SNPTEE SEMINÁRIO NACIONAL DE PRODUÇÃO E TRANSMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA GOP-28 19 a 24 Outubro de 2003 Uberlândia - Minas Gerais GRUPO IX GRUPO DE ESTUDO DE OPERAÇÃO DE SISTEMAS ELÉTRICOS - GOP INFLUÊNCIA DA CLIMATOLOGIA NA PREVISÃO DE CARGA Ruibran Januário dos Reis* Wilson Fernandes CEMIG Tarcísio Bruzzi de Andrade Luiz Henrique Muniz de Aquino Júlio Giovanni PUC MINAS RESUMO O objetivo do estudo foi determinar a influência de elementos climáticos na carga de energia. Dados de carga e climatológicos da região metropolitana de distribuição de energia da Cemig foram avaliados para os cenários 2000 e 2001. Também foi caracterizado o índice de desconforto térmico. A partir de redes neurais verificou-se uma melhoria na precisão do modelo com a inclusão dos elementos climáticos. As variáveis mais importantes foram: pressão atmosférica, temperatura, radiação solar e umidade relativa. Apesar de proporcionar uma diminuição da precisão do modelo, o índice de desconforto foi a variável climatológica mais significativa na modelagem hora a hora. Jorge Luiz Batista Moreira INMET seu acompanhamento. A previsão pelo processo atual, sem a incorporação de elementos climáticos, pode em algum momento superestimar ou subestimar a previsão em torno de 300 MWh. O impacto das variáveis climáticas sobre o setor energético foi abordado por alguns autores, tais como: [1, 2, 3 e 4]. Em relação às escalas de previsão, [2] descrevem que nos modelos intermediários, que avaliam a demanda por um período de um mês a cinco anos, agregam-se variáveis de energia, climáticas e econômicas; nos modelos mais longos, as variáveis econômicas, de crescimento demográfico e as mudanças tecnológicas são mais importantes e determinantes para o modelo. PALAVRAS-CHAVE Previsão de carga, elementos climáticos, índice de desconforto térmico, redes neurais artificiais. 1.0 - INTRODUÇÃO Este estudo apresenta os resultados da atividade de pesquisa desenvolvida no âmbito do projeto “Influência da climatologia na previsão de carga”. A oportunidade de desenvolvimento deste projeto pela Companhia Energética de Minas Gerais e da Pontifícia Católica de Minas Gerais, foi através do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica. A estimativa de demanda é determinada com o auxílio de software específico, cuja calibração depende em alguma medida da experiência do técnico que faz o o Nos estudos de previsão de carga, a utilização de elementos climatológicos é, segundo [5], prática comum. Para os autores, diversos são os métodos empregados inclusive modelagem por redes neurais. Como exemplo de estudo nesta área, pode-se citar [6 e 7]. [8] relatam que, na área de engenharia elétrica, as redes neurais têm sido aplicadas em predição, manutenção preventiva, diagnóstico de falhas, controle, estimação de parâmetros e modelagem. De acordo com os autores, a rede neural é formada por um conjunto de elementos processadores simples (neurônios artificiais), uma rede de interconexão e uma regra de aprendizado. Maiores detalhes sobre a origem e evolução dos modelos de redes neurais podem ser encontrados em [9,10 e 11] * Avenida Barbacena, 1200 - 14 andar - CEP 30161-970 - Belo Horizonte - MG - BRASIL Tel.: (031) 3275-3061 - Fax: (031) 3275-3061 - E-MAIL: [email protected] 2 Na visão de [10] além de serem úteis para o reconhecimento de padrões elas permitem estabelecer resultados aproximados (fuzzy) a partir de dados incompletos. Esta última característica é fundamental para a utilização desta técnica de modelagem e reconhecimento de padrão em séries temporais, cujos dados são falhos ou incompletos. Estudos de conforto ambiental têm destacado a correlação entre os efeitos do clima urbano, as condições climáticas internas dos ambientes construídos no conforto e na saúde das pessoas e o consumo de energia. como exemplo podemos citar [12 e 13]. Nesta análise objetivou-se avaliar o impacto dos elementos climáticos (temperatura, pressão atmosférica, umidade relativa e radiação solar) e do índice de desconforto térmico sobre a carga de energia na região metropolitana. 2.0 - ABORDAGEM METODOLÓGICA 2.1 Área de estudo A área de estudo deste trabalho refere-se à região central de distribuição de energia da Cemig, localizada na porção central do Estado de Minas Gerais, compreendida pelas seguintes coordenadas geográficas: 18°37’55,7” e 20°19’44,1” de latitude sul e 43°29’17,1” e 44°39’22” de longitude oeste de Greenwich (Figura 1) 2.2 Metodologia Para o desenvolvimento do estudo foram utilizados dados de carga de energia e de elementos climáticos (temperatura, umidade relativa, pressão atmosférica e radiação solar) da estação climatológica de COA, localizada em Contagem – MG. Os dados de carga de energia são coletados num intervalo de 15 minutos nas linhas de transmissão e os climatológicos a cada hora. Banco de dados com os valores relativos aos meses de setembro/outubro de 2000 e abril/maio de 2001, meses de, respectivamente, temperaturas mais elevadas e mais baixas. Foram excluídas as semanas que apresentavam feriados. Atributos foram associados aos dados de carga a partir da análise da curva típica da carga de energia dos meses analisados. São eles: dia, mês ano, estação do ano, dia da semana, horário de verão, hora útil, hora, madrugada, início das atividades, expediente manhã, expediente tarde, almoço, modulação e fim das atividades residenciais. Índice de desconforto térmico foi elaborado a partir de [13]. Este índice, que é função de temperatura e umidade relativa, revela a distância euclidiana da zona de conforto. É obtido através da seguinte equação: Idct = 3(Ctemp) + 2(Cumid) onde: IDct – índice de desconforto CTemp – componente da temperatura CUrel – componente da umidade O algoritmo de verificação, denominado de teste de verificação da zona de conforto, foi elaborado a partir do gráfico da Figura 2. FIGURA 1 – LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 2 Esta área de aproximadamente 13,59 km engloba a Região Metropolitana de Belo Horizonte, que por sua vez, concentra o maior aglomerado urbano do Estado. Em 2000, o peso relativo desta região no consumo de energia faturada pela Cemig foi cerca de 37,4% para a classe residencial e 45,1% para a classe comercial. Neste ano as principais classes de consumo da região foram industrial, residencial e comercial, respectivamente, 41,3%, 30,6% e 17,5%. Fonte: [13] FIGURA 2 – DIAGRAMA BIOCLIMÁTICO DE BELO HORIZONTE Em software de redes neurais efetuaram-se simulações com os dados completos e de cada hora separadamente, aproximadamente 10.000 interações. Para cada variável analisada foi associado um neurônio não linear (Figura 3). 3 Desta forma, acredita-se que o índice de desconforto térmico possa afetado por variações microclimáticas dentro da área de estudo. O índice possui, também, intima relação com os aspectos sócio-econômicos. Populações de baixa renda tendem a suportar maior desconforto e/ou adotar medidas que implique em elevação menos significativa do consumo de energia. Por exemplo, utilização de ventilador ao contrário de ar condicionado. FIGURA 3 – REDE NEURAL COM OS ATRIBUTOS DE CARGA Os resultados das modelagens com os dados de temperatura, umidade relativa e índice de desconforto são apresentados no gráfico da Figura 5. 3.0 - RESULTADOS Nas simulações com os atributos de carga e com os elementos climáticos, verificou-se que a inclusão dos elementos climáticos proporcionou uma melhoria de 13% no desvio padrão dos erros observados de carga real e da carga modelada. A análise comparativa dos resultados obtidos nas simulações com os atributos de carga e com a inclusão de cada variável climática separadamente revela que, no período analisado, a pressão atmosférica apresentou a maior influência sobre a carga de energia, seguida por temperatura, radiação solar e umidade relativa, com uma diminuição de, respectivamente, 12,41%, 10,65%, 9,10% e 6,61%. FIGURA 4 – DESVIO PADRÃO MÉDIO DOS ERROS OBSERVADOS COM OS DIFERENTES ELEMENTOS CLIMÁTICOS [5] destacam que a utilização de pressão atmosférica em estudos de carga de energia baseia-se no fato de que, a princípio, mudanças meteorológicas mais significativas afetam este elemento antes da temperatura. A inclusão do índice de desconforto térmico diminuiu a precisão do modelo, com o aumento de 3,29% no desvio padrão médio dos erros. Este resultado pode estar associado ao fato de que na elaboração do diagrama bioclimático, Assis determinou uma variação horária da temperatura e da umidade relativa do ar a partir dos dados médios de temperatura máxima, média e mínima, e de umidade relativa média na estação de Belo Horizonte. Além disso, o banco de dados climatológicos utilizado refere-se à estação COA, situada em Contagem. FIGURA 5 – DESVIO PADRÃO MÉDIO OBSERVADO NAS SIMULAÇÕES COM TEMPERATURA, UMIDADE RELATIVA E ÍNDICE DE DESCONFORTO. As associações temperatura e índice de desconforto térmico e temperatura, umidade relativa e índice de desconforto térmico proporcionaram um menor desvio padrão médio dos erros, em comparação ao modelo resultante da carga sem os elementos climáticos, respectivamente, -8,47% e –8,32%. No modelo umidade relativa e índice de desconforto o erro foi 2,09% superior àquele obtido sem os elementos climáticos. Destaca-se, portanto, o peso relativo da componente temperatura do índice de desconforto térmico. os resultados dos modelos obtidos com os dados de cada hora revelam que o índice apresenta uma importância relativa superior aos elementos climáticos, particularmente no período da madrugada (de 1 até as 4 horas), manhã (6 às 9 e 11 às 12 horas) e noite (21 às 23 horas). Os elementos climáticos (temperatura do ar, umidade relativa, pressão atmosférica e radiação solar) e o índice de desconforto térmico não possuem importância significativa, inferior a 50%, para o modelo nos seguintes horários: 0, 5, 10, 14, 16, 17, 19 e 20 horas. Por outro lado, dentre os valores observados, os mais significativos, em termos de importância relativa, superior a 80%, refere-se ao índice de desconforto térmico (2, 10 e 23 horas) e à temperatura do ar (18 horas). 4.0 - CONSIDERAÇÕES FINAIS Com os resultados obtidos pode-se indicar que a inclusão de elementos climáticos aumenta a precisão dos modelos de previsão de carga. O índice de desconforto térmico, ao contrário de suas componentes 4 temperatura e umidade relativa, não proporcionou uma melhora na precisão do modelo. elétricos. Eletricidade Moderna, v.29, n.332, Jan. 2001. A análise comparativa dos resultados obtidos nas simulações com os atributos de carga e com a inclusão de cada elemento climático isoladamente revelou que, no período analisado, a pressão atmosférica apresentou a maior influência sobre a carga de energia seguido por temperatura, radiação solar e umidade relativa. (9) KOVACS, Z. L. Redes neurais artificiais: fundamentos e aplicações. Edição Acadêmica, Brasil. 1996. Os resultados dos modelos obtidos com os dados horários revelam que o índice de desconforto térmico apresenta uma importância relativa superior aos elementos climáticos, particularmente no período da madrugada (de 1 às 4 horas), manhã (6 às 9 e 11 às 12 horas) e noite (21 às 23 horas). (11) LIPPMAN, R. P. An introduction to computing with neural nets. IEEE ASSP Magazine, pp.4-22, Abril 1989. A inclusão do índice de desconforto térmico nos estudos de carga/consumo de energia elétrica depende da sua validação. Nesse sentido, novos estudos devem ser realizados, particularmente para as demais regiões de distribuição de energia da Cemig. 5.0 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS (1) SEGAL, M.; SHAFIR, M. M.; ALPERT, P.; BALMOR, Y. Climatic-related evaluation of the summer peak-hours’ electric load in Israel. Journal of Applied Meteorology, 19, 1992, 241-246. (2) WARREN, H; LeDUC, S. Journal of Applied Meteorology, 20, 1981, 1431-1439. (3) LeCOMTE, D. M.; WARREN, H. Modeling the impact of summer temperatures on national electricity consumption. Journal of Applied Meteorology, 20, 1981, 1415-1419. (4) QUAYLE, R. G.; DIAZ, H. F. Heating degree day applied to residential heating energy consumption. Journal of Applied Metereology, 19, 1981, 241-246. Heating degree day applied to residential heating energy consumption. Journal of Applied Metereology, 19, 1981, 241-246. (5) SOARES, A. P; SOARES, A. P. Utilização de variáveis meteorológicas na previsão de carga através de redes neurais. XV Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Foz do Iguaçu – PR, 1999. (6) SOARES, A. P.; NASCIMENTO, F. L. do Modelagem neural na previsão diária de carga. XIV Seminário Nacional de Produção e Transmissão de Energia Elétrica, Belém – PA, 1997. (7) TAYLOR, J. W.; BUIZZA, R. Neural network load forecasting with weather ensemble predictions. IEEE Transactions on Power Systems, v.17, n.3, Ago 2002. pp.626-632. (8) SOARES, l. A. E.; BRAGA, A. de P. Redes Neurais artificiais e sua aplicção em sistemas (10) OSÓRIO, F. S. Simulação de redes artificiais de neurônios com aprendizado supervisionado. In: Scientia, v.3, Jan/Jun, 1992, p.45-66. (12) GIVONI, B. Comfort, climate and building design guidelines. Energy and Buildings, v.18, p.11-23. 1992 (13) ASSIS, E. S. de Método integrado de análise climática para arquitetura aplicado à cidade de Belo Horizonte, MG. VI Encontro Nacional de Conforto no Ambiente Construído; Anais eletrônicos. Campinas, Unicamp – ANTAC, 2001, artigo n.149.