha LL, Takyia CM, Pontes-de-Carvalho L, de Carvalho ACC, et al. Transplanted bone marrow cells repair heart tissue and reduce myocarditis in chronic chagasic mice. Am J Pathol. 2004;164:441– 447. 1- Serviço de Cardiologia do HSI Endereço para correspondência: [email protected] Assim se procedeu com o presente estudo que foi laboriosa e criteriosamente realizado nacionalmente e se constitui num dos maiores estudos randomizados na área de terapia celular. Isso e sua qualidade metodológica justificaram sua publicação num periódico de elevado nível de exigência, como é o caso do Circulation. Os resultados mostraram-se neutros e cumpriram o enorme papel de nortear a linha de pesquisa a ser conduzida na área de terapia celular em cardiopatias. Novas células serão desenvolvidas para este mister, assim como deverá haver um desenvolvimento futuro na técnica de implante, assim como deverá haver uma intensificação de pesquisas, visando à conveniente domiciliação das células utilizadas para esse fim. Talvez também uma escolha de candidatos ao procedimento e que já não se encontrem em fase tão avançada da doença. De todo modo, a comunidade científica do Hospital Santa Izabel cumpriu um papel relevante e fundamental na construção desses caminhos. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|33 Freire, ANM. Os linfócitos podem ser biomarcadores adicionais importantes para a avaliação prognóstica e evolução cirúrgica. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 34-37 Artigo Publicado – Cirurgia Geral Os linfócitos podem ser biomarcadores adicionais importantes para a avaliação prognóstica e evolução cirúrgica. André Ney M. Freire 1 Artigo original publicado Dantas ATM, Songeli MF, Pedral G, Barbosa DMO, Cortes, EM, Guedes R., et al. O Linfócito B Periférico: possível biomarcador promissor de prognóstico e de evolução cirúrgica de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea. Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 2013;28(3):163-170. RESUMO Alterações fisiológicas em cirurgias prolongadas, como a revascularização do miocárdio com circulação extracorpórea (CRM+CEC), resultam na ativação inflamatória, que justifica a busca de biomarcadores de fácil análise para estudo prognóstico e de evolução de pacientes submetidos às cirurgias. O artigo publicado pelo grupo (Dantas et al, 2013) e sobre estudo longitudinal, aprovado pelo CEP do HSI-SCMBA, do impacto da CRM+CEC na cinética de leucócitos e subpopulações linfocitárias no tempo de internação em unidade de terapia intensiva (UTI). Grupo de 37 pacientes submetidos eletivamente à CRM+CEC foram divididos em Grupo G1, com melhor tempo de evolução pós-cirúrgica (PC – alta de UTI até 48h PC) e Grupo G2, com pior tempo de evolução pós-cirúrgica (alta da UTI após 48h PC). Entre os grupos não se observou variação significativa no leucograma. No intraoperatório, houve oscilação sem uma tendência particular dos linfócitos T (LT) e aumento dos linfócitos NK. No pós-operatório, houve menor concentração dos LT no tempo de 24h PC, aumento com recuperação dos valores basais dos linfócitos B e diminuição das células NK. Somente os LB apresentaram diferença (p<0.05) entre os dois grupos, nos primeiros minutos da cirurgia e após 30 minutos da instalação de CEC. Os indivíduos de pior prognóstico iniciaram a cirurgia com menor valor de LB. Os linfócitos podem ser biomarcadores prognósticos de grande auxílio a estudos e procedimentos terapêuticos futuros. A melhora na condição clínica do indivíduo pode favorecer a uma melhor sobrevida e recuperação do paciente e ao custo-benefício de protocolos pré ou pós-cirúrgicos executados pela equipe médico-hospitalar. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Descritores: Linfócitos. Biomarcadores. Prognóstico. Key Words: B-Lymphocytes. Biomarkers. Prognosis. INTRODUÇÃO Respostas inflamatórias ocorrem às agressões ao corpo por fatores estressores diversos, sejam intrínsecos ou extrínsecos. Entre os grandes exemplos de estressores extrínsecos encontram-se procedimentos desenvolvidos em períodos pré e pós-operatórios. Estímulos nos procedimentos invasivos podem gerar alterações no metabolismo celular e na cinética de células de defesa, como os observados desde o início da intervenção de pressão-puncto-incisão à cicatrização tecidual em diferentes situações, inclusive em cirurgias e danos cardíacos (Pellegrini et al 2000; Urra et al 2009, Bartal et al, 2009 e Bian 2010). Por outro lado, o estado e a condição basal do paciente interferem sobremaneira no desfecho clínico cirúrgico. Em procedimentos invasivos de médio e grande portes deflagra-se uma cascata de alterações celulares com resposta no tecido local e no complexo tecido fluido (o sangue) em contato com compostos diferentes dos naturais fisiológicos (Dantas et al, 2013). Diferentes modelos cirúrgicos têm sido utilizados para analisar essas alterações. A cirurgia de revascularização do miocárdio (CRM) é um recurso eficaz no tratamento das manifestações clínicas da doença arterial coronária (DAC), podendo ser realizada com ou sem a utilização de circulação extracorpórea (CEC), e que permite a realização de uma variedade de intervenções no coração pelo desvio do sangue por um circuito artificial. Apesar de ser um procedimento bem documentado e controlado, de 2014|34 Freire, ANM. Os linfócitos podem ser biomarcadores adicionais importantes para a avaliação prognóstica e evolução cirúrgica. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 34-37 grande uso atual, não foram encontrados nos últimos anos estudos sobre associação do perfil linfocitário e tempo de evolução pós-cirurgia de revascularização miocárdica com circulação extracorpórea (Mcbride et al 1995; Habermez et al. 2003; Rudensky et al, 2010. Marciniak Sroka et al, 2011). Exames laboratoriais que auxiliam a equipe médica com dados complementares, como o clássico hemograma, o leucograma em acompanhamento cirúrgico (Suliman et al 2010) e as diversas sorologias têm sido utilizados amplamente no último século com grande eficiência. Entretanto, com o avanço científico e tecnológico, outros marcadores celulares mais específicos e de fácil análise começam a ser estudados por sua importância na inferência de processos fisiopatológicos e possibilidades prognósticas. Essas informações possivelmente deverão auxiliar no estabelecimento de procedimentos alternativos complementares de suporte clínico-terapêutico, em momentos pré e pós-cirúrgicos, para melhoria do cuidado do paciente de pequeno, médio e alto riscos. Com as facilidades e com o conhecimento atual, essas abordagens refletem a necessidade de identificação de novos fatores preditores ou biomarcadores para decisão da equipe sobre a evolução do procedimento estabelecido. Com esta finalidade, a quantificação linfocitária pode fornecer um dado extra para avaliação pré-operatória e conduta pós-operatória, possibilitando uma estratégia-alvo para melhora dos resultados clínicos pós-operatórios, através do reforço do sistema imune durante o período perioperatório. As diferentes subpopulações linfocitárias que representam atividade e funções especiais no sangue e nos tecidos são avaliadas facilmente por técnicas pela imunofenotipagem, com base na expressão de diferentes subconjuntos de proteínas de superfície. No estudo foi analisado o impacto da CRM+CEC na cinética de leucócitos e subpopulações linfocitárias, no tempo de internação em unidade de terapia intensiva (UTI). Dados do delineamento e metodologia do estudo realizado: o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Professor Dr. Celso Figuerôa, da Santa Casa de Misericórdia da Bahia do Hospital Santa Izabel, sob protocolo de número 54/2008. Participaram do estudo, após assinatura do TCLE, 37 pacientes, voluntariamente, de ambos os sexos, com idade entre 45 e 71 anos. A cirurgia de revascularização do miocárdio com circulação extracorpórea foi de caráter eletivo na Santa Casa de Misericórdia da Bahia/Hospital Santa Izabel, Salvador-BA, entre julho de 2009 e junho de 2011. As amostras de sangue periférico intraREVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA operatórias foram coletadas em tubos com EDTA, em três momentos distintos, durante o processo cirúrgico de cada voluntário, sendo identificados os tempos T1-imediatamente após acesso venoso central; T2- aos 30 minutos após entrar em CEC; e T3 - antes da sutura do osso esterno. A média de duração do procedimento cirúrgico foi de 249 minutos. As coletas de amostras pós-operatórias para avaliar a evolução do paciente foram feitas diariamente na rotina da unidade de terapia intensiva (UTI), sempre no mesmo horário no período da manhã, e formam identificados os tempos T4 a Tn. Os leucogramas foram feitos em aparelho semiautomatizado, modelo CC 530/500 (CellM), seguindo instruções do fabricante. A contagem dos linfócitos, por imunomarcação com Kit Lymphogram-Perfect Count (Cytognos - Salamanca - Espanha). As amostras marcadas foram adquiridas no citômetro FACS Calibur (BDBiosciences) com o software CellQuest (BD) e posteriormente analisadas pelo software Summit (Dako). O valor absoluto de cada subpopulação linfocitária obtido no tempo T1 foi considerado como controle basal de cada indivíduo. Os fenótipos linfocitários foram quantificados segundo instruções do fabricante, para a contagem absoluta, simultaneamente, dos linfócitos: CD3+(LT totais /LT), CD4+(LT auxiliares /LTa), CD8+(LT citotóxicos /LTc), CD56+(células Natural Killer /NK) e CD19+(linfócitos B/LB). Todas as análises foram feitas utilizando o software SPSS (Statistical Package for Social Sciences), versão 14.0 para Windows. O intervalo de confiança para os testes estatísticos foi definido em 95% (p<0,05). A verificação da diferença entre todos os tempos de coleta foi realizada pelo teste de Kruskal-Wallis. E, por fim, para verificação da existência de diferença entre pares de tempos, foi aplicado o teste de Mann-Whitney, o qual também fora utilizado para avaliar a existência de diferença entre os dois grupos de prognóstico (boa evolução e pior evolução). RESULTADOS Dos 37 pacientes acompanhados, 22 permaneceram até, no máximo, 48h na unidade de terapia intensiva (59,5%), foram considerados com melhor tempo de evolução pós- cirúrgica (G1) e 15 estiveram internados por mais de 48h após o procedimento (em até 41 dias), que foram classificados como pacientes com pior tempo de evolução (G2) e, destes, dois indivíduos (5,4%) apresentaram complicações pós-cirúrgicas e foram a óbito entre 9 e 15 dias após o procedimento. A média dos leucócitos totais dos pacientes que entraram no 2014|35 Freire, ANM. Os linfócitos podem ser biomarcadores adicionais importantes para a avaliação prognóstica e evolução cirúrgica. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 34-37 estudo foi de 6. 400 (amplitude: 3.600 a 11.000 células/ μL). Observou-se, sem diferença entre os indivíduos dos dois grupos G1 e G2, uma tendência a aumento crescente e a diferença significativa entre o primeiro momento T1 (valor basal) e os tempos T3, T4 e T5 . Da população estudada, 91,9% dos indivíduos apresentaram leucocitose em um ou mais tempo estudado. No estudo linfocitário descrito detalhadamente na tabela 1, durante o período intraoperatório (T1, T2 e T3), os fenótipos de linfócitos T totais (células CD3+) e os linfócitos B (celulas CD19+) tiveram comportamento semelhante, apresentando diminuição gradual da contagem absoluta. O número de células T (CD3+) teve diminuição no tempo de 24 horas pós-cirurgia e discreto aumento nas 48 horas do pós-cirúrgico, ambos significativamente menores do que o início do procedimento cirúrgico T1 (p<0,001). As células T auxiliares (células CD4+) apresentaram queda nos valores, com diferença estatística desde T2 a T5, sem atingir seus níveis basais de T1 (p<0,001). Os subtipos T citolítico e T auxiliar (CD8 e CD4, respectivamente) apresentaram, no primeiro dia pós-operatório (T4), menores valores em relação aos 5 períodos observados. Por outro lado, os linfócitos NK (células CD56+) aumentaram gradualmente ao longo do procedimento (T1 a T3), com queda progressiva nas últimas 48 horas do pós-cirúrgico (T4 e T5). Na comparação dos dados após divisão em grupos de bom prognóstico (alta de UTI dentro das 48 horas pós-cirúrgico), somente houve diferença estatística na concentração de linfócitos B (células CD19+) nos estágios iniciais do procedimento cirúrgico (T1 e T2), entre os dois grupos G1 e G2 (Figura 2). Esta diferença indica que os pacientes que permaneceram mais tempo na unidade de terapia intensiva (G2) iniciaram o procedimento cirúrgico com menor concentração de linfócitos B, quando comparados àqueles com menor tempo de internação em UTI (G1) (p<0,05). melhor tempo de evolução. Os linfócitos B (CD19+) apresentaram-se significativamente diminuídos no grupo com pior evolução nos estágios iniciais da cirurgia. Os pacientes deste grupo G2, com tempo maior de UTI, iniciavam a cirurgia com menor concentração destas células. Esses dados indicam que os linfócitos podem ser melhor estudados e poderão ser usados como biomarcadores prognósticos, que auxiliem a equipe médica a estabelecer procedimentos terapêuticos prévios à cirurgia. Tabela 1 - Valores leucocitários e linfocitários nos grupos de melhor e pior evolução pós-cirúrgica. Medidas de tendência central e de dispersão em unidade células/uL de sangue nos diferentes tempos pré e pós-cirúrgicos de revascularização do miocárdio com circulação extracorpórea (CRM+CEC). CONCLUSÕES Foi encontrada variação da distribuição linfocitária (CD3+, CD4+, CD8+, CD56+ e CD19+) no decorrer do período perioperatório de cirurgia de revascularização com circulação extracorpórea. Os leucócitos totais apresentaram aumento gradual neste período. As subpopulações celulares estudadas apresentaram tendência à menor distribuição no grupo com pior tempo de evolução pós-cirúrgica, em relação ao grupo com REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA DP=desvio padrão/Grupo 1=melhor tempo de evolução pós-cirúrgica/Grupo 2=pior tempo de evolução pós-cirúrgica/ (T1: após acesso venoso central; T2: 30 min após CEC; T3: antes da sutu- 2014|36 Freire, ANM. Os linfócitos podem ser biomarcadores adicionais importantes para a avaliação prognóstica e evolução cirúrgica. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 34-37 ra final; T4: 24h pós-cirurgia; T5: 48h pós-cirurgia). Leucograma realizado em aparelho semiautomatizado, modelo CC 530/500 (CellM). Contagem linfocitária pelo Kit Lymphogram e perfect Count (Cytognos-Espanha) com citômetro FACSCalibur (BDBiosciences) em o software CellQuest (BD) e análise pelo software Summit (Dako). Tempos de estudo: T1: após acesso venoso central; T2: 30 min após CEC; T3: antes da sutura final; T4: 24h pós-cirurgia; T5: 48h pós-cirurgia. Resultados expressos em mediana ± intervalo interquartil. **p≤0,01 em relação a T1; ***p≤0,001 em relação a T1. (n=37 ). ter surgery. Brain Behav Immun. 2010;24(3):376–386. Tabela 2 - Variação cinética dos linfócitos B (células CD19+), de acordo com o tempo de evolução pós-cirúrgica de revascularização do miocárdio com circulação extracorpórea (CRM+CEC). 4. Marciniak Sroka J, Jawień J, Jakieła B, Szczeklik A. Increase in plasma sCD23 levels precedes immunoglobulin E elevation after coronary artery bypass graft surgery. Pol Arch Med Wewn. 2011;121(4):109-114. 2. Bian C, Wu Y, Shi Y, Xu G, Wang J, Xiang M , et al. Predictive value of the relative lymphocyte count in coronary heart disease. Heart Vessels. 2010; 25:469– 473. 3. Habermez LP, Knuf M, Kampmann C, Mannhardt W, Schranz D, Kuroczynski W, et al. Changes in lymphocyte subsets after cardiac surgery in children. Eur J Pediatr. 2003;162:15–21. 5. Mcbride WT, Armstrong MA, Crockard AD, Mcmurray TJ, Rea MJ. Cytokine balance and immunosupressive changes at cardiac surgery: contrasting response between patients and isolated CPB circuits. British J of Anaesthesia. 1995;75:724-733. 6. Pellegrini JD, De KA, Kodys K, Puyana CJ, Furse K R, Miller-Graziano C. Relationships between T Lymphocyte Apoptosis and Anergy Following Trauma. J of Surgical Research, Worcester. 2000;88(2):200-206. 7. Rudensky B, Yinnon M A, Shutin O, Broide E, Wiener-Well Y, Bitran D, Raveh P D. The cellular immunological responses of patients undergoing coronary artery bypass grafting compared with those of patients undergoing valve replacement. Eur J of Cardio-thoracic Surgery. 2010;37:1056-1062. Círculos/barras pretas/linha sólida preta: G1 (melhor tempo de evolução pós-cirúrgica). Triângulos/barras cinzas/linha pontilhada preta: G2 (pior tempo de evolução pós-cirúrgica). Resultados expressos em mediana e intervalo interquartil. *p≤0,05. T1: após acesso venoso central; T2: 30 min após CEC; T3: antes da sutura final; T4: 24h pós-cirurgia; T5: 48h pós-cirurgia, T6: 72h pós-cirurgia. Determinação pelo Kit Lymphogram e perfect Count (Cytognos-Espanha) com citômetro FACSCalibur (BDBiosciences) em o software CellQuest (BD) e análise pelo software Summit (Dako). Referências 1. Bartal I, Melamed R, Greenfeld G, Atzil S, Glasner A, Domankevich V, et al. Immune perturbations in patients along the perioperative period: alterations in cell surface markers and leukocyte subtypes before and af- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 8. Suliman MARM, Juma BAA, Almadhani AAA, Pathare VA, Alkindi ASS, Werner UF. Predictive Value of Neutrophil to Lymphocyte Ratio in Outcomes of Patients with Acute Coronary Syndrome. Archives of Medical Research, Muscat. 2010;41(8):618-622. 9. Urra, X, Cervera A, Villamor N, Planas AM, Chamorro A. Harms and benefits of lymphocyte subpopulations in patients with acute stroke. Neuroscience, Barcelona. 2009;158(3):1174-1183. 1. Serviço de Cirurgia do HSI Endereço para correspondência: [email protected] 2014|37 Bastos et al. Acidente vascular cerebral isquêmico secundário à vasculopatia do sistema nervoso central pelo vírus herpes varicela-zoster. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 38-40 Relato de Caso – Neurologia Acidente Vascular Cerebral Isquêmico Secundário à Vasculopatia do Sistema Nervoso Central pelo Vírus Herpes Varicela-Zoster Augusto Júnior Azevedo Bastos 1, Carlos Wagner Souza Menezes 1, Thiago Gonçalves Fukuda 2, Daniel Santana Farias 2, Davidson França Pereira 1 e Pedro Antônio Pereira de Jesus 1 Descritores: Acidente Vascular Cerebral. Vasculopatia. Herpes. Varicela-Zoster. Key Words: Stroke. Basal Ganglia Cerebrovascular Disease. Herpes. Chickenpox. Paciente de 30 anos, sem comorbidades associadas, com passado de Herpes Zoster em região torácica, ao nível do dermátomo T6 à esquerda, há cerca de 07 meses, tendo sido tratado com Valaciclovir durante 14 dias na ocasião, evoluindo com resolução do quadro clínico desde então (história de varicela na idade escolar). Trazido à emergência por quadro de cefaleia súbita que iniciou-se há cerca de três dias da admissão, associada à paresia intermitente de membro superior esquerdo. Paciente com histórico de cefaleia ocasional, em aperto, progressiva, holocraniana, de característica do tipo tensional, evoluiu há três dias da admissão com cefaleia súbita, associada à paresia de membro superior esquerdo com duração de cerca de cinco minutos e melhora da dor, sem haver cessação da mesma, após o uso de analgésicos comuns. Referiu piora da cefaleia no dia posterior ao início do quadro clínico, sem recorrência do quadro motor. Após nova recorrência do quadro motor no terceiro dia de história, dessa vez com duração de cerca de 10 minutos, associada à nova piora da intensidade da cefaleia, resolveu procurar a emergência do Hospital Santa Izabel para elucidação diagnóstica e tratamento. Foi admitido no hospital vigil, orientado, com pressão arterial de 130x80 mmHg, frequência cardíaca de 90 bpm, frequência respiratória de 20 ipm e oximetria mostrando saturação de 98%. As pupilas eram fotorreagentes bilateralmente, isocóricas, sem alterações à movimentação ocular extrínseca. Ao exame notava-se discreta diminuição de força muscular à esquerda durante manobra dos braços estendidos (força muscular grau IV+/V). Negou durante toda a história clíni- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA ca: diplopia, parestesias, perda de consciência, febre ou abalos. Laboratório apontava creatinina 0,6 g/dL e leucograma de 8.800 células/mL (diferencial normal). Após tomografia axial de crânio sem alterações, foi submetido à punção lombar (dentro do protocolo de investigação de cefaleia súbita), com o seguinte resultado: 150 células (6% linfócitos, 24% reticulomonócitos, 1% neutrófilos), proteína de 75 mg/dL e glicose 54 mg/dL (glicemia capilar do momento da coleta 80 mg/dL), restante das colorações negativas. Após resultado do estudo do líquor, foram iniciados empiricamente Aciclovir (10 mg/Kg/dose) e Corticoterapia (Dexametasona). Paciente foi então internado para tratamento e aprofundamento diagnóstico, permanecendo internado durante 13 dias, evoluindo com melhora progressiva da cefaleia após início do tratamento. Realizou PCR para Herpes Simples e Herpes Zoster no líquor (resultado positivo), além de ressonância nuclear magnética do encéfalo e angiorressonância magnética de vasos intra e extracranianos, evidenciando acidente vascular cerebral isquêmico em nível de cápsula interna direita (no braço posterior, pequenos focos de isquemia – Figura 1) e sugerindo angeíte do sistema nervoso central em artéria carótida interna direita (Figura 2). Sorologias para HIV 1 e 2 negativas, FAN não reagente. Complementos C3 e C4 em valores normais, anti-SSa e anti-SSb não reagentes, IgG para Herpes Zoster reagente. Após melhora do quadro de cefaleia e estabilização do quadro clínico e neurológico, o paciente recebeu alta para continuação do tratamento com Aciclovir intravenoso por 21 dias, na modalidade HomeCare e 2014|38 Bastos et al. Acidente vascular cerebral isquêmico secundário à vasculopatia do sistema nervoso central pelo vírus herpes varicela-zoster. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 38-40 mudança da corticoterapia de venosa para oral com Prednisona (a ser descalonada ambulatorialmente). Manteve o quadro de discreta redução da força muscular em membro superior esquerdo. Além disso, houve elevação da pressão arterial durante a internação, após a introdução da corticoterapia, sendo necessária a introdução de Losartana. Está em programação ambulatorial de repetição de exame de imagem (angiotomografia ou angiorressonância) após três meses do início do quadro clínico. O Herpes Zoster é uma patologia que se desenvolve em indivíduos por reativação do vírus da Varicela em raízes de gânglios dorsais ou nervos cranianos1. Os maiores fatores de risco são a idade e a queda na imunidade1. A complicação mais comum do Herpes Zoster é a neuralgia pós herpética, que se desenvolve em 10-50% dos indivíduos e que pode ser prevenida com a vacinação 1,2. Uma complicação mais rara do Herpes Zoster, em imunocomprometidos ou imunocompetentes, ocorre quando a infecção viral alcança as artérias, quase que exclusivamente as cerebrais, levando à inflamação, remodelamento vascular e complicações: AVCs isquêmicos ou hemorrágicos (mais comuns), infarto medular, hemorragia subaracnóidea, etc3. Caracteristicamente há o desenvolvimento de uma hemiparesia contralateral à lesão3. O quadro clínico é causado por uma alteração da contratilidade e calibre da parede das artérias cerebrais afetadas, pequenas, médias ou grandes3. No caso acima, houve o desenvolvimento de uma angeíte secundária à lesão de uma grande artéria: a artéria cerebral média direita. Apenas 13% dos quadros clínicos se manifestam por lesão de grandes vasos somente: 50 % são uma combinação de lesões de grandes e pequenos vasos e 37% apresentam-se como lesão pura de pequenos vasos4. A predileção pelo sistema nervoso leva ao desenvolvimento de uma vasculite granulomatosa, com infiltrado monuclear e de células gigantes multinucleadas, demonstrado em estudos pós-mortem4. O quadro clínico mais comum é a hemiparesia contralateral, mas pode variar desde ataxia até perda visual4. No estudo do líquor há modesta pleocitose, juntamente com ele- REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA vação discreta de proteínas, sem alteração na glicorraquia4. O PCR é positivo em apenas 30% dos casos3. Geralmente, o quadro clínico é mais tardio (média de 7-12 meses após Herpes Zoster agudo) e há evidências de invasão viral direta nas artérias afetadas5. Mesmo com essa característica de aparecer mais tardiamente após o acometimento, a vasculopatia por Herpes Zoster já mostra alterações de ressonância magnética e de estudo do líquor, mesmo na fase aguda da infecção por Herpes Zoster6. Essa cronificação de uma infecção tem se mostrado o melhor modelo para explicar o surgimento da vasculopatia por Herpes Zoster7. A explicação para predileção da vasculopatia por Zoster pelas artérias cerebrais está no fato de que ausência de lâmina elástica interna por parte dessas artérias facilitaria a migração transmural do vírus8. Além dessa alteração estrutural facilitar o surgimento da doença, o fato do sistema nervoso central ser um sítio de privilégio imunológico atrasa a resposta imune ao vírus, levando a um quadro clínico arrastado e com características histológicas diferentes9. Em estudo recente sobre a vasculopatia por Zoster em imunocompetentes, os desfechos foram: média de duração no hospital de 23 dias, 30% receberam alta por Homecare, 45 % persistiam com sintomas neurológicos após a alta, com escala de funcionalidade (Glasgow Outcome Scale) favorável para 41% dos pacientes e desfavorável para também 41% dos pacientes10. Após apresentação do caso e revisão de literatura, ficam claras as semelhanças do caso apresentado com o universo da vasculopatia por Herpes Zoster, com algumas características peculiares ao paciente: a idade mais jovem e uma apresentação mais aguda sem um quadro caracteristicamente encefalítico (ausência de febre ou confusão mental). O caso alerta para o não negligenciamento da investigação dos quadros de cefaleia súbita, particularmente as com sintomas focais, além de apresentar uma importante mudança numa característica epidemiológica fundamental na vasculopatia por Zoster: a ausência de imunocomprometimento num paciente jovem. O desfecho do paciente pode ser considerado favorável. 2014|39 Bastos et al. Acidente vascular cerebral isquêmico secundário à vasculopatia do sistema nervoso central pelo vírus herpes varicela-zoster. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 38-40 FIGURAS (sinal da seta), sugerindo angeíte do sistema nervoso central. Referências 1. Jeffrey I, Cohen MD. Herpes Zoster. N Engl J Med. 2013;369:255-63. 2. Oxman MN, Levin MJ, Johnson GR, Schmader KE, Straus SE, Gelb LD, et. al. A Vaccine to Prevent Herpes Zoster and Postherpetic Neuralgia in Older Adults. N Engl J Med. 2005;352(22):2271-84. 3. Nagel, MA. Varicella zoster virus vasculopathy: clinical features and pathogenesis. J. Neurovirol. 2013;19(4). 4. Gilden DH, Cohrs RJ, Mahalingam R, Nagel MA. Varicella zoster virus vasculopathies: diverse clinical manifestations, laboratory features, pathogenesis, and treatment. Lancet Neurol. 2009;8(8):731–40. 5. Melanson M, Chalk C, Georgevich L,et. al. Varicella-zoster virus DNA in CSF and arteries in delayed contralateral hemiplegia: Evidence for viral invasion of cerebral arteries. Neurology. 1996;47:569-570. Figura 1 - Ressonância nuclear magnética do encéfalo, sequência difusão, demonstrando hipersinal em território de cápsula interna, região posterior (sinal da seta) 6. Haanpaa M, Dastidar P, Weinberg A, et. al. CSF and MRI findings in patients with acute herpes zoster. Neurology. 1998;51:1405-1411. 7. Gilden DH, Cohrs RJ, Mahalingam R. VZV vasculopathy and postherpetic neuralgia. Neurology. 2005;64:21–25. 8. Nagel MA, Traktinskiy I, Azarkh Y, et. al. Varicella zoster virus vasculopathy: Analysis of virus-infected arteries. Neurology. 2011;77:364–370. 9. Nagel MA, Traktinskiy I, Stenmark KR,et. al. Varicella zoster virus vasculopathy: Immune characteristics of virus-infected arteries. Neurology. 2013;80:62–68. 10. De Broucker T, Mailles A, Chabrier S, Morand P, Stahl JP. Acute varicella zoster encephalitis without evidence of primary vasculopathy in a case-series of 20 patients. Clin Microbiol Infect. 2012; 18: 808–819. 1 - Serviço de Neurologia do Hospital Santa Izabel Figura 2 - Sequência com supressão de gordura de ressonância nuclear magnética, demonstrando diminuição do lúmen da artéria carótida interna direita REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Endereço para correspondência: [email protected] 2014|40 Santos et al. Síndrome de Fournier complicada na UTI : Relato de caso. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 41-43 Relato de Caso – Medicina Intensiva Síndrome de Fournier complicada na UTI: Relato de caso. Reinaldo da Silva Santos Jr 1; Afonso Janones Silva Pereira 1; Edson Marques Filho 1 Descritores: Gangrena de Fournier. Genitália. Infecção. Key Words: Fournier Gangrene. Genitalia. Infection. Introdução A Gangrena de Fournier é uma fasciite necrotizante que acomete principalmente as regiões genital, perineal e perianal1. Trata-se de uma infecção rara, polimicrobiana, de início agudo, com progressão rápida, fulminante e com elevada morbimortalidade. Sua fisiopatologia caracteriza-se pela endarterite obliterante, seguida de isquemia e trombose dos vasos subcutâneos, evoluindo à necrose da pele e tecido celular subcutâneo1, podendo invadir o músculo mesmo antes da evidência de eritema e crepitação, que são manifestações clínicas frequentes. Descrita pela primeira vez em 1764 por Baurienne, recebeu o nome de gangrena de Fournier em homenagem ao venereologista francês Jean Alfred Fournier, que a relatou com detalhes em trabalhos publicados em 1883. Mais prevalente em homens, tem como fatores predisponentes o diabetes mellitus, alcoolismo, trauma mecânico e condições imunossupressoras2. A porta de entrada mais frequente é o trauma local, extensão do trato urogenital ou infecção perianal. A disseminação é rápida ao longo de planos fasciais profundos. O tratamento cirúrgico deve ser imediato e agressivo, com desbridamento extenso, associado à antibioticoterapia de amplo espectro. Medidas de cuidados intensivos influenciam no prognóstico do paciente. No artigo em questão é descrito um caso de uma evolução favorável em um paciente grave com gangrena de Fournier, complicado com choque séptico na Unidade de Cuidados Intensivos. O objetivo do presente relato é ressaltar a importância da atuação multidisciplinar, da rápida intervenção cirúrgica e cuidados intensivos nessa patologia. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Relato de caso Paciente do sexo masculino, 28 anos, sem comorbidades prévias, admitido no Pronto Atendimento com quadro de dor anal e hematoquezia há 12 dias. Alta com diagnóstico de fissura anal em uso de sintomáticos. Evoluiu no domicílio com dor, febre alta, calafrios, edema e eritema em região perineal, que se ascendeu até a genitália. Na readmissão hospitalar após 48h, os exames mostraram leucocitose com desvio (29.100, 7% bastões). Solicitadas culturas e iniciado Ciprofloxacina. Foi avaliado pela Urologia já com importante edema perineal e ponto de flutuação. Solicitado USG de bolsa testicular e ampliada cobertura com metronidazol. Ainda no mesmo dia, observada a rápida progressão e piora do edema, evoluindo com quadro séptico associado a abscesso isquiorretal. Encaminhado à cirurgia, sendo submetido à drenagem do abscesso, desbridamento extenso e exploração escrotal. Admitido na UTI, sendo ampliado esquema para Cefepime e mantido metronidazol. Após 48h, nova piora associado à necrose em local de drenagem e edema em púbis. Retornou ao centro cirúrgico para reabordagem de urgência, observando-se crepitação em região pubiana e fossas ilíacas, com necrose profunda do espaço supra-aponeurótico e extensão para bolsa escrotal com material necrótico. Realizado desbridamento extenso em região escrotal, perineal, região pubiana e inguinal bilateral. Retornou à UTI em choque circulatório, em uso de noradrenalina dose baixa (< 0,1 mcg/kg/ min). Mantido sedado e em ventilação mecânica protetora, com boas trocas e parâmetros baixos. Observada a recidiva de crepitações em tecido subcutâneo, com extensão para todo o abdome até a base de tórax bilateralmente, sendo necessário nova cirurgia no mes- 2014|41 Santos et al. Síndrome de Fournier complicada na UTI : Relato de caso. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 41-43 mo período; ressecados pele e subcutâneo de toda parede abdominal, além de parte da parede torácica. Modificado ATB para Tazocin, Linezolida e Clindamicina pela infectologia. Retornou à UTI muito grave, em uso de noradrenalina, doses crescentes ( > 0,2 mcg/kg/min), taquicárdico (FC =120 bpm). Instalado de imediato cateter de artéria pulmonar e objetivando otimização hemodinâmica guiada por metas. Parâmetros hemodinâmicos iniciais: índice cardíaco (IC) = 1,9 L/min.m2, índice de trabalho sistólico do ventrículo esquerdo (ITSVE) = 30 g.m/m2, índice de resistência vascular sistêmica (IRVS) = 1200 dynas.seg/cm5, pressão capilar pulmonar (PCP) = 21 mmHg, pressão venosa central (PVC) = 19 mmHg, oferta de oxigênio (DO2) = 230 mL/min, consumo de oxigênio (VO2) = 90 mL/min . Exames laboratoriais com lactato= 5,7 mmol/l; SVO2=63%; GapCO2= 10; Hb= 8,9 g/dl. Foi realizada a expansão volêmica com 500 ml de Ringer com lactato e observada a elevação do IC para 2,5. Novo teste de volume com 250 ml, seguido de aumento do IC para 3,1. Após meia hora, SVO2= 70% e GaPCO2= 10. Novo desafio volêmico com 250 ml RL sem elevação do IC. Iniciado dobutamina 05 mcg/kg/ min, seguido de elevação do IC para 3,7 e GaPCO2= 05. Após 03 horas, Lactato= 3,1 mmol/l, SVO2= 71%, GaPCO2= 05. Mantido dobutamina na mesma dose e não administrado mais fluidos. Extubado em menos de 24 horas, sendo retirado Swan Ganz no mesmo período. Cultura de secreção do dreno positiva para Staphylococcus hominis e hemoculturas negativas. Teste rápido p/ HIV negativo. Após 05 dias, novo desbridamento cirúrgico em área de crepitação mantida; identificadas áreas de necrose em região lateral de abdome bilateralmente, região inguinal direita, epigástrio e hipogástrio. Evoluiu com melhora progressiva do padrão da lesão, sendo iniciado curativo com sulfadiazina e vácuo (pressão negativa), além de sessões de terapia hiperbárica, com duração de 1 hora cada. Após 23 dias, o paciente recebe alta da UTI em acompanhamento com Infectologia, Cirurgia Plástica, Clínica da Dor, Fisioterapia e Psicologia. Alta hospitalar em Home Care dois meses após. Discussão A Síndrome de Fournier é uma patologia cirúrgica grave, polimicrobiana e de rápida evolução1. Trata-se de uma fasciite necrotizante com uma história natural que inicia-se com uma lesão da pele, criando uma porta de entrada para microorganismos, devido a uma REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA descompensação dos mecanismos de defesa cutâneos3. A despeito dos avanços terapêuticos nos últimos anos, tem elevada taxa de mortalidade, variando entre 03 e 67% 2,3. Sua causa é identificável em cerca de 95% dos casos. Acomete principalmente indivíduos do sexo masculino, afetando todas as faixas etárias, com média ao redor dos 50 anos. É também descrita em crianças e mulheres em publicações mais recentes, esta última associada a bartolinite, abcesso vulvar e pós-histerectomias. Tem como fatores predisponentes o diabetes mellitus, obesidade, tabagismo, trauma mecânico e condições imunossupressoras2. As culturas são polimicrobianas, embora nem todas as bactérias envolvidas sejam sempre identificadas. Os microrganismos mais frequentemente isolados são Escherichia coli, Klebsiella pneumonia, Proteus, Staphylococcus aureus, Bacteroides Fragilis4. Estas atuam de modo sinérgico e agem através de diferentes mecanismos, contribuindo para a gravidade e rápida propagação do processo. À medida que ocorre disseminação das bactérias, a concentração de oxigênio nos tecidos é reduzida, levando à hipóxia e isquemia tecidual. A apresentação clínica do paciente com Síndrome de Fournier é variável. Dentre as manifestações mais frequentes estão a dor, eritema, edema, crepitação e necrose local, associados à febre e calafrios. A disseminação é rápida e agressiva ao longo de planos fasciais profundos. Complicações sistêmicas sérias podem ocorrer, como a insuficiência renal, SARA, coagulopatia, extensão da gangrena ao tronco, metástase séptica, choque5. O diagnóstico baseia-se em sinais clínicos e no exame físico, uma vez que testes laboratoriais são inespecíficos. A ultrassonografia pode mostrar a existência de gás em bolsa escrotal, mas falsos negativos podem ocorrer. A tomografia é de grande valor, pois pode fechar o diagnóstico, definir a causa e demonstrar a extensão da infecção. O manejo depende essencialmente de uma atuação multidiciplinar. O tratamento cirúrgico deve ser imediato e agressivo, com desbridamento extenso, associado à antibioticoterapia de amplo espectro até resultado de culturas6. Medidas de suporte intensivo são essenciais para o manejo do paciente e determinam prognóstico. A otimização hemodinâmica em curto intervalo de tempo, preferencialmente guiada por monitorização hemodinâmica individualizada, antes do estabelecimento de disfunções orgânicas, é 2014|42 Santos et al. Síndrome de Fournier complicada na UTI : Relato de caso. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 41-43 fundamental no combate à síndrome de disfunção de múltiplos órgãos e sistemas. Em média, três a quatro procedimentos são necessários, porém em casos mais avançados podem ultrapassar a 15 intervenções cirúrgicas. A oxigenoterapia hiperbárica tem a sua eficácia, uma vez que remove exudatos, estimula a angiogênese e reduz a contaminação bacteriana6. A colostomia mostrou-se favorável em casos específicos, estando indicada nas situações que facilitam a contaminação fecal. O principal aspecto no curativo é a limpeza mecânica com soro fisiológico. Sistema de curativo a vácuo pode ser usado como um adjuvante, sendo a ferida exposta a uma pressão subatmosférica, com menor frequência na troca de curativo e proporcionando maior conforto ao paciente. Conclusão O reconhecimento precoce da infecção, associado a tratamento agressivo e invasivo, é uma medida essencial na tentativa de reduzir a mortalidade e melhorar o prognóstico dos pacientes com Síndrome de Fournier. O desbridamento precoce, antibioticoterapia de amplo espectro, o manejo em unidades de cuidados intensivos e com otimização hemodinâmica inicial guiada por metas são ferramentas fundamentais nesse processo. O tratamento adjuvante com sessões de oxigenoterapia em câmara hiperbárica e curativos regulares, associado à pressão negativa, demonstrou-se eficaz no controle da doença, permitindo o início da reconstrução cirúrgica das áreas atingidas. A abordagem multidisciplinar se faz necessária em todas as etapas e fases da evolução dos pacientes internados. 3. Ersay A, Yilmaz G, Akgun Y, Celik Y. Factors affecting mortality of Fournier’s gangrene: review of 70 patients. ANZ J Surg 2007;77:43-8. 4. Baskin LS, Carroll PR, Cattolica EV, McAninch JW. Necrotising soft tissue infections of the perineum and genitalia. Bacteriology, treatment and risk assessment. Br J Urol 1990;65:524-9. 5. Barreda JT, Scheiding MM, Fernandez CS, Campana JMC, Aguilera JR, Miranda EF, et al. Fournier’s gangrene. A retrospective study of 41 cases. Cir Esp 2010;87(4):218-23. 6. Mindrup SR, Kealey GP, Fallom B. Hyperbaric oxygen for the treatment of FG. J Urol 2005;173:1975-7. 1- Serviço de Medicina Intensiva do Hospital Santa Izabel. Endereço para correspondência: [email protected] Referências 1. Laucks SS. Fournier´s gangrene. Surg Clin North Am 1994;74(6):1339-52. 2. Norton KS, Johnson LW, Perry T, Perry KH, Sehon JK, Zibary GB. Management of Fournier´s gangrene: an eleven year retrospective analysis of early recognition, diagnosis, and treatment. Am Surg 2002; 68(8):709-13. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|43 Almeida et al. Tumor de células epitelioides perivasculares (PEComa) maligno de retroperitônio. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 44-47 Relato de Caso – Oncologia Tumor de células epitelioides perivasculares (PEComa) maligno de retroperitônio. Lívia Andrade 1, Pâmela Almeida, Mayanna Lopes, Stella Dourado, Tamara Santana, Daniela Barros. Descritores: Neoplasias de Células. Epitelioides Perivasculares. Células Epiteliais. Neoplasias Retroperitoneais. Key Words: Perivascular Epithelioid Cell Neoplasms. Epithelial Cells. Retroperitoneal Neoplasms. Introdução O termo PEComa foi usado pela primeira vez em 1996 para designar neoplasias mesenquimais compostas por células epitelioides com uma associação íntima às paredes vasculares e características imunofenotípicas de músculo liso e diferenciação melanocítica1. Em 2009, PEComa passou a representar um grupo de neoplasias de tecidos moles, ósseos e de diferentes órgãos que compartilham características distintas morfológicas e imuno-histoquímicas, incluindo, pelo menos conceitualmente, angiomiolipomas (AML), tumor de células claras do pulmão, linfangioleiomiomatose (LAM), tumor de células claras do ligamento falciforme2,3. Atualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) define PEComa como “um tumor mesenquimal composto por células epitelioides perivasculares com histologia e imuno-histoquímica distintas”4. Relatamos um caso de um PEComa retroperitoneal em um homem de 60 anos e discutimos aspectos clínico-radiológicos, histopatológicos, bem como perspectivas terapêuticas e enfatizamos a raridade dessa neoplasia. Relato de caso Um homem de 60 anos sem comorbidades e com relato de obstipação intestinal crônica. Evolui com abdome agudo obstrutivo, sendo submetido à laparotomia de urgência, na qual foi realizada colectomia esquerda pela presença de tumoração abdominal. O valor do CEA pré-operatório era desconhecido. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA No pós-operatório apresentou complicações como evisceração e sepse de foco abdominal, cursando com prolongada internação em unidade de terapia intensiva. Foi reabordado cirurgicamente para lavagem de cavidade abdominal e confecção de peritoneostomia. Após antibioticoterapia de largo espectro obteve melhora clínica suficiente para confecção de colostomia e fechamento de peritoneostomia. Estudo anatomopatológico demonstrou adenocarcinoma moderadamente diferenciado de 4,0 X 4,0 cm até mesocólon e sem acometimento nos 22 linfonodos isolados, (estadiamento clínico IIB, TNM 10ª ed.). A imuno-histoquímica era negativa para instabilidade de microssatélite. Foi submetido à quimioterapia adjuvante com capecitabina por oito ciclos e na ressonância magnética (RM) de abdômen total para reestadiamento evidenciou-se imagem com morfologia arredondada, medindo cerca de 3,8 x 2,9 x 2,6 cm em seus maiores eixos, caracterizada por sinal intermediário nas ponderações T1 e T2, apresentando realce homogêneo pelo meio de contraste paramagnético, localizada em contiguidade e com aparente origem na parede posterior do cólon ascendente, sugerindo lesão de natureza neoplásica inespecífica (FIGURAS 1a e 1b). Após nova colonoscopia que evidenciou apenas um pólipo em cólon direito correspondente a um adenoma tubular com displasia de baixo grau foi submetido a novo procedimento cirúrgico para ressecção da tumoração com colectomia direita e reconstrução de trânsito intestinal. 2014|44 Almeida et al. Tumor de células epitelioides perivasculares (PEComa) maligno de retroperitônio. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 44-47 Figura 1a - corte axial de RM com técnica Fast Spin Eco na ponderação T2 sem supressão de gordura. Figura 1b - corte axial de RM com técnica Gradiente Eco na ponderação T1 com supressão de gordura, após a injeção do meio de contraste. As setas em vermelho apontam para lesão nodular sólida com sinal intermediário em T2 e com realce homogêneo pós-contraste, adjacente e com aparente origem na parede posterior do cólon ascendente. O estudo anatomopatológico mostrou neoplasia de padrão fusocelular e epitelioide, comprometendo a camada muscular e serosa do cólon com 3,5 X 2,8 X 2,0 cm, sem invasão angiolinfática, com margens livres e 35 linfonodos livres de invasão. A biópsia de peritôneo foi negativa. O perfil imuno-histoquímico revelou celularidade alta com elevado grau nuclear e 3 mitoses em 50 campos de grande aumento (CGA), com marcadores positivos para HMB45, anti-Melan e negativo para S100, sugerindo Neoplasia Epitelióide Perivascular (PEComa). O PET-SCAN demonstrou imagem noduliforme de 0,7cm hipermetabólica, visualizada na fossa ilíaca direita associada a borramento de gordura mesenterial adjacente (SUV precoce de 4,6 e tardio de 7,1). Mediante, a imagem acima referida, foi programada nova abordagem cirúrgica, cuja patologia definiu como processo inflamatório ulcerado com reação de corpo estranho. O paciente encontra-se em acompanhamento trimestral com exames de seguimento (tomografia de abdomen, radiografia de tórax e CEA). REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA Discussão Os tumores de células epitelioides perivasculares (PEComa) são neoplasias mesenquimais raras, descritas na literatura no contexto de casos individuais ou pequenas séries. Podem ser encontrados em qualquer faixa etária mas a média é aos 43 anos. Nota-se um predomínio no sexo feminino (4:1), o que demonstra haver uma possível associação com fatores hormonais, como a expressão de receptores de progesterona¹. O PEComa pode ser identificado em vários sítios anatômicos: no trato gastrointestinal (mais comumente em colón, pâncreas e fígado), útero, vulva, coração, mama, bexiga, parede abdominal e retroperiteno. Mais de 20 casos de PEComas retroperitoneais são documentados na literatura, tendo potencial de malignidade descrito associado à recorrência e metástases à distância. Os principais sítios de disseminação são fígado, pulmão, cérebro e ossos². O diagnóstico diferencial dos tumores epitelioides perivasculares incluem tumores estromais gastrointestinais, melanoma, sarcoma de células claras e leiomiossarcoma. Um estudo de 32 casos concluiu que, em RM, as imagens de PEComas contrastavam-se e possuíam elevada definição nas fases arterial e veno- 2014|45 Almeida et al. Tumor de células epitelióides perivasculares (PEComa) maligno de retroperitônio. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 44-47 sa. Entretanto, essas características tiveram sensibilidade apenas em 15% dos casos reportados³. quimioterapia com Doxorrubicina e Ifosfamida, que manteve a doença estável por nove meses8. Dessa forma, o diagnóstico de PEComa se impõe a partir dos marcadores histológicos e imuno-histoquímicos, característicos das células epitelioides perivasculares, (PEC), definidos pela OMS, em 20024. Além disso, muitas outras terapias foram estudadas para controlar PEComas não operáveis, como: dacabazina, epirubicina, paclitaxel, genctabina, oxaliplatina, imatinib, alfa-interferon e talidomida. Entretanto, os resultados clínicos são extremamente variáveis e um tratamento padrão não está estabelecido7. As características peculiares são o citoplasma eosinofílico claro e granular, composição de ninhos, folhas epitelioides ou células fusiformes e íntima relação às paredes dos vasos. Essas células expressam marcadores melanocíticos e miogênicos, como HMB45, HMSA-1, MelanA/Mart 1, fator de transcrição Microftalmia (Mitf), actina e, menos comumente, desmina4. Preditores de prognóstico em PECOMA foram descritos em um estudo clínico patológico de 26 casos por Folpe et al. e classificaram os tumores como benignos, potencialmente malignos e malignos4. Essa classificação baseou-se na observação de comportamento clínico agressivo em tumores maiores que 5cm, com padrão de crescimento infiltrativo, alto grau nuclear e celularidade, índice mitótico maior ou igual a uma mitose pó CGA, necrose e invasão vascular4. Em um artigo de revisão mais recente¹, englobando 234 PEComas, os únicos fatores patológicos de recidiva após ressecção cirúrgica eram tamanho do tumor primário maior que 5 cm e uma taxa de mitose maior que 1/50 CGA, três critérios presentes no caso relatado. PEComa está relacionado à Esclerose Tuberosa. Essa correlação acontece pela presença de alterações genéticas comuns, como deleções em TSC1 (9q34) ou TSC2 (16p13.3)5. Nessas condições a via, de sinalização intracelular do mTOR é ativada e pode ser alvo dos inibidores dessas vias. Talvez a presença de esclerose tuberosa possa ser usada como indicador de sensibilidade a essa terapêutica6. O tratamento do PEComa é estabelecido sempre quando possível por ressecção cirúrgica. Quanto à radioterapia e quimioterapia citotóxica, BleeKer et al., demonstrou ter pouco benefício no PEComa maligno1. Os inibidores de mTOR (Sirolimus, Temsirolimus e Everolimus) surgiram com muito entusiasmo e em alguns estudos mostraram-se efetivos6,7. Entretanto, outros relatos de casos não evidenciaram benefício quanto à recorrência local e progressão de doença quando usados por quatro meses. Ao contrário de REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA No caso relatado, a ressecção cirúrgica foi realizada como exposto em revisão de literatura, considerada o tratamento padrão. A imagem residual revelada em PET-SCAN foi definida como processo inflamatório, dessa forma mantido seguimento trimestral. Conclusão O caso relatado soma-se aos escassos registros dessa neoplasia mesenquimal rara e heterogênea, o que impede estudos comparativos que estabeleçam o tratamento ideal. Sendo assim, enfatiza-se a importância de registros clínicos com características clínico-radiológicas, histopatológicas e terapêuticas estabelecidas, bem documentados, a fim de se deduzir as melhores práticas clínicas. Referências 1. Bleeker JS, Quevedo JF, Folpe AL. Malignant perivascular epithelioid cell neoplasm: risk estratification and treatment strategies. Sarcoma 2012;1: 541626. 2. Ji HW, Jin LZ, Yan C, Le Shang et al. Malignant perivascular epithelioid cell tumor of the retroperitoneum. Int J Clin Exp Pathol 2013; 6(10): 2251- 6. 3. Tan Y, Zhang H, Xiao EH. Perivascular epithelioid cell tumour : Dynamic CT,MRI, and clinicopathological characteristics – Analysis of 32. cases and review of the literature. Clinical Radiology 2012; 68(6): 555-61. 4. Folpe AL. Neoplasmas with perivascular epithelioid cell differentiation (PEComas). In: Flectcher CDM, Unni KK, Mertens F (Eds). Pathology and Genetics of Tumours of Soft Tissue and Bone. IARC Press: Lyon, 2002. p. 221- 2014|46 Almeida et al. Tumor de células epitelióides perivasculares (PEComa) maligno de retroperitônio. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 44-47 6. Guido M, Pea M, Reghellin D, Zamboni G, Bonetti F. PEComas: The past, the present and the future. Virchows arch 2008; 452(2):119-132. 7. Koenig AM, Quaas A, Ries T, Yekebas EF, Gawad KA, Vashist YK, et al. 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Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 48-51 Artigo multiprofissional – Fisioterapia Correlação entre o tempo de circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca Yuri de Araújo Tapparelli 1, Paulo Ricardo Santana Carvalho, Fleury Ferreira Neto Resumo Introdução: A circulação extracorpórea (CEC) é uma modalidade de circulação controlada que substitui as trocas gasosas e a circulação durante a cirurgia cardíaca. Seu uso prolongado está associado a alterações da permeabilidade do tecido e diversas manifestações clínicas, como lesão pulmonar. Objetivo: observar a correlação entre o tempo de exposição à circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica após a cirurgia. Metodologia: estudo retrospectivo, realizado no Hospital Santa Izabel, através da análise documental de prontuários de pacientes internados no período de setembro do ano de 2011 a março do ano de 2012. A amostra foi composta de 238 prontuários de pacientes que foram submetidos a cirurgias cardíacas com uso de CEC e VM. Resultados: as cirurgias em que o tempo de circulação extracorpórea inferior a 115 minutos (190 procedimentos) obteve a mediana de 335 (235 – 521) minutos do tempo de ventilação mecânica, e os pacientes que foram submetidos à circulação extracorpórea, maior que 115 minutos (48 procedimentos), obteve a mediana de 455 (305 – 881) minutos de ventilação mecânica, tendo um valor de p=0,04. Conclusão: o tempo de circulação extracorpórea pode influenciar no tempo de ventilação mecânica, em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, ratificando os dados encontrados em outras bases científicas. Descritores: Circulação extracorpórea. Cirurgia Torácica. Respiração artificial. Key Words: Extracorporeal Circulation. Thoracic Surgery. Respiration, Artificial. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA INTRODUÇÃO A cirurgia cardíaca é um procedimento invasivo de alto risco, que tem como alvo um órgão vital, o coração. Esse procedimento cirúrgico ocasiona diversas alterações sistêmicas, podendo levar à diminuição dos volumes e capacidades pulmonares, alterações de trocas gasosas, diminuição da força muscular respiratória e outras alterações que influenciam na mecânica ventilatória1. A circulação extracorpórea (CEC) é uma modalidade de circulação controlada que substitui as trocas gasosas e a circulação durante a cirurgia. O contato prolongado com às superfícies não endotelizadas da CEC está associado a liberação de mediadores que podem estar envolvidos nas alterações da permeabilidade do tecido e diversas manifestações clínicas, como lesão miocárdica, lesão pulmonar, entre outras.2,3 O Hospital Santa Izabel é considerado referência na assistência a pacientes cardiopatas, onde são realizadas, em média, 70 cirurgias cardíacas por mês. O serviço de fisioterapia conta com profissionais especializados, os quais promovem o ganho funcional e previnem e tratam complicações cardiovasculares e respiratórias advindas dos procedimentos cirúrgicos. Portanto, o objetivo desse estudo foi observar se há correlação entre o tempo de CEC e o tempo de VM em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. MÉTODO Trata-se de um estudo retrospectivo, realizado no Hospital Santa Izabel (HSI), localizado na cidade do Salvador – Bahia. A coleta de dados foi realizada 2014|48 Carvalho et al. Correlação entre o tempo de circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 48-51 através da análise documental de prontuários de pacientes internados na UTI cardiovascular do HSI, no período de setembro do ano de 2011 a março do ano de 2012. A amostra foi composta de 359 prontuários de pacientes que foram submetidos a cirurgias cardíacas com uso de CEC e VM, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 65 anos. Foram excluídos 121 prontuários de pacientes que realizaram cirurgia cardíaca sem o uso de CEC, reabordagem cirúrgica no pós-operatório imediato (POI), pacientes extubados no centro cirúrgico, óbito no centro cirúrgico e na UTI, parada cardiorrespiratória (PCR), ou complicações clínicas que retardassem a extubação (infarto agudo do miocárdio, choque, re-operação, acidente vascular cerebral), ou que apresentassem complicações respiratórias como: derrame pleural, atelectasia, congestão pulmonar, disfunção diafragmática e pneumonia. Foi utilizada a estratégia de fonte secundária, através de informações do banco de dados do serviço de fisioterapia, com extração dos dados relativos a: hora de admissão na UTI, data da extubação, hora da extubação, tempo de extubação (em minutos) e tempo de CEC (em minutos). Foi considerado como tempo inicial da ventilação o momento de adaptação à VM na chegada à UTI. Os dados coletados foram tabulados no programa Excel (versão 8.0) e analisados no Epi Info 2000 (versão 3.2). Realizou-se a análise univariada, a fim de apresentar as frequências para variáveis qualitativas, no intuito de descrever as características da amostra e também para investigar possível inconsistência dos dados. A seguir, foi realizada a análise bivariada, para explorar a associação entre as variáveis de interesse. A significância estatística foi avaliada por meio do Teste T para comparação de médias. Em todos os testes estatísticos utilizados foi considerado um nível de significância de 5% (p < 0,05). O projeto foi encaminhado para avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Santa Izabel, atendendo a resoluções 196/96 e 251/97, sendo aprovado sob o parecer nº 46/2011, no dia 29 de novembro de 2011. Após as considerações éticas pertinentes, foi iniciada a coleta de dados, tendo início mediante a autorização do Hospital Santa Izabel, através do preenchimento e assinatura da Carta de Aprovação do Setor. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA RESULTADOS Foram analisados 359 prontuários, 121 exclusos, restando 238 prontuários para análise documental. O sexo masculino foi predominante (58,4%), com idade média de 48,9 (±12) anos de idade. Dos 121 prontuários dos critérios de exclusão, os que mais predominaram foram a idade (70%), extubação no centro cirúrgico (8%), pacientes sem utilização de CEC (5%), pacientes em óbito (4%), apresentado na tabela 1. A tabela 2 representa os principais tipos de cirurgias as quais os pacientes foram submetidos, como: revascularização do miocárdio completa (RMC), apresentado em 75 (31%) pacientes, revascularização do miocárdio incompleta (RMI), 38 (16%) pacientes; troca de válvula mitral (TV mitral), 33 (14%) pacientes; correção intra-atrial (CIA), 18 (8%) pacientes; plastia mitral, 16 (7%) pacientes; e troca válvula aórtica (TV aórtica), 14 (6%) pacientes. A correlação entre o tempo de circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica, representada na tabela 3, mostra que o tempo de circulação extracorpórea menor ou igual a 115 minutos, realizado em 190 pacientes (79,8%), obteve a mediana de 335,0 minutos do tempo de ventilação mecânica, com o intervalo interquantil (235,0 – 521,3), e os pacientes que foram submetidos à circulação extracorpórea, maior que 115 minutos, realizada em 48 pacientes (20,2), obteve a mediana de 455,0 do tempo de ventilação mecânica, com intervalo interquantil de 305,0 – 881,3, tendo um valor de p=0,04. DISCUSSÃO O tempo de CEC é um dos principais fatores que dificultam o desmame da VM, na cirurgia cardíaca, devido a distúrbio fisiológico, que promove prejuízos nas membranas dos capilares pulmonares, aumento do shunt fisiológico causando alterações nas trocas gasosas, provocado pela resposta inflamatória ao circuito extracorpórea4,5. A observação da correlação entre o tempo de CEC e o tempo de VM em um hospital de referência para a cardiologia obteve resposta positiva, com significância estatística e ratifica os achados da literatura. O grupo de pacientes que permaneceu acima de 115 minutos em CEC levou maior tempo na ventilação mecânica. 2014|49 Carvalho et al. Correlação entre o tempo de circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 48-51 De acordo com Broco, as disfunções pulmonares causadas pela CEC fazem com que pacientes submetidos à cirurgia cardíaca apresentem maior dependência de VM6. O estudo de Milani em 2005 comparou, retrospectivamente, pacientes submetidos à cirurgia cardíaca, com e sem CEC, e observou que a ventilação prolongada e o tempo de permanência hospitalar foram menores no grupo sem CEC, em relação ao grupo que utilizou CEC7. Segundo Szeles, pacientes com tempo maior que 120 minutos de CEC obtiveram risco como hipoxemia grave, quando comparados com o grupo com o tempo de CEC, menor que 120 minutos, havendo uma maior agressão inflamatória no grupo de maior duração8. Arcênio também mostra que o tempo maior de CEC acima de 120 minutos, está relacionado com o alto risco cirúrgico e consequentemente maior tempo do ato cirúrgico e VM9. CONCLUSÃO De acordo com os dados analisados, podemos afirmar que o tempo de circulação extracorpórea pode influenciar no tempo de ventilação mecânica em pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, ratificando os dados encontrados em outras bases científicas. Tabela 1 - Representa os critérios de exclusão mais frequentes no grupo excluso. Exclusão Idade Extubado CC Sem CEC Óbito Outros Total Nº 85 10 6 5 15 121 % 70 8 5 4 13 100 Fonte: Análise documental de prontuários do Hospital Santa Izabel (HSI). Legenda: Nº- número; CC- centro cirúrgico; CEC- circulação extracorpórea. Tabela 2 - Tipos de cirurgias cardíacas realizadas em setembro de 2011 e março de 2012. Cirurgias Nº % RMC RMI TV Mitral 75 38 33 31 16 14 CIA Plastia Mitral 18 16 8 7 TV Aórtica 14 16 Outras Total 44 238 18 100 Fonte: Análise documental de prontuários do Hospital Santa Izabel (HSI). Legenda: RMC- Revascularização do miocárdio completa; RMIRevascularização do miocárdio incompleta; TV Mitral- Troca de válvula mitral; CIA- comunicação intra-atrial; TV aórtica- Troca de válvula aórtica. Tabela 3 - Correlação entre o tempo de circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica. Cirurgias Nº (%) 190 (79,8) 48 (20,2) Tempo de CEC ≤115 >115 Tempo de VM/min. 335,0 (235,0 - 522,3) 455,0 (305,0 - 881,3) P valor 0,04 Fonte: Análise documental de prontuários do Hospital Santa Izabel (HSI). Legenda: CEC- Circulação extracorpórea; Nº- Número; VM- Ventilação mecânica; Min.- Minutos. Valores expressos em Mediana(intervalo interquantil) Referências 1. Almeida F, Barreto S, Couto B, Starling C. Fatores Preditores da Mortalidade Hospitalar e de Complicações Pré-Operatórias Graves em Cirurgia de Revascularização do Miocárdio. Arq Bras Cardiol. 2003; 80(1):51-60. 2. Woods S, Gray S. Cardiopulmonary bypass. Anaesthesia And Intensive Care Medicine. 2009;10:405-464. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|50 Carvalho et al. Correlação entre o tempo de circulação extracorpórea e o tempo de ventilação mecânica em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Rev. Saúde HSI. 2014; 1 MAR (1): 48-51 3. Barbosa R, Carmona M. Avaliação da Função Pulmonar em Pacientes Submetidos à Cirurgia Cardíaca com Circulação Extracorpórea. Rev Bras Anestesiol. 2002;52(6):689-99. 4. Guizilini S, Gomes W, Faresin S, Bolzan D, Alves F, Catani R. Avaliação da função pulmonar em pacientes submetidos à cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea. Braz J Cardiovasc Surg. 2005; 20(3):310-16. 5. Fagundes W, Ramos M, Azevedo V, Silva J. Revascularização do miocárdio sem circulação extracorpórea em pacientes multiarteriais: experiência de 250 casos. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2002;17(3):242-47. 6. Broco L, Pasolini M, Scapini K, Timm B, Posser S, Rockenbach C, et al. Função pulmonar após cirurgia de revascularização do miocárdio com e sem circulação extracorpórea. Scientia Medica. 2010;20(2):149-155. 7. Milani R, Brofman P, Moutinho J, Barboza L, Guimarães M, Barbosa A, et al. Revascularização total do miocárdio sem circulação extracorpórea em pacientes com disfunção ventricular esquerda. Arq. Bras. Cardiol. 2007; 89(1):11-5. 8. Szeles T, Yoshinaga E, Alencar W, Brudniewski M, Ferreira F, Auler J, et al. Hipoxemia após Revascularização Miocárdica: Análise dos Fatores de Risco. Rev Bras Anestesiol. 2008;58(2):124-36. 9. Arcêncio L, Souza M, Bortolin B, Fernandes A, Rodrigues A, Evora, P. Cuidados pré e pós-operatórios em cirurgia cardiotorácica: uma abordagem fisioterapêutica. Rev Bras Cir Cardiovasc. 2008;23(3):400-10. 1- Serviço de Fisioterapia do Hospital Santa Izabel Endereço para correspondência: [email protected] REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 2014|51 PROTOCOLO DE ATENDIMENTO SEPSE 1. OBJETIVO Auxiliar na identificação de casos suspeitos, no diagnóstico e no tratamento precoce. 2. META TERAPÊUTICA Redução da taxa de mortalidade em 20% para sepse grave e 10% para choque séptico em 2 anos. 3. ELEGIBILIDADE 3.1 Critérios de Inclusão - Pacientes com sepse, sepse grave ou choque séptico 3.2 Critérios de Exclusão - Pacientes onde o tratamento seja limitado desde o início, por condução paliativa (exclusão do protocolo). - Pacientes admitidos com outros diagnósticos onde por si só haja alto risco de óbito (exclusão da análise). - Pacientes provenientes de outra instituição hospitalar (exclusão da análise). - Novo episódio de sepse na mesma internação (exclusão da análise). 4. PONTOS CRÍTICOS - Reconhecimento precoce - Antibioticoterapia precoce - Ressuscitação volêmica - Terapia guiada por metas 5. MARCADORES DO PROCESSO MARCADORES Reconhecimento precoce (porta ou dois sinais de SIRS até entrar no protocolo) Solicitação lactato arterial Tempo entre a solicitação e liberação do lactato Solicitação culturas Tempo antibiótico até 1 h do reconhecimento Ressuscitação volêmica em solução glicosada ou CS até 3 horas Terapia guiada por metas em SG (com lactato > 4) e CS até 6 h (PAM > 65, SVO2 >70%) PARÂMETRO 100% 100% Até 30 minutos 100% 100% 100% 100% 6. INDICADORES DE RESULTADO Taxa de mortalidade em sepse, sepse grave e choque séptico Taxa de efetividade = Pacientes com sepse grave que não evoluíram para choque séptico x 100 Pacientes incluídos para análise com sepse grave REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 52 7. TERMOS E DEFINIÇÕES 7.1.SIRS (Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica) – Reação inflamatória, imunológica e procoagulante, decorrente de várias situações clínicas, entre elas infecção. Caracteriza-se pela presença de pelo menos dois dos seguintes critérios: • Temperatura >38° C ou < 36° C; • FC > 90 bpm; • FR > 20 ipm ou PaCO2 < 32; • Leucograma > 12.000 ou < 4.000 ou > 10% formas jovens. 7.2.Sepse - SIRS decorrente de infecção. 7.3. Sepse grave - Sepse com presença de pelo menos uma disfunção orgânica. Neurológica Cardiovascular Renal Respiratória Hematológica Hepática Metabólica Gastrointestinal Confusão mental, agitação, sonolência, coma PAS < 90 mmHg ou PAM < 65 mmHg ou redução >40 mmHg da prévia ou uso de DVA Diurese < 0,5 ml/Kg/h (por 2 h) ou creatinina > 2 ou aumento da creatinina > 0,5 mg/dl PO2/FiO2 < 250 na ausência de pneumonia ou < 200 com pneumonia Plaquetas < 100.000 ou redução de 50% da prévia, TTPA > 60 seg, INR >1,5 Bilirrubinas > 2 mg/dl Lactato arterial > Normal ou pH < 7,30 ou BE< - 5 Íleo, ruídos hidroaéreos ausentes 7.4. Choque séptico – persistência da PAS < 90 mmHg ou PAM < 65 mmHg a despeito da reposição volêmica, ou necessidade de drogas vasoativas. 7.5. DMOS (Disfunção de Múltiplos Órgãos e Sistemas) – presença de duas ou mais disfunções orgânicas agudas, nas quais a homeostase não pode ser mantida sem intervenção. 7.6. Outros sinais de alerta para sepse - Hiperglicemia >140 na ausência de diabetes; PCR > 2 vezes o normal; procalcitonina > 2 vezes o normal; significativo edema ou balanço hídrico positivo (20 ml/Kg nas 24 horas); redução do enchimento capilar. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 53 8. DESCRIÇÃO DO PROCESSO 8.1. Condução de pacientes potencialmente sépticos Dois ou mais parâmetros • Temperatura ≥ • PAS < 90 ou PAM < 65 38°C ou < 36°C mmHg Enfermagem Sepse Grave - Basta um critério assinalado • PAS < 90 ou PAM < 65 mmHg ou redução > 40 da prévia • Calafrios com tremores • Redução diurese • Sonolência ou confusão ou agitação ou coma • FC > 90 bpm •Sonolência ou confusão ou agitação • Sat < 92% ou PaO2/FiO2 < 250 (sem pneumonia) ou < 200 (com pneumonia) • FR > 20 ipm • Dispnéia ou dessaturação • Creatinina ≥ 2 mg/dl ou D.Urinário ≤ 0,5 ml/ Kg/h (por 2 h) • Bilirrubinas > 2 mg Avaliação Médica Suspeita de Infecção Confirmação de SEPSE Confirmação de SEPSE grave 1. Encaminhar para observação 1. Encaminhar para observação. 2. Solicitação de exames complementares: 2. Solicitação de exames complementares: - Hemograma, gasimetria arterial, lactato arterial, glicemia, ureia, creatinina, Na, K, TP, bilirrubinas, PCR, hemoculturas (dois pares sem intervalo) e sumário de urina; - Hemograma, gasimetria arterial, lactato arterial, glicemia, ureia, creatinina, Na, K, TP, bilirrubinas, PCR, hemoculturas (dois pares sem intervalo) e sumário de urina; - Considerar culturas de outros sítios pertinentes, urocultura, rad. tórax, ultrassonografia, tomografia e líquor. 3. Venóclise 4. Antibioticoterapia empírica 5. Considerar remoção de foco e avaliação cirúrgica - Considerar culturas de outros sítios pertinentes, urocultura, rad tórax, ultrassonografia,tomografia e líquor. 3. Monitorização eletrocardiográfica, oximétrica, PAMNI e sondagem vesical. Considerar CVC e PAMI. 4. Oxigenioterapia: manter SatO2 > 92% / considerar VM. 5. Otimização perfusão até 6 h - Ressuscitação inicial: acesso calibroso (jelco ≤ 20) – 30 ml/kg de cristalóide (observar resposta e tolerância). -Terapia guiada por metas - Persiste hipotensão ou lactato>4 Afastada a sepse grave e estabilizado o paciente: considerar internação em unidade aberta, a depender das comorbidades. * PAM > 65 , PVC > 8, SvO2 > 70%, diurese > 0,5 ml/Kg/h. Orientações: 6. Antibioticoterapia empírica até 1 h do reconhecimento; 1- Quando Drogas Vasoativas: . Ausência de melhora dos indicadores de perfusão com a expansão volêmica. . Não tolerância a volume (ex. congestão pulmonar). 2- Quando Dobutamina: * Observar clareamento lactato > 10% (6 h) e GapCO2 < 6 - Considerar DVA, hemotransfusão, dobutamina, corticóide. 7. Considerar remoção de foco e avaliação cirúrgica; 8. Controle glicêmico: manter < 180 mg/dl; 9. Prevenção de TEV e LAMGD; 10. Transferência para UTI. . SVO2 < 70% após otimização volêmica, Hb > 7,0 e PAM > 65 mmHg. 3- Quando Hemotransfusão (conc.de hemácias): . Hb <7,0. . Hb 7,0 – 9,0 mantendo hipoperfusão a despeito da reposição volêmica e uso de drogas vasoativas. 4- Quando Corticoterapia (200 mg dia): . Choque circulatório refratário. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 54 8.2. Condução inicial de pacientes com suspeita de Sepse Grave ou Choque Séptico - UTI Suspeita de Sepse Grave ou Choque Séptico Oxigenioterapia: Monitoração Inicial: Eletrocardiográfica Oximétrica PAM não invasiva Ressuscitação Volêmica: Manter SaO2 >92% Considerar VM invasiva Cristalóide - 20 ml/kg em 30 min. Observar necessidade e tolerância Exames laboratoriais: hemograma, gasimetria aterial e venosa, lactato arterial, ureia, creatinina, Na, K, TP, bilirrubinas, duas hemoculturas. Considerar culturas de outros sítios e Rx tórax Antibioticoterapia empírica (até 1 hora) Considerar foco abordável - Exame de imagem - Avaliação cirúrgica Monitorização Invasiva - Objetivos iniciais até 6h CVC ------------------------------ PVC ≥ 8 mmHg SVO2 ≥ 70% PAM ----------------------------- ≥ 65 mmHg CV ------------------------------- Diurese > 0,5 ml/Kg/hora Terapia adjuvante: - Glicemia < 150 mg/dl - Suporte Nutricional - Prevenção TEV - Prevenção LAMGD Ressuscitação Volêmica Considerar Noradrenalina ou Dopamina < 65 mmHg PAM PVC ≥ 65 mmHg Considerar Hidrocortisona 100 mg ev 8/8 h < 8 - 12 mmHg Otimização Volêmica ≥ 8 a 12 SV O2 Check List Drotrecogina (até 24 horas) < 70% Hb de 7 a 10 Individualizar a conduta Hb <7 > 10g/dl Dobutamina Contactar Coordenação Hb > 10g/dl e SVO2 < 70% Concentrado Hemácea - Manter otimização perfusão: PAM, PVC, responsividade a fluido, SVO2, avaliar clareamento do lactato arterial, GapCO2 e diurese. - Considerar Swan ganz. - Monitorar SOFA - Controle das disfunções orgânicas: VM com estratégia protetora, terapia dialítica REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 55 9. RESPONSABILIDADES 9.1 - Médico • Identificar precocemente o paciente com suspeita de sepse, sepse grave e choque séptico. • Solicitação de exames complementares que confirmem a suspeita, o foco, a presença de hipoperfusão e de disfunções de órgãos. • Iniciar antibioticoterapia até 1 hora do reconhecimento, considerando o foco suspeito e risco de patógenos resistentes. • Atentar foco infeccioso removível, solicitando exames comprobatórios e avaliação de especialista, conforme o caso. • Instituir terapia guiada por metas em pacientes com Sepse Grave e Choque Séptico. • Monitorar macro e micro-hemodinâmica. 9.2 – Enfermagem • Ao avaliar o paciente com infecção identificada ou suspeita, o enfermeiro deverá verificar os sinais vitais (temperatura, FC, FR, PA) e ter atenção para presença de sinais de hipoperfusão, como alteração do sensório e queda da diurese. • Solicitar avaliação médica imediata na suspeita de SEPSE. • Instalar monitorização multiparamétrica, acompanhando rigorosamente sinais de hipotensão, taquicardia, hipo ou hipertermia e alteração do padrão ventilatório. • Observar alteração do nível de consciência (sonolência a coma, confusão mental, agitação psicomotora). • Instalar acesso calibroso (cateter periférico com calibre menor ou igual a 20) e iniciar a ressuscitação volêmica, conforme prescrito. • Providenciar a realização dos exames complementares. • Iniciar a antibioticoterapia de imediato, conforme prescrição médica. • Realizar o Balanço Hídrico rigoroso. • Atentar para os sinais de hipovolemia e hipervolemia. • Atentar para controles de níveis glicêmicos e sinalizar se glicemia maior ou igual 180 mg/dl. 9.3 – Fisioterapia • Manter a vigilância respiratória sistemática, monitorizando a ausculta pulmonar, radiografia, hemogasimetria, pressões de pico, platô e resistiva, complacência estática e dinâmica. • Atentar para a necessidade de ventilação com estratégia protetora (vide protocolo SDRA). • Instituir medidas terapêuticas para prevenção de obstruções brônquicas e atelectasias. • Manter fisioterapia motora para prevenção de sequelas. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 56 9.4 – Nutrição • Inibir ou minimizar a perda muscular. • Manter a integridade da mucosa intestinal e evitar a translocação bacteriana. • Recuperar ou manter o estado nutricional, considerando o quadro hemodinâmico e o funcionamento do trato gastrointestinal. • Características da dieta: - Hipercalórica (25 a 30 kcal/kg de peso/dia), exceto em obesos (20 kcal/kg de peso/dia). - Hiperproteica (1 a 1,5 g/kg/dia). - Isenta de sacarose. - Redução da oferta hídrica e de sódio, nos casos necessários (edema, HAS, ICC, IRenal). - Aumento da oferta de potássio, zinco, fósforo e magnésio, mantendo níveis séricos normais. - Uso de imunonutrientes – arginina (forma cautelosa), glutamina (NE ou NP) ou aminoácidos precursores (valina, leucina, interleucina), ômega 3, antioxidantes (selênio, vitaminas A, C e E). 9.5 – Psicologia • Acolher a família, conduzindo apoio emocional e psicoeducação, com objetivo de reduzir a apreensão e facilitar o enfrentamento saudável. • Conduzir o apoio e esclarecimento ao paciente, de acordo com o seu nível de consciência. 9.6 – Farmácia • Garantir a liberação imediata da antibioticoterapia inicialmente prescrita. 9.7 – Laboratório • Atender a solicitação dos exames complementares solicitados, com priorização da coleta e liberação. • Garantir a liberação do tempo de lactato em até 30 minutos da hora solicitada. 9.8 – SCIH • Avaliar e intervir junto à assistência para garantir o cumprimento de ações preventivas. • Notificação dos casos confirmados de Sepse nosocomial, gerando indicadores epidemiológicos conforme o foco. 10.REFERÊNCIA NORMATIVA Bone RC et al. ACCP/SCCM Consensus Conference: Definitions for sepsis and organ failure and guidelines for the use of innovative theraphies in sepsis. Chest 1992; 101:1644-1655. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 57 Dellinger RP Carlet JM, Masur H, et al. Surviving Sepsis Campaign guidelines for management of severe sepsis and septic shock. Crit Care Med 2004; 32:858-873 Rivers EP, Morro DC et al. Early and innovative interventions for severe sepsis and septic shock: taking advantage of a window of opportunity. CMAJ 2005; 173(9):1054-1065. Russel JA. Management of Sepsis. N. Engl J Med 2006; 355:1699-713. Dellinger RP, Levy MM, Carlet JM, et al. Surviving Sepsis Campaign: International guidelines for management of severe sepsis and septic shock. Crit Care Med 2008; 36 (1): 296. Dellinger RP et al. Surviving Sepsis Campaign: International Guidelines for Management of Severe Sepsis and Septic Shock: 2012. Crit Care Med 2013; 42 (2): 580. 11. EQUIPE DE ELABORAÇÃO DO PROTOCOLO Profissional Dra. Cyntia Lins Lucimare Passos Especialidade ou Área Médica Enfermagem Claudia Souza Joselma Reis Dr. Marcos Vinicius PA Adulto Dra. Andrea Karolinne Eliane Debortoli Taline Rios Laboratório Farmácia Adriana Maringe Dinalva Bastos SCIH Silvia Coelho Débora Santiago Educação Permanente REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 58 EVENTOS FIXOS NOME DO EVENTO SESSÃO DE HEMODINÂMICA SESSÃO DE CASOS CLÍNICOS E ARTIGOS EM CLÍNICA MÉDICA SESSÃO DE ATUALIZAÇÃO EM CLÍNICA MÉDICA SESSÃO MULTIDISCIPLINAR DE ONCOLOGIA SESSÕES DE OTORRINOLARINGOLOGIA SESSÃO DE TERAPIA INTENSIVA SESSÃO DE RADIOLOGIA TORÁCICA (PNEUMOLOGIA) SESSÕES DE NEUROLOGIA SESSÕES DE UROLOGIA SESSÃO DE CIRURGIA GERAL SESSÕES DE ANESTESIOLOGIA SESSÃO DE PNEUMOLOGIA SESSÕES DE CARDIOLOGIA PEDIÁTRICA LOCAL AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA DIA DA SEMANA HORÁRIO 2ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 3ª FEIRA 10 ÀS 12 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 5ª FEIRA 11 ÀS 12 HORAS AUDITÓRIO JORGE FIGUEIRA 5ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 3ª E 6ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 4ª FEIRA 11 ÀS 13 HORAS SALA DE TREINAMENTO 04 4ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS AUDITÓRIO DO SENEP SALA DE TREINAMENTO 04 AUDITÓRIO DO SENEP AUDITÓRIO DO SENEP AUDITÓRIO DO SENEP 4ª FEIRA 5ª FEIRA 3ª FEIRA 4ª A 6ª FEIRA 3ª FEIRA 17 ÀS 19 HORAS 16 ÀS 19 HORAS 07 ÀS 08 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 08 ÀS 10 HORAS SALA DE TREINAMENTO 01 2ª A 6ª FEIRA 07 ÀS 09 HORAS 5ª FEIRA 5ª FEIRA 6ª FEIRA 4ª FEIRA 4ª FEIRA 5ª FEIRA 08 ÀS 10 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 07 ÀS 09 HORAS 13 ÀS 15 HORAS 07:30 ÀS 09:00 HORAS 09:00 ÀS 10:30 HORAS AUDITÓRIO DO SENEP SALA DE TREINAMENTO 02 SALA DE TREINAMENTO 03 SESSÃO DE ARRITMOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 03 SESSÕES DE SALA DE TREINAMENTO 02 REUMATOLOGIA SALA DE TREINAMENTO 01 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 59 INSTRUÇÕES AOS AUTORES Especificações do Editorial - Normatização Geral A diagramação da revista seguirá padrões internacionais para revistas biomédicas, conforme estabelecido nas Diretrizes de Vancouver. Classificação manuscritos Nº máximo de autores TITULO: Nº máximo de caracteres com espaço RESUMO: Nº máximo de palavras Editorial Atualização de tema: Resumo de artigos publicados pelo HSI Relato de casos Memórias do HSI 2 4 10 100 100 100 0 250 250 6 1 80 80 0 0 Continuação: Classificação manuscritos Nº máximo de palavras com referência Nº máximo de referências Nº máximo de tabelas ou figuras Editorial 1000 10 2 Atualização de tema: 6500 80 8 Resumo de artigos publicados pelo HSI 1500 10 2 Relato de casos 1500 10 2 Memórias do HSI 1500 2 2 REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 60 NORMAS DE PADRONIZAÇÃO BIBLIOGRÁFICA SEGUINDO OS REQUISITOS UNIFORMES DE VANCOUVER O Estilo Vancouver surgiu em 1978 por um pequeno grupo de editores científicos da área médica no Canadá, especialmente na cidade de Vancouver, com o intuito de criar e estabelecer padrões para o formato de originais submetidos a suas publicações. O Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas – ICMJE ficou conhecido como Grupo de Vancouver. A seguir mostraremos os requisitos para apresentação e elaboração de referências segundo o estilo de Vancouver. Tais dados foram retirados e adaptados dos documentos originais encontrados nos endereços eletrônicos: http://www.icmje.org e http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html NORMAS GERAIS DE AUTORIA ALGUMAS ORIENTAÇÕES _ Referencia-se o(s) autor(e)s pelo seu sobrenome, sendo que apenas a letra inicial é em maiúscula, seguida do(s) nome(s) abreviado(s) e sem o ponto. _ Na lista de referências, as referências deverão ser numeradas consecutivamente, conforme a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no texto. _ Na citação transcrita no texto coloca-se o número de página entre parênteses no fim da transcrição com o número sobrescrito da referência. AUTOR(ES) PESSOA FÍSICA - DE UM ATÉ SEIS AUTORES. Quando o documento possui de um até seis autores, citar todos os autores, separados por vírgula. Exemplo: Halpern SD, Ubel PA, Caplan AL. Solid-organ transplantation in HIV-infectedpatients. N Engl J Med. 2002 Jul25; 347(4): 284-7. AUTOR(ES) PESSOA FÍSICA - MAIS DE SEIS AUTORES. Quando o documento possui mais de seis autores, citar todos os seis primeiros autores seguidos da expressão latina “et al”. Exemplo: Rose ME, Huerbin MB, Melick J, Marion DW, Palmer AM, Schiding JK, et al. Regulation of interstitial excitatory amino acid concentrations after cortical contusion injury.Brain Res. 2002; 935(1-2): 40-6. ORGANIZAÇÃO(ÕES) COMO AUTORA(ES). Indicar o(s) nome(s) da(s) organização(ões) quando esta(s) assume(m) a autoria do documento consultado. Quando a autoria for de duas ou mais organizações, separe-as por ponto-e-vírgula, e para identificar a hierarquização dentro da organização, separar por vírgula. Exemplo de uma organização: Diabetes Prevention Program Research Group. Hypertension, insulin, and proinsulin in participants with impaired glucose tolerance.Hypertension. 2002; 40(5): 679-86. Exemplo de duas organizações: Royal Adelaide Hospital; University of Adelaide, Department of Clinical Nursing. Compendium of nursing research and practice development, 1999-2000.Adelaide (Australia): Adelaide University; 2001. AUTOR (PESSOA FÍSICA) E ORGANIZAÇÃO COMO AUTORES. Indicar o(s) autor(es), pessoa física, e a organização, separando-os por ponto e vírgula. Exemplo: Vallancien G, Emberton M, Harving N, van Moorselaar RJ; Alf-One Study Group. Sexual dysfunction in 1,274 European men suffering from lower urinary tract symptoms.J Urol. 2003; 169(6): 2257-61. REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA SANTAIZABEL IZABEL SANTA CASA DEDE MISERICÓRDIA BAHIA SANTA CASA MISERICÓRDIA DA DA BAHIA 61 AUSÊNCIA DE AUTORIA. Quando o documento consultado não possui autoria, iniciar a referência bibliográfica pelo título. Exemplo: 21st century heart solution may have a sting in the tail. BMJ. 2002; 325(7357): 184.6 EDITOR(ES), COMPILADOR(ES) COMO AUTOR(ES). Quando o documento consultado possui apenas editor(es) ou compilador(es), fazer a indicação após o último nome indicado. Geralmente, aparece em publicações monográficas (livros, guias, manuais...). Exemplo: Gilstrap LC 3rd, Cunningham FG, VanDorsten JP, editores. Operative obstetrics. 2ª ed. New York: McGraw-Hill; 2002. AUTOR(ES) E EDITOR(ES). Indicar o(s) nome(s) do(s) autor(es) e do(s) editor(es) quando, em conjunto, assumem a autoria. O nome do editor deverá constar após a edição. Exemplo: Breedlove GK, Schorfheide AM. Adolescent pregnancy. 2ª ed. Wieczorek RR, editor. White Plains (NY): March of Dimes Education Services; 2001.7 Para adquirir informações adicionais acesse http://www.icmje.org e http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requirements.html REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL REVISTA DE SAÚDE DO HOSPITAL SANTA IZABEL SANTA IZABEL SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA DA BAHIA 62 SANTA IZABEL REFERÊNCIA EM DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE ALTA COMPLEXIDADE. O Santa Izabel é um dos hospitais mais tradicionais e, ao mesmo tempo, um dos mais modernos da Bahia. Prova disso, são os altos investimentos que têm sido feitos em estrutura e tecnologia. Com a recente inauguração dos novos setores de Bioimagem e Radioterapia, o Santa Izabel confirma seu pioneirismo. Marcação de Exames e Consultas: 71 2203-8100 | Telefone Geral: 71 2203-8444 Praça Conselheiro Almeida Couto, 500, Nazaré, Salvador-BA www.hospitalsantaizabel.org.br Responsável técnico: Dr. Ricardo Madureira CREMEB 12793 SANTA IZABEL NOSSA MAIOR TRADIÇÃO É SER SEMPRE UM NOVO HOSPITAL. Um dos maiores hospitais do Nordeste, o Santa Izabel é também um dos mais respeitados quando o assunto é diagnóstico e tratamento de alta complexidade. Para isso, são realizados investimentos em capacitação profissional e tecnologia. Cardiologia, Ortopedia, Oncologia e Neurologia são algumas das especialidades deste hospital que, nas últimas décadas, formou 784 médicos residentes e sempre cuidou da saúde dos baianos. Marcação de Exames e Consultas: 71 2203-8100 | Telefone Geral: 71 2203-8444 Praça Conselheiro Almeida Couto, 500, Nazaré, Salvador-BA www.hospitalsantaizabel.org.br Responsável técnico: Dr. Ricardo Madureira CREMEB 12793 145 mil consultas/procedimentos ambulatoriais e 15 mil cirurgias por ano ––––––––––––––––––––––– 525 leitos, sendo 36 de pronto atendimento e 85 UTIs ––––––––––––––––––––––– 13 salas de cirurgia ––––––––––––––––––––––– 3 salas de hemodinâmica ––––––––––––––––––––––– 39 especialidades, com mais de 600 médicos cadastrados