As ciências nas orientações curriculares
- de que forma as orientações curriculares podem influenciar a prática dos
educadores em relação à exploração das ciências no jardim de infância -
Adaptação da Comunicação apresentada no
Cianei - 1º Congresso Internacional de Aprendizagem na Educação de Infância, 2005
Margarida Afonso
Centro de Investigação em Educação, Universidade de Lisboa
Escola Superior de Educação de Castelo Branco
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PROBLEMAS
● Quais os conhecimentos, capacidades, atitudes, relacionados com as
ciências, que estão a ser valorizados no jardim de infância?
● Qual a ideia de ciência que é transmitida pelos currículos do jardim
de infância?
● Como é que a valorização/exploração das ciências pode contribuir
para a diversidade e, simultaneamente, para a coesão cultural?
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OBJECTIVOS/FINALIDADES
● Analisar as orientações curriculares do jardim de infância, no que diz
respeito às ciências, em diversos países (Inglaterra, Espanha, Portugal);
● Comparar/Identificar as semelhanças e as diferenças nas diferentes
orientações no que diz respeito às ciências – Conhecimentos,
capacidades, atitudes, natureza da ciência;
● Reflectir sobre o que se considera central/básico promover em
termos científicos ao nível do jardim de infância.
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METODOLOGIA
Foi feita uma análise de conteúdo das orientações
curriculares do jardim de infância em relação a quatro aspectos:
● Conteúdos/Conhecimento científico;
● Capacidades investigativas – Capacidades de processo
(observação, classificação, planeamento de experiências…);
● Atitudes (cooperação, respeito…).
● A natureza da ciência – A compreensão do empreendimento
científico, os propósitos do trabalho científico e a natureza do conhecimento que
produz.
Foram analisados as orientações de: Inglaterra/Gales, Espanha e Portugal;
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Estrutura dos sistemas educativos (primeiros anos)
ESPANHA
INGLATERRA
PORTUGAL
Primary Education
Basic Education/Recurrent Education
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Educação primária
6
5
4
(K1)
Educação pré-escolar
6
5 2º ciclo
4
3 (classes de infantários em 3 Educação pré-escolar
escolas primárias, grupos
de pré-primária, tempos
livres …)
1º ciclo
2
6
5
Educação pré-escolar
4
3
5
SISTEMA EDUCACIONAL
(Inglaterra, Espanha, Portugal)
● No sistema educativo do Reino Unido existem diferenças ao nível da organização,
administração e controlo das escolas, entre os sistemas educativos da Inglaterra,
do País de Gales e da Irlanda do Norte. Na Escócia a organização do ensino é
regida por legislação autónoma. A análise aqui feita centra-se no sistema que se
aplica na Inglaterra.
● No sistema educativo Espanhol a frequência do nível pré-escolar é facultativa e,
nos estabelecimentos públicos, gratuita. Compreende dois ciclos: (a) dos 0 aos
3 anos; (b) dos 3 aos 6 anos.
● No sistema educativo Português a educação pré-escolar é complementar e/ou
supletiva da acção educativa da família e de frequência facultativa; Falaremos
apenas da educação pré-escolar que se destina às crianças dos 3 aos 6 anos.
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RESULTADOS
– CONHECIMENTOS/CONTEÚDOS CIENTÍFICOS Orientações em Inglaterra
Orientações em Espanha
Orientações em Portugal
3-5 anos
♦“Tudo” e “Nada” – É sugerido
que tudo pode ir ao encontro
dos interesses das crianças mas
as sugestões são ambíguas e
pouco claras (Exemplo. “meio
ambiente”, “meio ambiente
natural”,
“objectos,
acontecimentos e materiais”).
3-6 anos
♦ O “meio envolvente”
♦ O seu corpo
♦ Os 5 sentidos
♦ O tempo atmosférico
♦ As estações do ano e
adaptações das pessoas, animais e
vegetais às mudanças
♦ Os seres vivos: animais e
plantas
(semelhanças
e
diferenças, características gerais,
inter-relações,
produtos
de
origem animal e vegetal)
♦
Alimentação
e
hábitos
alimentares
♦ Problemas ambientais
♦ Saúde e higiene
3-6 anos
♦ O “meio próximo”
♦ A descoberta de si mesmo
♦ O ambiente natural
♦ A física (luz/sombra, luz
natural/artificial,
ar,
água,
flutuação, o princípio dos vasos
comunicantes)
♦ A química
♦ A biologia (Os órgãos do corpo
humano e seu funcionamento, os
animais
e
plantas
–
características
e
habitat;
alimentação)
♦ Meteorologia (O tempo)
♦ Geologia (rochas)
♦ Geografia (rios, mares…)
♦ História (pré-história)
♦ Educação ambiental
♦ Educação para a saúde
5-7 anos
♦ Processos vitais e seres vivos
(Homem e plantas verdes como
organismos,
Classificação,
Seres vivos e ambientes)
♦ Materiais e suas propriedades
(Agrupar materiais; alterar
materiais…)
♦
Processos
físicos
(electricidade;
forças
e
movimento; luz e som)
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RESULTADOS
– CAPACIDADES INVESTIGATIVAS Orientações em Inglaterra
Orientações em Espanha
Orientações em Portugal
3-5 anos
♦ Resolver problemas
3-7 anos
♦ Observar
♦ Explorar e investigar
♦ Prever
♦ Registar
♦ Comparar
♦ Colocar questões
♦ Comunicar e discutir
♦ Planear projectos simples/Planear
tarefas
♦ Testar
♦ Analisar
♦ Pensar criticamente
♦ Tomar decisões
5-7 anos
♦ Medir
♦ Explicar resultados
♦ Classificar
♦ Tirar conclusões
3-6 anos
3-6 anos
♦ Observar* (naturalmente e com
microscópios, lupas, binóculos…)
♦ Registar*
♦ Comparar*
♦ Colocar questões*
♦ Explorar e investigar*
♦ Discutir ideias diferentes
♦ Testar hipóteses
♦ Explicar resultados*
Não há referência ao
trabalho
experimental/investigativo
♦ Colocar problemas
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RESULTADOS
– ATITUDES Orientações em Inglaterra
Orientações em Espanha
Orientações em Portugal
3-5 anos
♦
Revelar
interesse/ser
entusiástico
♦ Revelar curiosidade
♦ Ouvir diferentes pontos de
vista
♦ Ser observador/Investigador
prático
3-6 anos
♦ Ser autónomo
♦ Colaborar
♦ Valorizar (o meio natural e a
qualidade de vida)
♦ Reflectir
♦ Partilhar
♦ Revelar espírito/atitude crítica
♦ Respeitar (a si próprio, os outros e
a natureza)
♦ Respeitar (a si próprio e a
natureza)
5-7 anos
♦ Respeitar (seres vivos e
ambiente)
♦ Valorizar a ciência
♦ Questionar continuamente
♦ Ser cuidadoso
♦ Desejar saber
♦ Ser curioso
♦ Revelar rigor científico
♦ Revelar atitude científica e
experimental
♦ Mostrar interesse
♦ Mostrar curiosidade
♦ Participar activamente na
resolução de problemas do meio
natural
3-6 anos
♦ Questionar
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RESULTADOS
– NATUREZA DA CIÊNCIA Orientações em Inglaterra
Orientações em Espanha
Orientações em Portugal
3-5 anos
3-6 anos
3-6 anos
♦A ciência é conteúdo e é processo;
♦ A ideia de ciência transmitida
♦ A ciência é conhecimento e é
♦Actividades
parece ser a de um campo de
processo;
práticas
(experimentais) parecem ser mais
conhecimentos;
importantes e independentes dos
conteúdos.
5-7 anos
♦ A ciência é conteúdo e é processo;
♦ A ideia de ciência parece ser a de
um conjunto de conhecimentos que
se obtém sempre através de trabalho
experimental e a evolução é feita
apenas
no
sentido
♦ Revela a ideia (incorrecta) da
♦ Não é feita referência aos
existência
de
processos
científico
-
investigativos,
às
um
de
método
uma
metodologias de trabalho das
metodologia própria e única
ciências
das ciências;
e
investigativas.
às
capacidades
♦ Sobrevaloriza os processos e
considera-os
independentes
dos conteúdos.
Trabalho
experimental -» Conhecimento;
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CONCLUSÕES
No currículo inglês
(a) É definida/delimitada explicitamente uma área para as ciências;
(b) Os conteúdos e as sugestões são, por vezes, um pouco vagos
dificultando a compreensão da profundidade e abrangência pretendidas;
(c) É feita referência explícita aos processos investigativos, às
metodologias de trabalho das ciências e às capacidades investigativas
nelas envolvidas.
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CONCLUSÕES
No curriculum espanhol
(a) Não é definida/delimitada uma área para as ciências. Os temas de ciências estão
embebidos/diluídos em várias áreas;
(b) Os conteúdos e as sugestões são, por vezes, tão latas e abrangentes que se
torna difícil descortinar se sugerem a sua exploração do ponto de vista científico
(ex: A propósito da área “A convivência com os outros e a descoberta do meio:
Observar e explorar o meio social e físico, controlando a sua acção e as
consequências que dela derivam; Diferentes tipos de objectos naturais e
elaborados presentes no meio; );
(c) São permitidas, aos centros educativos, programações didácticas que
adaptem/ampliem os conteúdos das distintas áreas, desde que respeitem o
currículo nacional.
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CONCLUSÕES
No curriculum português
(a) As ciências têm um lugar de destaque, estando inseridas numa área “A área do
conhecimento do mundo”, juntamente com a história…e são sugeridos,
genericamente, possíveis temas a explorar, porém:
(b) Deixa ao critério dos educadores a escolha e a profundidade desses
mesmos conteúdos;
(c) Considera os processos (e mesmo as atitudes) independentes dos
conteúdos;
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
1
● Os conhecimentos, as atitudes, e particularmente, as capacidades, relacionadas
com as ciências, são diferentes de curriculum para curriculum;
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● A ideia de ciência que é transmitida pelos currículos é substancialmente diferente;
3 ● As ciências estão ausentes de muitos dos currículos de formação de
educadores e este aspecto pode dificultar a exploração das ciências de uma
forma simples mas intencional, coerente e contínua.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
4
● É importante sensibilizar os responsáveis pela elaboração dos currículos
e todos aqueles que directa ou indirectamente estão ligados à educação
de infância (educadores, formadores de educadores…) para a
importância da exploração das ciências desde a mais tenra idade;
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● A selecção de conhecimentos, capacidades, atitudes e a natureza da
ciência comuns é importante para a coesão cultural.
A adaptação desses conhecimentos, capacidades, atitudes e a
natureza da ciência às realidades de cada contexto educativo
contribui para a diversidade cultural.
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ESTRUTURA DOS SISTEMAS EDUCACIONAIS
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ESTRUTURA DOS SISTEMAS EDUCACIONAIS
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ESTRUTURA DOS SISTEMAS EDUCACIONAIS
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