UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA SOCIAL E CULTURAL ODÉCIA ALMEIDA DE SOUZA CONFLITOS E MUDANÇAS – OS XOKLENG E OS IMIGRANTES EUROPEUS NO VALE DO RIO ARARANGUÁ DURANTE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX Criciúma, dezembro de 2005 ODÉCIA ALMEIDA DE SOUZA CONFLITOS E MUDANÇAS – OS XOKLENG E OS IMIGRANTES EUROPEUS NO VALE DO RIO ARARANGUÁ DURANTE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX Monografia apresentada à Diretoria de Pósgraduação da Universidade do Extremo Sul Catarinense- UNESC, para a obtenção do título de especialista em História Social e Cultural. Orientadora: Prof. Dra. Deisi Scunderlinck Eloy Farias Criciúma, dezembro de 2005 Dedico esta monografia aos meus pais que compartilharam os ideais e os alimentaram, incentivando a prosseguir a jornada fossem quais fossem os obstáculos. AGRADECIMENTOS Sinceros agradecimentos, em especial, à professora Deisi S Eloy Farias, que incentivou e orientou esta pesquisa. Com carinho aos professores da pós-graduação e sua coordenação. A todas as pessoas que direta ou indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa. Que ela seja um passo para identificação e valorização da cultura dos grupos que ocuparam no passado à região do Vale do Rio Araranguá. “Assim é que a civilização se impõe, primeiro, como uma epidemia de pestes mortais. Depois pela dizimação através de guerras de extermínio e da escravidão. Entretanto esses eram tão-só os passos iniciais de uma escalada do calvário das dores inenarráveis do extermínio genocida e etnocida.” Darcy Ribeiro RESUMO A presente monografia volta seu foco de interesse para a abordagem dos embates ocorridos na região do Vale do Araranguá entre os Xokleng e os imigrantes europeus na segunda metade do século XIX. Pois se percebe a carência de identificação, preservação e de registros nesta região que ofereçam visibilidade aos grupos indígenas que ocuparam este território antes da colonização. Para isso farse-á necessário tratar de aspectos relacionados à ocupação pré-colonial do Vale de Araranguá e os aspectos que favoreceram esta ocupação. Analisam-se bibliografias, documentos e relatos orais regionais identificando os contatos ocorridos entre os Xokleng e os colonizadores. A partir de uma discussão teórica sobre história, memória e metodologia da história oral pretende-se absorver os conceitos necessários para justificar o tema proposto e as metodologias desenvolvidas no decorrer da pesquisa. Possibilitar o entendimento e a valorização da cultura indígena faz parte do processo de educação que é continuo e permanente. Por isso ao término da pesquisa discute-se a questão indígena na sala de aula e relatam-se experiências desenvolvidas tratando desta temática. A pesquisa revela que os conflitos entre estas culturas intensificaram-se gradativamente com a ocupação do espaço que era naturalmente utilizado pelos grupos que ali viviam. Tornando-os constantes e violentos. As empresas de colonização incentivavam e financiavam a organizavam de grupos de extermínio denominados bugreiros para “limpar os terrenos”. Palavras-chave: Xokleng; conflitos; imigrantes; violência, visibilidade;identificação. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1- Palestra sobre arqueologia e ocupação do território do Estado.................48 Figura 2 – Aula no museu análise de material arqueológico......................................49 Figura 3 – Construção de maquete.......................................................................... 50 Figura 4 – Alunos expressando os conhecimentos adquiridos com a construção de maquetes................................................................................................................... 50 Figura 5 – Construção de maquetes......................................................................... 51 Figura 6 – Produção de material cerâmico............................................................... 51 Figura 7 – Exposição e explicação do projeto para a comunidade escolar...............52 Figura 8 – Exposição e explicação do projeto para a comunidade escolar...............52 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11 2 CONFLITOS E MUDANÇAS – OS XOKLENG E OS IMIGRANTES EUROPEUS NO VALE DO RIO ARARANGUÁ DURANTE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX..............................................................................................................................13 2.1 Os Xokleng..........................................................................................................14 2.2 Ocupação Pré-colonial do Vale de Araranguá.................................................16 3 OCUPAÇÃO E CONFLITO: OS EUROPEUS ENTRAM EM CENA......................23 4 HISTÓRIA, MEMÓRIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA ORAL.........................32 4.1 História Cultural..................................................................................................32 4.2 Memória...............................................................................................................34 4.3 Metodologia da História Oral.............................................................................39 5 A QUESTÃO INDÍGENA NA SALA DE AULA.......................................................43 5.1 Uma Proposta de Educação Patrimonial.........................................................45 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................53 REFERÊNCIAS..........................................................................................................56 11 1 INTRODUÇÃO A região do Vale de Araranguá demonstra praticamente uma invisibilidade dos indígenas na história dos municípios, existe geralmente uma exaltação do elemento colonizador europeu: desbravador, responsável pelo progresso da região. Nesta monografia pretende-se identificar os principais embates ocorridos entre os imigrantes europeus e os Xokleng no Vale do Rio Araranguá na segunda metade do século XIX. Avaliando a partir de dados etnohistóricos a ocupação PréColonial do Vale do Araranguá e elaborando registros a partir de relatos orais e documentos sobre os contatos ocorridos entre os Xokleng e os colonizadores. Os objetivos principais voltam-se para interpretação do impacto causado pela ação colonizadora ás sociedades indígenas da região e a verificação das modificações ocorridas na cultura dos grupos Xokleng e dos imigrantes. O presente trabalho divide-se em quatro capítulos. No primeiro momento, relata-se aspectos da história da ocupação do território do Vale de Araranguá e a da cultura Xokleng. Trata-se, no segundo capítulo, especificamente do contato entre europeus e Xokleng, quando as empresas colonizadoras impulsionam o extermínio deste grupo que para eles era uma ameaça constante a posse do território. Analisam-se documentos deste período histórico e entrevistas com moradores antigos da região. Estar-se-á também estabelecendo um vínculo com as bibliografias da região procurando identificar estes contatos e a resistência dos imigrantes europeus frente à presença Xokleng. Julga-se de suma importância a discussão de alguns conceitos e teorias que são fundamentais para a compreensão do tema abordado, por isso, no terceiro 12 capítulo, discute-se “História” inserida no contexto historiográfico na Nova História Cultural e Memória como elemento resignificador da história, antídoto do esquecimento”. Relatam-se os objetivos e a justificativa da utilização da Metodologia da História Oral. No quarto e último capítulo, organiza-se uma discussão sobre a questão indígena na sala de aula, ressaltando as versões equivocadas de muitos livros didáticos de história. Buscando justificar a aplicação de novas metodologias, percebendo a abrangência deste tema e a fundamental importância da abordagem nos espaços de educação. Reflete-se o ensino de história e aponta-se a utilização de recursos metodológicos variados, no ensino de história e demais disciplinas, percebendo diferentes fontes de pesquisa, cita-se por fim algumas experiências Educação Patrimonial desenvolvidas na Rede Municipal de Ensino de Maracajá dando visibilidade a cultura indígena enfatizando uma perspectiva de diversidade cultural. Pesquisar a cultura popular, além da história oficial, já registrada significa preservar memórias, histórias de homens, de mulheres e de crianças de uma época, que deixaram suas marcas registradas na materialidade e imaterialidade. 13 2 CONFLITOS E MUDANÇAS – OS XOKLENG E OS IMIGRANTES EUROPEUS NO VALE DO RIO ARARANGUÁ DURANTE A SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX O assalto se dava ao amanhecer. Primeiro, disparava-se uns tiros.Depois passava-se o resto no fio do facão. O corpo é que nem bananeira corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preço. Às vezes, para mostrar,a gente trazia algumas mulheres e crianças. (Depoimento do bugreiro Ireno Pinheiro a Silvio Coelho dos Santos em 1972) Os europeus ao chegarem à América, deram aos seus habitantes a denominação de índios por “pensarem” estar pisando as terras das Índias. Mesmo depois de suas explorações, demonstrando que a América constituía um continente á parte, distinto da Ásia, os habitantes do “Novo Mundo” continuaram a ser chamados de índios. Entretanto, com este termo, “índios”, os conquistadores rotulavam as populações mais diversas desde o norte até o sul do continente americano tais populações diferiam umas das outras tanto no aspecto físico como nas suas tradições (MELATTI, 1994, p.19). No início da colonização no Sul do Brasil. As empresas de colonização e os colonos “limpavam o terreno”. Organizavam, grupos de extermínio dos assim denominados “bugres”. Abatiam-nos a tiros ou degolavam-nos a facão sem o menor escrúpulo, como relata em suas pesquisas Santos (1997). Bugres, índios, silvícolas, bárbaros, selvagens, nativos, assaltantes, aborígenes, desalmados, pagãos, senhores das florestas, filhos das matas. Na Bacia do Rio Araranguá esses homens apareceram na imaginação e nos relatos dos descendentes de colonizadores, imigrantes ou não. Pertencentes a grupos na maioria das vezes tidos como violentos, perigosos e sanguinários. Mas quem eram eles? Que tanto do Estado, quanto na região sul eram surpreendidos e cruelmente assassinados sem chance de defesa. Darella (1997 apud Dall´Alba, 1997, p. 514). 14 Era uma guerra, surgida num momento histórico onde colonizadores e índios estavam a mercê de um governo inoperante e irresponsável. A historiografia brasileira pouco se refere à presença indígena, quando é apresentada, muitas vezes, mostra a figura do índio como um sujeito indolente, preguiço e selvagem. A História não deve ser vista apenas como uma trajetória de europeus que colonizaram e conquistaram as terras. Deve-se tornar conhecidas as populações que anteriormente ocuparam o território. A história das populações indígenas é hoje quase a história de povos invisíveis. É preciso dar visibilidade ao passado e enxergar novos sujeitos da história 2.1 Os Xokleng No decorrer da história catarinense, os Xokleng receberam diversas denominações. Eram conhecidos como Botocudos, Bugres, Aweikoma, Xokrén e Kaingang. Cada termo denota um significado. “Bugre” é uma denominação comum a todos os grupos indígenas e possui caráter pejorativo, significando selvagem, inimigo. A provável origem deste termo seria proveniente de um grito de espanto (ou alerta) dado pelos índios quando avistavam os brancos; no momento do alarme pronunciavam a palavra “pucri” (MABILDE, 1983, p. 08). “Botocudo” relaciona-se ao enfeite labial – tembetá – utilizado pelos homens. Von Ihering utilizou a expressão “Aweikoma” por acreditar ser esse o nome adotado por eles próprios; entretanto, é uma parte da frase destinada a convidar uma mulher para a cópula. “Xokrén” significa taipa de pedra. Já o termo Kaingang quer dizer homem, qualquer homem. 15 Segundo Santos (1973, p. 31), o grupo não se auto-designa, não sendo, portanto, essas denominações inerentes à cultura Xokleng. Usaremos, conforme sua sugestão, o termo comumente usado por diversos autores, ou seja, Xokleng (FARIAS, 2005). Traçando um breve histórico da ocupação do território catarinense pela Coroa portuguesa, verificamos que a capitania de Santa Catarina foi instalada no século XVI por razões estratégicas e respondia às necessidades do governo português de estender seus domínios até o rio da Prata. As áreas povoadas, inicialmente por açorianos, localizavam-se no litoral, sendo que “as terras catarinenses situadas a 10 km da costa eram designadas como sertões incultos e que muito poucas concessões se haviam feito dessas terras, mesmo no vale do Itajaí e Tubarão”. Lede (1843 apud Santos, 1969, p. 21). Esse dado indica que, a princípio, os Xokleng não interessaram aos bandeirantes dessa região. Segundo Santos (1973, p. 43), esse desinteresse ocorreu devido ao fato de o grupo ser “...seminômade, (viverem) dispersos em pequenos grupos; (falarem) uma língua diferente e (não possuírem) maiores tradições em trabalhos agrícolas”. Era mais viável submeter o guarani do litoral, com o qual os portugueses não sentiram, inicialmente, muita dificuldade em dominar. Sendo assim, a sociedade Xokleng começou a ter contato com a sociedade nacional no momento da abertura do caminho das tropas, no século XVIII. O contato efetivo, porém, ocorreu somente a partir do século XIX, quando pressões internacionais eliminaram a escravidão negra e fomentaram a imigração de contingentes europeus como alemães, italianos, poloneses e outros como mão-deobra. Nesse período, o governo provincial tenciona a ocupação dos vales que 16 margeavam os grandes rios, entre eles Itajaí, Tubarão e Araranguá, onde encontrariam a região ocupada pelos Xokleng (Santos, 1969, p. 22). O contato acentuado com o branco trouxe logo de início: doenças desconhecidas pelo organismo dos índios, o que provocou um verdadeiro holocausto. Males como a gripe, o sarampo, a malária, a coqueluche atingiram os Xokleng: que tentaram curar a base de ervas e antigas práticas tribais, sem sucesso. Em relação aos conflitos é difícil definir que os iniciou pode tanto ter sido um Xokleng que matou um boi dos colonos para comer, como pode ter sido um branco que atirou em um índio por medo, mas é fácil perceber quem saiu perdendo nessa história. Foi dessa forma que começou uma matança institucionalizada em nosso país: em 1808, uma carta régia de D. Pedro VI já decretava “guerra aos índios de Lages”. O massacre, bancado e legitimado pelo Estado, se propôs a eliminar o que era considerado um entrave à civilização. Grupos de homens conhecidos por bugreiros saíam em expedições de extermínio, até poucos anos. Bastava o menor indício da passagem de um índio por um lugar para os colonos ou criadores se juntarem em bandos bem armados e pôr-se em seu encalço, escreveu Ribeiro, (1986) em um capítulo dedicado aos Xokleng do livro Os Índios e a Civilização. “O índio era considerado fora-da-lei, seu assassinato era não somente impune, mas estimulado e reverenciado como obra meritória”. 2.2 Ocupação Pré-Colonial do Vale de Araranguá A região que hoje abriga o município de Araranguá no início do século XIX tinha alguns moradores, como por exemplo, barqueiros ou balseiros, que se fixaram às margens do grande rio. Conforme Campos (1987, p. 10), porém em 1810 sabe-se das primeiras sesmarias concedidas ás margens de um rio que ainda não possuía 17 nome fixo: Ariringuá, Araringuá, Araranguá. Posteriormente formou-se o vilarejo da povoação, na margem direita, seguindo pelo povoado de Cangicas, atualmente Hercílio Luz. A guerra dos Farrapos traz muitos refugiados para esta região. Então o governo preocupa-se em fundar uma vila talvez pretendendo garantir segurança. Mandando uma comissão procurar uma localidade com boas condições de habitação. Por volta de 1848 esta comissão decide-se por uma localidade em mata densa, chamada pelos tropeiros de Capão da Espera. Surgiu uma minúscula povoação a que deu o nome de Campinas do Sul. Apesar de uma população pequena espalhada em um imenso território a freguesia é elevada a categoria de vila e recebe o nome Araranguá e em 1883 é instalado o município. Ali [no Capão da Espera]. Pela fartura da frondosa mata e da aguarda, a gadaria e os tropeiros encontravam o seu paraíso. O entreposto era movimentado e álacre. As esporas dos tropeiros tilintando, o resfolegar nervoso dos cavalos, o gado todo descansado deitado na relva. Os homens afiavam as facas, escolhiam uma rês e a sacrificavam para o churrasco. Começava então, a única parte divertida daquela vida de canseiras e monotonia. (MACHADO, apud COELHO, 2003, p. 123). Compreendendo a o início da colonização do território percebe-se que o povoamento ocorreu inicialmente em áreas que ofereciam boas condições de sobrevivência: proximidade de matas que ofereciam madeira e caça; margens do rio que propiciava a pesca, a navegação entre outras características. Enfim, da mesma forma a ocupação pré-colonial se deu devido aos recursos oferecidos pelo território, as proximidades dos rios e dos morros com mata fechada inspiravam a sobrevivência destes povos. A descrição geográfica e geomorfológica do território em estudo é um elemento de considerável utilidade para a compreensão da ocupação do território 18 por grupos pré-coloniais, no caso o estudo se restringe à segunda metade do século XIX e início do século XX. Por exemplo, as características do litoral catarinense favoreceram e atraíram os assentamentos humanos: a geomorfologia das praias arenosas de curta e média extensão, separadas por costões rochosos, lençóis conchíferos, uma fauna marinha e terrestre extremamente exuberante, enfim, um ecossistema que oferecia abundantes fontes de alimentação. Campos, (1987, p. 164-165), descreve o Vale de Araranguá no ano de 1909 como município com 78 quilômetros de norte a sul e 65 de leste a oeste, dando uma área superior 5.000 quilômetros quadrado, sendo desta, mais ou menos, a 5ª parte cultivada. Com população de 17.000 habitantes. Cita que o litoral possuía solo plano em toda sua extensão, desde a foz do Rio Urussanga, limite norte do município, até o rio Mambituba limite sul sendo, além disso, arenoso. Transporta a Praia do Mar Grosso, começa o terreno a ser coberto de pastagens, denominadas “Campos”, encontrando-se ali muita lagoa, matas capões e, de vez em quando, banhados maiores ou menores. Assim estende-se esta planície de norte a sul, em direção a oeste, encontrando-se também em diversas lagoas navegáveis, como a de Urussanga, do Estevão, da Mãe Luzia, da Serra do Caverá do Sombrio, quase todas ligadas por sangradouros. Em direção a oeste há alguns morros e morretes isolados, como Morro Agudo, Conventos, Mãe Luzia, Morretes, Cortado, todos, porém, aproveitáveis para o plantio do café e da bananeira. No litoral as culturas principais são a mandioca, a cana-de-açúcar. Na parte acidentada, terreno argiloso, nas proximidades da Serra. Cultivam milho, feijão, arroz, etc. Na parte colonial, muito próximo da Serra, seu clima difere do litoral, apropriado para outras culturas, como a vinha e frutas européias. Os principais rios 19 são Araranguá e seus afluentes, Itopaba e Mãe Luzia. Verifica-se ainda que neste período o rio Araranguá oferecia franca navegação, entretanto possuía uma barra ingrata quase sem água. [...] Já no tempo do Pe. Anchieta, no fim do século XVI foi visitada pelos padres Jesuítas, que em diversas tentativas, iniciaram a catequização dos índios carijós. A seguir foi devassada pelos bandeirantes em busca de minas de ouro e de prata. Missionários Franciscanos, sediados em Vila Nova, também se dedicaram à catequização dos índios. Então chegaram os vicentistas preadores de bugres para suas lavouras. Expulsam os missionários e capturam dezenas de milhares de pacíficos carijós despovoando completamente nossas praias. No interior, nas florestas, campeia livre, por longo tempo ainda, o indômito índio Kaingang, botocudo. Pertenceriam a Portugal estas terras? Por muitos anos ficaram em completo abandono, não sendo ocupadas nem pelos espanhóis nem pelos portugueses. Em 1728, esta região obtém notoriedade nacional ao se traçar por ela o início da primeira estrada ligando o sul ao centro, caminho de tropas que recebe o nome de Estrada dos Conventos. (DALL´ALBA, 1986, apud CAMPOS, 1987, p. 9). Analisado obras da região do vale de araranguá observam-se citações que relatam a presença e a forma como os “índios” eram tratados e como se relacionavam com os colonizadores. Ainda percebe-se a maneira como atualmente são encarados aqueles que inicialmente ocuparam o território. Falando sobre a História de Praia Grande Ronsoni, (1999, p. 26) descreve: O elemento indígena não se perdeu para o povoamento atual. Enquanto uma parte ia pouco a pouco diluindo-se quase imperceptivelmente uma outra ia ficando a margem até desaparecer completamente. Os carijós desapareceram bastante cedo. No fim do século passado infestaram as margens do grande sertão Praiagrandense, descendo às vezes até o litoral. Os bugres ou botucudos eram avessos à assimilação pelos brancos e dos mais atrasados do Brasil, ao contrário dos carijós. Até 1900 havia ainda bastante selvagens, entre São João do Sul, Praia Grande e o município de Mambituba. Não eram certamente carijós provavelmente bugres. Como os 20 bugres do planalto de Lages, Rio do Sul e Blumenau foram também prejudicados pelos brancos, entre os quais celebrizou Martinho Bugreiro. Mas, logo desapareceram. No livro Assim Nasceu Sombrio de Coelho (2003, p.187) remontando a história de um dos primeiros povoadores João José por volta de 1825 relata: Além do isolamento dos campos de dentro, outra dificuldade enfrentada por João José era o convívio com os Xokleng, que foram conquistados aos poucos até que se tornassem seus amigos. Para agradá-los, João sempre lhes deixava comida em um descampado, atrás de seus engenhos. Após meses de tentativas, conseguiu estabelecer os primeiros contatos através de sinais, mas deixava claro – vez por outra dando tiros de pistola em animais – que não admitia qualquer excesso por parte dos indígenas. Narra ainda Coelho, (2003, p.196) que a partir do mês de novembro do ano de 1827 que os anos de convivência pacífica estavam por acabar, João José deixou de presentear os indígenas com comida e começaram a ocorrem conflitos os índios atacavam o engenho e as casa do colono, posteriormente, flechando entes da família de João José Guimarães: Foi uma tragédia, uma coisa que nunca tinha visto. A patroa du João José, muito gorda, caiu ali na frente da casa i não conseguiu se levantá mais , era flecha de todo o lado...(Gentil Valério da Cunha 1928/2001, tataraneto materno de João José Guimarães) Em entrevistas com moradores do vale de Araranguá Dall’Alba (1997, p. 434) reuniu depoimentos que mostram a presença dos indígenas na região referida: O Senhor Pompeu Francisco Lummertz residente em Passo do Sertão (São João do Sul) narrou em entrevista no ano de 1986 que “Aqui existia bugre, mas não houve ataques, nem se sabe de matanças feitas pelo povo daqui contra eles. 21 Encontravam-se coisas de bugres. Aqui perto tem um cemitério de índios. Andaram lavrando umas terras e acharam urnas de bugres. Ninguém conservou nada.” Dall’Alba, (1997, p. 421) em sua vasta obra Histórias do Grande Araranguá reúne vários depoimentos de diferentes localidades onde a presença indígena é citada. Em relação ao território que hoje compreende o município de Turvo o Sr. Lino Honorato Fernandes narra: O mane Cambão me contava muitas histórias de bugres. Ai nós perguntávamos porque eles fizeram essa traição e mataram os bugres. Dizia que começaram porque os bugres tinham matado uma mulher grávida ali no Manoel Alves. Dizia que pediram autorização e até armas do governo para matança. No município de Maracajá várias pessoas relembram as histórias que os pais ou avós contavam sobre os “bugres”. O senhor Astir Demétrio da Rocha morador antigo do município de Maracajá em entrevista concedida dia 02 de setembro de 2005 relata: Meu avô Francilino Machado quando eu conheci ele já tinha 100 anos, durou 107. Ele contava muita história de índio. Dizia que eles eram obrigados a trabalhar com uma pistola na cinta porque eles avançavam, se pudessem saquear as casa deles eles saqueavam roubavam eram uns malandros roubavam mulher, a bisavó da Márcia do Deni foi roubada lá no Meleiro, ela tava lavando roupa era recém casada roubaram ela e levaram mato a dentro ela sabia ler e escrever, ai tinha o falecido Berto Rocha que era caçador deles, bugreiro. As senhoras Alvina (83 anos) e Alcedina Celso Freitas (81 anos) em entrevista concedida no dia 04 de abril de 2005, filhas de Celso Freitas um dos primeiros moradores do município de Maracajá lembram que sua mãe contava que tinha índios no costa do morro Maracajá, que eles assobiavam paras os seus companheiros. Elas tinham medo relataram que quando caminhavam em mata 22 fechada ou em torno do rio na comunidade de Volta Curta sua mãe mandava ficarem bem quietas para não despertar os bugres. Portanto, observa-se que os grupos humanos que ocupavam o território do vale do rio Araranguá antes da chegada dos colonizadores circulavam por diversas áreas do litoral ao interior com a presença dos novos “Donos das Terras” iniciaramse os embates entre os mesmos e os chamados “bugres”. 23 3 OCUPAÇÃO E CONFLITO: OS EUROPEUS ENTRAM EM CENA Analisando documentos do século XIX enviados pelos delegados e subdelegados de polícia na província de Santa Catarina aos administradores e ao Governo Imperial observam-se afirmações referentes ao contato entre colonizadores e indígenas: [...] é assunto que deve merecer-vos particular atenção a medição e demarcação das terras concedidas a Província pela lei nº 514 de 28 de outubro de 1848 medidas e demarcadas estas terras, estará a província habilitada a fundar núcleos coloniais, por sua conta, ou por empresas particulares, conforme as circunstâncias aconselharem. O governo imperial, por aviso de 18 de junho de 1859 expedido pelo ministro do Império, em deferimento a uma representação desta Assembléia já autorizou medir-se e demarcar-se por conta das seis léguas em quadro concedidas, uma légua a margem direita do rio Araranguá, acima do lugar denominado Itapeva no município de Laguna, e outro na várzea das navalhas e Taquara, a quem da Boa Vista, no Município de São José. Serviços desta ordem que resultarão vantagem não devem ser adiados. O futuro da província prende-se a colonização de suas terras, mateiros, embrenharão-se nas matas e afugentara os selvagens, restituindo a paz nas famílias”. (SCHEIBE, 1996). Outros relatórios dos delegados e sub-delegados narram ataques de indígenas saqueando estabelecimentos comerciais e casas em diferentes regiões do estado. Analisando-se documentos oficiais do ano de 1882 da província encontrase dados referentes ao financiamento de medidas de prevenção contra os “índios selvagens” para garantir a propriedade e a vida dos habitantes em diferentes pontos da província e a participação dos próprios índios nestas ações. [...] o cidadão Manoel Alves da Rocha, indicado pelo referido cônsul, propõe-se, com índios mansos, moradores nos Campos de Palmas da Província do Paraná afugentar completamente os selvagens de toda a região que compreende as colônias de Santa Thereza e Theresopolis e os sertões de Capivary, Gravatal e Braço do Norte, nos municípios de Laguna e Tubarão mediante aquela somo de 3:000$000 rs. [Trecho do relatório 24 com que o Exm. SR Dezembargador João Rodrigues Chaves passou a administração da província ao Exm. Sr. DR. Joaquim Augusto do Livramento 3º Vice presidente em 9 de março de 1882 em Desterro]. (SCHEIBE, 1996). Vieira e Nötzold (2004, p. 63-64) enfatizam que foi a partir do estabelecimento de uma Companhia colonizadora, que ocorreram os primeiros contatos entre os colonos e a população nativa. A concessão de terras aos imigrantes, desconsiderando a presença do indígena, fatalmente levaria ao “estranhamento”, seguido pelo enfrentamento, e a medida que o contingente europeu aumentava , aumentavam também os embates. Dall’ Alba (1983 p. 57-58) subscrevendo documentos do período da imigração italiana e relatórios das empresas colonizadoras propicia, como ele mesmo escreve “...uma janela aberta sobre um período que parecia perdido para a memória.” transcrevendo o relatório do Cav. Alberto Roti Cônsul Real em Florianópolis no mês de outubro de 1895: [...] os índios, vulgarmente chamados bugres espalhados pelo Estado, são nômades, em estado selvagem, e não contam como elemento social. Pertencem ao grande troco Tupi-guarani, formando tribo não muito numerosa, que habita o alto da Serra Geral e do Mar, ocupando especialmente as cabeceiras das bacias do rio Itajaí-guassu...De qualquer maneira, sua presença nas costas da serra é constante. Vivem da caça e de frutas, fogem do homem civilizado, e se retiram diante da colonização e da civilização que avança. Só assaltam as colônias quando desprovidas de caça e de frutas, e após longa observação, para estar seguros de não encontrar residências. Por isso sempre atacam as casa das linhas mais longínquas. Em raras ocasiões agrediram viajantes. Nunca foram vistos fazer atos de agressões durante a noite. Não é fácil estabelecer relações com estes seres, mas é preciso constatar que bem pouco se fez com este intento. Os colonos limitavam-se a persegui-los depois de correria, matando alguns, geralmente trazendo crianças, que são depois mantidas e educadas. As agressões mais raras, à medida que aumentam as derrubadas e a população do território. É impossível conhecer-lhe o número, pessoas práticas supõe que não superam o meio milhar. Lavina (2004, p. 5) também afirma que a partir do início do século XIX, com o incremento da migração européia em SC, o território dos Xokleng vai ser 25 invadido por colonos alemães, no vale do Itajaí, e italianos no sul do estado. No confronto com europeus com armas modernas, os Xokleng vão ser exterminados, principalmente em massacres promovidos por bugreiros. Dall’ Alba (1983) transcrevendo trecho do livro caixa de uma Empresa Colonizadora: Companhia Metropolitana da Colônia de Nova Veneza Santa Catarina subsidiária da Empresa Angelo Fiorita e Ciacom sede no Rio de Janeiro. No Termo de Abertura, de 4 de Janeiro de 1891 consta, “nem tudo é paz na colônia. Há colonos que se retiram revoltados. Dois são presos e levados a tubarão. Giácomo Razzolo foi roubado pelos índios e a Companhia lhe dá auxilio de 17$000.” A caracterização dos Xokleng como “selvagens desalmados” que tudo faziam para matar ao branco, foi comum e necessária para se justificar as ações que sobre eles deflagravam os bugreiros e os colonos. (SANTOS, 1973, p.98). Várias histórias sobre a agressividade dos Xokleng foram usadas para considerá-los indomesticáveis, traiçoeiros, inclinados ao roubo, sendo seu maior prazer matar os brancos Outro dado sobre o contato dos colonizadores italianos com os índios é encontrado no livro caixa da Companhia colonizadora Metropolitana. Colônia de Nova Veneza em 1891. “Natal Coral recebe salário de março a outubro de 1892 como feitor. Era bugreiro famoso. Em março houvera um ataque de bugres. Deve ter havido uma hecatombe em meio às selvas”. (DALL’ ALBA, 1983, p. 59). Analisando dados etnográficos e etnohistóricos Farias (2005) avalia que os Xokleng não tinham noção de propriedade. Eles só não se apropriavam mais de vários outros objetos das propriedades rurais porque temiam as represálias. Para eles era totalmente normal pegar um barco, uma roupa e levar para a aldeia. Os colonos tinham duas opções: ou os tratavam com hostilidade, para que ficassem 26 sempre longe, ou tentavam lhes agradar com presentes, para que se tornassem amigos. Escrevendo generalizadamente sobre a importância do território para as sociedades indígenas, Ramos (1994, p. 13) destaca que para eles a terra é muito mais do que simples meio de sobrevivência, representa sim, o suporte da vida social e está diretamente ligada ao sistema de crenças e conhecimento. Não é apenas um recurso natural, mas, e tão importante quanto este, um recurso sociocultural. Enfatiza ainda que sendo um recurso natural vinculado à vida social como um todo, a terra não é e não pode ser objeto de propriedade individual. É enfática quando afirma “De fato, a noção de propriedade privada da terra não existe nas sociedades indígenas.” Marzano (1985, p. 70-73) narrado os desafios dos colonos e missionários no sul do Brasil destaca que, por volta de 1878 quando iniciaram os italianos, nova vida em plena mata virgem na região de Urussangua: Os brasileiros, ou seja, os portugueses, pois nesta época quase todos tinham nascidos no Brasil, sendo perfeitos conhecedores da mata maravilhavam-se ao ver nossos colonos caminhar, sozinhos e sem armas, pelas picadas abertas em plena floresta virgem e não só homens, mas também mulheres e crianças. Mais de uma vez avisaram os italianos que estivessem em guarda e que não entrassem sozinhos e sem armas na mata, porque havia muitos selvagens. Mais dias, menos dias, iria conhecê-los e experimentar-lhes as terríveis flechas. Destaca ainda Marzano (1985, p. 72) “Os colonos por sua vez incapazes de providenciar uma arma por falta de dinheiro, seja também por sua coragem, passaram quatro ou cinco anos despreocupados, sem pensar absolutamente nos indígenas”. 27 Santos (1973, p. 60-61) informa que até os finais do século XVIII são raros os dados a respeito de ataques de índios aos civilizados. As escassas notícias são ainda prejudicadas pela falta de indicação para nos permitir saber qual o grupo tribal responsável pelo ataque. Sabe-se que em trechos do “caminho de tropas” os tropeiros costumavam contar com a proteção de vaqueanos, conhecedores exímios das veredas e dos hábitos dos indígenas, para fazerem a travessia em segurança. As noticias, entretanto, são bastantes vagas. Elas referem-se a ataques ou ameaças de índios, mas não esclarecem sobre o que realmente aconteceu. É provável dado a escassa população e ao tamanho da área, que vez ou outra o índio dava ares de sua presença, ameaçando o civilizado. Contudo pouco ficou registrado. No inicio do século XIX, 1808, aparecem as primeiras noticias concretas sobre os confrontos, mas, é com a colonização que eles se intensificam. Machado (2004, p. 58) afirma que normalmente, a população “branca” procedia à eliminação dos bugres das regiões recém ocupadas como forma preventiva de “limpeza de terreno”. Além da disputa óbvia por espaço, a população colonizadora não reconhecia os indígenas como gente. Esta prática genocida dos pioneiros foi mantida pela população posterior, que continuou resolvendo muitos de seus problemas de terras por meio da violência física. Hobold (1994, p. 19), enfatiza que nos primórdios, as relações entre os forasteiros e os indígenas foram pacíficas. Chegara, porém, a época de sua escravização e de seu extermínio, principalmente pelos portugueses paulistas. Não há dúvida que, sobretudo, desde a segunda década de 1600, a economia dos vicentistas repousava na caça ao índio e sua venda aos consumidores que se situavam, em maior parte, no nordeste do Brasil, onde sempre houve enorme demanda de mão de obra para as lavouras de cana de açúcar e os engenhos. O 28 tráfico tornou-se um comércio regular, o que contribuiu largamente para a dizimação impiedosa de imensos contingentes indígenas. As áreas todas do atual estado de Santa Catarina, inclusive, portanto, o Vale do Rio Araranguá, foram atingidas pelos efeitos exterminadores, pois na época da colonização havia apenas grupos residuais de colonizadores sediados em trechos de matas litorâneas e planálticas. Em carta do delegado de Laguna José Martins Vieira ao presidente João José Coutinho, o primeiro informa que em 19 de janeiro de 1857 um grupo de silvícolas assaltou duas casas em Araranguá. Alguns meses mais tarde, o subdelegado suplente do distrito de Araranguá Manoel Pereira de Souza Elena informa ao delegado de Laguna José Vieira Martins sobre o ataque dos Bugres às moradas de José Pereira de Castro e Manoel Cardoso dos Santos, ocorrido em 26 de Dezembro de 1857 na localidade de Morro Cortado (SCHEIBE, 1996). Notícias sobre os embates entre colonizadores e índios são narrados em inúmeras entrevistas realizados por Dall´Alba (1997) para composição de seu Livro Memórias do Grande Araranguá: Felipe Honorato de Freitas morador da comunidade de Volta Curta limite geográfico do município de Maracajá hoje, lembra que: “os velhos contavam que os índios assustavam quando eles estavam cortando cana. Até um dia, camarada foi lá cortar cana. Já estava alto o dia e estava um índio dormindo na palhada. Bateu as mãos para acordá-lo. Acordou e sumiu no canavial. Mas o índio não gostou daquilo e virou a perseguir o homem... isto aqui na Volta Curta , mas na margem esquerda do rio. Os índios eram perigosos, atacavam. Mas tinha caçador de bugre. Meu pai contava de um tal de Joaquim Felisbino muito famoso perseguidor de bugrada. Ficava negaciando os bugres. De noite atacava. Chegava lá eles estavam dormindo com os pés para a fogueira. Diz que, dormindo, eles assobiavam pelo beiço furado, uns roncavam . Aí caíam em cima de surpresa. Degolavam uns, furavam, outros, tudo a facão. O bugreiro ia lá com 4 ou 5, uma porção de homens armados de facão, de pistolão e espingarda. Esse Joaquim Felizbino matou muito índio. Esse caso se deu aí no morro do Maracajá, no Mãe Luzia (Dall’Alba, 1997, p. 194). 29 Lídio Machado, 85 anos antigo morador de Maracajá relata que: “Havia bugres aqui nos morros da Mãe Luzia. Aqui, para cá do São Pedro, mataram uma mulher. Estava na roça e flecharam. Mas havia bugreiros. Falavam nesses Coral. Quando cheguei aqui tinha. Lá no morro da toca era uma morada deles”. (DALL’ALBA, 1997, p.300). Antonio Patrício da Silva antigo morador da comunidade de Barro Vermelho divisa territorial entre Maracajá e Araranguá também entrevistado em 1986 narra: “Aqui no Morro do Barro Vermelho os bugres mataram uma mulher. Ela era dos Leandro. Foram chamar o Daniel. Achou a mulher mais acima coberta de folhas. E foi seguindo os bugres. Mas nesse tempo eles já iam fugindo. Só encontrou o equipamento deles, tinha uns arcos, cortou. Não sei se ele matou índios antes. ( DALL’ALBA,1997, p. 294-304). Atualmente muitos moradores antigos do município e da região também relatam as histórias repassadas de geração em geração sobre a presença indígena em nossos territórios. O senhor José Bento da Rocha com 106 anos morador da comunidade de Cedro relata a coluna História Viva do Jornal Folha Regional, escrita por Moraes (2004, p. 3): “Quando eu tinha, uns nove anos de idade a cidade tinha muito mato onde os bugres viviam. [...] quando uma pessoa era atacada, se fosse encontrada morta estaria sem roupas, eles também atacavam as roças para roubar alimentos”. A senhora Avelina Henrique Felisberto com 87 anos moradora da comunidade do Encruzo do Barro Vermelho em entrevista concedida no dia 16 de março de 2005 revela outros dados sobre a presença dos índios na região. “Eu sei que o meu avo Zé Pedro, pai da minha mãe foi morto por uma flechada de índio, ele estava derrubando uma coivara, não sei eles matavam índio ou queimavam os acampamentos deles, mas eu sei que o meu avô foi morto por índio. E os índios também roubavam para comer. Nos morávamos na comunidade de Volta Silveira perto do rio, mas, pertencia a Araranguá”. 30 No Vale de Araranguá muitas são as histórias de embates entre os colonizadores e os nativos verifica-se abaixo uma história ocorrida no município de Praia Grande. O índio e a lavadeira no século passado. Nos fins do século passado residiam neste sertão praia grandense na localidade de “Molha Coco”, hoje Vila Rosa, Florêncio Pereira Maciel ... e sua mulher Clarinda Fernandes de Lima ... agricultores e proprietários de canaviais... na época ainda eram posseiros ilegais destas terras ... Clarinda lavava as roupas da família no Rio Molha Coco, próximo a velha subida da serra por tropeiros. Já começou a ser vigiada por um índio, onde todos os dias jogava pedrinhas na água defronte a sua tábua de lavar, não gostando nem um pouco da brincadeira, contou ao seu marido Florêncio, este comentou com o seu empregado Feliciano, que preparou ao índio uma emboscada dando-lhe um tiro certeiro sobre o peito com uma espingarda antiga de se carregar pela boca. Meia dúzia de balas ficavam cravadas no peito do índio, deixando-o estendido no mesmo local. Em seguida os índios de sua tribo o recolheram, mas iniciou a perseguição por parte dos índios, que durante a noite apedrejaram sua casa e também não deixavam-no trabalhar no engenho. Conseguiram amedrontar os índios. Pensando estar tudo normalizado por parte dos Maciel, algumas semanas mais tarde a irmã de Clarinda volta a lavar roupas no mesmo local. Passado muito da hora que deveria regressar a casa, foram atrás da pobre moça, que estas horas já estava com uma flecha atravessada em seu corpo, já agonizando, sendo levada nos braços já chegou em casa sem vida. ( ROSONI, 1999. p. 67). Esses relatos demonstram que o contato entre índios e colonizador não foi dos mais amistosos. Ambos estavam a mercê de um governo inoperante e irresponsável. Optando pela dizimação total dos grupos indígenas, incitando a formação de “mateiros” e “bugreiros” que mataram impiedosamente milhares de pessoas em ações de tocaia, esse governo não realizou nenhuma ação anterior de apaziguamento ou reestruturação do espaço indígena. Arns (2002, p. 51) relata sobre a falta de proteção contra os índios, praticamente abandonados, sobretudo pelas autoridades brasileiras. Os imigrantes alemães disputavam o espaço e até a vez, com os indígenas da mata virgem. O governo se mostrava indiferente aos problemas existentes até que se instaurou um clima de pânico entre os habitantes devido a constantes ataques dos índios aos imigrantes. Foi somente então 31 que o presidente da Província, em 20 de agosto de 1862, determinou o envio de praças, soldados, para “afugentar os gentios e pôr em segurança e tranqüilidade, os colonos. Na verdade, colonos e indígenas disputavam o mesmo espaço físico e estavam em pé de guerra literalmente. O governo Imperial se eximiu de sua responsabilidade ao deixar de proporcionar a estrutura básica para o desenvolvimento econômico da Colônia e a proteção de seus habitantes. 32 4 HISTÓRIA, MEMÓRIA E METODOLOGIA DA HISTÓRIA ORAL 4.1 História Cultural A discussão sucinta sobre os estágios do pensamento histórico se faz necessária para compreensão de alguns conceitos. Apontando o pensamento de Hunt (1992), o avanço para a história social foi estimulado por influências marxistas e da escola dos “Annales”, com essa inspiração os historiadores das décadas de 1960 e 1970 abandonaram os mais tradicionais relatos históricos de líderes políticos e instituições políticas e direcionaram seus interesses pra as investigações da composição social e da vida cotidiana. Com Braudel, autor de destaque na escola dos “Annales”, rejeita-se a história dos acontecimentos, segundo Braudel o que realmente importa são as mudanças econômicas e sociais de longo prazo e as mudanças geo-histórica de muito longo prazo. Dentro dos pensamentos dos Annales a terceira geração de historiadores estabeleceu um modelo alternativo de história regional total, pretendiam mudar o eixo da história para passar a estudar a história do cotidiano. Para estes a vida política, cultural e intelectual configuravam um terceiro nível. A história intelectual e cultural chamada pelos franceses de mentalités, passou a ser contestada pela quarta geração dos Annales, historiadores como Chartier e Revel. Chartier (1990, p. 9). Por sua vez explica que “a relação assim estabelecida não é de dependência das estruturas mentais quanto a suas determinações materiais. As próprias representações do mundo social são os componentes da realidade social”. A partir deste contexto de análise da evolução do pensamento histórico, considera-se que a cidade é representada por seus monumentos, tradições, cultos, 33 religiosidade, ou seja, pelo seu patrimônio histórico, que se expressa pelos bens móveis e imóveis, definindo a identidade individual e coletiva. Chartier (1990, p. 17), afirma que “a história cultural, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é construída pensada, dada a ler”. Este pensamento justifica a investigação que se propõe nesta monografia: Como se deram às relações entre os colonizadores e os ocupantes do território do vele de Araranguá. Pesavento, (2004, p. 39) descreve sobre as mudanças epistemológicas deste novo campo “história Cultural” destacando a representação como o primeiro conceito que reorienta a postura do historia dor. Relata que: Maus e Durkheim estudaram, nos chamados povos primitivos atuais, as formas integradoras da vida social, construídas pelos homens para manter a coesão do grupo e que propõem como representação do mundo. Expressas por normas, instituições, discursos, imagens e ritos, tais representações formam como que uma realidade paralela à existência dos indivíduos, mas fazem os homens viverem por elas e nelas. Chartier (apud Hunt, 1992, p. 25) reitera sua convicção de que “a cultura não se situa acima e abaixo das relações econômica e sociais, nem pode ser alinhada com elas”. Pois, todas as práticas, sejam econômicas ou culturais, dependem das representações utilizadas pelos indivíduos para darem sentido a seu mundo. “As representações construídas sobre o mundo não só se colocam no lugar deste mundo, como fazem com que os homens percebam a realidade e pautem a sua existência”. Enfatiza Pesavento (2004, p.39). As representações sociais mostram-se multifacetadas, o que determina, de certa forma o caráter plural da Nova História Cultural. Abordagens ancoradas nesse campo ampliariam o leque de problematizações acerca da história indígena. 34 Apesar de distintos, modelos de história cultural de Ginzburg, Chartier e E. P. Thompson, pontuam elementos teórico-metodológicos tão importantes quanto necessários para a compreensão do processo histórico-cultural dos povos. É nesse sentido, que se faz necessário um direcionamento epistemológico que possibilite a resignificação histórica dos povos indígenas, considerando toda a sua complexidade cultural. (MOUTINHO, 2004). Conclui-se a partir dos pensamentos destes autores que na História Cultural os indivíduos e grupos dão sentido a vida e ao mundo por meio das representações que constroem sobre a realidade. E essas representações são as matrizes geradoras de condutas e práticas sociais. 4.2 Memória Um dos instrumentos de análise da história cultural é a memória. Individual ou coletiva ela auxilia na representação e na interpretação do acontecido. O entendimento de memória seu conceito e função são fundamentais para o desenvolvimento desta pesquisa, pois a partir de lembranças das experiências selecionadas pela memória poderá se resignificar a história dando, por exemplo, visibilidade a povos que habitaram região sul do estado de Santa Catarina e que, no entanto são pouco citados, estudados ou considerados ocupantes do território. A memória envolve processos de representação de si mesma e do mundo. Funciona como o antídoto do esquecimento e está ligada diretamente à afetividade e aos desejos. A memória narra os fatos vividos, ou que pensam ter vivido, interpretando o que se viveu ou o que se pensa ter recordado. A relação afetiva com o passado nos torna narradores, memorialistas – ou, na expressão 35 utilizada por Le Goff (1996), “homens-memória”. Ela memória narra os fatos que vivemos, ou que pensamos ter vivido, interpretando o que se viveu ou o que se pensa ter recordado. A memória configura-se como a matéria mais irrenunciável do homem, aproxima-o da imortalidade. Le Goff (1996, p. 469-470) em relação à memória afirma que: A memória é um elemento essencial do que se costuma chamar identidade, individual ou coletiva, cuja busca é uma das atividades fundamentais dos indivíduos e das sociedades de hoje, na febre e na angústia. Mas a memória é não somente uma conquista é também um instrumento e um objeto de poder. Além disso, a memória relaciona-se com a identidade individual ou coletiva, porque a história é feita de coletivos. Segundo Veyne (1979, p.75), não podemos considerar os indivíduos “fora das coalizões, das instituições, do corpo político, pois quando ele aí entra já está modelado pela sociedade, ou seja, pela história anterior”. Cultivamos a memória para nos identificar. Somos a única espécie que preserva a memória para garantir a própria sobrevivência. Assim como procuramos refazer a nossa história e reavivar a nossa memória, também o fazemos em relação aos nossos espaços. Estes apontam para uma comunicação simbólica, através de uma relação íntima estabelecida entre os homens e os objetos. Em outras palavras, a materialização simbólica do espaço está relacionada à história e memória de um determinado grupo social, identificando-o. Na construção do depoimento das pessoas, estão presentes não só a reconstrução do passado, mas expectativas do que deveria ter sido, além da seleção de fatos e emissão de conceitos influenciados pelas disputas sobre qual memória é válida como discurso de trajetória. 36 Ao fazer-se uso do conceito de memória em sua amplitude, dá-se direitos ao passado dos índios, dos negros, dos brancos, dos pobres e dos ricos, privilegiados ou não, enfim, para todos os agentes da história. Encontra-se, na memória, a base para a construção da identidade, da consciência do indivíduo e dos grupos sociais. Muitas vezes uma imagem, um cheiro uma música, um objeto provocam uma reviravolta em nossas vidas revivendo experiências que marcaram a sua trajetória. A história de vida funciona como um instrumento de reconstrução da identidade e não relatos factuais. Os objetos são, portanto evocadores da memória e dão impressão de continuidade e podem revelar padrões de comportamento e a própria vida do seu dono. (BOSI, 1987, p. 360). A cultura material indígena traz lembranças de experiências vividas não pelos entrevistados, mas, pelas gerações que o antecederam enfatizando assim a presença desses povos no mesmo território que ocupam no presente. Algo interessante acontece entre alguns entrevistados que simplesmente repetem discursos extremamente excludentes e ideológicos, que associam a ocupação do território apenas aos “heróicos” colonizadores europeus. Bosi, (1987, p. 360), explica que quando queremos recordar do que nos aconteceu, pode-se confundir seguidamente o que escutamos dos outros com nossas próprias lembranças. Pode-se dizer segundo Pollak (1992, p. 212) que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si. 37 Para os historiadores é de fundamental importância ter-se clareza da amplitude de significados deste conceito. Para Halbwachs in Pollak (1992, p.200) a memória deve ser entendida também, ou, sobretudo, como um fenômeno coletivo e social, como um fenômeno construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes. Diante de uma sociedade pós-industrial, as identidades regionais são fortemente abaladas pelo movimento da globalização, e isto reflete no significado da memória, como uma tendência de massificar e ocultar a memória popular e coletiva das pessoas que ficaram fora da história oficial, como expectadores e não vistos como agentes participativos deste processo histórico. Por isso, [...] a memória rema contra a maré; o meio urbano afasta as pessoas que já não se visitam, faltam os companheiros que sustentavam as lembranças e já se dispersaram; Daí a importância da coletividade no suporte da memória. Quando as vozes das testemunhas se dispersaram, se apagam, nós ficamos sem guia para percorrer os caminhos da nossa história mais recente: quem nos conduzirá em suas bifurcações e atalhos? Fica-nos a história oficial: em vez da envolvente trama tecida a nossa frente só nos resta virar a página de um livro, único testemunho do passado. (BOSI, 1992, p.145). Segundo Bosi, (1987, p. 360), estas memórias humildes formam a essência da cultura, diferenciando-se da história escrita, das datas, da descrição de períodos, há correntes do passado que só desaparecem na aparência. As memórias cotidianas nos demonstram resquícios de outras épocas, como uma maneira de pensar, falar, sentir, arrumar as camas, cultivar o jardim, preparar alimentos e as tradições religiosas. 38 Diante de uma sociedade industrial, os velhos são rejeitados e desvalorizados. Quando as mudanças históricas se aceleram e a sociedade extrai sua energia todo o sentimento de continuidade é arrancando do trabalho. Com tudo isso se perde a arte de contar histórias e de trocar experiências. Conforme Decca, (1992, p. 130), os suportes sociais da memória coletiva, que sempre foram os elementos principais de criação do sentimento de continuidade e de preservação das sociedades pré-industriais, foram sendo paulatinamente destruídos e, hoje, o cidadão se sente cada vez mais mutilado em seus sentimentos coletivos com relação ao passado. Pode-se dizer que hoje a memória coletiva encontra-se refugiada em locais poucos visíveis, preservada, tenuamente, por meio de rituais e de celebrações, em que alguns grupos a mantêm ciosamente resguardada do assalto da história, ou então em lugares mais imperceptíveis ainda, como em gestos, saberes do silêncio e em hábitos particulares. A própria produção de lugares da memória, nestes dias atesta essa nova percepção de ruptura, onde o cidadão tem plena consciência da impossibilidade de uma memória espontânea e coletiva. Portanto, concluí-se que o estudo de história e memória estão intimamente associados. Refletindo sobre a relação dos europeus “colonizadores” e os habitantes da região na segunda metade do século XIX verifica-se que, os Xokleng, por exemplo, na área de referencia foram demasiamente desrespeitados e a visibilidade da sua presença neste espaço pode ser evocada a partir das memórias coletivas da comunidade em geral, memórias que inúmeras vezes são inutilizadas por interesses ideológicos contribuindo assim para que os vínculos com o passado se desfaçam definitivamente. 39 4.3 Metodologia da História Oral Atualmente, muitos trabalhos acadêmicos de história vêm utilizando a metodologia da História Oral, assim como nesta monografia. Abordar o fenômeno da oralidade é ver-se defronte a aproximar-se bastante de um aspecto central da vida dos seres humanos: o processo da comunicação, o desenvolvimento da linguagem, a criação de uma parte muito importante da cultura e da esfera simbólica humana. (LOZANO, p.143, 1994). Prins (1992), explica que os historiadores das sociedades modernas, industriais e maciçamente alfabetizadas, em geral são bastante céticos quanto ao valor das fontes orais na reconstrução do passado. Paul Thompson, figura proeminente no “movimento” da história oral, que defende o valor das fontes orais na história social moderna, como proporcionando presença histórica àquelas, cujos pontos de vista e valores são descartados pela “história vista de cima” escreveu iradamente em seu manifesto, The Voice of the past que : A posição à evidencia oral é muito mais fundamentada no sentimento do que no princípio. A geração mais velha dos historiadores que ocupam as cátedras e detêm as rédeas é instintivamente apreensiva em relação ao advento de um novo método. Isso implica que eles não mais comandem todas as técnicas de sua profissão. Daí os comentários depreciativos sobre os jovens que percorrem as ruas com gravadores de fita. (THOMPSON,1978, p. 63). A história oral no Brasil, mesmo sendo introduzida na década de 70 tendo expansão significativa somente nos anos 90, devido à multiplicação de seminários e a incorporação pelos programas de pós-graduação em história de cursos voltados para a discussão da história oral são indicativos importantes da vitalidade para a discussão da área. Considerando também os contatos com pesquisadores 40 estrangeiros, as trocas de experiências criaram debates importantes sobre o assunto. (FERREIRA; AMADO , 1996). Ferreira e Amado (1996) destacam ainda que o objeto de estudo do historiador na história oral é recuperado e recriado por intermédio da memória dos informantes; a instância da memória passa, necessariamente, a nortear as reflexões históricas, acarretando desdobramentos teóricos e metodológicos importantes. Prins (1992, p.192), conclui que alguns historiadores acham que seu ofício é descrever e talvez, explicar porque as coisas ocorreram no passado. Para ele uma justificativa necessária, mas não suficiente. Cita dois outros componentes essenciais da tarefa do historiador. A “continuidade” que deve ser explicada. A continuidade histórica, especialmente nas culturas orais, requer mais atenção do que mudança. A tradição é um processo – vive apenas enquanto é continuamente reproduzida. Em segundo lugar ressalta a tarefa do historiador em proporcionar ao leitor confiança em sua competência metodológica. Enfatiza que é preciso demonstrar consciência das ciladas da tradição inventada e, a partir daí, das explicações oferecidas e ainda, o historiador deve também revelar o que é provável que exista. Portanto, Prins (1992, p. 198), enfatiza que para essas partes vitais da tarefa do historiador se faz necessária a História oral com seu detalhe, sua humanidade, freqüentemente sua emoção e sempre seu muito desenvolvimento ceticismo com relação a todo o empreendimento historiográfico. Afirma categoricamente que sem acesso a tais recursos: “Os historiadores das sociedades modernas, maciçamente alfabetizadas e industriais, ou seja, a maior parte dos historiadores profissionais, vão consumir-se em um poço de compreensão circunscrito por sua própria cultura, como amantes abandonados colocados sob o círculo de luz 41 tremulante de um poste isolado em uma rua escura e varrida pelo vento. (PRINS, 1992, p. 163). Lozano (1994, p. 16) afirma que o estudo da oralidade veio sendo ensaiado a partir da antropologia, no âmbito da pesquisa dos processos de transmissão das tradições orais, principalmente aquelas pertencentes a sociedades rurais, onde os modos de transmissão e conhecimento ainda transitam, de maneira relevante, pelos caminhos da oralidade. Mas a questão da oralidade ultrapassou o campo específico da antropologia, e agora é objeto de estudo de outras disciplinas, como é o caso, atualmente, da corrente historiográfica denominada “história oral”. Para ele a história oral é mais do que uma decisão técnica ou procedimento; é antes um espaço de contato e influencia interdisciplinares; sociais, em escalas e níveis locais e regionais; com ênfase nos fenômenos e eventos que permitam, através da oralidade, oferecer interpretações qualitativas de processos históricos – sociais. Para isso, conta com métodos e técnicas precisas, em que a constituição de fontes e arquivos orais desempenha um papel importante. Dessa forma, a história oral, ao se interessar pela oralidade, procura destacar e centrar sua análise na visão e versão que dimanam do interior e do mais profundo da experiência dos atores sociais. A história oral compartilha com o método tradicional as diversas fases e etapas do exame histórico. De início apresenta uma problemática, inserindo-a em um projeto de pesquisa. Depois, desenvolve os procedimentos heurísticos apropriados á constituição das fontes orais que se propôs produzir. Na hora de realizar essa tarefa, procede, com o maior rigor possível, ao controle e às críticas interna e externa da fonte constituída, assim como das fontes complementares e documentos. Finalmente, passa á análise e á interpretação das evidencias e ai exame detalhado das fontes recompiladas ou acessíveis. ( LOZANO. 1994, p. 16). 42 Portando, para Lozano, fazer história oral significa produzir conhecimentos históricos científicos, e não simplesmente, fazer um relato ordenado da vida e da experiência dos “outros”. E o historiador oral é algo mais que um gravador que registra os indivíduos “sem voz”, pois procurar fazer com que o depoimento não desloque nem substitua a pesquisa e a conseqüente análise histórica; que seu papel como pesquisador não se limite ao de um entrevistador eficiente, e que seu esforço e sua capacidade de síntese e análise não sejam arquivados e substituídos pelas fitas de gravação. Neste contexto Ferreira e Amado (1996), citam a importância da metodologia considerando que a história oral assim como todas as metodologias, apenas estabelece e ordena procedimentos de trabalho, funcionando como uma ponte entre teoria e pratica. Mas segundo as autoras, na área teórica a história oral é capaz apenas de suscitar, jamais de solucionar, questões; formula perguntas, porém não pode oferecer as respostas. Encarada como uma metodologia à história oral consegue enunciar perguntas, porém, não dispõe de instrumentos capazes de compreender os tipos de comportamentos descritos. Apenas a teoria da história é capaz de fazê-lo. Pois se dedica entre outros assuntos, a pensar os conceitos de história e memória, assim como as complexas relações entre ambos. A interdependência entre a prática, a metodologia, e a teoria produzem o conhecimento histórico; mas é a teoria que oferece os meios para refletir sobre esses conhecimentos, embasando e orientado o trabalho dos historiadores, aí incluídos os que trabalham com fontes orais. (FERREIRA; AMADO, 1996, p. 25). 43 5 5 A QUESTÃO INDÍGENA NA SALA DE AULA Há muito tempo pesquisadores dedicam-se ao estudo de gerações que viveram no mesmo território após a ocupação da América, mas se equivocam ao menosprezar, com isso, as que viveram neste continente antes da ocupação européia; gerações já desaparecidas e outras que ainda vivem. As informações que existem, hoje, sobre esses grupos são pouquíssimas, devido à raridade de estudos das sociedades pré-coloniais. Este cenário se repete nas salas de aula muitas vezes, pois quando se trata da imagem do índio brasileiro ou catarinense, se repete incontestavelmente as ideologias apresentadas em alguns livros didáticos que simplesmente transmitem mensagens generalizadas, equivocadas e enganadoras. Para exemplificar, podemos constatar que muitos livros didáticos indicados para o ensino fundamental no estado de Santa Catarina são oriundos da região sudeste do Brasil as informações remetem a uma realidade que não é significativa para os alunos que deixam de se apropriarem de conhecimentos específicos da sua região. Telles (1987, p. 73), destaca que as idéias que têm-se sobre “nós” , a sociedade e sobre os outros povos fixam-se quando crianças. O que aprende-se, ouve-se e vê-se forma a imagem do mundo, torna-se fonte de fantasias e aventuras. Mas também é nessa época que se formam, devido à insuficiência de informações ou informações incorretas, os preconceitos e idéias distorcidas em relação a outras culturas. Os acervos das escolas trazem muitas informações distorcidas e preconceituosas, pretendendo adaptar as idéias de modo a atender e satisfazer outros ideais. 44 Em muitos livros didáticos constam histórias equivocadas dos povos que habitavam as terras do Brasil. Descrevem que os europeus foram os primeiros povos a pisar as terras brasileiras. Colocando a idéia que o índio não seriam seres humanos, que não tinham cultura. Enfatizando certos aspectos da cultura ocidental omitindo a existência de outras culturas. Conforme Pereira, 2004: O papel do professor de História (e das outras disciplinas) extrapola o conteúdo de sua disciplina, levando-o à condição de mestre e de aprendiz. A lousa não deixa de existir, as provas continuam a ser cobradas, o livro didático permanece como ferramenta de aprendizado, mas o conhecimento, pela dinâmica transdisciplinar adquirida na contemporaneidade, não se limita a esses elementos. A sociedade está acostumada a ver índio com tinta na cara, pena na cabeça e morando em oca. Acha estranho quando encontra imagens e pesquisas que revelam dados que não se enquadram nestes estereótipos. Essa invisibilidade das sociedades ágrafas é por muito tempo difundida principalmente quando se referem à constituição histórica da identidade e da história dos municípios. Outrossim, é preciso afastar as possibilidades de folclorização da cultura indígena, que em alguns momentos vem sendo tratada como elemento estático na História do Brasil. A Cultura indígena deve ser pensada inserida em um contexto de circularidades e inter-relações com outras culturas. Reduzir a contribuição da cultura indígena a sua “herança” (vocabulário, comidas...), tal como vemos nos livros didáticos, é empobrecer a sua. (MOUTINHO, 2004). O conhecimento histórico e a pesquisa nas mais variadas fontes são fundamentais para os educadores do ensino fundamental principalmente no trabalho 45 deste tema com os alunos do ensino fundamental, pois entendemos que, uma vez elaborados os conceitos de preservação e de construção histórica são estabelecidos, estes transferem suas experiências para familiares e amigos. Tecendo e ampliando assim o objetivo principal conhecer, identificar-se, preservar e valorizar a história pré-colonial de um determinado território. O conhecimento histórico é uma construção de vários sujeitos. A melhor compreensão do cotidiano das pessoas é buscar através de projetos de pesquisa possibilitando a capacidade de se compreender enquanto sujeito da história. À medida que as crianças crescem pode-se ensinar História. No estudo do município é a primeira oportunidade que a criança tem de estudar uma sociedade, para começar compreender uma série de noções importantes para o conhecimento da ciência história. Portanto ensinar história atualmente significa impregnar de sentido a prática pedagógica cotidiana, na perspectiva de uma escola-cidadã. Vale dizer, que a escola é reprodutora, na medida em que trabalha com determinados conhecimentos produzidos e acumulados pelo mundo científico, mas transformadora, visto que promove uma apropriação crítica desse mesmo conhecimento tendo em vista a melhoria da qualidade de vida da sociedade global. 5.1 Uma Experiência de Educação Patrimonial Considerando a importância da abordagem da questão indígena no ambiente escolar e na reconstrução da história do município. Desenvolve-se em Maracajá município integrante da região do Vale do rio Araranguá uma pesquisa 46 científica com sobre a ocupação do território por grupos indígenas e as relações entre estes grupos e os colonizadores que apropriaram-se deste espaço. Sabendo que parcela considerável da história precisava ser resgatada e revivida no tocante ao período pré-colonial e colonial. Para tanto a Prefeitura Municipal de Maracajá, através do Departamento de Educação, Cultura e Esportes; o Curso de História GRUPEP/Arqueologia da Universidade de Sul de Santa (Grupo de Pesquisas em Educação Catarina e o Patrimonial e Arqueologia), estabeleceram um convênio de cooperação técnica a fim de mapear e identificar os sítios arqueológicos pré-coloniais do município visando garantir a preservação arqueológica e ambiental, bem como o desenvolvimento de futuras pesquisas na região. O trabalho de campo foi realizado entre os dias 17 e 19 de setembro de 2004; na ocasião foram mapeados 9 sítios arqueológicos atribuídos a grupos caçadores-coletores e ceramistas respectivamente Farias,2005. Foram meses de pesquisas no laboratório de arqueologia do GRUPEP na UNISUL de Tubarão. Os artefatos encontrados foram catalogados e identificados. Toda essa pesquisa resultou em uma publicação científica de relevante valor para a divulgação e o entendimento da ocupação pré-colonial e colonial do município de Maracajá, bem como para a preservação e valorização do seu patrimônio arqueológico. O livro Maracajá: Pré-história e arqueologia organizado por Deisi S. E. Farias lançado dia 12 de maio de 2005. No Centro Histórico Cultural do Município estão expostos os materiais arqueológicos encontrados nos 9 sítios mapeados, que evidenciam e dão visibilidade aos grupos humanos que ocuparam o território de Maracajá. 47 Antes da realização desta pesquisa a maioria da população de Maracajá considerava que a história do município iniciava a partir de 1920, com a construção da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina e com a chegada das primeiras famílias de origem italiana e açoriana, as quais iniciaram o processo de desenvolvimento econômico e social. Oficialmente não existiam registros da presença de grupos indígenas no município e muito menos da relação destes grupos com os primeiros colonizadores por volta da segunda metade do século XIX e início do século XX. No município existia até o momento apenas um livro sobre a história de Maracajá escrito por Agilmar Machado em 2000. Neste contexto de pesquisa científica realizou-se um projeto muito significativo na Rede Municipal de Ensino. O projeto Maracajá Pré-história e Arqueologia – Ocupação Pré-colonial do estado de Santa Catarina. Utilizando a metodologia de Educação Patrimonial entendida segundo Grunberg e Horta (2001, p. 6), como um instrumento de “alfabetização cultural”, que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o à compreensão do universo sócio-cultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Professores de diferentes disciplinas organizaram o projeto com estudantes do Ensino Fundamental da Rede Municipal de Ensino que demonstraram grande interesse quando se discutia e comentava-se sobre patrimônios arqueológicos, alguns estudantes chegaram a trazer artefatos encontrados nos seus bairros; outros relatavam entrevistas realizadas com avós sobre os embates ocorridos neste território entre os chamados “Bugres e os brancos”. Os objetivos do projeto envolviam o conhecimento do passado do território da Maracajá antes da existência dos registros históricos. A visibilidade da cultura indígena do município, desvinculando a pretensão de que os brancos colonizadores 48 foram os “descobridores do território” e o respeito à diversidade cultural existente na constituição étnica do município. Para exemplificar a utilização da metodologia de Educação Patrimonial citam-se aqui algumas das Atividades desenvolvidas no projeto: • Palestra com a Arqueóloga Deisi S. Eloy Farias e o GRUPEP- Arqueologia (Grupo de Pesquisa em Educação Patrimonial e Arqueologia); Figura 1- Palestra sobre arqueologia e ocupação do território do Estado. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza • Pesquisa para a formação dos conceitos de Pré-História, Arqueologia, Função do Arqueólogo e Sítio Arqueológico; • Entrevista coma comunidade, moradores antigos sobre a presença destes grupos e a relação dos mesmos com os antepassados da região; • Aula no Centro Histórico Cultural do município para a visualização dos artefatos encontrados; 49 Figura 2 – Aula no museu análise de material arqueológico. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza • Identificação dos sítios arqueológicos mapeados no município; • Estudo dos grupos que ocuparam o município no período pré-colonial; • Realização alguns procedimentos arqueológicos como escavações simuladas, higienização de artefatos e desenho das peças; • Construção de maquetes sobre as características de cada grupo que ocupou o território do Estado de Santa Catarina; • Produção de objetos de cerâmica caracterizando os grupos ceramistas; 50 Figura 3 – Construção de maquete. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza Figura 4 – Alunos expressando os conhecimentos adquiridos com a construção de maquetes. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza 51 Figura 5 – Construção de maquetes. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza Figura 6 - Produção de material cerâmico. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza • Divulgação de todos os resultados e trabalhos realizados durante o projeto em uma exposição que recebeu todas as escolas municipais e a comunidade em geral. 52 Figura 7 Figura 8 Exposição e explicação do projeto para a comunidade escolar. Fonte: Acervo Particular de Odécia Almeida de Souza Horta (1999, p. 36) esclarece que a metodologia da Educação Patrimonial tem um amplo campo de atuação e propõe não somente uma nova maneira de utilização dos bens culturais do passado e do presente, mas uma nova postura por parte do educador, no sentido de incorporar os bens culturais ao processo de aprendizado e como auxiliares no desempenho das funções de transmitir o conhecimento. Além de contribuir para a valorização da história indígena da região, este tipo de proposta de trabalho inseri estudantes em um contexto de pesquisa cientifica desde o Ensino Fundamental tornando a aprendizagem muito mais significativa. 53 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Buscou-se, nesta monografia, evidenciar os embates ocorridos na secunda metade do século XIX entre os Xokleng e os imigrantes europeus na região do Vale do rio Araranguá. Destacou-se a importância da identificação e da valorização e do aprofundamento dos conhecimentos sobre a ocupação do território no o período pré-colonial, pois os antigos habitantes, muitas vezes, são esquecidos e desprezados pela historiografia tradicional. Compreendeu-se os Xokleng como um povo que luta pela sobrevivência antes mesmo do seu caminho cruzar como o dos europeus. Os considerados maiores inimigos brancos dos Xokleng vieram de países europeus como Portugal, Itália e Alemanha. Durante toda sua história, os Xokleng formaram um grupo seminômade que habitava um extenso território no interior do Brasil, nas matas de araucárias que vão desde o Paraná até o Rio Grande do Sul. Os problemas dessa gente só aumentaram quando os colonizadores avançaram o território, deixando o litoral, habitado pela tribo carijó e tupi, para se fixarem no interior. Analisou-se o contato entre as culturas diferentes, bem como as transformações decorrentes em cada uma delas, por força desse contato. Entendeuse que o contato com o homem branco alterou a história dos Xokleng na região estudada. A partir da análise do discurso de pessoas entrevistas e de bibliografias antigas percebeu-se a imagem criada em relação ao indígena ou “bugre” como elemento violento, preguiçoso, perigoso enfim uma ameaça à vida dos colonizadores. Nestes estudos, constata-se a precariedade de fontes bibliográficas 54 publicadas sobre o assunto sendo necessária a utilização de fontes orais e documentais. Após analisar diferentes documentos e registros, buscando argumentos para comprovar a intenção do governo em eliminar ou escravizar os indígenas para a posse do território por parte dos imigrantes europeus conclui-se que este estabeleceu uma política ineficiente e irresponsável de colonização. Com o estudo da ocupação pré-colonial do Vale de Araranguá contribuiuse no intuito de estabelecer a visibilidade de uma diversidade étnica e cultural identificando e destacando a presença dos Xokleng na formação étnica do Vale do rio Araranguá, desvinculando assim a idéia construída de uma identidade eurocêntrica. Percebendo se assim o elo de ligação entre as sociedades précoloniais e coloniais. Esta monografia contribuiu para resignificar a história de grupos indígenas da região para que esta deixe de ser vista como uma abstração, transformando-se em objeto de interesse para todos vivem e compartilham o mesmo passado e o mesmo território. Utilizou-se a definições e os conceitos específicos da corrente historiográfica da Nova História Cultural, buscando assim uma abordagem histórica que justifica a utilização de variadas fontes, a possibilidade de interação entre memória e história e assim, portanto, resignificação histórica dos povos indígenas da região em referência. Discutiu-se por fim sobre o ensino e questão indígena entendendo-se que os educadores devem buscar recursos para possibilitar o entendimento e a valorização da cultura indígena que faz parte do processo de educação que é 55 continuo e permanente, pois, a partir do entendimento dos alunos, enquanto sujeitos históricos inseridos neste processo de reconhecimento e identificação que se formará gerações conscientes e capazes de aprender a conviver com as diversidades étnicas e culturais. 56 REFERÊNCIAS ARNS, Otilia. Forquilhinha 1912- 2002: História e Resgate dos Nossos antepassados, Prefeitura Municipal de Forquilhinha. 2002. BOSI, Ecléa. Os espaços da memória In: Lembranças de Velhos.T.A. Queiroz. São Paulo, 1987, p. 365-385. _________ Memória da cidade: Lembranças paulistanas. In: O direito à memóriaPatrimônio histórico e cidadania. Departamento do patrimônio histórico São Paulo, 1992. CAMPOS, Bernadino de Senna. Memórias do Araranguá. Florianópolis: Lunardelli, 1987. CHARTIER. Roger. 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