XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. ATIVIDADE ENZIMÁTICA EM DIFERENTES ÁREAS SOB DIFERENTES ESTÁGIOS DE REGENERAÇÃO FLORESTAL Andrezza Emanuella Oliveira Silva1, Alisson dos Santos Paiva2, Jéssica Morais da Silva3, Jamilly Alves de Barros4 Euzelina Borges dos Santos Inácio5, Érika Valente de Medeiros6 Introdução As Florestas Tropicais Secas (FTS) são globalmente extensa, mas pouco estudado, especialmente do ponto de vista biogeoquímico (Becknell, 2012). Esses ecossistemas estão entre os mais ameaçados das Américas, onde foram historicamente preferidos para assentamentos humanos e atividades agrícolas (Calvo-Alvarado et al., 2009). A remoção da cobertura vegetal pode afetar as propriedades do solo da floresta, especialmente os biológicos e bioquímicos, modificando as condições microclimáticas, a quantidade e qualidade dos insumos orgânicos para o solo (Wic Baena, 2013), como também causar mudanças na comunidade microbiana do solo e influenciar a produção e a atividade das enzimas (Rietl & Jackson, 2012). Dentre as propriedades bioquímicas as enzimas são importantes para catalisar inúmeras reações necessárias para os processos de vida dos microrganismos no solos, a decomposição de resíduos orgânicos, ciclagem de nutrientes, e formação da matéria orgânica e a estrutura do solo (Mendes & Vivaldi, 2001). Devido à sensibilidade às variações bióticas e abióticas, atributos bioquímicos tais como atividade enzimática tem sido utilizados como indicadores de qualidade do solo. As enzimas são fundamentais na manutenção da disponibilidade de nutrientes, dentre elas a fosfatase ácida e alcalina estão envolvidas na transformação de compostos de fósforo orgânico e disponibilizando fontes inorgânicas de P para as plantas (Amador et al., 1997). O objetivo do trabalho é avaliar a atividade enzimática da fosfatase ácida e alcalina em três camadas de solo de seis áreas distintas sob efeito de regeneração florestal da vegetação da floresta tropical seca, no município de Floresta-PE. Material e métodos As áreas utilizadas neste estudo pertence ao município de Floresta-PE localizado na Mesorregião do São Francisco Pernambucano, na Microrregião de Itaparica. As áreas de amostragem foram definidas de acordo com o levantamento de campo realizado. As áreas foram separadas em unidade ambientais homogêneas, diferenciadas pelo tipo de solo e épocas de corte da vegetação de caatinga de acordo com o plano de manejo florestal estabelecido para cada área. O histórico do uso e manejo de cada área são apresentados na Tabela 1. Assim, foram selecionadas seis áreas e coletadas amostras de solo para análise da atividade enzimática. Em cada unidade ambiental foram coletadas amostras de solos nas profundidades de 0-5, 5-15 e 15-30 cm, com auxílio de um trado cilíndrico, com três repetições sendo cada amostra simples composta de cinco sub-amostras retiradas em um raio de cerca de 0,50 m. Em seguida, as amostras coletadas foram mantidas sob refrigeração para determinação dos atributos bioquímicos. A atividade da fosfatase ácida e alcalina foram determinadas segundo as metodologias proposta por Evazi & Tabatabai, (1977). As atividades das fosfatases ácida e alcalina foram determinadas por espectrofotometria, quantificando o p-nitrofenol liberado após incubação de 1,0 g de solo em 0,2 mL de tolueno, 4 mL de tampão universal modificado (MUB) pH 6,5 para realização da atividade fosfatase ácida e pH 11 para realização da atividade fosfatase alcalina e 1 mL de solução de p-nitrofenil fosfato (0,025 M), a 37ºC, por 1 h, em seguida as amostras foram filtradas, e leitura realizada em espectofotometro (400 nm). Os valores de atividade foram expressos em mg p-nitrofenol g-1 solo h1 . Os dados das atividades enzimáticas foram submetidos à análise de variância (ANOVA). Analisaram-se as diferenças das médias dos atributos bioquímicos entre as áreas em cada profundidade, separadamanete. Quando as variáveis foram diferentes estatisticamente, as médias foram comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de probabilidade, sendo esses procedimentos realizados com o auxílio do programa estatístico ASSISTAT 7.6. Resultados e Discussão A. Fosfatase ácida A análise de variância mostrou que houve diferença significativa entre as áreas apenas para as camadas de solo nas 1 Primeiro Autor é aluna de Mestrado, Produção Agrícola, Universidade Federal Rural de Pernambuco Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor s/n°, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. E-mail: [email protected] 2 Segundo Autor é aluno do curso de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor s/n°, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 3 Terceiro Autor é aluna do curso de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor s/n°, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 4 Quarto Autor é aluna do curso de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor s/n°, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. 5 Quinto Autor é Professora Adjunta do Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco. Av. Prof. Moraes Rego, s/n°, Cidade Universitária, Recife, PE, CEP 50670-901. 6 Sexto Autor é Professora Adjunta do Departamento de Agronomia, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Unidade Acadêmica de Garanhuns. Av. Bom Pastor s/n°, Boa Vista, Garanhuns, PE, CEP 55296-901. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. profundidades de 0-5 e 15-30 cm, ao nível de 5% de probabilidade (Fig. 1A). Na camada 0-5 cm a máxima atividade da fosfatase ácida foi observada na área PR, quando comparada as demais áreas, apresentou uma atividade de 46,59 mg PNP g-1 solo h-1 porém, não diferiu estatísticamente da PR9. A área CR foi a que apresentou menor atividade dessa enzima, com 13,87 mg PNP g-1 solo h-1, exibindo 70% a menos com relação a atividade obtida com PR. A atividade da fosfatase ácida é favorecida pela baixa disponibilidade de P às plantas e aos microrganismos e pode ser inibida por altas concentrações de fosfato inorgânico no solo (Trannin et al., 2007). Este fato corresponde com o observado no presente trabalho, já que, na área que apresentou a maior atividade da fosfatase ácida foi observada o menor teor de fósforo. A atividade da fosfatase ácida variou, na camada de 5-15 cm, de 19,29 a 7,97 mg PNP g-1 solo h-1, sendo o maior e menor valor observado, respectivamente, nas áreas PR2 e A6. No entanto, ambas áreas não apresentaram diferenças significativas quando comparadas as demais áreas na mesma camada. Esta grande variação da atividade enzimática do solo encontradas no presente trabalho, em diferentes áreas, mostra que estas enzimas são sensíveis à perturbação do solo. Resultados semelhantes a estes foram encontrados por Vinhal-Freitas et al. (2010), avaliando atividade da fosfatase ácida em solos de Cerrado sob doses de adubo orgânico doméstico em um Latossolo Vermelho e obtiveram valores de 28 mg PNP g-1 solo h-1 na dose de 0 g kg-1 do composto e 108 mg PNP g-1 solo h-1 na dose de 10 g kg-1 do composto. Em geral, as áreas com mais tempo de regeneração apresentaram maior atividade da fosfatase ácida em relação as áreas com menor tempo de regeneração, o que sugere uma maior quantidade de substratos disponíveis nesses solos. Isto é consistente com muitos estudos sobre o aumento da atividade da fosfatase resultante de alterações de matéria orgânica (Kremer & Li, 2003, Vinhal-Freitas, 2010). Na camada de solo de 15-30 cm na área PR foi a que obteve a maior atividade fosfatada, com 17,44 mg PNP g -1 solo -1 h , porém o mesmo não diferiu estatísticamente do PR2, PT, CR e A6. A área PR9 foi a que atingiu o menor índice de atividade de fosfatase ácida, diferindo estatísticamente apenas da área PR, exibindo uma média de 4,45 mg PNP g -1 solo h-1. Assim como no presente trabalho, Balota et. al. (2011), observaram a diminuição da atividade da fosfatase ácida em diferentes profundidades sob sistema de plantio direto. A diminuição de enzimas com a profundidade do solo pode ser associada com o baixo conteúdo de C-lábil e O2, o que pode resultar em uma biomassa microbiana menor e uma menor atividade do que na camada superficial. B. Fosfatase alcalina Na camada de 0-5 cm a área PT foi a que apresentou maiores valores da atividade fosfatase alcalina com média de 38,70 mg PNP g-1 solo h-1, não diferindo da PR, PR9 e PR2 (Fig. 1B). No entanto, nas camadas 5-15 e 15-30 cm a área PR foi a que expressou maiores valores de fosfatase com 29,42 e 19,62 mg PNP g -1 solo h-1, respectivamente. Num estudo sobre os processos bioquímicos de solo sob diferentes doses de composto orgânico doméstico num bioma do Cerrado, Vinhal-Freitas et al. (2010) observaram em amostras coletadas num solo sem aplicação do composto e numa outra com 10 g kg-1 do composto na profundidade de 0-10 cm, valores na faixa de atividade da fosfatase alcalina de 5 e 33 mg PNP g-1 solo h-1. Em todas as camadas a área A6 se destacou por apresentar menores valores da atividade, com redução de 38% na camada 5-15cm e 89% na camada de 15-30 cm quando comparado com a atividade da camada 0-5 cm de média 15,67 mg PNP g-1 solo h-1. Os resultados observados quanto à maior atividade da fosfatase aos 0-5cm de profundidade quando comparado aos 5-15 e 15-30 cm, pode estar relacionado a alta concentração de resíduo florestais na superfície do solo que compõem a serapilheira (folhas, galhos e casca), que promove maiores modificações nessa camada e que consequentemente pode afetar a atividade microbiana. A exploração seletiva de madeira aumenta o material orgânico novo no solo (folhas e galhos), além do teor de carbono no solo. Além disso, possíveis diferenças quanto à temperatura do solo, relacionadas a abertura de clareiras decorrentes da exploração florestal, entre as áreas exploradas podem ter afetado o teor de MO no solo, já que o processo de decomposição da serapilheira do solo é acelerado com o aumento da temperatura (Correia & Andrade, 2008). Referências Amador, J.A.A.; Glucksman, M.; Lyons, J.B.; Gorees, H.H. Spatial distribution of soil phosphatase activity within a riparian forest. Soil Sci. Baltimore, v.16, p.808-825, 1997. Balota, E. L.; Machineski, O.; Truber, P. V. Soil enzyme activities under pig slurry addition and different tillage systems. Acta Scientiarum. Agronomy, v. 33, n.4, p. 729-737, 2011. Becknell, J. M..; Kucek, L. K.; Powers, J. S. Aboveground biomass in mature and secondary seasonally dry tropical forests: A literature review and global synthesis. Forest Ecology and Management, v. 276, p. 88–95, 2012. Calvo-Alvarado, A.; McLennan, B.; Sanchez-Azofeifa, A.; Garvin, T. Deforestation and forest restoration in Guanacaste, Costa Rica: putting conservation policies in context. Journal of Forest Ecology and Management, v.258, p. 931–940, 2009. Correia, M. E. F.; Andrade, A. G. Formação de serapilheira e ciclagem de nutrientes. In: Santos, G. A. et al. (Ed.). Fundamentos da Matéria Orgânica do Solo: Ecossistemas Tropicais & Subtropicais. 2ª ed. rev. e atual. Porto Alegre: Metrópole, p. 654, 2008. Eivazi, F., Tabatabai, M.A. Phosphatases in soils. Soil Biology and Biochemistry, v.9, p.167-172, 1977. Kremer R.J. & LI, J. Developing weed-suppressive soils through improved soil quality management. Soil Till. Res., v.72, p.193-202, 2003. XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Mendes, I.C; Vivaldi, L. Dinamica da biomassa e atividade microbiana em uma area sob mata de galeria na regiao do DF. In: Ribeiro, J. F.; Fonseca, C. E. L. da; Sousasilva, J. C. (Ed.). Cerrado: caracterizacao e recuperacao de Matas de Galeria. Planaltina: Embrapa-CPAC, p. 664-687, 2001. Rietl, A. J.; Jackson, C. R. Effects of the ecological restoration practices of prescribed burning and mechanical thinning on soil microbial enzyme activities and leaf litter decomposition. Soil Biology & Biochemistry, v. 50, p. 47-57, 2012. Trannin, I.C. de B.; Siqueira, J.O.; Moreira, F.M. de S. Características biológicas do solo indicadoras de qualidade após dois anos de aplicação de biossólido industrial e cultivo de milho. Revista Brasileira do de Ciência Solo, v.31, p.1173-1184, 2007. Vinhal-Freitas, I.C.V.; Wangen, D.R.B.; Ferreira, A.S.; Corrêa, G.F.; Wendling, B. Microbial and enzymatic activity in soil after organic composting. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.34, p.757-764, 2010. Wic Baena, C.; Andrés-Abellán, M.; Lucas-Borja, M.E.; Martínez-García, E.; García-Morote, F.A.; Rubio, E.; López-Serrano, F.R. Thinning and recovery effects on soil properties in two sites of a Mediterranean forest, in Cuenca Mountain (South-eastern of Spain). Forest Ecology and Management, v 308, p. 223–230, 2013. Tabela 1. Localização geográfica, último ano de corte da vegetação e classificação do solo nas seis áreas de estudo, no município de Floresta – PE. Ano de corte 2006 Classificação do Solo Cambissolo Háplico Símbolo Histórico CR Foi realizado um corte raso da vegetação com fins de exploração madeireira de acordo com o plano de manejo da caatinga estabelecido. Atualmente, a área encontra-se em processo de regeneração da vegetação, onde as espécies predominantes são o quipembe, juá e mandacaru. 1995 PR A vegetação possui predomínio de quipembe, sendo também observados mandacarus e macambiras. Cambissolo Háplico 2004 PR2 A vegetação da área possui um predomínio das espécies de faveleiro e umbuzeiro. A cerca de 15 anos a área foi utilizada para a agricultura com cultivo de algodão. O último corte raso da vegetação foi realizado no ano de 2004 e atualmente a vegetação encontra-se em processo de regeneração, conduzida sob pastejo de caprinos. Cambissolo Háplico 2000 PR9 O último corte foi realizado no ano de 2000. A vegetação possui uma alta densidade de plantas e de espécies, das quais observou-se a ocorrência das seguintes: faveleira, umburana, pereiro, pião, canafistula, muleque duro, malva, angico, baraúnas e abundância de caruá, juazeiros novos, e mororó. Planossolo Háplico 2001 PT Predomínio das espécies de caatingueira, pereiro e ocorrência de carrapicho de boi e faveleira. Observou-se algumas clareiras na vegetação. Latossolo Amarelo 2009 A6 Algumas das espécies vegetais encontradas foram o umbuzeiro, mandacaru, caruá e abundância de carqueija, marmeleiro. Latossolo Amarelo Figura 1. Atividades da fosfatase ácida (Fig. 1A) e fosfatase alcalina (Fig 1B) sob diferentes áreas de regeneração florestal nas camadas de solo de 0-5, 5-15 e 15-30 cm. (Área CR: vegetação em regeneração há 7 anos; área PR: vegetação em regeração há 18 anos; área PR2: vegetação em regeneração há 9 anos; área PR9: vegetação em regeneração há 13 anos; área PT: vegetação em regeneração há 12 anos; área A6: vegetação em regeneração há 4 anos). Médias seguidas de letras iguais, na mesma camada, não diferem entre si pelo teste Tukey a 5%.